INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
CONHECIMENTO LOCAL SOBRE O BOTO VERMELHO,
Inia geoffrensis
(de Blainville, 1817), NO BAIXO RIO NEGRO E UM ESTUDO DE CASO DE SUAS INTERAÇÕESCOM HUMANOS.
CARLA PATRÍCIA BAREZANI
MANAUSAM 2005
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
CONHECIMENTO LOCAL SOBRE O BOTO VERMELHO,
Inia geoffrensis
(de Blainville, 1817), NO BAIXO RIO NEGRO E UM ESTUDO DE CASO DE SUAS INTERAÇÕESCOM HUMANOS.
CARLA PATRÍCIA BAREZANI
ORIENTADOR: Dr. George Henrique Rebêlo
CoORIENTADORA: Dra. Vera Maria Ferreira da Silva
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do convênio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, área de
concentração em Ecologia.
MANAUSAM 2005
FICHA CATALOGRÁFICA
Barezani, Carla Patrícia
Conhecimento local sobre o boto vermelho,
Inia geoffrensis
(de Blainville, 1817), no baixo rio Negro e um estudo de caso de suas interações com humanos. / Carla Patrícia Barezani. – Manaus, 2005. p.76 : il. Dissertação (mestrado) – INPA/UFAM. 1. Etnoconhecimento 2. Boto vermelho 3. Ecologia animal 4. Interações Botos e Humanos 5. baixo rio Negro 6.Inia geoffrensis
. CDD 19. ed. 599.5045 Sinopse:O conhecimento local sobre o boto vermelho
Inia geoffrensis
, no baixo rio Negro, foi estudado mediante entrevistas, com o objetivo de obter informações sobre a biologia, ecologia e as percepções das pessoas sobre o boto vermelho e verificar também o consenso do conhecimento das pessoas sobre o animal. O conhecimento das pessoas mostra uma relação de interação do homem com o boto. Um estudo de caso de interação entre botos e humanos foi realizado em Novo Airão, onde existe um grupo de botos vermelhos que interage com as pessoas, nadam próximo a elas, permitem ser tocados e são alimentados. A aproximação dos botos para essa interação facilitou a visualização e identificação dos animais e permitiu verificar o comportamento de interação inter e intraespecífica do boto vermelho na natureza.Palavraschave: Boto vermelho,
Inia geoffrensis
, etnoconhecimento, interação botos e humanos, comportamento de interação.Aos meus pais e irmãs, que sem seu amor não chegaria aqui.
À Paula por ser meu raio de sol.
In the end, we will conserve only what we love. We will love what we understand. No fim, nós conservaremos somente o que nós amamos. Nós amaremos o que nós entendemos. Baba Dioum, naturalista senegalense
Agradecimentos
A Deus que me iluminou e me deu forças.
À minha Família, tios, tias, primos, primas e cunhados pelo carinho que me fortalecem com o seu carinho e que torcem pelo meu sucesso.
Ao CPEC (INPA) e seu corpo docente que me ajudaram na minha formação acadêmica. À Geise pela simpatia, eficiência e habilidade com os loucos alunos.E à Bervely pela ajuda nos momentos finais.
Ao Dr. George Henrique Rebêlo por aceitar a me orientar junto ao curso de Ecologia, pelas sugestões de análises e correções na minha dissertação.
À Dra Vera Maria Ferreira da Silva que aceitou me orientar, fez críticas, sugestões e me apoiou no meu trabalho, sem contar que me abriu as portas do laboratório de mamíferos aquáticos e disponibilizou um espaço e uso de computadores para trabalhar. Obrigada por me proporcionar à oportunidade de estar junto aos maravilhosos mamíferos aquáticos, de pesquisar e me encantar pelos botos.
FAPEAM pelo financiamento da bolsa de estudos e pela “Fundação Barezani Silveira” pelo “PAItrocínio” sempre que precisei e que sem ele não chegaria até onde cheguei.
A todos os colegas de turma do curso de Ecologia que podemos compartilhar bons e maus momentos do nosso curso, em especial Carlos, Romilda, Anderson, Milton, Lílian, Óleo e Mauro. E também a amizade de Juliana, Domingos. Marcelinho companheiro nas aulas de campo.
Aos colegas de laboratório de Mamíferos Aquáticos, Gália, por sempre me salvar com os problemas do computador, Andréa pelas críticas e sugestões nos meus trabalhos, Mônica pela força, Nataly, pelas análises, Nildon, pela alegria e sempre disposto a ajudar, Anselmo, por responder as minhas curiosas perguntas, André, o colega prestativo, Sihame, a menina louquinha, Waleska, pela sua agitação contagiante e Daniel pela calma, Dani Melo, Tatyanna, Carla Soares, Yara, os funcionários da Prevet: Jeová, Daniel, Marcelo, Raimundo e Nazaré. Fernando Rosas, por várias conversas, que aprendi muita coisa. Enfim, todos por terem me recebido tão bem e por compartilhar o espaço de trabalho. E também aos “Danis” Fettuccia Pimpão, pela doce e simpática amizade, mesmo que de última hora, que foi muito importante para mim.
Jackson Rêgo e Glenn Shepard pelo socorro de última hora, fazendo sugestões importantes ao meu trabalho.
Carol Surgik e Adeilson que se dispuseram a me ajudar nas horas do desespero com o plano e com as sugestões na minha dissertação. Adriana K Terra, pelas entrevistas na Central do Tupé e pela amizade e carinho.
Rô e Márcia por compartilharem um “lar” em Manaus comigo e cada uma de forma particular no companheirismo e amizade. Rô sempre demonstrando preocupação comigo. Márcia pela enorme ajuda na minha dissertação e por me ensinar a gostar de chimarrão. Obrigada pelo carinho e paciência.
Família Roncarati Vilela pelo incentivo e força.
Magnólia, Moma, Maura e Carlinha pelo carinho familiar. Mônica e Flávio, pela amizade e confiança e juntos com Alessandra e André por proporcionar um pedacinho das minhas Minas em Manaus. D. Céila pelo carinho. Marilda, Mariza e Monik, que me abriram as portas do flutuante para estudar os botos e as de sua casa me acolhendo como uma amiga. Dona Laura pelo carinho de mãe em sua pousada. Aos MEUS AMIGOS Adriana Coelho, Agnaldo, Danielle e Tutty, Dulce e Léo, Jane, Luciano, Mariana, Rodrigo, Simone, AMIGOS que nos socorrem, que se interessam por nós, que nos escrevem, que nos telefonam para saber como estamos indo. “A amizade é uma dádiva de Deus”. “Mais tarde, haveremos de sentir falta daqueles que não nos deixam experimentar a solidão.”
Prof. Wilham Jorge, por acreditar em mim e me iniciar na vida científica Aos meus Anjos...
RESUMO
Conhecimento local sobre o boto vermelho, Inia geoffrensis (de Blainville, 1817), no baixo rio Negro e um estudo de caso de suas interações com humanos.
