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SOCIEDADE E CUITURA ESCRAVISTAS COMO DESEMVOIVIMEMTO ECOMOMICO; MOTAS SOBRE O BRASH OITICEMTISTA. Abstract

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SOCIEDADE E CUITURA

ESCRAVISTAS COMO

OBSTACUIOS AO

DESEMVOIVIMEMTO

ECOMOMICO; MOTAS SOBRE

O BRASH OITICEMTISTA

Resumo £ hora dos estudiosos da Historia Economica do Brasil tratarem das questoes culturais ligadas a mais de 300 anos de escravismo e subdesenvolvimento. Ao continuar insistindo que, antes da Aboligao, a economia brasileira nao conseguiu "modernizar-se'' em fungao de ma qualidade do trabalho escravo em si, ignora-se o fato de que escravos eram perfeitamente capazes de se adaptarem aos avangos tecnologicos e a complexa organizagao do trabalho, como se demonstrarci por meio de exemplos extraidos do oitocentos brasileiros. Argumenta-se-a que certas atitudes inerentes a sociedade escravista brasileira, em particular a aversao ao trabalho enraizada entre todos os segmentos da populagao livre, constituiram series obstaculos a modernizagao economica ate as ultimas decadas do seculo XIX.

Douglas Cole Libby (*) Abstract

The time has como for historians of Brazilian economic history to deal with the cultural issues posed by more than 300 year of slavery and underdevelopment. To continue insisting that the failure of the Brazilian economy to "modernize" before emancipation lay in the poor quality of slave labor perse, is to ignore the fact that bondsmen were perfectly capable of adapting to technological advances and complex workplace organization, as shown in examples taken from nineteenth-century Brazilian history. It will be argued that certain attitudes inherent to Brazilian slave society, particularly the aversion to work inculcated in all segments of the free population, constituted serious restraints to economic modernization up to the final decades of the nineteenth century.

Palavras-chave Sociedade e cultura escravistas, subdesenvolvimento, tentativas de industrializagao

Key words

Slave society and culture, underdevelopment, attempts at industrialization.

0 autor e professor do Departamento de Historia da UFMG.

(*) O autor agradece as sugestoes, feitas com base em versoes anteriores, dos Professores Stephen Haber e Gavin Wright, bem como a revisao da presente versao, realizada pelo Professor Olavo Brasil de Lima Junior.

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Introdu^ao

Ha muito, e moeda corrente entre os estudiosos da Historia Economi- ca que os ambientes local e cultural nao sao determinantes cruciais do desempenho economico. Isto e, supoe-se que o ser humano naturalmente procura maximizar sua renda (e utilidade), desde que nao obstruido institu- cionalmente. Trabalhos recentes de Gregory Clark sobre a industria textil algodeira e o setor agncola qiiestionam esse principio. De acordo com Clark, as marcantes varia96es detectadas na eficiencia de trabalhadores de diferentes nacionalidades nao podem ser explicadas por fatores tradicionais, tais como a intensidade de capital ou trabalho, a qualidade das materias-pri- mas utilizadas, diferenciagoes no estagio do desenvolvimento tecnologico ou graus variados de treinamento operario. Parece que a causa basica de tais variagoes na eficiencia ou produtividade do trabalho tem a ver com as atitudes de operarios fabris e agricultores com relagao ao trabalho em si. Essas atitudes, necessariamente, se formam dentro dos limites da cultura local.

Ao isolar o fator cultural como essencial compreensao mais completa do processo historico de desenvolvimento economico, Clark, inteligente- mente, evita justificar conhecidas abordagens culturalistas a analise histori- ca como, por exemplo, a etica protestante do trabalho de Weber. O autor apenas aponta novas dire^oes potencialmente uteis para futuras pesquisas relativas ao crescimento economico. (CLARK, 1987a, p. 141-71 e 1987b, p. 419-32). A inten9ao, aqui, e aceitar o desafio de Clark ao sugerir como a cultura que emergiu da sociedade escravista brasileira pode ter impedido a moderniza9ao tecnologica e o desenvolvimento economico.

Parece razoavel supor que, em uma sociedade escravista, as atitudes culturalmente determinadas com rela9ao ao trabalho se diferenciariam bas- tante daquelas que emergiram nas sociedades burguesas e liberals onde primeiro ocorreu a industrializa9ao. Neste caso, o Brasil constitui um terre- no particularmente fertil para investiga9ao. O litoral nordestino da Colonia serviu de ber90, no seculo XVI, para o sistema escravista do Novo Mundo (SCHWARTZ, 1985, p. 51-72) e uma monarquia brasileira foi o ultimo governo ocidental a proclamar a aboli9ao total da escravidao. Durante mais de tres seculos, a escravidao persistiu como sustentaculo da vida economica

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, Douglas Cole Libby

e, quando da sua independencia, o Brasil constituiu o unico regime escravis- ta americano de dimensoes verdadeiramente nacionais. ^

Estes simples fatos servem para evidenciar que, entre os varios siste- mas eseravistas, foi no Brasil que as "institui96es peculiares" tiveram mais tempo para se desenvolverem, se consolidarem e se perpetuarem. Vale lembrar, por exemplo, que vozes nacionais, organizadas em oposi9ao a escra- vidao, se fizeram ouvir apenas durante as tres ultimas decadas de existencia do regime. (CONRAD, 1972, p. 3-19; COSTA, 1982, p. 373-74; SCHWARCZ, 1987, p. 33-36) Como resultado, e em nitido contraste com as atitudes defensivas da classe senhorial do sul dos Estados Unidos, os senho- res de escravos brasileiros e seus colaboradores intelectuais raramente senti- ram a necessidade de justificar o sistema. O absenteismo tipico das ilhas a9ucareiras do Caribe foi pouco comum entre os senhores de escravos brasi- leiros; estes geralmente residiam nas suas propriedades, grandes e peque- nas, e participavam ativamente da vida social e politica local. (WILLIAMS, 1966, p. 85-87, GENOVESE, 1971, p. 28-29, 38, 42-44, 69, 77-79) Com efeito, os proprietarios de escravos constituiram a proverbial pedra funda- mental da sociedade local em todo o Brasil. Tambem, embora persistisse uma concentra9ao de escravos nas tipicas atividades de exporta9ao, durante mais de trezentos anos a escravidao passou a permear virtualmente toda a atividade economica: da agricultura de subsistencia e da pecuaria aos servi- 90s urbanos; da pesca e ca9a orientadas para o mercado a escultura e pintu- ra; do servi90 domestico a industria domestica e fabril; da mendicancia "profissional" a escritura9ao cartoraria. Acredita-se que haja base suficiente s para argiiir que, em termos economicos e sociais, o Brasil foi o mais diversifi- cado sistema escravista do Novo Mundo, mas, prosseguir nesta linha, impli- caria um desvio com rela9ao aos objetivos destas considera96es. Importa assinalar que tal diversidade demonstra o alto grau de consolida9ao do sistema escravista brasileiro. Essa consolida9ao, por sua vez, sugere o enrai- zamento de normas culturais intimamente ligadas a institui9ao da escravi- dao, algumas das quais, argumentar-se-a, eram pouco condizentes com o desenvolvimento economico geral.

Em um sistema escravista, e claro, a institui9ao social da escravidao constitui a forma predominante de trabalho. Significa que o bra90 escravo foi indispensavel para o funcionamento dos setores mais dinamicos da eco- nomia - em geral, a agricultura orientada para o mercado internacional ou,

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de quando em vez, para mineragao de metais e pedras preciosos. Tambem emergia uma sociedade escravista na qual as redoes senhor/escravo afeta- vam, de uma forma ou de outra, o comportamento, as atitudes e as maneiras de intera9ao de todos os membros daquela sociedade. Nem todos os ho- mens livres numa sociedade escravista, muito menos na do Brasil, eram senhores de escravos, mas, de acordo com observadores de epoca que serao citados adiante, parece que todos aspiravam a tal status. Os escritos desses observadores sugerem que a preeminencia social do senhor de escravos influenciou decisivamente no desenvolvimento historico de normas cultu- rais dentro da sociedade escravista e, deste modo, sua maneira de agir, pensar e se relacionar com os outros foi imitada ate a base da hierarquia social, com efeito, ate nas senzalas.

Isto nao quer dizer que a sociedade escravista nao tenha sido marcada pelas contradigoes de interdependencia que formavam o cerne das redoes senhor/escravo, (GENOVESE, 1967, p. 31- 34) e que se caracterizavam pela resistencia, acomoda9ao ou, talvez melhor ainda, por "um complexo leque de reagoes re alidade da escraviddo^ ^ por parte dos cativos. E obvio que, de uma maneira topica e intermitente, muitas das rea96es de escravos a sua condi- 9ao eram pouco condizentes com o desenvolvimento economico ou o avan- 90 tecnologico. Tais rea96es, porem, constituiram apenas uma parte, e uma parte sem maior expressao, da inercia estrutural de sociedades escravistas na promo9ao ou abso^ao da moderniza9ao economica e/ou tecnologica.

