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O Desenvolvimento Profissional Dos Docentes Do Ensino Secundário

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(1)

César Augusto da C. Lopes Ribeiro

O Desenvolvimento Profissional Dos Docentes Do Ensino Secundário

Trabalho Científico apresentado ao Instituto Superior de

Educação para a obtenção do grau de Licenciatura em Ensino

de História

(2)

César Augusto da C. Lopes Ribeiro

O Desenvolvimento Profissional Dos Docentes Do Ensino Secundário

Aprovado pelos membros do júri e homologado pelo Presidente

do Instituto Superior de educação, como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Licenciatura em Ensino de História.

O Júri

_____________________________________ _____________________________________ _____________________________________

(3)

Cidade de Praia, _____ de __________ de 2006

“A reflexão pode abrir novas possibilidades para a acção e pode

conduzir a melhoramentos naquilo que se faz. A reflexão pode

potenciar a transformação que se deseja e que se é capaz de

fazer com os outros”

Lurdes Serrazina

(4)

Agradecimentos

Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos à todos aqueles que contribuíram para o êxito desta tarefa sendo dever meu destacar:

 A minha mãe, pela educação e pelo amor que sempre soube transmitir-me.  A minha esposa e meus filhos pelo sacrifício, paciência e companheirismo.

 A minha orientadora, Doutora Cristina Pires Ferreira, sem a qual não seria

possível este feito.

 Aos meus familiares e irmãos da Fé, pela coragem e confiança que sempre

tiverem em mim.

 Ao Dr. Bartolomeu Varela pela sugestão do tema.

 Ao Senhores Drs. Octavio Tavares e Ulisses Monteiro, Secretário de Estado e

Director de Recursos Humanos de Educação respectivamente, pelas entrevistas gentilmente concedidas.

 À Dra. Filomena Fortes, Dr. Adriano Monteiro, Dr. Lourenço Gomes, Dr. José

Évora, pela pronta colaboração.

 À todos os meus professores e colegas do curso que durante esses 5 anos lutaram

juntamente comigo.

 Aos meus colegas de trabalho pelo incansável apoio nos momentos que sempre

precisei.

 Finalmente, gostaria de agradecer a Deus, por estar sempre ao meu lado e por

ajudar-me a atingir mais esta etapa da vida.

(5)

Índice

Introdução...7

Capítulo I. A Educação em Cabo- Verde...10

1.1. A evolução do sistema educativo em Cabo-Verde...10

1.1.1 A etapa Colonial...11

1.1.2 A Etapa pôs independência...13

1.2. O Ensino Secundário em Cabo Verde...16

1.3. Caracterização da profissão docente em Cabo Verde...19

Capítulo II. Enquadramento Teórico e metodológico da temática do Desenvolvimento Profissional dos docentes em Cabo Verde...21

2.1.O Enquadramento Teórico do Desenvolvimento Profissional...21

Capitulo IV. O Discurso Político Concernente ao Desenvolvimento Profissional dos Docentes Cabo-verdiano...28

4.1. O Desenvolvimento Profissional dos docente nos programas de Governo...28

4.2. Os planos Nacionais de Desenvolvimento e o desenvolvimento profissional do Docente ...31

4.3. O Plano Estratégico do Ministério da Educação e o desenvolvimento da Carreira docente...32

Capítulo 4. A Legislação Concernente ao Desenvolvimento Profissional dos Docentes Cabo-verdianos...34

3.1. A Valorização dos Docentes à Luz dos Normativos...34

3.2 A Qualificação / Capacitação dos Docentes à Luz dos Normativos...37

3.3. A motivação dos docentes à luz dos normativos...40

Capítulo V. Desenvolvimento Profissional – A Questão da Carreira...44

5.1. A Evolução das Progressões de 1991 à 2005...44

5.2. A Lei medida...48

5.2.1 Sua contextualização...48

5.2.1. A implementação da lei medida...49

Capítulo VI. O Desenvolvimento Profissional e a Formação...61

6.1. A Formação e o Desenvolvimento na carreira...61

Capítulo VII. O Desenvolvimento Profissional dos Docentes do Ensino Secundário: a situação da Ilha de Santiago...64

7.2. A Lei Medida...67

7.3. A Formação e a Carreira Docente...69

Conclusão...72

Bibliografia...75

(6)

Índice de Quadros

Quadro 1 Alunos Matriculados no Ensino Secundário por Ano Lectivo e por Concelho-...16

Quadro 2 Evolução de professores do ensino secundário...19

quadro 3: Principais informações dos programas de Governo de1996/2000 e 2001/2005...29

quadro 4 Principais informações dos Planos Nacionais de Desenvolvimento de 1997/2000 e 2002/2005...31

quadro 5 Plano estratégico da educação- Fevereiro 2003...32

quadro 6 Evolução das progressões por categorias à nível nacional...45

quadro 7 O Peso das progressões de professores por ano...46

quadro 8 Professores de quadro do ensino Secundário por categoria-2005...50

quadro 9 Peso da promoção no Orçamento de 2005...52

quadro 10 Evolução das receitas correntes- Professores do ensino secundário...53

quadro 11 vencimento do professor do E.B.I., taxa de I.U.R.e do Subsídio de Carga Horária. ...53

quadro 12 Diferença de vencimento após a aplicação da lei medida...54

quadro 13 Reclamações de professores após a publicação das promoções e promoções a luz da lei medida...56

quadro 14 Evolução de alunos matriculados no I.S.E...62

quadro 15- Evolução das progressões 1991-2005. O caso da Ilha de Santiago...64

quadro 16- Evolução das progressões por escolas...65

quadro 17- Siglas...66

quadro 18- Progressões por categoria- lei medida...67

quadro 19- Beneficiários da lei medida...68

quadro 20 Relação entre a qualificação do corpo docente de Cabo verde e da ilha de Santiago. ...69

quadro 21 Relação entre a qualificação do corpo docente da Praia e outros concelhos de S.Tiago...70

(7)

Introdução

O desenvolvimento do Tema: “O Desenvolvimento profissional dos docentes do Ensino Secundário enquadra-se no âmbito do trabalho de fim de curso para obtenção do grau de Licenciatura de História, ramo em ensino, no Instituto Superior de Educação.

Com o tratamento do tema, pretende-se analisar a problemática do desenvolvimento profissional dos docentes do ensino secundário em Cabo Verde, com destaque para a ilha da Santiago, realçando os aspectos influenciadores, comparando os discursos políticos e jurídicos com o que acontece na prática, inferindo as consequências ao nível da satisfação /motivação dos docentes como também no desenvolvimento do sistema educativo Cabo-Verdiano.

O presente trabalho surge da preocupação, enquanto profissional da educação que lida com as questões da gestão dos recursos humanos docentes, de desvendar a real situação do desenvolvimento profissional dos docentes do ensino secundário no período em estudo. Uma outra razão da escolha do tema é a de podermos contribuir, com este estudo, com dados que possam reflectir a verdadeira questão do desenvolvimento profissional dos docentes em Cabo Verde susceptíveis de melhorar a qualidade de Educação, sobretudo no Ensino Secundário. A partir do conhecimento produzido pretende-se contribuir para a adopção de medidas capazes de conduzirem à eliminação de constrangimentos à correcção de eventuais disfuncionamentos do processo, visando a melhoria profissional dos docentes.

A escolha da ilha de Santiago se justifica pelo facto, de ser a maior ilha do país, com mais de metade da população de Cabo Verde, portanto com maior número de docentes e também discentes, apresentando uma maior diversidade (meio urbano e meio rural), com várias escolas com características e particularidades diferentes. Além disso, é onde se situam a sede do Instituto Superior de Educação e a da Universidade Jean Piaget, instituições que formam docentes para Cabo Verde inteiro. A ilha de Santiago pelos aspectos acima indicados revela particularidades mas também diversidade que pode ser encontrada também em diferentes ilhas e Concelhos. Ela retrata em boa parte a realidade de Cabo Verde.

