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Antonio Carlos Pries Devide Pesquisador Doutor, APTA/SAA - Polo Regional Vale do Paraíba, Brasil

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Academic year: 2021

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EIXO TEMÁTICO:

( ) Biogeografia e a Paisagem

( ) Biogeografia e as Mudanças Climáticas ( ) Biogeografia e a Educação Ambiental ( ) Biogeografia e Saúde ( ) Biogeografia Histórica ( ) Biogeografia e Conservação ( ) Biogeografia e Agronegócio ( ) Biogeografia e Agroecologia ( x) Biogeografia e SAFs

Conexões que transformam a sociedade e o ambiente: ações da Rede

Agroflorestal do Vale do Paraíba no Assentamento Nova Esperança I de São

José dos Campos – SP, Brasil

Connections transform society and environment: Agroforest Network of the Paraíba

Valley actions in the settlement Nova Esperança I of São José dos Campos City – SP,

Brazil

Conexiones que transforman la sociedad y el medio ambiente: acciones de la Red

Agroforestal del Valle de Paraíba en el Asentamiento Nova Esperança I en São José dos

Campos - SP, Brasi

Antonio Carlos Pries Devide

Pesquisador Doutor, APTA/SAA - Polo Regional Vale do Paraíba, Brasil antoniocarlosdevide@gmail.com

Anna Cláudia Leite

Geógrafa, Universidade de Taubaté, Brasil annacacau.es@gmail.com

Suzana Lopes Salgado Ribeiro

Professora Doutora, Universidade de Taubaté, Brasil suzana.ribeiro@falaescrita.com.br

Cristina Maria de Castro

Pesquisadora Doutora, APTA/SAA - Polo Regional Vale do Paraíba, Brasil cristinacastro@sp.gov.br

José Miguel Garrido Quevedo

Perito Agrário Mestre, INCRA – São Paulo, Brasil

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RESUMO

O Vale do Paraíba entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo possui uma das paisagens mais alteradas do Brasil em função dos ciclos de monoculturas de exportação. Nesta pesquisa de história oral e revisão documental descrevemos os impactos positivos dos mutirões agroflorestais promovidos pela Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba que uniu agricultores, educadores e cientistas entorno da Agroecologia para restaurar a paisagem e incentivar a ciência cidadã no assentamento de reforma agrária Nova Esperança I de São José dos Campos. Neste assentamento diversas ações de difusão dos sistemas agroflorestais com metodologia participativa resultaram em significativas melhorias na segurança alimentar e nutricional das populações envolvidas e na restauração da paisagem. A partilha de conhecimentos e recursos genéticos também beneficiou o resgate e a conservação da agrobiodiversidade. PALAVRAS-CHAVE: Agroecologia. História oral. Restauração ambiental.

ABSTRACT

The Paraíba Valley between the states of Rio de Janeiro and São Paulo has one of the most altered landscapes in Brazil due to the export monoculture cycles. In this oral history research and document review we describe the positive impacts of agroforestry efforts promoted by the Vale do Paraíba Agroforestry Network that brought together farmers, educators and scientists around Agroecology to restore the landscape and encourage citizen science in the Nova Esperança I agrarian reform settlement of São José dos Campos. In this settlement several actions for the diffusion of agroforestry systems with participatory methodology are promoting significant improvements in food and nutritional security of the populations involved and in the restoration of the landscape. The sharing of knowledge and genetic resources has also benefited the rescue and conservation of agrobiodiversity.

KEYWORDS: Agroecology. Oral history. Environmental restoration. RESUMEN

El Valle de Paraíba entre los estados de Río de Janeiro y São Paulo tiene uno de los paisajes más alterados de Brasil debido a los ciclos de monocultivos de exportación. En esta investigación de historia oral y revisión de documentos, describimos los impactos positivos de los esfuerzos agroforestales promovidos por la Red Agroforestal Vale do Paraíba que reunió a agricultores, educadores y científicos en torno a la Agroecología para restaurar el paisaje y fomentar la ciencia ciudadana en el asentamiento de reforma agraria de Nova Esperança I de São José dos Campos. En este asentamiento diversas acciones de difusión de sistemas agroforestales con metodología participativa resultó mejoras significativas en la seguridad alimentaria y nutricional de las poblaciones involucradas y en la restauración del paisaje. El intercambio de conocimientos y recursos genéticos también ha beneficiado el rescate y la conservación de la agrobiodiversidad.

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INTRODUÇÃO

O estudo da biogeografia segue pressupostos teórico e metodológicos interdisciplinares para avaliar a distribuição dos seres vivos na superfície terrestre e as causas que a condicionam. Com isso proporciona o entendimento dos processos de degradação na relação sociedade/natureza para promover o uso racional dos bens naturais e o repensar da situação socioambiental atual por meio da educação ambiental (SANTOS, CARVALHO 2012).

A análise da biogeografia fisionômica da região do Vale do Paraíba revela profundas transformações na vegetação (árvores e matas, matagais, campos, savanas, etc.) de condição primitiva preservada para condições muito diferentes em virtude do processo histórico de ocupação que modificou as formações naturais (FREITAS JUNIOR, MARSON 2007).

A evolução transdisciplinar da Geografia para campos outros que buscam o envolvimento de atores com a paisagem em que vivem, também é uma característica da Agroecologia, ciência que aplica os princípios da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN 2018). Neste campo da ciência promove-se o manejo ecológico dos recursos naturais como ação social coletiva e participativa para geração e disseminação de tecnologias e novas formas de produção e consumo que contribuam para redução dos efeitos da crise ecológica e social das sociedades modernas (GUZMÁN, WOODGATE 2013).

