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PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL

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Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À

INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE

BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientadores: Prof. Antonio José Junqueira Botelho Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol

Volume Único

Rio de Janeiro Março de 2007

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Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

PERCEPÇÕES DA PASSAGEM DA INVENÇÃO À

INOVAÇÃO DE EMPREENDEDORES TECNOLÓGICOS DE

BASE UNIVERSITÁRIA NO SETOR DE BENS DE CAPITAL

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Antonio José Junqueira Botelho

Orientador

Prof. Paulo Roberto Tavares Dalcol

Orientador

Prof. Alzira Ramalho Pinheiro de Assumpção

UERJ

Prof. Mariza Costa Almeida

UERJ

Prof. José Eugenio Leal

Coordenador Setorial do Centro Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 23 de Março de 2007

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e dos orientadores.

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

Graduou-se em Engenharia de Produção com ênfase em Mecânica na Faculdade de Tecnologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) em Resende, estado do Rio de Janeiro.

Ficha Catalográfica

CDD: 658.5 Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa

Percepções da passagem da invenção à inovação de empreendedores tecnológicos de base universitária no setor de bens de capital / Arnaldo Pinheiro Costa Gaio ; orientador: Paulo Roberto Tavares Dalcol ; co-orientador: Antônio José Junqueira Botelho. – 2007.

96 f. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Engenharia Industrial)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Inclui bibliografia

1. Engenharia industrial – Teses. 2. Empreendedor. 3. Inovação local. 4. Bens de capital. I. Dalcol, Paulo Roberto Tavares. II. Botelho, Antônio José Junqueira. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Industrial. IV. Título.

(5)

Dedico à memória de meu pai, à minha mãe, aos meus irmãos e, especialmente, à minha esposa, por compreender o caminho por mim escolhido.

(6)

Agradecimentos

À professora Alzira Ramalho Pinheiro de Assumpção pelo apoio, incentivo e ensinamentos que me fizeram trilhar o caminho do ensino e da pesquisa.

Aos meus orientadores, Professores Antonio José Junqueira Botelho e Paulo Roberto Tavares Dalcol, pelo estímulo e parceria para a realização deste trabalho. Aos empreendedores entrevistados, André Souza e Luis Guedes; ambos foram generosos e fundamentais para esta pesquisa.

À professora Maria Angela Campelo de Melo, pela recepção e apoio no início desta jornada.

Ao professor Eugênio Kahn Epprechet, pelo trabalho desenvolvido em conjunto e todo o aprendizado gerado.

Aos amigos que fiz na PUC-Rio.

A minha mãe, um exemplo de vida para todos que, realmente, a conhecem. A minha esposa, a quem já dedico este trabalho e minha vida.

Aos meus irmãos, que carrego comigo em meus pensamentos e em meu coração. A todos os professores e funcionários da PUC-Rio, pelos ensinamentos e pela ajuda.

A todos os amigos e familiares que de uma forma ou de outra me estimularam ou me ajudaram.

Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado.

(7)

Resumo

Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa; Dalcol, Paulo Roberto Tavares; Botelho, Antonio José Junqueira. Percepções da Passagem da Invenção à Inovação de

Empreendedores Tecnológicos de Base Universitária no Setor de Bens de Capital. Rio de Janeiro, 2007. 96p. Dissertação de Mestrado - Departamento

Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Esta dissertação trata da passagem da invenção à inovação por meio de um estudo exploratório das percepções de empreendedores tecnológicos de empresas start-up de origem universitária. Tendo em vista as diferenças existentes entre os setores da economia e por ser o setor de bens de capital uma prioridade da política industrial brasileira e um setor difusor de tecnologia, foram abordados empreendedores apenas de empresas start-up desse setor. Os objetivos deste estudo são: coletar e analisar as percepções do empreendedor em relação à passagem da invenção à inovação e analisar o processo decisório de avaliação da oportunidade pelo empreendedor. Através dos relatos dos empreendedores discutem-se os fatores que levam o empreendedor a perseguir a oportunidade identificada, que questões se destacam na passagem da invenção à inovação e, por fim, o aprendizado do empreendedor. Essa análise cruzada permitiu, entre outros pontos, observar o papel dos role models no empreendedorismo tecnológico, a importância das incubadoras, o papel do governo federal em relação ao

gap financeiro, o caráter local da inovação e a extensão da transição

entre a invenção e a inovação.

Palavras-chave

Empreendedor, inovação local, bens de capital.

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Abstract

Gaio, Arnaldo Pinheiro Costa; Dalcol, Paulo Roberto Tavares (Advisor); Botelho, Antonio José Junqueira (Advisor). Perceptions of the Transition from

Invention to Innovation of University-based Entrepreneurs in the Capital Goods Sector. January, 2007. 96p. MSc. Dissertation - Departamento Engenharia

Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This work deals with the transition from invention to innovation through an exploratory study of university-based technological start-up entrepreneurs' perceptions. In light of the differences among economic sectors, and of the fact that the capital goods sector is an industrial policy priority for Brazil and plays a role in technology diffusion, the start up entrepreneurs covered in this study belong to this sector. This dissertation has two objectives: collect and analyze entrepreneurs' perceptions on the passage from invention to innovation and on the opportunity assessment decision-making process that makes the entrepreneur to launch a start-up. Making use of interviews with entrepreneurs, this work discusses the factors that make the entrepreneur pursue an opportunity, what issues he considers most relevant in the passage from invention to innovation and, finally, the entrepreneurs' learning curve. This composite analysis, allowed to identify the importance of role models for technological entrepreneurship, the importance of business incubators, the role of federal government in dealing with the financial gap, and the localized nature of innovation and the long time it takes to cross from invention to innovation.

Keywords

Entrepreneur, local innovation, capital goods.

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Lista de Siglas

ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica

CENPES - Centro de Pesquisas da Petrobras

CNAE/IBGE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Coppe-Ufrj - Coordenação dos Programas de Pós-graduação de

Engenharia - Universidade Federal do Rio de Janeiro ENPI - Escritório de Negócios em Propriedade Intelectual

FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

Inmetro - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

INT- Instituto Nacional de Tecnologia MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDICE - Ministério de Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior

OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development PEBT – Pequenas Empresas de Base Tecnológica

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PITCE - Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior PNI – Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

ReINC – Rede de Incubadoras, Pólos e Parques Tecnológicos do Rio de Janeiro

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF – Universidade Federal Fluminense

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

II PND - Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento

(10)

Sumário

1.0 Introdução 13

1.1 Caracterização do Problema 14

1.2 Relevância do Estudo 15

1.3 Delimitação do Problema e Objetivos do Estudo 16

1.4 Metodologia 18

1.4.1 Protocolo de Pesquisa 19

1.4.2 Critérios para Elaboração do Roteiro de Entrevista com o

Empreendedor 20

1.4.3 Empreendedores Selecionados 22

1.5 Estrutura da Dissertação 23

2.0 O Setor de Bens de Capital e o Segmento de PEBT 25

2.1 O Setor de Bens de Capital 25

2.2 A Capacidade Inovativa do Setor 30

2.3 PEBT de Origem Universitária do Setor de Bens de Capital 35

3.0 A Inovação e o Empreendedorismo Tecnológico 39

3.1 Os Tipos de Inovação 40

3.2 Natureza do Conhecimento 41

3.3 A Apropriabilidade da Inovação 42

3.4 Importância dos Ativos Complementares 43

3.5 O Referencial de Branscomb & Auerswald para a Passagem da

Invenção à Inovação 44

3.6 Empreender ou não empreender: a reflexão proposta por Bhide 46

3.6.1 O Primeiro Degrau de Bhide 47

(11)