Argumentar-se-a que, no caso do Brasil, esta inercia originou-se, pelo menos parcialmente, nas atitudes e no comportamento inerentes a socieda- de escravista plenamente consolidada. O desdem difuso pelo trabalho aca- bou por se traduzir em arraigado desinteresse pelo funcionamento de processes produtivos, especialmente daqueles nao ligados a agricultura de exporta9ao, bem como em uma valoriza9ao exagerada do lazer em detrimen- to das lides produtivas. Essas normas culturais de comportamento e pensa- mento perduraram entre a popula9ao livre, mesmo diante das pressoes do "progresso" oitocentista. Antes de examinar as evidencias que apontam nesta dire9ao, no entanto, sera necessario questionar as correntes predomi- nantes da historiografia brasileira que tern insistido que, em ultima instan-

(1) SCOTT (1985, p. 169). Outros estudos importances que trabalham com este tema sao: GENOVESE (1976); CHALOUB (1990); LARA (1988); REIS & SILVA (1989).

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Douglas Cole Ubby

cia, a causa do subdesenvolvimento ciurante a Colonia e o Imperio foi a suposta ma qualidade do proprio trabalho escravo.

A Questao do Trabalho Escravo e da Industria no Brasil

A maioria dos estudiosos da escravidao brasileira, e especialmente aqueles inspirados no marxismo, tendem a enfatizar a incompatibilidade do trabalho escravo com o avan90 tecnologico, com melhoramentos na organi- zagao produtiva e, portanto, com o desenvolvimento economico e social em geral. Nos anos 70, aceitava-se quase que unanimamente que o escravo era um mau trabalhador: sob constantes pressoes de coer^o fisica e psicologi- ca, o seu trabalho era feito relutantemente e era destituido de qualquer preocupa9ao com a qualidade da produ9ao. For motives de seguran9a, o escravo foi mantido na ignorancia, excluindo-se, assim, qualquer possibili- dade de treinamento mais solido; o prdprio uso de ferramentas ou maquina- ria foi limitado aquelas mais rudimentares. Esta mesma ignorancia, aliada a necessidade de manter o escravo ocupado mesmo durante os hiatos do calendario agncola, dificultavam qualquer tentativa de aperfei9oar a divisao de trabalho. Muitos estudiosos da escravidao brasileira se preocuparam em de- monstrar, explicita ou implicitamente, sua incompatibilidade com o avan90 do capitalismo. Os argumentos para sustentar essa tese pouco original freqilente- mente sao marcados por forte dose de influencia weberiana, como se pode observar na interpreta9ao do sociologo marxista Fernando Henrique Cardoso:

"...essa necessidade da coagao direta e conttnua reflete-se tanto nas preocupagdes como nos interesses materials dos senhores, distor- cendo o sentido da produgdo. Por isso, a organizagao do trabalho escravo euma organizagao contra o trabalho, is to e, contra as possi- bilidades de intensificar a produgdo. A energia e os recursos despendidos no regime escravo com a pura manutengdo e funciona- mento da escravidao pela escravidao impedem o aproveitamento ra- cional das condigoes de trabalho e tomam o regime escravista um regime de desperdtdo(CARDOSO, 1977, p. 174-75).

Embora obviamente desprezasse o escravo enquanto agente de sua propria historia, Cardoso, no mfnimo, creditou a maior parte da culpa ao sistema em si. Todavia, de acordo com essa interpreta9ao, tanto o senhor

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quanto o escravo devem ser classificados como agentes economicos irracio- nais, incapazes de sustentar qualquer processo conseqliente de desenvolvi- mento tecnologico ou economico.

Jacob Gorender, o mais amplamente lido dos estudiosos da escravidao brasileira, chega ao mesmo ponto, sem rodeios, e de maneira igualmente sofisticada:

"...trabalho e castigo sao termos indissocidveis no sistema escra- vista. 0 escravo e inimigo visceral do trabalho, uma vez que neste se manifesta totalmente sua condigdo unilateral de coisa apro- priada, de instrumento animado. A reagdo ao trabalho e a reagdo da humanidade do escravo a coisificagdo. 0 escravo exterioriza sua revolta mais embriondria e indeftnida na resistencia passiva ao trabalho para o senhor". (GORENDER, 1978, p. 70).

"Considerado em sua mass a, sobretudo nos dominios agricolas, o escravo era um mau trabalhador, apto apenas a tarefas simples, ■ de esforgo bragal sem qualificagdo. Suas possibilidades de pro- gresso tecnico - afora excegoes singulares - so podiam ser extrema- mente limitadas. No Brasil, por sinal, a legislagdo do Imperio proibiu que escravos recebessem instrugdo sequer nas escolas primdrias, equiparando-os aos doentes de molestias contagiosas. (...) Assim, ao contrdrio da classe dos operdrios livres, os escra- vos como classe eram incapazes de ascensdo tecnica em mass a". {ibid, p. 74-75).

Como leitor assiduo dasobras dos viajantes, Gorender cautelosamen- te admite a possibilidade de raras exce96es, pois as observa96es sobre as habilidades de artesaos escravos eram inumeras.^ A importancia das obras dos viajantes e da sua leitura correta sera abordada adiante. O ponto e que, mesmo quando se trabalha com a suposi9ao de que a escravidao foi marcada por defeitos sistemicos que se constituiram em obstaculos ao desenvolvi- mento social e economico, a analise historiografica tende a se concentrar nos

(2) Ademais, Gorender e muitos outros historiadores continuam ignorando o fato de que, durante a fase de consolida9ao dos canaviais e engenhos enquanto sustentaculo da economia colonial, as opera9oes de refinamento do a9ucar representavam os mais altamente desenvolvidos complexos industrials do mundo. Cf. MAURO (1983, p. 733-44).

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problemas da inser9ao do trabalhador escravo no processo produtivo. Nao se pode discordar de que os esfor^s de investiga9ao devem concentrar-se em mvel do processo produtivo. O que nao se pode mais aceitar, porem, e que se continue a ignorar as evidencias que demonstram que escravos brasileiros eram capazes de desempenhar ocupa96es altamente especializa- das, podiam set sujeitos a formas racionais e complexas de organiza9ao do trabalho e podiam set empregados em associa9ao com certos melhoramen- tos tecnologicos que se tornaram disponiveis durante o seculo XIX.

Talvez em nenhum outro sistema escravista houvesse mais possibili- dade do escravo se tornar um artesao que no brasileiro. Como ja se mencio- nou, os observadores estrangeiros nao cansaram de elogiar as habilidades de artesaos cativos; alem disto, estudos mais recentes corroboram a 00930 de que a participa9ao de escravos, em especial entre a popula9ao mancipia masculina dos centres urbanos, nos oficios foi generalizada e diversificada. (KARASH, 1986; ANDRADE, 1988, p. 127-62).

Outro estudo recente focaliza o desenvolvimento da constru9ao naval na capitania/provincia e cidade do Rio de Janeiro. Desde muito cedo surgi- ram estaleiros ao longo do litoral do Rio, gra9as a ampla oferta de madeiras e outras materias-primas de boa qualidade. Aqueles que insistem na inabili- dade inerente do trabalho escravo para ser utilizado em qualquer atividade mais complicada que o cultivo agncola devem notar que cativos eram fre- qlientemente empregados em todos os ramos da Gonstru9ao naval, inclusive aqueles que demandavam trabalho altamente qualificado, sem que a quali- dade da produ9ao pare9a ter sofrido por isto. No inicio do seculo XIX, os estaleiros brasileiros estavam construindo quase todos os navios negreiros utilizados no trafico para o Rio de Janeiro, Salvador e os demais portos de desembarque das pe9as africanas. Tambem forneciam um bom numero de embarca96es para outros setores do comercio de navega9ao e conseguiram manter a marinha de guerra nacional suprida de suas necessidades ate a introdu9ao dos navios a vapor com seus cascos de 390. E interessante notar que, em vez de resultar na expulsao do trabalho escravo, a chegada da maquina a vapor a constru9ao naval assistiu a emergencia de maquinistas escravos. Esta industria, porem, entrou em rapido declinio na segunda metade do seculo XIX, quando a demanda por negreiros caiu a zero. (OLI- VEIRA, 1987, p. 146-63, 210-214).

Est econ., Sao Paulo, 23(3):445-476l set/dez. 1993

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Exemplos ainda mais convincentes da compatibilidade do trabalho escravo com avangos tecnologicos e com a organiza9ao industrial complexa provem de experiencias de empreendimentos mineradores estrangeiros ins- talados em Minas Gerais no seculo XIX. De 1824 ate o fim do Imperio, 14 companhias baseadas em Londres e duas sediadas em Paris se formaram com a inten^o de explorar depositos aunferos subterraneos na provincia de Minas. A combina9ao de constantes inunda96es, desabamentos freqiientes e as flutua96es do teor aunfero do minerio bruto fizeram com que apenas tres destes empreendimentos tivessem algum sucesso. Apesar disto, pelos padroes da epoca, suas minas eram opera96es formidaveis, pois combina- vam grandes e bem organizadas for9as de trabalho com um grau relativa- mente alto de mecaniza9ao. Ja se referiu a essas opera96es como minas baseadas no sistema fabril, pois claramente pertenciam a categoria da mine- ra9ao industrial tal como existente no seculo XIX. (LIBBY, 1988, p. 256- 344) O que e mais relevante para os objetivos do momento e que, pelo menos ate a decada de 1880, a grande maioria dos trabalhadores das minas foi composto por escravos.

