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Relatório Final de Estágio de Docência: Ensino Fundamental

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Academic year: 2021

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências da Educação Departamento de Metodologia de Ensino

Disciplina: Estágio de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura I Professora: Maria Izabel de Bortoli Hentz

DIEGO BORGES RAMOS JULIANA COELHO PRISCILA SANTOS E SILVA

Relatório Final de Estágio de Docência: Ensino Fundamental

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DIEGO BORGES RAMOS JULIANA COELHO PRISCILA SANTOS E SILVA

Relatório Final de Estágio de Docência: Ensino Fundamental

Relatório final de estágio de docência apresentado como requisito parcial para avaliação da disciplina Estágio de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura I do 9º período do curso de Licenciatura em Letras/Português sob a orientação da Professora Dra. Maria Izabel de Bortoli Hentz.

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Agradecimento

Em primeiro lugar, agradecemos a todos os nossos colegas de faculdade, que sempre nos auxiliaram e aconselharam durante a nossa trajetória acadêmica.

Agradecemos especialmente à professora Maria Izabel de Bortoli Hentz que nos orientou na prática pedagógica, ao professor Euzébio Pies, professor regente da turma a qual lecionamos, que nos acolheu em suas aulas e também nos deu orientações e aos alunos que tornaram nossas aulas possíveis.

À toda equipe pedagógica do colégio Maria Iracema Martins de Andrade (CEMIA) que nos receberam muito bem e nos ajudaram quando precisamos.

Agrademos às nossas famílias e amigos pelo apoio, incentivo e paciência nos momentos difíceis.

Muito obrigado por tornarem possível a concretização desse estágio.

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“É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer.”

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Sumário

1. Apresentação _________________________________________ 007 2. Contextualização do campo de estágio _____________________ 010 2.1 A escola ___________________________________________ 010 2.1.1 Seminário de Socialização de projetos___________________ 014 2.1.2 Pré-conselho escolar – EJA___________________________ 015 2.1.3 Formação Continuada _______________________________ 017 2.2 EJA “Barreirão” ______________________________________ 020 2.3 A turma ____________________________________________ 021 2.4 O professor titular ____________________________________ 022 3. Relatório de Estágio de observação _______________________ 023 3.1 Relatório de Estágio de Observação – Diego B. Ramos _______ 023 3.2 Relatório de Estágio de Observação – Juliana Coelho ________ 033 3.3 Relatório de Estágio de Observação – Priscila S. e Silva_______ 050 4. Projeto de Estágio de Docência ___________________________ 060 4.1 Problematização e escolha do tema ______________________ 060 4.2 Justificativa _________________________________________ 061 4.3 FundamentaçãoTeórica _______________________________ 062 4.4 Objetivos ___________________________________________ 067 4.4.1 Objetivos Gerais ____________________________________ 067 4.4.2 Objetivos Específicos ________________________________ 068 4.5 Conhecimentos Abordados _____________________________ 068 4.6 Metodologia _________________________________________ 069 4.6.1 Síntese das aulas ___________________________________ 070 4.6.2 Planos de aulas _____________________________________ 071 5. Reflexão e análise da prática pedagógica ___________________ 129 5.1 Descrição das aulas ministradas _________________________ 130 6. Projeto Extraclasse ____________________________________ 141 6.1 Introdução __________________________________________ 141 6.2 Reflexão teórica ______________________________________ 142 6.3 Objetivos ___________________________________________ 143 6.4 Conhecimentos abordados _____________________________ 144 6.5 Metodologia ________________________________________ 144

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6.6 Síntese das aulas ___________________________________ 144 6.7 Descrição das aulas _________________________________ 146 6.8 Reflexão e análise da prática pedagógica ________________ 148 6.9 Recursos necessários _______________________________ 149 7. Referências ________________________________________ 150 8. Anexos ____________________________________________ 154

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1. APRESENTAÇÃO

Neste trabalho estão sintetizadas todas as etapas, planejamentos, projetos e resultados realizados no Estágio de Docência referente à disciplina de Estágio de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura I, do Curso de Letras -Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, da Universidade Federal de Santa Catarina. Estará aqui descrito o detalhamento das impressões que tivemos da escola durante o estágio de observação, além dos eventos que tivemos oportunidade de participar, das 10 horas/aula observadas e das 24 horas/aula ministradas para a turma da 8ª série na modalidade de EJA (Educação de Jovens e Adultos), no Centro Educacional

Municipal Professora Maria Iracema Martins de Andrade (CEMIA), conhecido

por “Barreirão”, no bairro Ipiranga, em São José. Há, ainda, as aulas ministradas para a modalidade extraclasse, prevista na mesma disciplina, no próprio CEMIA e na Escola de Educação Básica Wanderley Júnior, no mesmo bairro e cidade.

A primeira etapa deste trabalho descreve o campo de estágio, os alunos e o perfil do professor titular da turma observada. Essas observações estão previstas na disciplina e tem como objetivo nos aproximar da turma em que as aulas serão ministradas, bem como nos apresentar à realidade de sala de aula. Para tanto, foram observadas 10 horas/aula, além de visitas agendadas com a direção pedagógica da escola para participação da rotina escolar. O estágio de observação foi essencial para pensarmos o projeto de docência para os alunos da 8ª série do turno noturno do CEMIA, pois houve a oportunidade de conhecer e perceber as necessidades, dificuldades e interesses dos alunos em questão. Foi importante também para se verificar a realidade do conteúdo de língua portuguesa para as aulas da EJA, que nitidamente não pode ser trabalhado da mesma maneira que é apresentado no ensino regular. Como defende Hentz:

Há de se ressaltar [...] as necessidades objetivas de escolarização são diferentes em cada tempo histórico e, em um mesmo período, são distintas para cada um dos grupos de uma mesma sociedade.1

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O contato feito antes das observações em sala foi essencial para a familiarização da rotina com a escola. Foram duas visitas previamente agendadas, uma com a coordenação pedagógica e outra com o Diretor Geral. Ambos os profissionais foram extremamente dedicados e atenciosos, sanaram nossas dúvidas, responderam aos questionamentos levantados, sugeriram e se mostraram acessíveis para contatos posteriores, além de apresentarem a escola de maneira fidedigna. Conhecer a rotina de uma escola, as práticas escolares, os projetos, o trabalho dos especialistas (coordenadores, supervisores, diretores e etc.) foi especialmente interessante, pois assim, foi possível perceber como funciona o meio em que nós, futuros educadores, estaremos inseridos quando atuantes na profissão. Além dos já citados, todos os especialistas se mostraram acessíveis e à disposição: a equipe diretiva, a secretária, os professores, seja nos questionamentos levantados na sala dos professores ou nas conversas informais de corredor, e até a funcionária responsável pela merenda escolar, sempre atenciosa, oferecendo mimos e refeições. Há ainda relatado neste trabalho a descrição de atividades escolares em que os estagiários se inseriram no período de estágio: formação continuada dos professores da rede municipal de São José, seminário de socialização de projetos da escola, pré-conselho escolar e outras.

Em seguida o trabalho mostrará o projeto realizado pelos estagiários para a docência com os alunos da 8ª série do turno noturno do CEMIA, visando a produção de um jornal pelos próprios alunos. Depois de observada a realidade da turma, optamos por um projeto dinâmico, que provocasse o interesse dos alunos, possibilitando a eles o aprendizado da língua portuguesa e também a interação entre si. Apresentaremos o embasamento teórico a partir do qual foi pensado o projeto, além da metodologia e avaliações aplicadas. Nesta etapa, estão afixados todos os planos de aulas desenvolvidos pelos estagiários, as atividades realizadas pelos alunos e o resultado obtido. Há ainda uma reflexão dos estagiários sobre a prática, a atuação docente e o resultado obtido.