3.6.2 O Segundo Degrau de Bhide 48

3.6.3 O Terceiro Degrau de Bhide 49

3.7 O Empreendedorismo Tecnológico 50

3.8 Questões para Avaliar o Empreendimento 53

4.0 Apresentação dos Resultados das Entrevistas 56

4.1 Gávea Sensors: sensores a fibra ótica 56

4.1.1Apresentação da Empresa 56

4.1.2 Apresentação das Evidências 57

4.2 Ativa: tecnologia e desenvolvimento 63

4.2.1Apresentação da Empresa 63

4.2.2 Apresentação das Evidências 64

5.0 Discussão dos Resultados 70

5.1 A Decisão de Empreender ou não. 70

5.2 A Passagem da Invenção à Inovação 74

5.3 O Aprendizado na Travessia do Vale da Morte 75

6.0. Conclusões 78

Bibliografia 85

Referências Bibliográficas 85

Bibliografia de Consulta 87

Sites Consultados ou Referências Eletrônicas 88

Apêndice 90

Apêndice 01 – Roteiro das Entrevistas Aplicadas 90 Apêndice 02 – Carta Convite ao Empreendedor 94 Apêndice 03 – Carta de Agradecimento ao Empreendedor 95

(12)

Anexos 96 Classificação Nacional das Atividades Econômicas CNAE/IBGE 96

(13)

Lista de Figuras

Figura 01 - Estrutura Metodológica Empregada 18

Figura 02 - Esquema Protocolo de Pesquisa 19

Figura 03 - Produtividade da Indústria de Bens de Capital 28

Figura 04 - Resultado Geral Inc. 500 30

Figura 05 - Resultados Inc. 500 – Bens de Capital 31

Figura 06 - Taxas de Inovação PINTEC 1998-2000 32

Figura 07 - Taxas de Inovação PINTEC 2001-2003 33

Figura 08 - Participação percentual do número de empresas

que implementaram inovações 34

Figura 09 - Regime de Apropriabilidade de Ativos de

conhecimento 43

(14)

1.0.

Introdução

A passagem da invenção à inovação é o tema central desta pesquisa. O processo de inovação tecnológica, que consiste, de forma sintética, em transformar uma invenção em um produto ou serviço entregue ao mercado, movimenta a nova economia. Muitos estudos sobre aspectos econômicos e sociais desse fenômeno têm sido desenvolvidos.

O Brasil, como país inserido no sistema global de comércio, passou a reconhecer, nos últimos anos, esse fenômeno como gerador de crescimento econômico, alinhando-se frente aos resultados de estudos desenvolvidos pela

Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) e de outras

instituições ou pesquisadores. A inovação tecnológica foi fortemente incorporada na retórica governamental nos mais variados níveis. Essa orientação pode ser observada, no Brasil, através de publicações de órgãos como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério de Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior MDICE. O papel central da inovação para o desenvolvimento econômico pode ser observado na Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que coloca a inovação como “elemento-chave para o desenvolvimento da competitividade industrial e nacional” (MDICE, 2004:04).

Dentro desse processo de reconhecimento da importância da inovação pela PITCE, o setor de bens de capital é tido como estratégico para o desenvolvimento econômico do país. Entretanto, diferentemente do que aconteceu no Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), existem outros setores considerados também estratégicos, como os de semicondutores, de software e de fármacos e medicamentos. Um estudo sobre a competitividade brasileira no setor de bens de capital, desenvolvido pelo BNDES, justifica sua relevância da seguinte forma: “Por ser um dos setores-chave na determinação da produtividade média da economia e do perfil competitivo de praticamente todos os setores da atividade produtiva, a indústria de bens de capital é de grande importância para o processo de desenvolvimento econômico” (CAFÉ, Sônia L.; NASSIF, André; SOUZA, Priscila Z.; SANTOS, Bruno G. dos, 2004:224). Em outro estudo desenvolvido no

(15)

BNDES, Alem & Pessoa (2005) atribuem ao setor o papel de difusor do progresso tecnológico, posição ratificada pelo MDICE (2004), que ressalta também seu papel no acúmulo de capital.

1.1.

Caracterização do Problema

Dentro do tema de inovação e empreendedorismo tecnológico existem várias abordagens possíveis e muitos recortes. O recorte aqui escolhido pretende, fundamentalmente, abordar a passagem da invenção à inovação. O foco do estudo está na percepção do empreendedor sobre essa passagem considerando-se também a avaliação feita pelo mesmo em relação às suas chances de sucesso antes de empreender.

Dentro deste recorte, o universo estudado restringe-se ao de empresas

start-up do setor de bens de capital de origem universitária. O recorte empregado

nesta pesquisa é ainda mais específico, pois os empreendedores são todos da cidade do Rio de Janeiro, todos de empresas start-up de origem universitária, e todos de empresas que foram incubadas. Para elucidar mais profundamente o objeto de investigação desta pesquisa segue um exemplo metafórico.

Pense em um rali. O que pode ter um rali, como o Paris-Dakar, por exemplo, em comum com a passagem da invenção à inovação, e mais ainda, com a pesquisa a ser desenvolvida? Deve-se indagar: o que faz com que pessoas de várias partes do mundo participem de um rali como este - além de sua motivação intrínseca1? O prêmio reservado ao vencedor, principalmente, seria uma resposta possível. Todos sabem as regras e os perigos que podem enfrentar ao aventurar-se em um rali como este. Existem muitas formas de falhar, mas algo faz com que equipes de várias partes do mundo, lideradas por um indivíduo (o empreendedor), avaliem ser possível chegar a esse prêmio. O resultado positivo dessa avaliação as faz participar da competição. Mas, como se sabe, muitos falham; existem múltiplas formas de falhar, e as equipes, do mesmo país ou de países diferentes, percebem esse risco de forma distinta. Cada equipe traçará uma estratégia para chegar ao prêmio, cada uma desenvolverá soluções para cada questão importante e, constantemente, reavaliará suas decisões. A percepção das equipes também

1 Essa discussão pode ser aprofundada em Amabile (1997).

(16)

15

muda com o decorrer da prova, o que pode levar muitas delas a desistirem no meio do caminho.

Descrever como essas mudanças ocorrem, como as questões são solucionadas é importante para que outros competidores aumentem sua chance de sucesso. Essa descrição serve, também, como fonte para que os grupos de onde provêm se aperfeiçoem (dado que enfrentam um mesmo ambiente), mudem sua forma de se organizar, dentre outras ações. Em nenhum momento, foi abordado o porquê de um grupo ou indivíduo escolher o rali, dentre tantas opções disponíveis de aventura e competição. O que interessa aqui é saber como, decidido pelo rali, o competidor (empreendedor) chegou à conclusão de que poderia ganhar, de que modo avaliou sua capacidade de explorar essa oportunidade e como a moldou, além de identificar quais as maiores questões enfrentadas e como a equipe deu conta delas.

A partir do acima exposto, esta pesquisa, esta visa a estudar o processo de inovação tecnológica sob a perspectiva da transição da invenção à inovação, assinalada por Branscomb & Auerswald (2001). Essa transição é descrita pela alegoria do Vale da Morte e suas fendas, que serão apresentadas mais adiante. É preciso lembrar, porém, que antes do empreendedor decidir atravessar o Vale da Morte, ele deve avaliar algumas questões e assim perseguir, ou não, a oportunidade identificada. Nesta pesquisa, essa avaliação será balizada pelos trabalhos de Bhide (1999), principalmente, e pelo de Bygrave (1997).

1.2.

Relevância do Estudo

A relevância do estudo pode ser apresentada em três pontos. O primeiro ponto trata da importância de se estudar o processo de passagem da invenção à inovação. O segundo ponto trata da importância prática deste estudo. O terceiro ponto trata da relevância de se estudar a passagem da invenção à inovação no setor de bens de capital.

