SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Brasília – Universidade de Brasília – Novembro de 2013
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Mapeamento da influência de Walter Benjamin
nas pesquisas da SBPJor (2003-2012)
Monica Martinez 1
Resumo: Este estudo visa a identificar, neste ano que celebra dez anos de encontros nacionais
de pesquisadores em jornalismo realizados pela SBPJor, como a área empregou nesta década os conceitos do pensador alemão Walter Benjamin (1892-1940) para refletir sobre a pesquisa e a prática do jornalismo contemporâneo. Do ponto de vista metodológico, usou-se o mecanismo de busca do Google Acadêmico para resgatar o corpus, que após a seleção inicial consistiu em 17 artigos científicos produzidos de 2003 a 2012. O resultado da análise revela que, de toda a vasta produção benjaminiana, dois textos respondem por 82% das citações: O Narrador (58%) e A
obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (24%), ambos publicados no Brasil na
coletânea Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura.
Palavras-chave: Comunicação; Jornalismo; Pesquisa em Jornalismo; SBPJor; Walter
Benja-min.
1. A paixão pelo narrar
Este estudo é parte de uma pesquisa mais ampla, feita pela equipe de do-centes do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso que integra os Grupos de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (Nami) e Mídia, Cidade e Práticas Socioculturais (MidCid). Cada um dos cinco pesquisadores envolvi-dos está investigando a influência do pensamento do filósofo alemão Walter Benjamim (1892-1940) em uma das instâncias da pesquisa comunicacional bra-sileira contemporânea. São elas: a Associação Brabra-sileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor, Monica Martinez); Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós, Miriam Cristina Silva e Paulo Celso
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Monica Martinez, jornalista, é doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, com pós-doutorado pela Umesp e estágio pós-doutoral pela Universidade do Texas. É docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso. E-mail: monica.martinez@prof.uniso.br.
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2 da Silva); Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia (Cisc, Tarcyanie Cajueiro Santos) e Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Au-diovisual (Socine, Maurício Reinaldo Gonçalves).
Este primeiro recorte da pesquisa versa sobre a influência do pensamento de Walter Benjamin no âmbito da SBPJor e, por extensão, no contexto dos estu-dos acadêmicos desta área específica do conhecimento. Ressalta-se que ele é fei-to, portanfei-to, num momento importante para a própria associação, uma vez que em 2013 ela celebra dez anos de atividades.
Do ponto de vista metodológico, uma primeira tentativa de coleta de ma-terial foi feita por meio do site da entidade, que possui um mecanismo de busca próprio. No entanto, ela não foi bem-sucedida, uma vez que o sistema só permite a pesquisa por meio de cinco categorias: autor, ano, título, resumo e palavra-chave. Ainda que feita de forma sistemática, usando-se a palavra Benjamin em todas estas cinco categorias, encontro por encontro, o resultado foi nulo. Isto se deve ao fato de que o referencial teórico benjaminiano não foi registrado nestes campos, mas aparece ao longo do corpo do artigo, que não permite rastreamento por este sistema.
