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Rev. Gaúcha Enferm. vol.37 número4

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Revista Gaúcha

de Enfermagem

Como citar este artigo:

Mantovani VM, Silveira CB, Lima LL, Orlandin L, Rabelo-Silva ER, Moraes MA. Comparação da qualidade de vida entre pacientes em lista de espera e pacientes submetidos a transplante cardíaco. Rev Gaúcha Enferm. 2016 dez;37(4):e53280. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2016.04.53280.

doi: http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2016.04.53280

Comparação da qualidade de vida entre

pacientes em lista de espera e pacientes

submetidos a transplante cardíaco

Comparison of quality of life between patients on the waiting list and heart transplant recipients Comparación de la calidad de vida entre pacientes en lista de espera y pacientes sometidos a trasplante cardíaco

a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Hospital São Lucas. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

b Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Enfermagem, Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. c Instituto de Cardiologia (IC-FUC). Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

d Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Escola de Enfermagem. Departamento de Enferma-gem Médico-Cirúrgica. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Vanessa Monteiro Mantovania,b

Cristine Behrend Silveirac

Lidia Lucas Limac

Letícia Orlandinb,d

Eneida Rejane Rabelo-Silvab,d,e

Maria Antonieta Moraesc

RESUMO

Objetivos: Comparar a qualidade de vida (QV) entre pacientes em lista de espera e pacientes submetidos a transplante cardíaco. Métodos: Estudo transversal conduzido com 56 pacientes adultos em duas instituições de referência no sul do Brasil, 9(16%) em lista de espera e 47(84%) transplantados. A coleta de dados ocorreu entre agosto e dezembro de 2012. Utilizou-se o Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36), com escores variando de zero a 100.

Resultados: Houve diferença estatística no escore geral da QV entre os grupos (p=0,010) e em quatro domínios. A média das orde-nações (mean rank) foi igual a 16,9 nos pacientes em lista de espera e 30,7 nos pacientes transplantados. Pacientes em lista de espera tiveram o menor escore no estado geral de saúde (9,1) e maior escore nos aspectos emocionais (24,8); pacientes transplantados apresentaram maior pontuação no estado geral de saúde e pior pontuação na dor (29,1).

Conclusões: A realização de transplante impacta positivamente na QV dos pacientes, quando comparada à CV daqueles em lista de espera. Palavras-chave: Transplante de coração. Qualidade de vida. Equipe de assistência ao paciente.

ABSTRACT

Objectives: To compare the quality of life (QOL) between wait-listed patients and heart transplant recipients.

Methods: Cross-sectional study of 56 adult patients at two institutions in Southern Brazil, 9(16%) wait-listed patients and 47(84%) transplant recipients. Data were collected from August to December 2012. QOL was assessed using the Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36), with scores ranging from zero to 100.

Results: There was statistically signiicant diference between the two groups in the overall QOL score (p=0.010) and in four dimen-sions. The mean rank was 16.9 in wait-listed patients and 30.7 in transplant recipients. Wait-listed patients presented the lowest for general health (9.1) and the highest scores for role-emotional (24.8). Transplant recipients obtained the highest scores for general health (32.2) and the lowest scores for bodily pain (29.1).

Conclusions: Undergoing a transplant has a positive impact on the QOL of recipients compared to that of patients awaiting trans-plantation.

Keywords: Heart transplantation. Quality of life. Patient care team.

RESUMEN

Objetivo: Comparar la calidad de vida (CV) entre pacientes en lista de espera y pacientes sometidos a trasplante cardíaco. Método: Estudio transversal, realizado con 56 pacientes adultos en las dos instituciones más importantes en el sur de Brasil, 9(16%) en lista de espera y 47(84%) sometidos a trasplante de corazón. Los datos fueron recogidos entre agosto y diciembre de 2012. Se utilizó el Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36), con puntuaciones que van de cero a 100.

Resultados: Hubo diferencia estadísticamente signiicativa en la puntuación global de QV entre los grupos (p=0.010) y en cuatro dominios. El promedio de las ordenaciones (mean rank) fue igual a 16,9 en pacientes en lista de espera y 30,7 en pacientes con trasplante. Los pacientes en lista de espera tuvieron la puntuación más baja en la salud general (9.1) y la puntuación más alta en los aspectos emocionales (24.8); pacientes con trasplante mostraron puntuaciones más altas en el estado general de salud y la peor puntuación en el dolor (29.1).