Há, ainda, as especificidades do projeto pensado para a docência em atividades extraclasse. Trata-se da proposta de trabalho com alunos do terceiro ano do Ensino Médio inscritos no vestibular da UFSC, UDESC ou ACAFE. A proposta foi trabalhar as obras literárias selecionadas para a prova do

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vestibular 2012 destas instituições de ensino. Optamos por esta ideia uma vez que os resultados das avaliações oficiais do Ensino Médio e dados de aprovação em vestibulares indicam que, ao final do terceiro ano, os alunos, especialmente os de escola pública, ainda não se apropriaram de conhe-cimentos necessários para realizar as provas de vestibular. Neste momento também estará descrita a fundamentação teórica do projeto, a metodologia aplicada, os resultados obtidos e a reflexão dos estagiários quanto à própria docência.

Por último, porém não menos importante, estarão descritas as nossas impressões pessoais quanto ao desenrolar de toda a disciplina num ensaio individual. Esperamos que este trabalho resulte numa fonte de pesquisa para futuros estagiários, além de mostrar para a sociedade, professores e alunos envolvidos, de maneira fidedigna, todas as etapas, atividades e resultados do processo.

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Este capítulo do relatório refere-se ao estágio de observação, que faz parte das atividades da disciplina de Estágio de Ensino de Língua Portuguesa e Literatura I, do Curso de Letras Português e Literaturas, da Universidade Federal de Santa Catarina. Nele constam as impressões, e por consequência as reflexões acadêmicas das aulas de língua portuguesa acompanhadas no

Centro Educacional Municipal Professora Maria Iracema Martins de Andrade

(CEMIA), conhecido pelo nome Barreirão. As observações aconteceram na turma da 8ª série do turno noturno na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), da mesma escola, durante os meses de agosto e setembro de 2011.

O estágio de observação tem por objetivos: a) inserir-se na rotina da escola na qual se realizará a docência; b) reconhecer uma realidade escolar (aspectos físicos, histórico, quadro funcional e etc; c) conhecer os alunos da turma na qual se desenvolverá a docência; d) conhecer a didática de um professor em sala de aula; e) traçar estratégias para a confecção e realização do projeto de docência. Esses objetivos se somam no intuito de nos prepararmos para a prática em sala de aula e para a futura profissão.

. 2.1 A escola

O Centro Educacional Municipal Professora Maria Iracema Martins de

Andrade está atendendo a comunidade há 9 anos e se localiza na Rua Otto

Júlio Malina, S/N, no Bairro Ipiranga, em São José, Santa Catarina. Atualmente, a escola conta com 1500 alunos, sendo 1256 do ensino fundamental regular (1ª a 8ª séries e 9º ano), no período diurno, e 244 alunos na Educação de Jovens e Adultos (fundamental e médio), no período noturno. O CEMIA está enquadrado como a segunda maior escola do município de São José, tendo no seu quadro o número de 83 professores (sendo 11 deles auxiliares) e 39 funcionários. Os professores são na sua maioria (60%) ACT, visto que alguns efetivos estão afastados para tratamento de saúde. Segundo a coordenação pedagógica há uma grande rotatividade de professores, sendo no ano de 2011, 32 professores efetivos e poucos trabalhavam na escola no ano anterior. A escola atende várias comunidades, dentre elas o Pedregal, Bela

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Vista, Areias, Bairro Ipiranga, Barreiros, Jardim Atlântico e outros, e é bem conceituada, por consequência, em alguns momentos, não há vagas.2

A estrutura física da escola conta com 27 salas de aulas, biblioteca (que por enquanto só funciona no período diurno, já que estão sem funcionário para abri-la durante a noite), ginásio de esportes, quadra coberta, pátio coberto, parque infantil, refeitório, cantina, salas para os projetos extraclasse (fanfarra, dança, flauta doce e outras), auditório, almoxarifado, secretaria, sala multiuso, sala de informática, sala dos professores, sala de jogos, sala multi-interativa, sala exclusiva para o Núcleo de Atendimento Especializado, banheiros em todos os andares, sala de estudos (utilizada aparentemente para o atendimento do apoio pedagógico aos professores), sala para o apoio pedagógico e diretoria.

O contato feito antes das observações em sala de aula foi essencial para o entendimento da escola. Foram duas visitas previamente agendadas. Uma com a coordenação pedagógica, e outra com o Diretor Geral. Quando questionado, o Diretor Geral afirmou que 5 eixos sustentam a escola:

1) O compromisso de uma equipe que trabalha e busca fazer o melhor pelos alunos;

2) O fato de a prefeitura investir na formação continuada do professor (Uma vez por mês os professores são dispensados para a formação, no caso da EJA acontece na própria escola e em agosto já estava no seu 3° encontro);

3) O Conselho de Classe, Pré-Conselho e o Conselho de Classe Geral que visam o pensamento coletivo sobre o processo de ensino-aprendizagem; 4) O apoio familiar para além da escola (há um envolvimento maior das famílias, talvez pelo fato de os alunos não serem de áreas tão periféricas, o que contribui para o processo de aprendizagem);

5) A Assessoria Pedagógica (Supervisão e Orientação) oferecida aos professores de séries iniciais de 15 em 15 dias (não há a mesma assessoria oferecida aos demais professores, pois os mesmos não dispõem de hora atividade. No caso dos professores de séries iniciais,

2 Dados levantados junto ao Diretor Professor Geraldo Anderson Silva em 31 de agosto de 2011.

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as assessorias acontecem quando as suas turmas estão nas aulas de Educação Física e Língua Estrangeira; há também as reuniões pedagógicas que acontecem com todos os professores de 2 em 2 meses).

A escola conta também com projetos fixos. Dentre eles: Coral, Fanfarra (que já se consagrou campeã estadual e conta com 5 alunos da EJA), Dança, Capoeira, Judô, Flauta Doce, Ginástica Rítmica, Teatro e os Esportes Coletivos. Esses projetos são abertos a toda comunidade.

Segundo o Projeto Político Pedagógico (PPP) - 2011 do CEMIA; o objetivo geral é

refletir, propor e executar uma educação que promova o domínio pleno do conhecimento, a capacidade de reflexão, favorecendo o desenvolvimento de todos os educandos na escola.3

E ainda:

A escola, neste contexto, tem o papel central de oportunizar constantemente a elaboração, reelaboração e apropriação do conhecimento, tendo como objetivo formar um sujeito culto com conhecimentos científicos, humanos e artísticos preparados para uma vivência democrática.4

O PPP do CEMIA está sendo atualizado em 2011 e no momento da observação encontrava-se em fase de finalização. Ele é discutido nas reuniões pedagógicas (nas quais os professores destacam aquilo que acreditam, o que querem e o que fazem para o desenvolvimento escolar). Ele está dividido em três grandes capítulos, abrangendo a Proposta Pedagógica da escola, o processo de ensino aprendizagem e a Organização Curricular do Ensino Fundamental regular e da EJA. Esse trabalho se concentrará nos aspectos do PPP relativos ao ensino e aprendizagem dos alunos da EJA, visto que as aulas observadas e a docência do projeto estão restritas a esse grupo. A matriz curricular da escola sugere conteúdos casados com a realidade dos alunos. 3 PPP CEMIA 2011 p. 05.

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A escola tem um ótimo espaço físico. É perceptível a preocupação da direção com os ambientes e materiais disponíveis. A sala multiuso foi equipada recentemente com um projetor e um telão, que são usados frequentemente pelas turmas.

Se os saberes que se ensinam e a forma como se os ensinam constituem a cultura escolar, não é diferente quando se pensa a organização do espaço, pois o modo como um espaço é ocupado revela as intenções e os objetivos de quem o ocupa. A organização de um ambiente também influencia a atitude de quem o ocupa, determinando o tipo de atividades que podem se realizar e o tipo de interação possível.5

Percebe-se também, sem duvida, o fato de que algumas melhorias poderiam ser feitas no aspecto físico da escola, porém, algumas pequenas reformas, como na secretaria, por exemplo, foram notadas durante o estágio de observação.

