Te r a p i a A n a l í t i c o- Co m p o r t à m e n t a l:
DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À RELAÇÃO
COM O MODELO COGNITIVISTA
Copyright © desta edição:
ESETcc Editores Associados, Santo André, 2002. Todos os direitos reservados
Costa, Nazaré
Terapia analítico-comportamental: dos fundam entos filosóficos à relação com o modelo cognitivista - Nazaré Costa. 1a ed. S anto André, SP: ESETec Editores A ssociados, 2002.
96. 21 cm
1. Psicologia do C om portam ento 2. Behaviorism o
3. A nálise do C om portam ento 4. Terapia Com portam ental
pesquisa, aplicações
CDD 155.2 CDU 159.9.019.4
ISBN
ESETec Editores Associados
Direção Editorial: Teresa Cristina Cum e G rassi-Leonardi Assistente Editorial: Jussara Vince Gomes
Revisão Ortográfica: Erika Horigoshi
R evisão do m aterial original: Prof.* M argarida Heluy
Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br
Rua Catequese, 845 — Bairro Jardim — Santo André — SP CEP 09090-710 Tel. 4990 5683/ 4432 37 47
T
e r a p ia
A
n a l ít ic o
-COMPORTAMENTAL:
DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À
RELAÇÃO COM O MODELO
COGNTTIVTSTA
NAZARE COSTA
ESETec
Editores Associados"Erros têm sido cometidos e não temos certeza se o ambiente
construído pelo homem continuará a proporcionar ganhos que
ultrapassem as perdas, mas o homem como o conhecemos,
melhor ou pior, é o que o homem fez de si mesmo".
B. F. Skinner
Aos meus pais Vilma e Daniel, grandes modelos
,
apoiadores e incentivadores de minhas escolhas
e decisões no passado, presente e, espero, no futuro.
S
u m á r i o Epígrafe ... v D edicatória ... vii A gradecim entos ... Prefácio ... xiii A presentação ... xv I Os Behaviorism os ... ^ II Terapia Analítico-Com portam ental: Histórico, Processo e Características D efin id o ras... 9 III A Subjetividade sob a Ótica Behaviorista Radical: In
terpretação, Aspectos Polêm icos e M anejo Terapêutico ^ IV Psicoterapia "Cognihvo-C om portam ental" ... 27 V Behaviorism o e Cognitivism o: Com paração entre Pro
posições Teóricas e M odelos de Intervenção Terapêu
tica ... 3.5 VI Caracterização, H ipóteses e Im plicações da Tendência
Integracíonista na Terapia A nalítico-Com portam ental
e Terapia Cognitiva ... 55 Finalizando ... 69 Referências ...
A
g r a d e c i m e n t o sA gradeço a Em m anuel Zagury Tourinho, aquele que tem in fluência direta sobre quase tudo que sei acerca da cicncia e da filoso fia behaviorista e do com o me com porto com meus alunos.
Obrigada por tudo! Nunca cansarei de te agradccer, m eu eterno M ESTR F.
A o prof. W alter N unes, um dos grandes incentiva dores deste livro. M uito obrigada!
A os meus alunos e aos m eus clientes que, a cada dia, me fa zem crescer nos níveis profissional e pessoal. Adoro vocês.
P
r e f á c i oA produção de conhecim ento em análise do com portam ento no Brasil, na últim a década, vem revelando um interesse m aior por questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas com a pesquisa básica e com aplicações no cam po da intervenção p sico ló g ica. A criação da A ssociação B rasileira de P sico terap ia e M edicina Com portam ental (ABPM C) e a realização de seus Encontros anuais têm sido um grande incentivador desse m ovim ento, tanto ao possibilitar um contato m ais intenso de novos profissionais e alunos com aquela produção quanto por estim ular a form ação e a divulgação de n ovos autores. Esta obra pode m uito bem ser consid erada um produto desse am biente. A autora, que desde cedo conviveu com a pesquisa em análise do com portam ento em seu curso de graduação em Psicologia na U niversidade Federal do Pará, parece ter encontrado na in te rlo cu çã o co m os tera p eu ta s a n a lítico -co m p o rta m e n ta is e cognitivo-com porta menta is uma m otivação a m ais para dedicar-se à pesquisa conceituai na área. Foi tam bém desse contato que se originou o problem a-pesquisa abordado em sua Dissertação de M estrado, da qual retirou parte do conteúdo do livro.
As tradições com portam entais e cogni ti vistas de abordagem dos problem as psicológicos e seus respectivos m odelos de interven ção guardam relações históricas de diferentes ordens. N a sua origem, o co g n itiv ism o u su fru iu de re cu rs o s ta n to c o n c e itu a is qu an to m etodológicos elaborados no âmbito das psicologias com portam entais
(e, desse ponto de vista, faz boa diferença falar das relações históricas do m entalism o ou do cognitivism o com o beh avio rism o, em bora contem poraneam ente os dois prim eiros sejam m uitas vezes tratados com o sinônim os). Nos tem pos atuais, behaviorism o e cognitivism o são freqüentem ente referidos (inclusive por Skinner) com o os princi pais antagonistas no cenário acadêm ico de confronto das teorias psi cológicas. O texto que com põe este livro reflete as duas condições. É bastante didático no que diz respeito à apresentação dos behaviorism os e de aspectos das terapias an alítico -co m p o rtam en tal e cog nitivo- com portam ental; é na m esm a m edida polêm ico no que concerne às relações entre aqueles m odelos de intervenção e, quanto a isso, é níti da a adesão da autora às posições de base analítico-com portam ental. Talvez não enfatize suficientem ente o clima de colaboração que vem sendo nutrido entre os praticantes e pesquisadores nas duas áreas, com o, inclusive, ilustram as program ações dos Encontros anuais da ABPM C; em contrapartida, ressalta aspectos críticos (de um ponto de vista analítico-com portam ental), que m uitas vezes são insuficiente m ente considerados nos debates sobre o assunto.
A obra cumpre pelo m enos três objetivos muito positivos: di v u lg a a a n á lis e do c o m p o rta m e n to e as te ra p ia s a n a lític o - comportamental e cognitivo-comportamental, com um di da tis mo que a recomenda como recurso para o ensino de novos terapeutas; fomenta uma discussão crítica das iniciativas na direção da integração de m ode los diversos de intervenção, sem interditar as possibilidades de diálogo e colaboração; e, finalmente, revela uma nova autora, encorajando, tam bém, novos membros de nossa comunidade a divulgarem sua produ ção.
Belém , 14 de agosto de 2002. Em m anuel Zagury Tourinho
A
p r e s e n t a ç ã oA idéia dc escrever um livro não é nova. Hã anos, quando ainda cursava a graduação, propus ao grupo de estudos do qual par ticipava que escrevêssem os um livro, a partir das 20 afirm ações des tacadas por Skinner na introdução de sua obra Sobre o Behaviorismo.
No entanto, m otivos diversos nos levaram a não concretização de tal propósito. M as, eis que, m esm o sozinha, resolvi ousar e partir para a realização do desejo.
Este livro retrata, na realidade, grande parte da minha trajetó ria acadêm ico-cicntífica no que se refere ao estudo do Behaviorismo, da Análise do Com portam ento e da Terapia Analítico-Comportamental.
M eus prim eiros trabalhos foram os de conclusão de curso, ten do sido escritos nos anos de 1995 c 1996 intitulados respectivam ente: " O H om em com o Produto e Produtor do Am biente segundo Skinner" e " E v e n to s P riv a d o s : A n á lise e Im p lic a ç õ e s p ara a T e ra p ia C om portam cntal". Durante o mestrado, além do anteprojeto para a seleção e da própria dissertação, redigi alguns trabalhos no contexto de disciplinas, m antendo com o foco de estudo a filosofia, a ciência e a prática clínica behavíorista.
