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Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013

DESIGN MOVENTE: ANALISANDO AS INTERFACES ENTRE OS

QUADRINHOS E O CINEMA NA FILMOGRAFIA DE BATMAN1

Carina Ribeiro Cardoso

Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil

Rita Aparecida da Conceição Ribeiro

Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil

RESUMO

Este projeto é uma investigação a cerca das interfaces entre os quadrinhos e o cinema, juntamente com uma análise da produção gráfica nos dois tipos de suporte, apontando a relevância destas transições de interfaces e mídias. São abordados temas como a introdução da linguagem gráfica nos filmes; a relação entre os quadrinhos e o cinema, culminando em um dos personagens mais icônicos desse momento, o Batman, objeto do estudo de caso dessa análise. A este respeito, dispõem-se tópicos como a evolução do perfil do herói Batman e suas histórias, a nova abordagem de seus filmes, mais recentes, e também seus processos sócio-históricos. Para o aprofundamento da pesquisa, além da coleta de dados, utilizou-se de um amplo levantamento da literatura disponível sobre a linguagem dos quadrinhos e do cinema, com foco no herói Batman, acompanhada também da análise das principais HQs do personagem que posteriormente foram adaptadas para o cinema, assim como os filmes que foram objeto de suas adaptações. Esta análise visa contribuir para o estudo e fomento das pesquisas em quadrinhos, cinema e design gráfico, a fim de fornecer uma maior compreensão de como os produtos surgidos nos mais diversos suportes visuais adquirem novos valores a partir de interfaces midiáticas.

PALAVRAS-CHAVE: Batman; cinema; quadrinhos.

O objetivo desse trabalho é investigar as interfaces entre os quadrinhos e o cinema na filmografia do personagem Batman, a partir da trilogia Batman - O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan, analisando a produção gráfica nos dois tipos de suporte e correlacionando sua linguagem e relevância sociocultural.

A partir do final dos anos 80 e começo dos anos 90 a ligação entre histórias em quadrinhos e cinema obteve uma grande evolução. O grande público torna-se mais integrado a esse mercado, uma vez que, nessa época, começaram a surgir grandes

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produções hollywoodianas baseadas em adaptações de conhecidos personagens de quadrinhos e suas histórias para o cinema.

Estas transições e adaptações de personagens, da linguagem gráfica dos quadrinhos para a linguagem cinematográfica, a evolução do perfil do herói e a apresentação gráfica dos filmes são quesitos relevantes (enquanto referência de linguagem) para a compreensão do universo comunicacional. Assim, entende-se a importância do aprofundamento deste estudo.

A INTRODUÇÃO DA LINGUAGEM GRÁFICA NOS FILMES

Segundo Beat Schneider (2010), com o início da sociedade industrializada, a necessidade de comunicação cresceu vertiginosamente. As condições tecnológicas necessárias foram criadas mediante diversas invenções e novas mídias, dentre elas o cinema. Inaugurou-se uma era do saber, da educação e do letramento, tornando possível a divulgação global de palavras e imagens. Começava a era da comunicação de massas.

Com essa nova era, de acordo com Schneider (2010), o campo das artes e do design necessitou de um esclarecimento de suas relações com a produção industrial e a preocupação com o visual, e sua relação simbólica, tornou-se inerente à lógica da produção capitalista.

Hoje o estético está presente em toda parte, ele se tornou um fenômeno-chave da nossa cultura. A estética não se limita mais à esfera da arte, mas determina igualmente o mundo da experiência e a política, a comunicação e a mídia, o design e a propaganda, a ciência e a epistemologia.

(WELSH apud SCHNEIDER, 2010, p. 149)

Assim, a indústria cinematográfica começou um processo de reformulação estética e conceitual e, de acordo com Roberte Claude, Bachy e Taufour (1982), os cineastas começam a incluir personagens e elementos pictóricos para introduzir as imagens e representar mais expressivamente seus filmes. O cenário e os trajes tornam-se mais trabalhados e, assim, a estética e o design se inauguram como componentes essenciais para a produção cinematográfica.