Os sistemas agroecológicos podem se tornar mais produtivos com a redução da dependência por insumos externos além de ajudar a restaurar paisagens degradadas (STEENBOCK, VEZZANI 2013). Os sistemas agroflorestais (SAF), ao englobarem o componente arbustivo e arbóreo manejados com poda para aportar adubo orgânico e reciclar nutrientes, melhoram os atributos da paisagem e conferem resiliência na produção de alimentos no advento das mudanças do clima (ALTIERI, NICHOLLS 2008; ALTIERI, NICHOLLS 2011).

O Vale do Paraíba foi a primeira fronteira agrícola do Brasil e a colonização das terras iniciou como paragem na rota do ciclo do ouro (séc. XVII), passando pela da cana-de-açúcar (séc. XVIII) e consolidada com a expansão do café nas áreas montanhosas (1780). Após 80 anos de exploração essa cultura foi substituída por pastagens menos produtivas (1880) e o eucalipto (1990). O ciclo do café seguiu um modelo nômade e predatório exploração baseada na derrubada da Mata Atlântica (DEAN 2007). O extermínio dos últimos índios ‘Puri-Coroado’ por bandeirantes levou à perda da história oral e do etnoconhecimento associado à floresta com os últimos grupamentos indígenas alojados em aldeias do governo (RIBEIRO 1987).

Com isso a vegetação remanescente de Mata Atlântica está muito alterada e as poucas áreas extensas conservadas limitam a atividade da fauna. Entretanto as múltiplas feições do relevo, com diferentes gradientes altitudinais, conferem atributos singulares para a Mata Atlântica ser um hotspot de biodiversidade, porém, sua preservação ocorre apenas nos locais de difícil acesso (AB’SÁBER 2003). A baixa porcentagem do que resta de cobertura florestal original pode sofrer ainda mais impactos devido ao isolamento dos fragmentos com superfície de menos de 20 hectares que se encontram dispersos em propriedades rurais (KRONKA et al. 2005). Apesar disso,

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o governo de São Paulo registra um aumento de 33,4% da cobertura de vegetação nativa na bacia do Paraíba do Sul nos últimos 10 anos, com um percentual de 26,9% em São José dos Campos, segundo o recente levantamento Florestar Estatístico 2020. Essa mudança é justificada pela redução dos postos de trabalho com o contínuo fluxo migratório de trabalhadores rurais para as cidades favorecido pelo envelhecimento da população rural, transição de pecuária leiteira para corte e o isolamento de locais de produção agropecuária e populações rurais pela extensa malha florestal de eucalipto e redução dos incêndios causados pela mão humana. A expansão descontrolada do eucalipto pode trazer graves problemas para a fauna e consequentemente para o fluxo gênico impactando a regeneração natural da Mata Atlântica. É necessário promover a integração do componente arbóreo, como o eucalipto, na pecuária, seja em pastejo rotacionado ou compondo sistemas silvipastoris (DEVIDE et al. 2014). Desde a década de 1980, diversos geógrafos defendem uma silvicultura de fins múltiplos e reflorestamento ecológico com espécies nativas nas serranias (AB’SABER 1990), para reduzir o impacto das atividades produtivas e gerar serviços ecossistêmicos, pois, mais de 46,5% das terras do Vale do Paraíba são aptas para agrossilvicultura (ROMEIRO et al. 2004).

Mas a pressão ambiental também cresce nos bolsões de pobreza na periferia de cidades situadas no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. Para reverter a degradação ambiental e melhorar as condições de vida da população residente, foram criados assentamentos de reforma agrária na região periurbana de diversas cidades. Os assentamentos são espaços criados para garantir o acesso à terra para famílias de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra. Isto ocorre a partir da desapropriação de terras devolutas por acionamento da função social da propriedade com a indenização ao(s) proprietário(s) por benfeitorias presentes (BERGAMASCO, NORDER 1996). Isto se justifica para reduzir a pressão sobre bolsões de pobreza e fortalecer a produção de alimentos em áreas periurbanas. Por outro lado, os assentamentos melhoram a qualidade do ambiente ao modificar o sistema de monocultura (cana-de-açúcar ou pastagem p.ex.) para uso múltiplo, além de proteger e às vezes recompor áreas de proteção, tais como a reserva legal e áreas de proteção permanente situadas ao longo dos corpos d’água (LEITE et al. 2014; NUNES, SILVA 2016). No Vale do Paraíba do Sul, o caminho percorrido para motivar os assentados da reforma agrária a cultivar solos degradados sem o aporte de recursos financeiros e em oposição à assistência técnica e extensão rural (ATER); que via de regra os direcionava ao monocultivo e à dependência de pacotes tecnológicos (agroquímicos e mecanização); foi fazê-los acreditar que são parte da mudança e que o sentido contrário às abordagens científicas tradicionais não significa o isolamento social. Pelo contrário, a democratização da ciência ocorreu com ações coletivas promovidas pela Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, envolvendo os assentados, técnicos e educadores para implantação e manejo de sistemas agroflorestais agroecológicos com ações de formação de um mercado justo e solidário para reverter a pobreza rural e restaurar a paisagem (DEVIDE 2020).

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qualidade de vida e a paisagem no assentamento Nova Esperança I em São José dos Campos – SP, Brasil. A hipótese é de que os atores locais podem modificar para melhor o meio que os cerca.