O resgate do material, portanto, foi realizado de forma efetiva na segunda semana de julho de 2013 por meio do Google Acadêmico – mecanismo de busca do Google indicado para resgatar artigos científicos (GOOGLE ACADÊMICO, 2013). Os termos de busca foram Walter Benjamin e SBPJor e um dos critérios foi que a produção deveria ter sido feita no idioma português. Aliás, ressalta-se que o mecanismo se mostrou eficaz, apontando 49 artigos. Excluídos os artigos em duplicidade ou não relacionados, o número inicial do corpus desta análise é de 21 artigos – cerca de dois artigos por ano –, distribuídos conforme a tabela abaixo:
Tabela 1
Quantidade de Artigos sobre Walter Benjamim
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:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 3 2003 (1º) 2004 (2º) 2005 (3º) 2006 (4º) 2007 (5º) 2008 (6º) 2009 (7º) 2010 (8º) 2011 (9º) 2012 (10º) Total - 2 2 - 2 1 5 3 5 1 21
O passo seguinte consistiu no armazenamento digital do material, segui-do de uma primeira leitura para validar a inserção na pesquisa, bem como identi-ficar qual(is) obra(s) do pensador alemão havia sido utilizada(s). Nesta fase ini-cial, três pesquisas foram excluídas. A primeira (OLIVEIRA, 2010) por não fa-zer referência direta às obras de Benjamin, citando-o por meio de outras fontes. A segunda, a terceira e a quarta (MAGNO, 2011; MARTINEZ, 2009; SOARES, 2004) por apenas citarem uma obra nas referências, sem articulá-la no corpo da pesquisa. Após esta triagem inicial, portanto, fechou-se o corpus total desta pes-quisa em 17 artigos, conforme tabela 2:
Tabela 2
Distribuição das Pesquisas Segundo Obra e Edição
Ano Autor Título Texto Edição Uso
P∕M∕E2
1 2004 TAVARES Casos e efeitos
da convergência da Internet para o Radiojorna-lismo
A obra de arte na era de sua repro-dutibilidade téc-nica 2008 P4 2 2005 BENETTI; SILVA O narrador 1985 P4
3 2005 VOGEL A ficção do
re-lato jornalístico
O narrador 1993 P5
4 2007 LINS Memória
coleti-va pela telepre-sença Sobre o conceito de história 1987 P2 5 2007 ZAMIN Narrações no ‘espaço resto’: Sobre Arte 2000 P3 2
Foi aferido aqui o número de vezes em que a palavra Benjamin ou benjamiano(a) foi citada em cada artigo, incluindo-se a referência bibliográfica. P (pequeno para 1 a 6 vezes); M (moderado para 7 a 13 vezes); E (elevado acima de 14 vezes).
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:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: 4 jornalismo em emissoras de radiodifusão comunitárias 6 2008 FONSECA; PATRÍCIO O cordel como instrumento de comunicação e jornalismo: aproximações conceituais A obra de arte na era de sua repro-dutibilidade téc-nica 1994 P6 7 2009 MAIA Os diversos Brasileiros em revista O narrador 1996 P2 8 2009 MAROCCO, ZAMIN; BOFF Os jornais e o acontecimento Obama O narrador 1996 P4
9 2009 MOTTA Narrativas:
re-presentação, instituição ou experimentação da realidade
El narrador 1998 P3
10 2009 VOGEL Revista,
ima-gem e anacro-nismo Imagens 1986, 1993, 2006, 1993a E20 11 2010 MAROCCO A contribuição dos “livros de repórteres” para uma análise dos discursos jorna-lísticos sobre marginalidade O narrador 1996 P4 12 2010 MOTTA Antropologia da Notícia O narrador 2001 P2
13 2010 SERELLE Guinada
subje-tiva e narrativi-dade: aportes para o estudo de relatos jornalís-ticos em primei-ra pessoa O narrador 1994 P3 14 2011 SILVEIRA; ORELLANA O vídeo como lugar de transi-ção dos campos da
plataforma de
A obra de arte na era de sua repro-dutibilidade téc-nica
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5 vídeo e do
jor-nalístico
15 2011 VOGEL Morte e
narrati-va
O narrador 1993 M7
16 2011 SILVA Morte,
aconte-cimento noticio-so primordial
O narrador 1983 M7
17 2012 PICCININ Tudo ao mesmo
tempo agora
A obra de arte na era de sua repro-dutibilidade téc-nica
1990 P2
Esta primeira análise já permite algumas observações relevantes. A principal delas é a concentração do pensar comunicacional brasileiro, no campo do jornalismo, em torno de poucas obras do pensador alemão, conhecido por seu vasto legado teórico. A tabela 3 permite melhor compreensão deste fenômeno:
Tabela 3
Obras Citadas de Walter Benjamin
Citações Nome da obra
10 O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov (1985; 1993; 1994; 1996; 1998; 2001)
4 A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1987; 1990; 1994; 2008)
1 Sobre arte (2000)
1 Imagens (1986, 1993, 2006, 1993ª)
1 Sobre o conceito de história (1987)
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6 Distribuição das obras
58% 24% 6% 6% 6% Narrador (10) A obra de arte (4) Sobre Arte (1) Imagens (1) Sobre história (1)
Este estudo permite observar, portanto, que são duas as obras de Walter Benja-min que mais influenciam as reflexões no campo do jornalismo. A primeira, que se re-flete em 58% dos estudos, é “O narrador – considerações sobre a obra de Nicolai Les-kov”. Todas as citações, com duas únicas exceções, são de diferentes edições (de 1985 a 1996) de uma mesma coletânea de artigos de Walter Benjamin publicados no Brasil como Magia e técnica, arte e política. Trata-se, de fato, até hoje de um texto marcante sobre a arte da narrativa.
