PROGRAMA DE UNIDADE CURRICULAR
Curso: Comunicação Social Ciclo: 1º
Ramo: Ano: 1º
Designação: Teorias do Jornalismo Créditos: 5
Departamento: Ciências da Comunicação e da Linguagem Tipo: S2
Área científica: Ciências da Comunicação Opção/Obrig Obrig
Ano lectivo Docentes: Responsável da UC:
2013-2014 Orlando César Orlando César
Total de Horas 135 Total de Horas de contacto: 60
Nº de horas de contacto: T – ensino teórico 25 TP –
teórico-prático 20 PL – prático e laboratorial TC – trabalho de
campo S – seminário E – estágio OT – orientação tutória 15 O – outra
Nº de Horas de trabalho autónomo
Estágio Projeto Trabalho no terreno.
Estudo Avaliação 75
1. Introdução
As teorias do jornalismo procedem a cinco abordagens: (1) um campo de campos; (2) uma profissão; (3) um fenómeno de inscrição do mundo; (4) uma instância da democracia; e (5) um quadro de teorias. Responde, como ponto de partida, ao que é o jornalismo, contextualiza-o nas diferentes perspetivas de investigação e relativamente às várias teorias e modelos das ciências sociais e humanas e, finalmente, apresenta o seu corpo de conhecimento (epistemologia) e práticas partilhadas (cosmologia).
O jornalismo é, na sua representação do real, um fenómeno de geração do sistema, um espaço de mediatização das relações de poder e um campo de construção do espaço público. Não é apenas uma atividade técnica de recolha, tratamento e difusão de informação. É uma forma de conhecimento e um domínio discursivo. O seu método assenta numa perspetiva heurística e numa disciplina de verificação. A sua atividade baseia-se em práticas sociais e num reportório de valores. É um fenómeno complexo de inscrição do mundo, cuja função é informar o público sem censura. Mas constitui também um campo de investigação, com o concurso de outras disciplinas.
A Organização Internacional do Trabalho, na sua Classificação Internacional Tipo das Profissões (desde CITP/1988 e até à de 2008), inclui o jornalista entre as profissões intelectuais e científicas. Também a Classificação Portuguesa das Profissões de 2010, elaborada a partir da CITP/2008, inclui o jornalista no grupo de especialistas das atividades intelectuais e científicas. Os perfis profissionais dos jornalistas generalistas e especializados exigem um núcleo de competências gerais e académicas e outro de competências, capacidades e características profissionais necessárias ao
conjunto das profissões do jornalismo e aos perfis específicos da profissão. Os requisitos fundamentais da formação do jornalista polivalente e generalista pressupõem uma competência humanística e cultural, comunicacional, profissional e tecnológica, segundo o afirma Mário Mesquita, relator da área de Jornalismo do Grupo Comunicação para Implementação do Processo de Bolonha a nível nacional (Dezembro de 2004).
2. Objetivos de aprendizagem (conhecimentos, aptidões e competências a desenvolver pelos estudantes)
Proporcionar a aquisição de conhecimentos sobre o jornalismo, sobre o contexto económico, político e social da produção de notícias, sobre as pressões e condicionamentos actuais que afetam o trabalho jornalístico e as relações sociais mediatizadas. Desenvolver a compreensão sobre o quadro teórico e a capacidade de avaliar criticamente o impacto social do jornalismo. Compreender o papel e a importância dos média na sociedade contemporânea e o produto do trabalho jornalístico como um conjunto específico de práticas sociais, códigos e convenções.
Adquirir conhecimento sobre o fenómeno complexo da comunicação de massas, compreender a produção, processamento e efeitos dos sistemas de símbolos e saber distinguir os elementos significativos do fenómeno analisado.
Desenvolver competências sobre o corpo de conhecimentos do jornalismo, as suas práticas sociais e comunidade de valores, normas, perceções e cultura. Capacidade de utilizar as ferramentas do jornalismo e desenvolver as aptidões que guiam a compreensão dos jornalistas e a sua maneira de lidar com a realidade.
3. Conteúdos programáticos
Identificar o jornalismo como uma profissão, como uma instituição, como um domínio discursivo, como uma comunidade, como um conjunto de práticas, como um fenómeno de inscrição do conhecimento e como objeto de investigação.
Mapear os diferentes campos de investigação, quer na perspetiva da abordagem de Denis McQuail (2003) quer na de Barbie Zelizer (2004). Contextualizar as teorias de imprensa e os três modelos de comunicação e política. Abordar o campo do jornalismo na perspetiva de Bourdieu e os conceitos teóricos organizacionais e os de gatekeeper (selecção), newsmaking (construção da notícia) e agenda setting (agendamento).