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De acordo com Isabella Aragão (2004), o cinema estreia um diálogo com outros campos, como o das artes visuais, especialmente os quadrinhos, e com outras linguagens como televisão, vídeo, holografia e as tecnologias informatizadas.

Todas essas transformações gráficas, processuais e tecnológicas do cinema possibilitaram seu desenvolvimento enquanto meio de comunicação, bem como linguagem, e suas relações interdisciplinares.

OS QUADRINHOS E O CINEMA

De acordo com Moacy Cirne (1972), a narrativa das histórias em quadrinhos e a linguagem cinematográfica se expressam semiologicamente através de imagens, sendo assim dois sistemas semelhantes e que se relacionam. "A história em quadrinhos tem o substrato comum de todas as formas de arte, a saber, é uma expressão de comunicação. " (SA, 1974, p. 35).

Os quadrinhos e o cinema, ainda de acordo com Cirne (1972), apresentam muitos pontos estruturados pelo mesmo denominador comum. Ambos nasceram a partir de avanços tecnológicos e da problemática sociocultural, que culminou em uma sociedade de massas. O cinema e as HQs se constituíram em organismos culturais manipulados pelo aparelho ideológico do Estado.

Esse aparelho ideológico, paradigma da sociedade de massas, afirma Diego Andrade e Igor Silva (2007), é guiado por um sistema de fabricação de produtos culturais que vendem lazer, signos e mitos idealizados através dos meios de comunicação. O cinema e os quadrinhos, que exercem influência um sobre o outro, tornaram-se meios apropriados a esse propósito, uma vez que serviram muito bem como meios de divulgação para produtos culturais e ideais, de signos e mitos a serem consumidos pelo seu público.

Principalmente é necessário que a história em quadrinhos seja entendida como um produto típico da cultura de massas, ou especificamente da cultura jornalística. A necessidade de participação e envolvimento catártico motivada pela alienação do indivíduo, a metamorfose da informação em mercadoria, o avanço da ciência, a nova consciência da realidade, enfim, as coordenadas características do estabelecimento da

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sociedade de consumo criaram as condições para o aparecimento e sucesso do jornal, cinema e quadrinhos.

(COHEN; KLAWA. In: MOYA, 1970, p. 108)

Assim, de acordo com Álvaro de Moya (1970), as histórias em quadrinhos, assim como a indústria cinematográfica, converteram-se em alimento de consumo de massa para os cidadãos de todo o mundo e transformaram-se em um veículo de comunicação amplamente conhecido e valorizado.

De acordo com Waldomiro Vergueiro (2011), a Era de Prata dos super-heróis, termina em meados da década de 1980, quando um movimento de ruptura com antigos conceitos relacionados a esses personagens, firmados de acordo com o código de censura (comics code), passa a dominar o gênero. Nesse momento, a indústria de quadrinhos viu a necessidade de propor um novo papel social para os super-heróis, um papel mais adequado ao tempos vividos. Sem dúvida, a situação mundial tinha influência na sociedade norte-americana como um todo, com reflexos claros na produção midiática. Assim, surgem novas publicações de cunho muito mais intelectual e social como Batman, o Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore e Brian Bolland.

Dessa maneira, os super-heróis vem se tornando cada vez mais bem elaborados e coerentes com o tempo em que vivem, demonstrando assim, que são produtos históricos e sociais que influenciam e são influenciados pela sociedade.

A REVOLUÇÃO DO CAVALEIRO DAS TREVAS

Segundo Nildo Viana (2011), a partir de 1965, as mudanças provocadas pelas transformações sociais, como a contracultura, a ascensão de alguns movimentos sociais (direitos civis, negro, feminista e estudantil) acarretaram em uma ampla influência no plano cultural e, nos quadrinhos, elas atingem diretamente o mundo dos super-heróis.