O boto vermelho, Inia geoffrensis, é o maior cetáceo de rio, endêmico das bacias dos rios Amazonas e Orinoco, onde se encontra amplamente distribuído. Por toda sua distribuição, o boto vermelho é conhecido e faz parte do folclore e da cultura do povo amazônico. Apesar da sua extensa distribuição e abundância, há poucos estudos sobre a ecologia, biologia e sobre o conhecimento popular desses animais. Para estudar o conhecimento local sobre o boto vermelho, no baixo rio NegroAM foram realizados dois tipos de entrevistas. Na primeira obtevese um panorama geral do conhecimento sobre a biologia e ecologia desses animais e comparouse com o conhecimento científico observando que por diferentes formas de se expressar, as pessoas entrevistadas percebem muito bem o ambiente em que vivem, o que pode permitir uma troca de conhecimentos com o conhecimento científico. O segundo tipo de entrevista visou estudar o conhecimento cultural como consenso e verificouse uma variação intracultural entre localidades, classe etária e escolaridade, observando uma quebra de tabus sobre o boto e, assim, a desmistificação das lendas e mitos existentes sobre o boto vermelho. O estudo do conhecimento local mostrou uma relação de interação do homem com o boto, sendo dessa forma que o homem adquire o conhecimento empírico da biologia e ecologia do boto. Em Novo Airão, cidade localizada às margens do rio NegroAM, existe um grupo de botos vermelhos que interagem diariamente com humanos. Esses animais nadam perto das pessoas, se mostram bem curiosos e tranqüilos nas interações, permitindo que sejam tocados e alimentados diretamente das mãos das pessoas. A escassez de estudos comportamentais de botos pode ser devido às características do habitat onde ele ocorre, que dificulta a avistagem e a identificação dos animais a serem estudados. Esse grupo de botos ofereceu oportunidade única para se estudar a interação entre botos e humanos na natureza. A possibilidade de aproximação desses animais facilitou sua visualização e identificação, importantes ferramentas no estudo de comportamento intra e interespecífico. Verificouse ainda, uma baixa variação dos padrões de interação com humanos e que esses botos vermelhos não apresentam padrões de associação. O conhecimento tradicional sobre o boto vermelho e o seu comportamento de interação inter e intraespecífica na natureza
provaram ser importantes ferramentas para o conhecimento da espécie, fator essencial para a elaboração de estratégias para a sua conservação desse golfinho de rio.
ABSTRACT
Local knowledge of the Amazon River dolphin, Inia geoffrensis (de Blainville, 1817) in the low Negro river and a case study of its interaction with humans.
The boto, Inia geoffrensis, is the biggest river dolphin and endemic of the Amazon and Orinoco river basins, where it is widely distributed. Because of its broad distribution, the boto is known by the Amazonian people and is part of their folklore and culture. Despite its distribution and abundance, there are few studies about the ecology, biology and popular knowledge of these animals. Two differents kinds interviews were undertaken to study the local knowledge of the boto in the low Negro river AM. The first type of interview provided general information relating to the biology and ecology of these animals compared to the scientific knowledge, and revealing that, although expressed in different ways, the people interviewed have a good perception of the environment where they live. This allows an interchange between popular and scientific knowledge. The aim of the second type of interview was to study cultural knowledge as consensus. There are “Intra” cultural variations between localities and gender. A consensus among students and among a specific group of people, over 35 years old, was also verified showing a featureless local knowledge and the demystification of myths and legends about the Amazon river dolphin. This study on local knowledge showed an humanboto interaction, that makes possible for man to acquire biological and ecological knowledge of the boto. At Novo Airão, a city located on the margin of the Negro River, there is a group of botos that interact every day with humans. These dolphins swim close to people and seem to be very curious and calm during these interactions, allowing to be touched and fed directly from human hands. The lack of boto behavior studies can be due to its habitat characteristics that make sighting and identification of the animals difficult. This human with boto interaction offered a unique opportunity to study the behavior of these animals in natural environment. The approximation of these animals to humans facilitated visualization and identification as important tools for intra and interespecific behavior studies. It was demonstrated a low variation in the interaction patterns with humans and that these dolphins do not show patterns of association. The traditional
knowledge about river dolphins and their interaction, inter and intra specific, in the wild are important tools for the knowledge about the species, and an important factor for the conservation of this river dolphin, helping the implementation of conservation strategies.
Índice Página Agradecimentos... VI Resumo... VIII Abstract... IX Índice... XI Lista de Tabelas... XII Lista de Figuras... XIII Lista de Anexos... XIV Preâmbulo... Bibliografia Citada... 15 18 CAPÍTULO I. Etnoconhecimento e percepções sobre o boto vermelho... 20 Introdução... 20 Métodos... 22 Resultados e Discussão... 24 Conclusões... 40 Bibliografia Citada... 41 CAPÍTULO II. Interações entre botos e humanos na natureza: um estudo de caso em Novo Airão... 46 Introdução... 46 Métodos... Resultados e Discussão... Conclusões... Bibliografia Citada... Epílogo... Bibliografia Citada... ANEXOS... 48 53 62 63 66 69 71
LISTA DE TABELAS
Página Tabela 1.1. Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado
das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número 17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino... 30 Tabela 2.1. Nome, sexo e classe de estágio relativa determinada a partir do
tamanho e da coloração de
Inia geoffrensis
, usada por Best & da Silva (1989b)... 54 Tabela 2.2. Número médio de botos por observação, rank de importância deocorrência dos botos e o número de observações para cada padrão de comportamento de interação... 55 Tabela 2.3. A formação aleatória do grupo de botos que interagiam com os
humanos em cada sessão de observação. A célula preenchida representa a presença do boto e a célula em branco à ausência deste em cada observação. A última coluna representa o número total de botos que interagiu naquela sessão de observação e na última linha, a somatória do número de vezes que cada indivíduo esteve presente durante o período de observação... 58
LISTA DE FIGURAS
Página Figura 1. Distribuição do boto vermelho, 2002 (Fonte: www.groms.de)... 15 Figura 1.1. Variação da porcentagem do consenso geral de todos os
entrevistados, para cada pergunta do questionário estruturado (Anexo II).... 36 Figura 1.2. Ordenação mostrando a distribuição do conhecimento em relação
às localidades, os estudantes universitários, ao sexo e à idade (M40=pessoa do sexo masculino e de idade 40 anos e F27=pessoa do sexo feminino e de idade de 27 anos). Com variância de 35,3% no eixo 1 e variância de 40,5% no eixo 2... 37 Figura 1.3. Ordenação em relação à classe etária, localidade (NA=Novo
Airão/Tp=Tupé/Ma=Manaus/Est=Estudantes/“M=masculino/F=feminino”). Com variância de 23,5% no eixo 1 e variância de 53,7% no eixo 2... 39 Figura 2.1. A aproximação dos botos permite a identificação: à esquerda
Curumim (notar o rostro torcido) e à direita Dani (Foto: Carla P. Barezani)... 51 Figura 2.2. Padrão de interação entre boto e humano: (3) Alimentação sem
contato (Foto: André Franzini)... 52 Figura 2.3. Freqüência das sessões de observação das interações entre botos
e humanos em diferentes intervalos, durante o período de observações... 54 Figura 2.4. Freqüência dos padrões de interação entre boto e humano... 55 Figura 2.5. Agrupamento dos botos, verificando o padrão de associação dos
animais, com porcentagem de encadeamento de 81,82%, Método Ward e Medida de Distância Sorensen (BrayCurtis) (McCune & Mefford, 1999). Cr=Curumim; Ff=Fefo; Da=Dani; Lw=Lawrence; Ed=Eide; Dd=Doidinha; Ca=Cauã; Vi=Vi... 59 Figura 2.6. Índice de Ocorrência dos botos nas três áreas estabelecidas entre o
LISTA DE ANEXOS
Anexo I. Formato da entrevista semiestruturada para obter a percepção bem ampla das pessoas sobre o boto vermelho,
Inia geoffrensis
.Anexo II. Formato da entrevista estruturada desenvolvida para obter informação sobre o conhecimento das pessoas sobre o boto vermelho,
Inia geoffrensis
, para verificar o consenso.Anexo III. Localização da cidade de Novo Airão, às margens do rio NegroAM. (Articulação comparável com a escala 1:50.000IBGE) Fonte:
www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br.
