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A EXECUTIVIDADE DO BOLETO BANCÁRIO THE ENFORCEABILITY OF BANKING BOLETO

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Academic year: 2021

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Ana Paula da Silveira; advogada; Pós-Graduação pela Faculdade Cândido Mendes (RJ); Mestranda pela Faculdade Milton Campos; Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/9205172997039366>.

A EXECUTIVIDADE DO BOLETO BANCÁRIO THE ENFORCEABILITY OF BANKING BOLETO

Palavras-chave: duplicata, execução e boleto bancário. Keywords: duplicate, execution and bank slip.

Sumário: 1. Introdução; 2. Origem e conceito de duplicata; 3. Requisitos; 4. Aceite; 5. Protesto; 6. Execução do boleto bancário; 7. Conclusão; Referências.

1 Introdução

A duplicata é um título de crédito causal, sacado contra o comprador ou contratante, em uma compra e venda mercantil ou prestação de serviços, objetivando facilitar a cobrança do valor do negócio jurídico nele mencionado.

Depois do saque desse título de crédito, o vendedor empresário ou prestador de serviços terá determinado prazo e forma descritos na lei para enviá-lo ao devedor para aceite, quando, então, este passará a ser o principal devedor da obrigação.

Ocorre, porém, que é possível que o sacado recuse o aceite da duplicata ou a retenha em seu poder. A recusa ao aceite será lícita se for acompanhado de justificativa escrita motivada em avaria ou não recebimento de mercadoria, vícios ou defeitos, devidamente comprovados, na qualidade ou quantidade da mercadoria, ou divergência nos prazos e preços ajustados. A retenção da duplicata, por sua vez, será considerada regular quando houver concordância

O presente artigo aborda a questão da executividade do boleto bancário em substituição à duplicata aceita ou protestada, ainda que não aceita, concluindo pela ausência de força executiva do mesmo e impossibilidade da sua utilização para fundamentar a ação de cobrança, salvo se tiver sido utilizado pelo credor para tirar o protesto por indicação e estiver acompanhado dos documentos previstos em lei para tanto.

This article addresses the issue of the bank slip enforceability to replace or duplicate accepts protested, though not accepted, suggesting there are no enforceable and the same impossibility of its use to support the collection action, unless it has been used by creditor to take the protest statement and is accompanied by the documents required by law to do so.

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da instituição financeira apresentante e prévia comunicação, por escrito, do aceite e da retenção até o vencimento da obrigação.

Fora dessas hipóteses legais, tem-se como ilegítima a recusa ao aceite e a retenção do mencionado título de crédito, abrindo-se a possibilidade, ao portador, de tirar o protesto por falta de aceite ou por falta de devolução, utilizando-se de documento comprobatório das características e elementos nele contidos (protesto por indicação).

Devido à prática de retenção indevida de duplicatas, credores desse título de crédito passaram a fazer o protesto por indicação utilizando-se da triplicata e do boleto bancário. Aquela nada mais é que uma segunda via da duplicata, idêntica à original, mas com substituição da palavra “duplicata” pela “triplicata”, no corpo do texto. Este último, por sua vez, é o documento emitido eletronicamente que permite a cobrança bancária de determinada obrigação.

Com isso, aumentou-se o número de ações de cobrança instruídas por boletos bancários, sendo que, em muitas, este era usado indevidamente como título executivo, em substituição ao verdadeiro título de crédito (a duplicata) e sem, sequer estar protestado e acompanhado dos documentos previstos na lei que permitem o suprimento do aceite (art. 15 da Lei 5.474/1968).

Como se verá adiante, paulatinamente, a doutrina e a jurisprudência foram sedimentando o posicionamento a respeito da executividade do boleto bancário, criando requisitos para permitir que esse documento seja usado para instruir ação executiva.

2 Origem e conceito de duplicata

Requião1 afirma que a duplicata tem sua semente histórica, no Brasil, com o art. 219 do Código Comercial de 1850, que dispunha:

Art. 219 - Nas vendas em grosso ou por atacado entre comerciantes, o vendedor é obrigado a apresentar ao comprador por duplicado, no ato da entrega das mercadorias, a fatura ou conta dos gêneros vendidos, as quais serão por ambos assinadas, uma para ficar na mão do vendedor e outra na do comprador. Não se declarando na fatura o prazo do pagamento, presume-se que a compra foi à vista (artigo nº. 137). As faturas sobreditas, não sendo reclamadas pelo

1 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 25ª ed. revista e atualizada por Rubens

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vendedor ou comprador, dentro de 10 (dez) dias subseqüentes à entrega e recebimento (artigo nº. 135), presumem-se contas líquidas.2 De acordo com esse autor, por força do art. 4273 do Código Comercial de 1850, aplicavam-se ao mencionado dispositivo as disposições do título XVI do mesmo diploma normativo, que tratava da letra de cambio, da nota promissória e dos demais créditos mercantis, naquilo que houvesse compatibilidade. Contudo, com o advento do Decreto nº. 2.044/2008, todos os dispositivos do título XVI do Código Comercial de 1850 foram revogados e a antiga “fatura comercial”4 passou a ser recusada pelos bancos nas operações

de descontos de títulos de crédito.