O fato de que o ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” ter ficado em segundo lugar, bem distante do primeiro, com 24% das citações, pode ser considerado um achado surpreendente. Em nível mundial, talvez esta seja a obra mais conhecida do pensador alemão. Por extensão, poder-se-ia pensar que ela talvez fosse a principal referência benjaminiana de apoio para a compreensão da notável transforma-ção que o jornalismo, como categoria profissional e acadêmica, atravessa desde o sur-gimento da Internet, no final dos anos 1990. Contudo, o fato de O Narrador ser o mais citado no período 2003-2012 pode significar que talvez, seja na academia ou na reda-ção, o jornalista entenda que seu core business resida na arte da narrativa em si mais do que na compreensão dos aparatos técnicos por meio do qual a profissão é mediada. Nar-rar, portanto, parece estar no cerne da questão a partir das reflexões dos docentes e pes-quisadores da área.
Os demais usos da obra benjaminiana para explicar fenômenos igualmente im-portantes da comunicação contemporânea parecem ser periféricos na produção dos pes-quisadores da área, como a questão da arte, da imagem e da história. Talvez um sinal de que Benjamin é um pensador que pode ser mais bem estudado e empregado para
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7 recer certas preocupações teóricas que transcendam o viés dos meios e das técnicas (por exemplo a fotografia) nesta área do conhecimento.
Quanto à frequência de uso, no geral o pensamento benjaminiano é usado como um dos componentes da argumentação, não raro para sustentar uma ideia desenvolvida pelo autor. A tabela 4 mostra a incidência de citações ao longo de cada artigo. Para efei-to de mensuração, ela leva em consideração a quantidade de vezes que a palavra Ben-jamim ou benjaminiana(o) aparece ao longo de cada estudo:
Tabela 4
Incidência da Palavra Benjamim por artigo 0% 28% 18% 24% 6% 6% 12% 6% Uma (0) Duas (5) Três (3) Quatro (4) Cinco (1) Seis (1) Sete (2) Vinte (1)
De acordo com a tabela 4, portanto, 70% das citações ocorrem de duas a quatro vezes, sendo duas vezes (28%), quatro (24%) e três (18%), respectivamente.
Do ponto de vista de referencial teórico, três foram as ideias mais empregadas pelos pesquisadores de jornalismo a partir da obra mais citada, O Narrador. A primeira é a distinção benjaminiana entre informação e narrativa, esta baseada na experiência. Ela pode ser observada nos seguintes artigos:
As mulheres que narram em TPM conservam a essência do narrador que é contar o que ele mesmo viu, viveu e, com a sabedoria acumulada das tantas experiências que dizem viver, aconselhar o interlocutor – sendo esta dimensão utilitária a verdadeira natureza da narrativa, segundo Benjamin [1985] (BENETTI; SILVA, 2005: 5).
A nota de rodapé que se segue no texto sintetiza a visão dos autores sobre a di-cotomia estudada por Benjamin:
Com a diversificação das formas narrativas, o narrador clássico, que dá a seu ouvinte a oportunidade de intercambiar experiências, como preconiza Benjamin (1985), evoluiu para o narrador do romance, que não mais falava de forma exemplar ao leitor; e, por
úl-SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Brasília – Universidade de Brasília – Novembro de 2013
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8 timo, o narrador que, como o jornalista, “só transmite pelo narrar a informação, visto que escreve não para narrar a ação da própria experiência, mas o que aconteceu com X ou Y em tal lugar e a tal hora” [SANTIAGO, 2002, p. 45-46]. (BENETTI; SILVA, 2005: 5).