PREÂMBULO
O boto vermelho,
Inia geoffrensis
, é o maior cetáceo de rio, endêmico das bacias dos rios Amazonas e Orinoco (Best & da Silva, 1989), onde se encontra amplamente distribuído (Figura 1). A espécie é conhecida por diferentes nomes populares ao longo da sua distribuição: boto, boto vermelho e boto corderosa no Brasil, bufeo e bufeo colorado na Colômbia, Equador e Peru, tonina e delfin rosado na Venezuela (da Silva, 2002). O boto é uma espécie predadora e ictiófaga (Best & da Silva, 1989).Figura 1. Distribuição do boto vermelho, 2002 (Fonte: www.groms.de).
O boto é afetado pela degradação do habitat devido à poluição, tráfego de barcos, desmatamento e super exploração de suas presas (Best & da Silva, 1989). Análises de leite de boto no alto rio Amazonas (Letícia) (Gewalt, 1978) e Amazônia Central (Manaus) (Rosas & Lehti, 1996) revelaram que a poluição química dos rios por pesticidas e mercúrio é uma ameaça à espécie. Com o aumento do uso de redes de náilon e outras técnicas de pescaria, a captura acidental de botos se tornou mais comum (da Silva, 2002). A construção de barragens hidroelétricas também afeta a
abundância e presença de algumas espécies de peixes e isolam populações de botos reduzindo o fluxo gênico e aumentando desse modo às chances de extinção (da Silva, 2002).
O boto vermelho está listado no Anexo I como espécie quase ameaçada, na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Fundação Biodiversitas, 2005). No Brasil, os botos são legalmente protegidos por Leis Federais, Decretos e Portarias (IBAMA, 2000).
Apesar das Leis que protegem os botos e dos traços culturais como lendas e mitos que ajudam a evitálos, os botos têm sido capturados intencionalmente e mortos por pescadores que alegam danos aos equipamentos de pesca e competição pelos peixes (da Silva, 1990). Recentemente, sua carne está sendo usada como isca para captura de piracatinga (
Calophysus macropterus
) (da Silva, 2004), revelando interações hostis entre humanos e botos. Isso tem levado o IBAMA e órgãos conservacionistas a fazerem campanhas educativas a respeito de proteção e preservação do boto vermelho. A partir dessas atividades ambientais, aulas de biologia nas escolas e outras fontes de informações a população está mudando seus conceitos sobre diferentes aspectos em relação ao boto e a natureza. Por exemplo, a quebra de mitos e tabus sobre os botos deixavam as pessoas receosas e com medo de se aproximarem do boto.Isso está demonstrando algumas mudanças culturais da população e despertando a curiosidade e interesse das pessoas em relação ao boto, fazendo com que elas observem mais o boto na natureza sem o medo que antes tinham, já que as populações humanas na Amazônia avistam os animais nas águas e ainda partilham de muitas lendas e mitos sobre o boto.
Um exemplo de quebra de mitos em relação ao boto é a interação entre botos e seres humanos que vem ocorrendo na cidade de Novo Airão. Nessa cidade, localizada no baixo rio Negro, Amazonas, existem botos vermelhos que foram atraídos por duas irmãs adolescentes, que nadam, brincam e alimentam os botos e estes se mostram bem tranqüilos e curiosos durante essa interação. Esta interação amistosa vem atraindo a curiosidade de moradores locais e de visitantes. Essa interação lúdica e não agressiva desses animais com humanos não é comum e é considerado um caso raro na Amazônia.
Este trabalho teve como objetivo estudar o conhecimento, as percepções populares sobre o boto (
Inia geoffrensis
) no baixo rio Negro e as interações desta espécie com humanos na natureza. O Capítulo I descreve o conhecimento local da população sobre os botos em três localidades diferentes no baixo rio Negro, incluindo percepções sobre ecologia, fisiologia e interações entre humanos e botos. O Capítulo II é um estudo de caso em Novo Airão, sobre a interação entre botos e humanos na natureza, onde são identificados os botos que interagiram com as pessoas, observados os padrões de interação de botos com humanos e os padrões de associação entre os animais.O estudo das interações entre botos e humanos é ferramenta importante para a sua conservação.
BIBLIOGRAFIA CITADA:
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Inia
geoffrensis
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Inia geoffrensis
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. 115A(2): 117 119.ETNOCONHECIMENTO E PERCEPÇÕES SOBRE O BOTO VERMELHO. Capítulo I
INTRODUÇÃO
O boto vermelho,
Inia geoffrensis
de Blainville, também conhecido como golfinho do Amazonas, boto branco, piraiaguará ou piraiauára, é um cetáceo fluvial de citação indispensável no folclore da região amazônica (CâmaraCascudo, 1954; Slater, 2001) e amplamente conhecido por várias lendas e mitos (da Silva, 2002). Na crença popular acreditase que o boto possui poderes sobrenaturais, dandolhes proteção (CâmaraCascudo, 1954). O boto seduz as moças ribeirinhas e é o pai de todos os filhos de responsabilidade desconhecida. Diz a lenda, que nas primeiras horas da noite transformase num bonito rapaz, alto, branco e forte, grande dançarino e bebedor, que aparece nos bailes, namora, conversa, freqüenta reuniões e comparece fielmente aos encontros femininos. Antes do amanhecer, pula para a água e volta a ser boto (CâmaraCascudo, 1954). As fêmeas de boto vermelho aparentemente estimulam o interesse dos pescadores e ribeirinhos, que acreditam que uma relação sexual com elas pode levar à exaustão física, desequilíbrio mental ou mesmo à morte (Smith, 1979). Acreditam ainda que sobre a pessoa que mata um boto pode recair má sorte e doença (Smith, 1979), fato este bastante difundido em grande parte da bacia amazônica brasileira.As lendas a respeito dos botos atuaram culturalmente prevenindo o seu consumo alimentar desde o período colonial (Smith, 1979), mas partes do corpo de animais capturados acidentalmente sempre foram usadas por populações locais para
diferentes fins. A gordura é usada para tratar asma, câncer, leshimaniose, como cicatrizante e para reanimar as pessoas (Terra & Rebêlo, 2003); os olhos e a genitália são usados em feitiços de encanto de amor (Best & da Silva, 1989a) e vendidos como amuletos para atrair a pessoa amada (Smith, 1979).