Encarar a investigação em jornalismo em função da origem de quem o estuda. Abordar a realidade da comunicação e apresentar a definição de jornalismo como arte e como ciência. Apresentar as três áreas epistemológicas que Mats Ekström (2002) designa como: forma de conhecimento, produção de conhecimento e aceitação pública/ legitimidade de alegação de conhecimento.
4. Articulação dos conteúdos programáticos com os objetivos da unidade curricular
Os conteúdos programáticos intentam colocar em perspetiva o contexto, o campo de relações e os instrumentos de que o jornalismo se serve para representar a realidade e produzir o conhecimento que lhe é específico. A compreensão dos elementos, conceitos e instrumentos conferem as condições para apreender os saberes e o modus operandi, padrões de comportamento e de interação em que se baseia o jornalismo.
5. Metodologias de ensino
Aulas teórico-práticas ministradas com recurso ao método expositivo combinado com o método ativo. Complementaridade entre ensino direto e método indireto. Organizar dois seminários e proporcionar trabalho de campo que contribuam para o estabelecimento de interações sociais e para o envolvimento dos(as) estudantes na construção do próprio conhecimento. Promover o trabalho cooperativo, a pesquisa e a resolução de problemas.
6. Articulação das metodologias de ensino com os objetivos de aprendizagem da unidade curricular
O ensino direto, com recurso a métodos ativos, intenta transmitir noções cognitivas sobre o domínio da produção e práticas jornalísticas, que inclui relações institucionalizadas e padrões de acção, que são essenciais ao tipo específico de produção de conhecimento do jornalismo.
O ensino indireto estimula o envolvimento dos(as) estudantes, proporcionando-lhes saberes para lidar com regras, práticas, procedimentos institucionalizados e sistemas de classificação que determinam a forma de conhecimento produzido. O debate em seminário e os trabalhos visam
apreender as práticas sociais do jornalismo que, enquanto atividades de classificação, estruturam-se para lidar com eventos inesperados e complexos de uma forma rotinizada.
7. Avaliação e classificação
O ponto de partida consiste numa avaliação diagnóstica, mediante teste de escolha múltipla ou interação na aula. Haverá dois momentos de avaliação formativa ao longo do semestre e a avaliação sumativa é consubstanciada na realização de dois trabalhos (um deles de grupo) e de um teste de frequência. A classificação final resulta da média entre a classificação obtida na frequência, a que for atribuída ao(s) trabalho(s) e à estruturação discursiva e correcção linguística.
A avaliação dos(as) estudantes revestirá esta forma de processo contínuo (dependente da participação nas atividades letivas) ou a possibilidade de realização de um exame final.
As modalidades, produtos, calendário, parâmetros e critérios da avaliação serão comunicados aos(às) estudantes e negociados com estes(as) na primeira quinzena do semestre e formalizados em documento próprio.
8. Observações
As atividades complementares, como visitas de estudo, devem ser associadas, caso seja exequível, à metodologia do seminário, a realizar na entidade visitada e com a sua participação.
9. Bibliografia principal
Alsina, Miguel Rodrigo (2005), La Construcción de la Noticia, Barcelona, Paidós. Balle, Francis (2003), Os Media, Porto, Campo das Letras.
Benson, Rodney e Erik Neveu, org. (2005), Bourdieu and the Journalistic Field, Cambridge, Polity. Bourdieu, Pierre (1997), Sobre a Televisão, Oeiras, Celta Editora.
Cascais, Fernando (2001), Dicionário de Jornalismo – As palavras dos media, Lisboa, Editorial Verbo. Cornu, Daniel (1999), Jornalismo e Verdade – Para uma Ética da Informação, Lisboa, Instituto Piaget. Correia, Fernando (1997), Os Jornalistas e as Notícias, Lisboa, Editorial Caminho.
Ekström, Mats, «Epistemologies of TV journalism. A theoretical framework», Journalism, Vol. 3 (3), 2002, Thousand Oaks, SAGE Publications, pp.259–282.
Esteves, João Pissarra, org. (2002), Comunicação e Sociedade: Os efeitos sociais dos meios de comunicação de massas, Lisboa, Livros Horizonte.
Fontcuberta, Mar de (1999), A Notícia – Pistas para Compreender o Mundo, Lisboa, Editorial Notícias.
Gomis, Lorenzo (2001), Teoría del Periodismo – Cómo se Forma el Presente, Barcelona, Paidós Ibérica.
Hallin, Daniel C. e Paolo Mancini (2010), Sistemas de Media: Estudo Comparativo – Três Modelos de Comunicação e Política, Lisboa, Livros Horizonte.
Kovach, Bill e Tom Rosenstiel (2004), Os Elementos do Jornalismo – O que os profissionais do jornalismo devem saber e o público deve exigir, Porto, Porto Editora.
