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Rev. Bras. Hist. vol.21 número40

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Academic year: 2018

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Petrópolis, Vozes, 2000, 268 pp.

Palavras-chave: globalização, imperialismo, economia. Keywords: globalization, imperialism, economy.

Se em meados dos anos 80 muito impacto causou à sociedade estaduniden-se o livro de Paul Kennedy Ascensão e queda das grandes potências, com certeza maior apreensão trará, hoje, para as comunidades organizadas da Améri-ca Latina, o trabalho de James Petras e Henry Veltmeyer A hegemonia dos Estados Unidos no novo milênio. Kennedy defendia a tese de que o poderio de Washington estava em decadência devido a uma “excessiva extensão impe-rial”. Isto é, a soma total dos interesses e das obrigações dos Estados Unidos no mundo se tornara muito maior que a capacidade que o país apresentava de de-fendê-los simultaneamente. Assim sendo, houve um aumento desproporcional entre tais interesses e obrigações e o seu crescimento econômico, empurrando-o obrigatoriamente para o descenso. Cabe lembrar, diz o autor, que essas foram as causas da queda de grandes impérios, como o espanhol e o britânico.

Mas os autores, ao contrário, demonstram como o imperialismo estaduni-dense – e também o europeu – ressurge com muita força neste limiar de milê-nio. A melhor explicação para a prosperidade das economias norte-americana e européia e a crise do Terceiro Mundo, segundo os autores, encontra-se na teoria do imperialismo, que focaliza o “Estado-nação” imperial como o centro de po-der e tomada de decisão, e também como beneficiário de relações desiguais. En-quanto ocorrem melhoras de alguns indicadores macroeconômicos em determi-nados países pobres, os macrossociais caem vertiginosamente para as classes assalariadas. Atualmente, na América Latina, apenas entre 15% e 20% de sua po-pulação desfrutam de um estilo de vida de “Primeiro Mundo”.

A obra também analisa o uso irrestrito do poder militar pelos Estados Uni-dos para impor sua hegemonia, bem como a investida euro-americana contra

to-PETRAS, James & VELTMEYER Henry.

Hegemonia dos Estados Unidos

no novo milênio

Waldir José Rampinelli

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da tentativa de países do Terceiro Mundo de limitar sociopoliticamente a expan-são empresarial multinacional.

O bombardeio da Iugoslávia pela OTAN/EUA, os ataques aéreos ao Ira-que, o lançamento de mísseis contra a Somália e o Afeganistão, a ampliação do grupo de membros da OTAN para incluir países que limitam com a Rússia, a in-corporação na OTAN de 23 novos integrantes como associados na paz, a incon-testada hegemonia dos EUA sobre a Europa Ocidental, exercida mediante a OTAN, são sinais de crescente militarização e exercício unilateral do poder de polícia mundial pelos EUA. Este poder imperial ressurgente está intimamente relacionado com o formidável crescimento do domínio econômico norte-ameri-cano nos anos 90.1

Diante disso, conclui que há um governo global a partir de uma nova or-dem mundial centrada em Washington e Wall Sreet, enquanto potências euro-péias e asiáticas se subordinam a instituições militares e econômico-financeiras dominadas pelos EUA. Por isso, para uma classe capitalista mundial, especial-mente a estadunidense, a década que passou foi sem dúvida a melhor de todo o século, em termos de acumulação. E conclui que está em marcha para todo o Ter-ceiro Mundo um novo projeto de colonização. A Lei Helms-Burton e o depósi-to feidepósi-to diredepósi-to ao Tesouro dos Estados Unidos pelos compradores internacio-nais do petróleo mexicano são dois exemplos deste processo.

O livro está dividido em três partes muito concatenadas: Parte I: A econo-mia do imperialismo; Parte II: Estratégia e ideologia do imperialismo; Parte III: Política do imperialismo.

Na primeira parte os autores analisam como o capitalismo, nas duas últimas décadas, tem causado tantos estragos à América Latina e, ao mesmo tempo, um período de prosperidade jamais visto para os bancos e corporações multinacio-nais estadunidenses. É o capitalismo chegando a seu estágio superior: o imperia-lismo. Esta nova ordem imperial se ergue sobre cinco pilares básicos: a) paga-mentos de juros da dívida externa, b) maciças transferências de lucros provenientes de investimentos diretos e de ações e títulos, c) aquisição de empresas públicas; d) rendimentos provenientes de royalties; e e) balanços de contas correntes fa-voráveis.

E assim desmistificado o conceito de globalização apresentado como único e irreversível, e afirma que desde o início (século XVI) ela esteve associada ao imperialismo assim como a uma configuração específica de classe. Analisa igual-mente a política agrícola estadunidense para a América Latina como uma estra-tégia de venda de máquinas e de insumos básicos produzidos por suas multina-cionais bem como uma política agro-exportadora.

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Na segunda parte são trabalhados os mecanismos ideológicos utilizados pelo império estadunidense para dominar o Terceiro Mundo – sem rebeliões –, que so-fre o efeito do “ajuste estrutural”. Aqui desempenha papel relevante o Banco Mun-dial. O Estado imperial também se utiliza de outras vias, tais como as políticas de combate ao narcotráfico na América Latina, as estratégias da “cooperação para o desenvolvimento”, a política utilizada pela direita e, finalmente, o papel das ONGs como subsidiárias das políticas imperiais. Neste capítulo, o autor faz uma crítica muito pertinaz a essas “organizações governamentais” que, com raríssimas exce-ções, estão a serviço da implementação das políticas neoliberais. E distingue, com muita clareza, o que é solidariedade para um onguista e para um marxista.

A terceira parte é dedicada a temas mais especificamente políticos, tais co-mo a deco-mocracia imperialista, a globalização e a cidadania, bem coco-mo a revolu-ção socialista e a globalizarevolu-ção. Descreve, por exemplo, como os regimes popula-res, democraticamente eleitos, foram derrubados pela classe capitalista ou por uma potência hegemônica simplesmente porque tentaram transformar ou refor-mar o sistema de relações de propriedade existente.

À pergunta reforma ou revolução?para enfrentar todos estes problemas gerados por uma classe capitalista internacional que tem nas elites de cada país do Terceiro Mundo os seus mais fiéis colaboradores, os autores respondem que a reforma não tem dado conta de resolver tais problemas, cabendo, sim, à revo-lução as grandes mudanças estruturais de nosso continente. E, ato seguido, ana-lisa alguns exemplos revolucionários e suas conquistas, bem como os movimen-tos sociais radicais que começam a se fortalecer cada vez mais em toda a região.

A Hegemonia dos Estados Unidos no novo milênio é um livro polê-mico, contundente e sem meias palavras. Pela força de sua argumentação e de seus dados, merece ser lido e estudado.

NOTA

1PETRAS, James & VELTMEYER Henry. Hegemonia dos Estados Unidos no novo milênio.

Petrópolis: Vozes, 2000, p. 15.

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