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Clipping SCA. Data de Criação: 05/01/2021. Criado por: Biblioteca

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Data de Criação: 05/01/2021

Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.

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Sumário das

Matérias:

Grandes empresas ganham mercado com a pandemia Valor ––05 de janeiro...01 STJ admite tributação de remessas

Valor ––05 de janeiro...07 Para tapar contas e buracos, Rio quer taxar Uber Valor ––05 de janeiro...11 Um revolucionário final de ano

Valor ––05 de janeiro...14 Saneamento ainda aguarda definições e novos projetos Valor ––05 de janeiro...17 Vazão menor em Belo Monte pode elevar preço da energia

Valor ––05 de janeiro...19 Nos EUA, nasce um sindicato para pressionar o Google Valor ––05 de janeiro...22 Empresas da Bahia voltam a pagar taxa sobre contêineres Valor ––05 de janeiro...25 Desenvolvimento sustentável e trabalho

Valor ––05 de janeiro...27 Governo de SP calcula perda de R$ 2,3 bi em receitas devido a mudanças no projeto de ajuste fiscal Folha ––05 de janeiro...30 Brasil perde benefício para exportar para os EUA no início de 2021

Globo ––05 de janeiro...31 Plano de saúde ficará mais caro a partir deste mês, com cobrança de reajuste retroativo. Entenda

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Governo aposta em 'fábrica de projetos' para destravar investimentos no País

OESP ––05 de janeiro...38 Município não pode cobrar IPTU em área de relevante interesse ecológico

Conjur ––05 de janeiro...40 OAB regulamenta celebração de TAC em casos de infrações éticas menos graves

Migalhas ––05 de janeiro...42 O regulamento da Análise de Impacto Regulatório Jota ––05 de janeiro...44

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página, terça-feira

05 de janeiro de 2021.

Grandes empresas ganham

mercado com a pandemia

Dados da Anbima indicam que as grandes companhias levantaram

R$ 134 bilhões em novas

emissões de debêntures, notas promissórias e certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio em 2020

Por Ana Paula Ragazzi e Adriana Mattos — De São Paulo

Marcado pela pandemia, 2020 terminou com a percepção de que as grandes empresas saíram ainda mais fortalecidas em relação às pequenas e médias. Já há números que comprovam essa tendência. As grandes tiveram acesso amplo ao mercado de capitais, num ano em que a oferta de ações bateu recorde e somou mais de R$ 100 bilhões. No segmento de dívida, dados da Anbima indicam que as grandes companhias levantaram R$ 134 bilhões em novas emissões de debêntures, notas promissórias e certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio. E ainda captaram mais R$ 110 bilhões no exterior.

As pequenas empresas também tiveram maior acesso a crédito, algo em torno de R$ 180 bilhões, sendo R$ 40 bilhões em estímulos governamentais. Mas especialistas

01

observam que as grandes entraram na crise em situação mais “confortável”, porque acessaram rapidamente as linhas bancárias pré-aprovadas e também operações de mercado para ampliar a liquidez. Ainda que tenham pago taxas mais altas, pela piora do risco, valeu a máxima de que, em momentos de incerteza e dificuldades, “o caixa é rei”.

No comércio varejista, a concentração já é corroborada por números. Dados levantados pela GfK para o Valor indicam que a participação de mercado de seus cinco maiores clientes, grandes varejistas, aumentou de 50% em 2019 (janeiro a outubro) para 57% em 2020. Por razões contratuais, a empresa não informa o nome das empresas, mas dados das próprias redes mostram os ganhadores. Magazine Luiza e Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) citaram a analistas ganhos de “share” de 5,4 e de 8,8 pontos percentuais no terceiro trimestre, respectivamente. Na Black Friday, em novembro, o Magazine ganhou 10 pontos de participação, disse Frederico Trajano, presidente da varejista. A Via Varejo seguiu a mesma linha.

As vendas digitais contribuíram para a concentração no varejo. As empresas mais bem posicionadas na venda on-line saíram na frente e aumentaram sua força.

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Grandes empresas ganham

mercado das menores na

pandemia

Distância entre os dois

universos tende a aumentar em 2021, em cenário de retirada de

estímulos; tendência é

preocupante, segundo

especialistas

Por Ana Paula Ragazzi — De São Paulo

Leonardo Coelho: Em 2020, o país viveu numa “bolha”, criada pelos incentivos econômicos, que não vão se repetir — Foto: Divulgação

Marcado pela pandemia, 2020 se encerrou com a percepção de que as grandes empresas sairão ainda mais fortalecidas em relação às companhias pequenas e médias, segundo especialistas. Essa distância entre os dois universos corporativos tende a aumentar e se evidenciar em 2021, quando os estímulos governamentais à economia forem retirados. A potencial concentração de renda e poder nas grandes corporações preocupa.

Do ponto de vista de liquidez, aspecto fundamental para esse período de

02 incertezas, o acesso ao mercado de capitais fez a diferença para as empresas de maior porte. O ano terminou com o Ibovespa, principal índice da B3 e que reúne grandes companhias, perto das máximas, perto dos 120 mil pontos. Foi um ano de recorde em volume de oferta de ações, com mais de R$ 100 bilhões. No segmento de dívida, dados da Anbima acumulados até novembro mostram que essas grandes empresas levantaram R$ 134 bilhões em novas emissões de debêntures, certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio e notas promissórias. E captaram mais R$ 110 bilhões em emissões no exterior.

Números do Banco Central mostram que, no período entre 31 de dezembro de 2019 até 30 de novembro de 2020, houve aumento do saldo de crédito para as grandes empresas de R$ 110 bilhões. No ano passado, a alta foi de 12%. A série do BC mostra que, de março para abril, início da pandemia, esse saldo já começou a crescer, como um reflexo de empresas acessando linhas especiais de crise nos bancos. Os dados de mercado de capitais também mostram que março e abril concentraram os maiores volumes de emissões de notas promissórias (67% do total no ano) e debêntures (22,5% do total).

Apesar dos relatos de dificuldades de acesso a crédito pelas pequenas e médias, os números do BC mostram que o saldo de crédito para esse perfil de companhia aumentou R$ 179 bilhões no ano até novembro, uma alta de 32,9%. Desse total, estima-se que cerca de R$ 40 bilhões referem-se a estímulos governamentais, como Pronampe ou o Programa

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Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC) do BNDES, entre outros. Os dados do BC mostram que o salto do crédito para as menores só começou de junho para julho.

“Logo no início da crise o BC tentou fomentar crédito para todo mundo, em especial para as pequenas e médias. Mas elas não passavam pelos crivos de análise dos bancos. O crédito só escoou quando o BC se comprometeu a ficar com até 85% dos riscos e mudou regras de provisionamento e deu mais liberdade de balanço para bancos atenderem essas empresas”, diz Leonardo Coelho, sócio-diretor da Alvarez & Marsal.

O que os especialistas observam nessa fotografia do crédito é que as grandes empresas iniciaram a crise em situação mais “confortável”, pois acessaram rapidamente as linhas bancárias pré-aprovadas e também operações de mercado para ampliar o colchão de liquidez. Ainda que tenham pagado taxas mais altas, por causa da piora do risco, valeu a máxima de que, em momentos de incerteza, o caixa é rei. Fernando Soares, sócio da gestora de crédito Kobold, destaca que as grandes também estavam mais bem preparadas do ponto de vista tecnológico e de logística para transformação digital, diante dos novos hábitos surgidos ou intensificados na quarentena. Quem passou melhor pela crise foi quem teve acesso a capital, mas também capacidade estratégica.