MATERIAL E MÉTODOS

Local do estudo

A pesquisa foi realizada no assentamento de reforma agrária Nova Esperança I em São José dos Campos (23º04’S e 45º34’O) (Figura 1) no Vale do Paraíba, estado de São Paulo, Brasil. O clima subtropical úmido (Cwa) apresenta inverno seco com temperaturas inferiores a 18°C e verão quente com temperaturas que superam 22°C, segundo classificação de Köppen, com precipitação pluvial média anual de 1.200 mm. Essa região é importante em termos ambientais e econômicos, localizada na depressão do rio Paraíba do Sul em uma transição da Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. Os solos predominantes nas áreas do assentamento são classificados como associação Latossolo Vermelho-Amarelo e Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico típico ou latossólico álico em relevo suave ondulado a forte ondulado e Cambissolos e Planossolos distróficos arenosos aluviais nas baixadas (ROSSI 2017). Os Latossosos e Cambissolos apresentam elevada erodibilidade havendo a deposição em canais fluviais que agrava os efeitos das cheias nas planícies de inundação (COELHO, 2003). Enquanto nas baixadas predomina o relevo plano e suave ondulado com altitude média de 565 m nas áreas circundantes das serras predominam os mares de morros que marcam a feição do relevo de meia laranja com altitudes superiores.

Figura 1: Localização do Assentamento Nova Esperança I em São José dos Campos no Vale do Paraíba do Sul, Estado de São Paulo, Brasil

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O Vale do Paraíba possui cerca de 2,3 milhões de habitantes o que corresponde a 5,5% da população do estado de São Paulo. A Região Metropolitana foi reconhecida com a Lei complementar n.1166/2012 consolidando um dos mais importantes corredores de produtos industrializados e serviços da américa latina no eixo Rio de Janeiro e São Paulo (EMPLASA 2017). Com alta mobilidade humana entre as cidades ao longo da rodovia Presidente Dutra, o processo migratório dentro da região iniciou com o declínio do ciclo do café e acentuou-se nas últimas décadas. Na zona rural, mais carente em mão de obra, a pecuária leiteira está migrando para atividade de corte e na escala regional cresce os plantios de eucalipto, iniciado com a política de incentivos fiscais no ano de 1965 quando a empresa Suzano Papel e Celulose adquiriu as primeiras terras em São Luiz do Paraitinga (FREITAS JUNIOR, SOLERA 2011). A pasta de celulose extraída do eucalipto é valorizada no mercado internacional, mas a cadeia de produção verticalizada oculta os desequilíbrios, tais como o êxodo rural, a concentração fundiária, a concentração de riquezas, o isolamento de comunidades e rotas culturais e turísticas além do impacto no meio ambiente (SANTOS 2009). É nesse contexto que se formou o assentamento de reforma agrária Nova Esperança I na Zona de Expansão Urbana II de São José dos Campos (o maior em termos econômicos e populacionais dentre as cidades do vale), segundo o Plano de Zoneamento Municipal (Figura 1), na divisa com o município de Caçapava.

A Floresta Estacional semidecidual é a formação original, mas a maior parte da cobertura original na área do assentamento foi removida para a formação de pastagens. É neste contexto que se desenvolve a experimentação participativa de novos modelos de produção com sistemas agroflorestais na reforma agrária com foco na produção e na restauração da paisagem.

Coleta de dados e metodologia utilizada

Os dados foram coletados no período de maio/2016 a outubro/2017 e atualizados em agosto/2020. Para explicar os fenômenos transformadores do espaço geográfico foram realizados estudos de campo e análises descritivas das relações humanas com a paisagem. Foram sistematizadas informações de revisão bibliográfica, análise de documentos do planejamento e fundação do assentamento, legislação sobre reforma agrária e políticas públicas para agricultura familiar e meio ambiente; entrevistas com agricultores(as) vinculados ou não a movimentos sociais, técnicos de assistência e extensão rural (ATER) do Instituto Biosistêmico (IBS), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo, pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) no Polo Regional Vale do Paraíba em Pindamonhangaba e do Curso de Geografia da Universidade de Taubaté (UNITAU) (Quadro 1).

A análise descritiva dos mutirões de implantação e manejo de sistemas agroflorestais foi realizada com a equipe de pesquisadores presentes na atividade e complementada com

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informações obtidas em registros no blog da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba <http://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/>. Os atores entrevistados integram ou integraram ações organizadas pelo coletivo dessa Rede que apesar de não apresentar um caráter hierárquico, nem padrões de registros e frequência regulares, mantém um canal de comunicação aberto com os assentados da reforma agrária.

Quadro 1: Relação das pessoas entrevistadas, local e data

Entrevistados Local Data

Ceceo Chaves IBS – Taubaté 06/05/2016

Maira Elizabeth Vicente

Gouvêa IBS – Taubaté 06/05/2016

Adagilson Batista de Amorim Nova Esperança I-São José dos Campos 13/05/2016

Diurene Paulino Nova Esperança I-São José dos Campos 13/05/2016

Anna Cláudia Leite Curso de Geografia da Universidade de Taubaté 13/05/2016

Daniela Ferreira Nova Esperança I-São José dos Campos 27/07/2016

Maria Severiano Nova Esperança I-São José dos Campos 29/09/2017

Cristina Maria de Castro APTA - Pindamonhangaba 23/10/2017

José Miguel Quevedo Garrido

Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – São Paulo 02/03/2020

O consentimento dos colaboradores ocorreu após apresentação do projeto de pesquisa. O roteiro semiestruturado foi estabelecido previamente para facilitar a coleta e tabulação das informações. Os critérios adotados na formulação de perguntas focaram a caracterização do grupo social, da paisagem, de lugares e interrelações desses atores com a terra e os efeitos das práticas agroecológicas no modo de vida da comunidade rural e do conhecimento de políticas públicas em prol da reforma agrária e da agricultura familiar que evidenciassem o domínio da questão agrária e da cidadania. Entrevistas foram gravadas com agendamento prévio e as informações armazenadas em formato digital. Nas transcrições foi mantida a estética fiel aos relatos dos depoentes, com vícios de linguagem, expressões regionais e marcas conversacionais que caracterizam a oralidade. O texto final editado foi apresentado aos colaboradores, dando liberdade aos mesmos para sugerir inclusões, exclusões e/ou modificações no teor dos relatos, chegando-se à versão final do texto para divulgação por meio de assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do Assentamento Nova Esperança I