O período em análise, 1991 a 2005, abrange o início da reforma que reestruturou todo o sistema Educativo Cabo-verdiano (o ponto de partida foi a Lei de Bases do sistema Educativo nº 103/III/90 de 29 de Dezembro) bem como a sua generalização (1999/2000).

(8)

Para responder às preocupações e objectivos do trabalho apontados nos parágrafos acima, de entre outros procedimento, recolhemos e analisamos dados do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério de Educação e Educação, fizemos uma pesquisa minuciosa dos actos administrativos (progressões e promoções) relativo a classe docente, em fontes documentais (Boletins Oficias da República de Cabo Verde) de 1991 à 2005 e Procedemos a uma análise qualitativa do discurso legal (legislação) e político (Programas de Governos, Planos Nacionais de Desenvolvimento, Planos Estratégicos de Educação) concernente ao desenvolvimento na carreira docente

O trabalho encontra-se estruturado em sete capítulos. O primeiro capítulo descreve sucintamente a evolução do sistema educativo Cabo-verdiano e caracteriza o ensino secundário e a profissão docente em Cabo Verde. Pretende-se com este capítulo demonstrar o contributo dado pelos docentes e não só, no desenvolvimento da Educação em Cabo Verde. O segundo capítulo faz um enquadramento teórico do conceito “Desenvolvimento profissional” abordando e comparando opiniões de vários autores. Ainda neste capitulo descrevemos apresentamos as questões de partida, os objectivos gerais e específicos, bem como as estratégias e métodos utilizados para a elaboração deste trabalho.

O terceiro capítulo aborda os discursos políticos feitos sobre o sistema educativo em geral, o ensino secundário e a classe docente em particular através dos Programas de Governo, dos Planos Nacionais de Desenvolvimento e no Plano Estratégico da Educação. O quarto capítulo apresenta de forma sucinta as principais legislações relacionadas a classe docente (objectivos, princípios, omissões, etc.) e faz uma breve análise sobre a sua aplicabilidade.

O quinto capítulo discorre sobre a questão do desenvolvimento na carreira dos docentes apresentando a evolução das progressões a nível nacional de 1991 a 2005; faz uma análise essencialmente descritiva da lei medida, a contextualização da sua aparição, o papel dos Serviços Centrais do Ministério da Educação e os efeitos da mesma (para os docentes, para a administração central do Ministério da Educação, etc.).

O Sexto capítulo aborda a relação entre o desenvolvimento na carreira e a formação tentando demonstrar em que medida esta tem sido a modalidade mais utilizada pelos docentes para evoluírem na carreira e se desenvolveram profissionalmente.

O Sétimo e último capítulo debruça-se sobre o caso da ilha de Santiago, apresentando dados sobre a evolução das progressões de 1991 a 2005 fazendo uma comparação entre os concelhos, as escolas e por categorias; analisa a aplicação da lei medida e finalmente faz um

(9)

breve estudo comparativo das habilitações do corpo docente de Santiago e Cabo verde e entre os diferentes concelhos da ilha de Santiago.

(10)

Capítulo I. A Educação em Cabo Verde

1.1. A evolução do sistema educativo em Cabo-Verde

“A história do ensino em Cabo Verde é uma moeda cujo fio condutor parte da Cidade da Ribeira Grande, na ilha de Santiago, hoje chamada Cidade Velha, e, depois, lentamente se estende pelo dédalo do arquipélago, até se generalizar, com o correr dos tempos, por todas as ilhas.”1

Como nos deixa perceber Francisco Lopes da Silva, a história do ensino em Cabo Verde remonta aos primórdios do povoamento da Cidade da Ribeira Grande, hoje denominada Cidade Velha. Os “ frutos” que hoje colhemos em todas as ilhas habitadas do arquipélago germinaram na mais antiga cidade de Cabo Verde.

Muitos que por lá passavam em virtude das suas históricas viagens de descobrimentos e não só, já acreditavam na potencialidade das suas gentes. A prova disto é o comentário do padre António Vieira, que de passagem pela ilha de Santiago e em contacto com o seu panorama humano ficou impressionado com a elevação moral, espiritual e intelectual da sua gente. Em carta dirigida ao padre Andrade Fernandes, confessor da sua Alteza Real, o príncipe dom Teodósio, ele teceu as seguintes declarações “...sendo o material da gente o mais disposto que há entre todas as novas nações das novas conquistas, para se imprimir nelas tudo o que lhe ensinarem. São todos pretos, mas somente nesse acidente se distingue dos europeus” e mais adiante “Há aqui clérigos e cónegos tão negros com azeviche, mas tão composto, tão autorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e bem morigerados que podem fazer inveja aos que lá vemos nas nossa catedrais.” E, depois, em jeito de conclusão:... “gente que, nestas ilhas, não tem necessidade de se lhe aprenderem a língua , porque todos, a seu modo, falam a portuguesa”.2

De facto foi a Igreja Católica, cuja principal missão foi a de elevação moral e espiritual dos habitantes das colónias, a introdutora do ensino em Cabo Verde.

Volvidos séculos após as primeiras experiências na área do ensino, Cabo Verde, pode hoje orgulhar-se do seu percurso histórico.

O Sistema Educativo Cabo-verdiano têm-se modificado ao longo dos anos. As mudanças educativas que se vem introduzindo em Cabo Verde, para além de adequar o sistema de

1 Da SILVA, Francisco Lopes in História breve da Educação em Cabo Verde até a Independência .Jornal Noticias, artigo 1

(11)

ensino á realidade sócio-económica do país, visa acompanhar o desenvolvimento educacional a nível mundial.

Como qualquer outro, o sistema educativo cabo-verdiano, enquanto parte integrante do sistema social, evolui ou deve evoluir em função das mudanças operadas na sociedade. Segundo Bartolomeu Varela “o percurso histórico da sociedade cabo-verdiana, a educação em Cabo Verde conhece duas grandes etapas:

a) a etapa colonial, em que a educação em Cabo Verde fazia parte integrante do sistema educativo Português;

b) a etapa pós independência nacional, em que é, paulatinamente edificado um sistema educativo cabo-verdiano , baseado em pressuposto, estrutura, objectivos e normas próprias de um estado soberano e apostado no desenvolvimento económico e social do pais.

Cada uma das grandes etapas pode, por sua vez, subdividir-se em várias outras, em função das particularidades históricas que marcaram a evolução da Sociedade Cabo-verdiana.”3

1.1.1 A etapa Colonial

A Educação colonial obedecia uma estratégia política vasta baseada no princípio da defesa dos interesses económicos e políticos de Portugal. “Durante todo este tempo, o estado colonial investiu portanto muito pouco na educação. A maioria da população não teve qualquer contacto com a escola, cujo papel essencial foi o de criar uma reduzida minoria capaz de assumir as funções auxiliares no quadro do sistema colonial.”4 Embora a Coroa

Portuguesa tentasse fazer crer que o interesse e o esforço de Portugal para difundir a Educação entre os africanos constituía um dos aspectos essências da política colonial, na prática, poucos ou nenhuns esforços se fizeram para educar estas populações.

Com os movimentos de libertação e a consequente abolição da escravatura, são introduzidas mudanças nas políticas colónias a partir da década de 60 com reflexos na política da educação. Essas mudanças traduziram-se numa expansão da educação nas coloniais. Limitada em grande parte ao ensino primário e com o objectivo de inculcar os valores e a identidade Portuguesa. Esta prática também tem efeitos no sistema da Educação em Cabo Verde. O ensino primário tornado obrigatória para todas as crianças entre os 6 e os 12 anos e,

3 VARELA, Bartolomeu Lopes.Textos de apoio destinados aos alunos do 4º ano dos cursos de Licenciatura em Estudos Ingleses, Estudos Franceses História e Filosofia. Ano lectivo 2004-2005.

(12)

a obrigatoriedade da frequência das 5ª e 6ª classes, em 1972/73, foram algumas das medidas que começaram a surtir efeitos na escolarização das populações das colónias.