O saber e o saberfazer sobre o mundo natural e sobrenatural, das sociedades não urbanoindustriais e transmitidos oralmente de geração para geração é chamado conhecimento tradicional. As populações que convivem com a biodiversidade nas áreas em que vivem, nomeiam e classificam as espécies vivas segundo suas próprias categorias (Diegues, 2000). O conhecimento local sobre animais, plantas, solos e paisagens incluem identificação e taxonomia de espécies, histórias de vida, distribuições e comportamento. Baseados em observações empíricas, estes conhecimentos evidentemente têm valor para a sobrevivência (Berkes, 1998) de vários povos e são à base de mediação das relações homemnatureza.
O conhecimento popular local se inicia na dependência para o sustento das pessoas, do conhecimento sobre suas localidades específicas. Resultado da relação íntima entre pessoas, meio ambiente e recursos naturais, este conhecimento é muitas vezes caracteristicamente distinto da ciência (Davis & Wagner, 2003).
Dessa forma, existem dois saberes: o
popular
e ocientíficomoderno
. De um lado, uma coleção do conhecimento acumulado de práticas e crenças, passada por gerações pela transmissão cultural sobre o relacionamento entre seres vivos, inclusive humanos, e o ambiente é chamado de conhecimento ecológico tradicional (Berkes, 1998), e de outro lado, o poder da ciência moderna, com seus modelos ecossistêmicos, administração “moderna” dos recursos naturais e com a noção de capacidade de suporte baseada em conhecimentos científicos (Diegues, 1998).A ciência tem procurado entender como as populações tradicionais ou locais percebem e utilizam os recursos naturais pela etnobiologia e etnoecologia. A etnobiologia estuda como diferentes grupos humanos classificam as plantas e os animais do seu entorno ecológico e como estes fazem uso desses conhecimentos, necessários para a sua sobrevivência (Berlin, 1992). E a etnoecologia estuda como grupos humanos percebem e utilizam os processos ecológicos (Toledo, 1991).
Em populações humanas culturalmente homogêneas ou não há variação intracultural em domínios específicos do conhecimento (Johnson & Griffith, 1996), este pode variar conforme o gênero, a idade ou condição social de seus indivíduos (Berlin, 1992). Diferentes orientações metodológicas e teóricas verificam a diversificação da variação intracultural, reconhecendo o grau significante da variação intracultural existente e claro, isto é um prérequisito para investigar a causa de tal variação (Johnson & Griffith, 1996).
Estudos do conhecimento local sobre o boto vermelho são raros (da Silva, 2002). Este trabalho procurou compreender o conhecimento local e suas variações sobre essa espécie, as percepções sobre a situação dos botos no baixo rio Negro e os consensos culturais.
MÉTODOS
O conhecimento popular sobre o boto foi estudado no baixo rio Negro em diferentes localidades: (1) em Novo Airão, município com 15.429 habitantes, localizado na margem direita do rio Negro, coordenadas 2º37’S e 60º56’W, na Amazônia Central, (IBGE, 2004); (2) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé, que possui cerca de 3.000 habitantes, localizada na margem esquerda do rio
Negro, distante aproximadamente 25km em linha reta a oeste do centro de Manaus, coordenadas 3º02’S e 60º15’W (BioTupé, 2004) e (3) na cidade de Manaus, capital do Amazonas, com 1.603.796 habitantes (IBGE, 2004) (Anexo III). Nestes três municípios foram entrevistados moradores de ambos os sexos, com 1º ou 2º graus de escolaridade, formando um grupo de entrevistados para cada localidade. E um outro grupo de entrevistados, da cidade de Manaus, envolveu pessoas com nível universitário, também de ambos os sexos, formando assim quatro grupos de entrevistados.
Os entrevistados foram escolhidos como amostra de um grupo pré selecionado por terem conhecimento sobre o boto vermelho. Foi explicado para os entrevistados a finalidade da pesquisa do conhecimento sobre o boto vermelho e a necessidade de que a participação dos entrevistados fosse voluntária e não compulsória e ainda garantido o anonimato.
Foram realizados dois tipos de entrevistas, uma longa e outra curta. As entrevistas longas constituíramse de perguntas abertas, com base em questionário semiestruturado (Anexo I), permitindo registrar o conhecimento popular em detalhes acerca do boto vermelho de maneira a comparar com o conhecimento científico.
Entre julho e novembro de 2004, foram realizadas 26 entrevistas longas, 18 em Novo Airão com moradores de idades entre 22 e 76 anos e com oito moradores da RDS Tupé, com idades entre 20 e 58 anos.
O questionário com diálogos permitiu a flexibilidade na troca de conhecimentos (HolguínMedina, 2000), evitando a indução de respostas. Este questionário continha 41 questões (Anexo I), sobre: Dados Gerais do entrevistado
(adaptado de CastelblancoMartinez, 2004); Conhecimento ecológico e biológico da espécie; Interação entre Botos e Humanos; Percepção sobre
status
de conservação.Os questionários foram transcritos descritivamente, analisados, e foi organizada uma tabela comparativa entre o conhecimento tradicional com o que existe na literatura científica (Tabela 1.1).
As entrevistas curtas visaram verificar consensos culturais, baseadas em questionário estruturado com 20 questões sobre o boto, as interações entre botos e humanos e as percepções sobre a situação atual do boto. De uma forma rápida, as pessoas respondiam sim ou não para as perguntas feitas, permitindo avaliar as variações entre localidades, classes etárias, sexo e nível de escolaridade.
Entre outubro e novembro de 2004, foram realizadas 46 entrevistas curtas, com 11 entrevistados (1681 anos) em Novo Airão, 18 com moradores (1375 anos) na RDS Tupé, com seis pessoas em Manaus (4074 anos) e com 11 estudantes com 3ºgrau completo ou incompleto (2134 anos).
Para verificar variações de consensos, foi feita análise de ordenação pelo método MDSEscalonamento Multidimencional e a medida de distância Sorensen BrayCurtis, no programa PCORD, versão 4.0 (McCune & Mefford, 1999).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os entrevistados alegaram já ter observado o boto vermelho na natureza, pelo fato de morarem nas margens do rio ou terem navegado por estes.
