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Open ARRUAR: a produção de um site de jornalismo independente utilizando a estética do jornalismo literário

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO – PPJ

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM JORNALISMO

RAFAELA ALVES NÓBREGA GAMBARRA

ARRUAR: A PRODUÇÃO DE UM SITE DE JORNALISMO INDEPENDENTE

UTILIZANDO A ESTÉTICA DO JORNALISMO LITERÁRIO

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RAFAELA ALVES NÓBREGA GAMBARRA

ARRUAR: A PRODUÇÃO DE UM SITE DE JORNALISMO INDEPENDENTE

UTILIZANDO A ESTÉTICA DO JORNALISMO LITERÁRIO

Relatório apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba como trabalho de conclusão do mestrado em Jornalismo, sob orientação do Prof. Dr. Thiago Soares.

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G188a Gambarra, Rafaela Alves Nóbrega.

ARRUAR: a produção de um site de jornalismo independente utilizando a estética do jornalismo literário / Rafaela Alves Nóbrega Gambarra.- João Pessoa, 2016.

105f. : il.

Orientador: Thiago Soares

Relatório (Mestrado) - UFPB/CCTA

1. Jornalismo. 2. Webjornalismo. 3. Jornalismo independente. 4. Jornalismo literário.

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RAFAELA ALVES NÓBREGA GAMBARRA

ARRUAR: A PRODUÇÃO DE UM SITE DE JORNALISMO INDEPENDENTE

Relatório apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Jornalismo outorgado pela Universidade Federal da Paraíba.

APROVADO EM 27/09/2016

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Claúdio Paiva

Prof. Dra. Fabiana Moraes

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AGRADECIMENTOS

Ao meu avô, a quem dedico este trabalho, porque “de todo amor que eu tenho, metade foi tu que me deu” – e a outra metade, ele me ensinou a cultivar.

A minha avó, igualmente importante, pedra firme e rocha sobre a qual se edificou nossa família.

A minha mãe – Eliane Alves de Melo – e meu pai – Torbes Marcius Nóbrega Gambarra – por carregar não só seus sobrenomes, mas também seu sangue e os ensinamentos de que pra vencer, é preciso lutar. E a força para isso.

A minha irmã e meu cunhado, principalmente por terem me dado os dois melhores presentes da minha vida: meus sobrinhos.

Ao meu noivo, Jonathan Feitosa, pelo carinho e, sobretudo, pelo incentivo em trilhar os caminhos desse Mestrado. Pelos almoços corridos, os fins de semana cansados e, sobretudo, por compreender essa minha paixão louca pelo jornalismo.

Ao meu orientador, Thiago Soares, que há tanto tempo me acompanha nessa jornada

acadêmica, e que tantas vezes me serviu de inspiração nesse universo poético-jornalístico. Obrigada.

Às amigas, que passe o tempo que for, continuam presentes, sendo elas, também, com suas histórias e desavenças, motivos que me inspiram a escrever. Helene, Isabelle, Priscilla, Ingrid, Mirela e Priscila. Depois de quinze anos, tenho o direito de dizer que vocês são, também, minha família.

Aos jornalistas Valéria Sinézio e Francisco França, por terem aceitado essa empreitada, de braços abertos, acreditando na prática do bom jornalismo, com ética e paixão.

A Ricardo Oliveira, pela disposição de sempre de enfrentar novos projetos, com ideias fascinantes e o brilho nos olhos de quem ama o que faz.

Aos professores e colegas feitos em sala de aula, por esses dois anos de tanto sufoco, novos obstáculos e conhecimentos.

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"Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas,

mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma

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RESUMO

Este trabalho propõe a produção de um site de jornalismo independente que tenha suas matérias escritas utilizando a estética do Jornalismo Literário, com o intuito, portanto, de unir algumas das modalidades que vislumbram o novo, seja no jornalismo, seja no mundo digital – o site ARRUAR. Para isso, realizamos um estudo bibliográfico e documental sobre os seguintes temas: webjornalismo, jornalismo independente e Jornalismo Literário. Buscamos apreender as novas possibilidades que a Internet trouxe para o mundo do jornalismo e quais mudanças essa realidade trouxe à prática da profissão. Observamos a emergência do jornalismo digital e do jornalismo independente, analisando o movimento disruptor (CHRISTEN, 2012) empreendido por essa nova forma de prática jornalística. Parte-se do mapa do jornalismo independente no Brasil lançado pela Agência Pública para pensar um modelo de negócio para o site Arruar. Em relação ao jornalismo literário, apresentamos as características do gênero (PENA, 2006; WOLF, 2005), e uma breve trajetória histórica da união entre Jornalismo e Literatura no Brasil e no mundo. Na parte metodológica do projeto, explicamos as seções que irão conter o site (grandes reportagens, perfis, fotojornalismo e

curadoria das redes sociais) assim como os procedimentos metodológicos utilizados para sua produção (escolha do nome, domínio do site, escolha das cores, escolha da tipografia, criação da logo, uso do Wordpress, redes sociais, métodos de financiamento e método canvas business). Por fim, apresentamos o relatório das primeiras reportagens produzidas, assim como da produção do layout, fazendo algumas considerações sobre o caminho trilhado e as possibilidades que surgem para essa nova perspectiva de atuação.

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ABSTRACT

This work proposes the production of an independent journalism website whose articles are written in the light of the Literary Journalism aesthetics, which aims to unite modalities that envisage the new, either in journalism or in the digital world – the website ARRUAR. For this purpose, studies both bibliographical and documental were conducted on the following topics: webjournalism, independent journalism and Literary Journalism. We seek to understand the new possibilities brought by the Internet in Journalism and how it affects the journalistic practice. At the same time, with the emergence of both the digital and independent journalism, we analyse the disruptor movement (CHRISTEN, 2012) attempted by these new journalistic practices. Taking into account the map of independent journalism in Brazil released by Agência Pública, we think about a business model for the website Arruar. Regarding the literary journalism, we present the characteristics of this genre (PENA, 2006; WOLF, 2005) and a brief historical background on the relationship between Journalism and Literature in Brazil and the world. In the methods, we explain the sections held on the website (investigative reporting, profiles, photojournalism and social media content curation) as well

as the procedures applied (name choice, site domain, colour, typography, logo, Wordpress use, social media, funding and business model canvas). At last, we present a report about the first articles, as well as layout production, making some considerations on the trodden path and possibilities arising from this new perspective.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015...12