A assimilação apresentava-se como o objectivo a atingir, tornando-se a língua Portuguesa obrigatória como elemento da integração. No entanto, como afirma Bartolomeu Varela “...o sistema educativo adoptado pelo estado colonial português era uma educação ao serviço dos interesses da potência colonial portuguesa e, portanto, defensora da ordem colonial instituída.”5

Atendendo que Cabo Verde e Portugal apresentavam realidades sócio económicas muito diferentes, que nem todos tinham acesso à educação, e que esta visava apenas os interesses de Portugal, Varela é da opinião que “...o ensino praticado nas escolas cabo-verdianas; era uma educação alienada, porque não alicerçada na realidade cabo-verdiana e, logo, inadaptada às condições físicas, geográficas, humanas, económicas e culturais de Cabo Verde; uma educação altamente selectiva, a que se tinha acesso em função e na medida da necessidade de defesa e reprodução da ordem colonial portuguesa; uma educação altamente discriminatória e elitista, que oferecia escassas oportunidades às camadas mais desfavorecidas da sociedade cabo-verdiana; um ensino essencialmente teórico e, como tal, desfasado da vida social e da pratica social; uma educação centrada nos quatro cantos da sala de aula, desligada da comunidade…”6

A mesma opinião foi manifestada, pelo então Primeiro Ministro de Cabo Verde Comandante Pedro Pires em Mindelo, S.Vicente durante o discurso de encerramento do primeiro encontro nacional de Quadro realizado em 1977:

“ … Pelo ensino então ministrado não conhecíamos a nossa terra mas conhecíamos bem Portugal não conhecíamos o nosso continente, mas conhecíamos bem o continente Europeu e eu até hoje me lembro bastante bem dos rios, caminhos-de-ferro de Portugal, Europa, etc. Mas quanto a Cabo Verde pouco conhecia da nossa realidade e mal conhecíamos as povoações mais importantes desta ou daquela ilha”

“…Éramos formados para servir mais fora de Cabo Verde do que servir em Cabo Verde e servir Cabo Verde…”7

Entretanto apesar da Educação Colonial se ter revelada inadequada à realidade e às expectativas da nação Cabo-verdiana, não se lhe pode negar alguns aspectos positivos, dos quais passamos a destacar:

5VARELA, Bartolomeu Lopes.Textos de apoio destinados aos alunos do 4º ano dos cursos de Licenciatura em Estudos Ingleses, Estudos Franceses História e Filosofia. Ano lectivo 2004-2005

6VARELA, Bartolomeu Lopes.Textos de apoio destinados aos alunos do 4º ano dos cursos de Licenciatura em Estudos Ingleses, Estudos Franceses História e Filosofia. Ano lectivo 2004-2005

(13)

a) o facto de os metodologias tradicionais de ensino, nomeadamente as de iniciação a leitura e escrita e ao cálculo, serem acessíveis ao professores, que as podiam aplicar sem grandes dificuldades, e bem assim a generalidade da população letrada, que assim, podiam colaborar, muitas vezes até precocemente, na alfabetização e iniciação aritméticas;

b) a circunstância de, nessa época, poder encontra-se o núcleo essencial das competências e dos saberes em um número restrito de manuais, dos textos não necessariamente longos, o que facilitava a apreensão dos conteúdos programáticos essenciais;

C) o facto dos manuais de outrora, especialmente os de Língua Portuguesa, darem devida importância à agora chamada “ educação para valores”

1.1.2 A Etapa pôs independência

A conquista da independência em 1975 impôs a necessidade de um novo ensino

adaptado a realidade do país e que direccionasse Cabo Verde para o desenvolvimento. Preconizou-se com a independência nacional a “ Implantação progressiva de um novo sistema de ensino consentâneo com os objectivos da reconstrução nacional, isto é, a liquidação da miséria, a elevação progressiva do nível de vida e a libertação de todas as formas de exploração e independência, visando criar uma prática livre, independente e progressista.”8

Era necessário que a instrução chegasse aos lugares mais remotos do arquipélago, que todos tivessem, de igual modo, acesso ao ensino e que esse fosse adaptado as necessidades das comunidades, favorecendo a participação de todos no processo de desenvolvimento de Cabo Verde.

Os princípios que orientaram o novo sistema educativo proposto, foram expressamente consagrados na Resolução Geral adaptado no III Congresso do PAIGC em 1977, que considerara que “Educação deve ser estritamente ligada ao trabalho e ter por finalidade o desenvolvimento do conhecimento, qualificações e valores que permitem ao estudante inserir na sua comunidade e contribuir para a sua melhoria permanente.”9

O trabalho manual foi exaltado numa perspectiva do saber fazer. Os conhecimentos adquiridos nos estabelecimentos de ensino deviam ser postos ao serviço da comunidade/País. O sistema de ensino implantado após a independência estruturava-se da seguinte maneira:

8 In “ O novo ensino em Cabo Verde”- Documento do II Congresso do PAICV (1983). 9 Partido Africano da Independência de Cabo Verde-Documentos do II Congresso, pag. 6

(14)

 O ensino primário, de quatro anos (1ª à 4ª classes) antecedidos do ensino pré-primário com a duração de um ano e que visava essencialmente a preparação da criança para a entrada no ensino primário.

 O Ensino secundário ou liceal com a duração de 7 anos (os primeiros dois anos denominavam-se ciclo preparatório seguida do curso geral dos liceus com a duração de 3 anos e por último, o curso complementar com a duração de 2 anos).

Atendendo que Cabo Verde Cabo Verde não dispunha de estabelecimentos de Ensino de nível superior, este era feito no estrangeiro. Assim como afirmou, Elisete Marques da Silva, citando documentação não publicada do Ministério da Educação “ (...) um número bastante importante de bolsas de estudo, posta a disposição do país por toda uma série de instituições estrangeiras, permitiu a consideráveis contingentes de Cabo-verdianos- cerca de 800 em 1988-realizar estudos universitários no estrangeiro”.10

O encontro Nacional de quadros de Educação realizada em 1977, na cidade do Mindelo, ilha de S.Vicente, revestiu-se de grande importância para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do sistema Educativo cabo-verdiano uma vez que a partir das conclusões e recomendações deste encontro, mudanças importantes e necessárias foram introduzidas no sistema educativo. Assim, o ensino básico irá abranger dois níveis, sendo a nível elementar da 1ª a 4ª Classes, e o nível complementar (EBC), referente à 5ª e 6ª classes. Consequentemente, o ensino secundário passara a ser de 5 anos, com dois níveis: O primeiro, de 3 anos, correspondendo ao curso geral dos liceus (ensino secundário básico) e o segundo, de 2 anos, compreendendo o curso complementar dos liceus (ensino secundário complementar).

Lançaram-se também as bases dos que seriam as futuras instituições do ensino superior no país, pelo Decreto Legislativo n.º 70/79, de 28 de Julho, é formalizada a criação do curso de formação de professores do ensino secundário, que em 1995, irá dar lugar ao actual Instituto Superior de Educação; O Centro de Formação Náutica criado a 1984 irá evoluir para o actual Instituto Superior da Engenharia e ciências do Mar de acordo com o Decreto-lei n.º 40/96 de 21 de Outubro.

“ O sistema de ensino em Cabo Verde é regulado pela Lei de Bases do Sistema educativo11, datada de 1990 e revista em 199912, que define os princípios fundamentais da

organização e funcionamento do sistema, incluindo o sector público e o sector privado”13 .

10 Silva,Elisete Marques da. Revista Internacional de Estudos Africanos, nº 14/15,1991, pag 232 11 Lei n.º 103/III/90 de 29 de Dezembro

12 Lei 113/V/99de 18 de Outubro

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Com a implementação da reforma, tendo como base a Lei acima referida, a adopção dos objectivos de Educação para todos14, o sistema educativo expandiu,

A reforma do ensino implementada em Cabo Verde procurou responder às mudanças ocorridas no país e os desafios inerentes às mesmas e acompanhar o movimento mundial de Educação para Todos. Os objectivos gerais da reforma foram: “ Fomentar a participação das populações na actividade educativa; estabelecer um sistema educativo que se caracterize pela sua unidade, flexibilidade e complementaridade; oferecer a todos os jovens uma escolaridade básica integrada, que possibilite uma formação inicial de novo tipo; completar a educação geral para uma formação para o desenvolvimento e para o mundo de trabalho; promover a inovação e a investigação; reforçar a consciência e unidade nacionais; incentivar a solidariedade, a cooperação e a paz entre os povos.”15

O sistema educativo, implementado no inicio da década de 90, é organizado em subsistemas que intercomunicam, pela integração e complementaridade. Cabo Verde vê-se confrontado com necessidades de mudanças, adaptação e reconversão face aos rápidos acontecimentos que marcam o mundo actual nos diversos níveis. Nesse contexto a Educação constitui um dos sectores decisivos para o desenvolvimento dos pais.