C om o passar do tem po, comecei a apresentar meus trabalhos em form a de painéis e apresentações orais, além de utilizá-los em m inhas aulas com alunos de graduação. Ao fazer isto, fui positiva m ente reforçada com os feedbacks dos alunos e tomei conhecim ento que alguns de m eus textos tam bém eram usados por outros professo res da graduação, inclusive nos estágios curriculares. Foi a partir daí c, também, por uma necessidade pessoal de produzir, que decidi tor nar públicos m eus eventos privados (pensamentos, desejos e necessi dades), com eçando a colocar em prática a organização do livro.
G rande parte deste livro consiste em m inha dissertação de m estrado (concluída em 1999), porém existem capítulos que foram originalm ente escritos ainda no ano de 1996. Apesar de alguns textos
P
r e f á c i oA produção de conhecim ento em análise do com portam ento no Brasil, na últim a década, vem revelando um interesse m aior por questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas com a pesquisa básica e com aplicações no cam po da intervenção p sicológica. A criação da A ssociação Brasileira de P sico terap ia e M edicina C om portam ental (ABPM C) e a realização de seus Encontros anuais têm sido um grande incentivador desse m ovim ento, tanto ao possibilitar um contato m ais intenso de novos profissionais e alunos com aquela produção quanto por estim ular a form ação e a divulgação de novos autores. Esta obra pode m uito bem ser consid erada um produto desse am biente. A autora, que desde cedo conviveu com a pesquisa em análise do com portam ento em seu curso de graduação em Psicologia na U niversidade Federal do Pará, parece ter encontrado na in terlo cu çã o co m os tera p eu ta s a n a lítico -co m p o rta m e n ta is e cognitivo-com portam entais uma m otivação a mais para dedicar-se à pesquisa conceituai na área. Foi tam bém desse contato que se originou o problem a-pesquisa abordado em sua Dissertação de M estrado, da qual retirou parte do conteúdo do livro.
As tradições com portam entais e cognitivistas de abordagem dos problem as psicológicos e seus respectivos m odelos de interven ção guardam relações históricas de diferentes ordens. N a sua origem, o co g n itiv is m o u su fru iu de re c u rs o s ta n to c o n c e itu a is qu an to m etodológicos elaborados no âmbito das psicologias com portam entais
serem m enos recentes, tive o cuidado de atualizá-los, inclusive a pró pria dissertação.
O m aterial a seguir para m uitos não é novidade, pois algum as d iscu ssões aqui d ispostas já v êm send o feitas por vários au tores renom ados. M as, se é assim , em que m edida vale a leitura do livro?
Considero que o livro seja útil por se tratar, até certo ponto, de um m aterial didático, apresentar reflexões críticas e m uito particu lares de alguns tem as, além de trazer discussões que ainda são im portantes na atualidade.
O livro está dividido em seis capítulos: parte das distinções entre très tipos de Behaviorismos; apresenta a história, o processo e as carac terísticas definidoras da Terapia Analítico-Com portam ental; discute o tema da subjetividade no Behaviorismo Radical e na Terapia Analítico- C om p ortam en tal; aborda os fu n d am en to s e a prática da T erap ia "C ognitivo-C om portam ental"; com para as proposições teóricas e os modelos de intervenção terapêutica behaviorista e cognitivista e, por fim , caracteriza e fo rm u la h ip ó teses e im p lica çõ es da ten d ên cia in te g ra c io n is ta , e n v o lv e n d o a in te rv e n ç ã o clín ica a n a lític o - comporta mental e a cognitivista. '
Espero que minha percepção em relação ao livro esteja de acor do com a realidade! Uma boa leitura a todos.
I
Os
B
e h a v i o r i s m o sE m u m prim eiro trabalho acadêm ico (Costa, 1995), já se fa zia presente a preocupação de dem arcar o fato de que não se pode fa la r em n o m e do B eh av io rism o sem m en cio n ar a q u a l tip o de Behaviorism o está se referindo, uma vez que existem diferenças sig nificativas entre os seus vários modelos.
Os m ais conhecidos no meio acadêmico são os representados por W atson, o Clássico, e por Skinner, o Radical. Entretanto, há, ainda, o Behaviorism o Mediacional, representado principalmente por Tolman e H ull, o Behaviorism o Teleológico, representado por R ach lin e o Interbehaviorism o, que tem a figura de Kantor como representante.
C o m o as d is c u s s õ e s n e ste liv ro e s ta rã o p a u ta d a s no Behaviorism o de Skinner, sendo necessário tam bém esclarecer sobre determ inados aspectos do Behaviorism o Clássico e do Behaviorism o M ediacional, este capítulo se propõe a caracterizar cada um destes m odelos, a partir das concepções de com portam ento e am biente, de paradigm a adotado, de m odelo causal e de visão de homem.
Behaviorismo Clássico de John Watson
In augurad o com a publicação do artigo Psychology as the behaviorist views it, em 1913 (W atson, 1913), o Behaviorism o surge em contraposição às psicologias m entalistas então dom inantes (M atos, 1997). A ntes de seu surgim ento, os psicólogos estavam voltados para o estudo da m ente ou da consciência hum ana, adotando com o m éto do a introspecção.
Com o comportamentalismo, pelapm neira vez, os estudos psicológicos “deram as costas” à experiência imediata. Tudo aquilo que faz parte da experiência subjetwa individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja por que não tem importância, seja porque não é acessível aos métodos objetivos da ciência (Figueiredo e Santi, 1997, pp. 66-67).
Assim , considera-se que o Behaviorism o foi um m arco na história da psicologia, na m edida em que delim itou com o objeto de estudo o com portam ento e buscou introduzir m étodos com patíveis com aqueles das ciências naturais (Chiesa, 1994). Para isso, W atson rejeitou toda e qualquer referência a processos m entais em sua pro posta de ciência psicológica. W atson (1924/1970) escreveu; "V am o s n os lim itar a coisas que podem ser observadas, e form ular leis apenas para aquelas coisas. Agora, o que podem os observar? N ós podem os observar o comportamento — o que o organismo faz ou diz” (p. 6).
O comportamento, na concepção de Watson, referia-se basica m ente às m udanças observadas no organism o, em especial, às m udan ças nos sistem as glandular e m otor, decorrentes de algum estím ulo am biental antecedente. Em função da ênfase nas respostas glandulares e motoras, o Behaviorismo de W atson é denom inado por alguns autores de M uscle-tw itch Psychology (P sico lo g ia da C on tração M u scu lar) (Kitchener, 1977). Por outro lado, a despeito da interpretação dc que as explicações de Watson seriam m eram ente fisiológicas, ele é enfático em fazer a diferença.
[A ] Fisiologia está particularmente interessada no funcionamento de partes do animal.... [O] Behauiorismo,, por outro Indo, enquanto estâ in
tensivamente interessado no funcionamento de todas estas partes, estâ intrinsecamente interessudo no que o animal como um todo fareí de m a nhã até à noite e de noite até tie manhã (Watson 1924/1970, p. 11),
E acrescenta: "E m outras palavras, a resposta n a qual o behaviorista está interessado é a resposta com um à pergunta " o que ele está fazendo e por que está fazendo?" (W atson 1924/1970, p. 15). Desta m aneira, conclui-se que W atson estava interessado no com por tam ento enquanto um fenôm eno m olar — no sentido de um "conjunto de m ovim entos integrados" - porém , para estudá-lo, considerava n e cessário decom pô-lo em partes m ais sim ples (Kitchener, 1977).
Para W atson, todos os com portam entos são reflexos, um a vez que consistem "d e respostas eliciadas por estím ulos7' (Zuriff, 1986, p. 692). Deste modo, o paradigm a adotado por ele para explicar os com p o rta m e n to s fo i o p ara d ig m a p a v lo v ia n o S -R . Em d e c o rrê n c ia d isto , o B e h a v io rism o w a ts o n ia n o ta m b é m é c o n h e c id o co m o Behaviorism o Clássico ou "Psicologia S-R " (Chiesa, 1994; M oore, 1995a, 1996; M atos, 1997).