Tabela 01 – Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015...13

Tabela 02 – 20 sites mais populares na rede...58

Figura 01 – Referências utilizadas para criação da logo...56

Figura 02 – Logotipo do site e negativo do logotipo...57

Figura 03 – Como funciona o Catarse?...61

Figura 04 – Layout da página inicial do ARRUAR...73

Figura 05 – Layout da página SOBRE do ARRUAR...74

Figura 06 –Layout da página “Assine” do ARRUAR...75

Figura 07 – Layout da página de contato do ARRUAR...76

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SUMÁRIO

1 ERA UMA VEZ O PASSARALHO... 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 14

2.1 WEBJORNALISMO... 14

2.1.1 A internet e as mudanças no modo de se fazer o jornalismo... 15

2.1.1.1 Um pouco de história... 15

2.1.1.2 Uma nova dinâmica de vozes... 19

2.1.2 E o jornalismo? Onde (e como) fica?... 21

2.1.2.1 As diferenças entre o jornalismo “tradicional” e o webjornalismo... 21

2.1.2.2 Webjornalismo: modo de fazer... 23

2.2 JORNALISMO INDEPENDENTE... 25

2.2.1 A emergência do jornalismo digital e do jornalismo independente... 25

2.2.2 O movimento disruptor... 27

2.2.3 Jornalismo independente como modelo de negócio... 30

2.2.4 O mapa do jornalismo independente no Brasil... 32

2.2.5 Caminhos já trilhados... 34

2.3 JORNALISMO LITERÁRIO OU O IMPÉRIO DOS FATOS E O JARDIM DA IMAGINAÇÃO... 37

2.3.1 As espécies do jardim... 37

2.3.2 A trajetória histórica... 39

2.3.3 O momento atual do jornalismo literário no Brasil... 42

3 METODOLOGIA... 42

3.1 GRANDES REPORTAGENS... 46

3.2 PERFIS... 49

3.3 FOTOJORNALISMO... 51

3.4 CURADORIA DAS REDES SOCIAIS... 53

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 55

4.1 ESCOLHA DO NOME... 55

4.2 ESCOLHA DO DOMÍNIO... 55

4.3 ESCOLHA DAS CORES... 55

4.4 ESCOLHA DA TIPOGRAFIA... 56

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4.6 USO DO WORDPRESS... 57

4.7 REDES SOCIAIS... 57

4.8 MÉTODOS DE FINANCIAMENTO... 60

4.9 MÉTODO CANVA BUSINESS... 65

5 RELATÓRIO... 66

5.1 PAUTAS... 66

5.1.1 Dez anos da lei Maria da Penha... 66

5.1.2 Microcefalia... 68

5.2 REPORTAGENS... 69

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 81

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 83

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1 ERA UMA VEZ O PASSARALHO

Passaralho: jargão jornalístico para as demissões em massa nos meios de comunicação. De acordo com a Agência Pública1, agência de reportagem e jornalismo investigativo, "passaralho é um jargão agressivo para as demissões em massa nos meios de comunicação. Remete a pássaros, revoadas de algo que destrói tudo por onde passa".

Segundo levantamento feito pelo Volt2, por meio de dados obtidos pela contagem do número de demissões a partir de informações de sites especializados, como o Portal Imprensa, o Portal dos Jornalistas e o Portal Comunique-se, de 2012 a 2015, pelo menos 1084 jornalistas foram demitidos; e, além disso, foram 3568 demissões, incluindo dispensas gerais feitas por empresas de mídia. Mesmo que os números sejam assustadores, a publicação avisa que é válido ainda fazer uma ressalva: esse número certamente é muito maior. Afinal, muitas notícias não discriminavam quantos jornalistas foram demitidos, apenas os números totais. E, também, a informalidade no setor impedia de contabilizar a demissão de um jornalista contratado como Pessoa Jurídica ou terceirizado.

O fato é que depois de, durante várias décadas, os jornais trazerem em suas manchetes

pesquisas relacionadas ao desemprego, ao fechamento de fábricas e indústrias, desta vez é a própria indústria da informação que desponta com seus próprios números infelizes, causando aflição até nos jornalistas mais otimistas.

Na Paraíba, a situação não é diferente: após o fechamento do Jornal O Norte, em 2012, 2016 foi o ano em que o Jornal da Paraíba tirou o impresso de circulação. Fora isso, diversos outros veículos também realizaram demissões, a exemplo da TV Tambaú, TV Correio e Portal Correio. De acordo com informações do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, considerando o ano de 2015 e os primeiros quatro meses de 2016, foram realizadas 113 demissões em veículos de comunicação do Estado.

Alguns, diante das atuais circunstâncias, bradam aos quatro ventos que o jornalismo está morto. Fica a dúvida, no entanto, se o jornalismo sequer admite essa característica. Tendo existido desde os tempos mais remotos, por mais que tenha, em diversos momentos, mudado sua ‘carcaça’3

, o jornalismo em nenhum momento deixou de existir. O que está morrendo,

1

Disponível em <http://apublica.org/2013/06/revoada-dos-passaralhos/> 2

Disponível em: <https://medium.com/volt-data-lab/a-conta-dos-passaralhos-953e7e254d4a#.tr7m0uii9> Acesso em: 1 junho 2016.

3No livro Mutação no Jornalismo, Thaís Jorge (2013, p. 152) afirma que “a notícia começou no jornalismo oral,

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portanto, é a velha forma de fazer jornalismo: o jornalismo feito dentro de grandes corporações, com empresas que ditam as ideologias estampadas nas páginas dos jornais. Esse é o momento de se reinventar.

Diante deste cenário, é válido, ainda, observar outras informações: de acordo com dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), divulgados no relatório de atividades e de liberdade de imprensa da Associação Nacional de Jornais (ANJ), de janeiro de 2014 a junho de 2015 (período compreendido pela pesquisa), no total de jornais auditados, as edições digitais cresceram de 427.370 para 641.776 (+50%), enquanto as edições impressas diminuíram de 3.834.613 para 3.505.838 (-8,6%), resultando numa diminuição da circulação total de 4.261.983 para 4.147.614 (-2,7%).

Ainda de acordo com a pesquisa, considerando-se apenas os jornais cujas edições digitais são auditadas pelo IVC, tem-se que a circulação total aumentou de 2.420.048 para 2.455.449 (+1,5%), com a participação de edições digitais no total crescendo de 17,5% para 26,1%.

Gráfico 1 – Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015

(15)

Tabela 01 – Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015

Fonte: Instituto Verificador de Comunicação

Os números, portanto, mostram aquilo que, diariamente, vê-se no próprio cotidiano: o mundo digital tem invadido as casas, escritórios e o próprio modo de viver do ser humano. Jornalistas têm se deparado com esse novo universo, cheio de possibilidades, mas muitos, ainda, encontram-se de mãos atadas diante do novo, lamentando a morte do jornalismo escrito na folha de papel.

Este projeto tem como intuito unir algumas modalidades que vislumbram o novo, seja no jornalismo ou, mesmo, no mundo digital. São elas: o webjornalismo, o jornalismo literário, o jornalismo independente e, ainda, o crowdfunding. Dessa forma, o site ARRUAR busca uma nova forma de fazer jornalismo, deixando para trás o passaralho e, quem sabe, indo em

busca de uma nova revoada.

(16)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 WEBJORNALISMO

Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura (1999), apresenta, logo em sua introdução, aquilo que continuaria sendo o cerne das questões relacionadas ao mundo digital até os dias atuais: a cibercultura como um ambiente inédito para mudanças qualitativas na ecologia dos signos. Considerado por muitos um otimista, esse seu posicionamento não significava, no entanto, que acreditasse que a Internet resolveria, em um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta. Na verdade, sua forma de ver o surgimento da internet de maneira confiante se devia ao reconhecimento de dois fatos:

Em primeiro lugar, que o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômicos, político, cultural e humano. (LÉVY, p. 11, 1999)

Quase duas décadas se passaram desde então e, até hoje, as inúmeras possibilidades que a internet traz continuam despertando o desejo de – jovens ou não – buscarem maneiras de experimentar. E, nos dias atuais, de maneira cada vez mais consistente, os jornalistas aparecem também como protagonistas nesta busca. Afinal, velhas instituições como a grande mídia e o jornalismo impresso têm perdido paulatinamente seus espectadores.

Se, décadas atrás, já se apontavam as possibilidades que o mundo digital traria para a sociedade e se enfatizavam as potencialidades que este novo mundo descortinaria como um novo espaço de comunicação, hoje, portanto, é inegável: os bits tecnológicos já invadiram o

próprio dia a dia do ser humano.

Diante deste cenário, o jornalista surge, então, como o ator que pode, dentro da

(17)

Em um estudo abrangente sobre os problemas do jornalismo e sua superação no ambiente digital, intitulado "Post-Industrial Journalism - Adapting to the present", ou "Jornalismo Pós-industrial - Adaptação aos novos tempos", na tradução brasileira, os autores afirmam:

O jornalismo expõe a corrupção, chama a atenção para a injustiça, cobra políticos e empresas por promessas e obrigações assumidas. Informa cidadãos e consumidores, ajuda a organizar a opinião pública, explica temas complexos e esclarece divergências fundamentais. O jornalismo exerce um papel insubstituível tanto em regimes democráticos como em economias de mercado. A atual crise de instituições norte-americanas de jornalismo nos convence de duas coisas. A primeira é que não há como preservar ou restaurar o jornalismo no formato praticado ao longo dos últimos 50 anos. E a segunda é que é mister que busquemos, de modo conjunto, novas saídas para o exercício de um jornalismo capaz de evitar que os Estados Unidos descambem para a venalidade e a pura defesa de interesses pessoais. (ANDERSON, C.W; BELL, Emily; SHIRKY, Clay, 2012)

Aqui, cabe a observação: como a indústria jornalística norte-americana teve sua fórmula reproduzida no Brasil, cuja receita vinha majoritariamente da propaganda, o volume e o preço dos anúncios eram ditados pela circulação e audiência, e um pequeno grupo de corporações dominava a cadeia de valor, da produção à distribuição das informações (LACERDA, 2016, p. 24), cabem, portanto, as mesmas análises à indústria jornalística brasileira.