Além disso, de acordo com Viana (2011), o público juvenil dos períodos anteriores torna-se adulto, e parte continua lendo quadrinhos de aventura, o que também corrobora a tendência de reformulação do mundo dos super-heróis. Isto é reforçado por uma maior politização da juventude nesse período. Os personagens devem tornar-se mais complexos, os temas mais sérios e assim por diante. No início dos anos 1960, o Batman com sua

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batfamília (Batwoman, Batgirl, Batmirin, dentre outros), que fornecia um ar conservador e familiar para resistir a críticas como as de Fredric Wertham2, significou a infantilização desse super-herói em grande escala, o que foi reforçado pela série da TV nos anos 1960.

Na DC Comics, assim como em outras editoras, os super-heróis começaram a ganhar mais complexidade a partir dessa mudança no cenário midiático. As histórias simples e ingênuas de Batman e Superman já não agradavam ao público. E, por isso, a DC teve de, através dos responsáveis por sua produção, complexificar os personagens. Batman torna-se mais profundo e sombrio, suas histórias ganham mais violência e dilemas existenciais. A partir de 1980, o personagem passa a ser um herói que reflete a realidade de crescente crueldade e desesperança, afirma Viana (2011).

Segundo Waldomiro Vergueiro (2011), as grandes mudanças do período em relação aos personagens de super-heróis refletem-se em nível mais elevado. As obras, como a de Batman, o Cavaleiro das Trevas (no original, Batman: The Darknight Returns) de 1986, desempenharam não apenas o papel de propor reformulações para personagens ou para o gênero em si, mas muito mais que isso, a busca de um novo status artístico para as produções quadrinísticas desse tipo de personagens.

Batman, o Cavaleiro das Trevas (1986), de acordo com Vergueiro (2011), lançado inicialmente como minissérie, era roteirizado e desenhado pelo artista Frank Miller3, com arte final de Klaus Janson. Representava basicamente um retorno às origens do personagem, mas o retratava como um homem mais velho, com cerca de 50 anos, vivendo

2 Fredric Wertham (20 de março de 1895 a 18 de novembro de 1981), psiquiatra germano-americano foi protagonista de uma cruzada para protestar contra supostos efeitos nocivos dos meios de comunicação de massa, em particular os comics, no desenvolvimento das crianças. Seu livro mais conhecido foi Seduction of the Innocent (1954), o que levou a uma comissão de inquérito do Congresso dos EUA contra a indústria de quadrinhos e da criação do Comics Code. Disponível em: <http://es.inforapid.org/index.php?search=La%20seducci%C3%B3n%20de%20los%20inocentes>. Acesso em: 25 mar. 2013.

3 A carreira de Miller começou em 1979, quando a Marvel Comics lhe deu oportunidade de trabalhar em Daredevil (o demolidor), criação original de Jack Cole, na década de 40. Miller (bom desenhista e também argumentista) deu não só um novo formato ilustrativo para a série, mas principalmente interesses humanos [...]Em 1987, aconteceu um novo triunfo e a complementação do seu estilo revolucionário, tanto em argumentos como desenhos. Miller apresentou Batman, o cavaleiro das trevas, uma história de 200 paginas, que muitos consideram responsável pelo ressurgimento e a projeção de Batman até o ano 2000. Depois, apenas como argumentista, Miller criou, para os desenhos de David Mazzuchelli, Batman ano 1 (publicação da abril) e para a arte impressionante de Bill Sienkiwicz, Elektra Assassina, outra minissérie com mais de 200 paginas. Fonte: GOIDA. Enciclopedia dos quadrinhos. Porto Alegre: Editora L&PM, 1990.

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uma crise de identidade, mostrando-se irascível, após abandonar há anos sua missão como Batman e sentir a necessidade de voltar à ativa.

Com traços fortes, ritmo alucinante e nível de violência bastante carregado, o cavaleiro das trevas de Miller está bem distante da imagem pasteurizada que dominou os quadrinhos do herói nas décadas de 1940 e 1950. É uma versão adulta, crítica, de um homem determinado a fazer valer sua noção de justiça, mesmo quando ela entra em choque com aquilo que as autoridades estabelecidas entendem como correto ou legal.

(VERGUEIRO, 2011, p. 159)

A obra de Miller representou, por outro lado, muito mais que uma versão ousada de um personagem conhecido dos leitores, mas sim um apanhado de sua trajetória, afirma Vergueiro (2011). Foi uma produção inovadora que reestruturou o personagem Batman como um todo.