Os assentamentos mais antigos de reforma agrária no Vale do Paraíba têm grande influência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. No caso do assentamento Nova Esperança I, este movimento social articulou a seleção e a ocupação da área onde fica o assentamento. Porém, a atividade de ocupação iniciou-se onde atualmente se situa o assentamento Fazenda Conquista, em Tremembé onde uma área foi cedida ao MST para que organizassem as famílias sem-terra para a ocupação na região. Após três meses, conseguiram a adesão de mais famílias ao movimento e no dia 23/fev./1998 ocuparam a fazenda Sapucaí, em Pindamonhangaba. Permaneceram sete dias até que a reintegração de posse foi expedida. Então, ocuparam as margens da Rodovia Presidente Dutra, onde permaneceram por cinco meses. As dificuldades eram muitas e no dia 16/set./1998, 180 famílias ocuparam a Fazenda Santa Rita em São José dos Campos. Após um ano acampados nessa área houve a reintegração de posse e as famílias ocuparam a fazenda vizinha (Santa Clara). No final do ano de 2001 foi feita a aquisição da fazenda Santa Rita pelo INCRA e as famílias retornaram no início de 2002 quando o assentamento Nova Esperança I foi homologado (FERRANTE et al. 2012). Com 447 hectares, foram instalados 64 lotes com 5,0 hectares em média, no bairro Vargem Grande, distante 13 km do centro de São José dos Campos, com acesso pela estrada municipal Pedro Moacir de Almeida. A cobertura original do terreno era predominantemente de pastagem e um remanescente da Floresta Estacional semidecidual na porção distal do assentamento, em direção a Mantiqueira (Figura 2A). Mas as baixadas e pendentes úmidas estavam com a vegetação arbórea completamente degradada.

Os solos, em sua maioria (52%), são solos transicionais entre os terraços remanescentes (17%) nas porções mais elevadas e as baixadas de formação aluvial (31%) (Figura 2B). O ambiente foi profundamente alterado por décadas e talvez séculos de exploração pecuária, originando solos pisoteados pelo gado com graves problemas de conservação para fins produção agrícola pela reforma agrária.

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Figura 2A: Mapa de uso do solo (1999) Figura 2B: Mapa de solos (1999)

Fonte: PDA Santa Rita 2002.

A composição dos assentados foi promovida com o trabalho de base do MST na Região Metropolitana de São Paulo e da articulação com sindicatos regionais. As famílias que participaram da ocupação são originadas das periferias de Osasco, São Paulo, Suzano e São José dos Campos, com predomínio do perfil urbano e de trabalhadores rurais que migraram para a cidade, mas que conservaram o desejo de retornar para o meio rural (TINTI 2017). Ao trazer para este conjunto os habitantes dos centros urbanos, tais como desempregados, moradores de rua, migrantes, entre outros atores, o MST contribuiu para reduzir os problemas sociais comuns nos centros urbanos, causados pelo desemprego, baixo acesso a moradia, à cultura e ao lazer (ALENTEJANO 2020). Esses atores, reunidos em um assentamento, conferem diversidade de hábitos, culturas e experiências de vida o que reflete de um lado o grau de conhecimento e experiências de famílias com habilidades na produção agrícola e pecuária e de outro a formação de grupamentos de pessoas que pouco conheciam sobre a terra (RIECHELMANN 2006).

Esse assentamento seguiu os moldes Comuna da Terra em que os sem-terra periurbanos participam do desenvolvimento socioeconômico regional com suas aptidões profissionais (construção civil e metalurgia p.ex.), familiares com emprego fixo e facilidade de acesso à infraestrutura (transporte, saúde, educação, etc.) favorecem o vínculo urbano (RIECHELMANN 2006) gerando renda complementar que muitas vezes auxilia no investimento da produção agropecuária do lote (ALENTEJANO 2020).

Na caracterização demográfica da população assentada em 2001 havia 101 homens com um terço de crianças até 14 anos, 77 mulheres com 32 crianças do sexo feminino. Para divisão dos lotes o assentamento foi subdividido em grupos de afinidades denominados: Manoel Neto, Zumbi dos Palmares, Os Excluídos e Consciência e Liberdade (Figura 3A). Até o ano de 2006, das 63 famílias assentadas que residem no assentamento Nova Esperança I cerca de 18 se dedicam exclusivamente a agropecuária. Entre as famílias que não produzem nada a justificativa é por questões financeiras (ausência de crédito para o investimento, custeio e apoio à produção),

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origem urbana e não adaptação ao trabalho no campo, problemas de saúde (homens e mulheres envelhecidos e muitas vezes vivendo sozinho) (RIECHELMANN 2006). Posteriormente, esses núcleos foram categorizados por vínculos: com MST, Associação local e Independentes (sem vínculo) com lideranças e anversos às organizações coletivas (Figura 3B).

Figura 3A: Locação das famílias por afinidade Figura 3B: Conformação das famílias em 2005

Fonte: ALENCAR 2005; BRASIL 2008 apud TINTI 2017.

O agricultor Adagilson Batista de Amorim relata as condições de vida no assentamento:

Vim pra cá por desemprego mesmo... a saída para o povo é o campo. Aqui ninguém passa fome e todos tem trabalho, ao invés de ficar na cidade passando fome na favela, tem a reforma agraria, aqui tem a natureza e uma vida digna. Tudo tem o lado ruim e o lado bom. Trabalhar com orgânico ainda é uma resistência para o próprio assentado, o povo está calejado. A saída do povo é a terra, o capitalismo não faz milagre não, a terra dá tudo que você precisa, dinheiro não é tudo. Aqui você pode colher a comida que come, sabendo o que tem nela. Você vai na feira e o cara fala que é orgânico e você nunca vai saber. Aqui sabemos o que comemos.