Mas quais seriam, afinal, essas novas saídas para o exercício do jornalismo, em um

ambiente, agora, digital?

2.1.1 A internet e as mudanças no modo de se fazer o jornalismo

2.1.1.1 Um pouco de história

O desenvolvimento da internet no século XX constitui um marco na história da humanidade, tendo provocado mudanças em vários segmentos da vida social - entre eles, na comunicação. Isso porque, com ela, criaram-se novos dispositivos de distribuição de informação, alterando profundamente as relações comunicacionais. A partir de então,

surgiram novos atores, quebrando-se o monopólio das grandes agências de notícias e empresas de comunicação, criando "uma nova relação de força na política que pode ser

(18)

O modelo de comunicação "todos-todos", oriundo da popularização da internet e da web, ganhou força com o surgimento de ferramentas que propiciam o que Lemos (2002) chamou de "liberação do polo emissor", permitindo que qualquer internauta publique informação na rede e reconfigurando o cenário midiático (AQUINO, 2009, p. 237)

Se formos ao cerne de quando começaram a existir os primeiros indícios desse novo modelo de comunicação, chegamos ao ano de 1957, no lançamento do primeiro satélite artificial da Terra pela então União Soviética.

Quando o lançamento do primeiro Sputnik assustou os centros de altas tecnologias estadunidenses, a ARPA empreendeu inúmeras iniciativas ousadas, algumas das quais mudaram a história da tecnologia e anunciaram a chegada da Era da Informação em grande escala. (CASTELLS apud PRADO, 2011, p. 10)

Devido à Guerra Fria, portanto, deu-se o surgimento da Internet. Isso porque, em resposta ao avanço tecnológico russo, o presidente dos Estados Unidos da América, Eisenhower, ordenou o desenvolvimento do que seria conhecido como Arpanet, uma rede de computadores montada pela Advanced Research Projects Agency (ARPA), em setembro de 1969 (CASTELLS, 2001, p. 13).

O objetivo desse departamento (nota do autor: o Information Processing Techniques Office, fundado em 1962), tal como definido pelo seu primeiro diretor, Joseph Licklider, um psicólogo transformado em cientista da computação no Massachusetts Institute of Technology (MIT), era estimular a pesquisa em computação interativa. Como parte desse esforço, a montagem da Arpanet foi justificada como uma maneira de permitir aos vários centros de computadores e grupos de pesquisa que trabalhavam para a agência compartilhar on-line tempo de computação. (CASTELLS, 2001, p. 14)

A tecnologia, porém, foi se desenvolvendo de forma a servir aos interesses da guerra: a proposta oferecida ao Departamento de Defesa previa a construção de um sistema militar de comunicações capaz de sobreviver a um ataque nuclear. Os primeiros nós da rede estavam em

universidades: na Universidade da Califórnia em Los Angeles, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e na Universidade de UTAH. Já em 1971, havia 15 nós, porém a maioria

continuava em centros universitários de pesquisa.

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Em fevereiro de 1990, a Arpanet, já tecnologicamente obsoleta, foi retirada de operação. Dali em diante, tendo libertado a Internet de seu ambiente militar, o governo dos EUA confiou sua administração à National Science Foundation. Mas o controle da NSF sobre a Net durou pouco. (...) A NSF Tratou logo de encaminhar a privatização da Internet. O Departamento de Defesa decidira anteriormente comercializar a tecnologia da Internet, financiando fabricantes de computadores dos EUA para incluir o TCP/IP em seus protocolos na década de 1980. Na altura da década de 1990, a maioria dos computadores nos EUA tinha capacidade de entrar em rede, o que lançou os alicerces para a difusão da interconexão de redes. (idem, p. 15)

A partir daí deu-se início ao crescimento vertiginoso de uma rede global de computadores. É válido ressaltar, no entanto, que outros eventos levaram à formação da Internet, como a criação, em 1977, do programa MODEM, que permitia a transferência de arquivos entre seus computadores pessoais; a criação da FIDONET, em 1983; e diversas outras ações que ocorreram por parte tanto das próprias universidades como de empresas da época. Como este trabalho, porém, pretende apenas apresentar um breve panorama sobre o surgimento da Internet, não irá se deter em tantos detalhes.

Vale ressaltar ainda, no entanto, o desenvolvimento da world wide web (www), em

1990, por um programador inglês, Tim Berners-Lee. De acordo com Castells (2001), ele definiu e implementou o software que permitir obter e acrescentar informação de e para qualquer computador conectado através da Internet: HTTP, MTML e URI (mais tarde chamado de URL). Ainda de acordo com Castells, em colaboração com Robert Cailliau, Berners Lee construiu um programa navegador / editor em dezembro de 1990, e chamou esse sistema de hipertexto de world wide web, a rede mundial. Depois disso, hackers do mundo inteiro passaram a tentar desenvolver seus próprios navegadores, o que deu vida ao primeiro navegador comercial, o Netscape Navigator em outubro de 1994, que foi lançado gratuitamente para fins educacionais e ao custo de 39 dólares para uso comercial. Em 1995, porém, quando a Microsoft descobriu a Internet, lançou junto com seu software Windows 95 o seu próprio navegador, o Internet Explorer.

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Antes de dar início, porém, à reflexão sobre as mudanças que o surgimento da Internet causou, faz-se necessário observar, paralelamente, as alterações que ocorreram no mundo do jornalismo durante a mesma época.

De acordo com Prado (2011), em 1969, já havia o videotexto na BBC e o infobank no The New York Times. Em 1971, deu-se início à produção digital nas redações, graças à invenção do microprocessador pelo engenheiro da Intel, Ted Hoff. Entre 1972 e 1973 foi criado o e-mail e bancos de dados eram usados no jornalismo, citando como exemplo o Philadelphia Inquirer. Simultaneamente, agências de notícias começaram a adotar a produção digital e em 1974 a agência Reuters passou a trabalhar com o videotexto. Ainda na década de 1970, surgiu o BBS (bulletin board systems, ou, em tradução, quadro de avisos), mais precisamente em 1978, primeiro nos Estados Unidos e depois no mundo inteiro.

Já no início da década de 1980, em 1983, a Revista Time coloca o PC (computador pessoal desenvolvido pela IBM) no lugar do "Homem do Ano". Em 1985, ao mesmo tempo em que é lançado o Windows, cerca de 50 jornais já ofereciam bancos de notícias on-line.

Em 1990, a Agência Estado lança o serviço Broadcast. E paralela à invenção da www, surgiu também a primeira ferramenta para busca na internet, o Archie.

Paralelamente à entrada dos jornais na rede é que os motores de busca ficaram mais conhecidos e usados para facilitar a procura de páginas na internet, através de palavras-chave, substituindo o que antes era a tarefa árdua de ficar tentando descobrir, entre acertos e erros - muito mais erros -, o nome correto da página com toda a sua extensão, sem esquecer nenhuma letra ou sinalzinho. Normalmente, quem fazia isso eram os webmasters. Alguns, muito espertos, eram aplaudidos pela redação toda quando conseguiam achar uma página procurada. (PRADO, 2011, p. 16)

Ainda segundo a autora, 1992 é um outro marco brasileiro, com a cobertura on-line da Eco-92, ganhando destaque os sites da CNN e do Chicago Tribune.

Quando a internet veio à tona, finalmente, em 1995, - e aqui chegamos ao ponto de intersecção com o desenvolvimento da internet - a Agência Estado foi a primeira empresa de informação brasileira a ter um site. Já o primeiro jornal foi o Jornal do Brasil, o JB (cujo fim da edição impressa foi anunciado em 2010, passando a ser disponível apenas em sua edição on-line), que lançou a primeira cobertura completa em 28 de maio de 1995. Também no ano de 1995 o jornal Folha de S. Paulo coloca na web sua primeira página.