Um breve exame da "Saint John d'El Rey Mining Company" e sua (3)

mina de Morro Velho - de longe o mais bem-sucedido dos empreendi- mentos - basta para demonstrar as dimensoes e a complexidade que as opera9oes podiam alcazar. Apesar de um inicio precario na decada de 1830, e de recorrentes problemas com desabamentos que resultavam em interrup96es dos trabalhos, de 1835 a 1885, o retorno medio anual dos acionistas da "Saint John" era de cerca de 18%. Parece que este mvel de lucratividade nao teve paralelo entre os investimentos britanicos na Ameri- ca Latina durante o seculo XIX. (RIPPY, 1959, p. 174-78) A unidade produ- tiva responsavel por este sucesso era de propo^oes impressionantes. Em 1838, o primeiro ano para qual ha cifras completas dispomveis, a for9a de trabalho total somava 521, dos quais 76% eram escravos. Em 1867 o total era de 2.510 - 58% escravos, 36% trabalhadores livres brasileiros e 6% de empregados europeus.^ Um acidente particularmente serio, ocorrido no final deste ano, diminuiu o ritmo das opera96es por um penodo de sete

(3) Para estudos gerais sobre a Companhia durante o seculo XIX, ver: LIBBY (1984); EAKIN (1989, p. 22-43).

(4) O aumento do numero de trabalhadores escravos foi efetuado mediante pratica de aluguel, uma vez que empresas britanicas instaladas em qualquer parte do mundo haviam sido proibidas de participar do trafico negreiro em 1843.

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anos. Com a recuperagao em 1875, a forga de trabalho havia caido para 1.193, mas os cativos continuaram a perfazer 68% do total. Foi somente na decada de 1880 que o numero de trabalhadores livres passaria a superar o dos escravos. Um desastre ainda mais serio ocorreu no final de 1886, resul- tando no fechamento da mina durante quase uma decada e na interrup9ao da transigao para o trabalho livre.

Mais importante que o numero de trabalhadores foi a afinada organi- za9ao produtiva da Morro Velho: for9a hidraulica abundante foi utilizada para acionar um extenso sistema de bombeamento e havia uma pequena ferrovia que servia ao P090 principal e as galerias, carregando o minerio bruto ate o departamento de refinamento na superffcie. For9a hidraulica foi tambem empregada para operar os piloes, os barris giratorios, bem como certos outros mecanismos usados nos processos de refinamento e para acio- nar uma serraria e os foles dos ferreiros. Na decada de 1850, motores a vapor foram instalados como for9a auxiliar para a ferrovia e para o sistema de bombeamento, enquanto em meados da decada de 1860 uma estilha9adora a vapor substituiu as dezenas de mulheres escravas que ate entao realiza- vam o trabalho manualmente. A extensao da mecaniza9ao em Morro Velho significou que a maior parte da for9a de trabalho subterranea e dao superff- cie estivesse sujeita a um ritmo de trabalho que pode perfeitamente ser denominado de industrial - daf o termo mina baseado no sistema fabril.

Uma estrutura administrativa racional e uma complexa divisao tecnica de trabalho correspondiam ao nfvel de mecaniza9ao na area de produ9ao da Morro Velho. Alem da superintendencia, a mina era dividida em sete de- partamentos. Foi possfvel reconstituir, ao menos parcialmente, a divisao de trabalho que prevaleceu nos dois mais importantes departamentos: minera- 9ao e redu9ao (refinamento).^ O departamento de minera9ao era encarre- gado da obten9ao do minerio bruto e sua remo9ao ate a superffcie. Era composto por cerca de 24 categorias funcionais, inclusive ocupa96es espe- cializadas, tais como as de "mecanico", "fogistas" (responsaveis pelo uso de explosives), "escoradores" (responsaveis pelas obras de conten9ao dos tetos e das paredes das escava96es), e ferreiros, alem do pessoal de supervisao. O

(5) Os demais departamentos cram basicamente de natureza subsidiaria: o departamento dos negros, o qual, anacronicamentc, pode ser considerado o equivalente a um departamento de pessoal hoje, o departamento medico, o departamento de abastecimento, o departamento de manuten9ao e o departamento de contabilidade.

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mais notavel 6 que os escravos se encontravam em todas as categorias ocupacionais, mesmo nas posigoes de supervisao.

O departamento de redugao foi dotado de organiza9ao semelhante. Neste foi possivel distinguir pelo menos uma duzia de categorias ocupacio- nais distintas, embora provavelmente houvesse mais. Novamente, nenhu- ma das categorias parece ter excluido cativos. As mulheres escravas predominavam nos processos de refmamento, embora seus supervisores geralmente fossem homens escravos, enquanto o escritorio de ensaios em- pregava somente homens escravos e europeus (note a exclusao de trabalha- dores livres brasileiros). Deve-se notar que, quando as supramencionadas estilha9adoras a vapor foram instaladas, elas ficaram a cargo de uma peque- na turma de mulheres escravas que ate entao trabalhavam na britagem manual. (LIBBY, 1984, p. 111-23)

E preciso reconhecer que o complexo Saint John/Morro Velho e os demais empreendimentos estrangeiros de minera9ao em Minas constitui- ram unidades produtivas excepcionais no Brasil do oitocentos, em virtude de seu nivel de mecaniza9ao e da complexidade correspondente a organiza- 9ao do trabalho. Gomo participantes no setor mais dinamico da economia, no entanto, nada havia de excepcional na notavel e persistente dependencia com rela9ao ao trabalho escravo. Que o trabalho escravo seja compativel com a produ9ao baseada no sistema fabril nao deve nos surpreender, uma vez que a historia oitocentista do sul dos Estados Unidos e repleta de exemplos semelhantes. (STAROBIN, 1970; WADE, 1972) Como se vera adiante, os escravos nao eram estranhos a outras atividades (pre- ou proto) industrials e, desta forma, as interpreta96es tradicionais que insistem que o trabalho escravo e a industriaIiza9ao eram mutuamente excludentes sao sim- plesmente incorretas.

For outro lado, e bastante tentadorsugerir que o que realmente dis- tinguia as empresas de minera9ao em Minas de outros empreendimentos baseados em trabalho escravo, tanto os industriais quanto os agncolas, foram suas equipes administrativas, compostas por europeus que nunca se trans- formaram em senhores de escravos nos moldes tradicionais. Em outras palavras, ha questoes mais importantes para uma melhor compreensao da falta de avan90S tecnologicos e da lentidao da moderniza9ao economica que aquelas relativas ao trabalho escravo em si. Trata-se de problemas associa-

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dos a uma administra^ao falha, ou mesmo inexistente, praticada por senho- res de escravos. Uma leitura cuidadosa das obras de observadores de epoca e outras evidencias sugerem que tais problemas se fizeram sentir em fur^ao de arraigadas tradi96es culturais que, por assim dizer, desviavam senhores de escravos de envolvimento no processo produtivo. Alem disso, essas mesmas tradigoes culturais parecem ter tambem prevalecido entre a maioria do resto da popula^o livre.

Senhores de Escravos, Livres e Forros e a Sociedade Escravista

Nao ha nenhuma novidade na nogao de que, em sociedades escravis- tas, senhores de escravos e homens livres, inclusive forros, desenvolviam um singular desdem com rela^o ao trabalho manual, em especial qualquer atividade que pudesse ser rotulada como "trabalho de preto". De acordo com Aristoteles, em tempos remotos da sociedade escravista de Atenas antiga, esse desdem havia sido mesmo institucionalizado, no sentido de que homens livres que ganhavam a vida por meio do trabalho manual eram considerados cidadaos de segunda classe e indignos para ocupar cargos publi-

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cos. No ano de 1751 o sempre pragmatico Benjamin Franklin escreveu: "Escravos tambem influenctam negativamente as famtlias nas quais sao utilizados: as criangas brancas se tomam orgulhosas, enfastiadas com o trabalho e, sendo educadas na tndolencta,

p\ acabam sem capacidade de viver de sua propria industria.

Genovese nota "indicios de desprezo" pelo trabalho manual no sul do Estados Unidos e considera que este desprezo conduziu ao "desdem estigma- tizante pelo trabalho assalariado". (GENOVESE, 1967, p. 47-48). Em sua obra classica, Ratzes do Brasil, Sergio Buarque de Hollanda se preocupou em desvendar as origens do carater nacional brasileiro. Com relagao ^ tenden- cia, ainda na decada de 1930, das classes media e alta a seguirem as chama- das profissoes liberais, assim evitando sistematicamente as profissoes mecanicas, o autor concluiu que no penodo colonial:

(6) The Politics of Aristotle (1962, p. 104).

(7) The Papers of Benjamin Franklin (1961, p. 230).