Este trecho de outro artigo também aborda a mesma questão:
Walter Benjamin observava já em 1936 (e é preciso lembrar que se referia a uma tradi-ção narrativa de raiz oral) que a notícia é estranha à narrativa, que uma e outra seguem regras diversas e muitas vezes opostas. A notícia, comparava ele, confere mais valor a um acontecimento temporal e espacialmente próximo, a narrativa habita o tempo e o es-paço da memória. A notícia aspira a verificação imediata, "metade da narrativa está em evitar explicações" (Benjamin, 1992: 203). A notícia só tem valor enquanto é nova. "Muito diferente é a narrativa. Ela não se entrega. Ela conserva suas forças e depois de muito tempo ainda e capaz de se desenvolver" (ibidem: 204). Sem criar nenhuma resis-tência ao advento da notícia, Benjamin apenas aponta, entre outras transformações nos relatos (algumas ocasionadas pela emergência do romance), para a sucessiva perda da qualidade da permanência temporal da narrativa (VOGEL, 2005: 6).
Em uma análise sobre a primeira eleição de Barack Obama à presidência dos Es-tados Unidos, em 2008, também é esta ideia benjaminiana que é empregada no artigo:
Nas reportagens que Foucault fez no Irã em 1978, que dão consistência ao conceito de “reportagens de ideias”, é possível verificar que a proximidade entre o intelectual e o jornalista pode distanciar a produção jornalística dos princípios da informação (novida- de, brevidade, clareza e ausência de qualquer correlação entre as notícias), que aspira à “verificação imediata” e precisa ser compreendida “em si e para si” [BENJAMIN, 1996, p.203] (MAROCCO; ZAMIN; BOFF, 2009: 5).
A segunda ideia mais usada de Benjamim – a dificuldade em contar narrativas ou o fato de que elas estariam em extinção, registrada em O Narrador –, está apontada em um dos artigos:
(...) estando, portanto, diante da indizibilidade da experiência, como na cena benjamini-ana dos homens que voltam mudos dos campos de batalha [cf. BENJAMIN, 1994] (SERELLE, 2010: 5).
Registra-se também o emprego de uma terceira ideia benjaminiana para discutir uma questão central: a morte no contexto das narrativas. Ela foi observada em dois arti-gos (VOGEL, 2011; SILVA, 2011).
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9 Finalmente, ressalta-se que há um único autor que contexta a visão benjaminia-na, em particular a questão de que arte de narrar estaria em vias de extinção, questio-nando-a uma primeira vez em 2009 e, no ano seguinte, de forma ligeiramente diferente:
Narrativas, ao contrário do que dizia W. Benjamin, proliferam hoje na mídia mais que qualquer outro ambiente: no jornalismo, telenovelas, filmes, talk-shows, blogs, orkuts. E continuam encantando audiências. Mais que nunca, assistimos a uma profusão de ro-mances, contos, biografias que consumimos incessantemente. Precisamos nos perguntar qual o significado da persistência de tanta narrativa (MOTTA, 2009: 9).
Narrativas, diferente do que dizia Benjamin (2001), proliferam hoje com dimensões di-versas no mundo da vida, e na mídia mais que qualquer outro ambiente: no jornalismo, telenovelas, histórias em quadrinho, filmes, talk-shows, blogs, orkuts. E continuam en-cantando audiências. Mais que nunca, assistimos a uma profusão de romances, contos, biografias, twiters. Contos que produzimos e consumimos incessantemente. Precisamos nos perguntar o significado antropológico da persistência de tanta narrativa (MOTTA, 2010: 13).
Este dado revela, portanto, que os pesquisadores atuais de jornalismo, no âmbito da SBPJor, endossam as premissas centrais deste ensaio de Benjamim, em particular a de que narrativa estaria em perigo na contemporaneidade, pelo menos em sua forma clássica, oral.