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Finalmente, chegando ao ano 2000, tem-se um outro marco no jornalismo brasileiro: o lançamento do Último Segundo, o primeiro jornal feito exclusivamente para a Web.

O que se deseja destacar aqui é que o surgimento da Internet e, anteriormente, do próprio desenvolvimento de tecnologias que lhe dariam origem, fizeram com que o jornalismo passasse por grandes mudanças, sendo que, por um lado, se fez com que fosse necessário para o jornalista se reinventar, aprendendo a lidar com todo esse novo mundo de bits que se descortinava a sua frente, também trouxe ao próprio jornalismo novas possibilidades de se apresentar, causando alterações não só no modo como a informação era produzida, mas, também - e principalmente - na maneira como quem estava do outro lado - seja o leitor, o ouvinte ou o telespectador - as recebia.

Mas que mudanças a Internet foi capaz de causar na sociedade e, mais especificamente, no jornalismo?

2.1.1.2 Uma nova dinâmica de vozes

Com o surgimento da internet, houve uma mudança no âmbito da comunicação, sobretudo no que diz respeito à produção de conteúdo. Henry Jenkins, um dos maiores teóricos da área, analisa essas transformações por meio da utilização de três conceitos: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva.

Em primeiro lugar, para que se possa compreender a nova dinâmica de vozes que hoje ecoam ao redor de todo o mundo, tem-se a ideia da chamada cultura participativa, que

(...) contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. (JENKINS, 2009, p. 30)

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consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos.

A convergência, portanto, não ocorre por meio dos aparelhos, mas, sim, dentro dos cérebros dos consumidores individuais: a mudança não é apenas de ordem material, mas, sobretudo, intelectual. E daí advém, também, a noção de inteligência coletiva.

(...) O consumo tornou-se um processo coletivo - e é isso o que este livro entende por inteligência coletiva, expressão cunhada pelo ciberteórico francês Pierre Lévy. Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades. A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura de convergência. (JENKINS, p. 28)

Resgatando, novamente, Pierre Lévy, em verdade, percebe-se que, quando cunhou o termo "inteligência coletiva", era ainda o ano de 1994, ou seja, muitas mudanças, ainda, iriam acontecer no campo das tecnologias, o que iria possibilitar cada vez mais o fomento desse conceito, embora seja necessário pontuar, aqui, que segundo Lévy (1999), as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura, e não simplesmente projetos artificiais que se desenvolvem sozinhos. A análise mais profunda desse ponto, porém, não é ao que diz respeito esse trabalho.

O que interessa, porém, é outro fato: se, a princípio, quando Lévy cunhou tal termo, observando-se o contexto, via-se que o mundo estava em época de desvincular-se de uma duradoura divisão ideológica - entre capitalistas e socialistas -, e a ideia da "inteligência coletiva" ressaltava a importância de existirem outros caminhos de inserção dos indivíduos em comunidades que não fossem caracterizadas por identidades étnicas, nacionais ou religiosas, percebe-se também que o uso das tecnologias iria estimular, cada vez mais, essa construção do laço social baseado no saber, tendo em vista que, entre todas as tecnologias, a Internet se destaca nesse sentido, pois tornou possível a criação de vínculos entre os mais distantes pontos do mundo ou, na linguagem de Pierre Lévy, condicionou a sociedade à

criação de novos vínculos e à uma nova forma de se organizar, baseada na inteligência coletiva.

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Devido a seu espaço participativo, socializante, descompartimentalizante, emancipador, a inteligência coletiva proposta pela cibercultura constitui um dos melhores remédios para o ritmo desestabilizante, por vezes excludente, da mutação técnica. (LÉVY, 1999, p. 30).

Apoiando-se nesta ideia, por sua vez, chega-se a uma outra característica - ou mudança, melhor dizendo - que a Internet trouxe. Segundo Lévy,

Quanto mais os processos de inteligência coletiva se desenvolvem - o que pressupõe, obviamente, o questionamento de diversos poderes - melhor é a apropriação, por indivíduos e por grupos, das alterações técnicas, e menores são os efeitos de exclusão ou de destruição humana resultantes da aceleração do movimento tecno-social. (LÉVY, 1999, p.29)

No campo dos mídias, buscando mais uma vez Henry Jenkins, um dos grandes teóricos sobre o tema, e trazendo à tona novamente a questão da mídia, é possível

compreender melhor as atuais circunstâncias se tivermos em mente as noções de funções massivas e funções pós massivas. De acordo com Jenkins, meios como as rádios e as TVs utilizam-se de funções massivas que são voltadas para uma massa heterogênea – um público-alvo que não se conhece e que, se interage, o faz em níveis baixos de troca informacional com o polo emissor; já os novos meios e novas tecnologias – como os blogs, os podcasts, wikis e fóruns de discussões – estariam se utilizando de funções pós-massivas, para os quais o importante não é o alcance em termos quantitativos essencialmente, mas a informação transmitida com pessoalidade e sem influência de poderes estatais ou de mercado.

2.1.2 E o jornalismo? Onde (e como) fica?

2.1.2.1 As diferenças entre o jornalismo “tradicional” e o webjornalismo

Em primeiro lugar, é importante atentar-se a um fator bastante peculiar dessa nova

fase do jornalismo: como o custo infinitamente menor da produção do webjornalismo comparado à indústria do jornalismo convencional, com suas antenas de transmissões e parques gráficos, facilita o surgimento quase que diário de inúmeros sites. E não só sites jornalísticos produzidos por jornalistas, de fato. Há, também, os blogs4 - veículos digitais que propiciaram o fortalecimento da liberação do polo emissor, contribuindo de forma bastante enfática para quebrar o monopólio da grande mídia como detentora de todas as informações.

4 O termo weblog foi primeiramente usado por Jorn Barger, em 1997, para referir-se a um conjunto de sites que colecionavam e divulgavam links interessantes na web. O termo é uma versão reduzida da palavra weblog”.

“Web”, portanto, viria de World Wide Web (rede de alcance mundial), já “log” viria da prática de se utilizar um

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Do ponto de vista jornalístico, embora os blogs tenham sido inicialmente percebidos de forma pejorativa pelos profissionais da área como "diarinhos adolescentes na web" e tendo sua legitimidade como fonte de informações comumente questionada, essas críticas foram paulatinamente diminuindo e até mesmo grandes portais passaram a criar blogs para seus funcionários.

De acordo com Foletto (2009), a efetiva aproximação dos weblogs com o jornalismo teve como marco inicial o ano de 2001, principalmente com os atentados terroristas às Torres Gêmeas do World Trade Center em 11 de setembro, quando testemunhos pessoais sobre determinados acontecimentos, situações ou lugares passaram a ganhar importância como informação de relevância jornalística.

Vale, ainda, ressaltar um fator: com o surgimento de ferramentas de publicação como o Blogger e o Wordpress (sendo este último, inclusive, o que será utilizado para a produção do site objeto desta dissertação), os blogs passaram a ser rapidamente adotados e apropriados para os mais diversos usos e, assim, foram surgindo blogs especializados em cultura, blogs de guerra, blogs de Pessoas com Necessidades Especiais (PNE). Por outro lado, essas mesmas ferramentas passaram a ser utilizadas para o desenvolvimento não só de blogs (aqui entendido

como um formato específico de atualização de página da web, baseado em porções de conteúdo dispostas em ordem cronológica inversa e que pode apresentar recursos adicionais típicos, como comentários, blogroll e trackback (ZAGO, 2008, p. 5)), mas também de sites de uma maneira geral, como sites jornalísticos - ou a prática do chamado jornalismo independente que será visto mais a frente.

No sentido de aumentar as possibilidades de dar voz ao leitor, também observam-se as redes sociais, comunidades virtuais e comunidades de discussão.