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INTRODUÇÃO

O transplante cardíaco é a melhor modalidade de trata-mento cirúrgico para pacientes com insuficiência cardíaca (IC) refratária, embora exista grande melhora na expecta-tiva de vida com o tratamento clínico. Denomina-se IC re-fratária quando o paciente apresenta sintomas graves, está limitado em suas atividades diárias e com terapias e proce-dimentos que não conseguem mais prolongar a sua vida, condições que representam pior prognóstico(1).

No cenário de transplantes, o Brasil tem guiado con-dutas que são incorporadas principalmente na Amé-rica Latina e no mundo todo, o que coloca o país em destaque e como referência no transplante cardíaco. No entanto, os pacientes listados para transplante cardí-aco pode permanecer por um período prolongado em lista de espera, o que pode resultar na mortalidade que poderia ser evitada pelo transplante(1) e na piora pro-gressiva na qualidade de vida (QV).

A QV é uma preocupação de profissionais da saúde, principalmente para aqueles que assistem pacientes crôni-cos com doenças limitantes, como o caso da IC. A QV pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posi-ção na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações(2).

Em relação à QV de pacientes com IC em lista de trans-plante, sabe-se que há deterioração clínica importante, tra-duzida em dificuldade constante para realizar as atividades diárias e aumento de ansiedade e depressão(3). No entanto, após o transplante, os pacientes tem apresentado maior sa-tisfação com a QV e melhores condições psicossociais, com baixo índice de depressão e sentimentos negativos, princi-palmente em pessoas com 65 anos ou mais, o que reforça o benefício do procedimento para a população idosa(4). Em pacientes mais jovens, a sobrevida após o transplante pode chegar até 20 anos ou mais o que confirma o pro-cedimento como o tratamento padrão ouro para a IC em estágio final(5).

Dentre os diversos instrumentos validados e utilizados para a avaliação da QV relacionada à saúde, o Medical Ou-tcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36) pode ser utilizado na população cardíaca, visto que é composto por questões que avaliam a percepção de saúde através do ponto de vista do paciente(6). No Rio Grande do Sul, es-tado que vem ganhando destaque devido ao aumento das taxas de doação de órgãos, estão localizadas três das 19 equipes de transplante cardíaco do Brasil. No entanto, ne-nhum estudo até hoje foi realizado para comparar a QV dos pacientes em lista para transplante cardíaco e submetidos

ao procedimento nas instituições neste estado. De forma semelhante, este tema é pouco estudado em outras regi-ões do Brasil a partir do SF-36.

Diante do exposto, e por considerar que a avaliação da QV de pacientes em lista de transplante e após a reali-zação da cirurgia é um importante preditor de resultados terapêuticos em diferentes condições clínicas, torna-se re-levante estudar este tema. Visando contribuir com dados de dois centros de referência no estado em realização de transplante cardíaco, este estudo foi delineado para com-parar a QV entre pacientes em lista de espera e pacientes submetidos a transplante cardíaco.

Este estudo irá fornecer aos profissionais da saúde da-dos sobre as alterações físicas e mentais vivenciadas pelos pacientes no momento em que está em lista aguardando um novo coração e após a realização do procedimento. O conhecimento destes parâmetros poderá auxiliar as equipes no entendimento, seguimento e acompanha-mento das dificuldades levantadas, propondo alternativas para alcançar melhores resultados.

MÉTODOS

Estudo quantitativo com delineamento transversal, re-alizado com pacientes adultos em lista de espera e com aqueles já submetidos a transplante cardíaco em duas instituições do sul do Brasil que realizam o procedimento: Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de cardiologia (IC--FUC). Essas duas instituições estão localizadas em Porto Alegre, cidade e capital do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil.

Todos os pacientes em lista de espera e que realizaram transplante cardíaco, e em acompanhamento atual nas duas instituições foram convidados a participar do estudo, independente do tempo de espera e do tempo de trans-plante. No HCPA, havia quatro pacientes em lista de espera e 10 pacientes transplantados. No IC-FUC, havia seis pa-cientes em lista e 49 transplantados, totalizando 10 pacien-tes em lista e 59 transplantados. Dessa maneira, como o número de pacientes foi considerado pequeno e o estudo pretendia incluir todos, não foi realizado cálculo amostral.