U m estímulo consiste em qualquer objeto no am biente ou m u dança no próprio corpo do organism o (contrações musculares,
palpita-çoes e outras)1. Já a resposta diz respeito ao que o organism o faz, classi ficada como externa (explícita) e interna (implícita) (W atson 1924/1970). Ao usar o m odelo explicativo S-R, no qual um evento antece dente é a causa do com portam ento, W atson assum e um a concepção m ecanicista de explicação com portam ental. M ecanicista no sentido de que a causa é necessariam ente um evento anterior que produz, assim, um efeito 0u piassu e M arcondes, 1993).
Outra denom inação dada ao Behaviorism o de W atson foi Behaviorism o M etodológico. Tal denom inação está relacionada com a opção m etodológica de W atson, ou seja, quando ele abandonou o estudo da vida m ental, o fez por um a lim itação de m étodo e não por considerar que os processos m entais inexistissem 2. N as palavras de Chiesa (1994):
[ Watson argum entou] ... que o estudo da vida mental, consciência, sensações, e assim por diante não estava levando a psicologia a ne nhum lugar e deveria ser abandonado provisoriamente, em favor da concentração na pesquisa comportamental, até o desenvolvimento de métodos mais capazes de irradiar alguma luz sobre estes processos. Princípios do comportamento deveriam ser aplicados de maneira ci entífica, sem referência a estados mentais, até a psicologia avançar como uma ciência natural (p. 184).
U m a im plicação que se origina desta posição de W atson re fere-se à m anutenção da concepção dualista de hom em . Tanto para as psicologias tradicionais quanto para o Behaviorism o w atsoniano, exis tem processos internos que diferem dos com portam entais quanto à natureza: os prim eiros são m entais (subjetivos) e os segundos são físi cos (objetivos) (Chiesa, 1994).
Sintetizando: o Behaviorism o é definido por W atson (1970) com o "u m a ciência natural que se encarrega de toda a área do ajusta m ento hum ano" (p. 11), cujos objetivos consistem em prever e controlar o com portam ento. Dentre suas principais características, estão: tomar como objeto de estudo o comportamento publicamente observável; igno
1 Esta noção de ambiente envoivend o também o que se passa no interior do organismo é particularmente im portante em urna proposta behaviorísta, em função da possibilidade de aceitação da causalidade m tem a. Afinal, se todos os com portam entos são reflexos, dado o estímulo (externo ou interno) a res posta ocorrerá. A diferença desta interpretação para as dem ais interpretações intem alistas residiria no fato de que a natureza do in ttm o , neste contexto, é físico e não mental. Contudo, isto é apenas uma suposição que precisaria ser m elhor investigada. Assim, a proposição de que W atson é extem alista, com respeito às suas explicações com portam entais, será m antida.
1 Existem posições divergentes em relação a denom inar W atson de behaviorista m etodológico. Hayes e H ayes (1992), p o r exem plo, o consideram um behaviorista metafísico. Entretanto, a argum entação dada pelos autores que o consideram com o representante do Behaviorismo M etodológico é uma argum entação justificável. N ote, p o r exem plo, a afirm ação de Zettle e Hayes (1982) de que "o B ehaviorism o M etodológico (com o um a posição filosófica) tem en fatizad o qu e, por razões m etodológicas, apenas o com portam ento publicamente observável pode ser considerado com o cientificam ente adm issível" (p. 75). lista caracterização do Behaviorism o M etodológico é a m esm a que é feita para o Behaviorismo de Watson.
rar os fenôm enos m entais; utilizar procedim entos objetivos para estu dar o com portam ento e explicar todos os com portam entos através do paradigm a S-R (Matos, 1997).
Após esta fase inicial da cham ada revolução behaviorista, di versas críticas foram feitas a esta nova proposta de psicologia, dentre as quais a de que era m ecanicista, simplista e desum anizadora. Entre tanto, talvez a principal crítica tenha sido a de que as explicações behavioristas eram inadequadas e limitadas, já que nem todo com por tamento poderia ser explicado por conexões S-R (Moore, 1995a, 1996). Em conseqüência disto, na tentativa de explicar alguns pro blem as que o Behaviorism o de W atson não explicava satisfatoriam ente, "o s psicólogos reintroduziram os fenôm enos m entais nas explicações na form a de variáveis m ediacionais 'org an ísm icas'" (M oore, 1995b, p. 5 9 ). E sta n o v a fa s e da r e v o lu ç ã o b e h a v io r is ta , r o tu la d a de N eobehaviorism o M ediacional, teve início entre o final da década de 1920 e o com eço da década de 1930 (M oore, 1995a, 1996), tendo den tre seus representantes Tolm an e Hull.
Neobehaviorismos Mediacion&is de Tolman e Hull
O N eobehav iorism o M ed iacion al de T olm an, co n h ecid o como Behaviorism o Intencional, teve seus fundam entos lançados em 1932, com o livro Purposive behaviorin animal and men (cf. Carrara, 1998).
U m pressuposto básico do N eobehaviorism o de Tolm an é o da intencionalidade do com portam ento. Para ele, todo organism o se com porta para alcançar um objetivo, um alvo determ inado (Zuriff, 1985). Assim, o com portam ento persiste ''até o objetivo ser alcança- do" (Kitchener, 1977, p. 37).
O com portam ento, na concepção de Tolm an, era um fenôm e no emergente por possuir em si mesmo propriedades que o descrevem e definem - propriedades estas não reduzíveis à fisiologia - m otivo pelo qual é denom inado de m olar (Kitchener, 1977; Sm ith, 1989; Carrara, 1998).
A defesa da intencionalidade do com portam ento, aliada ao fato de ser um representante da teoria S-O -R, perm ite que Tolm an seja considerado um precursor de algum as teorias cognitivistas. Isto porque o en u n ciad o S-O -R evidencia u m a posição m ed iacion al e intem alista quanto à determ inação do com portam ento, o que consis te em um aspecto característico de teorias cognitivistas.
O enunciado S-O -R significa que entre o estím ulo e a res posta existe um conjunto de eventos ocorrendo no organism o, que são os v erd ad eiro s d eterm in an tes do fen ô m en o co m p o rtam en tal (Zuriff, 1985).
Os eventos mediacionais, designados por Tolman (1938), como variáveis intervenientes, foram concebidos "com o construtos adicionais, os quais cada ciência considera útil criar e introduzir com o passo explicativo entre as variáveis independentes, de um lado, e as variáveis dependentes finais, de outro" (p. 229). Em outras palavras, define-se uma variável interveniente com o aquela que conecta as variáveis inde pendentes e dependentes (Zuriff, 1985)3.
Tolm an categorizou as variáveis intervenientes em três gru pos: a) sistem a de necessidades, que diz respeito ao estado de priva ção ou im pulso; b) m atriz de crença-valores (variável cognitiva), que se refere a hierarquias de expectativas aprendidas sobre estím ulos do am biente e suas funções na relação com o com portam ento e c) espaço com portam ental, o qual pode ser entendido com o o contexto em que o com portam ento ocorre (Carrara, 1998).
De acordo com Tolm an (1948), o processo de aprendizagem envolve a construção de m apas cognitivos do am biente, que se for mam no cérebro dos organism os. Estes m apas representam relações estím ulo-estímulo (S-S) ou as expectativas dos organismos "d o que leva ao que..." (Zuriff, 1985, p. 254). Dito de outro modo, os mapas cognitivos são construídos a partir da relação organism o-m eio, através de cone xões entre estím ulos am bientais e expectativas do organism o (evento m ediador que funciona com o um estím ulo), constituindo-se em guia para o com portam ento dos organism os em situações posteriores. Dá-se o nom e de gestalts-sinais (sign-gestalts) aos processos cognitivos que inte gram as relações aprendidas entre as pistas do am biente e as expectati vas do organismo, ou seja, um mapa cognitivo seria um padrão d e gestalts sinais (C abral e Nick, 1997).