É comum ver perguntas nas redes sociais, como Twitter ou Facebook, sobre assuntos que frequentam os noticiários; porém, as pessoas estão se acostumando a questionar diretamente por meio dessas redes. "Como está o tempo no litoral norte de São Paulo?" É possível também buscar dados dando o nome de determinada praia. Fazem isso em vez de procurar algum site com serviço de meteorologia. O comportamento do internauta e de quem usa a internet também para trabalhar é alterado com as facilidades que a rede proporciona. E, claro, que ele vai procurar o melhor jeito de informar, ser informado e depois ainda praticar a cultura colaborativa, compartilhando o que soube com seus pares (PRADO, 2011, p. 54)

Diante desse novo cenário, com tantas possibilidades se abrindo (ou já estando abertas), é de se pensar qual passaria a ser, afinal, a função do jornalista nos próximos anos, ou, mesmo, nos dias atuais. Em artigo do blog The Roofer of the matter, em que são citados

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Emily Bell, são feitas previsões de como seria o jornalismo em dez anos. Entre as previsões, destaca-se a de número 3:

(...) jornalistas terão que ser confiáveis, fidedignos - os leitores poderão - e irão - usar os comentários para colocar pingos nos is, acrescentar informações, desconstruir barrigas. O sucesso de um jornalista dependerá de seu conhecimento e de sua capacidade de escrever coisas com credibilidade. (idem, p. 39)

Credibilidade. Eis aí a palavra-chave para o desenvolvimento do jornalismo nos dias atuais. Por mais que existam inúmeras fontes de informação por meio das quais os cidadãos podem se manter informados, a sociedade continua visando um canal por meio do qual possa confiar na capacidade do jornalista profissional de exercer suas habilidades de checar a informação, ouvir as fontes, confirmar dados e lhe dar, enfim, uma informação segura (ou, ao menos, mais segura do que as que circulam pela rede). Pesquisa realizada pelo Ibope em 2014, a pedido da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do Governo Federal, apontou que 57% das pessoas que pesquisam notícias na web o fazem por meio de sites de jornais.

Com a crescente demissão dos jornalistas, porém, dos grandes meios de comunicação, e o aumento das possibilidades de produzir conteúdo digital propiciadas pela Internet, surge, portanto, para os jornalistas uma nova possibilidade: a de produzir o jornalismo independente. Dessa maneira, uma nova janela se abre não só para os leitores, mas, também, para o próprio

jornalista: agora ele não precisa mais depender de um grande veículo de mídia para realizar seu trabalho de maneira isenta, sem as ideologias da empresa, e honesta.

2.1.2.2 Webjornalismo: modo de fazer

De acordo com Prado (2011), com o estabelecimento da internet na rotina de quem faz jornalismo e de quem o consome, faz-se necessário atentar para

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Além de todos esses pontos, é necessário destacar também outras características como, por exemplo, a mudança que ocorreu no próprio perfil do jornalista enquanto profissional. Agora, exige-se dele a compreensão do meio digital e de suas ferramentas: o jornalista deve estar apto para lidar com as mais diversas possibilidades multimídias, como tirar fotos, gravar áudios, editar imagens e saber ao menos construir conteúdo para um infográfico. Se antes as funções dentro de uma redação eram especializadas, agora o jornalista tornou-se uma espécie de multitarefeiro. Para Prado (idem), não basta mais só saber redigir. O mercado carece e prefere que o jornalista saiba, de forma extremamente profissional, utilizar-se das mais diversas mídias.

Tira-se daí uma conclusão lógica: se para o profissional que trabalha com o webjornalismo é necessário saber manusear todas essas possibilidades multimídias, isso quer dizer, então, que o jornalismo na web é, naturalmente, multimídia. Não se trabalha apenas com o texto, mas há a possibilidade de se ter, na mesma página, inúmeras outras informações em variados formatos, seja por meio da imagem, do som ou mesmo do vídeo.

Outra possibilidade que se abre com a internet é a de se conhecer cada vez melhor a audiência. Atualmente, não é necessário esperar que cheguem cartas à redação, por exemplo,

com críticas ou elogios à determinada matéria. O próprio Google Analytics (serviço gratuito oferecido pelo Google de monitoramento e tráfego) mostra, em tempo real, qual a preferência do leitor. Fora isso, com a possibilidade de interagir com o conteúdo, por meio dos comentários, é possível também para o leitor deixar ali sua crítica ou opinião, tornando-se também protagonista do processo de produção de informação.

Há, claro, nesse processo de tornar-se protagonista do processo de produção de informação, uma possibilidade mais extrema, que é o chamado jornalismo cidadão (ou jornalismo colaborativo, ou participativo). Esse formato, porém, não será utilizado pelo site objeto deste trabalho. Trata-se do jornalismo em que o próprio leitor envia textos ou fotos para determinada mídia, informação essa que irá (ou não) passar por um processo de checagem por jornalistas próprios do veículo, e que depois será publicada, com sua assinatura. Outro atributo da internet que favorece a produção de textos jornalísticos mais ricos é o hiperlink. Através do uso dos links, é possível "suitar" a informação, dando ao leitor uma possibilidade de leitura muito mais completa e, ao jornalista, a possibilidade de não ter seu texto cortado para que caiba na página do jornal.

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dando mais espaço a textos mais subjetivos, como é o caso do Jornalismo Literário, que será melhor abordado mais a frente.

Nesse contexto, a própria mídia se exterioriza, deixando visível seu funcionamento de bastidores. Sendo assim, a mídia não mais diz apenas o que é verdade e o que tem importância, mas passa também a mostrar as incertezas do mundo, deixando claro que as coisas não são dadas mas construídas (idem, p. 50)

Uma maneira de se apresentar esses bastidores da redação na notícia on-line é, por exemplo, quando há a atualização de alguma informação, seja porque houve um erro, indicando sua correção, seja quando surgiu alguma nova informação relacionada ao fato, quando há o seu update.

Ainda, no que diz respeito à internet, há a chamada personalização: tanto os sites podem monitorar o rastro do usuário, observando quais tipos de informações mais lhe agradam, criando seções como "as mais lidas" ou "o que você pode gostar de ler", como, também, o leitor pode criar sua própria página com suas preferências, por meio dos RSS. Assinando o RSS de temas que lhe interessem ou mesmo de sites ou colunistas que mais lhe agradam, o leitor cria sua ferramenta particular de leitura, deixando para trás a página criada pela própria empresa e tendo acesso apenas ao conteúdo que lhe convém.

2.2 JORNALISMO INDEPENDENTE

2.2.1 A emergência do jornalismo digital e do jornalismo independente

Com a chamada revolução digital, muitas mudanças ocorreram no campo do jornalismo, não só nas empresas da grande mídia, como a Agência Estado ou a Folha de S. Paulo, por exemplo, que passaram a tentar se adaptar a esse novo meio, mas, por outro lado, devido às possibilidades que a Internet gerou, com a liberação do polo emissor (LEMOS, 2006), criou-se um ambiente propício para o desenvolvimento do webjornalismo independente.

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desse movimento, sobressai-se uma celebrada autonomia editorial e um discurso que retoma o jornalismo com foco no interesse público e no fortalecimento da democracia. (LACERDA, 2016, p. 15)

O contexto da abertura do mundo digital, portanto, atrelado às seguidas demissões que ocorreram nas grandes empresas de comunicação, fez com que começasse a se instituir, no Brasil, o webjornalismo independente. Nesse contexto, grupos de jornalistas se unem a equipes multidisciplinares formadas por designers, programadores, administradores entre outros para dar aos brasileiros acesso à informação de qualidade e formadora de opinião pública que fortaleça os princípios de uma sociedade mais justa e igualitária. (RAMOS, SPINELLI, 2015).