O referencial adotado para estudar a transposição do Vale da Morte, assinalada por Branscomb & Auerswald (2001), propõe que existem fendas a serem enfrentadas pelo empreendedor. Esse referencial foi desenvolvido pelos pesquisadores, tendo como base os casos de empresas start-up americanas e a percepção destas sobre as dificuldades encontradas no processo. Dadas as

(17)

diferenças entre os países e seus sistemas de inovação, justifica-se a investigação das fendas que se apresentam aos empreendedores brasileiros, cotejando-as e descrevendo-as em suas possíveis peculariedades. A passagem da invenção à inovação existe em qualquer lugar, mas as questões a serem resolvidas pelos empreendedores podem ter uma forma ou solução local.

A relevância prática do presente estudo emerge de sua importância como fonte de reflexão para o desenho de políticas públicas e ou de outras iniciativas que provoquem mudanças, a fim de tornar a inovação nesse setor mais freqüente e frutífera. O fato de o setor de bens de capital ser um dos setores prioritários da política industrial brasileira, por si só, já justificaria este estudo. Este trabalho pode apontar caminhos para uma melhor promoção da inovação no setor, levando em conta suas particularidades. Além disso, podem surgir novas questões a serem investigadas que complementarão o trabalho aqui desenvolvido e que poderão, também, fomentar os formuladores de políticas.

O setor de bens de capital funciona como fornecedor de “insumo” para as indústrias de transformação. Quanto melhores, tecnologicamente, forem os “insumos”, melhores os resultados dos processos produtivos, e melhor a competitividade da indústria de transformação, em geral. Como assinalado por Gür (2004), entre outros, e ratificado pelo MDICE (2004), o setor de bens de capital é um setor difusor de tecnologia.

1.3.

Delimitação do Problema e Objetivos do Estudo

A fim de delimitar o problema a ser estudado, far-se-á um zoom sobre o fenômeno de transição da invenção à inovação (Branscomb & Auerswald, 2001). A invenção é a descoberta científica que pode vir a ser aplicada comercialmente ou, simplesmente uma idéia da qual se pode tirar proveito econômico. Por inovação entende-se um produto, processo ou serviço pronto para o mercado. Essa é a definição de inovação que será utilizada aqui, dentre tantas outras com finalidades específicas.

Entre a invenção e a inovação, ou entre uma descoberta científica potencialmente aplicável comercialmente e um produto ou processo no mercado, existe, segundo Branscomb & Auerswald (2001), o Vale da Morte. Esse vale apresenta inúmeros riscos para aqueles que tentam vencê-lo - os empreendedores.

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17

Dentre as motivações do empreendedor em atravessar esse vale, a primordial está ligada aos retornos financeiros percebidos; retornos estes originários da inovação. Diferentemente do que se pode pensar em um primeiro instante, os riscos associados a esse fenômeno não são meramente tecnológicos. No Vale da Morte, existem várias fendas (questões) que o empreendedor deve superar, construindo pontes que o possibilitem seguir em frente. Essas fendas são características próprias desses vales, não importando sua localização geográfica. Porém, ao contrário do que se espera, os meios de atravessar o vale podem não ser transferíveis geograficamente, não sendo passíveis de replicação. Assim, as soluções para vencer o Vale da Morte podem variar, surgindo, inclusive, novas fendas com características diferentes daquelas já identificadas por Branscomb & Auerswald (2001). As fendas identificadas pelos autores são: 1) a fenda financeira, 2) a fenda de pesquisa e 3) a fenda de informação e confiança.

O objetivo principal desta dissertação é identificar e analisar as percepções sobre a passagem da invenção à inovação de empreendedores de empresas

start-up de origem universitária do setor de bens de capital.

Um objetivo secundário e complementar é analisar o processo decisório de avaliação da oportunidade pelo empreendedor. Ou seja, pretende-se explorar os componentes da avaliação feita pelo empreendedor para atravessar o Vale da Morte, segundo o referencial de Bhide (1999).

A importância complementar do objetivo secundário reside no fato de que as percepções e estratégias utilizadas pelo empreendedor nas atividades subseqüentes à travessia do Vale da Morte são moldadas pelo aprendizado e pelas lições que extraiu da decisão de perseguir a oportunidade. Não se pretende, todavia, avaliar o reconhecimento de oportunidades, pois esse é um tópico que não viria a contribuir para o objetivo principal2. Esse objetivo secundário, como dito anteriormente, tem como referência o trabalho de Bhide (1999), que coloca questões sobre as quais o empreendedor deve se debruçar, antes de lançar-se à inovação. A avaliação da oportunidade de inovação depende da capacidade do empreendedor em reconhecer continuamente seus desejos pessoais, suas limitações e suas qualidades e de sua capacidade de pensar e repensar estratégias

2 Esse tópico é um dos grandes temas no campo do empreendedorismo. Um tratamento recente no

Brasil está em Alves (2003).

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que possam ser executáveis e que satisfaçam tanto as suas metas pessoais, quanto às da empresa.

As questões de pesquisa a serem respondidas são: (a) Quais os fatores avaliados pelo empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade identificada, ou seja, o que o impulsiona a lançar-se na arriscada jornada de travessia do Vale da Morte?, (b) Como o empreendedor de empresa start-up do setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da passagem da invenção à inovação?, (c) Que aprendizado o empreendedor extraiu das experiências anteriores que o prepare melhor para enfrentar os desafios apresentados por fendas que ainda não atravessou?

1.4.

Metodologia

Em função dos objetivos estabelecidos no tópico anterior do capítulo introdutório desta dissertação, desenvolveu-se a estrutura metodológica apresentada na Figura 01.

Figura 01 – Estrutura Metodológica Empregada.

Fonte: Elaboração Própria.

EST RUT UTA M ETODOLÓGICA

VERT EN TE T EÓ RIC A VER TENT E EMPÍR IC A

REVISÃO BIBLIO GRÁFIC A

CAPÍT ULO 02 C APÍT ULO 03

ESTU DO EXPLO RAT ÓRIO

EN TR EVIST AS

ANÁLISE CAPÍT ULO 04

CAPÍT ULO 05

CAPÍT ULO 06

(20)

19

1.4.1.

Protocolo de Pesquisa

Este protocolo de pesquisa visa elucidar os procedimentos de pesquisa para o leitor e servir como guia para a execução deste estudo, garantindo uma uniformidade de abordagem em cada unidade estudada. Segundo Martins (2006), o protocolo de pesquisa é um forte elemento para mostrar a confiabilidade de um estudo. “Isto é, garantir que os achados de uma investigação possam ser assemelhados aos resultados da replicação do estudo de caso, ou mesmo de outro caso em condições equivalentes ao primeiro, orientado pelo mesmo protocolo” (Martins, 2006:74). O protocolo tem por objetivo uniformizar a aplicação da metodologia de pesquisa empregada, conforme Figura 02. Nos apêndices 02 e 03 estão a carta-convite e a carta de agradecimento, ambas enviadas aos empreendedores. Seleção de Possíveis Entrevistados Verificação da disponibilidade do(s)

empreendedores Introdução àEntrevista

Confirmada a Participação

Marcar Entrevista (s) Entrevista (s)Realizar

Apresentação dos resultados Enviar agradecimentos aos entrevistados Entrevista outros atores Conclusão Discussão dos resultados Avaliação pelos empreendedores envolvidos Resultado satisfatório Sim Sim Não Não Não Sim Gravação Carta de Agradecimento

Figura 02 – Esquema Protocolo de Pesquisa.

Fonte – Elaboração Própria.

(21)

1.4.2.

Critérios para Elaboração do Roteiro de Entrevista com o Empreendedor

“A entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes” (Selltiz et alli, 1967:273 apud Gil, 1999:117). Tendo em vista a qualidade da pesquisa realizada, na formulação e aplicação do roteiro de entrevista deve-se atentar para os requisitos apontados por Lodi (1974) apud Gil (2002:97): validade, relevância, especificidade e clareza, cobertura de área, profundidade e extensão.