“Acho que a questão não foi somente de acesso a crédito, mas de quem conseguiu mudar mais rápido para uma operação online”, diz Soares. “Se

03 a empresa não tinha estrutura já para fazer essa migração, a falta de acesso a financiamento pesou mais.”

Para Coelho, quem estava apertado, já não tinha market share e vendas efetivas “morreu”. “Isso vale para praticamente todos os setores, exceto transporte aéreo, turismo, entretenimento, em que mesmo as líderes estão sofrendo. Algumas até conseguiram se capitalizar, mas perderam muito dinheiro.”

Um dado que ilustra esse cenário de dificuldades que se desenha para as pequenas e médias é o de recuperações judiciais, coletado pela Serasa Experian. Cerca de 90% dos pedidos feitos até junho foram de pequenas e médias. Num recorte de comparação do período de março até outubro de 2020 com o mesmo intervalo de 2019, a proporção de pedidos feitos pelas pequenas e médias em relação ao total subiu de 60% para 75%.

Jean- Pierre Cote Gil, diretor de crédito do Julius Baer Family Office, destaca que esse universo de empresas é muito amplo. Vai desde aquelas que nem acessavam crédito e já devem ter desaparecido, até aquelas que conseguiram se fortalecer, na virada de chave digital. O comportamento de fundos de direitos creditórios (FIDCs) que descontam duplicatas de pequenos comerciantes, mostra que o crédito secou no início da pandemia para esses empresários, que tiveram de fechar as portas, mas a partir de julho, voltou a aparecer. O volume mensal de aquisições de novos direitos creditórios nos FIDCs oscila na casa dos R$ 9 bilhões e chegou a cair para R$ 4,4 bilhões em seu pior

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momento, em maio. Em tese, naquele mês, perto de R$ 5 bilhões em recursos que poderiam estar financiando pequenos negócios ficaram represados. Em julho, o volume de aquisições começou a subir, para R$ 6,9 bilhões, e atualmente está perto da média histórica. O que Cote Gil destaca é que essa história ainda não acabou. “A empresa menor que conseguiu rolar suas dívidas, acessar programas emergenciais, tem que contar agora com a retomada da atividade em 2021. Muitas estavam saudáveis, conseguiram um fôlego extra nesse período, mas agora estão na corda bamba. Se não retomarem receitas, será que vão conseguir rolar dívidas ou capital de giro novamente?” Para ele, qualquer desvio de rota do país, na questão fiscal ou no enfrentamento da pandemia, tende a dificultar a vida das pequenas.

Coelho está pessimista. “Em 2020, o país viveu numa ‘bolha’, criada pelos incentivos econômicos, que não vão se repetir em 2021. Acredito que os bancos vão estar pressionados. Eles rolaram as dívidas corporativas pela mudança de provisionamento. Mas vai chegar a hora que não poderão mais rolar tanto. O fim do auxílio emergencial vai afetar o consumo, deverá aumentar a inadimplência e a atividade vai estar restringida.” Coelho destaca que esta crise difere da de 2016, que atingiu em cheio as grandes empresas e indiretamente as pequenas. “A crise atual atinge todas, mas mais fortemente as menores, que não tinham capacidade financeira estrutural. Todo o perfil da carteira de crédito dos bancos foi atingido e no momento de novas rolagens, eles vão priorizar menos riscos”, afirma

04 Coelho. A situação preocupa do ponto de vista econômico, ele diz, porque o mundo já convivia com a redução do emprego, em função de tecnologia, e isso tende a se agravar. “As pequenas e médias são grandes empregadoras. Mais de 50% da mão de obra está com elas.”

Varejo e serviços iniciam

movimento de concentração

Segundo especialistas,

consolidação dos mercados vai além desses fatores pontuais, como falta de liquidez nos mercados e encerramento de operações

Por Adriana Mattos — De São Paulo

Mendes: Grandes entraram em 2020 com processos e planejamento melhores — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Nos últimos meses, houve um início de movimento de concentração no setor de varejo e serviços, reflexo da crise gerada após a pandemia - com o enxugamento do crédito no sistema financeiro por meses e forte queda de demanda em lojas físicas, dizem

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especialistas e empresas. No entanto, consultorias que anteciparam dados ao Valor sobre essa tendência afirmam que uma consolidação dos mercados vai além desses fatores pontuais, como falta de liquidez nos mercados e encerramento de operações.

“As grandes companhias entraram em 2020 com processos, planejamento e estrutura de coleta de dados de clientes e parceiros melhores do que empresas menores. Na recessão passada, elas já haviam avançado muito em tudo isso. No cenário atual de crise, essa vantagem faz ainda mais diferença e acaba levando as grandes companhias a ter mais fôlego em horas de muita incerteza”, diz Felipe Mendes, diretor da consultoria GfK Brasil.

Segundo ele, por já serem companhias líderes em seus mercados, tanto no varejo como na indústria - e com relações muito próximas com fornecedores e instituições financeiras - esses grupos tiveram condições de negociação melhores no ano passado. E logo, acesso a mais linhas de financiamento em períodos de estresse maior. Isso pesou no período de falta de insumos em 2020, assim como de falta de produtos, como eletrônicos, após a parada de produção. Empresas líderes conseguiram fechar acordos e se antecipar nessas compras, e com isso ganhar mercado. “No fim das contas, é o maior poder econômico, e os melhores processos e planejamentos desse grupos que levam a um aumento de concentração em crises. Elas já vieram melhor preparadas para qualquer tombo”, afirma.

05 Segundo dado levantado pela GfK ao Valor, de janeiro a outubro, a participação de mercado dos cinco maiores clientes de varejo de bens duráveis da consultoria subiu de 50% em 2019 para 57% neste intervalo em 2020. A empresa não informa o nome das redes, por razões contratuais, mas dados das próprias cadeias mostram que, entre as líderes estão Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) e Magazine Luiza.

“Essa taxa era de 55% no primeiro trimestre, foi a 58% no segundo e se manteve nos 58% no terceiro trimestre, numa média de 57% no acumulado. É uma alta enorme. Cada ponto vale muito dinheiro”, disse. Segundo levantamento publicado pelo Valor em novembro, até setembro o varejo digital e as lojas físicas de empresas abertas faturaram R$ 130 bilhões.

Grandes grupos, donos de “marketplaces” (shoppings virtuais), ou com uma venda de produtos próprios relevante, mencionam ganhos de participação de mercado acima do setor em 2020. Magazine Luiza e Via Varejo citaram a analistas semanas atrás ganhos de “share” de 5,4 pontos percentuais e de 8,8 pontos no terceiro trimestre, respectivamente, com base em dados de GfK e Neotrust/Compre&Confie. Apenas na Black Friday, em novembro, quando o evento foi fraco para a maioria das varejistas, o Magazine ganhou dez pontos de participação, disse Frederico Trajano, presidente da varejista. A Via Varejo seguiu a mesma linha. “Estamos crescendo venda, ganhando share e nossa projeção é de que isso continue ocorrendo, com base nos dados que

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vemos hoje”, disse ao Valor em entrevista semanas atrás, Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo. Na crise de 2020, há o novo componente do digital, que terá peso nessa concentração dos negócios. Por um lado, empresas mais bem posicionadas na venda on-line saíram na frente e ampliaram sua força, mas ao mesmo tempo, há um efeito positivo do digital mesmo nos pequenos negócios. Para especialistas, isso deve evitar uma consolidação do mercado ainda mais acelerada nesta crise.