BATMAN – UM HERÓI QUE SE TORNA ANTI-HERÓI

De acordo com Nildo Viana (2011), os super-heróis são produtos históricos e sociais como qualquer outra produção cultural. A partir das novas concepções da sociedade contemporânea, os personagens não mais poderiam ser abordados de maneira superficial, mas se expressar com complexidade e irreverência, carregando os conceitos dos tempos modernos.

O universo dos super-heróis é expressão da pluralidade complexa da vida humana: sociedade, valores, religião, cultura, comportamento, crenças, aspirações; tudo é encontrável nas histórias dos super-heróis em dimensões distintas e variáveis pela finalidade da narrativa.

(REBLIN, 2011, p. 07)

A partir das décadas de 1970 e 1980, segundo Viana (2011) a ascensão das lutas sociais promoveu o fim do código de censura dos comics e inaugurou uma era de produções mais complexas e adultas, como Batman, o Cavaleiro das Trevas (1986), dentre outras. Temas tabus como sexo, drogas e inversões de valores puderam ser levantados e discutidos nos quadrinhos.

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Ainda de acordo com Viana (2011), neste momento de redução da censura e crescimento intelectual da sociedade, inicia-se a era das incertezas, a era do capitalismo neoliberal, marcado pela ascensão da ideologia pós-estruturalista e pós-vanguardista, pela violência, pelo relativismo, pela falta de utopia. Neste contexto, as histórias em quadrinhos, como as de Batman, passam a dispor novas faces para seus personagens. Os processos de racionalização e reflexão dos heróis tomam grande importância em suas histórias. O herói passa a ter conflitos internos e questionamentos morais e idológicos.

Segundo Denise Tardeli (2011), as revoluções ideológicas e políticas trouxeram novas releituras do conceito de herói, dando origem a um novo arquétipo: o anti-herói.

É o arquétipo do anti-herói, representado por Batman, Justiceiro, Wolverine, Hulk, o Coisa, para citar alguns exemplos. [...] são aqueles super-heróis que agem por causa de uma necessidade de vingança [...] impotentes, e por isso, detentores de uma necessidade de proteção, como um traje especial ou uma armadura (Batman, Homem de Ferro). [...] é essencialmente um subproduto da insegurança e do orgulho ferido. Ele provê uma liberação emocional satisfatória da raiva engasgada, frustração e sentimentos de impotência que a perseguição e o bullying engendram. (REBLIN, 2011, p. 68)

Nesse contexto de pós modernidade, e novos entendimentos morais, as fórmulas clássicas de narração, destinadas a construir e consolidar a figura do herói entram em crise e encarnam um texto renovado, priorizando roteiros não lineares e mais complexos. As histórias passam a ter uma ruptura de temporalidade, múltiplos pontos de vista e desfechos abertos a diversas interpretações.

Essa crise da construção identitária e narrativa, de acordo com Tardeli (2011), faz com que a super-heroicidade seja posta em cheque. Por esse motivo, as produções cinematográficas e quadrinísticas de super-heróis, hoje, são construídas e interpretadas de maneira distinta das histórias de 40 ou 50 anos atrás.

A destruição do convencional vem se tornando hoje uma epidemia. O cinema não poderia fugir a essa febre. Perdeu muito com isso e também ganhou. Amadureceu. Aprofundou a análise do homem graças a Freud e dos processos sociais graças ao progresso de diferentes ciências e técnicas. Diferentes influências vêm, por outro lado, condicionando a criatividade

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(conteúdo e forma). Muitos conceitos tinham de ser revistos: amor, sexo, heroísmo, direito, justiça.

(SA, 1974, p. 93)

Dessa maneira, homologa-se a concepção de que o personagem Batman, principalmente em Batman - O Cavaleiro das Trevas (1986) e suas adaptações cinematográficas mais recentes, refletem o ethos da sociedade contemporânea, visto que a representou de forma inovadora, crítica e repleta de reflexões ideológicas. Além de apresentar também uma nova interpretação do herói, ou anti-herói, agregando os novos valores morais e psicológicos da sociedade.