O principal critério para elaboração do roteiro de entrevista junto ao empreendedor foi o tempo a ela destinado. Procurou-se projetar um roteiro com duração de aplicação de uma hora, período considerado exeqüível junto aos empreendedores. A entrevista com o empreendedor foi dividida em módulos, de forma a abordar as questões consideradas relevantes para atingir os propósitos dessa pesquisa. O roteiro de entrevista aplicado foi previamente validado, através de entrevistas com um empreendedor que não será identificado. Na construção deste roteiro, que se encontra no Apêndice 01, destacam-se as proposições a seguir, norteadoras das questões de pesquisa.

Para que as respostas às questões de pesquisa tenham um norte, uma direção mais clara, colocar-se-ão as proposições que orientarão a pesquisa. Abordar-se-ão as proposições relativas a cada uma das questões de pesquisa separadamente.

A primeira questão de pesquisa é: Quais os fatores avaliados pelo empreendedor ao tomar a decisão de atuar sobre a oportunidade identificada, ou seja, o que o leva a lançar-se na arriscada jornada de travessia do Vale da Morte? Como dito anteriormente, não se pretende avaliar a identificação e a seleção de oportunidades. O presente trabalho busca entender a avaliação feita pelo empreendedor sobre a oportunidade selecionada, levando-o a iniciar a travessia do Vale da Morte. Em outras palavras, como ele avaliou que poderia ter sucesso com sua empresa start-up. Deve-se ter em mente que muitos reconhecem oportunidades, mas não as perseguem. O reconhecimento de oportunidades não implica na abertura de uma empresa. Algumas pessoas desistem frente à falta de

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21

recursos financeiros, ou por chegarem a conclusão de que não possuem os ativos complementares importantes para concorrer com as empresas estabelecidas, ou por estarem em um momento de sua vida pessoal não propício à abertura de uma nova empresa, tendo que abandonar um emprego “seguro”, por exemplo. No entanto, este estudo está orientado a pessoas que lançaram novas empresas, que avaliaram ou acreditaram na oportunidade identificada. Então, volta-se à avaliação, como assinalado por Bhide (1999); antes de lançar uma empresa, os empreendedores devem avaliar suas metas pessoais, a estratégia que pretendem adotar e sua capacidade de executar o que foi planejado.

A segunda questão de pesquisa é: Como o empreendedor de empresa

start-up do setor de bens de capital enfrenta as fendas existentes no fenômeno da

passagem da invenção à inovação? O Vale da Morte de Branscomb & Auerswald (2001) é caracterizado pela existência de fendas que os empreendedores devem vencer para transformar uma invenção em uma inovação. Considera-se que o Vale da Morte existe em qualquer país, é uma característica do processo de transição da invenção para a inovação. Ele representa as dificuldades de tornar uma oportunidade reconhecida em um negócio de sucesso. O sucesso é entendido aqui,

a priori, como o êxito de colocar um produto no mercado. O sucesso não será

medido a posteriori, ou seja, como função de uma liderança do mercado ou crescimento elevado da receita da empresa. Além disso, a empresa de cada empreendedor entrevistado pode ter atravessado um conjunto específico de fendas, ou seja, elas podem estar em estágios diferentes de sua existência. Existe ainda a possibilidade de não serem identificadas as mesmas fendas de Branscomb & Auerswald (2001) no Vale da Morte brasileiro. As fendas podem ser diferentes ou mesmo enfrentadas de formas diferentes por setores diversos. Essa proposição é coerente com as diferenças nos processos inovativos entre os setores. Podem ser citados, como exemplos, o setor de medicamentos e o setor de softwares. Cada um tem suas especificidades, o que pode trazer novas fendas ou mudar a forma com que uma mesma fenda é enfrentada. Por isso, este estudo concentrou-se apenas em empresas do setor de bens de capital (mesmo nesse setor existem diferenças a serem consideradas).

A terceira questão é: Que aprendizado o empreendedor extraiu das experiências anteriores que julga ser importante, que o prepare melhor para enfrentar os desafios apresentados por fendas que ainda não atravessou?

(23)

Novamente, é importante lembrar que cada empresa estudada encontrar-se-á em um determinado momento de sua existência, ou seja, terá atravessando fendas diferentes. Como o aprendizado do empreendedor tem uma natureza tácita, iterativa, pretende-se com essa questão avaliar seu aprendizado, tanto quanto a decisão de perseguir a oportunidade, quanto em relação à própria travessia do Vale da Morte. Esse aprendizado certamente condicionará decisões futuras e a postura no enfrentamento das fendas ainda não vencidas e de outras questões. Por exemplo, se o empreendedor simplesmente decidiu perseguir uma oportunidade, não tendo avaliado de fato sua motivação e disposição, sua estratégia e sua capacidade de fazer o que foi planejado, ele pode se mostrar arrependido de ter iniciado a travessia pelo Vale da Morte. O empreendedor pode chegar à conclusão que, se tivesse adotado uma determinada estratégia, suas chances de sucesso teriam aumentado ou pode reconhecer que não possuía a capacidade nem as relações necessárias (rede de contatos) para o sucesso da nova empresa. Essa avaliação é importante, pois explicita o aprendizado do empreendedor; porque aumenta sua capacidade de reconhecer, avaliar e perseguir oportunidades.

1.4.3

Empreendedores Selecionados

Os empreendedores que fazem parte desta pesquisa foram selecionados a partir das informações das incubadoras de empresas do Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, de acordo com dados da ReINC3, existem 20 incubadoras de empresas associadas, que possuem 133 empreendimentos incubados e mais 103 graduados ou associados.

Segundo o site da ReINC, são integrantes da rede: a Incubadeira e Pólo Tecnológico da Fundação Bio-Rio, as Incubadoras Tecnológica e de Cooperativas Populares da COPPE/UFRJ, as Incubadoras Tecnológica e Cultural da PUC-Rio, a Incubadora de Empresas do Instituto Politécnico da UERJ, a Incubadora de Empresas de TeleInformática do CEFET/RJ, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica em Agronegócios da UFRRJ, a Incubadora de Empresas da UFF, a Incubadora de Empresas do INT, a Incubadora de Empresas do INMETRO, a

3 “A Rede de Incubadoras, Parques Tecnológicos e Pólos do Rio de Janeiro (ReINC) é a reunião

de incubadoras sediadas no Rio de Janeiro para estimular o aumento da sua capacidade de ação e realização.”

Disponível em: http://www.redetec.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=77

(24)

23

Incubadora de Empresas do SENAC Rio, a Incubadora do Núcleo Serrasoft, a Incubadora de Cooperativas Populares da Prefeitura de Macaé, a Iniciativa Jovem, a Incubadora de Empresas da UERJ/RJ, a Incubadora da Universidade de Petrópolis e a Incubadora de Empresas da UVA. Foram identificadas e classificadas como pertencentes ao setor de bens de capital, oito empresas de quatro incubadoras diferentes da cidade do Rio de Janeiro.

Os empreendedores foram contatados para participar dessa pesquisa, mas nem todos responderam, tinham disponibilidade ou desejavam colaborar com a pesquisa. As empresas start-up de origem universitária contatadas direcionavam-se para direcionavam-segmentos distintos do direcionavam-setor de bens de capital, como, por exemplo, o de equipamentos médicos, o de fabricação de cerâmica, o de telefonia e o de petróleo e gás.

Entre as empresas identificadas, apenas três confirmaram sua colaboração na pesquisa. No grupo das que se negaram a participar, algumas alegaram falta de tempo para marcar uma entrevista presencial ou por telefone; outras não se mostraram interessadas. Contudo, uma das empresas que havia confirmado participação não respondeu às solicitações feitas para o trabalho de campo. Sendo assim, a pesquisa contou com empreendedores de somente duas empresas: a Gávea Sensors e a Ativa, ambas da incubadora da PUC-Rio.