A disseminação dos “marketplaces” de grandes varejistas, que cresceram rapidamente no últimos meses, ajudou a “salvar” muitos negócios pequenos, disse Trajano, do Magazine Luiza. Em abril, a empresa lançou o programa Parceiro Magalu, que buscava trazer para sua plataforma negócios pequenos. Nos primeiros dias, a média era de 2,5 mil inscrições de empresas.

Segundo cálculos da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), o Brasil abriu cerca de uma loja virtual por minuto desde o início do isolamento social, em março. Em pouco mais de dois meses, foram 107 mil novos estabelecimentos criados no on-line, de acordo com levantamento feito pela entre 23 de março e 31 de maio. Antes da crise sanitária, a média de aberturas ao mês era de 10 mil.

“O incrível é que, no cálculo de entidades do setor, 100 mil estabelecimentos fecharam as portas desde abril. Então, é como se todo mundo que parou de operar tivesse ido para o digital”, diz Tito Bessa Jr,

06 presidente da Ablos, associação dos lojistas satélites, e fundador da rede de moda TNG. “O comércio eletrônico ajuda a evitar uma consolidação ainda mais forte, mas, para a empresa sair da crise realmente, e com um negócio mais parrudo, é preciso de acesso à capital e de retomada em 2021.” Nos shopping centers, houve um aumento no volume de pontos fechados entre abril e agosto, segundo dados da Abrasce, a associação do setor, e isso afetou especialmente as lojas satélites, de menor porte, muitas delas regionais. De acordo com a Abrasce, 11 mil lojas em shoppings fecharam as portas de forma definitiva entre abril e agosto, e em novembro, cerca de 6,5 mil tinham voltado a operar. Ou seja, 4,5 mil continuavam desocupadas.

Bessa Jr diz que esse movimento deve avançar mais no começo de 2021, especialmente no varejo que atende a classe média. “Já vemos fundos e investidores acionando redes de moda que atendem a classe B, para discutir fusões, o que tende a aumentar a consolidação desse mercado em 2021”.

A despeito de esse movimento de concentração já ter começado, os analistas ouvidos entendem que ele ainda pode ganhar força maior em 2021, devido ao risco de piora do cenário econômico. Isso porque ele tende a ampliar os abismos entre as empresas, em termos de capacidade de reação, afirmam eles.

https://valor.globo.com/impresso/20210 105/

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Pagina, terça-feira

05 de janeiro de 2021.

STJ admite tributação de

remessas

Decisão que altera

jurisprudência aplicada desde 2012 a pagamentos por serviços é da 2ª Turma e questão deve ser decidida por grupo que reúne também integrantes da 1ª Turma Por Joice Bacelo — Do Rio

Na última sessão de 2020, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mudou seu entendimento e decidiu que a União pode cobrar Imposto de Renda na fonte (IRRF) sobre remessas ao exterior para pagamento de serviços e assistência técnica. Desde 2012, a jurisprudência era contrária à tributação. Dados do Banco Central mostram que empresas brasileiras contratam muitos serviços no exterior. Em 2019, foram US$ 69,3 bilhões, valor sobre o qual incidiriam 15% de Imposto de Renda. Como a 1ª Turma costuma votar favoravelmente ao contribuinte, a questão deve ser decidida pelo grupo que reúne as duas turmas.

07

STJ muda de entendimento e

aceita tributação de remessas

ao exterior

Decisão da 2ª Turma altera jurisprudência aplicada desde 2012 a pagamentos por serviços Por Joice Bacelo — Do Rio

Ministro Mauro Campell Marques: analisar, em cada caso, se o contribuinte está fazendo uso de “hibridismo” — Foto: Divulgação Na última sessão do ano, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a União pode cobrar Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre remessas ao exterior para pagamento de serviços e assistência técnica. A decisão muda a jurisprudência sobre o tema. A Corte, desde 2012, tinha entendimento consolidado para liberar as empresas da tributação.

Os ministros concordaram com uma nova argumentação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) que leva em conta “letras miúdas” de

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tratados internacionais firmados pelo Brasil para evitar a bitributação. Antes, nas decisões que liberavam as empresas do pagamento, eles entendiam pela aplicação automática do artigo 7º dos acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte e que têm base na Convenção Modelo da OCDE. O dispositivo estabelece, como regra geral, que a tributação do lucro tem de ocorrer exclusivamente no país de origem da empresa.

A tese era a de que a renda proveniente dos serviços técnicos prestados no Brasil deveria ser considerada como lucro, e portanto, aplicando o artigo 7º, a tributação de tais valores só poderia se dar no exterior.

Esse tema tem grande impacto para as empresas. Entre janeiro e novembro de 2020 foram enviados US$ 44,2 bilhões para o pagamento de serviços no exterior, segundo dados do Banco Central. Em 2019, por sua vez, o envio de recursos foi ainda maior, atingindo US$ 69,3 bilhões ao longo de todo o ano. A alíquota cobrada sobre essas remessas é de 15%.

Boa parte dos processos que existem sobre a cobrança de Imposto de Renda nesses casos são preventivos. As empresas entraram com mandados de segurança, pedindo autorização da Justiça para não pagar o imposto, antes de ter qualquer discussão com a Receita Federal.

A PGFN vinha fazendo um trabalho forte junto aos ministros do STJ, para tentar emplacar a nova tese, desde o começo do ano. Na 2ª Turma a

08 decisão foi unânime. A 1ª Turma, que também julga as questões de direito público na Corte, no entanto, continua decidindo de forma favorável ao contribuinte.

Com a divergência de decisões entre as duas, esse tema, a partir de agora, poderá ser levado para julgamento na Seção - que uniformizará o entendimento a ser adotado.

Os procuradores afirmam que o parágrafo 5º do artigo 7º dos acordos internacionais prevê tratamento diferenciado a determinados rendimentos que compõem o lucro das empresas, se assim estiver estabelecido em um outro trecho do tratado.

E, segundo a PGFN, a maioria dos acordos internacionais contém anexos (ou protocolos) esclarecendo que para “serviços técnicos” ou de “assistência técnica” aplica-se, por equiparação, o mesmo regime jurídico reservado aos “royalties”, que são tributados no país de origem.

Só cinco dos 32 acordos assinados pelo Brasil não têm esses protocolos. São os firmados com a Áustria, França, Finlândia, Japão e Suécia. A leitura equivocada da maioria desses tratados, afirma o órgão, faz com que muitas empresas não recolham o imposto nem na origem, nem no destino.

O caso julgado pela 2ª Turma do STJ na última sessão de 2020 tratava de uma empresa com sede em São Paulo, a Engecorps Engenharia, que enviou valores para uma companhia com sede na Espanha como pagamento pela prestação de serviços de

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engenharia e assistência administrativa.

Na segunda instância, a empresa foi liberada da tributação. Os desembargadores consideraram que tais valores deveriam ser enquadrados como “lucros das empresas” e tributados “exclusivamente no exterior”, conforme estabelece o artigo 7º da convenção assinada entre Brasil e Espanha para evitar a dupla tributação, que consta no Decreto nº 76.975, de 1976, e tem base na Convenção Modelo da OCDE.

Os ministros do STJ, no entanto, entenderam que deveriam fazer uma análise mais aprofundada do texto, como defendia a PGFN.

Relator do caso, o ministro Mauro Campell Marques afirma, em seu voto, que os tratados podem vir acompanhados de protocolos que estabelecem a ampliação do conceito de royalties a qualquer espécie de pagamento recebido em razão de assistência técnica e de serviços técnicos.