Após a generalização do subsistema do ensino básico, em 1994/95, os principais desafios vão-se colocar a nível do subsistema do ensino secundário.

1.2. O Ensino Secundário em Cabo Verde

Nos meados da década de 90 registou-se uma forte expansão do ensino secundário, em consequência da massificação do ensino básico. Até o ano lectivo 1989/90, o ensino secundário era ministrado apenas nas Escolas secundárias do Sal (Escola Secundaria Olavo Moniz, até 3º ano do curso geral), Liceu Domingos Ramos e Liceu de Santa Catarina na Ilha

14A Declaração Mundial sobre a Educação para todos (Conferência de Jomtiem, Tailândia, 1990) preconiza que

“qualquer pessoa – uma criança, adolescente ou adulto deve poder beneficiar duma formação concebida para dar a resposta às necessidades educativas fundamentais” bem como o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e de comunicação pressionaram os Países a rever e mudar os seus sistemas educativos sob pena de não ficarem em consonância com a ordem socio-económica e cultural internacional. Na Conferência Mundial dos países membros da UNESCO, realizada em Dakar, no ano 2000, foi adoptada o Plano de Acção para a concretização dos objectivos de Educação para Todos.

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de S. Tiago, Escola secundária da Ribeira Grande (também até 3º ano de Curso Geral) na ilha de Santo Antão e Liceu Ludjero Lima e Escola Industrial e Comercial do Mindelo na ilha de S. Vicente16. Tratava-se portanto de um subsistema, pouco acessível às classes desfavorecidas

de outras ilhas e que não tinham condições financeiras para custear os estudos dos seus filhos. Com a construção a um bom ritmo de Escolas Secundárias noutros concelhos do País as populações viram as suas esperanças renovadas.

O quadro que se segue apresenta a evolução dos efectivos no ensino secundário e ilustra a explosão que aconteceu neste subsistema.

Quadro 1 Alunos Matriculados no Ensino Secundário por Ano Lectivo e por

Concelho-Ilhas Concelho

Ano Lectivo

1997/98 1998/99 1999/2000 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05

Boa Vista Boa Vista 241 342 424 471 460 445 421 461

Brava Brava 376 432 430 532 630 632 659 670 Fogo S. Filipe 1.707 2.207 2.222 2.240 2.274 677 2.358 2770 Mosteiros 458 599 619 703 661 2.493 652 712 Maio Maio 436 533 615 602 638 581 572 645 Sal Sal 1.192 1.248 1.222 1.375 1.474 1.492 1651 1678 Santiago Praia 9.746 11.312 12.521 13.900 14.573 14.411 14.493 14991 S. Domingos 735 893 1.086 1.401 1.634 1.709 1.726 1891 S. Catarina 3.552 3.965 4.488 4.993 5.729 5.701 5.964 6242 Santa Cruz 1.462 1.819 2.215 2.638 3.202 3.929 3.484 3628 Tarrafal 1.045 1.295 1.496 1.869 2.253 2.438 2.393 2576 S. Miguel 624 661 775 816 859 842 1.142 1683

Santo Antão R. Grande 1.668 1.916 2.038 2.262 2.190 2.592 2.503 2627 Porto Novo 908 1.012 1.153 1.379 1.568 1.701 1.541 1877 Paul 135 255 436 513 620 674 715 772 S. Nicolau S. Nicolau 522 713 725 931 1.084 1.043 1.354 1138 S. Vicente S. Vicente 6.795 7.995 7.501 8.123 8.206 8.162 7.971 8350 Total 31.602 37.197 39.966 44.748 48.055 49.522 49.790 52.671 Fonte: G.E.P/M.E.E.S

Com a reforma nota-se a massificação do acesso ao ensino secundário. Se outrora, muitos não acompanharam o sistema, devido aos obstáculos enfrentados no decorrer do ciclo preparatório17, após a reforma os alunos que saiam do ensino básico entravam em massa no

ensino secundário (68%), fazendo com que os estabelecimentos de ensino demonstrassem ser insuficientes.

16 Ministério da Educação e do Desporto, Gabinete de estudos e planeamento 89/92, pag 5

(17)

Observando o quadro acima constata-se que do ano 1997/98 a 2004/05 houve um aumento de 19.8962 efectivos, o que representa um aumento de 39%. A ilha de Santiago abarca mais de metade dos efectivos á nível nacional.

Os concelhos da Praia, S.Vicente e Santa Catarina são os concelhos que apresentam maior número de estudantes enquanto que os concelhos do Paul e da Boavista são os que possuem menos estudantes.

Nos concelhos da Praia e Santa Catarina o aumento foi mais acentuado, 5.245 efectivos naquele e 2690neste. Estes aumentos implicam a construção de mais Escolas secundárias e ou de salas de aulas superlotadas, a contratação de novos docentes, etc.

O aumento significativo dos efectivos de 31602, no ano lectivo 1997/1998, para 44.748, no ano lectivo 2001/2002 corresponde a uma taxa de crescimento de na ordem dos 40%. A construção de novos estabelecimentos e/ou ocupação de escolas do ensino básico tornou-se uma realidade. De 10 escolas existentes no ano 1994/1995, em 2000/2001, o ensino Secundário contava já com 27 escolas, um aumento significativo. De 2001 a 2005, o Ministério da Educação inaugurou, 3 estabelecimentos de ensino secundário, sendo 2 na Ilha de S. Tiago – Palmarejo, S. Miguel, e um no Madeiralzinho São Vicente18.

O Ensino Secundário, até o ano 2005, funcionou em 32 escolas secundárias e 9 anexos, totalizando 41 E. Secundárias oficiais, das quais quatro oferecem cursos do Ensino Técnico).

19

O Ensino Secundário privado tem apoiado o desenvolvimento desse subsistema educativo. Ele funciona em 23 escolas, das quais 14 se localizam na ilha de Santiago, 5 na ilha de São Vicente, 2 na Ilha do Fogo, 1 em Santo Antão e 1 na Ilha do Sal20.

De acordo com O Gabinete de Estudos e planeamento do Ministério de Educação, encontravam-se matriculados no ano 2004/05, nas escolas privadas do país 8.496 alunos, sendo 4944 do sexo feminino e 3552 do sexo masculino,

“ O ensino secundário técnico que funciona em quatro escolas poderá vir a proporcionar, num futuro próximo, uma alternativa credível a preparação para a vida activa. Por enquanto, essas escolas enquadram apenas 3% do total dos alunos do ensino secundário e a formação oferecida é bastante deficiente, quer devido a falta de professores especializados, quer devido a constrangimentos materiais que afectam a organização e o funcionamento das formações profissionalizantes”21

18 Dados fornecidos pela Direcção do património e equipamentos educativos do M.E.E.S. 19 Dados fornecidos pela Direcção do Património e Equipamentos Educativos do M.E.E.S 20 Dados fornecidos pela Direcção Geral Ensino Básico e Secundário em 2006.