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"...o exclusivismo lracista\ como se diria hoje, nunca chegou a ser, aparentemente, o fator determinante das medidas que visavam re- servar a brancos puros o exerctcio de determinados empregos. Muito mats decisivo do que semelhante exclusivismo teria sido o labeu tradicionalmente associado aos trabalhos vis a que obriga a escraviddo e que ndo infamava apenas quern os praticava, mas igualmente seus descendentes. A esta, mais do que a outras razdes, cabe atribuir ate certo ponto a singular importdncia que sempre assumiram, entre Portugueses, as habilitagdes de gerere".{RX]kR-

QUE DE HOLLANDA, 1971, p. 25)

Desdem e desprezo pelo trabalho manual, portanto, parecem ser ca- ractensticas comuns a todas as sociedades escravistas consolidadas. Atitu- des negativas com relate ao trabalho manual constituiram um aspecto importante da mentalidade coletiva dessas sociedades e, enquanto tal, sem

(0\ duvida influenciaram o processo historico.

Seria demais sugerir que este mesmo aspecto da mentalidade coletiva poderia, tambem, ter afetado os rumos da Historia Economica de certas sociedades escravistas? Acredita-se que determinados casos na Historia do Brasil sao elucidativos da maneira pela qual o desprezo pelo trabalho ma- nual contribuiu, a longo prazo, para o insucesso de incipientes processes de industrializa9ao. Antes de elaborar argumentos desta ordem, porem, cabe um breve exame da avaliagao dos viajantes estrangeiros sobre as atitudes brasileiras com rela^ao ao trabalho no seculo XIX.

A Sociedade Escravista Brasileira na Visao dos Viajantes

Nenhum entre os muitos estrangeiros que tiveram permissao para viajar pelo Brasil apos a chegada da Corte ao Rio de Janeiro em 1808 e que, mais tarde, publicaram livros sobre suas experiencias, deixou de fazer obser- vagoes relativas a indolencia da populagao livre, especialmente a masculina, fossem ou nao proprietarios de escravos. No mais das vezes, tais observagoes se vinculavam a perplexidade diante do contraste entre a aparente fertili- dade do solo e a exuberancia da fauna e da flora e a pobreza das familias

(8) Cf., por exemplo, BOWMAN (1990, p. 39-40).

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livres nao possuidoras de escravos. A maioria dos viajantes opinou que esta pobreza era obviamente auto-imposta, uma vez que mesmo o esfor90 mini- mo seria fartamente recompensado na forma de colheitas abundantes ou da constante renova9ao dos rebanhos. Poucos arriscavam uma explica9ao para esta aparente anomalia, a nao ser as especula96es que supunham que o calor torrido dos tropicos talvez tivesse um efeito nocivo sobre a disposi9ao para o trabalho. Quase nenhum dos viajantes percebeu qualquer liga9ao entre a ociosidade dos senhores de escravos e a indolencia dos pobres.

Nem o passar do tempo nem as diferen9as regionais conseguiram alterar a opiniao dos viajantes. Em 1808, por exemplo, o comerciante ingles, Luccock, comentou sobre a "loucura" dos artesaos brapcos do Rio:

Cerca de dez anos mais tarde, o naturalista frances, Saint-Hilaire, teceu as seguintes considera96es sobre um pequeno distrito na capitania de Goias:

"Ainda que existem ao redor de Meia-Ponte mais terras que seria p oss we I cultivar e inumerdveis corregos aunferos dos quais efdcil

recolher um pouco de ouro, e embora haja escassez de bragos para a lavoura e, em conseqiiencia, qualquer homem vdlido tenha possi- bilidade de encontrar trabalho, nao se consegue dar mn passo no arraialsem esbarrarcom mendigos"(SAINT-HILAIRE, 1975,

Mais ou menos na mesma epoca, os naturalistas alemaes, Spix e Martius, visitaram a cidade de Campanha, no sul de Minas Gerais, e comen- taram que ".,.a perversdo dos brancos recusa como desonroso qualquer servigo, mesmo o da lavoura e criagdo degado".^ No final da decada de 1830 e inicio da decada de 1840, o medico ingles, Gardner, bastante impressionado, alu- diu a pregui9a e a indolencia dos habitantes de vilarejos localizados no inte-

(9) LUCCOCK (1820, p. 106-7). (Citato p. 107).

(10) SPIX & MARTIUS (1976, vol. 1, p. 163). Deve-se notar que os autorcs levantaram a hipotese de que esta letargia parecia ter uma liga9ao com o fato de que o trabalho era deixado aos escravos.

"...consideravam-se todos eles fidalgos demais para trabalhar em publico, e que ficariam degradados se vistos carregando a menor

■ ' las ruas, ainda que fossem as ferramentas do seu

p. 38)

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rior de Pernambuco e no norte de Minas Gerais. (GARDNER, 1849 p. 256-57; 304-05). Em 1867, o diplomata e viajante veterano ingles, Richard Burton, deixou seu posto de consul no porto de Santos para empreender uma longa viagem pelas montanhas de Minas Gerais e pelos vales do Rio das Velhas e do Sao Francisco, passando tambem pelas provmcias da Bahia, de Pernambuco e de Sergipe. Burton era razoavelmente prolixo; suas ob- serva96es sobre o Brasil e os brasileiros continham uma pretensa abrangen- cia "sociologica", como se ve na seguinte avaliagao sobre as procissoes religiosas de Sao Joao d'El Rei, em Minas:

"e, como em toda a parte do Brasil, os cidaddos, primeiro, tern pouco que fazer fora de casa, e, segundo, tern ainda menos o que fazer em casa, esse estilo de devogdo floresce" (BURTON, 1869,

v. l,p. 112).

De acordo com estes viajantes, a indolencia, o desdem para com o trabalho e uma preocupai^ao desmedida com a busca pelo lazer constituiam- se no estado natural das coisas no Brasil - talvez uma praga dos tropicos. Normalmente observadores astutos, os viajantes raramente reconheceram que a existencia do trabalho escravo "liberava" a popula^ao livre para uma vida de ociosidade e que a vida, cheia de prazeres ritualizados, dos senhores de escravos servia como uma especie de aquiescencia ideologica a ociosida- de alheia.

Em fungao de seu envolvimento direto na administragao de uma mina de ouro e de uma fundi9ao de ferro, um engenheiro alemao, o Barao von Eschwege, abordou o problema das atitudes com rela^o ao trabalho com notavel clareza analitica. Para que se possa apreciar a agudeza de suas observa96es, torna-se necessario transcreve-las extensamente:

"...para ess a gente [mulatos forros], o espelho e uma lembranga continua de sua origem, e, por isso mesmo, vive no angustioso re- ceio de ser confundida com os escravos. Assim, o mulato vive a ostentar sua qualidade de homem livre, e, para tomar isso bem claro, comporta-se arrogantemente, ndo suportando a menor de- satengdo". (ESCHWEGE, 1979, v. 2, p. 249)

"Ate agora o escravo tern sido o pau para toda obra: lavrador, fabric ante de agucar e de aguardente, animal de transporte.

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Douglas Cole Ubby

mdquina de britagem e de pulverizagdo, cozinheiro, pagem, pala- freneiro, sapateiro, alfaiate, correio e carregador.

"E o unico bem do homem livre, a cujas necessidades ele prove, Sem seu auxtlio, o branco poderia considerar-se pobre, mesmo que suas areas regurgitassem de ouro. Com efeito, as terras permane- ceriam incultas e a mineragdo desapareceria, caso ndo existisse o escravo. (...)

"Dessa populacdo qual e a classe dos trabalhadores? Propria- mente, apenas a classe servil. 0 branco, mesmo quando pobre, ndo move uma palha, pois ate na vadiagem encontra com que viver. 0 mats das vezes, limita-se a possuir um escravo, que se encarrega de sustentd-lo.

"Tambem o mulato livre possui escravos. Vive de bragos cruzados e consider a o trabalho uma coisa indigna. (...)

"0 negro forro pertence, incontestavelmente, a classe dos deser- dados. Nunca dispoe de meios para adquirir um escravo que o ajude. Embriagado de alegria de se ver livre, foge de todo o tra- balho, ndo se submetendo de modo algum a novo senhor. Assim, trabalha so o necessdrio para ndo morrer de fome. Alem disso, seguindo o exemplo do mulato, se ganha em um unico dia o sufi- ciente para comer durante a semana, so volta ao trabalho depois de findos os sete dias 1 ^

Ha aqui uma sugestao de repreensao, salpicada por uma obvia dose de racismo, derivadas da experiencia de Eschwege como administrador. Uma vez que havia servido como supervisor de dois empreendimentos ambiciosos e, portanto, como o senhor postigo de um numero consideravel de escravos pertencentes aos seus socios, bem como de escravos alugados e eventuais jornaleiros livres, este alemao conseguiu identificar o chamado fator Wakefield e seus efeitos sobre o comportamento da populagao livre.

(11) Ibid., p. 263- 4. Eschwege incorretamente sentenciou que os forms negros nunca possuiam escravos. De fato, muitos forms negros e, proporcionalmente ainda mais, forras negras comparavam cativos apos suas alforrias. As listas nominativas mineiras da decada de 1830 atestam eloquentemente para a freqiiencia desta pratica.