Nas entrevistas longas, 10 entrevistados disseram que os botos vivem no meio e no canal do rio, oito disseram que vivem em poço, no leito e fundo do rio, sete no igapó, cinco na margem, beirada e praia e apenas dois disseram que os botos
vão em locais de piracema. A literatura científica afirma que “A espécie pode tanto navegar em áreas alagadas, como várzeas e igapós, quanto pode explorar o fundo de rios (da Silva 1983)” e que “os botos podem ser vistos na boca dos rios e canais, devido à grande concentração de peixes ou no período reprodutivo (da Silva, 2002)”. O conhecimento popular, apesar de exposto de forma diferente coincide com o conhecimento científico. No conhecimento local disseram que o boto “fica na parte baixa do rio quando está na vadia com a fêmea” (homem, 42 anos, morador da RDS Tupé), que sugere uma preferência de habitat no período de reprodução, ainda não descrita pela literatura científica. Na literatura, a densidade dos botos é maior próximo às margens devido à maior concentração de peixes, sendo que o ciclo das águas durante o ano influencia a exploração de diferentes habitats e os botos migram atrás dos peixes (Martin & da Silva, 2004).
A percepção dos entrevistados em relação ao tamanho, peso e coloração dos botos é variada, isso devido ao fato que eles observam o animal na natureza, mas mesmo assim, existe concordância com a literatura científica (Tabela 1.1).
Na Amazônia existem dois cetáceos de famílias diferentes, o boto vermelho
Inia geoffrensis
(Iniidae) e o tucuxi,Sotalia fluviatilis
(Delphinidae) (da Silva, 1983). Metade dos entrevistados disse que o tucuxi, paumari ou boto pretinho é o animal mais parecido com o boto. Cinco entrevistados disseram que o golfinho é o animal que mais parece com o boto. Outros animais citados como assemelhados foram peixeboi, piraíba, pirarucu, baleia e tubarão.O conhecimento dos entrevistados sobre como o boto respira, quantos filhotes nascem e qual o alimento do filhote, concorda muito com a literatura científica. (Tabela 1.1).
As percepções dos entrevistados sobre se o boto vive em grupo ou se é solitário são variadas e coincidem com a literatura científica no geral, mas nesse caso a literatura descreve mais detalhadamente o comportamento do boto (Tabela 1.1).
O conhecimento dos entrevistados sobre os itens alimentares do boto é reduzido. Apenas 13 espécies de peixes foram citadas como parte da dieta do boto, enquanto a literatura registra o consumo de pelo menos 43 espécies de peixes de 19 famílias (da Silva, 1983) e registra também o consumo eventual de quelônios (
Podocnemis sextuberculata
) (da Silva & Best, 1982).Para os entrevistados “o boto é perseguido por pescadores que não gostam deles porque rasgam a malhadeira e comem os peixes” (homem, 42, da RDS Tupé) ou “para vender partes do corpo” (mulher, 44 anos, moradora de Novo Airão), que coincide com a literatura que diz que os botos são capturados intencionalmente e mortos por pescadores que alegam danos aos equipamentos de pesca e competição pelo peixe (da Silva, 1990). Estas descrições mostram interações agressivas entre homens e botos, pois aqui o homem persegue o boto por dizer que rasga a malhadeira e come os peixes. Além disso, o boto é caçado para que se retirem partes de seu corpo para diferentes fins.
Sobre o risco de extinção a percepção é que “o boto não desaparece” (Índio Dessano, 58 anos, morador na RDS Tupé) e “que não está em risco porque o IBAMA protege” (homem, 63 anos, de Novo Airão), diferente da avaliação da IUCN (2000) que considera a espécie vulnerável e também é incluída na lista das espécies quase ameaçadas, no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Fundação Biodiversitas, 2005). Nessa questão devese observar que a IUCN
considera toda a área de distribuição da espécie, enquanto que os moradores só estão considerando os lugares onde eles moram e que pelo visto, ainda mantém populações saudáveis de botos. As únicas ameaças percebidas pelos entrevistados foram “o boto fica enrolado na malhadeira” (mulher, 44 anos, Novo Airão), que é um tipo de captura acidental e “os barcos pesqueiros acabam com os peixes e assim o boto vai acabar” (senhora de 55 anos, moradora da RDS Tupé), sugerindo competição entre homens e botos por presas, o que coincide com a literatura que cita como ameaça para o boto o uso de redes de náilon e a super exploração de suas presas (da Silva, 2002; 2004). A literatura vai além em relação às ameaças aos botos como: a degradação do seu habitat devido à poluição, desmatamento (Best & da Silva, 1989b), a construção de barragens hidroelétricas (da Silva, 2002) e a poluição química dos rios por pesticidas e mercúrio (da Silva, 2004; Gewalt, 1978). Os entrevistados listam mais as ameaças diretas, ou seja, onde tem interação agressiva entre atividade humana e o boto, já que os processos indiretos como a poluição e a destruição do habitat, não são percebidos.
Cada entrevistado disse conhecer estórias sobre a lenda do boto ou conhecia porque alguém já havia relatado para ele. “O boto se transforma em um homem bonito e encanta as moças, as engravida ou as leva para o fundo do rio” (mulher, 32 anos, Novo Airão). Outros dizem que “o boto persegue as mulheres menstruadas”, “mulheres menstruadas que dormem na praia, viram boto” (Índio Dessano, 58 anos, RDS Tupé) e sugerem sedução das mulheres pelos botos. Uma pessoa contou que soube do “nascimento de um filho de boto, que a metade de cima era botinho e a metade de baixo era gente, mas morreu porque a mãe não amamentou, pois tinha
medo do bebê” (mulher, 45 anos, Novo Airão). Alguns relataram que “o boto macho ou boto fêmea encanta a moça ou o homem, respectivamente, e leva para o fundo do rio, onde fica a cidade encantada dos botos” (mulher, 45 anos, Novo Airão). Também há relatos sobre “amuletos feitos com a genitália ou olho de boto para atrair a pessoa amada” (mulher, 44 anos, Novo Airão). A literatura sobre contos e estórias do folclore popular, registra as lendas contadas por pessoas sobre o boto, seus poderes sobrenaturais e de sedução (CâmaraCascudo,1954; Slater, 2001). A literatura descreve um país onde as pessoas sempre se referem ao boto como “o Encantado” e sua cidade encantada no fundo do rio. Este ser encantado pode provocar doenças e morte, e quando se apaixona se torna o melhor amante e o mais ciumento (Slater, 2001).
Com as informações obtidas pelas entrevistas fica evidente a percepção ampla das pessoas sobre o boto vermelho nos aspectos biológicos e ecológicos, o que demonstra a observação das pessoas do meio em que vivem. Da mesma forma que o conhecimento de pescadores de bacalhau, na costa oeste do Canadá que, com base nas suas experiências de trabalho durante anos de observações e interações contínuas de gerações com o ambiente local, adquirem a riqueza de informações acumuladas (Gosse
et al
., 2001). Atividades de barcos pesqueiros desenvolvem o uso de um conhecimento detalhado de informações e aprendizado dos seus ambientes e suas práticas de pesca. Através de seu trabalho, pescadores observam a morfologia do peixe (coloração, tamanho, etc), ecologia (desova e migração) (Gosseet al
., 2001). Isso mostra que a natureza apresentase imediatamente ao conhecimento desses grupos como um lugar de permanente observação, pesquisa e reprodução de saberes (Castro, 2000). As pessoas manifestamse pelo própriovocabulário e pelos termos que usam para traduzir sua vivência e adaptações aos ecossistemas (Castro, 2000; Berlin, 1992). As investigações sobre o conhecimento popular acerca da ecologia das espécies locais deveriam ser usadas como subsídio para estudos preliminares, constituindo assim fonte secundária de informação para trabalhos científicos (Poizat & Baran, 1997).