ATER e regularização fundiária

No aspecto produtivo as famílias assentadas realizaram experiências coletivas com o apoio da Igreja Católica, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), sindicatos, partidos políticos progressistas e da Prefeitura Municipal de Caçapava. A primeira experiência foi com o cultivo de feijão, mandioca e milho em uma área comum. O objetivo inicial era viabilizar economicamente o assentamento, mas as condições do terreno não favoreceram as culturas. A segunda experiência foi com o cultivo de hortaliças (RIECHELMANN 2006). Posteriormente, diversos roçados foram abandonados em função dos solos degradados com problemas agravados pelo uso excessivo da motomecanização com enxada rotativa que formara camada de impedimento subsuperficial. Isto levou o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP) a contatar a

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APTA/SAA em Pindamonhangaba para pesquisar e orientar as técnicas para que os agricultores pudessem recuperar os solos e cultivá-los de maneira conservacionista, além de introduzir variedades de mandioca de mesa ricas em carotenoides pró-vitamínicos a fim de promover a segurança alimentar e nutricional e prevenir a hipovitaminose (Figura 4).

Figura 4: Parceria ITESP-APTA incentiva a produção agroecológica de mandioca no assentamento Nova Esperança I (8/fev/2012)

Fonte: http://www.aptaregional.sp.gov.br/Noticias/parceria-itesp-apta-incentiva-melhoria-da-producao-de-mandioca-no-vale-do-paraiba.html. Fotos: José Luiz Soares Hungria (ITESP). Foi através da APTA que os agricultores(as) conheceram a Agroecologia como ciência cidadã, ao participarem de atividades de cunho pedagógico-científico no Polo Regional Vale do Paraíba, apoiados pelo ITESP - Taubaté. Assim, conheceram a adubação verde, o plantio direto de hortaliças, o cultivo de mandioca em arranjo consorciado e os sistemas agroflorestais (SAF). Nesse mesmo período a ATER nos assentamentos de reforma agrária seguia de maneira precária em termos de frequência, baixo envolvimento com a população local, descontinuidade de ações e não atendimento às necessidades de restauração dos solos em bases agroecológicas. Agravou essa situação os projetos de fomento da produção de citros em bases convencionais. ‘Sendo a

região borda do estado de São Paulo não deveríamos ter fomentado o monocultivo de citros nos solos degradados do vale para não formar infectários naturais que poderiam colocar em risco a grande produção de laranjas no interior paulista’, avaliou um técnico do INCRA no ano de 2020,

por ocasião do envolvimento em atividades de conversão agroflorestal de pomares abandonados nas áreas do assentamento. Ademais, para formar os pomares de citros muitas famílias contraíram dívidas que ainda não conseguiram saldar.

Agravando essa situação, os técnicos do IBS que foram contratados para ATER mais recentemente, já envolvidos com a transição agroecológica com SAF, tiveram os contratos rescindidos no ano de 2016, ocasião em que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) foi rebaixado ao nível de Secretaria. Esses técnicos chegaram a participar e ajudar a organizar os mutirões agroflorestais, conscientizando-se da importância dessas atividades em termos pedagógicos e de conversão tecnológica, adequada para formar uma nova safra de

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agricultores(as) aptos(as) a enfrentar as adversidades agrogeoambientais nas terras do Nova Esperança I. Para o IBS, após o envolvimento dos técnicos nos mutirões agroflorestais, os objetivos da ATER passaram a ser:

• Fortalecer a produção e consolidar a organização interna por meio dos mutirões de implantação e manejo de SAF, melhorar o relacionamento com a comunidade.

• Providenciar os documentos para obtenção da declaração de aptidão ao PRONAF do produtor rural.

• Incentivar os mais produtivos a se inscrever no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) via compra direta juntamente com beneficiários do PA Tremembé (Assentamentos Conquista e Olga Benário).

• Elaborar projetos PRONAF.

• Trabalhar com o grupo de jovens recém-formado no PDS.

Porém, a não-homologação de parte das famílias assentadas limita o acesso ao crédito e à assistência técnica, o que dificulta a permanência no assentamento. Apesar disso, as famílias resistem e buscam construir um outro modelo para o campo, mais harmônico nas relações com o meio ambiente, haja vista os esforços coletivos para a recuperação ambiental com sistemas agroflorestais das áreas de pastagens degradadas que antecederam a ocupação (TINTI 2017). A Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba

A formação da Rede Agroflorestal foi impulsionada entre os anos de 2011 e 2012 por atividades de pesquisa participativa vinculadas ao projeto ‘Vitrine Agroecológica’, inicialmente desenvolvidas no Polo Regional em Pindamonhangaba (Figura 5), com foco na implantação e manejo de áreas experimentais de SAF e posteriormente englobando ações em áreas privadas e nos assentamentos do Vale do Paraíba. Essas atividades reuniram um público variado composto de técnicos, acadêmicos, educadores, gestores públicos e muitos agricultores sem-terra. Esses encontros promoveram o compartilhamento de informações sobre sistemas conservacionistas de uso do solo, de SAF, do resgate e conservação de recursos genéticos tais como sementes crioulas e plantas alimentícias não convencionais (PANC), de manejo orgânico de hortaliças e tuberosas tropicais bem como adubação verde (Figura 6).