Outro ponto im portante no sistema de Tolman refere-se à acei tação de processos mentais. Neste sentido, ele afirma que:
O behaviorismo a ser apresentado aqui sustentará que os processos men tais são mais utilmente concebidos como apenas aspectos dinâmicos, ou determinantes, do comportamento. Eles são variáveis funcionais que intermedeiam equações causais entre estímulo ambiental e estados fisio lógicos iniciais..., de um lado, e comportamento final público, de outro (Tolman, 1932, conforme citado por Zuriff, 1985, p. 207).
Em outro m om ento, Tolm an (1959) conclui que, ao iniciar o seu sistem a behaviorista, o que "realm ente estava fazendo era tentar reescrever um a Psicologia m entalista de senso comum... em term os behavioristas operacionais" (conform e citado por Carrara, 1998, p. 62).
A publicação do livro Principies o f Behavior, no ano de 1943, m arca o surgim ento de outro tipo de N eobehaviorism o S-O -R - o N eobehaviorism o de Clark Hull (Chiesa, 1994).
3 Fm 1948, M acCorqodale e Meehl (1948) propuseram um a diferenciação entre variáveis intervenientes e construtos hipotéticos. Adiante, tratar-se-á desta distinção.
Hull, à semelhança de Tolman, faz uso das variáveis mediacionais para explicar o comportamento. Contudo, seu uso é diferenciado. Na litera tura, dentre os exemplos de construtos mediacionais postulados por Hull, encontram-se o drive, a inibição condicionada, a reação de fadiga, a interação neural aferente e o fator de oscilação (Chiesa, 1994), sendo que os cinco construtos considerados principais no Neobehaviorismo hulliano são: for ça do hábito, reação potencial, inibição, oscilação do potendaí de reação e princípio ou limiar de reação (Tumer, 1965).
As variáveis m ediacionais do sistem a de Hull são variáveis essencialm ente intra-organísm icas, no sentido de que possuem um ca ráter neurofisiológico (Chiesa, 1994).
Como representantes do Neobehaviorism o M ediacional, para Tolman e Hull o am biente é apenas o iniciador da cadeia S-O-R, caben do aos mediadores a função de " causas reais" do com portamento.
C o n trap o n d o -se o N eo b eh av io rism o de H u ll co m o de
1olman, nota-se que apesar de serem classificados com o m ediacionais e intem alistas, apresentam diferenças significativas.
Tolm an e Hull concebiam o com portam ento com o um fenô m eno m olar, entretanto, para Hull, rtiolar significava m acroscópico e não envolvia as propriedades de propósito e cognição postuladas por Tolm an (Kitchener, 1977).
Enquanto Tolm an recorreu a conceitos m entais em sua ex plicação do com portam ento, de acordo com Zuriff (1985), Hull rejei tou a função explicativa destes conceitos. Possivelm ente por isto, Hull trabalhava com as variáveis m ediacionais entendendo-as apenas com o variáveis intra-organísm icas e não recorreu a conceitos cognitivos como intenção, representação, expectativa e crença (Chiesa, 1994).
Isto evidencia que uma concepção m ediacional e intem alista quanto à determ inação do com portamento pode não ser suficiente para definir um a abordagem com o cognitiva. M ais que isso, uma visão cognitiva requer a introdução das cognições como fatores determinantes para o fenômeno comportamental. Por cognição entende-se a postulação de processos que ocorrem no interior dos organismos, com o memória, percepção, inteligência, pensamento, crenças etc., mas que não se con fundem com suas condições anátomo-fisiológicas.
Tolm an e Hull possuem concepções diferenciadas em relação à mediação. Enquanto para Tolm an a natureza da m ediação era m ais pro priamente cognitiva, Hull a considerava como neurofisiológica. M esmo as variáveis intra-organísmicas postuladas por Tolm an referem -se à pró pria fisiologia do organism o de uma forma genérica. Ele não falava em processos e estruturas neurais, mas sim de estados de privação e condi ções endócrinas, dem onstrando claram ente sua ênfase nas variáveis cognitivas. Porém, deve ficar claro que tanto Tolm an como Hull
utilíza-vam termos referentes a processos que não podiam ser de nenhum modo observados (MacCorquodale e Meehl, 1948).
Hm decorrência da distinção feita anteriorm ente, Tolm an se gue a linha watsoniana de m anutenção do dualism o e Hull é considera do representante do monism o, por não utilizar term os que se referem a processos ou entidades não-físicas.
Em resumo, o Neobehaviorism o de Tolm an é considerado um Behaviorism o Cognitivo, uma vez que enfatiza o papel das variáveis cog nitivas na explicação do com p ortam en to dos organ ism os. Em contrapartida, apesar de H ull tam bém ser m ediacionista e internalista no que se refere à explicação do com portam ento, seu m odelo não é cognitivista, pois recorre à neurofisiologia do organism o (em algu m as circunstâncias de m odo m eram ente especulativo) para explicar o fenôm eno com portamental.
Na tentativa de recuperar "o ambiente, como instância privi legiada onde o cientista busca variáveis e condições das quais o com portamento é função" (Matos, 1997, p. 59), um novo tipo de Behaviorismo é inaugurado por B. F. S k in n e r- o Behaviorismo Radical.
Behaviorismo Radical de B. F. Skinner
Em bora o m odelo beh aviorista de Skinn er v en h a sendo construído a partir da década de 30, é apenas em 1945, com a publica ção do artigo intitulado The operational analysis o f psychological terms (Terms), que Skinner distingue seu Behaviorism o dos dem ais (Andery, 1993; Tourinho, 1995).
Skinner (1963) define o Behaviorismo como a filosofia da ciên cia do comportamento, pois consiste em um conjunto de reflexões sobre o objeto de estudo, temas e m étodos da psicologia e da ciência do com portam ento (Costa, 1997).
A denom inação Behaviorism o Radical possui o significado de anti-m entalista (Lopes, 1993), ou seja, Skinner é radical por negar a existência de fenômenos cuja natureza não seja física, por exemplo, mente e cognição (M atos, 1997). Por negar a existência de tais fenôm enos, a visão de hom em skinneriana é m onista — o organism o é uno e interage em sua totalidade com o ambiente.
No Behaviorismo Radical, o com portam ento é definido como a relação entre o organismo e o ambiente (Skinner, 1938) e, neste sentido, busca identificar o contexto em que cada resposta foi estabelecida e se m antém assim como sua função no ambiente. E, diferentem ente do que s u s te n ta v a W atso n , p a ra S k in n e r, g ra n d e p a rte do re p e rtó rio comportamental hum ano é operante e não reflexo. O operante é definido com o uma classe de respostas cuja probabilidade de ocorrência é função de suas conseqüências (Skinner, 1953/1965).
O paradigm a utilizado por Skinner para explicar o com porta m ento operante consistiu na tríplice contingência, Sd-R-Sr, na qual o Sd refere-se ao estím ulo discrim inativo que sinaliza a ocasião para o refor ço; o R ,a resposta e o S r,o estím u lo reforçador. Assim, "um a form ulação adequada da interação entre um organism o e seu am biente deve sempre
especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre/ (2) a pró pria resposta, (3) as conseqüências reforçadoras" (Skinner, 1969, p. 7, grifo acrescentado).
A o m udar a unidade de análise, Skinner m odificou tam bém a n oção de cau sa. E n q u an to n os m od elo s b eh a v io rista s clássico e m ediacional existia um a relação m ecânica de causa e efeito, o m odelo causal adotado por Skinner é selecionista; são as conseqüências pro duzidas pelo com portam ento que atuam selecionando este.
Nas palavras de Chiesa (1994), "behavioristas radicais ado tam um m odelo causal que não exige fornecer ligações entre um evento e outro; ele não é linear e não pressupõe contiguidade no espaço e no tem po" (p. 116). Uma explicação m ecânica, em contrapartida, procura sem pre um m ecanism o para explicar a realidade e a explica de form a independente da existência dos indivíduos (M ichelleto, 1997). A rea lidade, para o m ecanicism o, em função de
se form a[r] por uma sucessão de interações mecânicas faz supor a necessidade constante de urna matéria através da qual o efeito pudes se se propagar e a necessidade de um princípio de explicação sempre baseado em um mecanismo. Para eventos em que não se podia obser var uma relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes se tornava necessária a elaboração de conceitos baseados em interpre tações ou especulações para garantir a conexão do sistema, de causas (Michelleto, 1997, p. 32).