Por mais que a expressão "jornalismo independente" possa, a princípio, parecer redundante – afinal espera-se de todo jornalismo que, de fato, atue com independência, fiscalizando os poderes, observando o cumprimento dos direitos sociais e dando voz aos valores democráticos – o que se percebe, no entanto, é que a expressão aqui é utilizada com o intuito de se enfatizar sua independência em relação à grande mídia, ou seja, aos interesses ideológicos que muitas vezes encontram-se por trás da falsa ideia de objetividade que é passada para o leitor em materiais jornalísticos produzidos por esse setor. Essa, no entanto, não é uma discursão de que queira se ocupar este trabalho. Vale ressaltar, também, que no jornalismo independente, ele é independente da grande mídia, porém o jornalista assume, sim,

um lado: o do cidadão.

Para Lacerda (2016), a origem desse movimento emergente se deu com as manifestações ocorridas em todo o Brasil no ano de 2013. De acordo com a autora, ao ter asseguradas condições básicas de sobrevivência, parte da população que antes se encontrava em situação de miséria passou a exprimir uma consciência cidadã, presente no discurso de uma série de manifestações populares realizadas no país (LACERDA, 2013). Sendo assim, a nova cena jornalística digital passou a apresentar um discurso sintonizado com o que se ouviu nas manifestações. Se antes era predominantemente pautado pelas classes econômicas e políticas dominantes, o mapa jornalístico brasileiro começa a exibir uma maior diversidade, reaproximando-se de valores democráticos fundamentadores da atividade no século 20 (KOVACH; ROSENSTIEL apud LACERDA, 2016).

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Em entrevista realizada com Natália Viana, diretora da Agência Pública, um dos exemplos mais consistentes de jornalismo independente do país, para o site da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – em razão do aniversário de cinco anos da agência, em março de 2016, ela afirma que, em sua avaliação, no ano anterior houve uma explosão de iniciativas de jornalismo independente.

Já havia algumas iniciativas fundadas antes, mas a maioria surgiu nos últimos 12 meses. Vejo uma preocupação grande em produzir jornalismo diferente, instigante, e crescentemente um compromisso em cobrir o que não é bem coberto pela imprensa tradicional; daí o surgimento de muitos sites voltados para nichos de assuntos ou regionais. Há uma grande diversidade de formatos e visual dos sites, assim como do público alvo, e a grande maioria é tocada por jovens jornalistas. Há ainda pouca clareza sobre como essas iniciativas conseguirão a sustentabilidade ao longo prazo, mas há muita disposição e abertura para tentar caminhos diferentes. Finalmente, eu vejo um compromisso e um entusiasmo grande com o simples fazer jornalístico, o que já por si demonstra um ambiente de frescor em uma área que tem sofrido muito com a crise do modelo tradicional e o pessimismo que a acompanha. (VIANA, 2016)

2.2.2 O movimento disruptor

Um dos grandes trunfos dos sites que se enquadram dentro do que se é considerado de jornalismo independente está no fato de que enquanto os grandes meios têm apostado em soluções que insistem em, simplesmente, transpor para o digital aquilo que vinha se fazendo no modelo analógico, o chamado webjornalismo independente vai por outro caminho, apostando em novas iniciativas e utilizando-se das possibilidades que o universo digital oferece.

Desde a época em que foi inventada, há quase 600 anos, por Johannes Gutenberg, a imprensa vem se baseando em um modelo de negócio rentável, com receitas provenientes da publicidade e da venda de jornais. Segundo Costa (2014), porém, desde a emergência das

novidades trazidas pela tecnologia e pela comunicação em rede, vêm acontecendo "cortes de custos, queda de faturamento com publicidade, perda de leitores e diminuição do tamanho".

Assustadas com a situação, as empresas vêm, a todo custo, tentando se reerguer. As atitudes, porém, para conseguir tal feito, mostram-se muitas vezes impotentes. Referindo-se ao que ocorreu com o New York Times, que viu sua receita cair, entre 2000 e 2012, de 3,5 bilhões de dólares para 1,9 bilhão de dólares, Costa (2014) afirma:

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As mesmas observações, porém, podem ser feitas se observados os jornais nacionais e, também, locais. Fato é que o Jornal da Paraíba, por exemplo, com exatos 45 anos de fundação, teve sua versão impressa fechada no ano de 2016, enquanto que sua versão online ainda buscava maneiras de se manter. Primeiramente, com o lançamento do portal, foi feito apenas a transposição do material que era veiculado no jornal para a versão on-line; depois, criou-se uma equipe formada por quatro jornalistas e dois estagiários para que produzissem material exclusivo para o on-line (enquanto esse ficaria aberto ao público, aquele que era publicado no jornal impresso também estaria disponível no site, porém só teria acesso a ele os leitores que fossem assinantes do portal); com o fechamento da versão impressa, porém, o portal passou a ser alimentado apenas pela produção da equipe do on-line (que continuou se resumindo a quatro jornalistas e dois estagiários), e todas as matérias, portanto, passaram a ser abertas a todos os leitores.

Percebe-se, aí, portanto, que a grande mídia, de fato, tem tido problemas em enfrentar a crise a que foi submetido o jornalismo industrial: veem-se no dilema entre fechar o conteúdo e apostar na receita advinda das assinaturas ou abrir o conteúdo e apostar na receita advinda da publicidade. Um entrave, no entanto, deixa essa equação um pouco mais complexa: se, por

um lado, ao fechar o conteúdo e apostar nas assinaturas, os donos dos jornais tenham que competir com uma larga escala de conteúdo gratuito que é oferecido pelos demais sites, observando-se a opção de apostar na publicidade, eles se deparam com um fato um tanto quanto inusitado. Acontece que a publicidade que antes era veiculada no impresso não migrou para o digital (COSTA, 2014).

Pior, em alguns casos, evaporou, sumiu das páginas, impressas ou digitais, dos veículos de comunicação. Foi parar em outros lugares. No Google, no Facebook, no YouTube, no MSN ou no Yahoo – ou no UOL, no Terra ou G1 no Brasil. Principalmente nos veículos digitais que conseguem uma larga escala de audiência. Escala nacional em muitos casos. Escala mundial em alguns casos.

Não é de se estranhar, portanto, que aqueles que tenham uma “mãe-analógica” tenham dificuldade em encontrar novos caminhos na era dos bits.

Para Costa, se quiser se reinventar no modelo digital e tornar-se um empreendimento digital de jornalismo, é necessário, sobretudo, reinventar-se.

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Aparece, nesse momento, a noção de inovação disruptiva, aqui entendido como o conceito criado por Clayton M. Christensen (2012), em que avanços tecnológicos impulsionam possibilidades e públicos inesperados, e não o aperfeiçoamento de produtos e serviços, como frequentemente vem sendo feito. Seria necessário, portanto, para a indústria jornalística entender o momento disruptivo pelo qual passa.

Em "Um modelo de negócio para o jornalismo digital" (2014), após pesquisa realizada na Columbia University Graduate School of Journalism, ao tentar responder à grande questão de como seria possível enfrentar os novos desafios dessa realidade, Costa enumera algumas possíveis saídas baseadas, sobretudo, na necessidade de se investir em tecnologia. Segundo ele, os fundamentos para esta nova cadeia de valor, do ponto de vista estratégico, pode ser resumido em:

1) não tem medo de reinventar a empresa, de começar do zero e nem de buscar colaboração dos jovens, os nativos digitais; 2) entender que a indústria do jornalismo na era industrial era um negócio de distribuição e que a nova realidade pede um serviço cuja administração da relação digital com o consumidor passa a ser a chave estratégica; 3) investir em tecnologia; 4) produzir informação de acordo com o espírito de cabeças nascidas digitais (e não analógicas), mirar no público jovem; 5) sintonizar a empresa jornalística com a realidade do compartilhamento da informação e da sua superdistribuição – buscar escala na rede; 6) ampliar o leque de serviços que a empresa jornalística tradicionalmente proporciona, no sentido da oferta de novos produtos e serviços. (COSTA, 2014)

E, no fim, ainda complementa: "Fazer tudo isso sem medo de errar. Porque o erro faz parte do negócio".