1.5.

Estrutura da Dissertação

Ao longo deste trabalho, focar-se-á, principalmente, o entendimento do fenômeno de ativação da inovação, ou seja, a jornada pelo Vale da Morte. Esta dissertação contém seis capítulos descritos abaixo.

Neste capítulo introdutório, foram apresentados o contexto da pesquisa, o problema a ser estudado, os objetivos desta pesquisa e a metodologia empregada.

O setor de bens de capital e o segmento específico desse setor, parte deste estudo, serão abordados no capítulo dois. Na primeira parte desse capítulo, apresentam-se a importância do setor e sua caracterização e, de forma breve, reconstitui-se sua trajetória, buscando ressaltar sua importância na economia. Em seguida, pretende-se mostrar que o setor de bens de capital é um setor inovativo, utilizando indicadores e resultados de pesquisas internacionais e nacionais. Por

(25)

fim, pretende-se caracterizar o tipo de empresa do setor de bens de capital coberto por esta pesquisa.

No capítulo seguinte, apresenta-se uma revisão dos temas inovação e empreendedorismo tecnológico. Caracterizam-se a invenção e a inovação através da alegoria do Vale da Morte presente em Branscomb & Auerswald (2001). O conceito de empreendedorismo tecnológico é revisado com base no referencial de Bhide (1999) sobre a avaliação que o empreendedor deve fazer antes de abrir uma empresa. Além disso, outros conceitos considerados relevantes ao entendimento do empreendedorismo tecnológico são apresentados, como, por exemplo, a natureza do conhecimento e a apropriabilidade da inovação.

No capítulo quatro, são apresentados os resultados das entrevistas com os empreendedores. Neste capítulo, além das entrevistas, são colocadas também as características das empresas em forma de uma breve apresentação de cada uma delas.

No capítulo cinco, discutem-se os achados do trabalho. Este capítulo está estruturado em função das questões de pesquisa. Tendo como base o referencial teórico, para cada questão, cotejar-se-ão os relatos dos empreendedores entrevistados, além de serem apresentadas e discutidas as peculiaridades da jornada de cada empreendedor.

No capítulo derradeiro, serão arroladas as conclusões deste estudo. Termina-se o estudo, colocando, após as conclusões, questões para investigações futuras.

Seguem as referências bibliográficas, os apêndices e o anexo do trabalho. Nos Apêndices, encontra-se o roteiro da entrevista com o empreendedor, o modelo do convite e do agradecimento pela participação dos empreendedores nesta pesquisa. No anexo, encontra-se a classificação CNAE/IBGE utilizada no segundo capítulo na construção dos gráficos.

(26)

2.0.

O Setor de Bens de Capital e o Segmento de PEBT

2.1.

O Setor de Bens de Capital

Segundo Gür (2004), o setor de bens de capital desempenha um papel importante no processo de mudança tecnológica. O autor cita Fransman (1984)1 para justificar essa importância do setor para países em desenvolvimento, como o Brasil, apoiando-se em três premissas: máquinas aumentam a produtividade do trabalho; vantagem do setor em relação à possibilidade de se obter maiores ganhos de produtividade, comparando-o a outros; através da difusão tecnológica, o setor contribui, significativamente, para o aumento da produtividade total da economia. “A inovação no setor de bens de capital é uma maneira importante de aumentar a viabilidade e a flexibilidade das economias industriais porque uma grande parte de seus setores demandam melhores e inovadores bens de capital para o aumento da produtividade”2 (Lee, 2000:170 apud Gür, 2004:03).

O setor de bens de capital é amplo, complexo e de difícil delimitação. Alem & Pessoa (2005), para caracterizar o setor, colocam que, sob o título de bens de capital “estão reunidos bens extremamente distintos, como máquinas e equipamentos propriamente ditos – associados à indústria mecânica – e ônibus e caminhões – referentes à indústria de material de transporte”. Segundo os autores, pode-se classificar como bem de capital todo bem que for utilizado (como meio) em processos de produção de produtos ou serviços, sem que sofra transformação, como os insumos. A classificação é feita pelo uso. Os autores citam ainda o exemplo de uma geladeira que, quando utilizada em uma residência para conservação de alimentos, caracteriza-se como bem de consumo durável; já quando utilizada em um restaurante, caracteriza-se como bem de capital. Neste trabalho, utilizar-se-á a classificação da CNAE/IBGE3 e a noção de bens de capital aqui apresentada. Entre os competidores do setor destacam-se, de acordo

1FRANSMAN, M. “Technological Capability In The Third World: an overview”. In

FRANSMAN, M.;KING, K. (Eds.) Technological Capability In The World. London, 1984.

2Tradução do autor.

3Classificação Nacional de Atividades Econômicas/ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

(27)

com Alem e Pessoa (2005), entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha e a Itália, e entre os em desenvolvimento, além do Brasil, a Coréia do Sul, Taiwan, China e México.

O setor de bens de capital é composto de várias indústrias; sendo bastante segmentado. No entanto, o fato de ser segmentado não desabilita o setor como provável fonte de inovação, não reduz sua importância para a nova economia. Autores como Gür (2004), Rosenberg (1963), Lall (1992), Weise (2000), entre outros, colocam o setor de bens de capital como difusor da inovação tecnológica. O governo brasileiro compartilha essa visão, colocando a inovação no setor de bens de capital como estratégica em sua política industrial, como já assinalado anteriormente. Em publicação do BNDES, Café et alii (2004:225), afirmam que “a competitividade estrutural de toda a indústria depende da existência de um setor de bens de capital, que atua como difusor de progresso técnico para toda a indústria”. A importância do setor pode ser bem ilustrada por Fransman (1984:601) apud Gür (2004), a seguir:

“The capital goods sector occupies a special role in the technical change process. The reason is that this sector lies at the heart of the process of technology generation and diffusion. All technical change, whether of the product or process variety, requires the development of modified or new machinery and equipment. Conversely, the diffusion of improved vintages of machinery facilitates the process of technical change in using firms. For this reason the capital goods sector requires especial attention in any discussion of technical change”

A indústria de bens de capital iniciou sua trajetória de desenvolvimento durante o plano de Metas (1956/61), mas foi colocada como prioridade nacional nos anos 70, dentro da estratégia definida pelo Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Severo Gomes (1974) apud Lessa (1998) justifica a importância do setor do ponto de vista estratégico, objetivando-se nesse período, com o seu desenvolvimento, reduzir a dependência externa em relação à compra de equipamentos, mesmo sendo possível, naquele momento, a manutenção da política de compra de equipamentos no exterior. O intento era fazer o país atingir a fronteira do desenvolvimento pleno, com o fortalecimento do capital nacional e com um setor de bens de produção competitivo. Contudo, esse setor estava atrelado aos investimentos estatais, não sendo capaz de suprir as demandas das indústrias de bens de consumo. Manifesta-se, concomitantemente, uma incipiente preocupação com o desenvolvimento tecnológico do setor, ecoando de seus

(28)

27 órgãos representativos reivindicações ligadas, essencialmente, à escala de

produção. Em outras palavras, pode-se dizer que o desenvolvimento tecnológico era visto como uma segunda fase de um plano de consolidação, fase essa que não existiu como evolução natural do aumento de escala, devido a mudanças internas e externas na economia.