A TRILOGIA CAVALEIRO DAS TREVAS

Segundo Camila Figueiredo (2011), Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, estabeleceu um novo gênero de romances gráficos, que desconstruiu o papel do super-herói como concebido a partir dos anos trinta e até os anos setenta. A obra abandonou os tradicionais papéis de heróis e vilões, e focou em questões psicológicas dos personagens. Para Cícero Nogueira (2012), a consagrada produção de Batman: O Cavaleiro das trevas (1986), uma das mais comentadas graphic novels de todos os tempos, foi uma reavaliação sobre a própria natureza dos quadrinhos e seus personagens, uma resposta a 50 anos de estrutura estabelecida. Foi um sucesso por confrontar a indústria e uma hierarquia ideológica e foi objeto de adaptações de seu roteiro para o cinema, por ter em seu interior elementos necessários para caracterizar não somente filmes baseados em quadrinhos, mas um gênero.

Dessa maneira, de acordo com Carlos Patati (2006), a adaptação de Frank Miller para Batman influenciou amplamente as novas versões do Homem-Morcego para audiovisual. Em 2005, Batman Begins, do diretor Christopher Nolan, conseguiu finalmente acertar o gosto dos fãs, uma vez que atendia aos conceitos do herói, definidos nos quadrinhos, e apresentava uma versão mais realista deste, com uma montagem cinematográfica bem produzida.

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Desde o começo, meu interesse foi utilizar a história do super-herói, mas lidar com ela de forma realista. David Goyer e eu nos inspiramos na história da mitologia de Batman. Achei que tudo o que faríamos para transformar a história em filme deveria ser extremamente respeitoso à história do personagem e à mitologia dele.

(Christopher Nolan, 20054)

Para Alexandre Callari, Bruno Zago e Daniel Lopes (2012), a adaptação de Nolan traz um roteiro totalmente contemporâneo e uma grande qualidade técnica na execução do filme. Dentre diversas transposições e interpretações do personagem Batman, um aspecto positivo de Batman Begins (2005) foi a abordagem de uma nova face do herói, que até então havia sido pouco explorada mesmo nos quadrinhos, o período que Bruce Wayne passou antes se tornar o Homem-Morcego. Além disso, os produtores do filme souberam usufruir dos recursos de áudio para aprofundar ainda mais o personagem. Com a trilha sonora de Hans Zimmer, o filme conseguiu transmitir claramente o quão complexo é o herói, e sua trama, e a dualidade existente entre Batman e Bruce Wayne.

Em 2008, a sequência Batman - O cavaleiro das Trevas, segundo Raquel Rodrigues (2009), explorou ainda mais as facetas de Batman, mas também averiguou aspectos de seus coadjuvantes. Enquanto em Batman Begins (2005) o tom é de introspecção e exploração do lado cambiável da personalidade do personagem Batman, nessa nova produção a trama é mais profunda e destaca a motivação psicológica do vilão Coringa, agora um personagem psicótico, sem limite de suas ações. Essa mudança e complexidade psicológica dos personagens, além da desenvoltura de diferentes pontos no filme e o foco em outros personagens, é uma aplicação da potencialidade das narrativas sequenciais e transmidiáticas. O longa também aborda a distorção dos princípios morais, o questionamento dos limites das ações e, até mesmo, dos heróis. Apesar de opostos, o Coringa complementa o Batman no que diz respeito à denúncia da corrupção, mesmo que por meios diferentes.

4 Declarações retiradas dos documentários “The Journey Begins: Creative Concepts" e "Genesis of the Bat", DVD, Warner Home Video, 2005.

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Batman - O cavaleiro das Trevas (2008), conta com uma grande equipe de profissionais capazes de fornecer ao filme figurinos e maquiagens exemplares e efeitos especiais, como explosões, cenas de voo do Batman e lutas, bem construídos e transportados dos quadrinhos do herói para o cinema, afirma Callari et al. (2012).