Alguns aspectos podem ser destacados positivamente no CEMIA, como o fato de a escola apresentar um grande interesse pela leitura. São adquiridos, através de recursos próprios, R$ 2.000,00 em livros para a biblioteca da escola, por ano. A prefeitura não investe em aquisições de livros, ficando a escola a mercê do governo federal. O mesmo, nos últimos 5 anos, tem mandado livros de literatura com uma certa frequência. Além da aquisição de livros para a biblioteca, a escola disponibiliza verba para projetos de leitura. Desses projetos já saíram duas publicações de alunos da escola.

Como contrapartida devem-se observar alguns aspectos que não são positivos, como o fato de a escola contar com alunos com necessidades especiais e não haver o segundo professor ou intérprete (na modalidade de EJA). Ou ainda o fato de não contar com vigia/porteiro no horário noturno. E não manter a biblioteca aberta para os alunos de EJA. Fica visível o fato desses alunos não terem acesso a esses livros, já que durante o dia estão trabalhando e não podem ir até a escola.

A coordenação pedagógica e diretoria geral informaram sobre casos de uso de drogas e falta de segurança na escola, porém, nada de “diferente” foi observado, e em nenhum momento os estagiários sentiram-se inseguros.

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O CEMIA foi uma ótima escolha para a execução do estágio, já que se trata de uma instituição completa, com uma ótima estrutura e processos dinâmicos e valorizadores.

2.1.1 Seminário de Socialização de projetos

As assessorias, a reunião do início do ano e as trocas de ideias dos professores nos corredores e sala dos professores são os responsáveis pelos projetos pedagógicos realizados no CEMIA. Esses projetos, depois de executados, são apresentados para a sociedade num grande seminário que aconteceu nesse ano pela terceira vez. Nesse seminário foram observados os trabalhos dos professores e alunos desenvolvidos no ano de 2011, tais como o projeto Os Fabulosos Anos 20 e o Projeto Herodotus dos alunos da EJA. O III

Seminário de Socialização dos Trabalhos Pedagógicos – Fazeres e Saberes Escolares que Incluem e Transformam – aconteceu nos dias 29 e 30 de

Setembro de 20116.

A escola foi toda decorada e preparada para receber a sociedade para a socialização dos projetos. Mesas com enfeites especiais, trabalhos de alunos expostos, professores, coordenadores e equipe diretiva uniformizada e visivelmente feliz com a mostra. No dia 29, no período noturno, o evento foi aberto pelo diretor da escola que discursou sobre a alegria que o colégio tinha em mostrar os projetos realizados pelos alunos. Ele aproveitou a oportunidade para homenagear e agradecer a equipe pedagógica que o assessora pelas realizações, empenho e conquistas. Após a explanação do diretor aconteceu a apresentação do Coral infantil do município de São José, no qual há como integrantes alunos do próprio CEMIA, dentre outras escolas da rede municipal de São José. Em seguida, a palavra foi passada para o Secretario Municipal de Educação de São José, Sr. Círio Vandresen, que palestrou sobre o livro de sua

autoria “Sabor e Saber”. A obra é o resultado de seus estudos de pós-graduação, e sistematiza o “Projeto Sabor e Saber”, um programa de “merenda escolar orgânica”. O secretário repassou aos presentes a apresentação do seu trabalho de pós-graduação, informando todas as pesquisas, fontes e

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resultados. Depois da palestra do secretário foi feito um intervalo com um lanche de confraternização para os convidados, alunos e equipe escolar.

A segunda fase da noite foi marcada pelas socializações propriamente ditas de alguns projetos. Foram socializados os projetos Os Fabulosos Anos 20 e o Projeto Herodotus dos alunos da EJA. O primeiro trata de um projeto do professor Euzébio Pies com os alunos do terceiro ano. Nesse projeto os alunos pesquisaram em textos antigos para verificar como vivia a sociedade nos anos 20. Dessa pesquisa foi publicada uma revista contendo os textos dos alunos. Durante a socialização dois alunos que participaram do projeto deram seus depoimentos enfatizando como o projeto funcionou e quais foram suas impressões. Uma aluna muito emocionada disse que adorou participar do projeto e que o nome dela estava publicado pela primeira vez em um livro. Já o aluno disse que o projeto contribuiu para o bom relacionamento em sala de aula, já que o trabalho foi feito em grupo e eles tiveram a oportunidade de se conhecer melhor.

Esses projetos depois de realizados e apresentados no seminário são registrados e organizados anualmente em um caderno pedagógico chamado

Série Pedagógica7 (neste ano irá para seu terceiro volume). Segundo o caderno:

A realização dos projetos e ações [...] possibilitou à comunidade escolar do CEM Professora Maria Iracema Martins de Andrade refletir e discutir [...] novas estratégias de ações na prática pedagógica para a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.8

2.1.2 Pré-conselho escolar - EJA

No dia 10 de outubro às 18h50 foi realizado o pré-conselho escolar da modalidade de EJA pelos professores e equipe pedagógica do CEMIA. O objetivo do pré-conselho é avaliar a situação dos alunos para que possa ser solucionado o problema antes que o aluno perca o semestre. Nesta reunião os professores analisaram a situação de cada aluno individualmente, os professores seguiram a chamada e fizeram observações de aluno por aluno. A coordenadora pedagógica mediou o processo, ela ditava o nome do aluno e os professores socializavam suas observações (número de faltas, comportamento 7 Anexo 2.

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em sala, quantidade de trabalhos produzidos e etc.), questionamento, anseios e angustias. Após as observações dos professores a coordenadora atribuiu um conceito para cada aluno que, como pudemos perceber, variou de ruim à excelente.

Observamos durante o pré-conselho que a equipe pedagógica do colégio sente a necessidade de um acompanhamento psicológico para alguns dos alunos e não há psicóloga no CEMIA. Segundo a coordenadora, foi contratada uma psicóloga para atender as escolas do município de São José e ela poderia ajudar nas necessidades da escola. Dentre os problemas relatados no pré-conselho, dos quais precisariam da ajuda da profissional, estão: rejeição, alcoolismo, drogas, indisciplina e outros. Outra necessidade levantada no pré-conselho foi a falta de um segundo professor em sala para atender os alunos com necessidades especiais. Há, ainda, um aluno com deficiência auditiva e a escola não possui interprete.

Os professores reclamaram da indisciplina de alguns alunos (principalmente no ensino fundamental). Esses alunos não frequentam a aula com regularidade, saem o tempo todo para atender telefone, ir ao banheiro, ou apenas ficar nos corredores. Um professor relatou que esses alunos saem das aulas com frequência pra usar drogas ou vende-las no banheiro. A coordenadora informou que a única solução para esses alunos seria a reprovação, já que os mesmos já eram repetentes e com a segunda reprovação perderiam a vaga. A coordenadora disse ainda que esses alunos precisam sair da escola, pois contaminam os demais com o narcotráfico e com a indisciplina. Durante essa discussão um professor informou que era necessário um vigia na escola: “eu quero um vigia ali, eu não vou me conformar em levar um tiro na cara.” Outro disse que a escola não tinha estrutura para atender os alunos que atende.

Sobre os alunos da turma na qual foram observadas as aulas e ministrado o estágio de docência os professores falaram:

A1 – Tem potencial; A2 - Falta muito; A3 – Tem muitas faltas, não tem avaliação realizada. Já reprovou e vai reprovar novamente; A4 – Muito despreocupada; A5 – Muitas faltas; A6 – Chega atrasado todos os dias, porém trouxe uma declaração do trabalho para justificar. É bonzinho; A7 – É deficiente auditivo, e como a escola não possui um segundo professor, é

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desmotivado; A8 - Estava bêbado numa segunda-feira; A9 – Não tem defeitos; A10 - É legal; A11 – Não tem muitas faltas e é esforçada; A12 – É infantil, folgado e não faz nada; A13 – Muitas faltas e sem avaliações; A14 – Está melhor que no semestre passado; Essa turma está se acabando. 9

Ao final da reunião a coordenadora pediu aos professores regentes das turmas que repassassem os resultados obtidos no pré-conselho para os alunos. Ela informou que era necessário repassar essa informação aos alunos para eles terem a resposta de que o pré-conselho é um trabalho de avaliação dos alunos e do trabalho dos professores.