Requião ensina que, anos mais tarde, depois de várias tentativas do Estado brasileiro em retornar com a duplicata de fatura no ordenamento jurídico, foi publicada a Lei 5.474, de 18 de julho de 1968, disciplinando a duplicata como novo “título de crédito eminentemente comercial, a serviço do desenvolvimento do crédito do comércio e da indústria”.5

A duplicata é o título de crédito causal em que o vendedor ou o prestador de serviços pode sacar contra o cliente em uma compra e venda mercantil a fim de cobrar a quantia devida por este em virtude de contrato.

Requião a conceitua como “título de crédito formal, circulante por meio de endosso, constituindo um saque fundado sobre crédito proveniente de contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços, assimilado aos títulos cambiários por força de lei”.6

Magalhães a conceitua como “título de crédito formal, circulante por meio de endosso, constituindo um saque fundado sobre crédito proveniente de contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços, assimilado aos títulos cambiários por força de lei”.7

2 BRASIL. Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Código Comercial. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L0556-1850.htm>. Acessado em 24.08.2012.

3 Art. 427 - Tudo quanto neste Título fica estabelecido a respeito das letras de câmbio, servirá

de regra igualmente para as letras da terra, para as notas promissórias e para os créditos mercantis, tanto quanto possa ser aplicável. (Revogado pelo Decreto do Poder Legislativo nº 2.044, 1908).

4 REQUIÃO, op. cit., p. 558. 5 REQUIÃO, op. cit.,p. 562. 6 REQUIÃO, op. cit., p. 565.

7 MAGALHÃES, Rui de Almeida. A Duplicata Simulada e os Conflitos entre o Sacado, Sacador e Endossatário. Dissertação de Mestrado. Faculdade Milton Campos. Nova Lima. 2010, p. 16.

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A fatura, por sua vez, não é “título representativo de mercadoria”, mas apenas instrumento que documenta o contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviço mercantil, ensejando a emissão da duplicata.8

A duplicata é o único título de crédito que o empresário ou o prestador de serviços pode sacar contra o seu cliente para cobrá-lo. Contudo, nada impede que este emita título de crédito diverso, como o cheque, a letra de câmbio ou a nota promissória, para pagamento da dívida. Trata-se, portanto, de um título de crédito causal, pois as causas de sua emissão estão previstas na lei que dispõe sobre a sua criação (art. 2º da Lei 5.474/1968). Nas palavras de Fazzio Júnior, “A duplicata mercantil é título causal. Seu saque está ancorado à existência de causas formalmente predeterminadas, a saber, a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços”.9

Normalmente, o ordenamento jurídico comina a sanção de nulidade do título de crédito causal emitido fora das hipóteses legais autorizadoras. Porém, no caso das duplicatas, a penalidade para essa conduta é mais grave, pois constitui fato típico previsto no art. 172 do Código Penal, denominado crime de duplicata simulada, com pena de detenção de dois a quatro anos e multa.

3 Requisitos

O art. 2º, §1º, da Lei 5.474/1968 prescreve os requisitos formais para que um documento valha como duplicata, quais sejam:

I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem;

II - o número da fatura;

III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista;

IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI - a praça de pagamento;

VII - a cláusula à ordem;

VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial; IX - a assinatura do emitente. (BRASIL, 1968)

8 REQUIÃO, op. cit., p. 563.

9 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Duplicatas: legislação, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Editora

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Esses requisitos são claros e explicam-se por si mesmos. Porém, deve ser ressaltado que, por ser um título de crédito criado para circular por meio do endosso, a cláusula “à ordem” é essencial para a sua plena validade, diferentemente dos títulos de crédito tradicionais que podem circular sem referida cláusula por ser a mesma presumida.

Contudo, há que se ressaltar que, apesar de a duplicata não pode ser sacada sem a cláusula “à ordem” ou com a cláusula “não à ordem”, nada impede que esse título seja endossado com a cláusula “não à ordem”. Nesse caso, haverá a sua circulação com a forma (art. 290 do CC/2002) e os efeitos (art. 294 do CC/2002) de uma cessão ordinária de crédito. Ou seja, o endosso não terá eficácia perante o credor antes da sua comprovada notificação, permitindo-se, todavia, que ele se dê por notificado e se declare ciente da cessão; além disso, dará a possibilidade ao devedor de opor exceções pessoais ao credor (art. 294 do CC/2002).

Ressalte-se, contudo, que, em razão da autonomia das obrigações cambiais, a cláusula “não à ordem” só é eficaz para o endossante que a escreveu, não se estendendo aos demais coobrigados.