De form a sem elhante a W atson, Skinner considera am biente qualquer parte do m undo externo e interno que afete o indivíduo. M ais especificam ente, am biente seria qualquer parte do universo ao qual o in d iv íd u o re sp o n d e d is c rim in a tiv a m e n te (S k in n er, 1 9 5 3 / 1 9 6 5 ; Tourinho, 1997a).
De forma sintética, o Behaviorism o Radical caracteriza-se, so bretudo, por ser a filosofia da ciência do com portam ento que delim ita o com portam ento enquanto objeto de estudo em si mesmo, considera que a maioria dos com portamentos humanos é operante, adota o paradigm a Sd-R-Sr, explica o comportamento sem recorrer a nenhum tipo de m edia dor tal com o o sistem a nervoso ou cognições e defende uma concepção m onista de hom em (Chiesa, 1994).
As distinções entre os Behaviorism os apresentadas neste capítulo servirão de suporte para a caracterização do m odelo de in tervenção analítico-com porta m ental a ser feita no capítulo seguinte.
II
TERAPiA A
n a l í t i c o- C
o m p o r t a m e n t a l:
H
i s t ó r i c o, P
r o c e s s o eC
a r a c t e r í s t i c a sD
e f i n i d o r a sCraighead, Craighead, K azdin e M ahoney (1994) argum en tam que, d iferenciar o que é ou não um a in terven ção terapêu tica com portamental, pode ser, na m aioria das vezes, uma tarefa difícil e um tanto incom um . Para estes autores, "dentro da categoria daqueles que se identificam com o m odelo com portamental estão aqueles que se classifi cam co m o m o d ific a d o r e s do c o m p o r ta m e n to , te ra p e u ta s c o m p o rta m e n ta is, te ra p e u ta s c o g n itiv o s, te ra p e u ta s co g n itiv o - comportamentaís, terapeutas multimodais, integracionistas, e assim por diante" (1994, p. ix).
D iante deste cenário é que se considera relevante, neste capí tulo, caracterizar o m odelo clínico com portam ental a partir de sua contextualização histórica às etapas do processo terapêutico.
O surgim ento da Terapia C om portam ental está relacionado com os trabalhos de condicionam ento reflexo de respostas de m edo de
senvolvidos por W atson e Rayner na década de 20 (Barcellos e Haydu, 1995). À m edida que as pesquisas experim entais foram sendo desenvol vidas, seus resultados p assaram a ser in corp orad os à prática dos terapeutas. Dentre aqueles cujos trabalhos exerceram influência sobre a área clínica com portam ental, encontram -se Thom díke, Hull, G uthrie e Skinner (Barcellos e H aydu, 1995; Franks, 1996; Rim m e M aster, 1983).
N a década de 60, os marcos do m odelo clínico comportamental podem ser encontrados em uma obra organizada por Eysenk, em 1960, e na publicação da prim eira revista de Terapia Com portam ental, em 1963 (Franks, 1996). Corroborando esta análise histórica, Barcellos e Haydu (1995) afirm am que este m odelo de terapia "constituiu-se em um
movi-m ento formovi-m al somovi-m ente na década dc 60 e foi difundida movi-m undialmovi-m ente na década seguinte" (p. 43).
Existe uma proposta distinta de análise com relação aos traba lhos de Skinner subsidiarem a Terapia Comportamental. Na verdade, afirma-se que seus estudos deram origem a um outro tipo de intervenção de caráter behaviorista - a M odificação do Comportamento (Barcellos e Haydu, 1995; Figueiredo e Coutinho, 1988; Greenspoon e La mal, 1978; Ri mm e Master, 1983). Pode-se dizer assim que, por volta da década de 50, existiam , pelo menos, dois tipos de intervenção behaviorista: a Terapia Comportamental, cuja intervenção adotava o paradigma do condiciona mento reflexo e a Modificação do Comportamento, que tinha como respal do o paradigm a do condicionam ento operante.
A identificação da Terapia Com portam ental com o paradigma reflexo e da M odificação do Com portam ento com o paradigma operante pode ser um modo impreciso de tratar as m udanças dos m odelos clínicos com porta mentais, na m edida em que são encontradas na literatura refe rendas a ambos (Terapia Com portam ental e Modificação do Com porta mento) envolvendo a aplicação de princípios derivados dos condiciona- jm entos clássico e operante (e.g. Kazdin, 1983). O que se pode salientar é jque, com a elaboração dos princípirts operantes, alguns terapeutas os /absorveram como base estrita de intervenção clínica, enquanto outros os associaram a princípios do condicionam ento reflexo no delineam ento de técnicas e procedimentos de intervenção.
Atualmente, a denom inação que vem sendo adotada com o re ferên cia à in terv en ção beh av io rista no con texto clínico é Terapia A nalítico-Com portam ental. Esta term inologia visa resgatar os pres supostos behavioristas da clínica com portam ental e afastá-la dos di versos m odelos que se intitulam com portam ental e que usam pressu postos cognitivistas ou outros (Tourinho e Cavalcante, 2001). Com o a caracterização a ser apresentada é de fato behaviorista, justifica-se falar em Terapia Analítico-Comportamental (T AC), embora as referências uti lizad as ao lo n go do cap ítu lo ain d a façam uso do term o T erap ia Comportamental.
Estas diferentes terminologias talvez sejam o reflexo das inter pretações distintas de grande parte daqueles que se intitulam clínicos com portamentais e que não com partilham da própria denom inação de um modelo comportamental ou, o inverso, em função da ausênda de uma única definição, encontram-se diferentes denominações.
O q u e é cla ro é q u e, d e sd e o in íc io , o m o d elo clín ico com portam ental esteve ligado a diferentes posições teóricas, sendo
que sua "evolução ao longo dos anos é acom panhada por inúm eras discussões e divergências quanto aos princípios teóricos e m etodológicos que [o] caracterizam " (Barcellos e Haydu, 1995, p.43). Conseqüentem en
te, na própria década de 60 já existiam três definições distintas de Tera pia Com portam ental, além de m ais duas na década de 70 (Figueiredo e Coutinho, 1988). Atualmente, outras definições podem ser encontradas , na literatura, entretanto, optou-se por aquelas propostas por N eri (1987) e Costa (1996).
/
Para Neri (1987), o processo terapêutico com portam ental implica um a tentativa de controlar as variáveis am bientais que favorecem a extinção de com portamentos inadequados e a aquisição de outros que '■ possibilitem uma atuação m ais adequada do cliente em seu contexto, fI "n o sentido de reduzir ao m áxim o sua exposição às conseqüências ne- i | gativas, e de aum entar ao m áxim o a probabilidade de expor-se a situ-
Wções agradáveis" (p. 23). 1
Costa (1996) com plem enta a definição acim a quando pro- 1 põe que:
f P or Terapia Comportamental [leia-se T A C ] entende-se o trabalho | terapêutico que se fundam enta no Behaviorismo Radical e utiliza os
I prin cíp io s da A n á lise do Com portam ento no contexto clín ico , ( \ objetivando identificar e analisar funcionalm ente as variáveis exter
nas que estão controlando os comportamentos do cliente, a fim de ^ j modificá-los, quando desejado. Dito de outra forma, o que define a
f Terapia Comportamental [ou a T A C ] é o modo como se compreende e se ( intervém no fenômeno comportamental, que deve estar em concordân- t cia com a filosofia e a ciência do comportamento (p. 4).