2.1.3 Formação Continuada

Tivemos a oportunidade de participar de dois encontros da formação continuada dos professores da modalidade de EJA da rede municipal de São José. A formação acontece uma vez por mês no auditório do próprio CEMIA e é ministrada pelo professor Anderson Carlos Santos de Abreu, chefe de Departamento de Educação Jovens e Adultos da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis. A formação tem por objetivo aprimorar o ensino-aprendizagem do dessa modalidade de ensino, já que os conteúdos não devem ser abordados da mesma maneira que são no ensino regular. Assim, a formação visa compreender o sujeito integral, o sentido e o significado do que venha ser o adulto e o jovem, a constituição das relações intergeracionais que resultam os sujeitos da EJA e a construção dessas relações nos diferentes espaços e tempos, considerando as “experiências de vida” e as dimensões de trabalho e/ou ocupação dos sujeitos. Ou seja, é fundamental perceber quem é esse sujeito adulto com o qual o professor lidará, para que assim os conteúdos a serem trabalhados façam sentido, tenham significado, sejam elementos concretos na sua formação, instrumentalizando-o para uma intervenção significativa, em sua realidade. Os encontros acompanhados foram nos dias 25 de agosto e 27 de setembro de 2011.

No dia 25 de agosto os professores da rede municipal de São José já estavam no terceiro encontro da formação continuada. Nesta ocasião o objetivo era Identificar os Sujeitos da EJA e a relação com o conhecimento e com a 9 Observações dos professores no pré-conselho.

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diversidade: seus múltiplos saberes, a perspectiva histórico-cultural e a aprendizagem dialógica. A formação foi dividida em três momentos distintos: exposição do professor; palestra sobre as diferenças étnicas e raciais e atividade em grupo em sala de aula. No primeiro momento, o professor fez uma exposição sobre quem são os sujeitos da EJA, informando dados numéricos e percentuais quantitativos: quantos são; gênero; idade; etnia; naturalidade e etc. Em seguida o professor expôs o resultado da atividade em grupo do encontro anterior: “Pra quem ensinar? O que ensinar? Por que ensinar? Como ensinar?”. As respostas foram organizadas pelos professores de cada área de ensino: alfabetização, ciências biológicas, ciências exatas, ciências humanas e linguagens. Depois de as respostas socializadas e os assuntos discutidos e antes de os professores darem continuidade na atividade exposta, foi passada a palavra para uma professora de história do município de São José, a qual palestrou sobre a importância da inclusão e do estudo da cultura africana na escola.

No encontro do dia 27 de setembro o professor apresentou o fechamento do exercício do encontro anterior bem como o resultado separado, novamente, por áreas de ensino. Em seguida o mesmo começou uma discussão sobre o currículo na EJA do município de São José. O professor mostrou aos professores as diferentes formas de organizar o ensino da EJA. Segundo o professor, os conteúdos podem ser organizados das maneiras a seguir:

1) Unidade: Abordagem Positivista/tecnicista. Organização a partir de temas. Pretende a transmissão de conteúdos por pequenas etapas. Os conteúdos são previamente definidos em planos de cursos anuais divididos por fragmentos. Atua em cima das atividades a partir do tema. A avaliação é através de provas dissertativas e objetivas.

2) Projetos: Abordagem Racionalismo/cientificismo. Os problemas ou temáticas podem surgir de um aluno, de um grupo de alunos, da turma ou do professor. O importante é que passe a ser de todos com um envolvimento afetivo na definição dos objetivos, das etapas na participação das atividades e do processo de avaliação. Os conteúdos deixam de ter um fim em si mesmo e passam a ser meios para ampliar a

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formação e o desenvolvimento dos alunos. Nova sequenciação, processo de ir e vir, os conteúdos são vistos de forma mais abrangente. A avaliação é processual, com testagem, observação e produção.

3) Tema Gerador: Abordagem de Paulo Freire/Educação Popular/Dialética; Centraliza o processo ensino-aprendizagem nas pesquisas, análises, reflexões, discussões e conclusões articuladas com a realidade e com a prática social dos educandos. Propicia um vínculo significativo entre o conhecimento e a realidade local, envolve o educador e educando na prática do fazer e pensar o currículo. O tema e os subtemas são retirados da realidade vivida, de situações-limite, das experiências e vivências dos educandos em diálogo com o conhecimento científico, que permitirão a construção dos inéditos. A avaliação pressupõe momentos frequentes de reflexão sobre a pratica.

4) Temas culturais: Abordagem Multiculturalista – múltiplos costumes, diferentes lugares do discurso, emite vozes diferentes. O Tema cultural retirado das diversas práticas, atribuídos de muitas significações, com diversos discursos, incorpora os processos históricos (políticos, sociais, materiais), as experiências dos alunos e professores e os conhecimentos “subjulgados” que costumam construir a cultura chamada popular. A avaliação pretende que os alunos reconheçam suas escolhas culturais.

5) Complexo temático: Concepção Socialista de Educação, enriquecida pela sociologia do currículo. Considera um conjunto de diretrizes: Socioantropológica, epistemológica, filosófica e psicopedagógica. Provoca o trabalho coletivo entre educadores, alunos e comunidade. Preocupa-se com a prática e a realidade social. A avaliação é processual e dialógica.

O terceiro momento do encontro deu-se com a exposição sobre os documentos do ENEJA. O professor informou que o Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos aconteceu na cidade de Salvador em 2011 e que foram discutidas questões como: A elaboração de propostas curriculares que contemplem as especificidades e as diversidades dos sujeitos da EJA; o oferecimento da EJA nos três turnos, assegurando esta oferta independente do

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número de alunos e etc. Em seguida os professores foram convidados a se agruparem por áreas nas salas de aulas para serem reformulados, montados e discutidos os currículos de EJA para o ano seguinte. Acompanhamos o grupo das linguagens. Percebemos a dificuldade dos professores em verificar qual a concepção de currículo adequada.

2.2 EJA “Barreirão”

As aulas da EJA são realizadas no período noturno, de segunda a sexta-feira, das 18h50 às 22h20. Elas estão disponíveis para a comunidade desde a inauguração da escola. Porém, segundo a coordenação pedagógica, a procura tem diminuído a cada ano. É ministrada uma série por semestre, ou seja, a 5ª série, por exemplo, é cursada durante um semestre apenas. São disponibilizadas turmas da 5ª série do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. A escola optou por fazer uma transição gradativa em relação à mudança de séries para anos no ensino fundamental. A coordenação pedagógica ponderou o fato de que uma mudança brusca poderia atrapalhar o desenvolvimento dos alunos. A transição total se dará até o ano de 2014. No semestre os alunos passam por 6 avaliações. Eles podem ser avaliados pela participação em sala e nas atividades: trabalho em equipe, trabalho individual, prova e etc. Há, ainda, uma recuperação paralela e o fato de avaliações perdidas por faltas terem um prazo de 48 horas para serem justificadas.

De acordo com a perspectiva histórico-social, o conhecimento se dá de forma significativa e contextualizada e o educando deve ser avaliado na sua totalidade, não só na aprendizagem específica das disciplinas do currículo escolar.10

Os alunos são todos acima de 16 anos, e alguns chegam a ser da terceira idade, ou seja, acima de 60 anos. Segundo a direção da escola muitos alunos da EJA são pais de alunos do ensino regular que querem recuperar os estudos, ou que se matriculam para trazer o filho que abandonou os estudos de volta para a sala de aula. Foram relatados casos em que os pais continuaram os estudos e os filhos abandonaram. Segundo a coordenação pedagógica os alunos da EJA têm alguma herança de problemática social, já que por algum 10 PPP CEMIA p. 28.