Um Batman de nossos dias comparado ao herói desenhado na década de 1940 é quase irreconhecível. A era da informática torna essa sofisticação cada dia maior, aliando os recursos de softwares especializados.

(PATATI; BRAGA, 2006, p.9)

Segundo Charles Rover (produtor), Kevin de La Noy (produtor executivo) e Kenin Kavanaugh (designer de produção) 5, lançado em 2012, o último filme da trilogia de Nolan, Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, foi uma criação maior que as anteriores. O filme carregava grande expectativa, uma vez que apresentaria um fim para a trajetória do personagem e precisaria terminar de maneira satisfatória, honrando as produções anteriores e o legado de Batman. Para isso, os diversos profissionais envolvidos no projeto se superaram em quesito de escopo e efeitos visuais utilizados no filme. Os sets, o roteiro e a trajetória de cada personagem se encaixam com a evolução dos filmes anteriores, trazendo maior coerência e realidade ao herói e sua narrativa.

De acordo com Raquel Rodrigues (2009), a combinação da tecnologia cinematográfica e da narrativa quadrinizada resulta em um novo conceito de produção e na complexidade crescente na forma de configurar o tempo e o espaço, abrindo caminhos para a apresentação das histórias e suas adaptações para o cinema de maneiras inovadoras. Além disso, a polidimensionalidade da narrativa e a plataforma audiovisual possibilitam maior espaço para desenvolvimento de roteiros, em uma exposição não linear, e incorpora outros elementos sensoriais ao espectador.

Assim, a trilogia "Cavaleiro das Trevas" de Nolan constitui um exemplo prático de que cinema, quadrinhos, e adaptações do gênero, são meios de comunicação de massa e estão sujeitos a exploração de diversos campos sensoriais, técnicos, intelectuais e

5 Declaração retirada do documentário: Behind the scenes: Reflections (15 min.), “The End of a Legend”, DVD, Warner Home Video, 2012.

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midiáticos. As adaptações cinematográficas se transformam em plataformas de expressão do imaginário dos fãs de super-heróis, como o Batman, e devem balancear todos os aspectos socio-históricos das narrativas quadrinizadas e as simbologias já construídas por elas, juntamente com os aspectos tecnológicos dos meios audiovisuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os quadrinhos, o cinema e os super-heróis são produtos culturais, históricos e sociais. Eles fazem parte do imaginário comum. Estão presentes em nosso cotidiano, nos produtos que consumimos. São uma expressão do universo simbólico em que vivemos e transmitem os princípios de nossa sociedade.

A relevância da análise desses suportes, em suas mais diversas adaptações, reside no poder de representação e perpetuação dos mitos que eles possuem. "Quadrinhos e cinema, e neles a narrativa dos super-heróis, são janelas da realidade e carregam as ambiguidades e as vicissitudes, as intencionalidades e as perspicácias da vida humana." (REBLIN, 2011, p.57)

Após análise, torna-se possível captar a importância do herói Batman na representação de diversos momentos sócio-históricos. Sua trajetória influenciou, e foi influenciada, pelas diversas transições sociais que marcam nossa sociedade. As interfaces que perpassam as adaptações do personagem terão continuamente a presença de elementos notáveis de suas produções predecessoras. A forma de representação gráfica e audiovisual do personagem foi pioneira em relação ao potencial de síntese conceitual e simbologia do herói. E assim, o próprio personagem Batman se firmou como parte do imaginário popular dos séculos XX e início deste.

Dessa maneira, depreende-se que as histórias em quadrinhos e adaptações cinematográficas dos seus diversos personagens são produtos comunicacionais de relevância, que geram uma série de outros produtos midiáticos e, por essa razão, se fazem instrumento de estudo para a compreensão dos valores socioculturais que suas aplicações, em diversas mídias e formatos proporcionam. Porém, ainda existem lacunas a respeito das transposições da mídia quadrinizada para suportes cinematográficos. Análises mais amplas e aprofundadas são necessárias para maior compreensão das interfaces gráficas e

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audiovisuais, baseadas, ou não, em super-heróis ou especificamente no personagem Batman.

REFERÊNCIAS

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