É notório que a definição proposta, apesar de se referir à Tera pia Comportamental, mostra-se completamente compatível com o movi- ' m en to q u e p reten d e d ar p recisão co n ce itu a i ao m o d elo clín ico , com portamental. Cabe ressaltar, no entanto, que, quando se faz referên cia ao Behaviorism o Radical, não há um a restrição a Skinner, incorpo ram -se am pliações que vêm sendo feitas àquela proposta filosófica de autores contem porâneos que m antêm a denom inação de behavioristas radicais, com o Banaco, G uilhardi e Tourinho.
A literatura sobre a clínica anaiítico-comportamental tem sido 1 ampliada na última década, sobretudo com as publicações da Associa- ( ção Brasileira de Medicina e Terapia Comportamental (ABPMC), porém algumas discussões importantes, como o processo terapêutico em si, não 1
têm sido valorizadas. Diversos artigos podem ser encontrados sobre ava liação, uso de técnicas e outros, mas artigos que tratem da avaliação até o
follow-up são escassos1. Por este motivo, considera-se de fundamental im portância m ostrar este percurso, inclusive porque um dos textos que traz uma caracterização das etapas do processo comportamental foi escrito
1 R ecentem ente Ribeiro (2001) escreveu um artigo enfocando as fases do processo terapêutico com portam ental. Entretanto, existem aspectos distintos entre a caracterização da autora e a adota da neste livro.
por Range (1995), um autor cognitivo-comportamental (termo que será dis cutido nos capítulos finais deste livro).
/ O processo terapêutico analítico-com portam ental pode ser X dividido, didaticam ente, em três etapas: inicial, interm ediária e ter
m inal (Lima, 1981).
/ A etapa inicial com preende a avaliação que se faz do caso, ■ determ inando, prim eiram ente, o m otivo que levou o cliente a procu rar a terapia (queixa) e, a partir daí, coletam -se inform ações sobre a h istória de vida do cliente, ou seja, busca-se saber sobre a história passada e caracterizar a situação atual do cliente, identificando-se não só com portam entos-problem a, mas tam bém com portam entos saudá veis, assim com o pessoas e situações que funcionem como reforça dores, etc. Com relação à queixa, cabe ressaltar que nem sem pre ela é trazida pelo cliente na prim eira ou segunda sessão e, às vezes, nem m esm o ao \/ final da avaliação, cabendo ao terapeuta avaliar se o cliente está se es-
!' quivando ou ainda não discriminou as variáveis às quais está respon dendo (situação com um no contexto psicoterápico).
■ ’ Durante a avaliação, os dados sã o coletados principalmente a V partir do relato verbal do cliente (no caso de adulto) e da observação dos / comportamentos clinicamente relevantes (CRBs). "O s CRBs são compor
tamentos que ocorrem na relação terapeuta—cliente e são amostras da interação do cliente no seu contexto de vida" (Brandão e Torres, 1997, p. 219). Observar, analisar e intervir sobre os CRBs foi uma proposta elabora-\ /' da por Kõhlenberg, ainda na década de 80, que vem sendo incorporada à
prática de clínicos comportamentais desde a última década.
Para que a avaliação possa ser efetiva, o terapeuta precisa cole tar as informações necessárias à compreensão do(s) problema (s) e à elabo ração do planejam ento terapêutico. Para tanto, diversas habilidades ver bais e não-verbais são exigidas do terapeuta, dentre elas Silvares e Gongora (1998) apontam as habilidades empáticas, a operadonalização de infor mações, o sorriso e os gestos ocasionais com as mãos e a postura corporal dirigida ao cliente. Todas estas habilidades visam o estabelecimento de uma relação terapêutica favorável, tema que vem sendo abordado com freqüência pela literatura como um aspecto im portante na condução do processo clínico.
, Na etapa inicial ou avaliação, pelo m enos duas características / são peculiares a este m odelo de terapia: a preocupação com "um a des crição, a m ais clara, objetiva e completa possível da história de vida do cliente" (Delitti, 1993, p. 43) e a ênfase nos determinantes atuais dos com portam entos, m ais do que nos históricos (Franks, 1996; Lipp, 1984),
Entre a fase inicial e a intermediária, encontra-se um momento do processo que é conhecido como devolução. Com base nos dados
coletados na avaliação, o terapeuta formula hipóteses diagnosticas para todos os com portamentos do cliente, adequados e inadequados, que ju l gar necessário. U m com portam ento adequado pode ser definido como aquele que produz conseqüências reforçadoras para o cliente e/ou para as pessoas envolvidas em sua relação, a curto, a médio e a longo prazo, enquanto um comportamento inadequado é aquele cuja as conseqüências são aversivas para o cliente e/ou para os que fazem parte de seu contexto (cf. Banaco, 1997).
As hipóteses são form uladas, tanto para com portam entos iso lados (microanálises) como tam bém um a hipótese mais ampla, capaz de explicar a situação atual do cliente a partir das inter-relações entre os seus diversos comportamentos (macroanálise) (cf. Meyer, 1997; cf. Silva res, 2000), a partir de análises funcionais, isto é, explicações sobre os eventos passados que instalaram os com portam entos e eventos atuais que os mantêm.
Considerando a prática de atendim ento e de supervisão de estagiários em clínica com portam ental, elaborou-se o seguinte quadro para a organização das m icruanálises:
ÁREAS COMPORTAMENTO ADAPTADO COMPORTAMENTO INADEQUADO Interação Familiar Relações Afetivas Trabalho Lazer
Tabela 1: Ficha de O rganização de M icroanálise5
A devolução, que pode ocorrer ao longo de várias sessões, dá- se, então, quando o terapeuta discute com o cliente as hipóteses para os com portam entos deste, objetivando testá-las. O que caracteriza esta(s) entrevista(s) é o fato de o terapeuta discutir de form a clara, objetiva e direta com o cliente a respeito do que pensa sobre a instalação e a manu tenção das suas dificuldades. Esta discussão é de fundam ental im por tância, na m edida em que possibilita que o cliente comece a observar os controles do am biente e com o tais controles podem ser m odificados por ele próprio. Afinal, "criar condições para a discrim inação das condi ções que controlam os com portam entos é a condição básica para a
eficá-- As áreas aparecerão na ficha de acordo com o caso, sendo enum erados quantos com portam entos relevantes o terapeuta selecionar.
cia do processo terapêutico" (Delitti, 1993, p.42). É ainda durante a de- / volução que o terapeuta apresenta uma proposta de intervenção tera-V pêutica, discutindo junto com o cliente os objetivos desta e com o preten
de realizá-la6.
Y A etapa interm ediária diz respeito à intervenção, quando o foco recai sobre o(s) com portamento(s)-problem a trazido(s) pelo cliente, e/ou identificado(s) pelo terapeuta, visando, basicam ente, m odificar os com portam entos que estão trazendo conseqüências aversivas para o cliente e instalar e/ou aum entar a freqüência de com portam entos que produzam conseqüências reforçadoras. C onsiderando a categorização de com portam entos feita por Skirmer, as intervenções não se restringem ^ aos com portam entos públicos; tão importantes quanto estes são os com-
J portam entos privados.
É na etapa de intervenção que se utiliza m ais extensivam en-
>y.. te o arsenal de técnicas com portam entais com o a dessensibilização sistem ática, o esm aecim ento, o treino de papéis, dentre outras. O uso de técnicas é sem pre discutido com o cliente, considerando sua indi vidualidade, cabendo ressaltar que não consiste em um aspecto que caracteriza uma intervenção como aftalítico-com portam ental, na me- 'N! dida em que profissionais de diferentes orientações teóricas podem
/ fazer uso de técnicas com portamentais.
São consideradas características peculiares da fase de inter- \ ( venção a avaliação constante por parte do terapeuta das intervenções ^ realizadas (Craighead e cols., 1994) e a modificação de comportamento(s) do cliente com o critério último para avaliar a intervenção como eficaz (Franks, 1996).