O conhecimento popular coincide em grande parte com as informações existentes na literatura, mostrando que o conhecimento local é uma importante ferramenta para estudos biológicos e ecológicos sobre os botos. Mas o que quase sempre acontece é que o saber técnicocientífico não apenas desconhece como procura desqualificar e desvalorizar todos os outros saberes e práticas, como o conhecimento tradicionalmente acumulado (Diegues, 1998; Castro, 2000). O conhecimento científico muitas das vezes se mostra mais específico e suas descrições são de forma mais quantitativa em relação ao conhecimento tradicional, devido ao fato de que a literatura reúne várias informações sobre o assunto pesquisado e o tradicional acumula algumas informações de vários assuntos.
Tabela 1.1. Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número 17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino.
Questões Literatura Conhecimento Popular
Onde vive o boto? Provavelmente o ciclo do nível de água, demonstra que há uma influência no uso do habitat pelo boto, durante o ano (Martin & da Silva, 2004). Sendo assim altamente sazonal e varia entre os rios. No período de seca, os boto estão concentrados nos canais dos rios e no período de cheia eles se espalham na floresta alagada (igapó) e nas planícies alagadas (várzea) (da Silva, 2002). Essa variação sazonal da densidade do boto pode ser explicada pela migração dos peixes (Martin & da Silva, 2004). Fêmeas adultas com filhotes ocorrem nas partes mais remotas da várzea e a densidade dos botos é maior próximo às margens dos rios do que no meio (Martin & da Silva, 2004). “No canal do rio e no igapó para esconder e descansar” (ENT2 NA). “Nada perto da piracema” (04 NvF). “No meio do rio,..., eles gostam de pescar no igapó” (17 NvF). “Na parte baixa quando está na vadia com a bota e no meio do rio” (22 Tupé M). “Sempre em rio, não fica em lago não” (23 TupéM). Qual o tamanho do boto? Comprimento máximo de 2,55m para machos e 2,15m para fêmeas (da Silva, 2002).O filhote nasce medindo aproximadamente 80cm (Best & da Silva, 1989b). “Aproximadamente 2m” (03 NvF). “Fêmea 1,50 e macho 2m” (ENT4 NA). “De 9 palmos para baixo, 1 metro mais ou menos” (ENT15 NA) “De todo tamanho” (18 NvF). “De 3m e filhote 80cm” (26 NvM).
Qual o peso? Macho: 185kg e Fêmea: 150kg (da Silva, 2002). “Pesa entre 80, 70 e 50kg” (07 NvM). “Pesa 150kg” (09 NvM). “Pesa 180kg” (18 NvF). “Eles têm 150kg” (26 TupéM). Qual a cor? Fetos, recémnascidos e animais jovens são cinza escuro (da Silva, 2002) e quando adultos esta pigmentação escura é reduzida e prevalece um rosa escuro (Best & da Silva, 1989b). “Depois de 2 anos ele muda de cor, primeiro ele é cinza, aí muda a cor da barriga, fica amarelo e depois rosa” (08 NvM). “De várias cores, tem cinza, preto, rosa, vermelho e branquicento, depende da água” (18 NvF). “Vermelho, rosa e preto” (25 TupéF).
Tabela 1.1. (Cont) Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino.
Questões Literatura Conhecimento Popular
Existe outro animal parecido? Qual? Qual a diferenças entre eles? Na região Amazônica existem duas famílias da Ordem Cetacea. A primeira é a Iniidae, espécie Inia geoffrensis, conhecida como boto vermelho (Best & da Silva, 1989a). A segunda família Delphinidae, espécie Sotalia fluviatilis, conhecida como tucuxi (da Silva, 1983). “Sim o tucuxi.O tucuxi tem a nadadeira das costas que faz uma curva e o boto vai direto nas costas toda e a cor é diferente” (02 NvF). “Sim, o tucuxi, ele é menor e é roxinho” (4 NvF). “O tucuxi” (06 NvM). “Só o golfinho, a diferença é só de região e tamanho, o boto é maior” (12 NvM). “Com o tubarão. A diferença é só o formato da cara, o tubarão é largo e o boto é fino” (14 NvM). “Só com o boto tucuxi, o tucuxi é menor e a cor é diferente” (23 TupéM). “O boto tem o jeito e a cauda igual da baleia, a diferença é a cor e o tamanho, a baleia é mais grande, até o buraco que o boto tem para respirar é igual à baleia” (24 TupéM). Como o boto respira? Os cetáceos possuem a fossa nasal dorsalmente (orifício respiratório) que permite os animais respirarem facilmente enquanto nadam (Reynolds III et al.,2000) “Só na boiada, aquela abertura que tem na cabeça ela abre e ele respira” (08 NvM). “Naquele buraco que tem em cima da cabeça dele, ele solta o ar, puxa de novo e fecha” (09 NvM). “Pelo buraco que ele tem e abre quando ele sobe”(19 TupéF). Vive em grupo ou é solitário? Qual o comportamento do grupo? Raramente o boto é observado em grupo de quatro ou mais indivíduos, freqüentemente é observado solitário. Ocorrem agregações livres que podem ser vistas em bocas dos rios e canais, devido à grande concentração de peixes, ou no período reprodutivo (Best & da Silva, 1989b; da Silva, 2002). Martin & da Silva (2004) também citam pares de mãe e filhote, agregações de machos juntos às fêmeas em período reprodutivo e a exploração de diferentes habitats. “Em grupo de 2 ou 3” (01 NvF). “Em grupo, nadando pegando peixe” (04 NvF). “Solitário, todo mundo gosta de ter sua liberdade” (06 NvM). “Em par ou sozinho” (20 TupéM). “Sozinho e em grupo, faz cardume de 5 e 6 botos” (11 Nv M).”Em grupo, às vezes sozinho. Agrupado para atacar peixe ou no cio. Bota no cio vêm 15 ou 20 botos” (26 TupéM).
Tabela 1.1. (Cont.) Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número 17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino.