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Figura 5: Implantação de experimento de

SAF na APTA em Pindamonhangaba (18/nov/2016)

Figura 6: Logomarca da Rede Agroflorestal: construída por muitas mãos para

transformar a paisagem regional

Fonte: acervo da Rede Agroflorestal. Foto: Lucas Lacaz Ruiz

No final do ano de 2012 um coletivo de técnicos e agricultores uniram-se em diversas oficinas para elaborar de maneira participativa o projeto ‘Regeneração: religando o homem a natureza’ que foi submetido ao Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) / Microbacias II

<https://redeagroflorestalvaledoparaiba.blogspot.com/2014/04/e-d-i-t-o-r-i-l.html>. Este

projeto previu a implantação de 32 áreas de SAF em assentamentos e áreas privadas. Apesar de reprovado essas áreas foram efetivamente implantadas entre os anos de 2013 e 2014 com o esforço coletivo da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. Muitos recursos genéticos de áreas particulares e das pesquisas da APTA foram repassados aos agricultores(as), inclusive àqueles que se vincularam ao projeto no decurso dos mutirões, para implantar vitrines agroecológicas. Outro projeto intitulado ‘Agroecologia, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional’ popularizou as PANC nos SAF promovendo a alimentação saudável e a melhoria de renda com um modelo misto que ajudou a redefinir o uso do solo, fortalecer a segurança alimentar, restaurar o ambiente com tecnologias agroecológicas e regenerar as relações humanas com a natureza para transformar o ambiente degradado em outro, mais produtivo e com baixo aporte de recursos externos e capital.

São pilares da metodologia adotada nos mutirões da Rede Agroflorestal: aprender fazendo, estudo da paisagem, trocas de experiências, métodos participativos, interdisciplinaridade tendo a Agroecologia com ciência cidadã norteadora dos trabalhos (Figura 7).

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Figura 7: Agricultora Maria Severiana realiza o estudo da paisagem e do SAF com educadoras e educandos de escola técnica de S.J. dos Campos (7/maio/2015)

Figura 8: Agricultor

Adagilson Amorim

apresenta o SAF sintrópico

Acervo: Rede Agroflorestal

No Vale do Paraíba os SAF habilitam-se como importantes modelos de exploração por se aproximar ecologicamente da floresta natural ao ligar fragmentos florestais e árvores isoladas para formar um corredor de Mata Atlântica entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. Isso melhora o fluxo de animais silvestres e beneficia a diversidade biológica como um todo (OLIVEIRA et al. 2014). É necessário reconhecer que os SAF tornaram os espaços mais saudáveis e ajudaram a combater as desigualdades sociais ao promover a geração de renda, a segurança e a soberania alimentar e nutricional com o resgate e a conservação in situ da agrobiodiversidade (PANC e frutas nativas, principalmente). Esses sistemas biodiversos de produção agroecológica de espécies florestais e alimentícias são planejados minunciosamente, baseados no consórcio e na sucessão. Um exemplo é a reciclagem dos resíduos triturados da poda de árvores da área urbana de S.J. dos Campos utilizados na adubação de canteiros onde se cultivam simultaneamente uma diversidade de hortaliças em modelo de agricultura sintrópica entre aleias de arbustos e árvores frutíferas o que melhora a produtividade e a estabilidade ecossistêmica. Além de alimentos saudáveis esses sistemas são mais resilientes às mudanças do clima (ALTIERI, NICHOLLS 2008).

Por carecer de pouca estrutura e investimentos os SAF implantados e manejados em mutirão favorecem os(as) agricultores(as) a restaurar a paisagem e a se reconectar com a sociedade e com a natureza. A consciência de que a produção de alimentos ocorre em sistemas eficientes com baixo aporte de recursos externos e que promovam a qualidade de vida faz desses agricultores(as) pedagogos no trabalho de transmissão dos conhecimentos acumulados. Os mutirões agroflorestais também promovem a inclusão de grupamentos de pessoas excluídas, tais como mulheres camponesas, pessoas de maior idade, pretos e pardos, pessoas que não tiveram a oportunidade de aprender a ler e a escrever, enfim, seres humanos que em algum

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momento foram desprezados pela sociedade. Esses seres, independente de credo, gênero ou posição social, são levados a experienciar uma nova forma de se relacionar com o meio em que vivem de maneira muito mais inclusiva.

Entretanto, ainda há resistências a vencer quando se fala em produzir um alimento limpo, sem pesticidas. Maira Elizabeth Vicente Gouvêa, da ATER do IBS, explica como é a vida do(a) agricultor(a) que decide usar o agrotóxico e seguir os procedimentos do pacote tecnológico da revolução verde:

A agricultura convencional tem muitos custos entre eles roupas, defensivos, equipamentos etc. Os riscos à saúde é algo constante. Já na agricultura orgânica não se tem nada disso. Quando se mexe com defensivo agrícola existe uma sequência a ser respeitada, os produtores mais velhos por exemplo falam que usavam produtos químicos sem proteção nenhuma, se for juntar o histórico do manuseio desses produtos perceberíamos várias causas de doenças como o câncer. Os produtos químicos são acumulativos, através do muito contato com a pele é prejudicial a longo prazo. Quem quer usar defensivo tem que ter muita preocupação com a utilização correta dos equipamentos e dos defensivos, os efeitos desses químicos vão ser evidenciados lá na frente depois de uns 40 anos.

Para esses agricultores que não tiveram a oportunidade de estudar e conhecer a agroecologia o processo de envolvimento é muito mais delicado e demanda o evitamento de julgamentos precipitados e o acolhimento por meio dos mutirões. É na atividade diária nas áreas de SAF que esses atores irão poder se decidir sobre qual o caminho prefere percorrer.

Os mutirões agroflorestais reuniram mais de 300 pessoas durante o ano de 2013-2014, considerado o mais seca da região dos últimos 80 anos de monitoramento climático (TARGA, BATISTA 2015). Participaram pessoas idosas, mulheres com filhos pequenos, neo-rurais, pessoas que não se falavam devido a conflitos internos, jovens em vias de evasão do campo, pessoas da cidade (estudantes e educadores de cursos de tecnólogo de meio ambiente, de feiras livres, etc.) que acabaram unindo forças entorno da concretização do projeto Regeneração.