Cumpre frisar, de início, que o boleto bancário não é duplicata, pois não possui os requisitos mínimos necessários para que um documento valha como tal, uma vez que lhe falta a assinatura do emitente, a palavra duplicata no corpo do texto e a cláusula à ordem. Trata-se apenas de uma cobrança escritural para fins de pagamento bancário. Por isso, ele se prestará apenas para realizar o protesto por indicação e somente poderá instruir uma ação executiva se estiver devidamente acompanhado pelo instrumento de protesto, pelo comprovante de entrega e recebimento da mercadoria, pela prova da remessa e retenção indevida da duplicata e não houver justificativa lícita pela recusa ao aceite. Em outros termos, o boleto bancário não é documento executivo e não se presta, sozinho, para instruir a ação executiva.

4 Aceite

Aceite é a obrigação cambial pela qual uma pessoa se torna devedora (coobrigada) de um título de crédito, recebendo o nome técnico de aceitante. Em regra, em virtude do art. 26 da Lei Uniforme de Genebra (LUG), aprovada

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pelo Decreto 57.663, de 24 de janeiro de 196610, o aceite deve ser puro e

simples, ou seja, o aceitante, ao apor a sua assinatura num título de crédito, não poderá alterar o texto do mesmo.

Para Fazzio Júnior,

O aceite é a declaração de recepção e confirmação, pelo sacado, de uma ordem de pagamento mencionada em título de crédito (letra de câmbio ou duplicata), implicando a promessa de solucionar seu valor, no vencimento. Genericamente, trata-se de anuência à ordem contida no saque, ou seja, a assunção da obrigação de pagar. Num como noutro titulo, pelo aceite, o sacado se torna devedor principal, isto é, aquele de quem primeiro deve ser reclamada a solução do valor do título.11

O sacador garante, aos possíveis endossatários do título, o seu pagamento e o seu aceite. O pagamento porque todo aquele que assina um título de crédito se obriga cambialmente ao seu adimplemento. E o aceite, pois ele é responsável pela aceitação, pelo sacado, da obrigação mencionada no título de crédito, na medida em que a recusa ao aceite enseja o vencimento antecipado da obrigação cambial.

A recusa ao aceite ocorre quando o sacado não assina o anverso do título, sendo comprovada pelo protesto por falta de aceite. Nesse caso, ele não assumirá qualquer obrigação cambial e não será codevedor. Por isso, o protesto for falta de aceite não é feito contra o sacado e sim contra o sacador.

De acordo com o art. 26 da LUG12, admite-se o aceite parcial em um título de credito no que diz respeito à quantia nele mencionada; e isso ocorrerá quando o sacado obriga-se ao pagamento de parcela do valor. Trata-se de um exercício regular de direito pelo sacado, que não enseja o protesto por falta de aceite. Qualquer outra modalidade de modificação introduzida no texto do título importa em recusa ao aceite e autoriza o credor a protestá-lo, gerando o vencimento antecipado da obrigação.

10 BRASIL. Decreto nº. 57.663, de 24 de janeiro de 1966. Promulga as Conversões para

adoção de uma lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias. DOU de 31.01.1966 e retificado no DOU de 02.03.1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D57663.htm>. Acessado em 24.08.2012.

11 FAZZIO JÚNIOR, op. cit.

12 Art. 26 - O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância

sacada. Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite. (GENEBRA. Lei Uniforme de Genebra, de 7 de junho de 1930. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/leisedecretos/Port/dec57663.pdf>. Acessado em 24.08.2012.)

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No entanto, o sacador se eximirá de garantir o aceite do título de crédito inserindo a cláusula “sem aceite”, por meio da qual o seu beneficiário estará dispensado de apresentar o título para aceite. Se, porém, o credor apresentar o título ao sacado e o aceite for recusado ou for inserida inscrição diversa daquela que diga respeito à limitação de quantia, não haverá o vencimento antecipado da obrigação cambial.

Prescreve o art. 6º da Lei 5.474/1968 que a duplicata deverá ser remetida ao comprador para aceite em até trinta dias da data da sua emissão, se for feita pessoalmente pelo sacador ou pelo endossatário, ou em dez dias, se a apresentação for feita por representante do credor ou por banco ou instituição financeira.

O sacado, por sua vez, quando a duplicata não for à vista, deverá devolvê-la em até dez dias do seu recebimento, aceita ou acompanhada de justificativa, por escrito, da recusa ao aceite, sendo esta considerada legítima apenas quando houver (art. 8º): “I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados”.

Dessa forma, se a recusa ao aceite for acompanhada de justificativa comprovada de uma dessas hipóteses, ela será tida como legítima, não obrigará ao sacado e não ensejará o protesto por falta de aceite ou o ajuizamento de ação executiva em face deste.

Poderá, ainda, o sacado reter a duplicata até a data do seu vencimento, desde que com isso concorde a instituição financeira cobradora e haja comunicação, por escrito, do aceite e da retenção (art. 7º, §1º, da Lei 5.474/1968).