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Os participantes elegíveis para o estudo foram abor-dados para a coleta de abor-dados durante as consultas am-bulatoriais e reuniões mensais ocorrentes nas instituições. As coletas foram efetuadas entre agosto e dezembro de 2012. Previamente, foram esclarecidos os objetivos do es-tudo, a garantia de sigilo de suas respostas e foi solicita-do o preenchimento solicita-do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para os pacientes que consentiram a partici-pação no projeto foi aplicado primeiro o instrumento de dados clínicos e demográficos e após o instrumento SF-36. O tempo de entrevista foi de 20 minutos.

Dois instrumentos foram utilizados, um instrumento para caracterizar a população, o qual se constituiu de variá-veis sócio demográficas (sexo, idade, raça, situação socioe-conômica, nível escolar) e clínicas (tempo de IC e etiologia, comorbidades, tratamento farmacológico, tempo de trans-plante e tempo de lista).

O segundo instrumento foi o SF-36, validado no Brasil(6), utilizado para avaliar a QV do ponto de vista do próprio pa-ciente, é constituído 36 itens divididos em oito domínios: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos (quatro itens), dor (dois itens), estado geral de saúde (cinco itens), vitalidade (quatro itens), aspectos emocionais (três itens), saúde mental (cinco itens), aspectos sociais (dois itens) e uma questão comparando a percepção atual da saúde e há um ano. A pontuação varia de zero a 100, onde zero = pior e 100 = melhor para cada domínio. É chamado de raw scale porque o valor final não apresenta nenhuma unidade de medida.

O projeto seguiu a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado pelos comitês do HCPA (nº 66849) e IC-FUC (nº 60497). Todos os participantes assi-naram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias.

Variáveis contínuas foram descritas como média e des-vio padrão ou mediana e intervalo interquartil, e variáveis categóricas foram expressas como frequência absolutas e relativas. A comparação do escore de QV entre os pacien-tes em lista de transplante e transplantados foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Um p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

RESULTADOS

Foram previamente identificados para este estudo 69 pacientes, 10 em lista de espera e 59 submetidos a trans-plante cardíaco nas duas instituições participantes. Dentre os transplantados, dois pacientes foram excluídos por apre-sentarem insuficiência renal crônica, um não aceitou parti-cipar, e nove pacientes não tiveram condições de

compa-Características n = 56

Grupo†

Pacientes em lista de espera 9 (16)

Pacientes transplantados 47 (84)

Sexo, masculino† 43 (76.8)

Cor, branca† 42 (75)

Idade, anos* 55±11

Status proissional†

Aposentado 33 (59)

Afastado 11 (19.6)

Ativos 12 (21.4)

Status conjugal, com companheiro† 49 (87.5)

Anos de estudo* 9.1±4.4

Moram com dois ou mais membros

da família† 28 (50)

Tempo de IC, anos* 19.7±10.3

Etiologias da IC mais prevalentes†

Isquêmica 28 (50)

Valvar 12 (21.4)

Congênita 5 (8.9)

Necessitaram de internação nos

últimos 12 meses† 23 (41)

Motivo da internação†

Exames de rotina 13 (23.2)

Problemas cardiovasculares 6 (10.7)

Procedimento cirúrgico 6 (10.7)

Cirurgia de revascularização do

miocárdio prévia† 18 (32.1)

Intervenção coronariana percutânea 19 (34)

Comorbidades†

Hipertensão arterial sistêmica 43 (76.8)

Dislipidemia 31 (55.4)

Arritmias 25 (44.6)

Diabetes mellitus 18 (32.1)

Tabagismo†

Fumante em abstinência 34 (60.7)

Nunca fumou 22 (39.3)

Atividade física regular† 23 (41.1) Tempo de permanência em lista, meses* 6 (3-9)

Tempo de transplante, anos* 10 (4-13)

Tabela 1 – Características sociodemográficas e clínicas da amostra, Porto Alegre/RS, Brasil 2012

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

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recer, pois moravam no interior do estado. Durante a coleta de dados, um paciente foi removido da lista e realizou o procedimento, como estava sem condições de responder ao questionário também foi excluído. Portanto, 56 pacien-tes foram incluídos na amostra total, sendo 9 (16.0%) em lista de espera para transplante e 47 (84.0%) transplanta-dos. O paciente com o menor tempo de transplante tinha dois meses de cirurgia e o paciente com o menor tempo de espera estava há um mês em lista.