O trabalho em mutirão rende muito mais do que se a pessoa mais velha como eu conseguiria faze se estivesse trabalhando sozinha. As pessoas aprendem fazendo e compartilham os conhecimentos que trazem na vida do campo e os novos conhecimentos de outras pessoas (agricultora Diurene Paulino).

Sobre a metodologia participativa dos mutirões, uma roda de apresentação com um café da manhã colaborativo é a forma tradicional para se acolher os participantes. A atividade inicia-se com o estudo da paisagem no local da implantação ou manejo agroflorestal, quase sempre com

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o papel de facilitadores que questionam o público sobre ‘o que ocorreu?’ ou ‘por que ficou assim?’ em relação aos solos, à vegetação, à água e a outros atributos e processos naturais, como a regeneração natural que ocorre em uma determinada área p.ex. (Quem pôs as sementes ali? De onde vieram?). Esse processo é importante para induzir os participantes a questionarem como ocorrem os processos de formação da realidade agrária que os cerca e servem de subsídio para autonomia na tomada de decisão sobre a conversão agroflorestal das áreas de produção, para redefinir o uso do solo no espaço geográfico. Ou seja, não se quer formar tarefeiros nos mutirões, mas, sim, serem pensantes que questionam, que buscam compreender a realidade e se tornarem aptos a resolver os próprios problemas com a ajuda dos vizinhos e novas amizades que se formam nas atividades da Rede Agroflorestal. Ao final da atividade é servido um almoço com alimentos colhidos das próprias áreas de SAF (muita PANC) seguida de uma avaliação coletiva com a partilha de impressões, atualização do calendário de atividades e das necessidades de auxílio para a estruturação de novo SAF e por fim a troca de sementes e abraços. Diversas áreas de SAF tornaram-se vitrines que inspiram outros assentados de reforma agrária a iniciar a transição agroecológica, como ocorre nos núcleos de referência que transformaram a paisagem: no Sítio Nossa Senhora Aparecida dos agricultores Luciano Correia dos Reis e Gessi Braz dos Reis; e na área vizinha, no Sítio Ecológico de Valdir Martins e Maria Regiane Correia dos Reis (Figura 9). A propriedade situada entre os dois sítios ainda não aderiu aos mutirões e sua vegetação pouco evoluiu. No caso do Sítio Ecológico uma escola está sendo construída com métodos permaculturais para receber uma sala de aula para o ensino dos SAF. Os resultados positivos para a paisagem com o aumento da cobertura de Mata Atlântica que ocorre no assentamento Nova Esperança I em virtude dos SAF não é isolado e também ocorre na região Norte Fluminense com a reversão do monocultivo de cana-de-açúcar , suspensão de queimadas e preservação ambiental nas áreas de Reserva Legal (LEITE et al. 2014; NUNES, SILVA 2016). Ceceo Chaves (ATER do IBS) relata as transformações que aconteceram a partir do ano de 2012 quando integrou os mutirões da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba:

Ajudei a desenhar o que seria hoje o projeto do SAF no Vale do Paraíba. O primeiro objetivo foi captar recurso para os SAF através do edital Microbacias do Governo do Estado; mas não conseguimos o recurso. Então, o projeto foi feito na raça mesmo, com os mutirões e contando com doações de sementes e ferramentas pela APTA de Pindamonhangaba e de outros produtores parceiros da Rede Agroflorestal. Formamos um coletivo e fizeram um calendário dos mutirões. No começo os mutirões foram nos Assentamentos Manoel Neto, em Taubaté; Olga Benário, em Tremembé; Nova Esperança I, em São José dos Campos; alguns produtores de Roseira, em Pindamonhangaba, Cachoeira Paulista e Redenção.

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Figura 9: Mudanças na paisagem do Sítio N.S. Aparecida e Sítio Ecológico do ano de 2010 (vegetação herbácea) para o ano de 2020 (sistemas agroflorestais)

Fonte: Google Earth Pro

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é ordenado com métodos da pesquisa participativa. Ao longo dos anos formaram-se núcleos gestores de SAF em diversas localidades do Vale do Paraíba que facilitam as conexões com a sociedade do entorno, tal como ocorre com os sítios Ecológico e N.S. Aparecida no assentamento Nova Esperança I. A comunicação normalmente é realizada por meio da internet – blog, redes sociais, chats, celular e e-mail. O blog da Rede Agroflorestal é a principal fonte de registro das atividades e foi criado em setembro de 2012 sendo abastecido por colaboradores com textos revisados por pareceristas. Em agosto de 2020 o total de visualizações de páginas somava mais de 37 mil acessos abrangendo diversos estados brasileiros e países de diferentes continentes. A Rede Agroflorestal tem objetivos específicos bem delineados e o ponto forte dessa tarefa de conexão são seus atores. Cada participante desenvolveu, desenvolve ou desenvolverá um papel importante no devido tempo. As pessoas se conectam e por mais que apareçam dificuldades a Rede Agroflorestal segue existindo. Qualquer pessoa que esteja interessada em conhecer e praticar a agroflorestal pode participar, conforme expressa Ceceo Chaves (2016):

Atores, como pesquisadores da APTA; e membros da Rede, como o Marcos, adotaram uma metodologia do Projeto Germinar, para mediação de conflitos e conciliação. E isso vem sendo sucesso no nosso trabalho. O nome do projeto no início era ‘Regeneração: Religando o Homem à Natureza’, para as pessoas voltarem os olhares para produção, ver que é possível viver da terra.

Daniela Ferreira, agricultora do MST, nos conta que:

...antes da Rede, às vezes as pessoas ficavam acomodadas, e que a Rede possibilitou maior comprometimento entre as pessoas: “tendo a Rede, além de trazer conhecimento técnico; que as vezes a pessoa não tem ou até tem, porque ouviu falar; conhece uma coisa ou outra e vai incrementando.”