“Cite-se o item 5 do Protocolo anexo à convenção sob exame”, ele diz, referindo-se ao acordo Brasil-Espanha. “Nesse contexto, a norma de incidência do modelo de tratado da OCDE será o artigo 12, que trata da tributação dos royalties, a permitir tributação pelo Brasil”, acrescenta. Campbell Marques entende ainda que é preciso analisar, em cada caso, se o contribuinte está fazendo uso de “hibridismo”, ou seja, se a classificação dos rendimentos é idêntica no país da fonte e no da

09 residência. “Poderá estar utilizando o tratado de forma abusiva”, diz.

A decisão foi unânime. Participaram do julgamento, além do relator, os ministros Assusete Magalhães, Francisco Falcão, Herman Benjamin e Og Fernandes. Eles determinaram a devolução do processo para o tribunal regional, para que os desembargadores avaliem se, no caso concreto, há pagamento de royalties e se os valores foram enquadrados da mesma forma nos dois países (REsp º 1759081).

“Foi uma grande virada porque o STJ não estava analisando essas manifestações. Desta vez, não só analisou de maneira minuciosa como acolheu a tese da Fazenda”, afirma a procuradora Mônica Lima, que atua no processo pela PGFN.

Ela diz que os estudos e a doutrina evoluíram ao longo dos anos. Em 2012, quando o STJ firmou entendimento pela tributação exclusivamente no exterior, frisa a procuradora, a discussão era outra. Os ministros, naquela ocasião, afastaram a aplicação do Ato Declaratório Interpretativo nº 1, da Receita, publicado no ano 2000. O Fisco afirmava que as remessas teriam de ser enquadradas no artigo 21 do tratado. “Seriam rendimentos não expressamente mencionados”, pois o lucro era algo apurado somente no país de origem das empresas contratadas e não exatamente o que foi pago pelas empresas nacionais contratantes.

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“O grande ponto da nova tese é a correta interpretação para os protocolos anexos. Precisamos saber exatamente qual é o objeto do contrato e como ele vai ser inserido nesse contexto de tratado”, diz Mônica Lima.

O advogado que representa a Engecorps Engenharia foi procurado pela reportagem, mas não quis comentar o julgamento. (Colaborou Estevão Taiar) https://valor.globo.com/legislacao/notici a/2021/01/05/stj-muda-de- entendimento-e-aceita-tributacao-de-remessas-ao-exterior.ghtml Retorne ao índice 10

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, terça-feira 05 de

janeiro de 2021.

Para tapar contas e buracos,

Rio quer taxar Uber

Para Maína Celidonio, secretária de Transportes, aumento do tráfego de veículos profissionais desgasta vias

Por Cristian Klein e Gabriel Vasconcelos — Do Rio

Maína Celidonio, secretária de Transportes: “Vamos pensar essa regulamentação nos primeiros cem dias de mandato” — Foto: Leo Pinheiro/Valor Com a grave crise fiscal deixada pelo ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que atualmente cumpre prisão domiciliar, a Prefeitura do Rio tem urgência em encontrar fontes de receita e uma das saídas estudadas é a taxação de serviços de aplicativo como Uber, afirma a

11

secretária de Transportes, Maína Celidonio. Em entrevista ao Valor, a economista disse que o assunto está sendo debatido pela equipe do prefeito Eduardo Paes (DEM). Uma das justificativas é o desgaste causado às vias da cidade pelo número crescente de carros com motoristas profissionais. Cobrança similar foi tentada por Crivella, mas acabou derrubada pela Câmara Municipal. “O desafio no caso do Uber é que não conseguimos controlar a quantidade de carros que estão usando e sobrecarregando a via. É preciso pensar como cobrar pelo uso da via. A gente ainda está estudando como vai ser [a taxação], mas isso é uma das prioridades da gestão. Vamos pensar essa regulamentação nos primeiros cem dias de mandato”, diz Maína, cuja posição encontra respaldo na cúpula do governo. “Eu sou a favor dessa taxação. Não só por uma questão de ordenamento da cidade, como também de compensação pelo uso das vias públicas. Mas essa é uma ideia ainda muito crua, que vamos aperfeiçoar”, afirma Pedro Paulo, secretário de Fazenda, Planejamento e Controladoria.

Maína é uma das apostas do secretariado de Paes e, com perfil técnico, oriunda da academia, assume uma área sempre às voltas com a pressão de grupos de interesses. A economista reconhece a existência de uma “caixa preta” na interação entre poder público e concessionárias de ônibus e defende regulação mais ostensiva do setor - historicamente marcado pelo forte lobby e pela frequência nos escândalos de corrupção. A secretária, contudo,

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dispensa o mero enfrentamento e fala em diálogo e conciliação para chegar a um denominador comum entre as demandas de empresários e da população: “É um desafio, mas podemos garantir boas condições para as operadoras e boa qualidade de serviço ao usuário”.

Maína argumenta que, por causa da pandemia, o setor de transportes está numa situação muito complicada, com queda grande na demanda. “O risco está na mão do operador. Temos como trabalhar para obtermos ganhos para os dois lados. Meu papel não é simplesmente enfrentar os interesses das operadoras, muito pelo contrário, é achar um ponto de conciliação que seja bom para usuários e empresas”, diz.

Como ato inaugural da gestão, Maína promete reabilitar seis estações do sistema de BRT (Bus Rapid Transit) nos primeiros dias de janeiro e uma sétima em fevereiro, a partir de quando haverá um calendário contínuo de reabertura de pontos. Principal meio de acesso dos moradores da Zona Oeste - a mais populosa do Rio - às outras áreas da cidade, a malha de corredores exclusivos de ônibus foi inaugurada no segundo governo Paes (2013-2016), mas, negligenciado sob Crivella, viu 56 das 125 estações fecharem por falta de manutenção, vandalismo ou falta de segurança. “Ainda não temos um diagnóstico completo, mas, além das estações fechadas, estimamos que cerca de 40% da frota do BRT não esteja operando. Existia um centro de controle de operações da prefeitura exclusivo para esse sistema que foi

12 desativado [no governo anterior]. Isso compromete a regulação”, diz.

Outro foco da secretária para o BRT é a implantação da quarta linha na cidade, a Transbrasil, cujas obras se arrastam desde 2014. A linha de 39 km de extensão foi projetada para transportar diariamente 900 mil passageiros dos bairros da Zona Oeste até o Centro da cidade, fechando a malha desse tipo na cidade. Mas o projeto orçado em R$ 1,5 bilhão nunca saiu do papel e, segundo relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM-RJ), os atrasos já geraram um prejuízo de R$ 730 milhões aos cofres públicos.

Os problemas também alcançam as linhas de ônibus tradicionais que, após assistirem a demanda despencar na pandemia, deixaram de circular ou reduziram bruscamente a oferta de veículos. A este cenário, Maína acrescenta fatores mais estruturais. “O transporte público, mas sobretudo o ônibus, vem perdendo usuário para o transporte privado, por aplicativos. Isso sem falar na crise econômica que é mais acentuada no Rio. Há um problema crônico de receita que fragilizou muito as empresas”, afirma. A secretária reconhece a falta de reajustes de tarifa nos últimos anos - reclamação constante dos concessionários - mas nega aumentos imediatos, o que, diz, pressuporia contrapartidas de melhoria nos serviços. “A gente não tem nenhum planejamento de reajuste. Vamos buscar um bom diagnóstico do sistema antes de qualquer renegociação de tarifa”, diz.