A idade média foi de 55±11 anos, com sexo masculino predominante, 43 (76.8%) dos pacientes. A etiologia da IC mais prevalente foi a isquêmica, presente em 28 (50.0%) pacientes, seguida da valvar, presente em 12 (21.4%) da

amostra. Vinte e três pacientes necessitaram reinternação hospitalar no último ano devido a diferentes causas: 13 (23.2%) das internações foram para realizar exames de ro-tina, 6 (10.7%) para realizar procedimentos cirúrgicos varia-dos e 6 (10.7%) por problemas cardiovasculares.

Dezoito pacientes (32.1%) já haviam realizado cirurgia de revascularização do miocárdio e 19 (34.0%), intervenção coronariana percutânea. Em relação às comorbidades, 43 (76.8%) eram hipertensos, 31 (55.4%) dislipidêmicos e 18 (32.0%) diabéticos. Trinta e quatro pacientes (60.7%) eram fumantes em abstinência e 23 (41.0%) afirmaram realizar atividade física regularmente. Essas e as demais caracterís-ticas estão descritas na Tabela 1.

Em relação ao escore geral de QV, a média das orde-nações (mean rank) foi igual a 16.9 nos pacientes em lista de espera e a 30.7 nos pacientes transplantados, com di-ferença estatisticamente significativa entre os dois grupos (p=0,010). A mediana do valor geral de QV nos pacientes em lista foi igual a 34(10-48), enquanto nos pacientes trans-plantados, esse valor foi igual a 48(48-68), conforme ilustra a Figura 1.

Quando comparados os escores de QV entre os dois grupos de pacientes, pode-se observar que, embora todos os oito domínios do SF-36 tenham apresentado escore maior no grupo que realizou o transplante cardíaco, quatro deles apresentaram diferença estatisticamente significativa: capacidade funcional, estado geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais. Os demais domínios (aspectos físicos, dor, aspectos emocionais e saúde mental) não apresentaram diferença estatisticamente significativa. Pode-se observar que, nos pacientes em lista, a capacidade funcional e es-tado geral de saúde foram os domínios que os pacientes consideraram mais comprometidos (Tabela 2).

Figura 1 – Boxplot comparativo dos valores de qualidade de vida entre os dois grupos. Porto Alegre/RS, Brasil, 2012

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

80,00

60,00

40,00

20,00

,00

Pacientes em lista Pacientes transplantados

38

Grupo

E

stado ger

al da saúde

Domínios Pacientes em lista

de transplante*

Pacientes pós

transplantados* Valor do p

Capacidade funcional 9.5 32.1 < 0.001

Aspectos físicos 22.6 29.6 0.131

Dor 18.2 29.1 0.069

Estado geral de saúde 9.1 32.2 < 0.001

Vitalidade 14.9 31.1 < 0.001

Aspectos sociais 17.6 30.0 < 0.001

Aspectos emocionais 24.8 29.2 0.302

Saúde mental 24.6 29.2 0.439

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

*Os dados estão apresentados na forma de média das ordenações (mean rank).

(5)

DISCUSSÃO

Esse estudo foi desenvolvido para comparar a QV en-tre pacientes em lista de espera e pacientes submetidos a transplante cardíaco. Os resultados identificaram melhor escore de QV nos pacientes transplantados, quando com-parados com os pacientes em lista de transplante cardíaco. Analisando os domínios isoladamente, pôde-se observar que os itens relacionados à capacidade funcional, esta-do geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais foram os que apresentaram diferença significativa entre os grupos. Os demais domínios (aspectos físicos, dor, aspectos emo-cionais e saúde mental) apresentaram escore maior no grupo de pacientes transplantados, porém sem diferença estatisticamente significativa.

No contexto de QV e IC, sabe-se que esse tipo de paciente geralmente sofre grandes alterações em seu padrão e rotina de vida, devido a sua incapacidade de executar determinadas tarefas cotidianas, decorrente dos sinais e sintomas da IC, como dispnéia aos esforços ou ao repouso, ortopnéia, fadiga e edema(7). Também se sabe que entre esses pacientes, o número de readmissões hospitalares é alto. Em um estudo conduzido com 303 pacientes com IC, 69% da amostra estiveram hospitaliza-dos com IC descompensada no último ano. Destes, 32% tiveram pelo menos três readmissões, e 13.5% estiveram hospitalizados pelo menos cinco vezes(8).