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Ademais, suas observa96es agudas sobre as rea96es de forros em face da liberdade e sobre a dependencia de proprietarios com rela9ao a seus escra- vos acabam por atribuir a aversao generalizada ao trabalho as atitudes ha muito tempo enraizadas na cultura da sociedade escravista brasileira. As descri96es de Eschwege do desejo compulsivo de ex-escravos em se torna- rem senhores de escravos e uma clara indica9ao da bipolaridade da socieda- de escravista brasileira, na qual, idealmente, o individuo ou era urn senhor de escravos ou um escravo. Para os desgra9ados que no couberam em nenhuma dessas categorias, a S0IU90 encontrada foi uma aproxima9ao do status de senhor de escravos, mediante estrategias visando evitar o trabalho o tanto quanto possivel.

Obviamente que a Historia nunca e tao nitidamente preta e branca, como as vezes transparece dos escritos de observadores de epoca, e menos ainda como aparece retratada nas obras de historiadores de hoje. Certamen- te havia camponeses, fazendeiros e artesaos, nao proprietarios de escravos, que trabalhavam o suficiente para produzir alem de suas necessidades quo- tidianas. Se iriam resistir ou nao ao impulso de adquirir um escravo com suas eventuais poupan9as, porem, e outra questao. Mais importante ainda, como se vera em breve, e o fato de que poucos observadores do oitocentos foram capazes de levar em conta o mundo do trabalho das mulheres - um mundo que, dadas as circunstancias apropriadas, poderia exibir um notavel grau de industriosidade. De modo geral, no entanto, espera-se que tenha ficado claro ate aqui que, diante das atitudes, comportamentos e praticas nela prevalecentes, a sociedade escravista brasileira jamais constituiria ter- rene fertil para avan90S tecnologicos ou organizacionais ou para o desenvol- vimento economico substancial, a nao ser que estes estivessem baseados no

(12) uso tradicional do trabalho escravo.

(12) Em um artigo pouco atualizado que ignora mais de uma decada de produ^ao academica brasileira e, portanto, desconhece o fato de que nao mais se considera o trabalho escravo perse como a causa tinica do atraso tecnoldgieo, bem como o fato de que as atividades pre ou proto-industriais eram muito mais difundidas do que se pensava anteriormente, Richard Graham parece sugerir que a cultura predominante na sociedade escravista brasileira podia representar um obstaculo ao desenvolvimento industrial. (GRAHAM, 1990, p. 121-22).

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Douglas CdeUbby

Tentativas e Fracassos de IndustrializaQao

Apesar dos embara^os impostos pelo sistema mercantil e dos obstacu- los inerentes a propria sociedade escravista, tentativas de industrializa9ao, timidas e incipientes, tiveram lugar nas decadas finals do penodo colonial e durante o Imperio. Como se vera, nenhuma dessas atividades pre ou proto- industriais conseguiram levar industrializa^o plena, pelo menos em parte, porque eram consideradas ocupa96es improprias para o homem livre. O enfoque sobre a proto-industrializa9ao faz parte de tendencia recente na historiografia brasileira, que procura distinguir entre o Brasil dos engenhos e canaviais, das fazendas de cafe e da economia de exporta9ao e o Brasil mais diversificado da produ9ao de alimentos basicos, da agricultura mercantil de subsistencia e da pecuaria, dos oficios e sens artesaos, da industria caseira e de trabalhadores urbanos e, sobretudo, da economia interna em expan-

ds)

sao. De novo, esta diversidade e indicativa da consolida9ao multi-secular do regime escravista brasileiro e carece de maiores estudos. De fato, o enfoque se limita a evidencia relacionada com as atividades pre-industriais e suas implica96es para os argumentos aqui elaborados.

A pesca da baleia e o refinamento do seu oleo compreenderam ativi- dade industrial que data dos primordios da Colonia. Parece que tanto os baleeiros quanto as refinarias nunca passaram de opera96es em escala redu- zida. Por outro lado, na virada do scculo XVIII, a industria havia se espalha- do desde o literal da Paraiba ate a ilha de Santa Gatarina e a costa do Rio Grande do Sul e empregava um numero razoavel de trabalhadores, inclusi- ve muitos escravos. Ao que parece, os unicos viajantes estrangeiros a visita- rem uma refinaria de oleo da baleia foram Spix e Martius, mais especificamente uma "anr^ao" na ilha de Itapecerica, na Baia de Todos os Santos. Apos fazer observa96es acerca das instances, julgadas pelos auto- res como inadequadas, comentam que:

"...e parece que to da a empresa estd entregue a negros e mulatos ignorantes. Com essas imperfeigoes, ndo e de admirar que o oleo de peixe brasileiro seja tido como inferior ao oleo preparado nas reftnagbes do norte da Europa, ndo so pela sua cor parda, como

(13) Os dois estudos pioneiros sobre a economia brasileira da agricultura nao-exportadora sao: MARTINS (1980) e LINHARES & SILVA (1981).

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por conter pedagos de toicinho e pelo cheiro mats desagraddvel". (SPIX & MARTIUS, 1976, v. 2, p. 125 - grifos nossos)

Pode-se presumir que os "negros e mulatos ignorantes" mencionados pelos autores eram escravos/14^ Mais importante, no entanto, 6 o fato de que claramente faltava a refinaria uma administragao efetiva. E quase certo que, quando da visita destes alemaes, o processo de refinamento ja havia se tornado uma rotina e, assim, pouco merecedor das ate^des dos proprieta- rios do empreendimento, os quais, ademais, parecem nao ter se interessado em aplicar recursos na contratagao de supervisores. Ainda nao se sabe quern eram os proprietarios dessa refinaria. Mas, sua falta de interesse em tratar da administragao no dia-a-dia - ninguem sequer se deu ao trabalho de acompanhar os ilustres viajantes durante a visita a refinaria - certamente sugere um desinteresse pelos detalhes do processo produtivo, como resulta- do das normas culturais prevalecentes. Baseado em informagoes sobre a industria de ferro de Minas Gerais, que serao examinadas adiante, ha boa razao para imaginar que nada mais que uma cota diaria fosse exigido dos trabalhadores da arma9ao e que a cota devesse ser preenchida da maneira como os trabalhadores quisessem. De qualquer forma, se esta refinaria baiana era minimamente tipica, como provavelmente era, e facil imaginar porque a industria como um todo havia progredido tao pouco ate o seculo XIX.

Virtualmente todos os viajantes fizeram referencia indireta a uma indus- tria bem mais difusa que a da baleia, muito embora apenas uns poucos tives- sem tido o privilegio ou a perspicacia para observar diretamente seu funcionamento. Como ja foi sugerido, o mundo da mulher na sociedade escra- vista brasileira geralmente foi ocultado dos estranhos, em particular dos ho- mens estranhos, e muito especialmente dos homens estrangeiros/15^ Atras de portas fechadas, muitas mulheres, livres e escravas, se ocupavam da fia^ao e

(14) Infelizmente, nao foi possfvel consultar esta obra no original, mas suspeita-se que o tradutor tenha imposto a palavra "negro". Ora, quando os naturalistas visitaram a Bahia ja haviam viajado durante mais de tres anos pelo Brasil e, portanto, e muito provavel que fizessem referencia a pretos, um termo quase sinonimo com escravos durante o seculo XIX.

(15) Embora os constrastes sejam bastante notaveis, particularmente no que diz respeito a difusao da capacidade de ler e escrever e a participate ativa de mulheres sulistas na vida social e mesmo politica, pode-se detectar certos paralelos com relagao a 00930 de domesticidade e o lugar da mulher na ordem social que prevaleceu na sociedade escravista dos Estados Unidos no seculo XIX. Cf. FOX-GENOVESE (1990, p. 49-70).

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Douglas Cde Libby

da tecelagem de algodao ou, ocasionalmente, de linho e la. Se nao fosse assim, seria dificil explicar a fonte dos fios e panos caseiros freqiientemente mencionados pelos obscrvadores estrangeiros como itens importances na pauta do comercio interno/16^

Na maioria dos casos, os viajantes observavam as provaveis remanes- cencias de uma industria caseira que florescera em muitas partes do Brasil ate o inicio do seculo XIX. O Alvara de 1785, que proibiu a produ^ao de grande variedade de tecidos, demonstra as preocupa^oes metropolitanas com a vitalidade dessas atividades na Colonia e a amea9a que repre- sentavam para o consumo de panos produzidos em Portugal. (MAXWELL, 1973, p. 63) Deve-se notar, porem, que o Alvara excluiu certos tipos de tecidos grosses de algodao usados para ensacamento ou como vestimentas de escravos, talvez porque a manufatura portuguesa nao fosse capaz de suprir esta demanda colonial. (CARVALHO, 1916, p. 9-10) A chegada da Corte ao Rio de Janeiro e a subseqiiente abertura dos portos brasileiros a navegagao internacional resultaram na invasao da maioria dos mercados por tecidos fabris de baixo custo. Os tecidos caseiros brasileiros, e claro, eram incapazes de concorrer com o produto europeu e a industria domestica foi basicamente destruida ao longo do litoral e nas regioes interioranas onde os custos de transporte nao sobrecarregavam o pre9o final dos tecidos euro- peus.