(18)

“Apesar da grande expansão registada, o ensino secundário não dispõe, por enquanto de uma estrutura adequada de modo a responder as necessidades do desenvolvimento sócio económico e do mercado de trabalho. No essencial, os diversos ciclos do ensino secundário geral preparam apenas para o prosseguimento de estudos não fornecendo, aos jovens que abandonam o sistema, qualquer preparação específica para o ingresso no mundo do trabalho”22

Essas são considerações do estudo sobre a qualidade das escolas, tecidas no âmbito do PROMEF (Projecto de Modernização e Consolidação do Sistema Educativo) e com as quais concordámos., na medida em que ao longo do processo de ensino aprendizagem, por razões várias, e que não são pertinentes tratar neste trabalho, os estudantes que ficaram pelo “caminho” e que não frequentaram uma escola técnica e portanto não adquiriram uma profissão, pouco ou nenhuma possibilidade tinham de integrar no mercado de trabalho. È de salientar que a ambição do jovem Cabo-verdiano em estudar no estrangeiro e fazer um curso superior, a valorização dos cursos profissionais feitos no estrangeiro em detrimento dos feitos no pais, são algumas das causas que até então, tinham contribuído para que a aderência as escolas técnicas, fosse pouca expressiva.

Pelas razões acima expostas, o ensino técnico tem merecido de alguns anos para cá uma atenção especial. Criou-se em 2001, a Direcção do Ensino Técnico, esta conjuntamente com a cooperação internacional, tem incentivado os jovens a seguir a via técnica e profissionalizante através da criação de cursos técnicos de média e curta duração.

De acordo com a Direcção do Ensino Técnico, encontram-se matriculados nas escolas Técnicas de Cabo Verde (Escola Técnica de Porto Novo, Escola Industrial e Comercial de Mindelo, Escola Técnica Polivalente Cesaltina Ramos e Escola Técnica Grão Duque Henry) 1342 alunos, sendo 755 do sexo masculino e 587 do sexo feminino, distribuídos em 67 turmas frequentando 7 cursos diferentes (Construção Civil, Contabilidade e Administração, Informática de Gestão, Electricidade Electrónica, Serviços e Comércios, Artes Gráficas e Mecanotecnia).

1.3. Caracterização da profissão docente em Cabo Verde

“ O Ministério da Educação continua a ser o departamento governamental que engloba o maior número de funcionários e agentes da Administração Pública do País. Para além

(19)

disso, o M.E. caracteriza-se como sector de maior dinâmica e complexidade em termos de mobilidade dos afectivos, entrada, saída, transferencia, destacamento, requisição etc.

A esses factores acresce ainda o facto de na sua esmagadora maioria os efectivos do Ministério estar constituído pela classe docente (...)”23

Esta constatação da Direcção de Recursos Humanos, prova mais do que suficiente que a procura da docência continua sendo uma constante.

A abertura de novas escolas sobretudo do ensino secundário, a falta de professores qualificados para preencherem as vagas postas à disposição, a continua formação tanto no país como no exterior de estudantes e a não colocação destes quadros no mercado do trabalho, tem sido de entre outras causas desta procura incessante da profissão docente.

“Segundo as estatísticas da educação o número de professores teve um aumento brusco durante o período de1990 a 1999, passando de 2550 a 4863”24. Em relação ao Ensino

Secundário o crescimento também tem sido acelerado. Segundo o G.E.P., Gabinete de estudo e Planeamento do Ministério de Educação, a evolução desses docentes, tem decorrido, assim:

Quadro 2 Evolução de professores do ensino secundário

Ano 1994-95 1995-96 1996-97 1997-98 1998-99 2000-01 2001-02 2002-03 2003-04 2004-05 2005-06 NºProf. 607 802 1095 1372 1541 1886 1962 2091 2184 2241 2356 Fonte: G.E.P.-2006

Se tivermos em conta que neste período aconteceu a reforma do ensino em Cabo Verde e a implementação do objectivo “educação de base para todos” era esperado que houvesse no sistema uma demanda no sector da Educação nunca antes vista a história de Cabo Verde. Neste contexto de massificação, o recrutamento para a profissão docente tornasse pouco selectiva, e muitos exercessem a profissão sem a componente pedagógica podendo por em causa o próprio sucesso das profundas mudanças introduzidas no sistema educativo. De 1995 à 2001, entraram mais do que 1200 professores no sistema, quase o dobro do que existia em 1995.

Outro grande problema, não menos preocupante é o facto de muitas pessoas se interessarem pela docência por não terem alternativa de emprego ou como forma de obterem um emprego enquanto aguardam a deslocação para o exterior a fim de efectuarem os seus estudos.

23Direcção de Recursos Humanos, Relatório do Ministério da Educação, pag.1

24 FORTES, Filomena Maria Spencer Africano.Estudo da Motivação e do bem-estar dos docentes do Ensino Secundário nas ilhas de Cabo Verde.Dissertação de Mestrado, pag. 10

(20)

O professor, além de cidadão, é um agente especial da administração pública, ou seja, um profissional sujeito a um conjunto vasto de normas aplicáveis à generalidade dos funcionários Públicos. Para além da lei geral o professor rege-se pelo seu Estatuto25. Este

define os direitos e deveres profissionais dos professores, estabelecendo as regras e condições essenciais pelas quais se rege a respectiva carreira profissional desde o seu ingresso até a sua jubilação.

Em relação à qualificação profissional do corpo docente, podemos afirmar que de acordo com um estudo apresentado pelo PROMEF e constante do Plano Estratégico Do Ministério da Educação – (Fevereiro 2003, existiam no ano 2001, 1818 docentes no ensino secundário sendo 40%do sexo feminino e 60% do sexo masculino, 56,6% tinham habilitações suficientes para a docência (Curso superior sem licenciatura, Licenciatura e Mestrado), 15,9% tinham habilitações insuficientes (curso médio, ou frequência do curso superior) e 25% não era formado (CFPEBC;2ºano CC do ES, Ano Zero ou frequência de curso médio)

Capítulo II. Enquadramento Teórico e metodológico da

temática do Desenvolvimento Profissional dos docentes

em Cabo Verde

2.1.O Enquadramento Teórico do Desenvolvimento Profissional

“ O conceito de desenvolvimento profissional do professor tem conhecido em anos

recentes uma crescente popularidade, não só junto dos investigadores, como dos responsáveis por programas de formação de professores”.26

25 Estatuto do Pessoal Docente-Decreto legislativo nº 2-2004

26 MOREIRA, João M. , Desenvolvimento profissionais dos professores: acepções, concepções e implicações, Universidade de Lisboa, comunicação apresentada no III Seminário “ a componente de Psicologia na formação de professores e outros agentes Educativos, Évora, 26-28-09-1991

(21)

Concordamos com o professor João M. Moreira, uma vez que este tema tem constituído uma constante preocupação por parte da maioria dos docentes e dos responsáveis do Ministério da Educação de Cabo Verde. Além disso vem merecendo tratamento/questionamento, na comunicação social nacional, quer por parte do organismo governamental que sustenta a Educação, quer por parte das forças políticas e dos sindicatos que sustentam a classe.

Para Cristopher Day “O desenvolvimento profissional envolve todas as experiências espontâneas de aprendizagens e as actividades conscientemente planificadas, realizadas para o benefício directo ou indirecto, do indivíduo, do grupo, ou da escola e que contribuem, através destes, para a qualidade da educação na sala de aula. È o processo através do qual os professores enquanto agentes de mudança, revêem, renovam e ampliam, individual ou colectiva, seu compromisso com os propósitos morais do ensino, adquirem e desenvolvem, de forma critica, juntamente com as crianças, jovens e colegas, o conhecimento, as destrezas e a inteligência emocional, essenciais para uma reflexão, planificação e prática profissionais eficazes, em cada uma das fases das sua vidas profissionais.”27

Este autor concebe o desenvolvimento profissional como as competências que se adquire e que são necessárias ao aperfeiçoamento do indivíduo enquanto cidadão e como profissional que contribui para a qualidade da educação na sala de aula.

Idalberto Chiavenato, afirma que Desenvolvimento profissional “é a educação que visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar o homem para seu crescimento profissional em determinada carreira na empresa ou para que se torne mais eficiente e produtivo no seu cargo. Seus objectivos são menos amplos que os da formação e situados no médio prazo, visando proporcionar ao homem conhecimentos que transcendem o que é exigido no cargo actual, preparando-o para assumir funções mais complexas. ”28 Este autor assim como

Cristopher Day, coloca o acento tónico na componente formação, como um pilar de desenvolvimento profissional mas traz um elemento novo que é a relação entre o aperfeiçoamento e o crescimento profissional o desenvolvimento na carreira profissional. Relaciona ainda a formação que aperfeiçoa o homem com a produtividade (tornar o homem mais produtivo) Embora nem sempre o desenvolvimento na carreira por via da promoção/progressão acontece em virtude da competência/conhecimento, estes, sem dúvida, qualificam qualquer profissional para o exercício pleno da docência.