Quando os objetivos terapêuticos foram alcançados e o cliente m ostra-se capaz de gerenciar sua vida sem a ajuda do terapeuta, a alta é sugerida e o processo terapêutico entra em sua etapa term inal, que é conhecida como acom panham ento ou follozv-up. A respeito desta etapa, não existe um critério único de como ela deve ser realizada. Sabe-se, porém, que uma primeira medida no período de acom panham ento con siste em estabelecer um espaço de tempo m aior entre as sessões (realizá- las quinzenalm ente, m ensalm ente, trim estralm ente e assim por diante) e, posteriorm ente, os contatos podem passar a ser feitos por telefone. Esta " estratégia" tem por objetivo verificar se os ganhos obtidos durante o processo terapêutico estão se m antendo, do contrário, ou se surgir alguma situação nova com a qual o cliente esteja tendo dificuldade em
h Rangé (1995) em sua caracterização do processo com portam ental considera a form ulação e a devo lução, denom inada por ele de discussão, com o fases do processo terapêutico, assim com o a avalia ção, e Ribeiro (2CKJ1) usa o terino sessão de form ulação com portam entai para o que se denominou de devolução. Neste caso, form ulação pode ser entendida com o o trabalho do terapeuta de análise e síntese dos dados de avaliação.
lidar, há possibilidade de ser realizada uma nova intervenção. Aqui, é im portante o terapeuta discriminar quando, de fato, o cliente precisa de ajuda e quando está sim ulando uma dificuldade para m anter a relação terapêutica.
Em síntese, o processo terapêutico analítico-com portam ental pode ser dividido nas etapas de avaliação, intervenção e acom panha m ento. Ao longo deste processo, identificam -se certas características que são específicas deste m odelo de terapia. Dentre estas característi cas estão: a) ênfase nas variáveis am bientais, no com portam ento e nos seus determ inantes atuais; b) m inuciosa coleta e análise de dados; c) uso da análise funcional para interpretar os dados coletados; d) inter venção direta e objetiva e e) m udança com portam ental com o critério final para a avaliar a intervenção.
Partindo desta caracterização do processo terapêutico, cons titui objetivo do m esm o, segundo Batistussi (2000),
conscientizar o cliente das contingências em operação na sua vida, com preendendo como certas coisas são feitas e porquê são feitas. Esta conscientização provavelmente visa a modificação dos aspectos que es tão causando problemas para o cliente, na medida em que a meta é dar consciência através da descrição de contingências, de forma que o cli ente emita novos comportamentos e tenha conseqüências reforçadoras, tomando as relações com o ambiente mais produtivas (p. 158).
D o p o n to de v ista do terap eu ta, ain da de aco rd o com Batistussi (2000) " a principal meta é buscar uma adequada com preen são da problem ática do cliente e realizar uma intervenção baseada na análise funcional" (p. 161).
M eyer (1990), em um texto intitulado Quais os requisitos para que uma terapia seja considerada comportamental?, discute algum as ques tões que considera relevantes neste m odelo de terapia. Para a autora,
São essenciais, no nível metodológico, a análise [funcional] de con tingências; no nível conceituai, o conhecimento e a aplicação, mesmo que assistemâtica, de princípios de comportamento; e no nível filosó fico, pelo menos a rejeição ao mentalismo. Caso contrário, teremos
uma abordagem sem consistência e que provavelmente não sobrevi verá (p.4).
Em linhas gerais, neste capítulo, foi enfatizado que a TAC se c a r a c te r iz a p o r e s ta r fu n d a m e n ta d a n o s p re s s u p o s to s do Behaviorism o R adical e delim itar com o finalidade da intervenção, identificar, analisar e alterar, com o uso da análise funcional, as vari áveis externas das quais os com portam entos dos clientes são função. N o próxim o capítulo, tratar-se-á de um dos tem as m ais im portantes da filosofia skinneriana - a subjetividade.
III
s-A S
u b j e t i v i d a d e s o b aO
t i c aB
e h a v i o r i s t aR
a d i c a l:
I
n t e r p r e t a ç ã o, A
s p e c t o sP
o l ê m i c o s eM
a n e j oT
e r a p ê u t i c oCom o mencionado no Capítulo I, as primeiras publicações de Skinner datam de 1930, sendo que, até 1944, seus trabalhos estiveram mais voltados para discussões acerca dos condicionamentos reflexo e operante, abordando assuntos como os processos de reforçam ento, extinção e discriminação.
Mas, é a partir da publicação de Tcnns (1945)7, que Skinner pas sa a abordar com freqüência a temática da subjetividade. Porém, isto não significa que Skinner tenha deixado de tratar dos assuntos que tratava anteriormente, o que acontece é a inclusão da análise da subjetividade em termos behaviorista radical, análise esta pautada no modelo de seleção por conseqüências.
N a verdade, a singularidade do Behaviorism o skinneriano consiste, exatam ente, em reconhecer e propor um estudo científico para a vida interna dos indivíduos, rom pendo com as explicações psicológi cas tradicionais ao rejeitar a função causal dos processos mentais, assu mindo que tanto os eventos privados quanto aqueles que ocorrem no ambiente externo possuem dim ensão física. Quando defende que even tos públicos e privados são físicos, Skinner supera a dicotomia até en tão existente entre físico e m ental (Tourinho, 1995).
Ao rejeitar o status causal dos eventos privados, Skinner (1953/ 1965) enfatiza que "n ó s não podem os explicar o com portam ento de
7 Além do artigo de 1945, Skinner publicou tam bém em 1953 Ciência e Comportamento Humano, em 1974 Sobre o BehaDiorismo, em 1989 Questões Recentes na Análise do Comportamento e em 1990 Pode a Psico logia $er uma Ciência da M ente? (além de outras obras). Todas estas publicações abordam direta ou indiretamente o tem a da subjetividade.
qualquer sistem a enquanto perm anecem os com pletam ente dentro dele; eventualm ente nós devemos retom ar às forças de fora operando sobre o organism o (p. 35)". E isto caracteriza o recorte extemalista e a adoção de um critério funcional de causalidade assumidos por Skinner.
De acordo com Zuriff (1985), para os bchavioristas radicais, uma explicação adequada acerca do com portam ento deve relacioná-lo às características do ambiente externo. Por sua vez, o recorte extem alista fundam enta-se em uma questão pragm ática, já que são consideradas causas legítim as apenas aquelas que são passíveis de m anipulação di reta. C om o dizem Forsyth, Lejuez, H aw kins e Eifert (1996) "nós tería mos que m anipular cognições à parte de outras manipulações que po deriam ser interpretadas como causas para demonstrar se uma 'cognição' e não uma outra coisa qualquer é causa" (p. 372).
E m fu nção do reco rte ex tem alista e do "fisica lism o " de Skinner, não existe nada de m isterioso e de m etafísico com respeito ao m undo privado (Skinner, 1974). A única distinção entre eventos públicos e privados refere-se à acessibilidade (Skinner, 1945).
N esta perspectiva, existiriam , para Skinner, duas categorias de com portam ento: público e privado8. O s públicos referem -se às ações diretam ente observáveis e os com portam entos privados são aqueles que inicialm ente eram públicos, m as tom aram -se privados em função das contingências. A diferença estaria no fato de os com portam entos públicos serem acessíveis à observação pública direta e os com porta m entos privados serem acessíveis diretam ente apenas a cada indivíduo em particular (Skinner, 1953/1965). Com o exem plos de com portam en tos privados, encontram -se o pensar, o ouvir, o ver, o fantasiar.
Skinner, em 1968/1972, cita o exem plo do comportamento ver bal privado ou encoberto:
Embora uma criança possa eventualmente falar consigo mesma si lenciosamente, foi ensinada a falar reforçando-se diferencialmente o comportamento audível. Embora, mais tarde, seja possível ler livros silenciosamente ou recitar trechos [para si mesma], o ensino se faz pela leitura em voz alta (p. 118).