Apesar dos avanços significativos nas modalidades de tratamento, o prognóstico dos pacientes com IC segue re-servado(7).Para os pacientes que estão refratários ao trata-mento clinico, e que já possuem algum tipo de dispositivo implantado, como o ressincronizador, e ainda assim con-tinuam com reinternações frequentes e classe funcional extremamente limitante o transplante cardíaco aparece como a única opção de tratamento. Contudo, apenas uma pequena parcela dos pacientes em lista consegue ser be-neficiado com o transplante, pois o número de doadores ainda é limitado, além dos restritos critérios de seleção, que resultam na exclusão de muitos candidatos(9).

No presente estudo, a mediana de tempo em lista foi igual a seis meses, sendo que houve pacientes que espe-raram até cinco anos por um coração. Nesse grupo de pa-cientes, a QV foi significativamente inferior quando com-parada com o grupo dos pacientes pós-transplantados. No Brasil, um estudo publicado em 2009 procurou avaliar a QV de pacientes aguardando para transplante na cidade de São Paulo, e os resultados identificaram que 17% dos pa-cientes incluídos classificaram o seu estado de saúde como muito ruim, 44% relataram como ruim, e 39% achavam que seu estado de saúde era bom(10).

Desde a sua primeira realização, em 1967, o transplante cardíaco vem se afirmando como tratamento de escolha para a IC refratária. O aprimoramento das técnicas cirúr-gicas, o desenvolvimento de um sistema padronizado de biópsia miocárdica e o descoberto de medicamentos imu-nossupressores vem melhorando as perspectivas de vida dos pacientes submetidos ao transplante. Hoje, a mediana de tempo de vida após a realização do transplante aumen-tou 10 anos e hoje os pacientes vivem em média 20 anos com melhor QV(5,11). Esses dados estão de acordo com os resultados encontrados no presente estudo, onde a media-na de tempo de transplante foi igual a 10 anos de sobrevi-da, sendo que o paciente com mais tempo de transplante possuía 23 anos de cirurgia.

Na literatura internacional, os resultados são semelhan-tes. Em um estudo prospectivo recentemente publicado, dados de 133 pacientes transplantados há 20 anos ou mais foram avaliados. A idade média dos sobreviventes de 20 anos na época do transplante foi de 43 anos. As taxas de sobrevida no primeiro, segundo e vigésimo anos foram 82.7%, 63.9% e 55.6%, respectivamente(5).

Um estudo polonês recente encontrou resultados se-melhantes para a QV. Nesse estudo, 63 pacientes trans-plantados responderam perguntas relacionadas a sua vida antes e depois do transplante. Os resultados demonstra-ram que a QV, em uma escala de 10 pontos, aumentou de 3.16±1.47 para 7.60±1.21, com diferença estatisticamente significativa. Além disso, 59 (93.7%) da amostra percebe-ram significativa melhora na QV após o transplante(12).Esses achados reafirmam o transplante como uma modalidade de tratamento capaz de aumentar a estabilidade e melhor a QV de pacientes com IC.

Em relação ao estado civil, 87.5% dos pacientes do nosso estudo são casados ou possuem companheiro, e 98.2% dos pacientes moram com companheiro ou com dois ou mais membros da família. Esses dados são impor-tantes, pois sabe-se que o transplante cardíaco exige uma grande demanda de apoio por parte da família na prepa-ração e principalmente no pós-operatório, com comple-xa readequação na dinâmica familiar, devido ao risco de infecção e rejeição(13).

(6)

es-tilo de vida, como pôde ser comprovado nesse estudo, onde mais da metade dos pacientes apresenta hiperten-são e dislipidemia, e uma parcela importante arritmias e diabetes mellitus.

É importante ressaltar que o objetivo do transplante não é somente prolongar o tempo de vida, mas também melhorar a sua qualidade e promover ao paciente um re-torno normal às suas atividades. Em um estudo canaden-se publicado em 2010, foi utilizado o SF-36 para avaliar a dor em 92 pacientes que realizaram transplante cardíaco. Os resultados identificaram que quase 46% dos pacientes reportaram no mínimo dor leve, e 21%, dor moderada ou severa(14). Além disso, sintomas físicos como fadiga, falta de energia e nervosismo estão associados a pacientes que re-alizaram transplante cardíaco, persistindo por mais de um ano após a cirurgia, e podem ser uma barreira para atingir melhores escores de QV ao afetar o bem-estar mental, so-cial e físico(15). Esses dados estão de acordo com o nosso estudo, que não encontrou diferença estatisticamente sig-nificativa nos domínios dor e aspectos físicos, entre os dois grupos de pacientes.