Segundo Kupfer (2004), em relação à década de 80 no Brasil, houve uma estagnação econômica, percebida em dois níveis: na lenta evolução dos níveis de produção e no pequeno alcance do processo de modernização industrial. Como resultado o hiato tecnológico, que havia sido reduzido pelo vigoroso catching-up da década de 70, voltou a se ampliar. Até o final da década de 80, existia uma forte complementaridade entre produção doméstica e importações, ou seja, o aumento da produção nacional era acompanhado, proporcionalmente, por um aumento das importações. As importações concentravam-se, basicamente, em equipamentos para a indústria de bens de consumo os quais não tinham similares nacionais.

Nos anos 90, a liberalização comercial, a desregulamentação e a desestatização trouxeram novos desafios para o setor. O novo quadro impunha ajustes como, por exemplo, a terceirização em busca de aumento de sua produtividade e, por conseguinte, de sua competitividade interna e externa. “(...) a maior parte dos investimentos em bens de capital foi direcionada para a melhoria da qualidade, a redução dos custos e o aumento da produtividade através da reposição de equipamentos e da introdução de inovações gerenciais, sem que houvesse investimentos expressivos voltados para a ampliação da capacidade produtiva ou mesmo em inovações tecnológicas em sentido estrito” (Café et alii, 2004:226). As importações de bens de capital, a partir da década de 90, aparentemente perderam sua característica de complementaridade e de alavanca da produção doméstica, mesmo ainda exercendo um papel fundamental nos ganhos de produtividade da indústria nacional e nos estímulos ao aumento das taxas de investimento (Alem & Pessoa, 2005).

No quadro atual, essa busca de melhoria de produtividade tem um papel importante não apenas para o mercado interno, mas também para o comércio global. A indústria de bens de capital, no pós-choque de abertura da economia, apresenta áreas competitivas no mercado externo. Essa competitividade externa é importante porque, com a abertura comercial, ela se torna um padrão interno

(29)

também, no sentido de que não existe mais proteção aos produtores nacionais. Para mensurar o desempenho doméstico das atividades produtivas um indicador importante é o comportamento da sua produtividade4. A Figura 03 permite cotejar o desempenho do setor de bens de capital frente ao de outras atividades produtivas no período utilizado por Café et alii (2004:232) no Brasil.

Figura 03 – Produtividade da indústria de bens de capital (1996-2001) Fonte: Café et alii. (2004:232)

Observa-se que em 2001, o setor de bens de capital superou em produtividade não só o total absoluto da indústria, que inclui a indústria extrativa mineral, como também a produtividade da indústria de transformação e seus aumentos percentuais. Esse mesmo estudo publicado pelo BNDES, de Café et alii. (2004), analisa coeficientes de importação e de exportação, a balança comercial e indicadores do mercado interno, indicando, dentro do setor de bens de capital, quais segmentos teriam maiores condições competitivas, tanto interna quanto externamente. De suas conclusões, destacam-se alguns segmentos ou grupos com maior potencial de desenvolvimento na indústria de bens de capital, segmentos que já são competitivos e que podem ter sua competitividade reforçada pelo processo de inovação tecnológica, como: “Outros Equipamentos de Transporte”, em especial “Construção, Montagem e Reparação de Aeronaves”; “Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias”, em especial “Fabricação de Caminhões e Ônibus”; “Equipamentos de Comunicação”; “Máquinas, Aparelhos e Materiais

4 A produtividade é dada pela divisão entre o valor da transformação industrial (VTI) e o pessoal

ocupado.

(30)

29 Elétricos”, em especial “Fabricação de Geradores, Transformadores e Motores

Elétricos” e “Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica” e, por fim, “Máquinas e Equipamentos, em especial “Fabricação de Máquinas e Equipamentos para as Indústrias Extrativa Mineral e de Construção”, “Fabricação de Máquinas-Ferramenta”, “Fabricação de Motores, Bombas, Compressores e Equipamentos de Transmissão” e “Fabricação de Tratores e Máquinas e Equipamentos para a Agricultura”. Outros setores podem, também, ser estimulados a inovar. Porém, eles encontram-se em situação menos favorável do que os citados anteriormente. Assim, finaliza-se o histórico superficial do setor no Brasil. Colocar-se-ão, nos parágrafos seguintes, algumas tipologias aplicáveis ao setor.

Tecnicamente, o setor de bens de capital divide-se em dois tipos de fabricantes: aqueles que produzem bens padronizados, obedecendo à lógica da escala de produção e aqueles que produzem bens por encomenda, mais intensivos em conhecimento, que necessitam de uma capacidade de projeto e de flexibilidade. Como exemplos podem ser citados, respectivamente, máquinas agrícolas e tratores; plataformas de petróleo e turbinas das usinas hidrelétricas. Acrescentem-se ainda, como exemplo de bem de capital padronizado, bombas utilizadas, com a mesma função, em instalações de indústrias diferentes. Entretanto, uma bomba também pode ser encomendada para uma tarefa específica, caso não exista nenhum produto padronizado que atenda às necessidades de uma determinada empresa. Geralmente, esse pedido é único, não compensando sua fabricação em massa. Nesse tipo de indústria, a de bens de capital por encomenda, o conhecimento é fator-chave para execução de projetos, principalmente naqueles com os maiores retornos financeiros, de maior complexibilidade tecnológica. Em relação ao tamanho de firma dentro do setor, pode-se dizer que é bastante heterogêneo, constituindo-se de pequenas, médias e grandes empresas nacionais e multinacionais.

O IBGE desenvolveu uma tipologia para classificar as indústrias brasileiras, de forma a auxiliar no desenvolvimento de seus estudos e, também, para ajudar a administração pública, no tocante aos tributos e outras atividades. O IBGE separou as atividades econômicas em vários níveis de agregação, do mais agregado até o menos agregado. Neste estudo, são utilizadas as divisões da indústria de transformação. O Anexo 04 mostra as divisões da Classificação

(31)

Nacional das Atividades (CNAE), elaborada pelo IBGE, que serão utilizadas neste trabalho nos gráficos das Figuras 06 e 07.

2.2.

A Capacidade Inovativa do Setor

A capacidade inovativa do setor, ou seja, o quanto o setor de bens de capital é propício a empreendimentos tecnológicos, será colocada de forma esquemática neste tópico. A avaliação do setor em que o empreendedor pretende aventurar-se, que Shane (2005) chama de “olhar as evidências”, consiste em avaliar se o setor é favorável ou não à entrada de novos jogadores, as empresas

start-up.

Eckardt (2002) apud Shane (2005) comparou a proporção de empresas que surgiram em vários segmentos industriais no período de 1982 até 2000, de diversos setores, que entraram na lista das 500 da revista Inc.5. A divisão setorial empregada não é a mesma utilizada no Brasil, não reproduz a do IBGE, mas é possível utilizar essas informações para ilustrar a relevância do setor de bens de capital. É possível observar na Figura 04, que o setor de bens de capital representa uma fatia significativa das novas empresas na lista das 500 da revista Inc., com um percentual maior do que o setor, por exemplo, de medicamentos, reconhecido como inovador.

Percentual de Empresas em Algumas Indústrias que se Tornaram Inc. 500 62,7% 18,2% 4,2% 3,3% 1,8% 9,8% Outros Negócios

Fábricas de Pasta para Fazer Papel

Computadores e Equipamentos de Escritório

Mísseis Guiados, veículos espaciais, componentes Medicamentos

Bens de Capital

Figura 04 –Resultado Geral Inc. 500

Fonte: Dadostrabalhadospelo autor, extraídos deShane (2005:25)

5 A lista de novas empresas privadas de mais rápido crescimento no período considerado de 1982

até 2000.

(32)

31

A Figura 05 detalha os segmentos do setor de bens de capital presentes nessa lista e seus percentuais. Observa-se que existe uma grande diversidade de segmentos que podem ser considerados solo fértil para os empreendedores, no lançamento de empresas start-up.