No que diz respeito ao caso específico do Jornal da Paraíba, citado anteriormente, é válido, obviamente, fazer uma ressalva. Em 2014, o veículo lançou o Clube Jornal da Paraíba, programa em que, através da interação com o site, os leitores podiam acumular pontos e, assim, trocá-los por benefícios. Quanto mais participasse, mais o sócio teria chances de acumular pontos e trocar pelas recompensas, que variavam entre os mais diversos serviços, como restaurantes, barbearias, ingressos para shows, bônus em lavanderias, etc. A ação assemelha-se a uma das elencadas pelo autor como forma de se inserir no meio digital: "algo

no estilo programa de milhagem das empresas aéreas. Além de agregar os diferentes serviços oferecidos, tem possibilidade de apelo para parcerias com terceiros, na área de produtos ou de

serviços" (idem). Acontece, no entanto, que ao fechar as portas da versão impressa, o Clube Jornal da Paraíba também deixou de existir.

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possuem uma empresa-mãe analógica pode complexificar ainda mais a questão, diferente do que ocorre com aqueles que já nascem no mundo digital, como os sites de jornalismo independentes aqui referidos.

2.2.3 Jornalismo independente como modelo de negócio

Para as empresas que já nascem no formato digital, "livres da influência de uma mãe educada na indústria tradicional do jornalismo industrial" (COSTA, 2013), as tendências disruptivas apresentam-se com maior naturalidade. No Brasil, é possível verificar as alternativas que o jornalismo independente tem utilizado para se manter observando o Mapa do Jornalismo Independente, desenvolvido pela Agência Pública, sobre o qual será feito uma análise mais atenta a frente. O mapa apresenta 70 iniciativas de jornalismo independente no país. Atendo-se ao mapa, percebe-se que essas alternativas variam entre: publicidade no site; doação de pessoas físicas e jurídicas; crowdfunding; editais; trabalhos em parcerias com ONGS e movimentos sociais; oficinas, cursos e eventos beneficentes; patrocínio por leis de incentivo; palestras e projetos especiais; publicação de livros; projetos de brand content;

investidor; e venda de camisetas.

Voltando-se mais uma vez para o exemplo da Agência Pública, pode-se observar que este site, em particular, faz uso de outra alternativa: o financiamento realizado por instituições internacionais, como a Fundação Ford e a Open Society.

Nosso maior apoio é da fundação Ford. Mas, no começo, Natália e eu trabalhamos às nossas custas, fazendo frilas. Depois da Ford, conseguimos também patrocínio da Open Society e, hoje, fechamos projetos com patrocínios específicos. Um desses casos foi nossa série sobre a Amazônia, em que tentamos construir reportagens que pudessem trazer uma realidade mais compreensível do que o modo fragmentado como essa região é tratada na imprensa. O projeto foi patrocinado pela Climate and Land Use Alliance (Clua). Ao pedir patrocínio, apenas mostramos o projeto e, se a organização gostar, financia. A Clua não leu nada antes da publicação. Também não aceitamos encomendas, só trabalhamos com nossas próprias pautas. Temos três temas eleitos como prioritários: Amazônia, Copa do Mundo e tortura (direitos humanos). (VIANA, 2013)

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fundadores do E-Bay, doou um real para cada um real arrecadado junto ao público, o que garantiu o valor necessário para distribuição de 12 bolsas para os repórteres de todo o Brasil. O voto online dos financiadores que definiu quais seriam essa dúzia de pautas financiadas para publicação no decorrer do ano de 2014 (BRAGANÇA, 2015). Embora a meta fosse de R$ 47.500, a campanha conseguiu arrecadar R$ 58.935.

Por fim, vale ainda ressaltar a possibilidade do próprio leitor doar uma quantia para a agência, opção que é apresentada no fim da página e possibilitada pelo uso de ferramentas como o PagSeguro e o PayPal. Por meio dessas ferramentas, o leitor que escolhe a quantia que deseja doar para o site.

Com esses tipos de ações, a Pública se desvincula da necessidade de publicidade para que consiga se manter, buscando alternativas de financiamento "que não interfiram no teor de suas publicações nem no aspecto estético – não há no site da agência nenhum banner de propaganda seja de empresa ou do poder público –, quanto no conteúdo produzido" (idem, 2015).

Outro exemplo que merece destaque no que diz respeito à forma de financiamento é o site da ONG Repórter Brasil, cujo foco são matérias referentes ao trabalho escravo e à

promoção de direitos humanos (mais detalhes serão dados mais adiante). De acordo com o tópico "Transparência", no próprio site5, a ONG possui convênios com agências das Nações Unidas e instituições norte-americanas e europeias e projetos desenvolvidos com o apoio de institutos e fundações brasileiras, além de pesquisas em parceria com universidades brasileiras e europeias.

Conta também com recursos de convênios com instituições federais via editais públicos, apenas para a área de educação, e com governos estaduais, Ministério Público e Poder Judiciário. E com doações, apoios, patrocínios e anúncios de empresas que atuam em território nacional e recebemos doações de pessoas físicas interessadas em apoiar nossos projetos. (REPÓRTER BRASIL, 2016)

Aqui, ressalta-se também a possibilidade do próprio leitor poder financiar o site. Por meio do link "Doe para a RB", o leitor é encaminhado para uma página cujo título é "Com apenas R$ 9,00 por mês, você ajuda a combater o trabalho escravo no Brasil". Caso resolva assinar, R$ 9 serão descontados mensalmente do cartão de crédito do leitor e, de acordo com a página "todos os apoiadores receberão, ao final de cada ano de sua contribuição, um relatório digital mostrando como a Repórter Brasil aplicou o seu dinheiro, e um balanço feito por uma empresa independente de auditoria".

5

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Ainda de acordo com a página de Transparência do site, em 2011 a organização foi reconhecida pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o que permitiu o recebimento de doações dedutíveis do imposto de renda por parte de empresas que se identificam com o trabalho e os valores defendidos pela instituição; em 2011, passou a receber doações diretas de pessoas físicas, "o início da construção de mecanismos para garantir e fortalecer a independência financeira da organização"; por fim, em 2013, foi lançada a campanha de assinaturas, referida acima.

De acordo com o balanço patrimonial divulgado no site do Repórter Brasil do ano de 2014 (o de 2015 ainda estava sendo produzido durante a realização deste trabalho de dissertação), a ONG recebeu um total de R$ 1.934.221,93 divididos entre doação por doadores (doadores, convênios e parcerias) e outras receitas, o que, debitados os custos (com recursos humanos, despesas com manutenção, despesas gerais e investimentos), rendeu um superávit bruto de R$ 11.787,35.

Iniciativas como essas – da Agência Pública e do Repórter Brasil – apontam para um caminho de sustentabilidade para o jornalismo independente no país. É válido ressaltar, no entanto, que dos 70 exemplos de jornalismo independente elencados pelo mapa do jornalismo

independente da Pública, pouquíssimos, ainda, conseguem se manter (na ficha de cada uma, é comum a observação "ainda não consegue se manter"). As possibilidades que se abrem nesse novo universo, porém, e o fato de que algumas dessas iniciativas já têm dado sinais de que podem dar certo, é reflexivo de que, de fato, a palavra de ordem desse jornalismo pós-industrial é experimentar. E, sempre, relembrando a cada instante, as tais palavras de Costa (2014): "Fazer tudo isso sem medo de errar. Porque o erro faz parte do negócio".

2.2.4 O mapa do jornalismo independente no Brasil

A Agência Pública, um dos projetos pioneiros no jornalismo digital independente no Brasil, lançou, em março de 2016, um mapa do jornalismo independente, com o intuito de mapear as iniciativas no país. São levados em consideração três critérios para que a iniciativa seja considerada como tal: terem nascido na rede, serem fruto de projetos coletivos e, ainda, não serem ligados a grandes grupos de mídia, políticos, organizações ou empresas.

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jornalístico? Possui caráter comercial? Qual é a missão da sua organização? Há quanto tempo a organização existe? Como a sua organização se mantém? Qual é a figura jurídica? Qual(is) a(s) cidade(s) de nascimento da iniciativa e de cobertura atual? Qual é a principal plataforma?

