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O ANTI-SEMITISMO VISTO PELAS CHARGES NO GOVERNO VARGAS

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Academic year: 2021

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O ANTI-SEMITISMO VISTO PELAS CHARGES NO GOVERNO VARGAS

José Vinicius Gouveia Torrentes (PG-UNIOESTE)

O estudo se propõe a analisar a questão racial com relação aos judeus no Brasil no período de 1933 a 1938. A pesquisa está sendo realizada como parte da dissertação do programa de mestrado em História da Unioeste e visa a analisar charges e caricaturas como imagens da intolerância coletadas no Arquivo Histórico do Itamarati, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) e jornais e revistas que contemplam idéias racistas e anti-semitas.

Nessa primeira etapa da investigação está sendo realizado um levantamento bibliográfico sobre o governo Vargas e sobre a construção da identidade do judeu nesse período. Usando como referencial estudos da Hannah Arendt apresentamos o anti-semitismo não como secular, versão de superstições medievais, mas como decorrente de uma sucessão histórica de acontecimentos, dividindo-o em anti-semitismo tradicional e moderno.

O anti-semitismo, mais propriamente antijudaísmo, é decorrência da Diáspora, mas também, da expansão do cristianismo, gerador de uma espécie de mito judaico, traduzido num clima hostil aos judeus e no preconceito baseado em duas premissas: os judeus são os culpados pela morte de Cristo e sua dispersão (diáspora) foi seu castigo.

Entre os motivos de ordem social para justificar o antijudaísmo, um é falso por considerar a raça judaica como inferior e decadente, mas outro é verdadeiro, o chamado separatismo étnico que se por um lado dá coesão e solidariedade a este povo, assegurando-lhe a continuidade através dos tempos, por outro, gera estranheza e desconfiança entre as sociedades onde residem, tornando o judeu diferente.

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1496; Áustria, 1670; Boémia e Morávia, 1745) e da segregação através da instituição do ghetto (do hebreu ghet, carta de divórcio) ou judiaria, bairro de residência para os Judeus

A progressiva emancipação dos judeus iniciada pelo édito de tolerância do imperador do Sacro Império José II (1782), seria consagrada pela Revolução Francesa (1791) ao conceder-lhes igualdade de direitos políticos. O século XVIII também foi marcado pelo abandono da tradicional ortodoxia religiosa judaica e pela secularização dos judeus. Contudo, este processo teve conseqüências equivocadas: o recrudescimento da vaga de ódio e violência contra os judeus na segunda metade do século XIX, fundamentada num anti-semitismo científico, na desigualdade das raças humanas.

O anti-semitismo como fenômeno social não é novo e já assumiu diferentes formas de expressão. Ao escritor político anti-semita Wilhelm Marr é atribuída à palavra alemã Antisemitismus em 1873, numa altura em que a ciência racial estava em moda na Alemanha, mas o ódio religioso não estava. Este termo serviu de alternativa à palavra alemã mais antiga Judenhass, significando ódio aos judeus relacionado à questão religiosa (Moraes 1972).

Muitos fatores motivaram o anti-semitismo, incluindo fatores sociais, econômicos, nacionais, políticos, raciais e religiosos. Na Idade Média as principais raízes do ódio irracional contra judeus foram:

(a) Religiosas, baseadas na doutrina da Igreja Católica de que os judeus são responsáveis pela morte de Jesus Cristo - esta visão surgiu neste período e não é mais aceita pela Igreja Católica;

(b) Sócio-econômicas, devido à ação de autoridades locais e alguns funcionários da Igreja que fecharam muitas das ocupações dos judeus, permitindo-lhes, no entanto, as atividades de coletores de impostos e financiadores, o que sustentou as acusações de que os judeus praticavam a usura - prática condenada pela Igreja Católica.

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Hannah Arendt (1978) apresenta o anti-semitismo não como secular, versão de superstições medievais, mas como decorrente de uma sucessão histórica de acontecimentos, dividindo-o em anti-semitismo tradicional e moderno.

O anti-semitismo tradicional diferencia-se do anti-semitismo moderno pelo fato do ódio aos judeus estar apoiado no antagonismo entre duas crenças em conflito o catolicismo e o judaísmo especifico da Península Ibérica após o século XV, a religião serviu para encobrir argumentos econômicos e o judeu foi visto como o responsável pela crise. Esta luta de interesses econômicos aconteceu no plano religioso pelo fato dos cristãos novos dominarem as áreas das finanças. Por tanto, o anti-semitismo tradicional está relacionado a fatores religiosos e econômicos, visto que os judeus, por um lado, eram testemunhas da veracidade do cristianismo e, por outro, exerciam um papel econômico relevante dentro da economia tradicional. No entanto, viviam a margem da sociedade em uma comunidade com particularidades e leis próprias. Decorrente destes fatores durante vários séculos os judeus foram pressionados pelo terror da Inquisição e por legislações racistas apoiadas pela Igreja.