Na populosa capitania de Minas Gerais, a produ9ao textil domestica continuou a prosperar, exatamente porque os custos de transporte e as politicas fiscais em vigor serviram como barreira protecionista. De fato, as fabricas europeias iriam demorar varias decadas para encontrar um substitu- te viavel para o extremamente duravel pano mineiro que, ate meados do seculo, permaneceu como o tecido padrao de vestimento escravo em muitas tegioes do Brasil.

(16) Observa96es sobre o comercio local de tecidos e a produgao nas capitanias/provmcias do Rio Grande do Sul, Sao Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goias, Sergipe e Maranhao podem ser encontradas em: LUCCOCK (1820, p. 115, 198, 507-8, 534); SPIX & MARTIUS (1976, vol. 1, p. 61, 79, 106, 125, vol. 2, p. 101, 150, 259, 261); SAINT-HILAIRE (1974a, p. 49, 75, 109, 148); SAINT- HILAIRE (1974b, p. 47, 102, 111); SAINT-HILAIRE (1974c, p. 91, 96, 121, 136); SAINT-HILAIRE (1975a, p. 119, 171-2, 228, 284, 299); SAINT-HILAIRE (1975b, p. 38, 49, 52); SAINT-HILAIRE (1975c, p. 23, 27); SAINT-HILAIRE (1976, p. 186- 203); KIDDER (1845, vol. 2, p. 95, 334); BURTON (1869, vol. 1, p. 133-4, 143, 242-3).

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Ao chegar na decada de 1820, fica claro que Minas Gerais havia se especializado na produce de fazendas grosseiras de algodao destinadas ao mercado interno. A prova mais expressiva da enorme importancia da indus- tria textil caseira de Minas e uma extensa colegao de listas nominativas da decada de 1830. Estas listas ja foram discutidas exaustivamente. (LIBBY, 1988, cap. 1, 2 e 4) Basta dizer que uma amostra usada para examinar a estrutura ocupacional da provincia indica que cerca de 58% da for9a de trabalho feminina se dedicava a tecelagem ou a fiagao, o que significa que, na provincia como um todo, a industria talvez tenha empregado algo mais que 200.000 pessoas. As listas demonstram que a dispersao espacial da industria textil caseira era bastante uniforme e que sua difusao social era verdadeiramente profunda. Mulheres livres e escravas, de todas as idades, e residindo tanto em areas rurais quanto nas urbanas, passavam seus dias manipulando rocas e teares. Em artigo recente sugeriu-se que, em face desta notavel difusao regional e social, a industria textil caseira de Minas se assemelhava a proto-industrializagao europeia. (LIBBY, 1991, p. 1-35) Nes- te sentido, parece que a industria era bem distinta dos obrajes mexicanos e andinos, bem como de outras atividades texteis pre-industriais que, de

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quando em vez, marcavam a historia da America hispanica. Em parte, essa distingao se deve ao fato de que a economia mineira era escravista.

Tal como muitos dos processes de proto-industrializa^ao na Europa, a industria textil domestica de Minas no conseguiu levar a industrializa^ao plena, ainda que uma duzia de pequenas fabricas, todas marcadamente intensivas em mao-de-obra, tenham aparecido em varios pontos da provin- cia entre 1872 e 1889. O setor textil aparentemente entrou em declinio no final da decada de 1850 e, embora houvesse uma recupera^ao durante a escassez mundial de algodao na decada de 1860, decaiu definitivamente no ultimo quartel do seculo XIX. De acordo com as cifras sobre exportagao - infelizmente, quase nada se sabe com rela9ao ao consume provincial, o qual, sem duvida, em muito excedia as exporta96es - a industria encontrava-se em expansao no final da decada de 1820 e inicio da decada de 1830. As exporta95es aparentemente cairam no final da decada de 1830 mas, talvez em decorrencia da tarifa Alves Branco de 1844, de 1845 a 1855 experimenta- ram uma boa recupera9ao. Um declinio acentuado teve inicio na segunda metade da decada de 1850, revertendo-se com a eclosao da Guerra de Secessao nos Estados Unidos. No ano fiscal de 1875-1876, no entanto,

(17) Cf., por exemplo, SALVUCCI (1987); LARSON (1988, p. 258-69).

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Doucilas Cole Libby

Minas exportou apenas um quarto do tecido que comercializara nas decadas anteriores e as cifras continuaram a cair durante o resto do seculo/18^

Corroborando este quadro esbogado por intermedio das cifras relati- vas a exportagao, o Recenseamento de 1872 demonstra que a propo^ao de trabalhadores do setor textil na forga de trabalho total havia diminuido em dois ter90s quando comparada a amostra das listas nominativas. (LIBBY, 1991, p. 18) Os estudiosos da proto-industria se referem a este rapido decli- nio como um processo de desindustrializagao. 'No ha duvida de^que as importagoes estavam penetrando no mercado que, ate entao, cabia aos pa- nos mineiros, na decada de 1830 e no final da decada de 1850. A partir da decada de 1870, a concorrencia foi nao so com as importa96es, mas tambem com a das fabricas que surgiram na propria provmcia e em Sao Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas e no Sul. Supondo que a emergencia de fabricas texteis em Minas nao se relacionava ao desenvolvimento anterior da indus- tria caseira, a questao passa a ser a de verificar o que barrou o caminho de transforma9ao da proto-industria em uma "verdadeira" industria. A resposta e, pelo menos em partc, que a industria textil domestica de Minas ressentiu-se ^dos obstaculos inerentes a sua base social - uma sociedade escravista/19^

De acordo com os dados dispomveis relatives a Minas e ao resto do Brasil, a fia9ao e tecelagem eram atividades quase que exclusivamente femininas, em marcante contraste com as proto-industrias europeias ou obrajes da America hispanica. Pode-se apenas especular sobre a origem desta ngida divisao sexual de trabalho. Como ja se viu, as mulheres geral- mente se enclausuravam dentro de casa e na familia nuclear, o que sugere

(18) MARTINS (1983, p. 86-7). De fato, os dados dispomveis sobre exporta96es nao sao muito confiaveis e provavelmente sao subestimados, especialmente os das primeiras decadas,

(19) Nao se esta afirmando que tais obstaculos representavam as unicas razoes pelo insucesso desta proto-industria em caminhar para uma industrializa9ao plena. Obviamente, os tecidos baratos, importados de fabricas europeias, faziam incursbes cada vez mais significativas nos mercados extraprovinciais e, tambem, no proprio mercado mineiro, principalmente apos a constru9ao da Estrada Uniao e Industria na decada de 1850. Com efeito, o relativo isolamento de Minas e os altfssimos custos de transporte foram fatores importantes no desenvolvimento inicial da industria textil caseira, bem como para a ampla dessemina9ao das fundi95es de ferro. Ver STURZ (1837, p. 112). O autor calculou que os custos de transporte para os mercados litoraneos representavam de 50% a 80% do pre90 final de mercadorias mineiras.

(20) As listas nominativas inclufdas na nossa amostra nao arrolam nenhum trabalhador homem, nem meninos ou idosos. Ja, para o muniefpio de Campanha em 1831, PAIVA & KLEIN (1992, p. 129-51) encontram um numero reduzido de homens fiando e tecendo, enquanto o Recenseamento tambem revela uma pequena participa9ao masculina na industria textil caseira. De qualquer forma, esta participa9ao masculina minima contrasta bastante com tudo que se sabe com rela9ao a proto-industrializa9ao textil em outras partes do mundo, pois homens, mulheres e crian9as encontravam-se trabalhando juntos, dentro da unidade familiar. Cf., por exemplo, SCHLUMBOHM (1983, p. 104-5); GULLICKSON (1991, p. 205-26); SALVUCCI (1987, p. 104-5).

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fortemente que formas culturais dominadas pelo comportamento masculine prevaleceram na sociedade escravista brasileira. Por razoes provavelmente relacionadas com 009605 consensuais sobre o carater proprio e nobre da "administragao" de lides agncolas e pecuarias, aquela sociedade relegou a industria textil domestica ao dominio pejprativo de "trabalho de mulher", ou seja, trabalho indigno para um homem. Apesar do fato de que, durante certos penodos, a produ9ao de fios e panos devia estar contribuindo, de maneira substancial, para a renda domiciliar das familias pobres e nao de- tentoras de escravos, a participa9ao masculina permaneceu praticamente nula. Reiterando um argumento anterior, se nao se pode visualizar um senhor de engenho ou qualquer outro proprietario de escravos manipplando a roca ou o tear, segue-se que seus compatriotas menos afortunados tambem hesitariam em faze-lo. Ate que ponto esta auto-exclusao do homem da industria textil caseira afetou negativamente as chances para a emergencia de uma industria baseada no sistema fabril?