Na hipótese de retenção indevida da duplicata ou recusa ilícita ao aceite, o credor do título poderá executá-lo desde que supra a falta do aceite. Para tanto, deverá, concomitantemente, realizar o protesto por indicação da duplicata, na forma do art. 13; instruir os autos da ação executiva com documento hábil comprobatório de entrega e recebimento da mercadoria, prova da remessa e da retenção indevida do título de crédito e não haja justificativa legítima para a recusa ao aceite (art. 15 da Lei 5.474/1968).

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Preenchidos esses requisitos, poderá o credor cobrar a duplicata não aceita ou indevidamente retida pelo sacado por meio de ação executiva.

5 Protesto

O protesto é genericamente regulado pela Lei 9.492/1997, que o conceitua, em seu art. 1º, como o “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”. Mas existe também regulamentação específica sobre o protesto em lei especial, tal como ocorre com a Lei 5.474/1968.

Na realidade, em matéria de Direito Cambial, o protesto prova um fato: a apresentação do título de crédito ao sacado para aceite ou a inadimplência do devedor cambial, conforme o caso.

Assim, o protesto é prova insubstituível da apresentação do título de crédito para aceite ou para pagamento. Contudo, isso não significa que ele será sempre necessário para que se proponha a ação executiva, pois a doutrina mais abalizada, a exemplo de Requião13, Fazzio Júnior14 e Martins e

Aiquel15, com base no art. 13, §4º, c/c art. 15, §1º, da Lei 5.474/1967 e art. 32 do Decreto 2.044/1908, classifica o protesto cambial em duas modalidades: o protesto facultativo e o protesto necessário.

O protesto é cambialmente facultativo toda vez que o credor pretender exercer o direito de ação contra o aceitante e seus avalistas. Para esse protesto não há prazo, podendo ser feito, inclusive, após o vencimento (art. 13, §4º, da Lei 5.474/1967). Isso porque, depois de apor a sua assinatura em um título de crédito aceitando-o, o sacado se vincula como devedor cambial direto ao pagamento do valor pelo qual houver se obrigado, o mesmo ocorrendo com os seus avalistas. Nesse caso, poderá o credor simplesmente propor ação para execução de título extrajudicial em face do aceitante e seus avalistas, instruindo os autos com o título de crédito original.

O protesto será cambialmente necessário toda vez que o credor pretender exercer o direito de ação contra qualquer dos devedores indiretos

13 REQUIÃO, op. cit. 14 FAZZIO JÚNIOR, op. cit.

15 MATINS; AIQUEL, Osmar José; Angelito A. A Nova Lei das Duplicatas Comentada. 3ª ed. Porto

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(sacador e endossantes) e seus avalistas (art. 13, §4º, c/c art. 15, §1º, da Lei 5.474/1967 e art. 32 do Decreto 2.044/1908).

Elucidativas as explicações de Requião nesse sentido:

No caso de protesto obrigatório, para assegurar o direito de regresso do portador contra os endossantes e respectivos avalistas, o protesto deverá ser tirado dentro do prazo de trinta dias, contados da data do vencimento da duplicata, sem o que aqueles, coobrigados, estarão liberados. O portador perderá, se não o fizer, o direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas. É claro que o decurso desse prazo sem o protesto não exclui o direito de, em qualquer tempo, ser feito o protesto para outras hipóteses (protesto facultativo), como, por exemplo, o de constituir o devedor em mora para fim de instrução em requerimento de falência. É de recordar que o protesto facultativo, aliás como o obrigatório, não tem força jurídica de suspender a prescrição.1617

O prazo para o protesto cambialmente necessário, em regra, é um dia útil após o vencimento do título de crédito, de acordo com o art. 28 do Decreto 2.044/1908. Todavia, existem três exceções a esse prazo.

A primeira exceção refere-se à cédula de crédito bancária (CCB), instituída pela Lei 10.931/2004, a qual não prevê prazo para o protesto cambialmente necessário para a CCB.

A segunda está prevista no art. 34 da Lei 7.357/1985, que regulamenta o cheque e prescreve que a apresentação desse título à câmara de compensação equivale pagamento e, portanto, assemelha-se ao protesto para todos os fins de direito (exceto para requerer falência). Esse prazo é de trinta dias quando a praça de emissão e a de pagamento forem coincidentes e sessenta dias, quando a praça de emissão e a de pagamento forem distintas (art. 33 da Lei 7.357/1985).

A terceira exceção refere-se à duplicata, objeto do nosso trabalho, cujo art. 13, §4º, da Lei 5.474/1968 determina que esse prazo seja de trinta dias corridos a contar do evento que o motivou.

Segundo Requião18, o protesto poderá ser tirado por falta de aceite, de

devolução da duplicada pelo sacado no prazo e forma legais, exceto se houver prévia comunicação ao sacador da retenção até o vencimento (art. 7º, §1º, da

16 Requião, op. cit., p. 577.

17 Após a entrada em vigor do CC/2002, o protesto cambial passou a ter também o condão de

suspender o curso do prazo prescricional, conforme disposição expressa do art. 202, III.