Questões Literatura Conhecimento Popular
Qual o horário que o boto come? O boto é ativo de dia e à noite. A grande atividade de pescaria ocorre das 6:00 às 9:00hs e das 15:00 às 16 hs (da Silva, 2002). “Na parte da manhã e às 5horas da tarde” (03 NvF). “De manhã e à tarde” (09 NvM). “Na hora da fome” (25 TupéF). O que o boto come? Foi registrado o consumo de 43 espécies de peixes de 19 famílias (da Silva, 1983; 2002). O estudo do conteúdo estomacal de um Inia macho continha uma tartaruga imatura (Podocnemis sextuberculata) (da Silva & Best, 1982). “O boto come caráaçú, tucunaré, os peixes que têm escamas” (02 NvF). “Jaraqui, pacú, tucunaré” (10 NvM). “Jaraqui, japará e sardinha” (22 TupéM). “Branquinha e sardinha” (03 NvF) “Cubiu e matrinchã” (15 NvM) “Tambaqui” (07 NvM) “Pescada” (18 NvF) “Orãnã” (23 TupéM). Quantos filhotes nascem? Inia tem uma gestação de aproximadamente 12 meses e nasce apenas um filhote (Junk & da Silva, 1997). “Só 1” (09 NvM). “1 ou 2” (22 TupéM). “Só 1” (24 TupéM). Qual é o alimento do filhote? A lactação de Inia pode durar por volta de um ano (Best & da Silva, 1989a). “Ele mama” (04 NvF). “Ele mama de 8 a 10 meses” (09 NvM). “Só o leite materno” (14 NvM). “Mama, pelo que a gente sabe, ele é mamífero” (20 TupéM). O boto é caçado? Por que? O boto embora não seja sujeito a exploração direta por populações humanas (Best & da Silva, 1989b), os botos são capturados intencionalmente e mortos por pescadores que alegam danos aos equipamentos de pesca e competição pelos peixes (da Silva, 1990) ou são usados como isca para captura de piracatinga (Calophysus macropterus) (da Silva, 2004). E partes do corpo dos animais, também são usadas por populações locais para diferentes fins: gordura para curar asma, câncer, como cicatrizante, os olhos e a genitália para feitiços de encanto de amor (Best & da Silva, 1989a; Terra & Rebêlo, 2003). “É perseguido por pescadores que não gostam deles” (04 Nv F). “Sim. Para tirar as partes para vender” (05 NvF). “Sim, no Pará, eles caçam para tirar os órgãos” (08 NvM). “Não é caçado” (10 NvM). “Não” (12 NvM) “É perseguido, por que não sei, porque eu não vi ninguém que falasse que se alimenta de boto” (14 NvM). “Não. Porque ninguém usa ele para coisa nenhuma” (15 NvM).” Aqui não, mas a banha é vendida” (19 TupéF). “Em certo canto é, porque ele come o peixe da malhadeira e rasga a malhadeira” (22 TupéM). “Sim, pra comer, vender (banha, dente, olho)” (25 TupéF).
Tabela 1.1. (Cont.) Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número 17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino.
Questões Literatura Conhecimento Popular
A quantidade de boto está aumentando, diminuindo ou permanece constante? Os botos correm risco de extinção? O boto vermelho está classificado como vulnerável pela IUCN (2000) e como espécie quase ameaçada no Anexo I da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Fundação Biodiversitas, 2005). “Está estável” (08 NvM). “Está igual” (11 NvM). “Aumentando, porque ninguém mata” (20 TupéM). “Tá igual” (25 TupéF). “Sim, antigamente a gente via mais boto” (01 NvF). “Não, o IBAMA protege” (06 NvM). “O boto não têm ameaça” (12 Nv M). “O boto não desaparece não” (20 TupéM). “ Qual a maior ameaça para o boto? O boto é afetado pela degradação do seu habitat devido à poluição, desmatamento e super exploração de suas presas (Best & da Silva, 1989b).Uso de redes de náilon. Construção de barragens hidroelétricas (da Silva, 2002) e poluição química dos rios por pesticidas e mercúrio (da Silva, 2004; Gewalt, 1978). “O homem e a malhadeira” (03 NvF). “A malhadeira que ele fica enrolado” (05 NvF). “Só o pessoal que esta pegando para fazer pesca de piracatinga” (07 NvM). “Não tem ameaça para o boto” (09 NvM). “Tem muitos pesqueiros e se acabar com o peixe o boto vai acabar” (21 TupéF).
Tabela 1.1. (Cont.) Comparação entre a literatura e o conhecimento popular, resultado das entrevistas realizadas. Código (17 NvF) é a entrevista número 17, realizada em Novo Airão e com uma pessoa do sexo feminino.
Questão Literatura Conhecimento Popular
Lendas sobre o boto. Na crença popular acreditase que o boto possui poderes sobrenaturais, dandolhes proteção pode se transformar em um belo rapaz e seduzir as jovens e sempre acompanha as canoas que levam uma mulher grávida para protegêla (Câmara Cascudo, 1954). A pessoa que o Boto leva fica encantada, mas nem por isso ela deixa de querer se desencantar (Slater, 2001). “O homem mais lindo da festa dançava muito, de chapéu e ficava até meianoite. Encanta as moças e as levava para dentro d'água. E o boto persegue as mulheres menstruadas que entram no rio” (01 NvF). “Dizem,...que os botos se transformavam em homens bonitos com chapéu e iam para as festas e iam embora de madrugada, o chapéu era uma arraia e os sapatos eram bodós e ele era boto / as mulheres não andam de canoa quando estão no tempo porque engravida” (12 NvM). “Antigamente acontecia das mulheres menstruadas irem para a beira e engravidava de boto, aconteceu com a sobrinha da minha mãe, a metade de cima do corpo era botinho e para baixo era gente e ele morreu porque ela tinha medo de dar peito para ele” (17 NvF). “O olho serve para atrair mulher, para pessoa que precisa de mulher / mulher menstruada quando dorme na praia ela vira boto” (21 TupéF). “A bota encantou meu pai e levou ele para o fundo do rio onde os botos encantados moram, é uma cidade encantada e muito linda, meu pai voltou de lá e contou para a gente” (17 NvF). “O moço que chama Rui, levou uma facada, caiu no rio e se transformou em boto, mas ele fica bufando “rui” e queria que alguém tirasse a faca dele para ele virar homem de novo” (04 NvF).
A análise de consenso visa o conhecimento ou idéia com alto grau de concordância que representa modelo cultural. Já as variações inter e intraculturais, sugerem que em certos domínios ou áreas de conhecimento dentro das culturas pode haver mais de um padrão (Johnson & Griffith, 1996).
Os consensos entre todos os entrevistados das entrevistas curtas (Anexo II) foram: 1. O boto vermelho e o tucuxi não são o mesmo animal (80%) 2. Os botos comem principalmente peixes (100%); 3. O boto respira ar (94%); 4. O filhote bebe leite (90%); 5. O número de boto não está diminuindo (80%); 6. O boto não está em perigo de extinção (80%); 7. As pessoas temem os botos por causa das lendas (90%); 8. Não conhece pessoa que seja filho de boto (90%). Podese considerar que não existe um consenso entre todos os entrevistados em relação a:
1. A diferença entre o boto e o tucuxi é que um come no igapó e o outro no aberto (50%);
2. O boto nunca ajuda o pescador (48%); 3. O número de botos está aumentando (54%).
Mas, verificando separadamente, os estudantes universitários apresentam um consenso em relação de que o boto vermelho come no igapó e o tucuxi só no aberto.
Observase uma grande variação da porcentagem do consenso das respostas obtidas, no questionário de perguntas assertivas (Figura 1.1).