Considerações
Como foi apresentado logo no início, este artigo não tem a pretensão de esgotar o tema. Antes, ele parte de um desenho simples (o resgate dos artigos que, nos últimos dez anos, empregaram obras do pensador alemão Walter Benjamin) para compreender a importância do autor no pensamento comunicacional do campo jornalístico, especifica-mente na esfera da SBPJor.
Do ponto de vista medotológico, um achado importante é o fato de que o meca-nismo de busca Google Acadêmico revelou-se eficaz no rastreamento do corpus, pois permitiu resgatar os artigos necessários – o que não pode ser feito no site da própria Associação. Embora, ressalta-se, ainda tenha sido preciso realizar uma seleção criteriosa do material recuperado para separar o joio do trigo.
Do ponto de vista de achados da pesquisa, ressalta-se a hegemonia teórica nas reflexões sobre o autor, que de forma maciça (58%) empregam o texto “O Narrador”
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10 para explicar os mais variados objetos estudados. Nota-se, também, a ausência de leitu-ras feitas diretamente no original (alemão). Apenas um pesquisador (MOTTA, 2009; MOTTA, 2010) usou como referência obras de Benjamim em outro idioma, ainda que em espanhol, tratando-se, portanto, igualmente de uma tradução.
Diferentemente dos outros autores frankfurtianos, Benjamin – além do amplo repertório cultural dos pesquisadores desta escola – tinha a capacidade de deixar seu vívido interesse por tudo se extravasar de forma extremamente bela em seus ensaios. Neste sentido, o pesquisador brasileiro da área – com sua herança epistemológica for-temente europeia – provavelmente sente afinidade com a forma como o ensaio é desen-volvido. Não há dúvida, também, do motivo que leva o Narrador a ser a obra mais cita-da dentre a prolífica produção de Benjamin. O Narrador, como uma boa narrativa, tem o potencial de agradar de estudantes de graduação a pesquisadores sêniores da área jus-tamente porque reflete de forma profunda, porém nunca conclusiva, sobre questões es-senciais, seja a morte das narrativas ou da própria vida.
Referências
Sobre o NarradorBENJAMIN, Walter. El narrador. Para uma crítica de la violência, Taurus, Madrid, 1998.
_________. Para uma crítica de la violência. B. Aires: Taurus, 2001.
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__________. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In _____. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura (trad. Sergio Paulo Rouanet). 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993, p. 197-220.
__________. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 197-221.
__________. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Walter Benjamin , obras escolhidas. v. 1. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. p.197-221.
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BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: MEDITSCH, Eduardo; ZUCULOTO, Valci (orgs.). Teorias do Rádio. Volume II. Florianópolis: Insular, 2008.
__________. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. (Obras escolhidas vol. 1.)
___________. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política . São Paulo: Brasiliense, 1994.
__________. A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica. In: LIMA, Luiz Cos- ta (org.). Teoria da Cultura de Massa. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1990.
__________. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
__________. O narrador: considerações sobre a obra do Nikolai Leskow. In: Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os pensadores).
Sobre Arte
BENJAMIN, Walter. Pequenos trechos sobre a arte. In: Obras Escolhidas II. Tradução Rubens Rodrigues Torres Filho et al. 3. reimp. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 274-277.
Sobre Imagens
BENJAMIN, Walter. Documentos de cultura, documentos de barbárie: escritos escolhidos. Se-leção e apresentação Willi Bolle; tradução Celeste H.M.Ribeiro de Sousa (et al.). São Paulo, Cultrix/Edusp, 1986, pp.187-188. Consulta em http://fabricioalves.com.br/blog/?p=52, em 21 jan 2010.
_____. Magia e técnica, arte e política. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
_____. Passagens. Belo Horizonte: Ed. UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de S Paulo, 2006.
_____. Rua de mão única. 3 ed. São Paul: Brasiliense, 1993a.
Sobre História
__________. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura: São Paulo: Brasiliense, 1987.
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http://scholar.google.com.br/scholar?as_vis=1&q=Walter+Benjamim+SBPJor&hl=pt-BR&as_sdt=1,5. Acesso em 13 jul 2013.
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