27Day, Cristopher,(1999). Desenvolvimento profissional de professores os desafios de aprendizagem permanente.Porto.Porto Editora.1999

(22)

Na sua obra “ formação de professores – para uma mudança educativa” Carlos Marcelo Garcia recolhe e apresenta definições do “Desenvolvimento profissional de professores” de diferentes autores que colocam ênfase sobre aspectos diferentes do desenvolvimento profissional29 que passamos a transcrever e a comentar.

Dillon, afirma que desenvolvimento profissional é “ Um processo concebido para o desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos num clima organizacional de respeito, positivo e de apoio, que tem como finalidade última melhorar a aprendizagem dos alunos e a auto-renovação contínua e responsável dos educadores e das escolas”.

Heidman, também é de opinião que “O desenvolvimento de professores está para além de uma etapa informativa; implica a adaptação ás mudanças com o propósito de modificar as actividades instrucionais, a mudança de atitudes dos professores e melhorar o rendimento dos alunos. O desenvolvimento de professores preocupa-se com as necessidades pessoais, profissionais e organizacionais”

A mesma opinião defende O`Sollivan ao afirmar que o desenvolvimento profissional é “ A Actividade de formação de professores, que responde a uma preocupação consciente institucional, e que procura melhorar a capacidade dos professores em papéis específicos, em particular em relação ao ensino.” Finalmente, Ryan concebe o desenvolvimento profissional como “ s actividades planificadas para ou pelos professores, concebidas para os ajudar a planificar mais eficazmente e para alcançar os objectivos educativos propostos.” Como se nota a ênfase está na formação. O professor é um profissional quando pela formação adquire conhecimentos/competências necessários ao seu desempenho e que permitem melhorar as aprendizagens dos alunos. Questionamos se em Cabo Verde, o desenvolvimento profissional dos docentes significa realmente formá-los, capacitá-los para que se adaptem às mudanças, respondam aos desafios da educação e acompanhem/impulsionem novos caminhos para novas aprendizagens e não só. Pode-se questionar em que medida, a formação contribui para o desenvolvimento profissional dos docentes do Ensino Secundário em Cabo Verde.

Carlos Marcelo Garcia apresenta também as ideias de outros autores cujas perspectivas diferem das acima referidas. Assim sendo Oldroyd e Hall, afirmam que o desenvolvimento profissional “Implica melhorar a capacidade de controlo sobre as suas próprias condições de trabalho, Um avanço no estatuto profissional e na carreira docente”

(23)

Como podemos constatar, estes autores associam este conceito ao de desenvolvimento na carreira. O docente desenvolve-se profissionalmente quando obtêm um avanço no estatuto profissional e na carreira docente

O certo é que o desenvolvimento profissional está relacionado tanto com formação como também com a carreira.

Para Hall citado por António Caetano et al, a carreira associa-se ao desenvolvimento profissional na medida em que “ o conceito de carreira encontra-se, em muitos casos associado, relacionado com a mobilidade vertical do indivíduo através da hierarquia organizacional. Desta forma, a carreira corresponde a uma sequência de promoções no contexto do trabalho, ao longo da actividade profissional do indivíduo, sem que se torne necessário a sua permanência numa só organização ou ocupação”.30 Este é um aspecto que

nos interessa sobremaneira neste trabalho de pesquisa por considerarmos está associado a diversos problemas que ocorrem na gestão dos recursos humanos e que tem impacto no subsistema do ensino secundário.

Segundo Schein também citado por António Caetano et al, o “progresso da carreira do indivíduo pode ser medido através de três dimensões, que correspondem aos possíveis movimentos dentro de uma organização.

Movimentos horizontais : crescimento em conhecimento e capacidades:

À medida que os indivíduos se movem na carreira, verificam-se alterações no conteúdo do seu trabalho e na forma como o realizam. Tal desenvolvimento pode ser o resultado do seu próprio esforço, de formação específica ou de oportunidades que surgem no seio da organização. Este tipo de movimento corresponde a uma rotação entre funções com alterações no trabalho realizado pelo indivíduo.

Este tipo de movimentos horizontais reflecte uma tendência generalizada por parte das organizações de fomentar a polivalência dos seus empregados, recompensando-os em muitos casos, de acordo com o número e complexidade das competências exigidas para realizarem eficazmente a sua função.

Movimentos verticais: até ao topo

As organizações, de uma forma geral, mantêm um tipo de hierarquia através da qual o indivíduo pode avaliar o seu progresso na carreira. Desta forma, o sucesso profissional é visto em função da obtenção do nível hierárquico a que o indivíduo aspira.

Movimentos internos: obtenção de influência e poder

30 CAETANO. António et al. Gestão de Recursos Humanos-Contextos, processos e Técnicas.Lisboa.Editora RH,lda.2002. Pag.434

(24)

Um critério importante para avaliar o sucesso da carreira do indivíduo diz respeito ao poder informal que detém no interior da organização, ou seja, à sua pertença ao núcleo de influência e de poder de organização. Esta pertença encontra-se muitas vezes associada com movimentos verticais, apesar de poder ser alcançada independentemente.”31

Os docentes do ensino secundário, obtêm através da formação, a capacitação profissional, promoção na vertical, maior poder de decisão e de influência dentro do sistema. Aqueles ingressam nos Institutos Superiores tanto para se crescerem em conhecimento e capacidades como para se desenvolverem na carreira.

2.2. A Metodologia adoptada

Como vimos, o sistema educativo Cabo-verdiano tem sido alvo, desde da independência Nacional, de profundas transformações no sentido de se poder oferecer aos discentes um ensino de qualidade e que este contribua para o desenvolvimento auto sustentado do país. No entanto, isto não acontece a mero acaso. Não se pode falar dum ensino de qualidade, sem falar de docentes qualificados e sobretudo motivados.

Com a reforma do ensino (1990) abriram-se novos horizontes para os docentes Cabo-verdianos. Criou-se um estatuto próprio para a classe e a formação contínua e em exercício desses docentes foram repensados e implementados em moldes diferentes.

a) Questões de partida

 Com a implementação da reforma, que factores influenciaram o desenvolvimento profissional dos docentes?

 Como é que evoluiu o processo de desenvolvimento na carreira de docentes?  Que medidas foram adoptadas para favorecer o desenvolvimento profissional

dos docentes? Como se pode avaliar a aplicação dessas medidas?

b) Objectivo geral .

 Demonstrar com este estudo, a real situação do desenvolvimento profissional dos docentes do ensino secundário durante a reforma educativa e após a mesma ( até 2005) no quadro de promoção da qualidade educativa.

31 CAETANO. António et al. Gestão de Recursos Humanos-Contextos, processos e Técnicas.Lisboa.Editora RH,lda.2002

(25)

c) Objectivos específicos .

 Identificar os aspectos/factores de bloqueio da carreira dos docentes que têm influência no desenvolvimento profissional dos docentes.

 Caracterizar a evolução das progressões e promoções dos docentes do ensino secundário com ênfase na ilha de Santiago, antes e depois da lei medida.

 Criar uma base de conhecimento que contribua para a adopção de medidas para a eliminação dos constrangimentos e eventuais disfuncionamentos dos processos de desenvolvimento profissional da classe docente.

d) Procedimentos de recolha e tratamento de dados

Atendendo que o desenvolvimento na carreira dos docentes Cabo-verdianos em geral, e do ensino secundário em particular tem constituído um dos aspectos mais problemáticos do desenvolvimento profissional dos docentes do ensino secundário, pensamos ser pertinente o tratamento do tema.