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Lei 5.474/1968), ou por falta de pagamento, na praça de pagamento indicada no título.

O protesto por falta de pagamento será feito mediante a apresentação da duplicata aceita e não paga, até trinta dias após o vencimento.

O protesto por falta de aceite será tirado pelo sacador ou apresentante da duplicata dentro do prazo de trinta dias após a sua apresentação para aceite, desde que não haja recusa legítima do sacado e o título de crédito esteja acompanhado do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria. O protesto por falta de devolução da duplicata (objeto deste trabalho) consiste no protesto de um documento que contenha indicação de todos os elementos constantes do título de crédito, acompanhado do protocolo de seu recebimento pelo sacado, do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria e não haja recusa lícita ao aceite.

Esse documento pode ser uma simples indicação escrita e informal de todas as características da duplicata, a triplicata (art. 13, §1º, da Lei 5.474/1968), ou o boleto bancário, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e de diversos Tribunais de Justiça do país.

A triplicata nada mais é que a segunda via da duplicata emitida em caso de perda ou extravio desta (art. 23 da Lei 5.474/1968), tendo os mesmos efeitos, requisitos e formalidades dela.

O boleto bancário é um documento de cobrança bancária que permite ao devedor realizar o pagamento de forma mais fácil e simples, uma vez que pode fazê-lo em qualquer agência bancária ou até mesmo em casa, valendo, como quitação, o código emitido quando da finalização da operação.

Segundo Fazzio Júnior, o boleto bancário “serve para registrar dívidas em cobrança nas instituições financeiras, relacionadas com operações de compra e venda ou de prestação de serviços”.19 Para ele,

O boleto bancário é um dos sistemas mais práticos de cobrança. O cedente, que mantém conta bancária habilitada à cobrança via boleto, emite-o e o envia ao sacado. Este pode pagar o boleto, utilizando a linha digitável, ou o código de barras via home-bank, ou mesmo em qualquer agencia bancária, casas lotéricas ou via Internet.20

19 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Duplicatas: legislação, doutrina e jurisprudência. São Paulo:

Editora Atlas S.A. 2009, p. 221.

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O boleto bancário, frise-se, é elaborado eletronicamente, emitido pela instituição financeira credenciada a receber o pagamento e presta-se exclusivamente à cobrança bancária, não valendo como título de crédito, nem título executivo extrajudicial (ressalvadas algumas manifestações em sentido contrário em alguns julgados, que serão a seguir tratadas). Ele não contém os requisitos mínimos para que um documento valha como título de crédito e, por isso, não pode ser assim considerado.

Nas palavras de Fazzio Júnior,

O boleto bancário não é título de crédito, mas documento compensável e destinado a servir como meio de cobrança de valores líquidos e certos, contratados e aceitos. Portanto, é imprestável às finalidades do protesto (apresentação do título para pagamento e constituição em mora), se não se evidenciar a remessa da duplicata para aceite do sacado e sua retenção ilícita.21

Nesse sentido é a jurisprudência de diversos tribunais do país, em especial, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), podendo-se citar, como exemplo:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. BOLETO BANCÁRIO. PROTESTO POR INDICAÇÃO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. COMPROVANTE DE ENTREGA DAS MERCADORIAS. POSSIBILIDADE. COMPROVAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SUBJACENTE. DEFERIMENTO DA INICIAL. 1. O boleto bancário não foi alçado à categoria de título executivo extrajudicial, mas o protesto por indicação da duplicata por aquele representada é expressamente autorizado por lei, exigindo-se, apenas, a comprovação da entrega das mercadorias ou serviços que suprem o aceite. 2. Deve ser deferida a inicial da execução que apresenta os documentos pertinentes ao protesto por indicação e a prova da entrega das mercadorias ou serviços. (TJMG, Apelação Cível 1.0024.10.121466-6/001, Rel. Desembargador Cabral da Silva, Câmaras Cíveis Isoladas/10ª Câmara Cível, DJ 05/07/2011)22

E ainda,

21 FAZZIO JÚNIOR, op. cit., p. 224.

22 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 1.0024.10.121466-6/001. Rel.

Desembargador Cabral da Silva. Câmaras Cíveis Isoladas/10ª Câmara Cível. DJ 05/07/2011.

Disponível em:

<http://www.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro= 4&totalLinhas=46&paginaNumero=4&linhasPorPagina=1&palavras=execução e duplicata e

boleto e

bancário&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa =Clique na lupa para pesquisar as referências cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&>. Acessado em 30.08.2012.

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AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA E NULIDADE DE PROTESTO E AÇÃO CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - EXECUÇÃO DE OBRA DE ENGENHARIA - RESPONSABILIDADE TÉCNICA A CARGO DA CONTRATANTE - SURGIMENTO DE DEFEITOS NÃO ATRIBUÍVEL À CONTRATADA - PAGAMENTO DEVIDO. PROTESTO DE DUPLICATA QUE JAMAIS FOI EMITIDA - BOLETO BANCÁRIO - IMPOSSIBILIDADE - NULIDADE.