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motivo não conseguiram acompanhar os estudos regularmente. Observamos que os alunos mais jovens costumam ser os mais displicentes em sala.

Os alunos da EJA possuem um livro didático11 atualizado, distribuído pelo Ministério da Educação. O atual livro didático foi recebido em 2011 e será utilizado até o ano de 2013. Ele está dividido pelos conteúdos ministrados a cada ano especificamente, ou seja, há um volume dedicado especialmente ao 9º ano (no caso do CEMIA, 8ª série). O caderno de Língua Portuguesa tem 60 páginas, divididas em duas unidades, a primeira trata dos conteúdos específicos com base na temática Trabalho e a segunda com base na

Globalização e novas tecnologias.

2.3 A turma

A turma na qual foram realizados os estágios de observação e docência foi a 8ª série. Ela conta com 24 alunos matriculados, porém, apenas 20 continuam frequentando a sala de aula, e ainda assim, não se trata de uma frequência regular, já que a média em sala de aula foi de 10 alunos durante o todo o estágio. Esses alunos têm, aproximadamente, de 16 a 50 anos de idade. Muitos, quase todos, trabalham durante o dia (90% dos alunos da EJA do CEMIA trabalham12). Dois alunos trabalham na construção civil, como auxiliares de pedreiro, uma aluna trabalha como servente e faxineira, outro aluno com pintura automotiva dentre outras ocupações. Alguns já são pais, mães, ou apenas constituem família. Eles não se mostram muito interessados nos conteúdos apresentados, não participam, apenas falam quando são questionados pelo professor regente ou estagiários, não respeitam o horário de silêncio durante as explicações.

2.4 O professor titular

O professor de português da turma observada tem sua graduação em Letras Francês e especialização em Metodologias de Ensino. Ele já é professor aposentado do estado de Santa Catarina. Prestou concurso público para o município depois de aposentar-se, já que o salário de professor aposentado 11 Anexo 3.

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não seria suficiente na sua visão. Atua apenas no CEMIA e suas aulas concentram-se na modalidade da EJA. Ele está na escola de terça à sexta-feira, apenas no horário noturno, sua carga semanal soma 20h. O professor é visivelmente querido pelos alunos da EJA e pela direção da escola. Ele é atuante nos projetos extraclasse, segundo ele, gostaria de realizar mais projetos, porém os professores do município não contam com hora atividade, o que dificulta a execução dos projetos. O professor mantém um diálogo aberto com os seus alunos e diz que aprende muito com os mesmos.

3. RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE OBSERVAÇÃO

3.1 Relatório de estágio de observação – Diego Borges Ramos

AULAS 1 e 2 – 30/08/11 - das 21h02 às 22h20

Nosso primeiro dia de observação foi uma terça feira, com duas aulas faixas. A primeira impressão da sala de aula foi boa, limpa, com carteiras conservadas, boa iluminação, quadro negro e ventilador. O professor entrou na

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classe e realizou a chamada. Neste dia, estavam presentes 18 ou 19 alunos, foi o dia em que constatamos o maior número de alunos presentes.

Após a chamada, o professor nos apresentou aos alunos informando-os que nós permaneceríamos durante algumas semanas com eles com o intuito de observar as aulas. Após a apresentação, o professor iniciou a aula com uma conversa informal com os alunos, isto porque eles estavam muito dispersos. Em seguida, o professor pediu que os alunos abrissem o livro didático13 na página 6. Podemos notar que eles estavam ainda no início do trabalho com o livro didático.

O tema da aula foi Trabalho. O professor, com o auxílio do livro didático, iniciou a leitura de um fragmento do romance “Menino de engenho”, de José Lins do Rego. Enfatizou a intertextualidade apresentada no texto e tentou instigar os alunos a lerem com ele e apresentarem dúvidas sobre palavras que eles não conheciam. A turma estava dispersa, apenas nove alunos trouxeram o livro didático, e ao longo da aula notamos muitas conversas paralelas, além da falta de atenção e alunos saindo e entrando na sala de aula o tempo todo. O professor se viu obrigado a parar a leitura, que já estava fragmentada pelas conversas, para pedir silêncio.

Após a leitura de parte do texto, o professor iniciou a explanação do que seria Trabalho, procurou citar exemplos de momentos históricos envolvendo trabalhadores, voltou ao assunto leitura, enfatizando que ela é uma forma de conhecimento e que um dos principais objetivos de sua aula era de ensinar os alunos a ler e a interpretar o que estão lendo. Ficou claro que os alunos prestam mais atenção na aula quando o professor está falando diretamente com eles, e não quando ele lê um texto do livro didático.

A aula, que deveria acabar às 22h20min, terminou às 22h10min, com a saída voluntária de todos os alunos, sem a permissão do professor. Ainda com os alunos saindo, o professor pediu que eles lessem e fizessem os exercícios referentes ao texto lido em aula. Após o término da aula, em conversa conosco, o professor disse que sempre trabalha a partir de um texto, e que a gramática pela gramática, não se trabalha mais. Foi uma aula expositiva, de trabalho direto com o texto, mas de pouca atenção e concentração dos alunos.

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AULA 3 – 01/09/11 - das 21h40 às 22h20

Nesta aula, havia 16 ou 17 alunos em classe. O professor realizou a chamada e tentou iniciar a aula, porém, os alunos estavam muito dispersos. O tema continuou sendo Trabalho, seis alunos haviam trazido o livro didático e ao longo de mais alguns minutos o professor conseguiu concentrar a atenção de todos para sua aula.

Apesar da dispersão no início da aula, neste dia, os alunos estavam menos desinteressados, mas ainda conversando ou usando o celular durante a aula. Em mais uma conversa informal, o professor aconselhou aos alunos que procurassem ler textos que não fazem parte do seu dia a dia para que eles possam ampliar sua visão de mundo. O professor, após esta conversa, escreveu no quadro negro o poema Grito Negro, de José Craveirinho, e tentou trabalhar, a partir desse poema, as noções de sentido – real/denotativo e figurado/conotativo.

A aula foi curta, apenas 40 min., sendo que o professor levou parte dela para controlar a falta de atenção dos alunos e outra parte para copiar o texto no quadro negro. Além disso, mais uma vez, os alunos saíram antes do horário de término.

AULA 4 – 08/09/11 - das 21h40 às 22h20

Neste dia, as aulas foram canceladas devido à falta de professores. A aula que deveria ser observada no dia 06 de setembro, a terça feira anterior, também foi cancelada, pois o professor estava viajando.

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Este foi um dos dias mais atípicos que encontramos em nossas observações. Havia três alunos na sala de aula, imaginamos que isso tenha ocorrido pelo cancelamento da aula de terça feria, o feriado de quarta feira e, por conseguinte, o cancelamento das aulas de quinta feira.

Porém, mesmo com o número reduzido de alunos, o professor deu início à aula fazendo a chamada e em seguida explanando o conteúdo. A Narrativa foi o conteúdo ministrado na aula, com base na crônica Pequena crônica

policial, de Mario Quintana. Esta crônica, em forma de poema, foi copiada no

quadro negro pelo professor que em seguida explicou o que é uma crônica. O professor informou aos alunos que após o trabalho com a crônica eles teriam que transformá-la em um texto narrativo. Apesar da menor quantidade de alunos, os mesmos, mais uma vez, se mostraram desinteressados pelo conteúdo, apenas copiaram o texto do quadro. O professor iniciou a leitura e junto a ela fez adendos em relação à gramática encontrada em partes do texto, como pretérito perfeito, imperfeito e mais que perfeito. Os alunos se mostraram mais atentos assim que o professor iniciou a explicação sobre a crônica. Notou-se que a linguagem usada por Quintana é pouco conhecida dos alunos; estes mostraram também que desconhecem muitas palavras e tempos verbais presentes no texto. Isso, de certo modo, pareceu ser um ponto positivo para a aula, pois foi a partir dessas dúvidas que o professor compôs sua aula. Dúvidas que para nós parecem ser inaceitáveis, para o professor foram levadas como qualquer outra, o que mostra a habilidade dele com os alunos; além de nos ter ensinado a tirar, de maneira mais normal possível, qualquer dúvida que os alunos venham a ter.