Após o recebimento das respostas, algumas iniciativas foram retiradas por não se encaixarem nos critérios definidos pela pesquisa. O site, no entanto, ainda possui o espaço destinado ao leitor sugerir uma iniciativa para fazer parte do mapa. Ao todo, são cerca de 70 sites listados, cada um com uma breve descrição do que se trata e em que área foca, e as seguintes informações: de onde é?; como se mantém?; e o link tanto para o site como para suas redes sociais.

De acordo com a descrição do mapa, blogs não foram incluídos, por, geralmente, serem iniciativas individuais, com tom pessoal, não necessariamente jornalístico e sem a pretensão de se tornarem veículos autossustentáveis, "uma das marcas desta geração que está surgindo no jornalismo nacional" (PÚBLICA, 2016).

O lançamento do mapa marcou, ainda, a contagem regressiva para a inauguração da Casa Pública, o primeiro centro cultural de jornalismo do país, com a missão de discutir, apoiar e fortalecer o jornalismo independente e inovador no Brasil e na América Latina. O

centro foi inaugurado no mesmo mês, no Rio de Janeiro. Durante o evento que marcou seu lançamento, a diretora da Agência Pública, Natália Viana, explicou que durante dois anos a Casa teria apoio de quatro fundações internacionais que financiam projetos de direitos humanos e jornalismo independente.

É um espaço para reflexão, troca e incentivo para quem está produzindo jornalismo independente no Brasil. É uma tentativa de olhar para frente, para o que vai ser o jornalismo e como podemos ajudar ao movimento de novas iniciativas que estão pipocando pelo Brasil afora, criadas por jornalistas com o objetivo de voltar à raiz do jornalismo, que é a independência editorial, e como ajudar a fortalecer esse movimento. (...) É um espaço para apostar no novo, no que vai ser o jornalismo. Todo mundo sabe que o jornalismo está em crise, há um questionamento, uma crise de confiança, econômica e cultural. A forma como as pessoas consomem jornalismo mudou. Queremos trazer o jornalista para conversar com o público sobre isso (VIANA, 2016)

Em seu site, a Casa Pública declara que atua em três frentes: 1) eventos: exibições de documentários investigativos, exposições de fotojornalismo, workshops e debates; 2) visitas/residência de jornalistas estrangeiros; 3) laboratórios de produção jornalística com foco em transmídia e tecnologia aplicada ao jornalismo.

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sobre os impactos causados no Brasil pela Olimpíada e a Copa do Mundo. Foram selecionados quatro repórteres, que ficarão hospedados na Casa Pública entre 20 de julho e 20 de agosto, por pelo menos 15 dias. No total, foram recebidas 177 inscrições de 42 países. Os vencedores são do Chile, Equador, Quênia e Itália / França.

2.2.5 Caminhos já trilhados

Para que se possa dar sequência à produção de uma nova plataforma de jornalismo independente, é necessário, sobretudo, atentar-se ao caminho já trilhado pelas demais iniciativas que, hoje, contam com certa credibilidade no cenário midiático brasileiro. Para isso, esta pesquisa debruçar-se-á sobre a história de dois exemplos, já citados anteriormente: a Agência Pública e o Repórter Brasil.

A agência Pública foi fundada em 15 de março de 2011, pelas jornalistas Mariana Amaral, Natália Viana e Tatiana Merlino – sendo que esta última saiu do projeto ainda no primeiro ano. Sua proposta, desde o início era "contribuir para fomentar e melhorar o jornalismo independente praticado no país" (VIANA, 2014).

Sentimos que era necessário ter um grupo independente de jornalistas dedicados a fazer jornalismo investigativo, que é uma área do jornalismo que está em crise no mundo inteiro — aí sim, por causa do modelo de negócios, que é o da mídia de massas. Um modelo que visa ao lucro. O jornalismo investigativo leva muito tempo para ser produzido, ele não é lucrativo, ele nem sempre vende. No entanto, é extremamente necessário para a democracia. Esse tipo de iniciativa já existe em vários países do mundo, nos Estados Unidos existe desde o final da década de 1970. São organizações sem fins lucrativos cujo objetivo é fazer jornalismo com viés público, jornalismo investigativo, jornalismo sem ser partidário. (VIANA, 2014)

Enquanto que Marina Amaral havia sido fundadora e dona da revista Caros Amigos durante dez anos (saindo em 2007), à época, Natália Viana tinha 10 anos de formada e estava desiludida com o jornalismo – sensação que tem sido bastante frequente nos jornalistas diante dos passaralhos dos últimos anos. Ao sair da universidade, trabalhou como frila na área de livros infantis da Editora Ática, depois na revista Caros Amigos, fazendo frilas para o Estadão e a Abril para complementar a renda, e depois fez mestrado de radiojornalismo em Londres. Quando voltou de Londres, surgiu, então a ideia de fazer aquilo que já era tendência em vários outros lugares do mundo: o jornalismo sem fins lucrativos. A ideia, segundo ela, era dar espaço para que os jornalistas pudessem praticar o jornalismo investigativo, com reportagens de fôlego, visando ao fortalecimento do direito à informação, à qualificação do

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Buscando alcançar tal objetivo, a Pública se apropria "das novas tecnologias e das novas formas de associação que elas permitem - no tempo e no espaço" (VIANA, 2013), assim como só produz reportagens investigativas, com longo tempo de apuração e checagem exaustiva dos fatos.

Como já dito, a Pública, além de ser financiada por agências internacionais como a Fundação Ford, apostou também na plataforma de financiamento coletivo de crowdfunding Catarse. Sobre a iniciativa, Viana comenta que:

Isso eu acho muito bacana, porque beneficia muita gente – o leitor, a Pública, o jornalista que quer ir atrás das suas pauta e não vê oportunidade no mercado industrial – o que não significa que não possa existir; é preciso encontrar uma maneira de viabilizá-lo. (...) (idem, 2014)

E complementa:

Que benefício é dado a quem doa? Poderá votar na reportagem e poderá acompanhar o processo da reportagem. Apela mais a querer se interessar por jornalismo. Por outro lado, no meio desse grande debate que já estava pulsante com a questão da internet e já foi forte na época do Wikileaks, e foi muito forte na época das manifestações [de junho e julho de 2013], principalmente com o fenômeno da Mídia Ninja, o que as pessoas perguntam? Isso é jornalismo, não é jornalismo? E: dá para fazer jornalismo fora da estrutura industrial, digamos, da estrutura de empresa? Dá para fazer jornalismo independente? E a nossa resposta, da Pública, é que dá. De que se precisa? Pensar em novas formas de produção e de financiamento. (idem, 2014)

Na Pública, são produzidas dois tipos de matérias: as reportagens investigativas e as que são produzidas na perspectiva do jornalismo cidadão. No primeiro molde, exigindo um bom tempo de apuração, encaixam-se reportagens como "Severinas: as novas mulheres do sertão"6, que retrata como as mulheres do sertão do Piauí inverteram a ordem do domínio familiar porque elas que recebiam o dinheiro do Bolsa Família e decidiam o que fazer com ele, deixando para trás a servidão ao homem. Já no segundo tipo, é possível encontrar a cobertura da Copa do Mundo feita pela Pública, em que, em vez de entrevistar grandes autoridades no assunto, foram priorizadas fontes como, por exemplo, os camelôs, na matéria "Os ambulantes e as zonas de exclusão da Fifa"7.

Atualmente, as redes sociais da Agência Pública contam com 129.362 "curtidas" em sua página no Facebook; 25 mil "seguidores" no Twitter e 1.390 "seguidores" em sua conta do Instagram. Seu site possui as seguintes seções: reportagens; especiais; truco no congresso; da

redação; casa pública; e quem somos. Ao observar o "quem somos", inclusive, a Pública deixa clara sua política de creative commons: funcionando como uma agência, todas suas

6 Disponível em: < http://apublica.org/2013/08/severinas-novas-mulheres-sertao/>. Acesso em 8 jun. 2016.

7 Disponível em: <

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Gráfico 1  –  Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015
Tabela 01  –  Circulação dos jornais entre jan/2014 e jun/2015
Figura 01  –  Referências utilizadas para criação da logo
Figura 02  –  Logotipo do site e negativo do logotipo
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Referências

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