- O surgimento de defeitos de ordem técnica na obra realizada não pode ser imputado à empresa executora, se apenas obrigou-se ao fornecimento de mão-de-obra para a execução dos comandos da contratante, sendo desta a responsabilidade técnica pela obra; - É nulo o protesto efetivado com base em boleto bancário, sem que tenha havido regular emissão de duplicata e sua remessa para aceite. (TJMG, Apelação Cível 1.0702.07.389488-4/002, Rel. Desembargador Mota e Silva, Câmaras Cíveis Isoladas/18ª Câmara Cível, 22/02/2011)23

Cumpre citar, ainda, acórdãos do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) decidindo pela possibilidade do protesto por indicação do boleto bancário por conter este documento os elementos e informações necessárias a esse tipo de protesto em caso de retenção indevida da duplicada, desde esteja acompanhado do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria, de prova da remessa do título de crédito e sua retenção indevida pelo sacado e não haja recusa lícita ao aceite.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e no mérito negar-lhe provimento, para manter a respeitável decisão por seus próprios e jurídicos fundamentos. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. 1. DUPLICATA NÃO ACEITA. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO. REQUISITOS DO ART. 14 DA LEI 5.474/68. PRESENTES. 2. DEMONSTRATIVO DO DÉBITO. ART. 614, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. 1. A execução de duplicata não-aceita, para que possa ser promovida, exige o preenchimento dos seguintes requisitos: a) protesto mediante indicação do credor do título, nos termos do artigo 14 da Lei 5.474/68; b) acompanhamento de documento hábil a demonstrar a entrega e o recebimento da mercadoria. Assim, inexiste irregularidade na execução de duplicata não aceita, cujo protesto por indicação foi realizado com base em informações de boleto bancário, acompanhada de prova da entrega e

23 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 1.0702.07.389488-4/002 Rel.

Desembargador Mota e Silva. Câmaras Cíveis Isoladas/18ª Câmara Cível. 22/02/2011.

Disponível em:

<http://www.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro= 7&totalLinhas=46&paginaNumero=7&linhasPorPagina=1&palavras=execução e duplicata e

boleto e

bancário&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa =Clique na lupa para pesquisar as referências cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&>. Acessado em 30.08.2012.

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recebimento da mercadoria, assim como das duplicatas que foram retidas pela empresa devedora. 2. Não é inepta a inicial acompanhada de demonstrativo de débito atualizado do débito que seja suficiente para o devedor exercer seu direito de defesa, inexistindo, assim, qualquer violação ao art. 614, II, do CPC. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJRS, Apelação Cível 417109-7, Rel. Desembargador Hayton Lee Swain Filho, 15ª Câmara Cível, DJ 27/06/2007)24

Assim sendo, segundo o entendimento dominante na doutrina e nos tribunais, é admissível o protesto do boleto bancário, desde que seja feito por indicação, haja prova do negócio jurídico celebrado, da remessa da duplicada e sua indevida retenção pelo sacado e não haja recusa lícita ao aceite.

6 Execução do boleto bancário

Por ser um título executivo extrajudicial (art. 585, I, do Código de Processo Civil – CPC), a cobrança da duplicata se dá por meio de ação de execução de títulos extrajudiciais previstas no CPC. E isso se dá porque esse título de crédito menciona obrigação certa, líquida e exigível, além de ter força executiva por expressa disposição legal.

Os títulos executivos extrajudiciais são numerus clausus e, por isso, devem ser interpretados restritivamente. Segundo Fazzio Júnior,

A enumeração exaustiva decorre do fato de que os mencionados títulos autorizam a prática de atos de soberania e de enérgica invasão na esfera jurídico-patrimonial do devedor, razão pela qual não podem os particulares produzir, de acordo com a vontade individual, uma fonte de atos autoritário-judiciais (nullum titulus sine lege).25

A execução da duplicata poderá ser feita contra o devedor cambial direto e seus avalistas, caso em que será dispensado o protesto, ou pelos demais coobrigados, devedores cambiais indiretos, desde que devidamente protestada.

O art. 15 da Lei 5.474/1968 prescreve que “A cobrança judicial da duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável

24 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 417109-7. Rel. Desembargador

Hayton Lee Swain Filho. 15ª Câmara Cível. DJ 27/06/2007. Disponível em: <http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/pesquisa.do?actionType=pesquisarRefinado&filtr o=true>. Acessado em 31.08.2012.

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aos títulos executivos extrajudiciais” se estiver aceita, independentemente de protesto, ou se não estiver aceita, desde que tenha sido protestada (por indicação), esteja acompanhada do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria e não haja recusa lícita ao aceite (art. 7º e 8º), por parte do sacado. Isso porque, neste último caso, para Fazzio Junior, “O título executivo se constitui com o protesto”26.