A aula, apesar de ser faixa, durou apenas até o primeiro sinal tocar. Os alunos se retiraram da classe no início do último período, sem a permissão do professor. Antes disso, o professor conseguiu passar, mais uma vez, a tarefa de transformar o poema em uma narrativa.

AULAS 7 e 8 – 13/09/11 - das 21h02 às 22h20

A aula começou com o professor fazendo a chamada. Neste dia estavam presentes onze alunos em classe. O professor resolveu retomar o conteúdo da última aula, uma vez que naquela estavam presentes somente

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três alunos. A classe mostrou-se dispersa, sem atenção, enquanto o professor, mais uma vez, copiou a crônica de Mario Quintana no quadro negro.

Neste dia os alunos estavam um pouco agressivos, discutiam entre si, mas o professor, no começo, não se preocupou. Após alguns minutos, quando ele viu que as discussões não iriam parar, tentou fazer com que os alunos refletissem sobre o momento em que estavam vivendo, sobre estar em sala de aula e que aquela era uma oportunidade que deveria ser respeitada. O professor exigiu, num determinado momento, respeito, e o direito de dar sua aula enfatizando que os alunos não são mais crianças, já estão na 8ª série e deveriam ter um comprometimento maior durante as aulas. Apesar da discussão, não há desrespeito entre alunos e professor. Porém, nesse meio tempo, um aluno, parecendo indignado com a situação, se retirou da classe e foi embora.

A aula continuou embasada na discussão, alguns alunos reclamaram dos atrasos de professores na escola e que trabalham o dia todo para estudar à noite e querem aula. Outros reclamaram que se sentem desmotivados, pois a turma está diferente, não é a mesma de anos anteriores, quando havia um comprometimento maior nas aulas. E que, assim como o aluno que foi embora, eles também, por muitas vezes, vão embora, pois não conseguem assistir as aulas por conta do barulho. Vale ressaltar que esses casos, segundo os alunos, acontecem em todas as aulas, não somente nas aulas de português.

Às 21h44min, aproximadamente 30 min. antes do fim da aula o professor ainda não tinha conseguido iniciar o conteúdo programado para aquela noite. Os alunos, neste momento, reclamaram que as aulas estão maçantes, sugeriram que o professor usasse outros recursos como filmes, música ou trabalhos em grupo. O professor, mais uma vez, tentou convencer os alunos da importância de estudar.

As 21h56min o professor pediu, mais uma vez, atenção aos alunos e começou a ler o texto escrito no quadro negro. Pediu que os alunos produzissem, a partir da crônica, uma narrativa. A aula acaba, mais uma vez, antes de o sinal tocar.

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Nessa quinta-feira havia quatro alunos em classe. O professor fez a chamada e passou uma atividade gramatical14 para que eles fizessem. Os alunos pareceram estar mais atentos naquela noite. O professor explicou o exercício e eles começaram a fazer. Notamos um pouco mais de interesse. Não foi uma aula expositiva, havia uma folha para que cada aluno respondesse seus exercícios e eles o fizeram em meio a dúvidas em relação à interpretação de texto e gramática. O professor auxiliou alguns alunos que manifestaram dúvidas, outros acabaram e conversaram entre si, outros simplesmente não fizeram os exercícios e a aula acabou, outra vez, antes do sinal tocar.

AULAS 10 e 11 – 20/09/11 - das 21h02 às 22h20

Nesse último dia de observação havia seis alunos em classe. O professor fez a chamada e em seguida cedeu a palavra a nós, os estagiários.

Durante a observação, notamos que sabíamos pouco sobre as dificuldades dos alunos em relação às aulas de língua portuguesa. Por isso, resolvemos elaborar um questionário15 com perguntas relacionadas ao interesse deles em relação às aulas que ministraríamos. Apresentamos o questionário a eles e os mesmos se dispuseram a fazê-lo ainda em classe. Nesse meio tempo o professor iniciou sua aula, mais uma vez usando o livro didático.

O tema dessa aula foi o Emprego de pronomes. O professor pediu que os alunos sentassem em trios e iniciou a explicação sobre pronomes pessoais, oblíquos, demonstrativos e indefinidos. Havia apenas três, dos seis alunos, com o livro didático. O professor leu um pequeno texto do livro e destacou os pronomes que achou, pedindo que os alunos designassem a qual classe eles pertencem.

Naquela aula os alunos pareceram se interessar ainda menos pelo ensino de gramática. O professor se incomodou com falta de interesse dos alunos, mas continuou com as leituras do livro didático. As conversas paralelas continuaram. O professor, então, pediu que eles respondessem, em dupla, cinco questões de uma das páginas do livro para entregar ainda naquela aula;

14 Anexo 7. 15 Anexo 8.

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os que acabassem poderiam ir embora. Os alunos permaneceram em silêncio respondendo aos exercícios até o fim da aula.

3.1.1 Análise crítica das aulas observadas

A principal função de um professor de português é de ensinar o aluno a ler, escrever e interpretar o que está lendo ou escrevendo. Em análise das aulas observadas, pudemos notar o engajamento do professor em querer trabalhar com textos literários para que os alunos, através deles, aprendessem a ler e interpretar o que estavam lendo para, finalmente, expressarem dúvidas e interesses acerca da gramática da língua portuguesa. O trabalho do professor observado não pareceu provocar muito interesse dos alunos, porém, notamos que, mesmo sem manifestarem vontade espontânea de ler os textos expostos, os alunos expressaram dúvidas quanto ao entendimento deles. Isso mostrou que, ao trabalhar com textos e não com a gramática por ela mesma o aluno parece se interessar mais em saber e querer entender o que está lendo ou o que está sendo lido para ele.

No ensino aprendizagem, o professor, e neste caso incluímos o professor observado, assume o papel de mediador entre o texto e o aluno. Quando falamos em ensino aprendizagem na EJA, isso se estabelece como um dos principais pilares, pois trabalhamos com alunos jovens e adultos; estes alunos trazem uma bagagem de vida e conhecimento específico que os permitem estabelecer um grau maior de interação com o que leem. Especificamente nas aulas observadas, o papel do professor como mediador ficou claro nas conversas informais que ele mantinha ao perceber que não estava ganhando a atenção dos alunos simplesmente com o conteúdo exposto no quadro negro.

O ensino exclusivamente verbalista, a mera transmissão de informações, a aprendizagem entendida somente como acumulação de conhecimentos, não subsistem mais. Isso não quer dizer abandono dos conhecimentos sistematizados da disciplina nem da exposição de um assunto. O que se afirma é que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, seu potencial cognitivo, suas capacidades e interesses, seus

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procedimentos de pensa, seu modo de trabalhar. (LIBANEO, 1998, s.p.)

As observações das aulas foram extremamente importantes exatamente para ver que o ensino de língua portuguesa, para nós estagiários, ao longo de cerca de dez anos fora da sala de aula de ensino médio, mudou muito. Temos críticas positivas e negativas em relação às aulas observadas. Pensando positivamente, vemos que o professor vem se adequando ao novo modo de ensino, o que nos deixa menos preocupados com o modo de ensino que pretendemos desenvolver. Porém, a falta de interesse dos alunos não permitiu que as aulas rendessem o suficiente para que eles adquirissem o conhecimento que o professor pensou em proporcionar a eles. Não estamos aqui para criticar o modo como o professor ensina, mas ficou claro que o conteúdo previamente pensado, não conseguiu ser repassado.