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Mesmo assim, afirma Maína, é possível sanar a crise financeira do BRT e das viações tradicionais por outros meios, como intervenções para racionalizar a malha. “Há linhas de ônibus que concorrem com o BRT, não há integração tarifária e os modais não se comunicam”, diz. Tornar o sistema mais atraente, com precisão de horários e previsibilidade, também está na agenda. “Com a tecnologia que existe hoje, isso é perfeitamente possível. Espero que [a previsibilidade de horários] seja um legado nosso”, diz. Ela afirma que todos os ônibus da cidade já são providos de GPS, o que permite rastreá-los em tempo real não só com o intuito de informar a posição ao usuário, mas, também, para alimentar bases de dados da fiscalização sobre funcionamento das linhas.

Outra pretensão da nova secretária para sanear as finanças do sistema são inovações contratuais. “Não existe um caixa de compensação, que faça uma linha mais saudável passar parte do seu faturamento para as deficitárias. Isso é fundamental, um norte para dar viabilidade financeira para um sistema que conta com linhas extremamente lucrativas, como as que ligam a Zona Sul ao Centro, transportando muita gente em distâncias curtas, e linhas menos interessantes, como as que operam nas Zonas Oeste e Norte, com suas densidades demográficas menores e distâncias maiores”, afirma.

Essa mudança na lógica dos contratos, diz Maína, passa por um esforço de transparência e regulação que estará no cerne da atuação da pasta: “Estamos criando uma coordenação de monitoramento de

13 dados para alimentar os setores de planejamento, gestão e fiscalização. Até hoje dependemos dos fiscais de rua ou das queixas telefônicas dos usuários. Com um acompanhamento mais inteligente, vamos poder questionar e cobrar as empresas”. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/01/05/para-tapar-contas-e-buracos-rio-quer

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, terça-feira 05 de

janeiro de 2021.

Um revolucionário final de ano

Tratado de investimento UE-China ajudará a impulsionar a cooperação

Por Jeffrey D. Sachs

Parabéns à Comissão Europeia por finalizar um novo acordo de investimento com a China. A diplomacia ativa da Europa também desempenhou importante papel no recente compromisso da China de alcançar a neutralidade de carbono até 2060 - decisão que foi rapidamente seguida pela promessa do Japão de se descarbonizar até 2050. A diplomacia apresenta agora mais um grande sucesso.

O novo acordo de investimento UE-China beneficiará a Europa, a UE-China, o mundo e até os Estados Unidos, apesar de suas advertências contrárias. Em termos gerais, o acordo significa a intenção da UE e da

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China de continuar a aprofundar as relações econômicas, assegurando a cada uma das partes acesso mais garantido a investimentos na economia entre elas.

A Europa está certa em se

engajar ativa, profunda e

construtivamente com a China, ao mesmo tempo que atende às suas preocupações sobre os direitos humanos em todo o mundo. O governo Biden deve reiniciar relações construtivas com a China

O acordo vem diante de tentativas profundamente equivocadas do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não apenas de cortar laços econômicos com a China nas indústrias de alta tecnologia, como também de conter o crescimento da China, forjando uma aliança liderada pelos EUA que Trump esperava ser apoiada pela UE e países da Ásia-Pacífico, incluindo Austrália, Índia, Japão e Coreia do Sul.

O objetivo ostensivo da política dos EUA é restringir a beligerância da China e as violações dos direitos humanos, dizem os EUA. Mas, são os EUA que mantém cerca de 800 bases militares no exterior e que repetidamente deflagrou guerras ilegais, impôs sanções unilaterais ilegais e se recusou a cumprir a Carta das Nações Unidas, tratados e decisões do Conselho de Segurança. Fica difícil argumentar que a China é a parte beligerante aqui.

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A China, sem dúvida, deveria melhorar seu histórico em direitos humanos - especialmente com relação à situação na Região Autônoma Uigur de Xinjiang. Mas vamos ser claros: EUA, Europa, Índia e muitos países ocidentais deveriam fazer melhorias semelhantes. Nos últimos 20 anos, as populações muçulmanas no Oriente Médio e na Ásia do Sul e Central sofreram com guerras brutais sanções unilaterais dos EUA e outros abusos. O fato é que poucos países acatam adequadamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os EUA, para sua enorme vergonha, ainda não ratificaram o Pacto das Nações Unidas sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, enquanto a China e os 27 Estados membros da UE o fizeram há muito tempo. A resposta correta às preocupações genuínas sobre direitos humanos é abordá-las de maneira séria e construtiva, sem acusações hipócritas, exageros ou interrupções no diálogo, na diplomacia e nas relações econômicas. Que o país sem pecado atire a primeira pedra.

Mas a real intenção dos EUA em se opor à China não tem nada a ver com direitos humanos. Particularmente sob a administração sem lei de Trump, as políticas dos EUA foram motivadas pura e simplesmente por sua fome de domínio. Os Estados Unidos estão tentando impedir a ascensão tecnológica e econômica da China para preservar a própria predominância. O sistema econômico mundial, no entanto, não pode e não deve operar em benefício da hegemonia dos EUA, especialmente considerando-se que os EUA

15 representam apenas 4% da população global.

Após as tragédias de 2020, o mundo precisa de uma renovada cooperação global, não de uma nova guerra fria alimentada pelos EUA. Afinal, a China, ao contrário dos EUA e da Europa, foi bem-sucedida em conter sua epidemia da covid- 19 (assim como a maioria de seus vizinhos na região da Ásia-Pacífico). Agora, a China e seus vizinhos devem ajudar o resto do mundo a implementar as intervenções não farmacêuticas (teste, rastreamento de contato e quarentena) que tiveram sucesso onde as políticas dos EUA e da Europa falharam.

A UE, a China e a administração do presidente eleito, Joe Biden, dos EUA, também deveriam unir forças para mapear uma recuperação global verde e digital. Com os principais emissores agora buscando a neutralidade de carbono e com Biden planejando levar os EUA de volta ao acordo climático de Paris e comprometer o país com a descarbonização até 2050, temos os ingredientes para uma recuperação verde de base ampla.

Além disso, o desenvolvimento e a implantação de novas tecnologias verdes - energia renovável, veículos elétricos (VE) e armazenamento de bateria - se beneficiarão imensamente da cooperação global. Por exemplo, apenas esta semana, o Grupo Yahua da China, grande produtor de hidróxido de lítio, assinou contrato para fornecer cinco anos de insumos para a produção de baterias na Tesla, fabricante de veículos elétricos com sede nos Estados Unidos.

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Em um mundo onde o acesso digital é crucial para a participação econômica, as tecnologias 5G prometem soluções inovadoras para uma série de desafios. Felizmente, o tratado de investimento UE-China ajudará a impulsionar a cooperação digital, o que pode dar um grande impulso ao desenvolvimento sustentável.

Ainda assim, será importante para a Europa continuar resistindo à pressão dos EUA contra a China. A principal arma de Trump contra a China tem sido interromper a exportação de tecnologias avançadas na esperança de colocar de joelhos a Huawei e outras grandes empresas chinesas de tecnologia. Esse movimento vem diretamente do manual de hegemonia dos EUA e foi aplicado contra a União Soviética durante a Guerra Fria. A administração de Trump justifica sua abordagem em relação à Huawei com o argumento de que a China pode espionar terceiros usando o equipamento 5G da Huawei. Um motivo mais plausível é que o equipamento da Huawei tornaria mais difícil para o governo dos EUA espionar terceiros, incluindo cidadãos americanos. Uma razão ainda mais provável é que os EUA ingenuamente pensam que podem manter a superioridade tecnológica indefinidamente cortando os insumos avançados para a China. Mas a China provavelmente será capaz de rapidamente fechar as lacunas tecnológicas restantes na produção de semicondutores avançados.