A partir do século XIX com o avanço das ciências surge um modelo diferente de anti-semitismo, explorando a idéia de divisão das raças e dentro desta linha surge a teoria do arianismo cujo ápice será o período nazista.

Arendt (1975) mostra o anti-semitismo moderno como produto das transformações ocorridas na Europa desde o final do século XVIII, quando ocorre a modernização da sociedade tradicional, constituindo um processo de ruptura com a tradição ocidental. Na França, os judeus de banqueiros da corte passam também a financiar o Estado e fortalecê-lo através de relações intereuropéias.

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Como ressalta Arendt (1975: 46):

“de todos os povos europeus, os judeus eram os únicos sem Estado próprio e, precisamente por isso, haviam aspirado tanto, e tanto se prestavam, a alianças entre governos e Estados, independentemente do que esses governos e Estados representassem. Por outro lado, os judeus não tinham qualquer tradição ou experiência política e não percebiam a tensão nascente entre a sociedade e o Estado, nem os riscos evidentes e a potencialidade decisória que assumiam, decorrentes de seu novo papel”

A fim de conseguirem maior aceitação, alguns judeus construíram uma imagem de classe superior, mas desta forma perderam a identidade que caracterizava sua comunidade e, conseqüentemente, os elementos românticos que atraíam a sociedade. Esta tensão aparece no processo Dreyfus que segundo Flannerj (1965), no século XIX, antecipando o que será o anti-semitismo no século XX. Evidencia-se o ódio das massas, prejudicadas com o processo de modernização, contra o Estado e a sociedade. O judeu é alvo deste ódio tanto por haver se identificado com o Estado e ajudado em seu fortalecimento quanto por ser tolerado pela sociedade apesar de possuir privilégio sem desempenhar funções públicas.

“O sentimento antijudaico adquire relevância política somente quando pode ser combinado com uma questão política importante, ou quando os interesses grupais dos judeus entram em conflito aberto com os de uma classe dirigente ou aspirante ao poder. O moderno anti-semitismo, em países da Europa central e ocidental, tinha causas políticas e não econômicas” (Arendt, 1975: 52)

Segundo Arendt (1978) o anti-semitismo antecipa o totalitarismo, já que se apoiou na mentira e no conceito de inimigo objetivo como instrumentos de poder. Estes fatores definem no século XX a organização e funcionamento do totalitarismo, isto é, “desta nova forma de governo e de dominação marcada pela ubiqüidade do arbítrio e pelo alcance ilimitado da violência” (Arendt, 1975: 5).

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Cada vez mais apoiado nas questões da antropologia e etnológicas mas do que econômico, agora o judeu estar diluído entre as varias cidadanias . O judeu tem que ser identificado como estrangeiro, incapaz de se adaptar e de se integrar ao país onde se instala. È apresentado como individuo hostil a civilização, imoral é sempre visto como homem do capital mas sem o direito a ser um cidadão. O Anti-semitismo de um modo geral distingue por varias formas de expressão sendo religioso o estilo mais antigo, racial e político. Sua principal questão é a justificativa para uma xenofobia seja ela teológica ou cientifica.

Do ponto de vista de Maria Luiza Tucci (2001) existe uma certa similaridade entre o crescimento dos movimentos de Anti-semitismo e o declínio do Estado Nação europeu. A questão principal é identificar estas idéias já que nos regimes totalitários, o Estado é usado como fachada perante o mundo, possui um poder ostensivo e é marcado por políticas agressivas, nacionalistas e pelo uso da propaganda contra os judeus.

A recuperação de valores anti-semitas surge nos anos 30, no momento em que o capital começa a se acomodar no panorama internacional. Segundo Hannah Arendt, a expansão passou a ser considerada como objetivo permanente dos regimes interessados em aumentar a sua produção. Assim os nazistas são os primeiros a transformar o racismo em um de seus mais fortes aliados para seus interesses imperialistas, encontrando na Teoria Ariana, instrumento forte desta política de conquistas.

A adoção de uma ideologia racista significa em que o judeu desempenhava papel fundamental. O fortalecimento do anti-semitismo após a Primeira Guerra Mundial, conforme analise de Hannah Arendt, está relacionado com o fenômeno de espoliação das populações marginais. Neste período os judeus passaram a ser discriminados, aprisionados em campos de concentração e exterminados em nome da raça pura. Este grupo foi utilizado como bode expiatório, sendo taxado de comunista, indesejável e de raça impura a fim de servir para a busca por uma nação unida e pura.

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anti-semitismo. Assim o judeu passou a ser discriminado e odiado não mais por sua religião, mas como povo, como grupo étnico visto sem condição de contribuir para o bem da humanidade.