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Número das Perguntas P o rce n ta g e m % não % sim
Figura 1.1. Variação da porcentagem do consenso geral de todos os entrevistados, para cada pergunta do questionário estruturado (Anexo II).
Existem consensos entre os universitários e a maioria dos entrevistados de Novo Airão e da RDS Tupé quando: 1. Concordam que uma das ameaças aos botos é a perseguição que sofrem; 2. Concordam que as maiores ameaças que o boto sofre é a perseguição e a destruição do seu habitat por desmatamento de mata de igapó e poluição dos rios. 3. Não acham que o número de botos está diminuindo; 4. Acham que o boto não está em perigo de extinção; 5. Dizem que não conhecem gente que é filho de boto; 6. Não acreditam que o olho de boto é amuleto para encanto de amor;
O consenso entre esses entrevistados pode ser resultado de serem pessoas que recebem informações nas escolas, ou por campanhas educativas sobre a preservação do boto.
Consenso entre os entrevistados da RDS Tupé e de Manaus, pessoas estas com idade acima de 35 anos, existe na questão:
E diverge do consenso que há entre os estudantes e os moradores de Novo Airão que não acreditam que o sexo de boto é amuleto de amor.
Em relação à variação de conhecimento, existe um consenso entre todos os estudantes universitários, uma pessoa de Novo Airão do sexo feminino e de 16 anos e outra da RDS Tupé, do sexo masculino e também de 16 anos, formando um grupo de pessoas com o conhecimento mais próximo (Figura 1.2), mostrando que possíveis inovações no conhecimento, são as mudanças de opiniões sobre as lendas do boto entre outros conceitos. “As pessoas com maior escolaridade tendem a adotar inovações mais rapidamente (inclusive de comportamento)” (Rebêlo & Pezzuti, 2000). F 2 3 F 2 7 F 1 8 M 2 4 M 8 1 M 5 8 F 5 2 F 2 4 F 2 6 F 1 6 F 1 4 M 2 5 F 2 0 M 3 0 F 4 0 F 3 3 F 2 4 M 5 4 M 1 6 M 1 3 M 1 5 M 1 9 F 3 2 F 4 6 F 3 2 M 4 3 F 4 5 M 7 5 F 4 9 M 7 4 M 5 7 M 6 6 M 4 0 M 4 0 M 4 2 F 3 4 F 2 7 M 2 7 M 2 3 F 2 4 F 2 3 F 2 5 M 2 1 F 2 4 M 2 5 M 2 3 0 0 40 80 40 80 N ovo Air ão R D S T upé M anaus Estudantes
Figura 1.2. Ordenação mostrando a distribuição do conhecimento em relação às localidades, os estudantes universitários, ao sexo e a idade (M40=pessoa do sexo masculino e de idade 40 anos e F27 pessoa do sexo feminino de idade 27 anos). Com variância de 35,3% no eixo 1 e variância de 40,5% no eixo 2. Eixo 1 E ix o 2
Podese verificar também a presença de um consenso entre a maioria das pessoas acima de 35 anos, independente da escolaridade, sexo e local de residência, onde se observa uma preservação de crenças e valores no conhecimento tradicional (Figura 1.3). E nesse grupo, podese observar a presença de quatro pessoas com menos de 35 anos da RDS Tupé, isso sugere que o conhecimento popular sobre o boto e as crenças são mantidos por essas pessoas dessa localidade, coincidindo com o conhecimento das pessoas acima de 35 anos, pois o consenso observado nesse grupo foi em relação às lendas, aos mitos e ao
status
de conservação dos botos.A manutenção da lenda sobre o boto é uma tradição, onde “crenças e valores são adquiridos por aprendizagem social” (Rebêlo & Pezzuti, 2000). O conhecimento e os sistemas classificatórios dessas populações sobre o ambiente fazem parte do seu patrimônio cultural (Castro, 2000). Com base em observações empíricas todos os conhecimentos formam valores óbvios de sobrevivência (Berkes, 1998), e esse conhecimento é preservado pelas populações locais, mantendo um consenso cultural.
N A F N A F N A F N A M N A M N A M N A F N A F N A F N A F N A F Tp F Tp F T p M T p F Tp F Tp F T p M T p M Tp M Tp M T p M Tp F Tp F T p F Tp M T p F Tp M T p F M a M M a M M a M M a M M a M M a M Est F Est F Est M Est M Est F Est F Est F Est M Est F Est M Est M 0 0 40 80 40 80 idade < 35 anos > 35 anos
Figura 1.3. Ordenação em relação à classe etária, localidade e sexo (NA=Novo Airão/Tp=Tupé/Ma=Manaus/Est=Estudantes/ ”M=masculino/F=feminino”). Com variância de 23,5% no eixo 1 e variância de 53,7% no eixo 2.
É possível verificar uma possível variação intracultural. Isso acontece provavelmente devido a gradual quebra das crenças tradicionais. É com as mudanças sociais, por vezes muito rápidas, que se revelam alguns padrões culturais no conhecimento local e isso se expressa pelas experiências e percepções individuais diferenciadas. Crenças e costumes são culturalmente importantes como fonte no conhecimento local (Berkes, 1998), mas uma descaracterização do conhecimento tradicional local se dá quando ocorre a diluição da influência da tradição e a desmistificação das lendas e mitos. No caso do boto vermelho que é observado nas pessoas que apresentam maior grau de escolaridade. Além de
E
ix
o
2
conhecimentos obtidos nas escolas, os programas de educação ambiental desenvolvidos pelo IBAMA e por outras instituições voltadas para a conservação do boto e da natureza fornecem informações à população sobre a espécie e sua conservação. Segundo Smith (1979), a penetração da sociedade nacional exerce grande influência na quebra da tradição, o que demonstra a descaracterização do conhecimento intracultural.
CONCLUSÕES
ü As entrevistas semiestruturadas permitiram verificar conhecimento local sobre o boto vermelho e que este conhecimento coincide com a literatura científica sobre a biologia desse animal.
ü O conhecimento científico avança mais que o conhecimento popular no que diz respeito se o boto vive em grupo ou é solitário, qual o comportamento dos botos, sobre a dieta dos botos, quais ameaças que o boto sofre e o risco de extinção.
ü Com as informações obtidas a partir das respostas consensuais dos informantes, pelas entrevistas curtas, foi possível gerar ordenamentos, possibilitando sistematizar o conhecimento e detectar consensos culturais.
ü Com o ordenamento das localidades foi possível verificar os consensos culturais entre os estudantes universitários e a maioria dos jovens com menos de 35 anos, em relação às ameaças que o boto sofre e que não acreditam nas lendas dos botos nem em amuletos feitos com partes do corpo do boto.
ü Com o ordenamento em relação à classe etária foi observado que existem consensos entre os entrevistados com mais de 35 anos, independente da
escolaridade ou local de moradia, pois eles acreditam nas lendas dos botos, em amuletos e que o boto não sofre ameaça. BIBLIOGRAFIA CITADA Berkes, F. 1998. The nature of traditional ecological knowledge and the Canadawide experience.
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