A Europa está certa em se engajar ativa, profunda e construtivamente com a China, ao mesmo tempo que atende às suas preocupações sobre os

16 direitos humanos em todo o mundo. O governo Biden deve reiniciar relações construtivas com a China. Por enquanto, o novo acordo de investimento UE-China é uma boa maneira de encerrar um ano sombrio. A UE expressou suas prerrogativas de política externa independentemente dos EUA. Porém, mais desafios nos aguardam em 2021, quando o mundo precisa urgentemente mudar de rumo para acabar com a pandemia e entrar no caminho do desenvolvimento sustentável. (Tradução de Anna Maria Dalle Luche).

Jeffrey D. Sachs, professor de Desenvolvimento Sustentável e Professor de Política e Gestão de

Saúde na Universidade de

Columbia, é diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia e da

Rede de Soluções de

Desenvolvimento Sustentável da ONU. Project Syndicate, 2020.

www.project-syndicate.org

https://valor.globo.com/opiniao/colu na/um-revolucionario-final-de-ano.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, terça-feira 05 de

janeiro de 2021.

Saneamento ainda aguarda

definições e novos projetos

A expectativa para 2021 não é de

uma avalanche de novos

projetos, mas sim de uma consolidação das novas regras Por Taís Hirata — De São Paulo

Após um 2020 de euforia com a aprovação do marco legal do saneamento, o setor começa o novo ano ainda à espera de definições. A expectativa para 2021 não é de uma avalanche de novos projetos, mas sim de uma consolidação das novas regras, que serão determinantes para o futuro do mercado e, especialmente, para a sobrevivência das estatais. O primeiro passo serão os decretos que regulamentam a nova lei. No dia 25 de dezembro, foi publicado o primeiro deles, com as diretrizes de apoio técnico e financeiro da União aos projetos de saneamento. Porém, há ainda outros a serem redigidos. Para analistas, 2021 não será um ano de ‘boom’ de projetos, mas de consolidação do novo marco legal

O mais aguardado e controverso será o decreto que define os critérios para que as empresas comprovem sua

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capacidade econômico-financeira para fazer os investimentos necessários, sob risco de perda do contrato. Essa norma poderá ser um divisor de águas, já que definirá quais companhias estaduais resistirão ao novo marco. O decreto deveria ter saído até outubro, mas ainda não foi publicado.

“A principal questão em 2021 é quem vai permanecer no jogo”, avalia Fernando Vernalha, sócio do Vernalha Pereira Advogados. Para ele, a demora para a definição dos critérios preocupa, já que, até março de 2022, todos os contratos deverão trazer as novas exigências de universalização estabelecidas pela lei. “É uma janela curta para que todas as companhias comprovem sua capacidade econômica. Essa demonstração não é simples, as empresas vão ter que criar um plano de negócios, fluxo de caixa. Além disso, caso seja necessária uma análise de crédito pelos bancos, também é um processo que demora”, afirma.

Outra incerteza que terá que ser endereçada neste ano é a possível queda do veto a um dos principais artigos da lei, o que definirá se estatais podem ou não renovar contratos por mais 30 anos. O texto aprovado pelos parlamentares permitia essa prorrogação, mas o trecho foi vetado pelo governo. Desde então, existe a ameaça de que os congressistas derrubem o veto.

Embora essa definição seja essencial, é possível prosseguir com a regulamentação da lei mesmo sem a

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votação, ainda que mais tarde seja preciso fazer ajustes, avalia Gustavo Magalhães, sócio do Fialho Salles. Outra forte expectativa é em relação às normas de referência da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que começam a sair também em 2021. As diretrizes do órgão federal, que deverão dar mais padrão e segurança jurídica ao setor, são muito aguardadas, principalmente por quem ainda não está no mercado. Além disso, a agência ainda terá que se equipar, com mais recursos e funcionários, para passar a exercer a nova função de regulador do saneamento.

“A perspectiva é muito otimista para o setor de água e esgoto, que ainda irá atrair muitos investimentos e novos grupos. A dúvida é qual será a velocidade dessa expansão. Ainda estamos no começo, não tem regulação da ANA, a questão dos vetos ainda não foi resolvida”, diz Marina Anselmo, sócia do Mattos Filho.

Para ela, 2022 deverá ser o principal ano para o mercado. Neste ano, não há ainda uma expectativa de “boom”. Para os analistas, o grande projeto de 2021, sem dúvidas, será o leilão da Cedae, um projeto bilionário que promete mobilizar diversos grupos - mas que, avaliam, certamente terá muitos percalços até de fato sair do papel.

O BNDES também tem outros projetos relevantes em estruturação, como as concessões no Amapá e no Rio Grande do Sul - a do Acre, que estava avançada, não deverá se concretizar devido à desistência do novo prefeito da capital do Estado.

18 Além deles, há dezenas de projetos municipais, em cidades como Petrolina (PE) e Erechim (RS), que poderão sair do papel em 2021. Recentemente, houve um sinal verde para essas concessões que já estavam em estágio avançado, com a permissão de apoio financeiro federal aos projetos.

Pela nova lei, a União passará a apoiar apenas concessões de blocos regionais, e não mais os projetos de municípios isolados. Porém, foi criada uma regra de transição. A liberação foi comemorada pela Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon). “O decreto foi bastante adequado e criou uma transição efetiva ao novo modelo”, avalia o diretor-executivo da entidade, Percy Soares.

Ainda há incerteza sobre como será a formação dos novos projetos daqui para frente, que terão que ser necessariamente regionalizados. A própria lei prevê regras para a formação desses blocos regionais, mais diversas lacunas precisam ser explicadas.

Para André Freire, sócio do Mattos Filho, também há dúvidas sobre como será a negociação política para a composição dos blocos. “A formação de blocos regionais sempre foi possível, mas falta vontade política. Com a nova lei, a União entra no jogo para incentivar, mas a formação desses blocos regionais ainda é uma incógnita”, diz.

https://valor.globo.com/empresas Retorne ao índice

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, terça-feira 05 de

janeiro de 2021.

Vazão menor em Belo Monte

pode elevar preço da energia

Questões ambientais levam

Ibama a estudar possível

redução do fluxo de água na usina

Por Gabriela Ruddy — Do Rio

Cerca de um ano depois de entrar em plena operação, a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, volta a gerar controvérsias devido aos seus impactos ambientais. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai definir até o fim de fevereiro se determinará a redução na vazão do rio Xingu e um estudo da consultoria Thymos mostrou que, caso o órgão opte pela mudança para reduzir os impactos ambientais da usina, poderá haver um aumento de até R$ 40 no preço da energia no mercado de curto prazo de eletricidade em março.