De novo, pode-se apenas especular. Como ja foi demonstrado em artigo anterior, a proto-industrializa9ao mineira, aparentemente, nunca avangou alem do Kaufsystem, no qual os produtores diretos continuavam responsaveis pela obtengao das suas materias-primas e, mais importante ainda, tambem pela venda do produto final no mercado. (LIBBY, 1991, p. 33-35) No caso mineiro, o mercado significa uma casa comercial sediada em algum arraial ou, mais freqiientemente, um tropeiro. Se e possivel generali- zar as observa96es dos viajantes a respeito da natureza enclausurada da vida quotidiana das mulheres, deve-se presumir que tanto a obten9ao da mate- ria-prima quanto a venda dos panos e fios acabados eram assuntos priorita- riamente masculinos. Nenhum homem, chefe de domicilio, iria permitir que sua esposa, filhas ou agregadas se engajassem em negocia96es sobre pregos/22^ O que importa e que o contato direto entre fiandeiras e tecedei- ras e os agentes do comercio devem ter sido minimos, o que teria influencia- do negativamente qualquer processo de penetra9ao do capital mercantil na esfera da produ9ao, uma etapa indispensavel na transforma9ao da produgao domestica em industria baseada no sistema fabril. Neste caso, as ngidas normas culturais da sociedade escravista que permeiam as relagoes de gene- ro devem ter barrado o caminho europeu classico em dire9ao a industria

(21) Ha paralelos europeus a este tipo de atitude. A medida que, durante a transi9ao para o sistema fabril, certas tarefas perderam seu sentido de especializa9ao, elas se tornaram "trabalho de mulher". Cf. BERG (1985, cap.6).

(22) Pede-se ao leitor um pouco de paciencia para que se possa desenvolver o raciocmio aqui. Obviamente, muitos domicflios foram chefiados por mulheres e o folclore brasileiro e repleto da figura da "mulher macho" para atestar este fato. Nao seria este mais um exemplo das formas culturais de orienta9ao masculina que predominavam na sociedade escravista brasileira?

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PouQlas Cde Libby

fabril, pela simples razao de que fia9ao e tecelagem nao eram atividades de toda a familia. O fato e que os comerciantes nunca souberam aproveitar as oportunidades oferecidas por esta enorme industria textil caseira, apesar da existencia de um vivo comercio intraprovincial de algodao cru e de trocas

(OT.\ r 0 locais de fios.

Ha razoes para responsabilizar ainda mais a sociedade escravista por nao ter se aproveitado das oportunidades que se;/apresentavam. Um dos meios mais seguros para a acumula9ao de fortuna no Brasil oitocentista consistiu no engajamento em atividades comerciais. Uma vez ganha a fortu- na, porem, tanto os tropeiros quanto os comerciantes fixos tendiam a diver- sificar seus investimentos em aquisi9ao de terras e, e claro, de escravos para cultiva-las. De acordo com a amostra das listas nominativas mineiras da decada de 1830, jaor exemplo, embora os comerciantes representassem nao mais que 4,4% da for9a de trabalho livre, eles perfaziam 12,6% dos proprie- tarios de escravos e a eles pertencia 10,4% do plantel provincial/^ Pode-se argumentar que esta diversifica9ao obscurecia as potencialidades da proto- industria textil. E mais plausivel que, cada vez mais, as aten96es se volta- vam para o "negocio" nobre da agricultura e da pecuaria - negocio que tinha tudo a ver com o fazer tao pouco quanto possivel. Richard Burton elucida muito bem esta ultima assertiva. Ao visitar Diamantina, o diplomatc se hospe- dou na casa suntuosa de um comerciante pojtugues, que havia iniciado sua vida como tropeiro. No ano de 1867, o anfitriao de Burton, Sr. Amarante, era considerado o homem mais rico de todo o distrito diamantifero, tendo consoli- dado uma extensa rede comercial ao norte e ao oeste da cidade. Amarante era tambem proprietario de uma giande fazenda dedicada a pecuaria e a produ9ao de alimentos basicos, a9ucar e aguardente. Sua unica ocupa9ao visivel, no

(25) entanto, era cuidar de seus 50 "turbulentos" escravos.

(23) Saint-Hilaire fornece o unico exemplo que indica que comerciantes poderiam estar envolvidos na prepara9ao de algodao cru para sua posterior venda aos produtores de tecidos. Durante sua primeira visita a Sao Joao d'El Rei, o viajante observou que: "0 algodao que se colhe nessa cotnarca i em parte comprado pelos negociantes de S. Joao d'El Rei, que tratam de descarocd-lo.d SAINT-HILAIRE (1974b, p. 111). E muito mais provavel, no entanto, que devido aos bons pre9os pagos pelo algodao descaro9ado, ele fosse transportado ao Rio de Janeiro para exporta9ao. (24) Baseado em LIBBY (1988, p. 377, 383).

(25) BURTON (1869, vol 2, p. 97). Deve-se notar aqui que, para este aristocrata ingles, apenas os escravos da Mina de Morro Velho nao mereciam o rotulo de "turbulentos" ou coisas piores. Ver tambem GARDNER (1849, p. 331). O autor nos fornece um outro exemplo ilustrativo. Este medico ingles passou por Minas uns vinte anos antes de Burton e, em Montes Glares, ficou hospedado na casa do agricultor/comerciante mais rico da cidade, Coronel Versiani. O anfitriao, porem, havia se ausentado, pois estava inspecionando suas propriedades (e, portanto, seus

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Uma segunda, e curiosa, proto-industria desenvolveu-se e floresceu em Minas. Desde o imcio do seculo XVIII, a mineragao aurifera havia gerado uma demanda consideravel pelo ferro e o fato de Minas possuir vastos depositos do minerio de ferro nao passou desapercebido. Diante dos enormes custos do transporte de barras de ferros e de ferramentas para a regiao mineradora, e plausivel supor que as primeiras tentativas de fundir ferro tenham ocorrido ainda na primeira metade do seculo, a despeito das severas proibi96es mercantis. As baixas avaliagoes de instrumentos de ferro encontradas em inventarios datados de 1740 a 1770 sustentam tal hipotese. (MAGALHES, 1986) De qualquer forma, quando Eschwege chegou ao distrito minerador, em 1811, ele encontrou pequenas fundi96es em funcio- namento, embora tenha considerado os metodos empregados como pouco mais que um "processo barbaro".(ESCHWEGE, 1979, v. 2, p. 203) Como qualquer elemento africano era passivel de ser julgado como barbaro, a avalia9ao de Eschwege nao deve causar surpresa; os estudiosos sao unani- mes em atribuir aos escravos africanos a introdu9ao da arte de fundir o ferro

(9ft)

em Minas Gerais. Com efeito, nao poderia ter acontecido de outra forma, visto que a ignorancia dos Portugueses e dos colonos brancos brasileiros com rela9ao a esta arte e notoria. (GOMES, 1983, p. 34; MACEDO, 1963, p. 244) Durante as decadas de 1810 e 1820, Eschwege e outros "especialistas" enviados pela Goroa introduziram melhoramentos nos metodos de fundi9ao, baseados no forno sueco conhecido como o stukhofen. Como, aquela epoca, as metalurgias brasileira e sueca se utilizavam do carvao vegetal isto talvez tenha contribuido para o sucesso das adapta9oes, largamente copiadas por produtores mineiros. O resultado foi o desenvolvimento de uma industria de ferro genuinamente mineira, que, ao que parece, nao foi igualada em nenhuma outra parte do mundo, a nao ser, talvez, na propria Africa.

O chamado metodo do cadinho para fundir o ferro era particularmen- te bem adaptado as condi96es do mercado em Minas. Do imcio da decada de 1830 ate o final da decada de 1860, os sucessivos governos provincials realizaram levantamentos que revelaram numeros crescentes de pequenas fundi96es, bastante intensivas em mao-de-obra. Embora ocorresse um cer-

escravos), enquanto seus negocios comerciais ficaram confiados a um empregado fiel. Gardner comentou que esta "prdtica [e] bem comum entre os ricos fazendeiros desta provincial

(26) O proprio Eschwege reconheceu este fato: ESCHWEGE (1979, v. 2, p. 203). Dois autores escrevendo em epocas posteriores distintas compartilharam da mesma opiniao: BOVET (1883, p 35-6); DORNAS FILHO (1959, p. 154).

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to grau de concentra^ao nas areas onde a minera9ao continuava a desempe- nhar um papel de relevancia na economia local, o que e mais notavel com rela^o a industria mineira de ferro foi sua disseminagao por toda a provm- cia. Os altos custos de transporte garantiram as fundi9oes um virtual mono- polio sobre os mercados locais e elas usualmente foram complementadas pela existencia de tendas de ferreiros produzindo ferramentas que satisfa- ziam as necessidades de fazendeiros, artesaos e tropeiros. Em meados da decada de 1860, havia nada menos que 140 fundi9oes e o ferro mineiro era exportado para Goias, Mato Grosso e para o interior da Bahia. (LIBBY, 1988, cap. 3)

A industria de ferro, entao, claramente se encontrava em expansao, embora tal expansao fosse meramente extensiva, dado que nao incorporava

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melhoramentos tecnologicos. Mesmo com a perda de mercados e o fechamento de fundi96es na regiao sudeste da provincia, devidos a certos melhoramentos nas rotas comerciais na decada de 1860 e a penetra9ao das ferrovias nas decadas de 1870 e 1880, a industria continuou a expandir nas regioes interioranas. Seu baixo nivel tecnologico inviabilizava, no entanto, a concorrencia com o ferro e 390 produzidos no exterior, sobretudo quando estes passaram a ser transportados por ferrovia para o territorio mineiro. Contudo, a vitalidade impressionante dessa industria amplamente dissemi- nada pela provincia poderia ter conduzido a uma rea9ao positiva em termos de reorganiza9ao produtiva, em face do desafio da inevitavel concorrencia estrangeira. Mais uma vez, o fato de que isto nao tenha acontecido remete para os impedimentos inerentes a sociedade escravista que obstruiam o desenvolvimento industrial do Brasil do oitocentos.