Para que pudéssemos encontrar as respostas para as perguntas formuladas e ver cumprido os objectivos preconizados, utilizamos a seguinte metodologia:

 Recolhemos e analisamos os dados estatísticos disponíveis no Gabinete de Estudos e Planificação do Ministério de Educação relativos ao número total de docentes, de discentes, de formandos do Instituto Superior de Educação desde 1992, do número de escolas secundárias públicas e privadas existentes em todo o país.

 Da Direcção de Recursos Humanos do M.E.E.S., recolhemos e organizamos dados relativos ao número de professores do ensino secundário de quadro das diversas categorias existentes e ainda analisamos os dados constantes do Relatório de actividades da Direcção de Recursos Humanos de 2005 relativos ao n.º de progressões/ reclassificaçoes havidas bem como as previsões para 2006.

 Para obtenção de dados relativos às progressões e promoções havidas desde 1991, procedemos a uma pesquisa minuciosa em fontes documentais (Boletins Oficias da República de Cabo Verde) de 1991 à 2005 construindo assim uma “visão histórica” com dados sistematizados sobre a evolução na carreira docente (quadros inseridos no trabalho).

(26)

Análise de conteúdos

Procedemos a análise qualitativa do discurso legal (legislação) e político (Programas de Governos, Planos Nacionais de Desenvolvimento, Planos Estratégicos de Educação) concernente ao desenvolvimento na carreira docente. Desta análise fizemos um levantamento das ideias-chaves, a categorização das mesmas no sentido de identificar a visão da legislação e do discurso político concernente ao pessoal docente. Seguidamente comparamos os discursos à realidade (os dados recolhidos e sistematizados relativamente a evolução na carreira e a formação enquanto dimensões essenciais do desenvolvimento profissional dos docentes) para certificar se têm sido aplicados na íntegra.

 Fizemos um primeiro estudo do caso em que analisamos detalhadamente o Decreto lei nº17/2005 de 28 de Fevereiro ( a lei medida). Este foi um Decreto recentemente aprovado e aplicado que visou essencialmente ultrapassar disfuncionamentos no processo de desenvolvimento profissional dos docentes (carreira). Neste estudo utilizamos o método de entrevista. Foi-nos possível duas entrevistas, gentilmente cedidas pela sua Excia o Secretário de Estado de Educação e pelo Senhor Director de Recursos Humanos do M.E.E.S., que revelarem úteis sobretudo no momento em que quisemos comparar perspectivas, nomeadamente entre pessoas visadas, as entidades oficiais do M.E.E.S e os dados que conseguimos apurar dos Boletins Oficiais. Ainda relativamente a este estudo fizemos análise de conteúdo as principais exposições/reclamações de docentes que deram entrada no M. Educação após a aplicação da Lei medida, com objectivo de colher informações relativos ao sentimento dos docentes.

 Fizemos um segundo estudo de caso em que debruçamos sobre o desenvolvimento profissional dos docentes do ensino secundário da ilha de Santiago, comparando-o com o total nacional. Identificamos as progressões havidas desde 1991 nas diferentes escolas e por categorias, as promoções havidas com base na lei medida identificando assim as diferenças havidas entre as escolas do meio rural e as do meio urbano.

(27)

Foram inúmeras as dificuldades encontradas na realização deste trabalho, uma vez que a partida pensávamos encontrar os dados que necessitávamos para a elaboração deste trabalho já organizados nos serviços Centrais do M.E.E.S.

Tivemos muitas dificuldades na recolha de dados nos Boletins Oficiais referentes a esses actos administrativos (progressões e promoções) uma vez que aqueles são de consulta interna nas Bibliotecas não oferecendo tempo suficiente para que esta pesquisa minuciosa fosse feita com normalidade. Não obstante estas dificuldades o trabalho foi feito com a maior fidelidade possível.

Outra dificuldade encontrada prende-se com a carência de bibliografia nacional relativos à temática em questão.

Tendo em vista o objectivo do nosso trabalho era nossa intenção fazer entrevistas e inquéritos junto dos professores com vista a se pronunciarem sobre o seu desenvolvimento na carreira e os possíveis obstáculos encontrados, no entanto devido ao factor tempo e por estes se encontrarem, na altura, na época de avaliação foi-nos impossível.

Capitulo IV. O Discurso Político Concernente ao

Desenvolvimento Profissional dos Docentes

Cabo-verdiano

(28)

Em Cabo Verde, desde da independência nacional até a presente data, os sucessivos governos, através dos seus Programas, dos Planos Nacionais de Desenvolvimento e dos seus Planos Estratégicos, têm apresentado as suas políticas e acções destinadas ao desenvolvimento adequação e a modernização do sistema educativo.

Neste capítulo abordaremos essencialmente os discursos dos autores políticos, relativamente à educação, ao desenvolvimento profissional dos docentes em geral e dos docentes do ensino secundário, em particular.

4.1. O Desenvolvimento Profissional dos docente nos programas

de Governo.

O quadro a seguir apresenta, os principais desafios, objectivos e medidas preconizadas nos programas dos Governos de 1996/2000 e 2001/05 (períodos marcantes na reforma do ensino secundário). Ele foi elaborado a partir de leitura e análise de conteúdo dos programas de Governo para recolher ideias-chaves que permitiam responder à questão: qual é a visão que estes documentos transmitem em termos de desenvolvimento profissional dos docentes? As ideias-chave foram agrupadas nas seguintes categorias: desafios, objectivos e medidas.

O objectivo é de ter uma base de dados de comparação entre os discursos políticos (o dito e o não dito) e a realidade da prática administrativa, no concernente ao desenvolvimento profissional dos docentes (carreira e formação).

(29)

1996/2000

2001/2005

Desafios

para a

Educação

-Responder à grande motivação e aspiração actual da sociedade Cabo-verdiana.

- Contribuir para o desenvolvimento auto-sustentado de Cabo Verde.

- Potenciar a relação escola/trabalho de modo a impulsionar a competitividade e a modernidade da economia Cabo- verdiana

- Procurar de maior equilíbrio entre as expectativas sociais, as ambições técnicas e os objectivos educacionais.

-Fazer face aos constrangimentos orçamentais decorrentes da situação económica do Pais.

Objectivos Gerais da política educativa

-Avaliar e desenvolver a reforma educativa.

- Dotar o sistema educativo de uma melhor orgânica institucional.

- Envolver a família e a comunidade no sector educativo.

- Promover o Ensino Privado. - Incentivar o envolvimento do sector Privado na Educação.

-Conferir qualidade aos Recursos Humanos, prepara-los para se adaptarem aos rápidos avanços tecnológicos e a sociedade da informação.

- Valorização Científica e profissional da

carreira docente. Objectivos

Específicos para Ensino Secundário

- Reestruturar o ensino técnico.

-Criar cursos de formação em exercício

e contínua de professores para o E.Técnico

- Desenvolver e oficializar o ensino Secundário Municipal e Privado

- Promover o ensino Técnico.

- Melhorar a articulação entre o Ensino secundário Geral e técnico e a formação profissional.

- Repensar o ensino técnico em função dos custos, da adequação/formação e da sustentabilidade financeira

Medidas de política

- Privilegiar os projectos e programas do sector de Educação que respondem as reais necessidades do desenvolvimento do País.

- Desenvolver programas da melhoria da qualidade e da equidade na educação.

-Renovação das instituições e dos sistemas de

formação, de acompanhamento e da avaliação da formação dos docentes.

Como afirmou o Governo, no seu programa para a legislatura de 2001-2005, “A modernização do sistema educativo constitui, hoje, um marco de amplos consensos e de uma percepção clara sobre o carácter estratégico do sector da educação para o desenvolvimento do país e para o reforço da cidadania e da integração sócio- cultural.

As mudanças a serem introduzidas no sistema deverão ter em conta a situação macro-económica do país e as perspectivas do seu crescimento e, naturalmente, a procura de ganhos sócio económicos a nível interno e a nível internacional, onde a competitividade e a qualidade dos recursos humanos, em termos do saber-fazer tecnológico, constituem os

(30)

critérios de base de sucesso na chamada nova economia. Por outro lado, a adversidade climática e a inexistência de riquezas naturais confirmam a actualidade do pressuposto por todos assumidos que o principal recurso é o homem. Importa pois, conferir qualidade aos recursos humanos, prepará-los para se adaptarem aos rápidos avanços tecnológico e à sociedade da informação.” (3.1.Educação subcapitulo do programa).