O boleto bancário também menciona obrigação certa, líquida e exigível, porém não há disposição legal no ordenamento jurídico brasileiro que lhe atribua a característica da executividade.

Para Fazzio Júnior27, não há “execução de duplicata virtual nem execução virtual de duplicata, mas formação de um título executivo complexo mediante a conjugação dos seguintes elementos:

• do protesto por indicações do portador registrado ou não, mediante comunicação eletromagnética;

• prova de recepção da mercadoria pelo sacado; • inadimplemento do pagamento pelo sacado;

• inexistência de razões oferecido pelo sacado para a recusa de aceite e de pagamento.

O que efetivamente alimenta de executividade a duplicata em papel é um outro papel, o comprovante de entrega e recebimento da mercadoria, sem o que o protesto por indicações do credor não conduz ao efeito almejado. O título protestado não se aperfeiçoa como título executivo sem esse papel. O aceite só se presume, se o sacado efetivamente recebeu a mercadoria, sem alinhar razões para recusar o aceite, então obrigatório.28

Não obstante isso, existem alguns julgados de diversos tribunais que mencionam expressamente a força executiva do boleto bancário, desde que devidamente protestado, acompanhado do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria e haja ilícita recusa ao aceite e prova da remessa e indevida retenção da duplicata pelo sacado. Falta-lhes, portanto, rigor técnico, pois o que se está executando não é o boleto bancário e sim o instrumento de protesto por indicação realizado por meio do boleto bancário, acompanhado dos documentos que permitem o suprimento do aceite e de prova da remessa e retenção indevida da duplicata, em conformidade com o art. 15 da Lei 5.474/1968. Nesse sentido, podemos citar os seguintes julgados (além de alguns já mencionados que fazem menção à executividade do boleto bancário):

26 FAZZIO JÚNIOR, op. cit., p. 284. 27 FAZZIO JÚNIOR, op. cit.

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EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTO DAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DE CRÉDITO ORIGINAL.

1. As duplicatas virtuais - emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica - podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492/97.

2. Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual, devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais. 3. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ, Recurso Especial nº. 1.024.691/PR. Rel. Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. DJe 12.04.2011.)29

EMBARGOS À EXECUÇÃO - DUPLICATA - PROTESTO POR INDICAÇÃO - CARTA DE FIANÇA - ABRANGÊNCIA. Os boletos bancários, acompanhados de notas fiscais de entrega de mercadoria, são considerados títulos executivos, que comprovam a existência de relação comercial. A duplicata mercantil pode ser protestada por indicação, sendo o boleto bancário documento hábil para o protesto por indicação da duplicata, conforme o art. 8º da Lei n. 9.492/97. A fiança prestada em contrato apartado é garantia válida a dívida futura e condicional, ainda que materializada em título de crédito, restando caracterizada a legitimidade passiva e a responsabilidade dos fiadores para a execução promovida com base em duplicatas. Recurso não provido. (TJMG, Apelação Cível 1.0148.09.069669-8/001, Rel. Desembargadora Evangelina Castilho Duarte, Câmaras Cíveis Isoladas/14ª Câmara Cível, 01/09/2011)30

Apesar disso, existem decisões judiciais que primam pelo rigor técnico e afirmam não ser o boleto bancário título executivo extrajudicial, embora seja admissível a sua utilização para instruir a ação de cobrança, desde que tenha sido devidamente protestado por indicação, esteja acompanhado do instrumento de protesto, do comprovante de entrega e recebimento de mercadoria e de prova da remessa e retenção indevida da duplicata.

29 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial nº. 1.024.691/PR. Rel. Ministra

Nancy Andrighi. Terceira Turma. DJe 12.04.2011. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=execu%E7%E3o+e+boleto+e+banc% E1rio&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>. Acessado em 30.08.2012.

30 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 1.0148.09.069669-8/001. Rel.

Desembargadora Evangelina Castilho Duarte. Câmaras Cíveis Isoladas/14ª Câmara Cível.

01/09/2011. Disponível em:

<http://www.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro= 3&totalLinhas=46&paginaNumero=3&linhasPorPagina=1&palavras=execução e duplicata e

boleto e

bancário&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa =Clique na lupa para pesquisar as referências cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&>. Acessado em 30/08/2012.

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EXECUÇÃO - BOLETO BANCÁRIO - TÍTULO EXECUTIVO - AUSÊNCIA. Não havendo duplicata aceita, tampouco evidência de falta de devolução de duplicata, a ponto de autorizar o protesto por indicação dos boletos bancários citados pelo exequente, mantém-se a sentença que declarou nula a execução, por ausência de título executivo. (TJMG, Apelação Cível 1.0141.09.008457-7/001, Rel. Desembargador Guilherme Luciano Baeta Nunes, Câmaras Cíveis Isoladas/18ª Câmara Cível, 30/11/2010)31