Mattelart, Armand e Michèle (2002, 2ª ed.), História das Teorias da Comunicação, Porto, Campo das Letras.
McCombs, Maxwell (2006), Estableciendo la agenda – El impacto de los medios en la opinión pública y en el conocimiento, Barcelona, Paidós.
McQuail, Denis e Sven Windahl (2003), Modelos de Comunicação para o Estudo da Comunicação de Massas, Lisboa, Editorial Notícias.
Traquina, Nelson (2004), A Tribo Jornalística. Uma comunidade transnacional, Lisboa, Editorial Notícias.
Traquina, Nelson (2002), O que é Jornalismo, Lisboa, Quimera.
Traquina, Nelson, org. (1999, 2ª ed.), Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”, Lisboa, Veja. Wolf, Mauro (2006, 9ª ed.), Teorias da Comunicação, Queluz de Baixo, Editorial Presença.
Zelizer, Barbie (2004), Taking Journalism Seriously – News and the Academy, Thousand Oaks, Sage Publications.
Sítios Internet
BOCC - Biblioteca Online de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior - Covilhã - Portugal. Apresenta artigos sobre 30 temáticas, designadamente Jornalismo, http://www.bocc.ubi.pt/. César, Orlando (2011), Crianças versus Riscos/Perigo - Como comunicar. Manual de competências comunicacionais e Guia de referências éticas, culturais e jurídicas para os órgãos de comunicação social/ jornalistas, Lisboa, Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco e Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (editor). In www.cnpcjr.pt/Manual_Competencias_Comunicacionais/default.html
Livros Labcom, projecto editorial do Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior, que apresenta em PDF todos os livros publicados pelo Laboratório de Comunicação On-line, Coleções: Estados da Arte, Teorias da Comunicação, Pesquisas em Comunicação, Jornalismo e Cinema e Multimédia. In http:// www.labcom.ubi.pt.
10. Bibliografia complementar
Adam, G. Stuart (1993), Notes Towards a Definition of Journalism. Understanding an old craft as an art form, St. Petersburg, Florida, The Poynter Institute for Media Studies.
Berger, Peter L. e Thomas Luckmann (1999), A Construção Social da Realidade, Lisboa, Dinalivro. Camponez, Carlos (2002), Jornalismo de Proximidade, Coimbra, Edições Minerva.
Cebrián, Juan Luís (1998), Cartas a um Jovem Jornalista, Lisboa, Bizâncio.
Correia, Fernando e Carla Baptista (2007), Jornalistas – Do ofício à profissão, Mudanças no jornalismo português (1956-1968), Lisboa, Editorial Caminho.
Curran, James (2005), Medios de Comunicación y Poder en una Sociedad Democrática, Barcelona, Editorial Hacer.
Ferin, Isabel (2002), O que é Comunicação e Culturas do Quotidiano, Lisboa, Quimera Editores. Fidalgo, Joaquim (2008), O Jornalista em Construção, Porto, Porto Editora.
Freixo, Manuel João Vaz (2006), Teorias e Modelos de Comunicação, Lisboa, Instituto Piaget.
Mattelart, Armand (1977), Meios de Comunicação de Massa, Ideologias e Movimento Revolucionário, 2 vols. Lisboa, Iniciativas Editoriais.
McLuhan, Marshall (2008), Compreender os Meios de Comunicação – Extensões do Homem, Lisboa, Relógio D’Água Editores.
Mesquita, Mário (2004, 2ª ed.), O Quarto Equívoco. O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea, Coimbra, Edições Minerva Coimbra.
Montalbán, Manuel Vázquez (2000), Historia y Comunicación Social, Barcelona, Mondadori. Neveu, Eric (2005), Sociologia do Jornalismo, Porto, Porto Editora.
Ricardo, Daniel (2003), Ainda bem que me pergunta: Manual de escrita jornalística, Lisboa, Editorial Notícias.
Rieffel, Rémy (2003), Sociologia dos Media, Porto, Porto Editora.
Rodrigues, Adriano Duarte (1999), As Técnicas da Comunicação e Informação, Queluz de Baixo, Editorial Presença.
Santos, Rogério (2003), Jornalistas e Fontes de Informação – A sua relação na perspectiva da sociologia do jornalismo, Coimbra, Edições Minerva.
Schudson, Michael (2003), The Sociology of News, New York, W.W. Norton & Company.
Shoemaker, Pamela J. e Stephen D. Reese (1996, 2ª ed.), Mediating the Message – Theories of Influences on Mass Media Content, New York, Longman.
Traquina, Nelson (2004), A Tribo Jornalística – Uma comunidade transnacional, Lisboa, Editorial Notícias.