Empresas Dentro do Setor de Bens de Capital que se Tornaram Inc. 500 2,0% 1,9% 1,9% 1,8% 1,2% 1,0%

Dispositivos de Medição e Controle

Equipamento de Pesquisa e Navegação Equipamentos de Comunicação Instrumentos e Utensílios Médicos Maquinaria Industrial em Geral

Aparelhos Elétricos Industriais Figura 05 – Resultados Inc. 500 – Bens de Capital Fonte: Dados trabalhados pelo autor, extraídos de Shane (2005:25)

Em relação à inovação no Brasil, existem algumas pesquisas que permitem avaliar a posição do setor de bens de capital. O governo brasileiro, por meio de uma ação conjunta do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e dos Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Planejamento, Orçamento e Gestão, vem realizando uma pesquisa chamada “Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica” (PINTEC). Essa será utilizada como referência neste trabalho, em seu resultado publicado em 2005, que apresenta de forma comparativa os resultados da pesquisa anterior. Pretende-se mostrar através de recortes da PINTEC 2003 a importância da capacidade inovativa do setor de bens de capital. A pesquisa é apresentada e sua relevância justifica-se da seguinte forma:

“Sendo o processo tecnológico um componente crucial para o desenvolvimento econômico, as informações que permitam entender seu processo de geração, difusão e incorporação pelo aparelho produtivo são de fundamental importância para o desenho, implementação e avaliação de políticas voltadas para a sua promoção e na definição das estratégias privadas. Neste sentido, as informações da PINTEC, ao possibilitarem a construção de indicadores abrangentes, e com comparabilidade internacional, contribuem para ampliar o entendimento do processo de inovação tecnológica na indústria brasileira.” (IBGE, 2005:10)

(33)

Em primeiro lugar, utilizando a CNAE , do IBGE, pode-se comparar as taxas de inovação6 da indústria de transformação, de forma a observar quais divisões são mais inovadoras. A PINTEC 2003 apresenta as taxas de inovação tanto para a indústria extrativa, quanto para a indústria de transformação, cobrindo os resultados das duas pesquisas, a do período 1998-2000 e a do período 2001-2003. As taxas de inovação da indústria de transformação nos períodos de 1998-2000 e 2001-2003 foram de, respectivamente, 31,5 e 33,3 e servirão de referência para cotejar essas indústrias. Esse indicador será utilizado como um sinalizador da importância do setor para o país e da sua capacidade de inovar. Uma taxa elevada de inovação, principalmente em comparação com segmentos considerados mais inovadores, ajuda a destacar a importância do setor de bens de capital. As Figuras 06 e 07 mostram as dez divisões que apresentam melhor performance no indicador elaborado pelo IBGE.

Figura 06 – Taxas de Inovação PINTEC 1998-2000 Fonte – Tabela 2 -IBGE (2005:40-41)

6 A taxa de inovação é o número de empresas que realizaram inovações de produto ou processo, ou

seja, que responderam sim pelo menos em uma das perguntas de número 10,11,16 e 17 (questionário PINTEC) sobre o total das empresas industriais com mais de 10 pessoas ocupadas.Ver mais detalhes em PINTEC (2005).

Dez Maiores Taxas de Inovação da Ind. de Transformação (1998-2000)

68,5 62,5 59,1 48,2 46,1 44,4 43,7 39,7 36,4 34,8 30 32 33 31 24 29 35 25 34 16 Divisões CNAE/IBGE Taxas

(34)

33

Figura 07 – Taxas de Inovação PINTEC 2001-2003 Fonte: Tabela 2 -IBGE (2005:40-41)

Destacam-se dois pontos principais em relação aos dois gráficos apresentados na Figura 06 e Figura 07: a estabilidade dos resultados e a sua composição setorial. Pode-se verificar que entre os dois períodos da pesquisa não houve grandes alterações nem nas posições nem na composição dos setores mais inovadores brasileiros. Contudo, o que se deseja enfatizar é a predominância do setor de bens de capital nas divisões mais inovadoras, conforme mostrado nos gráficos acima.

A primeira colocada de ambos os períodos da PINTEC, a divisão de “Fabricação de Máquinas para Escritório e Equipamentos de Informática”, apresenta alguns grupos (CNAE) que são considerados parte do setor de bens de capital, pelo IBGE, como “Fabricação de Máquinas para Escritório”. Esse grupo é formado pelas seguintes classes: “Fabricação de Máquinas de Escrever e Calcular, Copiadoras e outros equipamentos não-eletrônicos para escritório” e “Fabricação de Máquinas de Escrever e Calcular, Copiadoras e outros Equipamentos Eletrônicos Destinados à Automação Gerencial e Comercial”. A segunda colocada também possui grupos que se enquadram no setor de bens de capital como, por exemplo, “Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Telefonia e Radiotelefonia e de Transmissores de Televisão e Rádio”. A terceira colocada “Fabricação de Equipamentos de Instrumentação Médico-Hospitalares, Instrumentos de Precisão e Óticos, Equipamentos para Automação Industrial, Cronômetros e Relógios” é tipicamente uma divisão do setor de bens de capital. A

Dez Maiores Taxas de Inovação da Ind. de Transformação (2001-2003)

71,2 56,7 45,4 43,6 43,5 41 39,7 36,2 35 35 30 32 33 24 29 31 34 25 17 23 Divisões CNAE/IBGE Taxas

(35)

quarta colocada do período 1998-2000 é a divisão de “Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos”, que possui grupos considerados como parte do setor de bens de capital, tais como os de “Fabricação de Geradores, Transformadores e Motores Elétricos”; “Fabricação de Equipamentos para Distribuição e Controle de Energia Elétrica”. Já a quarta colocada da pesquisa do período 2001-2003 é a divisão de “Fabricação de Produtos Químicos”. Essa divisão apresenta grupos vistos como inovativos pela literatura, tal como a produção de produtos farmacêuticos. Dentro dessas top ten divisões da indústria de transformação, o que se pode observar é uma forte presença do setor de bens de capital. Nas primeiras colocações, aparecem divisões com a presença de grupos integrantes do setor de bens de capital e, em ambos os períodos, essa presença se reforça. Isso indica que, no Brasil, o setor de bens de capital vem tentando aumentar sua competitividade através da inovação.

A importância da atividade inovativa nesse setor pode ser demonstrada através da Figura 08, que apresenta a importância atribuída às atividades de aquisição externa de P&D, aquisição de outros conhecimentos externos, introdução das inovações tecnológicas no mercado, atividades internas de P&D, projeto industrial e outras preparações técnicas, treinamento, aquisição de máquinas e equipamentos; dados que revelam a importância de cada uma dessas atividades. 8,2% 16,4% 27,8% 34,1% 44,1% 76,6% 4,6% 10,1% 20,3% 20,7% 40,0% 54,2% 80,3% 59,1%

Aquisição Externa de P&D Aquisição de Outros Conhecimentos Externos Introdução das Inovações tecnológicas no Mercado Atividades Internas de P&D Projeto Industrial e Outras Preparações Técnicas

Treinamento Aquisição de Máquinas e

Equipamentos

1998-2000 2001-2003

Figura 08 – Participação percentual do número de empresas que implementaram inovações Fonte: Adaptada de IBGE (2005:34)

(36)

35 Os dados da PINTEC 2003, e do IBGE (2005), mostram um aumento no

número de empresas que atribuem importância alta ou média para a atividade de “aquisição de máquinas e equipamentos” e suas atividades complementares, “treinamento” e “projeto industrial e outras preparações técnicas”. No gráfico da Figura 08, pode-se observar que nas empresas inovadoras essas atividades se destacam em ambos os períodos, em especial a “aquisição de máquinas e equipamentos”. Essa constatação aponta para a importância do setor de bens de capital como difusor de tecnologia e potencializador da competitividade da indústria nacional. Máquinas e equipamentos para a produção de produtos melhorados, maior produtividade ou qualidade, inovações de processos são apenas alguns exemplos desse papel potencializador. Sendo assim, o setor de bens de capital é um setor importante para nosso mercado interno, na medida em que pode tornar endógena a fonte de inovações para a produção, possibilitando um acesso mais fácil.