Podemos perceber a intenção do professor em querer formar cidadãos para o mundo, cidadãos que não conheçam apenas o bairro ou a comunidade em que vivem. Esse foi outro fator positivo observado nas aulas. Saímos daquela sala de aula sabendo que além de sermos professores de português, somos educadores. Temos a tarefa de ensinar os alunos a pensar, a se expressar através da língua e, a partir da troca de conhecimento professor/aluno e vice versa, estabelecer processos comunicativos que venham a beneficiar o andamento das aulas. Isso, segundo Libâneo 1998, requer estratégias:

É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer dos professores o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de suas próprias competências de pensar. Se o professor não dispõe de habilidades de pensamento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz de organizar e regular suas próprias atividades de aprendizagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem suas capacidades cognitivas. (LIBÂNEO, 1998, s.p.)

Concluímos essa análise das aulas de língua portuguesa tendo em mente que o melhor modo de ensinar um aluno, seja ele de ensino regular ou da EJA, a ler e escrever é através da instigação à leitura. Isso não significa o simples ato de ler, de passar os olhos sobre um texto e reconhecer as palavras, mas ler com o intuito de interagir, de compreender, de produzir

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sentidos. Tendo em vista esse pensamento, concordamos com Silva 1999, quando ele reflete que:

Toda leitura envolve um projeto de compreensão e um processo de interpretação. De fato, o projeto coloca no horizonte um propósito para o adentramento na leitura, mantendo a dinâmica em termos de espaço e tempo (Leio sempre com uma determinada finalidade, mesmo que seja para passar o tempo). Outrossim, o processo de interpretação demarca a abordagem do texto pelo leitor de modo que a compreensão vá se constituindo ao longo da leitura em si (Leio sempre a partir das lentes paradigmáticas ou teóricas que foram sedimentadas no meu repertorio). (SILVA, 1999, p. 17)

Entendemos, portanto, serem extremamente válidas as atividades de leitura e interpretação de textos proporcionados pelo professor, mesmo que eles não tenham tido grande aceitação dos alunos. O intuito, a partir das concepções em questão, de fazer os alunos terem conhecimento da gramática, da literatura e, a partir delas, adquirir o conhecimento necessário para saírem da escola tendo uma visão de mundo maior do que quando entraram é, com certeza, o modo mais eficaz de se ensinar a língua portuguesa e a literatura no ensino fundamental e médio.

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AULAS 1 e 2 – 30/08/11 - das 21h02 às 22h20

Estavam na classe 18 alunos. A aula iniciou com o professor fazendo referência ao tema da primeira unidade do livro didático: o Trabalho. Ele perguntou aos alunos se trabalho era um substantivo e depois qual o tipo de substantivo, comum? Próprio? Abstrato? Concreto? Os alunos tiveram dificuldades em diferenciar os tipos de substantivo abstrato e concreto. Em seguida o professor escreveu no quadro o substantivo ‘trabalho’ e pediu conceitos que estavam ligados ao mesmo. O resultado foi: Trabalho (sujeito):

-é cansar; - -é suar; - -é alcançar; - -é objetivar; - -é adquirir objetos; -é adquirir experiências de vida; (predicado). Durante as sugestões de conceitos de uns

alunos, os outros faziam piadas. O ambiente em sala de aula não estava silencioso durante a exposição.

Depois de analisado o substantivo ‘trabalho’, a aula seguiu com o professor escrevendo no quadro o substantivo ‘dinheiro’, assim: Dinheiro –

suficiente – justo. Nessa etapa todos os alunos se manifestaram dizendo que o

dinheiro que o trabalho proporciona não é justo. O professor disse aos alunos: “estudar gramática não é o bicho, nós sabemos fazer isso”. E em seguida analisou sintaticamente o substantivo ‘trabalho’ dentro das orações montadas, mostrando os Objetos Diretos. Disse: “O Objeto Direto vem depois do verbo que está no predicado”.

Os alunos foram solicitados pelo professor a recorrer ao texto da página 07 do livro didático16: Trecho do romance O Menino do Engenho de José Lins do Rego. Muitos disseram que estavam sem o livro. As alegações foram às chuvas. Disseram: A1: “Professor, eu não trouxe porque molhou todo com a chuva de ontem”; A2: “Ahh, Professor!! Quando tem chuva assim eu nem trago porque molha”. Outros alegaram que ainda não haviam buscado o livro didático na coordenação da escola. Em seguida, o professor questionou a razão de aquele texto estar no livro didático. Os alunos responderam: A1: “Porque é trabalho dele”; A2: “Porque fala sobre o tema”; A3: “Porque ele queria produzir aquele discurso”. O professor replicou: “Textos diferentes são várias vozes falando da mesma coisa, se pensar na temática ‘amor’, encontraremos vários 16 Anexo 4.

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textos com diferentes pontos de vista”. Um aluno diz: “Ponto de vista é a minha visão sobre aquele assunto”. Professor: “Por que o texto O Menino do

Engenho? Por que a literatura é tão importante e tão gostosa?” Um aluno

questionou o que era um engenho. Outros alunos começaram a responder: A1: “Lugar onde se produz açúcar, farinha... várias coisas”; A2: “Objeto voador não identificado”. O professor disse: “Maquina que produz coisas; Processo de organização das coisas. No texto, é o lugar onde se produz açúcar”. Em seguida o professor pediu para um aluno buscar um dicionário na sala da coordenação pedagógica. Ele disse que um dicionário tinha que ser um material básico do professor, mas que estava sem no momento. Um aluno disse: “vergonha”, e o professor replicou: “é! Vergonha! fazer o que?!” Com a chegada do dicionário o professor informou a definição de engenho do dicionário Aurélio:

s.m. Capacidade inventiva; habilidade, talento: com engenho e arte. / Pessoa engenhosa; gênio. / Ardil, estratagema, astúcia. / Máquina de moer cana, de fabricar papel, de puxar água etc. / Pop. Qualquer máquina. / (PR) Estabelecimento onde se fabrica o mate. / (PE) Aparelho com que se fabrica a corda de caroá. / (MG) Espécie de dança. // Bras. (S) Engenho de serra ou simplesmente engenho, serraria mecânica.

Após esclarecida a definição foram embora duas alunas (uma delas saiu várias vezes para atender ao telefone celular. Essa mesma aluna esteve na sala dos professores, no momento anterior a aula que estava sendo observada, falando para a coordenação que estava pensando em desistir das aulas, pois os outros alunos da turma não estavam interessados nas aulas).

Na continuidade da aula o professor passou a fazer perguntas sobre o texto: Quem era o autor; Quem era o narrador; entre outras. Foi feita pelo professor a leitura de algumas passagens do texto, pois a leitura integral havia sido realizada na aula anterior. Em seguida ele passou a fazer as perguntas contidas nas páginas 08 e 09 (Por dentro do texto) do livro didático17 e os alunos as respondiam em voz alta. O professor pedia aos alunos que voltassem aos textos para responderem as perguntas. Os alunos não respeitavam o exercício, visto que em momento algum foi feito silêncio em sala de aula. O professor pediu que os alunos fizessem silêncio e disse que não iria “atestar mediocridade no final do semestre”. Um aluno sugeriu expulsar da sala 17 Anexos 5 e 6.

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de aula aqueles que não quisessem prestar atenção. O professor respondeu que não costumava “abrir a cabeça de ninguém para impor caminhos”, e disse ainda que “estudar é trabalho, que a escola é chata, estudar é chato, mas que lá na frente os alunos teriam melhorias” e enfatizou dizendo que tinha certeza que os “alunos melhorariam com o estudo”. Os alunos também falavam durante a fala do professor, alguns apoiavam, outros faziam piadas. O professor disse que os alunos estavam falando muitas palavras de baixo calão e que poderiam substituir por alguma expressão mais culta. Continuou dizendo que se os alunos se interessassem pelas aulas, elas seriam boas e que se os alunos não estivessem gostando da aula, o assunto poderia ser conversado. Os alunos continuaram fazendo gracinhas. Alguns tentavam interagir com o professor.