A maioria dos trabalhadores de fundi9ao eram escravos e, na verdade, as proprias fundi96es, em grande parte, constituiam complementos a unida-

(27) Durante quase 50 anos, o imigrantc frances, Jean de Monlevade, operou uma forja catala, instalada perto de Santa Barbara. O ferro c pequenas quantidades de 390 la produzidos eram considerados de excelentc qualkdade e, quando do seu falecimento em 1872, Monlevade possuia cerca de 250 escravos, dos quais 125 trabalhavam na fundi9ao. Apesar do fato de que muitos desses escravos eram altamente treinados, com a morte do proprietario, o metodo catalao teve de ser abandonado e a farmlia contratou um mestre forjador italiano que convertcu para o metodo italiano - menos complicado, mas tambem menos produtivo. Parece que os escravos conseguiram operar estc metodo sem supervisao, pois 0 mesmo mestre foi sucessivamente contratado para converter varias fundi96cs da regiao do metodo do cadinho para o metodo italicno. Para que nao sc imagine que estivcssc se desencadcando um processo de moderniza9ao com base ncstes casos, basta recordar que tanto o metodo catalao quanto o italiano se originaram na Idadc Media.

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de produtiva tipica de Minas no seculo XIX: a grande e diversificada fazen- da escravista. Freqiientemente, os proprietarios das fimdi96es eram tao ignorantes na arte de fundir o ferro quanto sens antepassados. Afinal, trata- va-se de uma arte mecanica.

Em meados da decada de 1870, o governo provincial de Minas reve- lou possuir grau de ilustra9ao sem precedentes ao fundar a Escola de Minas

(28) na capital e ao contratar metalurgistas franceses como professores. Do- centes e discentes logo se puseram a realizar pesquisas de campo, exami- nando os metodos praticados na minera9ao, estudando a geologia da regiao e observando as opera95es das fimdi96es de ferro. No ano de 1881, os resulta- dos dessas pesquisas come9aram aparecer numa revista patrocinada pela Escola. No volume de 1883, portanto apenas seis anos antes da Aboli9ao, o Professor Armand de Bovet publicou interessante artigo relatando suas ob- serva96es sobre a industria de ferro em Minas. Deixa-se ao M. Bovet as (pen)ultimas palavras - palavras que de tao eloqiientes dispensam comenta- rios adicionais:

"[Os proprietarios] possuem for]as mas nao as dirigem, fomecem ao ferreiro escravo um form e as ferramentas precisas e exigem que fagam por dia uma certa quantidade de ferro, sem, em geral, se importarem com o trabalho sendo para verificar a quantidade produzida. 0 escravo faz o que sabe, e por pouco habil que seja, sabe mais do que seu senhor, que, em geral, apparece apenas na forja. Comprehende-se que assim tudo quanto pode haver de deli- cado ou dificil no trabalho e depressa deixado de lado, que os bons processos degeram rapidamente, a custa da producgdo e da quali- dade. Todo esse pessoal entregue a producgdo de ferro nao e menos interessante, pois que ao menos estabeleceu e mantem uma indus- tria que vird a fazer um dia a principal riqueza da provincia, mas com esta ma organisagdo de trabalho quasi que provam elles que nao e sufficiente forjar para se fazer ferreiro. Basta uma prova; citei uma forja perto de Santa Barbara que, abandonando o systema italiano, voltou ao systerna dos cadinhos; o unico motivo desta transformagdo foi ter o proprietario perdido o escravo que trabalhava sua forja e nao ter podido encontrar um outro que

(28) Sobre a influencia da Escola, ver: CARVALHO (1978).

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PouQlas Cole Libby

soubesse trabalhar na forja Italian a; o substituto que achou, conhecendo so o processo de cadinhos, substituiu a forja italiana por uma de cadinhos" (BOVET, 1883, p. 48-49)

Ao argumentar contra a tradicional historiografia brasileira que insiste em responsibilizar o trabalho escravo em si pelo atraso do desenvolvimento economico anterior a 1888, selecionou-se evidencia proveniente de fontes primarias produzidas por um grande empreendimento dedicado a minera- 9ao em escala industrial. A evidencia deixou clara a compatibilidade poten- cial do trabalho escravo para com os avan^s tecnologicos e para com a organiza9ao administrativa complexa. A implica9ao desta analise e de que os impedimentos a moderniza9ao devem ser buscados em outros fatores tipi- cos da sociedade escravista. Sugeriu-se, entao, que a aversao ao trabalho e o desinteresse generalizado pelos processos produtivos, culturalmente ine- rentes a maior parte da popula9ao livre da sociedade escravista brasileira, parecem ter se constituido em obstaculo quase que intransponivel para o desenvolvimento social e economico. Como esta baseada em observa96es de viajantes estrangeiros e em material fiscal, censitario e investigatorio, levantada por funcionarios das administra96es colonial e provincial, a evi- dencia apresentada em apoio ao segundo argumento e indireta. Enquanto tal, podera ter deixado alguns leitores pouco convencidos. A questao de fontes, no entanto, conduz a outras reflexoes sobre a natureza da sociedade e da cultura escravistas brasileiras. Tal como seus antecessores dos seculos anteriores da escravidao, os senhores de escravos do Brasil oitocentista rara- mente registraram por escrito qualquer tipo de informa9ao sobre suas ativi- dades do dia-a-dia, muito menos sobre aquelas de seus escravos. Os registros de plantation, os livros de contabilidade e os diarios pessoais, que tern servido como fontes valiosissimas para os estudos da escravidao no sul dos Estados Unidos e no Caribe, praticamente inexistem no Brasil. Obvia- mente, nem os proprietarios de escravos sulistas, nem os administradores das Indias Ocidentais se preocuparam em legar a posteridade informa96es detalhadas sobre as opera96es quotidianas de suas plantations, fazendas ou engenhos, mas eles se interessaram pelas vantagens proporcionadas pelo emprego de rudimentos de administra9ao racional. Ao que parece, seus colegas brasileiros nunca foram motivados por tais interesses. Neste senti- do, a propria ausencia de fontes primarias diretas constitui mais uma indica-

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9ao do desinteresse, da parte de senhores de escravos brasileiros, por ques- toes administrativas.

Interpretagoes inovadoras devem ser extraidas de fontes tradicionais e fontes alternativas terao de ser investigadas para que o argumento aqui elaborado possa ser melhor desenvolvido. No Brasil, cada vez mais, os historiadores do social e do economico lan9am mao de testamentos e de inventarios post mortem, em fun9ao das descri96es detalhadas da vida mate- rial do passado que eles contem. Um longa serie cronologica, enfocando os instrumentos de produ9ao descritos nos inventarios, serviria como medida razoavel da evolu9ao tecnologica, ou da sua inexistencia, mas nos diria muito pouco sobre as atitudes com rela9ao ao trabalho ou sobre a organiza- 9ao do trabalho em si. Os processos-crime e as causas civeis que tratam de questoes envolvendo o trabalho poderao lan9ar novas luzes sobre tais atitu- des. Uma releitura dos viajantes pode, tambem, conduzir a melhor com- preensao da valoriza9ao do lazer em detrimento das lides produtivas. A literatura e os escritos jornalisticos do oitocentos no Brasil podem revelar algo mais sobre as atitudes culturais e suas transforma96es no tempo. Tor- na-se claro que e preciso investigar novas fontes e experimentar novas abordagens para se chegar a uma maior compreensao dos efeitos, na Historia Economica do Brasil, da cultura tradicionalista que caracterizou o regime escravista.

Nao foi nossa inten9ao sugerir que a aversao ao trabalho, em particu- lar ao trabalho manual, constituiu-se no unico, ou mesmo no principal, impedimento ao desenvolvimento economico ou a moderniza9ao presentes na economia e na sociedade escravistas do Brasil oitocentista. Mas, sim, que as atitudes e os comportamentos que emergiram e perduraram ao longo de mais de tres seculos de regime escravista podem significar reais obstaculos ao desenvolvimento e influenciar decisivamente o desenrolar do processo historico. Quaisquer que sejam as outras causas do subdesenvolvimento brasileiro, e chegado a hora de os estudiosos da Historia Economica do Brasil aceitarem o desafio de Gregory Clark tratando adequadamente as questoes culturais, em vez de relega-las as notas de rodape ou ao campo "inconseqiiente" da Historia das Mentalidades.

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Douglas Cole Libby

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Referências

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