As teorias racistas passaram a pregar a desigualdade das raças com literaturas especificas em vários países, e tiveram forte presença junto aos intelectuais brasileiros que buscavam uma solução interna para reorganização política. Tucci aponta conteúdos racistas presentes nas obras de diversos intelectuais brasileiros que influenciaram a política imigratória restritiva do Governo Vargas e analisa a conjuntura política, privilegiando os aspectos ideológicos que colaboraram para a formação de um pensamento racista no Brasil. As restrições impostas pelo a entrada dos judeus no Brasil foram muito bem recebidas pela burguesia industrial e comercial que viu nesta iniciativa do governo um trabalho patriótico e de responsabilidade que a protegia da concorrência dos judeus no comercio.

Na França, o Processo Dreyfus, que ameaçou os direitos dos judeus neste país, trouxe à tona a ideologia e política anti-semita que foram aproveitados pelo Governo de Vichy após a derrota da França em 1940.

Enquanto isso na Rússia os judeus batalhavam pela igualdade de direitos e reconhecimento nacional, suscitando protestos. Em 1905 surgiu um panfleto anti-semita que se tornaria uma das maiores armas empregadas pelos nazistas e amplamente difundido no Brasil, O Protocolo dos Sábios de Sião. Obra essa traduzida por Gustavo Barroso e amplamente usada pelos integralistas que nunca contestaram sua autenticidade, hoje considerada um blefe.

Objetivo do protocolo era mostrar que os antigos judeus estavam pretendendo dominar o mundo secretamente, possuindo para isso uma organização que se reunia de tempos em tempos para planejar a conquista mundial.

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territórios. No Brasil, o ministro das relações exteriores preparava uma circular secreta com a finalidade de impedir a entrada destes imigrantes indesejáveis.

Ackerman (1969) considera que a relação entre o Judaísmo, Jerusalém e Terra de Israel o sionismo, influenciado pela ideologia nacionalista e as doutrinas coloniais do século XIX, constitui um vasto movimento nacionalista judaico, defensor do princípio de que todos os judeus constituem uma nação e não apenas uma religião ou comunidade étnica. Considera que reside na concentração do maior número possível de judeus na Palestina / Israel a única solução para o anti-semitismo.

Contudo o Sionismo cedo se dividiu, até a atualidade, numa profusão de correntes distintas: dos anos 20 aos 70, a forma dominante foi o Sionismo Trabalhista que procurou aliar socialismo e nacionalismo. Nos anos 20, inspirado no marxismo, fundou-se na Palestina o movimento kibutz, uma rede de explorações agrícolas coletivas que constituiu a espinha dorsal da colonização e da imigração judaicas anteriores à criação do Estado de Israel. Além disso, surgiu a Confederação Geral dos Trabalhadores judeus na Palestina que, através da organização e unidade sindical e de importantes participações financeiras em empresas israelitas, visou a um objetivo nacional de criação de uma classe trabalhadora judaica na Palestina a serviço dos empreendimentos judeus.

Uma segunda forma de sionismo foi o Movimento Revisionista que reivindicava a revisão das fronteiras das aspirações territoriais judaicas na Palestina e sua extensão nas duas margens do rio Jordão. Nos anos 20 e 30, distinguiu-se dos Trabalhistas pela clara declaração do objetivo de estabelecimento de um Estado Judeu na Palestina por via armada. As suas organizações, que incluíam o movimento de juventude (Organização Militar Nacional), formaram o núcleo duro do Partido da Liberdade após a independência israelita, tornando-se o maior partido israelita de direita desde os anos 70.

Também constituiu-se segundo Silva (1980) um sionismo religioso que, invocando o objetivo de regeneração nacional em obediência aos valores religiosos tradicionais, conduziu à proliferação de partidos religiosos. Após a Guerra dos Seis Dias em 1967, estes partidos religiosos cada vez mais estavam atraídos pelo sonho da reconstituição.

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o objetivo de manutenção de Israel como um Estado Judeu, admitem uma maior flexibilidade nas questões territoriais, sendo pública a sua relativa simpatia pelas aspirações palestinas a um Estado nacional próprio em Gaza e Cisjordânia, ou mesmo uma federação Israel – Palestina.

Bibliografia

ACKERMAN, N.W. Distúrbios Emocionais e Anti-Semitismo. São Paulo, Perspectiva /USP, 1969.

ARENDT, Hannah. Anti-Semitismo, Instrumento de Poder. 1ªed. Rio de Janeiro: Documentário, 1975.

ARENDT, Hannah.. 0 Sistema Totalitário. Rio de Janeiro. Documentário, 1978.

CARNEIRO, M.L.T. O Anti-Semitismo na Era Vargas. 3ªed. São Paulo: Perspectiva/ USP, 2001.

FLANNERJ, E. A Angustia dos Judeus: Historia do Anti-Semitismo. São Paulo, Ibrasa, 1965. MORAIS, Vamberto Pequena Historia do Anti-Semitismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972.

Referências

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