O fato de a indústria de transformação como um todo perceber a aquisição de máquinas e equipamentos como item principal de sua atividade inovativa não significa que essas compras sejam feitas no mercado interno, tendo como fornecedores empresas nacionais. No entanto, explicita o papel de difusor do progresso tecnológico do setor, reforçando a importância da inovação tecnológica na competitividade de nossa indústria de transformação. Além, é claro, da importância de um setor de bens de capital inovador, competitivo.

2.3.

PEBT de Origem Universitária do Setor de Bens de Capital

Esta pesquisa direciona-se a uma parte específica do setor de bens de capital, as Pequenas Empresas de Base Tecnológica (PEBT) de origem universitária. Esse tipo de empresa foi também denominado neste trabalho, de forma geral, de empresas start-up do setor de bens de capital de origem universitária.

A pequena empresa, segundo (ANPROTEC, 2002:80), é uma “pessoa jurídica ou firma mercantil individual cuja receita bruta anual é superior a R$ 244.000,00 e inferior ou igual a R$ 1.200.000,00 (Lei 9841 de 05/10/99)”. Nesta

(37)

pesquisa, o limite inferior de receita é relaxado pelo fato de tratar-se de empresas

start-up. O termo base tecnológica, também segundo (ANPROTEC, 2002:30),

apresenta dois significados. O primeiro refere-se à “processo ou produto que resulta da pesquisa científica e cujo valor agregado advém das áreas de tecnologia avançada: informática, biotecnologia, química fina, mecânica de precisão, novos materiais, etc”; o segundo refere-se à “aplicação do conhecimento científico, do domínio de técnicas complexas e do trabalho de alta qualificação técnica”. A origem universitária das empresas ratifica que a inovação tratada neste trabalho é fruto da pesquisa científica desenvolvida na universidade.

Como colocado no capítulo introdutório desta dissertação, a inovação é considerada como ponto central da política industrial brasileira. O governo enxerga o empreendedor tecnológico como um vetor do crescimento econômico através da inovação. Mas a passagem da invenção à inovação não é tarefa fácil. O empreendedor está sujeito a muitos modos de falha e as incubadoras são uma das formas de aumentar a chance de sucesso na passagem da invenção à inovação. São utilizadas, principalmente, por empreendedores de origem universitária. A importância das incubadoras como instrumento de promoção do empreendedorismo e da inovação é reconhecida pelo governo através do PNI (Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas). De forma geral, o objetivo do PNI, segundo o MCT, é fomentar a consolidação e o surgimento de incubadoras de empresas que contribuam para o desenvolvimento sócio-econômico, acelerando o processo de criação de micro e pequenas empresas caracterizadas pela inovação tecnológica. O PNI define incubadora como:

“um mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de manufaturas leves por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais e que, além disso, facilita e agiliza o processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas. Para tanto, conta com um espaço físico especialmente construído ou adaptado para alojar temporariamente micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços e que, necessariamente, dispõe de uma série de serviços e facilidades”.

Além do programa de incubação, o governo desenvolve programas de estímulo ao capital de risco e ao financiamento não-reembolsável de

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37 empreendimentos tecnológicos. As PEBT enfrentam grandes dificuldades em

obter financiamentos para o seu desenvolvimento. Pode-se citar, como exemplo dessas dificuldades, o fato de não possuírem ativos tangíveis a serem oferecidos como garantias na operação de financiamento. O alto risco, não apenas tecnológico, mas também mercadológico inerente a esse tipo de empreendimento, também reduz a probabilidade de financiamento tradicional, além do, em geral, alto custo do desenvolvimento de um produto ou serviço. Nesse sentido, o governo trabalha em duas frentes: no fomento ao empreendedorismo tecnológico através de financiamentos não-reembolsáveis e apoio às incubadoras de empresa e na promoção da atividade de capital de risco no Brasil.

Em relação aos financiamentos não-reembolsáveis, merecem lugar de destaque a FINEP e seus fundo setoriais. A FINEP destaca-se também com o Projeto Inovar que, segundo a mesma, “tem por objetivo promover o desenvolvimento das pequenas e médias empresas de base tecnológica brasileiras através do desenvolvimento de instrumentos para o seu financiamento, especialmente o capital de risco”. O Projeto Inovar é constituído pelas seguintes iniciativas: Fórum Brasil Capital de Risco; Incubadora de Fundos INOVAR; Fórum Brasil de Inovação; Portal Capital de Risco Brasil; Rede INOVAR de Prospecção e Desenvolvimento de Negócios; Desenvolvimento de programas de capacitação e treinamento de agentes de Capital de Risco. Portanto, o governo desempenha um papel de destaque na promoção da inovação tecnológica e da cultura empreendedora através de suas instituições e ações.

Mas o valor das PEBT não é reconhecido apenas pelo governo. Na era em que o conhecimento passa a ter valor econômico, instituições como a própria PUC-Rio desenvolvem ações para estimular o empreendedorismo tecnológico e capturar os retornos provenientes da inovação. Com este intuito, podemos destacar o Instituto Gênesis, o ensino de empreendedorismo na universidade, o Escritório de Negócios em Propriedade Intelectual (ENPI), o Parque Tecnológico da Gávea (em parceria com a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro) e a proximidade com a Gávea Angels como iniciativas importantes no sentido de aumentar a taxa de inovação e de sucesso nos empreendimentos de origem na universidade.

(39)

A seguir, colocam-se peculiaridades desse tipo de empresa que norteou o desenho desta pesquisa: empresas start-up, de base tecnológica e de origem universitária.

A primeira das peculiaridades refere-se ao fato de serem empresas

start-up. Nessa condição, o empreendedor, ou a equipe empreendedora, acumula

funções diversas na estrutura organizacional da empresa.

A segunda diz respeito à condição de empresas start-up de base tecnológica. Tal arranjo confere aos empreendedores o acúmulo de tarefas administrativas, juntamente com a responsabilidade de desenvolverem os produtos ou serviços que deram origem à empresa.

A terceira refere-se à sua origem universitária. Nesse caso, os empreendedores contam com a infra-estrutura de pesquisa da universidade e, em alguns casos, com as incubadoras instaladas na mesma. O empreendedor, muitas vezes, concilia sua atividade empreendedora com o ensino ou a pesquisa, o que torna sua jornada diária mais extensa e densa. Não é raro, em função de sua origem universitária, o empreendedor não possuir experiência em gestão ou qualquer experiência anterior em outro empreendimento, seja tecnológico ou não.

Em geral, as empresas start-up de origem universitária instalam-se em incubadoras como forma de aumentar sua chance de sucesso na passagem da invenção à inovação. O empreendedor de pequenas empresas, em geral, não dispõe de recursos para contratações, instalação e manutenção do negócio, sendo a incubadora uma alternativa muito atraente. Como colocado pela ANPROTEC, com a ajuda de uma incubadora de empresas, o empreendedor pode desenvolver suas potencialidades, fazer sua empresa crescer. Nesse ambiente, ele desfruta de instalações físicas, suporte técnico-gerencial, além de ter a oportunidade de partilhar experiências com os demais incubados e formar uma rede de relacionamentos.

Todas essa peculiaridades atuam como complicadores para um estudo mais amplo. Portanto, a dificuldade de abordar um número maior de empresas, logo de empreendedores, origina-se tanto na natureza da atividade empreendedora, quanto no número reduzido de empresas com o perfil de interesse.

No próximo capítulo, apresenta-se uma revisão de conceitos relevantes ao entendimento dos temas inovação e empreendedorismo tecnológico.

Referências

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