A Rede mobiliza todo mundo, todo mundo vai porque faz parte da Rede, não porque é na casa de fulano ou porque beltrano que puxou. Vai porque ele faz parte da Rede. Ele está ali cumprindo o papel dele: vou salvar o planeta e não me interessa, estou junto com a galera e vai embora. Acho que é essa importância da Rede, para gente pelo menos é essa. Cada um tem um objetivo na Rede. Importante ressaltar a metodologia de pesquisa participativa onde todos os atores envolvidos tornam-se protagonistas, desde o desenho, implementação e manejo dos SAF. Temos aqui o produtor(a)-pesquisador(a), técnico-pesquisador, todos estavam efetivamente comprometidos. O que permitiu que mesmo com ausência de pesquisadores, técnicos, todos tinham condições e

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quiseram continuar com os mutirões e SAF.

Uma das características de se medir a efetividade de uma tecnologia ou projeto é verificar se as ações foram perenizadas pela comunidade alvo. Esse quesito foi atendido e os atores locais tornaram-se agentes da transformação socioambiental que ultrapassa as fronteiras do assentamento e da região do Vale do Paraíba, pois há cursos de longa duração no Sítio Ecológico que atraem pessoas de diversas regiões do Brasil e do exterior interessadas nos ensinamento de Valdir Martins e seus colaboradores.

Para a pesquisadora da APTA, Drª Cristina Maria de Castro:

Lição maior que tiro como profissional e como pessoa é que na natureza está tudo o que precisamos, basta olhar com “olhos de ver”, a sabedoria das plantas, dos sistemas, tudo ali está pronto para que possamos, com respeito, cultivar e ter alimentos saudáveis. E foi justamente através deste pequeno movimento, essa teia, essa rede, de permitir que o produtor se reconectasse a natureza que foi possível esse trabalho que acredito ficará para os assentados, seus filhos e futuras gerações por vir.

Ao documentar a história vivida por esses atores e as transformações sociais, culturais, econômicas, políticas, ambientais que estão sendo tecidas, este trabalho contribui como registro e valorização das pessoas do lugar, para o campo das ciências humanas e naturais. Como podemos observar no relato de Maira Elizabete Vicente Gouveia (ATER do IBS):

Não existe nenhum documento que prove esses benefícios do que estamos fazendo para sociedade. Os mutirões são importantes e precisam permanecer, até para empresa foi difícil à adesão ao SAF. Há necessidade de juntar as informações para mostrar para sociedade o que estamos fazendo, o que está acontecendo aqui. Nós plantamos o futuro, plantamos água, precisamos desses registros, a tendência do SAF é transformar as áreas de cultivo em uma floresta, mas que dali saia renda para essas pessoas que querem viver da terra.

No momento em que a história oral pensa no entrevistado não apenas como depoente, mas como colaborador, agente ativo de sua história, somos colocados em xeque pelos procedimentos a seguir. Ao transcrever as entrevistas nosso interesse é passar o que está gravado para o escrito, sem se contrapor aos discursos dos(as) entrevistados(as) ou remontar as histórias narradas. O que importa são as experiências de ordem objetiva e subjetiva nas narrativas das pessoas, as quais representariam para elas a verdade sobre si e sobre os espaços em que vivem (RIBEIRO 2002). E sendo assim, quão transformador e impactante tornaram-se essas experiências na vida dos entrevistadores?

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No dia 13 de maio de 2016 foi o dia do primeiro mutirão de Anna Cláudia (entrevistadora):

Foi no sítio da Rose. Naquele dia conversei com diversas pessoas, acompanhei o plantio e fui embora com o mundo ampliado daquela nova realidade que pairava em minha frente. De fato, foi ali que tive noção sobre o que realmente era a força da conexão de pessoas afim de um objetivo comum. Depois desse vieram diversas outras participações em mutirões, em cada um deles eu exercia uma função diferente - cozinha, separação de mudas e sementes, feitura de berços, plantio, relatório etc. Em todas elas ocorreram o desenvolvimento da minha consciência e do meu potencial humano e agroecológico.

Essa pesquisa registrou os resultados positivos das experiências agroecológicas no assentamento de reforma agrária Nova Esperança I em São José dos Campos a partir dos relatos dos(as) atores participantes das atividades da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba. A expansão das áreas de SAF estão redefinindo o uso do solo e a paisagem além de melhorar a segurança alimentar. A adesão governamental é necessária para promover políticas públicas que fortaleçam a produção de alimentos saudáveis para abastecer a população urbana, bem como para viabilizar o devido pagamento por serviços ambientais (PSA) para áreas com sistemas agroflorestais (DEVIDE et al. 2014).

CONCLUSÃO

O espaço geográfico foi modificado com os sistemas agroflorestais. Áreas de pastagens se transformam em moradas de dezenas de famílias que ressignificam a relação com o trabalho, transformam a terra em solos mais férteis com mais justiça alimentar e nutricional, superando todas as dificuldades do percurso.

Os métodos participativos da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba utilizados nos mutirões agroflorestais modificam pessoas e paisagens, aproximam agricultores(as) e técnicos de ATER, rompe barreiras estruturais, fortalece a transição agroecológica dos lotes reforma agrária e promove a segurança alimentar e nutricional de famílias camponesas.

O conhecimento solidificado é repassado em cada novo mutirão de agricultor(a) para agricultor(a) com a metodologia ‘aprender fazendo’. Isto caracteriza a descentralização da informação e a perenidade do projeto de disseminação dos sistemas agroflorestais para a construção de uma reforma agrária mais sustentável.

AGRADECIMENTOS

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Curso de Geografia da Universidade de Taubaté por apoiar o projeto de entrevistas da segunda autora realizado como parte dos requisitos do Curso de Graduação em Geografia da Universidade de Taubaté.

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