A lém dos com portam entos, Skinner (1945) concebe o m un do privado dos indivíduos constituído por estím ulos que são vistos com o as próprias condições corporais ou alterações fisiológicas senti das por cad a indivíduo. Da m esm a form a que os com portam entos, as condições corporais são produtos da história genética e am biental de
I cada ser em particular. Logo, o que é sentido é o próprio corpo de quem
{ sente (Skinner, 1974),
8 A proposta dtj catego n zar com portam ento em público e privado não é com pletam ente original, uma vez que W atson já falava em respostas expífdtas (ações publicam ente observáveis) e implícitas (al terações fisiológicas).
Os subprodutos aos quais Skinner se refere estão relaciona dos com um dos efeitos do reforçam ento. Quando o indivíduo interage com o am biente, ele é m odificado de duas formas: ao nível da condi ção corporal e ao da probabilidade de emissão de comportamento futuro (Costa, 1996; Tourinho, 1997b). A alteração da condição corporal relaci ona-se com o prazer — efeito im ediato do reforçam ento — no sentido de que a resposta de sentir envolve condições do próprio corpo daquele que sen te, e a m udança de p ro b ab ilid ad e d á-se em fu nção do efeito } fortalecedor do processo de reforçam ento (Andery, 1997). Hm síntese, as j contingências de reforçam ento produzem condições corporais e com-
' portam entos públicos e privados, bem com o outros tipos de contingên cias (extinção, punição), que tam bém produzem alterações no próprio corpo do organismo e na probabilidade de em issão de com portam entos públicos e privados.
As interpretações skinnerianas de com portam ento público e m undo privado podem ser esquem atizadas da seguinte m aneira:
Inventas Externes
l
(Cbntingàtias d e refctyairenlQ, extm çãu punição)
G an ^crtairaitus Publicre HventiK Privadas
(estímulos e a Ttrportamei ttns)
Figura 1: Reiação entre eventos externos, com portam entos públicos e eventos privados na filosofia behaviorista radical.
Esta esquem atização torna mais claro que, diferentem ente das teorias intem alistas, na filosofia behaviorista radical, o que ocor re no m undo privado não é um início, ou m elhor, não existe um a relação de determ inação entre eventos privados e públicos. Isto signi fica que tanto com portam entos públicos quanto eventos privados - com portam entos e alterações fisiológicas — são produtos da relação que o indivíduo estabelece com seu am biente externo.
Em bora não aceite a causalidade interna, Skinner adm ite algum as possibilidades de o evento privado entrar no controle do com portam ento. Dentre estas possibilidades, encontram -se as seguintes (Tourinho, 1997b):
a) Q uando uma condição corporal controla uma descrição verbal - de dor, por exemplo;
b) Q uando um com portam ento encoberto constitui um dos elos da contingência. Por exem plo, resolver um problem a envolve, em cer tas situações, pensar na solução antes de responder publicam ente.
O que deve ficar claro é que m esm o Skinner adm itindo a pos sibilidade de um evento privado controlar um comportamento, esse even to nunca será visto como autônomo na determ inação (daquele) fenôm e no (Tourinho, 1997a; 1997b). A relação entre um evento privado e um evento público é m ais uma relação que deve ser explicada a partir das variáveis am bientais externas e não internas.
Retomando as afirmações de que o mundo privado é constitu ído de estím ulos e com portam entos, e que esses estím ulos privados são as condições corporais, então, estas constituem o objeto de estudo da jfisiologia e não de uma ciência do com portam ento. Isto significa que a
j análise da subjetividade envolve m ais precisam ente a análise de com-
'j portam entos sob controle de condições corporais e de com portamentos ijpnvados propriamente ditos. Todos esses fenômenos que na linguagem do senso com um "se relaciona[m] com os pensamentos e sentimentos de um su je ito ,... [como os] desejos, esperanças, medos, crenças, intenções, ctc. (Tourinho, 1997c, p. 203).
Para explicar a subjetividade, Skinner recorre às contingên cias am bientais de reforçam ento que atuam em três níveis diferencia dos: filogenético, ontogenético e cultural. Com preender a subjetivi dade, im plica com preender, em particular, o nível cultural ao qual ela estã m ais estritam ente relacionada (Andery, 1997).
Na interpretação de Skinner, a vida privada de cada um se constrói a partir das relações estabelecidas com a com unidade verbal. É som ente através do reforçam ento diferencial provido pela com uni dade verbal, ao observar padrões de com portam entos públicos, que os organism os aprendem a reagir discrim inativam ente ao seu m undo pri-^ vado. Foram, as contingências sociais que possibilitaram aos indivíduos reagir discrim inativam ente às suas condições corporais e denom inar sentimentos de raiva, angústia e pensamento como tais (Tourinho, 1997b). Sendo assim , antes que a com unidade verbal interaja com o indivíduo, tanto o m undo privado quanto o mundo público, constituem um materi al indiferenciado com respeito ao qual os indivíduos não se comportam díferencialm ente (Tourinho, 1997a, 1997c).
N este sentido, A ndery (1997) afirm a que:
é apenas através da cultura que um outro contato importante pode ser feito entre o indivíduo e o ambiente: o comportamento verbal permite que os indivíduos passem a ter um acesso a uma parte importante do m undo: o mundo privado (...) É através da comunidade verbal que se constrói uma parte importante do repertório dos seres humanos: sua subjetividade (A ndery, 1997, p. 205).
Uma das dificuldades de se aceitar a interpretação behaviorista acerca da subjetividade diz respeito à suposta relação existente entre o que se passa dentro do indivíduo e o comportamento. Isto porque, como
foi mencionado anteriormente, a interação do indivíduo com o ambiente pode gerar não só m udanças nas condições corporais com o tam bém m ufança na probabilidade de comportamento futuro. As alterações nas condições corporais do organismo antecedem ou acom panham os com portam entos (Skinner, 1989). Assim, é fácil pensar que existe relação de causalidade entre esses eventos.
Em 1974, Skinner cham a a atenção exatam ente para essa ten dência de deduzir relações de causalidade em relações m eram ente tem porais, cujo princípio se resum e na frase "depois disto, logo cau sado por isto". Em 1978, ele afirmou:
O que sentimos são condições do nosso corpo, a maioria das quais estritamente relacionadas com nosso comportamento e com as cir cunstâncias nas quais nos comportamos. Agredim os e sentimos rai va; ambos pela mesma razão, e esta razão está no ambiente. Em suma, as condições corporais (...) Não possuem força explicativa; simplesmen te são fatos adicionais a serem levados em conta (p. 71).
De acordo com esta interpretação, a subjetividade, diferen tem ente do que sustenta a concepção tradicional, e largam ente aceita na cultura ocidental, não é interior, nem causa e nem m esm o é subje tiva no sentido de individual. A subjetividade de alguém consiste, na rea lid a d e, na su b je tiv id a d e de um g ru p o s o c ia l (A n d ery , 1997; Touxinho, 1997b). N as palavras de A ndery (1997):
A nossa subjetividade, por paradoxal que pareça, talvez seja a mais social de todas as características humanas. E paradoxal, porque apenas através de correlatos outros a conhecem, e porque o próprio ato de tornã-la pública em certo sentido a desfaz; entretanto sem ú acompanhamento público, sem a modelagem e o reforçamento social, o comportamento verbal e a cultura, nãv podemos sequer falar dela (p. 206).
Com base no exposto, a interpretação behaviorista radical de subjetividade resum e-se nos seguintes termos:
1. É possível falar em estímulos e com portamentos privados, sendo que a análise da subjetividade envolve m ais especificam ente os com por tamentos;
2. A problem ática da subjetividade concentra-se na inacessibilidade dos eventos privados;
3. M esmo quando um evento privado entra no controle de um com por tam ento público, ele nunca é autônom o em sua produção;
—^ 4. A subjetividade concebida enquanto um fenôm eno com portam ental é instalada e m antida da m esm a form a que os com portam entos públicos, através da ação da com unidade verbal que observa pa drões públicos de com portamentos;
^ 5. A com preensão da subjetividade deve passar diretamente pela com preensão da relação entre indivíduo e cultura e das práticas cultu rais como um todo.