Também concordamos que o desenvolvimento sócio económico de Cabo Verde deverá passar necessariamente pela Educação e que esta Educação, que se quer, só será possível com um forte investimento nos recursos humanos, mas acreditámos que estas medidas são insuficientes.

De entre outras propostas, o programa de 1996/2000, propôs-se “Criar cursos de formação em exercício e contínua de professores para o E. Técnico enquanto que o de 2001/2005, a “Valorização científica e profissional da carreira docente, renovação das instituições e dos sistemas de formação, de acompanhamento e da avaliação da formação dos docentes.

Decorridos anos em que se deviam implementar as propostas preconizadas, perguntamos se houve a dita valorização científica e profissional da carreira docente. Os Docentes do ensino secundário que, por conta própria, procuram obter melhor qualificação no país ou no estrangeiro, através de formação, sentem-se pouco valorizados uma vez que ficam anos aguardando a sua reclassificação.

Há questões da carreira docente que devem ser desenvolvidas em simultâneo com formação, como é a previsão das progressões e das promoções.

Analisando as linhas de orientações políticas em ambos os programas, constata-se que a ênfase está na formação dos docentes.

Os dispositivos legais relativos ao pessoal docente, aprovados e publicados não são mencionados nos programas de governo para a Educação.

4.2. Os planos Nacionais de Desenvolvimento e o desenvolvimento

profissional do Docente

Depois da análise dos discursos políticos, neste sub-capítulo pretendemos saber como as políticas são operacionalizadas.

Para observação e análise apresentamos as ideias essenciais sobre os objectivos gerais e específicos, metas e medidas constantes nos planos nacionais de desenvolvimento

(31)

de1997/2000 e 2002/2005. Este quadro foi possível através da leitura e análise de conteúdos dos referidos planos apresentados nas categorias discriminadas.

A partir dessas ideias-chaves pretendemos comparar os discursos políticos e a realidade administrativa.

quadro 4 Principais informações dos Planos Nacionais de Desenvolvimento de 1997/2000 e 2002/2005

1997/2000 2002/2005

Objectivos Gerais - Melhorar a qualidade do ensino e o

rendimento escolar.

- Avaliar e desenvolver a reforma do sistema Educativo.

- Adoptar o Sector de uma melhor orgânica institucional.

- Envolver a família e a comunidade no desenvolvimento do Sistema Educativo.

- Promover um desenvolvimento integrado do sistema de ensino/formação -Facilitar o acesso a educação/formação. - Reforçar a competitividade do capital humano, melhorando e diversificando a oferta da educação/formação,

direccionada a juventude e com ênfase nas áreas prioritárias de

desenvolvimento.

Objectivos específicos do E. Secundário

- Aumentar a qualidade e abrangência do Ensino Secundário.

- Promover o desenvolvimento do Ensino Secundário Privado.

- Adequar o ensino secundário as novas exigências do mercado de trabalho.

- Elevar a qualidade e a equidade do ensino secundário.

- Promover o ensino secundário privado - Melhorar a gestão dos

estabelecimentos do ensino publico. - Aumentar a comparticipação da família nos custos da educação.

Metas - Desenvolvimento e generalização

progressiva de um ensino técnico de elevada qualidade.

- Qualificação de 130 professores, dos

mestres de oficina e coordenadores de disciplina.

- Atingir a situação de estabilidade dos professores nas escolas,

- Formação inicial de 300 professores

e em exercício de cerca de 300 nas áreas de ciências exactas.

- Formação inicial de 80 professores

para o ensino secundário técnico.

- Criação de um estatuto do ensino secundário privado

- reforço de mecanismo de inspecção e fiscalização.

Medidas - Reforço da formação inicial e

implementação de um sistema de formação em exercício e contínua dos docentes.

- Reforço da formação inicial e em exercício dos professores tendo em vista a qualificação e valorização do pessoal docente.

Assim como afirmam no Plano Nacional de Desenvolvimento 2002-2005, a elaboração destes “(... )tem incorporado a ideia central de que o desenvolvimento da educação constitui a premissa fundamental para o sucesso de qualquer política de desenvolvimento”

.

Há uma real consonância entre os Programas do Governo e os Planos nacionais do Desenvolvimento. Ambos vêem a formação como prioritária para o desenvolvimento autosustentado do país. A formação inicial e em exercício de docentes continuam sendo medidas prioritárias. As metas traçadas em relação à formação de professores e a criação do estatuto do ensino secundário privado não foram alcançadas.

(32)

O défice de formação é considerado um obstáculo ao desenvolvimento do nosso sistema educativo e consequentemente do desenvolvimento de Cabo Verde.

Há ausências ou silêncios importantes para o docente, como a carreira docente, enquadramentos, planos de formação, regulamentos da formação contínua e em exercícios etc.

4.3. O Plano Estratégico do Ministério da Educação e o

desenvolvimento da Carreira docente.

O quadro que apresentamos de seguida ilustra as principais linhas de orientações estratégicas, os objectivos, as medidas políticas preconizadas no plano estratégico do Ministério de educação-(2003-13), para o Ensino Secundário.

quadro 5 Plano estratégico da educação- Fevereiro 2003

Objectivos Gerais - Adequar o sistema educativo as necessidades de desenvolvimento.

- Revisar a lei de base sistema educativo.

Linhas das orientações estratégicas

- Consolidação e o desenvolvimento dos diferentes níveis educativos

(regulamentação e implementação dos estatutos e das careiras docentes profissionais de todos os quadros do ministério da educação, reorganização e dinamização da formação inicial e continua de professores).

- Melhoria da qualidade educativa.

- Modernização do sistema educativo (definir incentivos e regras para a progressão nas careiras profissionais em função do mérito, da formação adquirida e das zonas de colocação.

- Transformação da educação como factor de progresso social e de combate contra pobreza.

Medidas Políticas(ensino secundário)

- Promoção e reestruturação do ensino técnico e a sua integração com formação profissional.

- Reforço dos programas de formação e capacitação de professores, gestores e

monitores.

- Reforço institucional dos serviços centrais responsáveis pelo ensino secundário.

O Plano Estratégico da Educação concebe o desenvolvimento da Educação em Cabo Verde de uma forma mais abrangente. Para além da formação constatou-se que a “regulamentação e implementação dos estatutos e das carreiras docentes profissionais de todos os quadros do Ministério da Educação e a definição de incentivos e regras para a progressão nas carreiras profissionais em função do mérito, da formação adquirida e das zonas de colocação devem ser outros requisitos a serem levados em conta.

Este Plano, talvez por ser mais recente, tenta preencher algumas lacunas trazidas pelos outros dois documentos anteriormente analisados. Faz referencia a regulamentação e implementação dos estatutos e carreiras docentes e a definição de incentivos e regras para a progressão na carreira.

(33)

Em síntese, as informações recolhidas apontam para os factores dos discursos apresentarem o desenvolvimento profissional dos docentes essencialmente na vertente formação,isto é como afirmou Ryan no seu conceito de desenvolvimento profissional “Aquelas actividades planificadas para ou pelos professores, concebidas para os ajudar a planificar mais eficazmente e para alcançar os objectivos educativos propostos”

A outra vertente do desenvolvimento profissional, evolução na carreira é passada sob silêncio ou colocado num plano marginal .Existe pois ,um desequilíbrio entre essas duas vertentes que influencia não raras vezes, pela negativa, a motivação e o bem-estar dos docentes.

Será que as progressões e promoções na carreira têm sido feitas em função do mérito e da formação? Esta é a principal questão que vamos procurar responder no capítulo que se segue.

Capítulo 4. A Legislação Concernente ao Desenvolvimento

Profissional dos Docentes Cabo-verdianos

Ao longo dos últimos anos, o governo tem tentado através de sucessivos decretos atender as reivindicações dos docentes, que quer individualmente, quer através dos sindicatos que representam a classe, tem tentado fazer valer os seus direitos.

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