Em seguida, o professor voltou ao texto dizendo que estava querendo mostrar um tempo diferente aos alunos, onde os trabalhadores e empregados eram diferentes. Como a bagunça continuou o professor disse aos alunos que não estava na sala de aula para brincar. Ele perguntou se no texto o trabalho e os trabalhadores eram diferentes do que atualmente e os alunos responderam que hoje se vê “mais direito para os trabalhadores que antigamente”. O professor continuou dizendo que quando é feita uma leitura, os leitores se apropriam de um discurso e fazem uma releitura, assim outro texto é montado. Ele disse que na vida era assim, que era para os alunos procurarem ler sobre vários assuntos para aumentar a visão. O professor continuou dizendo que quando os alunos participam da aula, eles conseguem entender. Disse ainda, que muita gente sai do ensino escolar semi-analfabeto, que os alunos tinham a chance de estudar e que ficava feliz quando via seus ex-alunos bem, e não quando ouvia dizer que “a casa caiu”. Um aluno disse: “na penitenciária”. E o professor respondeu: “vamos entender que o pão para ser ganho tem que ser batalhado”.

O professor falou que o último parágrafo do texto trabalhado tem a ver com a produção da nossa cultura. Ele disse que as pessoas eram alienadas por causa de princípios repassados de geração a geração, falou sobre questões políticas, sobre menor idade e outras. Falou sobre sociedade e sua visão de Deus. Alguns alunos participaram da discussão. Depois da conversa o professor voltou ao texto e perguntou aos alunos quantos ensinamentos poderiam ser tirados do texto, para tanto apontou o 5º parágrafo.

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Uma aluna estava visivelmente inquieta em sala. Saiu várias vezes, ia até a janela, conversava com as colegas, e num dado momento disse: “hoje eu não to pra estudar”. Também saíram da sala de aula dois alunos que estavam sentados ao fundo. Eles foram chamados pela direção da escola para uma conversa. Depois da saída desses alunos, os demais começaram a forçar o professor a acabar a aula. O professor pediu para os alunos responderem as questões da página 09. Os alunos questionaram se precisava responder no caderno, eles queriam responder oralmente na aula seguinte. Os alunos foram saindo aos poucos. Na porta da sala de aula ficavam alunos de outras turmas interagindo com os alunos de dentro da sala e pedindo para o professor acabar a aula.

AULA 3 – 01/09/11 - das 21h40 às 22h20

Com 16 alunos em classe, a aula foi iniciada com o professor anotando a presença dos alunos. Um dos alunos estava ouvindo música em som alto através do aparelho celular. O professor pediu que o aluno desligasse o aparelho e os demais começaram a fazer gracinhas com a situação. Em seguida, o professor perguntou se os alunos tinham respondido os exercícios sugeridos na aula anterior. Os alunos não fizeram os exercícios propostos pelo professor.

O tema da aula foi escrito no quadro negro pelo professor: TRABALHO. Em seguida disse que uma das formas de se construir conceitos é através da leitura. Continuou dizendo que deve ser uma preocupação do aluno ampliar os seus conceitos. Disse que para melhor conhecer um texto é preciso conhecer a sua estrutura. O professor falou aos alunos que o objetivo principal do ensino de português é ensinar a ler, escrever e falar. O professor leu o texto abaixo em voz alta:

Dicionário dos mano

Mano nao vai embora, vaza. Mano nao briga, arranja treta. Mano nao bebe, chapa o coco. Mano nao cai, toma um capote. Mano nao entende, se liga. Mano nao passeia, dá um role.

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Mano nao come, ranga.

Mano nao entra, cai pra dentro. Mano nao fala, troca ideia. Mano nao dorme, apaga.

Mano nunca ta apaixonado, tá afim. Mano nao namora, dá uns cato. Mano nao mente, dá um migué.

Mano nao ouve musica, curte um som. Mano nao se da mal, a casa cai.

Mano nao acha interesante, acha bem louco.

Mano nao tem amigos, tem uns truta/ uns camaradas Mano nao mora em bairro, se esconde nas quebrada. Mano nao vai para o Guarujá, vai pro litoral.

Mano nao tem namorada, tem mina.

Mano nao faz algo legal, faz umas paradas Firmeza. Mano nao é gente, é mano.

E pra finalizar: "Sangue na veia de mano n corre... tira racha" CERTO, MANO?!18

Após a leitura o professor disse que se os alunos ficassem apenas na variedade social de uso deles, possivelmente, eles não iriam ampliar os conceitos, ou seja, não saberiam mais do que o trivial para a sobrevivência na sociedade em que vivem. Ele continuou dizendo que aprender a ler é saber interpretar. Para tanto, ele trouxe uma leitura que serviria de complemento ao texto do livro didático lido na aula anterior. Ele transcreveu o texto no quadro negro:

Grito Negro

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!

E tu acendes-me, patrão,

para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão

e tenho que arder sim;

queimar tudo com a força da minha combustão. Eu sou carvão;

tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão. Eu sou carvão.

Tenho que arder

Queimar tudo com o fogo da minha combustão.

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Sim!

Eu sou o teu carvão, patrão.

José Craveirinha (autor Moçambicano)19

O professor perguntou aos alunos o que o poema tinha em comum com o tema ‘trabalho’. Um aluno disse que o poema tratava da vida de um escravo. O professor escreveu no quadro negro:

Sentido Real – denotativo Sentido figurado - conotativo

Carvão - negro - escravo (tomada de consciência)

Como na aula anterior os alunos faziam piadas, gracinhas e havia muita conversa. O professor disse: “Se eu fosse meu patrão eu me demitiria, porque essa aula não está com nada”. Como na aula anterior, os alunos começaram a forçar o termino da aula, alguns minutos antes do horário oficial.

AULA 4 – 08/09/11

Os alunos foram liberados e não acompanhamos a aula como o programado. O motivo da dispensa foi a falta de alguns professores por consequência das fortes chuvas que atingiram o estado na semana em questão.

AULAS 5 e 6 – 09/09/11 - Das 20h23 às 21h40

Nessa aula o professor estava com duas turmas ao mesmo tempo, pois as aulas foram antecipadas, por causa da falta de um dos professores. Ficaram para essa aula apenas 3 alunos. O professor iniciou a aula informando que os alunos deveriam fazer um texto narrativo. Eles deveriam transformar a crônica apresentada pelo professor num conto. Ele disse aos alunos: “crônicas são pequenas narrativas que narram coisas do cotidiano”. O professor transcreveu no quadro negro o texto a ser transformado:

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Pequena Crônica Policial

Mário Quintana Jazia no chão, sem vida, E estava toda pintada! Nem a morte lhe emprestara A sua grande beleza... Com fria curiosidade,

Vinha gente a espiar-lhe a cara, As fundas marcas da idade, Das canseiras, das bebidas... Triste da mulher perdida

Que um marinheiro esfaqueara! Vieram uns homens de branco, Foi levada ao necrotério. E quando abriram, na mesa, O seu corpo sem mistério, Que linda e alegre menina Entrou correndo no céu?! Lá continuou como era Antes que o mundo lhe desse A sua maldita sina:

Sem nada saber da vida, De vícios ou de perigos, Sem nada saber de nada... Com a sua trança comprida, Os seus sonhos de menina, Os seus sapatos antigos!20

O professor disse que narrativas podem acontecer em poesia. Disse que o texto exposto era uma poesia que contava um fato. Disse que se tratava de um relato de um crime em forma de reflexão. Ele leu a primeira parte do texto e falou sobre os Pretéritos, por causa do fragmento “Nem a morte lhe emprestara”. O professor explicou assim:

- Pretérito Imperfeito: passado inacabado; - Pretérito Perfeito: ação terminada;

- Pretérito mais-que-perfeito: antes de outra no passado, ou seja, aconteceu um fato anterior;

Ele disse: “Onde reside a grave beleza da morte? Nos velórios, o enfeitar da morte, as flores, etc. Nem isso a personagem tinha”. E escreveu no quadro:

Morte: retorno a origem. “Antes que o mundo lhe desse” – volta do ciclo.

Referências

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