A ausência de diferença estatística no domínio aspec-tos físicos é esperada, considerando que pacientes trans-plantados geralmente possuem capacidade reduzida de exercício. Nesse sentido, estudo brasileiro teve como objetivo avaliar a evolução de 14 pacientes após quatro anos de transplante cardíaco, por meio do teste de cami-nhada de seis minutos. Os resultados demonstraram que as respostas cardiovasculares dos pacientes estiveram abaixo do estimado, com diminuição de 11.6% na distân-cia percorrida quando comparada à distândistân-cia estimada. Por esses motivos, a atividade física deve ser iniciada pre-cocemente para o restabelecimento da capacidade física, possibilitando que os transplantados voltem a realizar a maioria de suas atividades(16).

Em relação aos domínios aspectos emocionais e saúde mental, ambos também não apresentaram diferença esta-tisticamente significativa entre os dois grupos. Segundo a literatura, sintomas depressivos são comumente encontra-dos em pacientes transplantaencontra-dos, sendo um encontra-dos principais fatores associados à QV após o transplante(17). Esses sinto-mas justificam a necessidade da realização de intervenções para modificar os sentimentos e pensamentos negativos e aumentar a QV.

É importante destacar que, apesar dos pacientes transplantados terem apresentado valores mais altos no escore geral de QV e com diferença significativa em alguns domínios, observa-se que a média dos escores permanece baixa. Corroborando com estes escores, achados de um estudo conduzido com nove pacientes transplantados em

um centro de transplantes brasileiro demonstrou que os pacientes após o transplante reconhecem as mudanças positivas adquiridas com o procedimento no que se refere aos sintomas clínicos. Contudo, os pacientes referiram per-da de autonomia e muitas restrições, o que exige constan-te adaptação ao estilo de vida após o transplanconstan-te(18).

Seguindo essa mesma linha, estudo italiano teve como objetivo descrever a QV de 122 pacientes transplantados 10 anos após a realização do procedimento. Os resulta-dos demonstraram que a QV física foi significativamente menor do que o esperado para a população em geral, bem como os domínios capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais e as-pectos emocionais. Os autores concluíram que o trans-plante cardíaco está associado com uma elevada QV em longo prazo, no entanto, fatores que afetam a QV devem ser identificados a fim de buscar o melhor tratamento(19). Esses dados são semelhantes ao presente estudo e po-dem explicar porque os escores não passaram de 32.1 no grupo dos pacientes transplantados.

Sabe-se que poucos pacientes retornam às ativi-dades de trabalho após o transplante, e que variáveis clínicas, como a dor e depressão, podem ser fatores li-mitantes(20). Portanto, os achados desse estudo permi-tem inferir que o acompanhamento sispermi-temático dos pacientes por equipe multiprofissional pode colaborar no entendimento de fatores associados a sua condição, colaborando no retorno as suas atividades normais e na minimização do sofrimento, tanto na lista de espera como no período após o transplante.

Limitações

Como limitação do estudo salienta-se uma única me-dida da QV. Além disso, a avaliação em diferentes fases do seguimento para um mesmo paciente poderia trazer re-sultados diferentes. Frente a isso, sugere-se a realização de novos estudos com acompanhamento rigoroso de ambos os grupos, com o objetivo de auxiliar e fazer o paciente en-xergar possibilidade de melhores escores de QV.

CONCLUSÃO

(7)

realização do transplante e seu importante impacto na QV. Apesar de todos os riscos que envolvem o transplante car-díaco, essa modalidade cirúrgica, quando executada com sucesso, possibilita ao paciente melhora na QV.

REFERÊNCIAS

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Autor correspondente:

Eneida Rejane Rabelo-Silva E-mail: eneidarabelo@gmail.com

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Tabela 2 – Comparação do escore de qualidade de vida estratificada por domínios. Porto Alegre/RS, Brasil, 2012

Referências

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