Cabe ressaltar a precisão técnica de acórdão do TJRS que afirma que o documento que possui força de título executivo é o instrumento de protesto por indicação realizado por meio de boleto bancário e propriamente não o boleto bancário.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL (BOLETO BANCÁRIO) ACOMPANHADA DO COMPROVANTE DE ENTREGA DA MERCADORIA E INSTRUMENTO DE PROTESTO POR INDICAÇÃO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. SENTENÇA MANTIDA. Consoante entendimento da jurisprudência e da doutrina, o instrumento de protesto da duplicata, realizado por indicação, quando acompanhado do comprovante da entrega das mercadorias constitui título executivo extrajudicial. Apelação cível não provida. (TJRS, Apelação Cível 800083-5, Rel. Desembargador Jucimar Novochadlo, 15ª Câmara Cível, DJ 10/08/2011)32

Apesar das variações terminológicas constantes dos diversos julgados acima colacionados, percebe-se ser pacífico na jurisprudência que o boleto bancário, por si só, não possui força executiva, somente podendo ser usado para instruir processo judicial de cobrança se estiver acompanhado do instrumento de protesto, do comprovante de entrega e recebimento da mercadoria, não houver recusa lícita ao aceite e houver prova da remessa e retenção indevida da duplicata pelo sacado.

31 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 1.0141.09.008457-7/001. Rel.

Desembargador Guilherme Luciano Baeta Nunes. Câmaras Cíveis Isoladas/18ª Câmara Cível.

30/11/2010. Disponível em:

<http://www.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaPalavrasEspelhoAcordao.do?&numeroRegistro= 10&totalLinhas=46&paginaNumero=10&linhasPorPagina=1&palavras=execução e duplicata e

boleto e

bancário&pesquisarPor=ementa&pesquisaTesauro=true&orderByData=1&referenciaLegislativa =Clique na lupa para pesquisar as referências cadastradas...&pesquisaPalavras=Pesquisar&>. Acessado em 30.08.2012.

32 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 800083-5 Rel. Desembargador

Jucimar Novochadlo. 15ª Câmara Cível. DJ 10/08/2011. Disponível em: <http://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/publico/pesquisa.do?actionType=pesquisar>. Acessado em 31/08/2012.

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7 Conclusão

Diante de tudo o que foi exposto, percebe-se que a doutrina e, principalmente, a jurisprudência caminhou para firmar o entendimento no sentido de que o boleto bancário representa um documento de dívida que não se presta, sozinho, a instruir a ação de cobrança baseada no saque da duplicata e sua irregular retenção pelo sacado.

Pela análise dos julgados acima citados e de tantos outros que se podem encontrar nos sítios eletrônicos oficiais dos tribunais brasileiros, parece estar pacificado, no âmbito jurisprudencial, que o boleto bancário é documento hábil para realizar o protesto por indicação da duplicata indevidamente retida pelo sacado, desde que haja comprovação da entrega e recebimento da mercadoria, não tenha havido recusa lícita ao aceite e haja prova da remessa e retenção da duplicada pelo devedor. Não estando preenchidos esses requisitos, o boleto bancário não pode ser protestado em substituição à duplicata, pois a não aceitação do sacado para com a obrigação nele mencionada não pode ser presumida.

Em que pese a certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação mencionada no boleto bancário, este não é título de crédito, na medida em que não contém os elementos para que um documento valha como tal (a exemplo da falta de assinatura do sacador, da ausência da palavra duplicata no corpo do texto e da ausência da cláusula “à ordem”).

Da mesma forma, ele também não é título executivo extrajudicial e não pode ser utilizado para, sozinho, respaldar uma ação executiva, pois ele não está mencionado no art. 585 do CPC, que traz um rol taxativo dos títulos executivos extrajudiciais, nem em legislação especial que contenha previsão semelhante.

Observa-se, todavia, que a jurisprudência não é uníssona em afirmar que o boleto bancário seja ou não considerado um título executivo extrajudicial, no preciso termo da expressão. Contudo, é pacifico o entendimento de que ele não pode, sozinho, embasar uma ação executiva, somente podendo ser usado como tal se atender a critérios muito bem definidos, quais sejam: que tenha sido utilizado para tirar o protesto por indicação e que esteja acompanhado do instrumento de protesto, do comprovante de entrega e recebimento da

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mercadoria, de prova da remessa da duplicata e sua retenção indevida pelo sacado e não haja recusa lícita ao aceite.

Entendemos, dessa forma, que existe uma imprecisão técnica de alguns julgados em afirmar o caráter executivo extrajudicial do boleto bancário, na medida em que a necessidade de tantos requisitos já lhe retiraria essa característica. Especialmente se realizarmos um contraponto entre eles e outros tantos que afirmam não ser o boleto bancário título de crédito extrajudicial, com base nos mesmos fundamentos.

Dessa forma, concluímos que não se pode falar em executividade do boleto bancário, mas, sim, do instrumento de protesto por indicação. Este sim, título executivo extrajudicial apto a instruir a cobrança da obrigação mencionada na duplicata sacada e ilegitimamente retida.

REFERÊNCIAS

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