• Nenhum resultado encontrado

Rev. Bras. Reumatol. vol.49 número4

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Rev. Bras. Reumatol. vol.49 número4"

Copied!
1
0
0

Texto

(1)

EDITORIAL

335

Rev Bras Reumatol 2009;49(4):335-6

A

cada consulta médica ressurge o desaio do diag -nóstico. Os médicos travam uma batalha constante

para deinir um diagnóstico que explique as queixas

que levaram o paciente ao consultório. Em situações

de conlito de interesse, surge até a questão de sabermos se

existe alguma doença. Com o avanço da tecnologia na área da saúde e as facilidades por ela proporcionadas, surgiram novas

diiculdades na vida do médico no exercício diário de sua proissão. Se mais detalhes nos são apresentados com novas tecnologias, o seu signiicado é muitas vezes incerto, e de um

modo geral o aumento da sensibilidade é acompanhado pela

diminuição da especiicidade de seus resultados. Esse fato é,

sobretudo, verdadeiro no diagnóstico por imagem do aparelho locomotor. “Alterações” em pacientes assintomáticos e “nor-malidade” em pacientes sintomáticos são uma constância em nossa prática diária, mas as situações mais difíceis aparecem quando estamos diante de um paciente sintomático com uma “anormalidade” na imagem. O que poderia nos garantir uma relação entre os dois? Se existe uma baixa correlação clínico- radiológica, onde estaria a doença?

Cada vez mais estudos e guias de conduta estimulam o médico a não pedir exames em demasia. Do ponto de vista da economia da saúde, eles não são custo efetivo, e do ponto de vista do interesse do paciente, eles não resolvem seu problema e muitas vezes levam a mais exames e consultas desnecessários e à iatrogenia. Infelizmente, a maneira mais rápida de encerrar uma consulta sem deixar o paciente infeliz é solicitar um exa-me e dizer que o diagnóstico depende dele, acobertando uma anamnese e exame físico pobres.

Em um estudo publicado na Radiology em 2005,1os pa-cientes com lombociatalgia aguda sem sinais de alerta (red

lags) foram submetidos a exame de ressonância magnética na primeira consulta e randomicamente; metade dos exames foram mostrados ao médico- assistente e a outra metade não. Não houve diferença na evolução entre os dois grupos, o que demonstra que nesses casos este exame não deve ser pedido na primeira consulta. Apesar disso o que vemos em nossos pronto-socorros mais equipados é exatamente o contrário: os exames são feitos com uma facilidade que nos dá a impressão

de que as solicitações têm por objetivo de amortizar o custo do equipamento e amenizar a insegurança do médico, não o interesse do paciente.

O estudo publicado nesta revista pelo Professor Feldman e sua equipe2 corrobora esta impressão de que andamos em um pântano cheio de ciladas.

Seria preditivo de doença um exame que é positivo em apenas 20% dos indivíduos com dor em ombro? Ou ainda, seria preditivo de doença um exame que pode estar alterado em 5% de indivíduos assintomáticos? Apesar da diferença estatística, estes números demonstram pouca diferença do ponto de vista clínico.

Neste cenário, os exames devem ser solicitados criterio-samente. Seus resultados apenas podem ser valorizados à luz de uma boa anamnese e exame físico. Não devemos tratar o exame e sim o paciente.

Sendo saúde o bem-estar físico, mental e social do indi-viduo, alguém que procura o médico devido à dor no ombro está doente, mesmo que seu ultrassom esteja normal; enquanto alguém sem queixas não está doente, mesmo com alterações em seu ultrassom de ombro. Ainda poderíamos discutir sobre o indivíduo que tem dor no ombro e nunca procurou o mé-dico ou reclamou do sintoma antes de ser questionado, mas continua trabalhando normalmente na indústria onde a equipe do Professor Feldman foi selecionar sua amostra, mas esta é uma outra história...

Jamil Natour

Professor Livre Docente da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo.

REFERÊNCIAS

1. Modic MT, Obuchowski NA, Ross JS, Brant-Zawadzki MN, Grooff PN, Mazanec DJ et al. Acute low back pain and radiculopathy: MR

imaging indings and their prognostic role and effect on outcome.

Radiology 2005;237(2):597-604.

2. Maeda EY, Helfenstein Jr M, Ascencio JEB, Feldman D. O ombro

em uma linha de produção: estudo clínico e ultrassonográico. Rev

Bras Reumatol 2009;49(4):379-490.

A doença do ponto de vista do paciente

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste trabalho foi realizar o inventário florestal em floresta em restauração no município de São Sebastião da Vargem Alegre, para posterior

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

Em níveis a partir de 28%, o aumento nos teores de fibra em detergente neutro oriunda de forragem considerada de maturidade avançada implica redução no consumo de matéria seca,

Vários traba- lhos na literatura abordam a associação entre asma e obesidade infantil em diferentes estudos epidemiológicos, com definições heterogêneas para asma e obesidade e OR

Ao se traçar uma ampla visão sobre os aspectos da mediação privada, abordando o tema de forma interdisciplinar sociologia, economia, direito visando à delimitação e construção de

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

Ainda nos Estados Unidos, Robinson e colaboradores (2012) reportaram melhoras nas habilidades de locomoção e controle de objeto após um programa de intervenção baseado no clima de