Desde o início da operação em 2015, até o fim de 2019, o projeto operou com uma disponibilidade de água menos restritiva, mas a partir de 2020 estava previsto o início um período de seis anos de alteração entre diferentes vazões, definido pelo Ibama. No entanto, análises feitas

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pelo instituto em 2019 verificaram um aumento na intensidade dos impactos ambientais do empreendimento, referentes, por exemplo, às inundações periódicas de planícies próximas, além de alterações nas populações de peixes e nas condições de navegação do Xingu. Estudo da Thymos mostra que redução de fluxo para o rio Xingu pode aumentar a tarifa em até R$ 40 por MWh

Com isso, o órgão ambiental solicitou estudos complementares ao consórcio Norte Energia, responsável pelo projeto, entregues em dezembro. Procurado, o consórcio afirmou que a possibilidade de mudança na vazão do Xingu o surpreendeu. Os documentos estão em análise pelo Ibama, que vai tomar até o fim do mês que vem a decisão sobre mudar ou não a vazão do rio que atende a hidrelétrica. O estudo da Thymos aponta que uma eventual redução no volume de água disponível para Belo Monte pode impactar todo o sistema elétrico brasileiro. A mudança na vazão poderia causar aumento de R$ 10 por megawatt hora (MWh) em janeiro no preço de liquidação das diferenças (PLD), utilizado no mercado de curto prazo de energia, no qual negociam os consumidores que estão no mercado livre, ou seja, aqueles não são atendidos por distribuidoras regionais. O impacto pode subir para R$ 13 por MWh em fevereiro e R$ 28 por MWh em março, mesmo que a demanda por energia nesses meses apresente comportamentos típicos para a época. Caso, por outro lado, ocorra um aumento no consumo de

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eletricidade nacional, a alta nos preços pode chegar a R$ 40 em março.

“Belo Monte é uma usina considerada estruturante. Essa própria definição leva a entender que ela é relevante para o país. Estamos falando da terceira maior hidrelétrica do mundo. Tirar um volume da usina de operação, gerando menos do que poderia, impacta a segurança energética”, explica o sócio da Thymos, Alexandre Viana.

Além dos impactos nos preços de energia, o estudo da consultoria mostrou também que redução da vazão vai impactar o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE). O mecanismo transfere volumes excedentes das usinas que geraram além de sua garantia física para aqueles que geraram abaixo, de modo a equilibrar o mercado. Com isto, pode haver desequilíbrios no sistema e alterações na medição do risco hidrológico. Segundo o gerente de preços e estudos de mercado da Thymos, Gustavo Carvalho, outras hidrelétricas podem ser impactadas pela mudança.

“O MRE funciona como um condomínio, criado para mitigar o risco hidrológico; se uma hidrelétrica gera mais do que o previsto e outra gera menos, há uma compensação entre elas. De certa forma estamos discutindo um risco não hidrológico, então outras usinas podem vir a pedir alguma compensação por isso”, explica Carvalho.

De acordo com o próprio consórcio Norte Energia, uma redução na vazão do Xingu determinada pelo Ibama entre outubro e dezembro já causou

20 perdas na geração de Belo Monte equivalentes a 142 MW médios. Em 2021, a concessionária estima que a perda pode chegar a 1.575 MW médios, equivalentes a 45,7% da garantia física da usina.

Um outro efeito da redução da geração seria o subaproveitamento da linha de transmissão construída para atender ao projeto. A infraestrutura de 2,5 mil quilômetros de extensão é operada pela Xingu-Rio Transmissora de Energia, subsidiária da chinesa State Grid, e custou R$ 5 bilhões. Com 11,2 gigawatts de potência, a usina de Belo Monte somente entrou em plena operação em novembro de 2019, nove anos após a assinatura do contrato de concessão pela Norte Energia. A construção do empreendimento foi alvo de polêmicas na última década, devido aos impactos ambientais e sociais associados à inundação do terreno para a construção do reservatório, com efeitos principalmente sobre populações indígenas e ribeirinhas da região de Altamira, no Pará.

A expectativa do mercado é que a Norte Energia e o Ibama cheguem a um consenso sobre a questão da vazão do reservatório que evite maiores impactos ao setor de energia no país. A concessionária defende a possibilidade de manter estudos e monitoramentos permanentes e que eventuais desvios em relação aos impactos previstos inicialmente possam ser alvo de ações mitigatórias. De acordo com o sócio da Thymos, revisitar as condições para um projeto que já tem licença ambiental emitida pode passar um sinal ruim para investidores. “É importante sempre ter uma visão integrada, focar em

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discutir o legado dos projetos de forma estruturada e abrir mão dos extremos”, diz Viana.

https://valor.globo.com/empresas/no ticia/2021/01/05/vazao-menor-em- belo-monte-pode-elevar-preco-da-energia.ghtml Retorne ao índice 21

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, terça-feira 05 de

janeiro de 2021.

Nos EUA, nasce um sindicato

para pressionar o Google

Trabalhadores pedem

prioridade à ética para criar produtos e proteção a mão de obra temporária

Por Taylor Nicole Rogers — Financial Times

Alphabet, dona do Google, emprega 140 mil pessoas e o sindicato foi criado por 226 funcionários: caso raro no Vale do Silício — Foto: David Paul Morris/Bloomberg

Centenas de trabalhadores da Alphabet, controladora do Google, formaram um sindicato, uma inciativa que é rara no Vale do Silício e deve aumentar a tensão entre a empresa de tecnologia e seus funcionários.

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O grupo, que anunciou sua formação em um artigo de opinião no “The New York Times” ontem, inclui 226 dos mais de 140 mil funcionários da Alphabet e é afiliado ao sindicato nacional Communications Workers of America (trabalhadores do setor de comunicações dos Estados Unidos). Alan Morales, um engenheiro de riscos cibernéticos e organizador sindical, espera que o número de sindicalizados “cresça aos milhares” agora que o sindicato formalizou sua existência publicamente.

Embora o sindicato não tenha poder para renegociar os contratos de trabalho de seus membros, por ser ainda pequeno, ele planeja pressionar a empresa para que dê prioridade à ética no desenvolvimento de produtos, leve mais a sério as denúncias de comportamento impróprio no local de trabalho e proteja os direitos dos trabalhadores temporários e contratados que, segundo o grupo, representam metade da força de trabalho da Alphabet.

“Queremos que este sindicato torne a Alphabet e o mundo lugares melhores e queremos defender nossas condições de trabalho para que isso aconteça”, disse Morales. “Nós temos consciência de que o Google e outras empresas da internet têm produtos que são muito relevantes em nosso dia a dia e acreditamos que podemos tornar o mundo um lugar melhor com o uso de nosso poder de negociação coletivo.”

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A sindicalização é algo extremamente raro nos grandes grupos de tecnologia do Vale do Silício, embora haja um descontentamento cada vez maior entre os trabalhadores a respeito de como as empresas lidam com as preocupações dos funcionários sobre os usos de seus produtos e sobre o tratamento dado a grupos marginalizados no local de trabalho. O recém-formado Sindicato dos Trabalhadores da Alphabet informa que é o primeiro desse tipo.

A diretora de pessoal da Alphabet, Kara Silverstein, disse, em nota: “Sempre trabalhamos duro para criar um local de trabalho que dê apoio e seja recompensador para nossa força de trabalho. É claro que nossos funcionários têm protegido direitos trabalhistas que apoiamos. Mas, como sempre fizemos, continuaremos a nos envolver diretamente com todos os nossos funcionários.”

Os líderes do grupo disseram que vinham fazendo reuniões secretas para discutir as deficiências de seus empregadores há mais de um ano, em uma iniciativa discreta que se encerrou com o anúncio da formação do sindicato.

Morales disse que se uniu ao grupo por intermédio de colegas que conheceu em uma passeata anterior sobre problemas enfrentados pelas mulheres, mas explicou que alguns trabalhadores hesitam em aderir por medo de retaliações.

O National Labor Relations Board (conselho nacional de relações trabalhistas), que supervisiona negociações coletivas nos Estados Unidos, avaliou no mês passado que o Google provavelmente violou a lei

23 trabalhista ao monitorar e depois demitir dois funcionários que criticaram publicamente a empresa e incentivou os trabalhadores a se organizarem.

“Esta é uma empresa que tem um histórico de trabalhadores que se manifestam quando a empresa não se mostra à altura de seus valores, mas o que descobrimos nos últimos dois anos é que o ciclo normal de petições e cobertura da imprensa não é mais suficiente”, disse a engenheira de software do Google Auni Ahsan, que é membro do conselho executivo do sindicato.

“A empresa não estava mais ouvindo, então achamos que era realmente importante nos reunirmos e organizarmos este sindicato, para que pudéssemos ter uma estrutura sustentável e construir um movimento para ganhar força em nosso local de trabalho”, disse a engenheira.

A tensão entre a Alphabet e parte de sua força de trabalho já era grande. Os funcionários organizaram vários protestos e paralisações nos últimos anos, entre elas uma que levou a empresa a cancelar um contrato com o Departamento de Defesa dos EUA em 2018.

Os líderes sindicais dizem que ainda não receberam uma resposta formal da Alphabet.

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Valor Econômico

Caderno: Legislação e Tributos,

terça-feira 05 de janeiro de 2021.

Empresas da Bahia voltam a

pagar taxa sobre contêineres

Na Justiça, a Tecon Salvador

conseguiu derrubar liminar

obtida pela Usuport

Por Arthur Rosa — De São Paulo

Divulgação — Foto: Demir Lourenço: decisão reforça confiança sobre regularidade de cobrança

O terminal de contêineres Tecon Salvador conseguiu derrubar na Justiça Federal da Bahia liminar obtida pela Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport) contra tarifa cobrada para o escaneamento de cargas - inspeção não invasiva determinada pela Receita Federal. A decisão foi concedida pelo juiz Ávio Mozar José Ferraz de Novaes, da 12ª

25

Vara Federal Cível do Estado, em pedido de reconsideração.

O magistrado entendeu que não poderia ser aplicada ao caso a Instrução Normativa nº 680, editada pela Receita Federal em 2006, que, entre outros pontos, isentava os importadores da cobrança. Considerou norma posterior do órgão - Portaria nº 3.518, de 2011, alterada pela Portaria n° 1.001, de 2014 - pela qual a aquisição, a manutenção e a operação de escâneres deve ser de responsabilidade dos próprios recintos ou locais alfandegados. Essas novas responsabilidades, segundo o juiz, levaram os terminais a tarifar os serviços, sob pena de desequilíbrio dos contratos de concessão. “Se assim não fosse, parece-me que estaríamos diante de uma possível violação a Lei de Concessões (Lei nº 8.987/95)”, diz na decisão (processo nº 1040602-44.2020.4.01.3300).

Para ele, o escaneamento só poderia ser incluído no pacote de serviços pago para a movimentação de cargas - o chamado box rate - se fosse realizado, “indistintamente”, em todas as cargas. “Podendo a referida exigência ser mitigada, por exemplo, quando o recinto alfandegado operar com carga que possibilite a inspeção visual direta ou por outra forma”, diz. Demir Lourenço, diretor executivo do Tecon Salvador, afirma que a decisão reforça a confiança do terminal sobre a regularidade da cobrança. De acordo com ele, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), em decisão administrativa de 2019,

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reconheceu que a atividade de inspeção não invasiva de contêineres gera custos e que eles devem ser remunerados. “A matéria em questão não deveria sequer ser passível de controvérsia já que está inserida em um ambiente regulado”, diz.

A Usuport já recorreu da decisão. No pedido, afirma que a Instrução Normativa nº 680, de 2006, está vigente, que não se pode falar em desequilíbrio dos contratos de concessão e que o custo de aquisição e operação dos escâneres deve ser bancado pelo Fundo Especial de Desenvolvimento e Modernização das Atividades de Fiscalização (Fundaf). “Há fonte legal de custeio da atividade fiscalizatória que não implica sobrecarga desproporcional e ilegal perante aqueles que movem a economia nacional”, diz Fernando Antonio da Silva Neves, do escritório Fernando Neves Advogados e Consultores, que defende a Usuport. A tarifa começou a ser cobrada no país em 2012, de acordo com a Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec). Para os exportadores e importadores, pesa no bolso. O valor é estabelecido por cada operador portuário. Varia de R$ 80 a R$ 1 mil por unidade, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que tentou pela via administrativa, sem sucesso, contestar a cobrança. E cogita agora recorrer ao Judiciário.

Na Bahia, há precedente favorável, enquanto nos Estados de São Paulo e Espírito Santo as poucas decisões de segunda instância são contrárias às empresas. Uma empresa que atua na fundição e refino de cobre obteve

26 sentença favorável na 13ª Vara Cível da Bahia.

O juiz Carlos D’ávila Teixeira considerou a tarifa ilegal e determinou o ressarcimento dos últimos cinco anos. Para ele, trata-se de uma taxa, uma medida de segurança decorrente do poder de polícia da Receita Federal e que, portanto, a cobrança deveria ter sido estabelecida por meio de lei.

Outras duas empresas ingressaram com ações contra o Tecon Salvador. Mas, de acordo com o terminal de contêineres, os pedidos de tutela antecipada foram indeferidos pela Justiça. https://valor.globo.com/legislacao/n oticia/2021/01/05/empresas-da- bahia-voltam-a-pagar-taxa-sobre-conteineres.ghtml Retorne ao índice

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Valor Econômico

Caderno: Legislação e Tributos,

terça-feira 05 de janeiro de 2021.

Desenvolvimento sustentável e

trabalho

O despertar efetivo da sociedade para a proteção do trabalho deve ser influenciado pela relação de trabalho responsável

Por Marcos César Amador Alves

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) integram a intitulada Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), adotada durante a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável de 2015.

Trata-se de um amplo plano de ação internacional, estrategicamente articulado, composto por 17 objetivos essenciais, os quais se desdobram em 169 metas a serem atingidas até 2030 para proporcionar um novo modelo de desenvolvimento global que unifique - verdadeiramente - preservação de recursos naturais, justiça social e crescimento econômico.

O despertar efetivo da sociedade para a proteção do trabalho deve ser influenciado pela relação de trabalho responsável

Imprescindível destacar, em referido encaminhamento, a implementação

27

do ODS 8, o qual versa sobre trabalho digno e crescimento econômico. Como autêntico pressuposto para a concretização de todos os demais objetivos de desenvolvimento sustentável que integram a Agenda 2030 da ONU, o ODS 8 preconiza, entre as metas que define em seu escopo, o pleno emprego, o acesso ao trabalho decente, a proteção dos direitos trabalhistas e a promoção de ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores.

Desde o despontar da civilização, o trabalho humano tem sido o grande fator de estabilidade e progresso da sociedade. O primado da dignidade humana exige, de modo inexpugnável, a concepção da proteção do trabalho - do trabalho digno.

A valorização do trabalho, como referência fundamental da sociedade contemporânea, demanda a efetivação dos mais elevados padrões internacionais de proteção ao trabalhador e rejeita a revogação de direitos e a precarização.

Não é aceitável que as empresas exerçam suas atividades distanciadas dos valores éticos essenciais à humanidade. Mostra-se condenável a atuação empresarial capaz de ensejar, direta ou indiretamente, a violação de Direitos Humanos. Em referido contexto insere-se o paradigma da relação de trabalho responsável. O despertar efetivo da sociedade para a proteção do trabalho humano deve ser influenciado pela relação de trabalho responsável, a qual corresponde ao vínculo ético-jurídico

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