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revista portuguesa de

ciências do desporto

Volume 1 · Nº 2

re

vista por

tuguesa de ciências do desporto

Vol. 1, Nº 2

Janeiro·Junho 2001

INVESTIGAÇÃO

Capacidade aeróbia em futebolistas de elite em função da posição específica no jogo P.J. Santos, J.M. Soares

Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função do desporto praticado, idade, sexo e posições específicas

J.Magalhães, J.Oliveira, A.Ascensão, J.M.C. Soares Crescimento, maturação, aptidão física,

força explosiva e habilidades motoras específicas. Estudo em jovens futebolistas e não futebolistas do sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idade Seabra, J.A. Maia, R.Garganta

O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil D. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. Korsakas

Desporto de crianças e jovens

– um estudo sobre as idades de iniciação

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani As actividades desportivas no Porto de 1900

J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

Publicação semestral

Vol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001 ISSN 1645–0523, Dep. Legal 161033/01

REVISÃO

A importância da depilação no rendimento desportivo em natação

J.P. Vilas-Boas

Miopatia do Exercício. Anatomopatologia e Fisiopatologia J.A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth,

H.J. Appell, J.M.C. Soares

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Portugal e Europa: 2000$, Brasil e PALOP: 2750$ (USD 15), outros países: 3000$ (USD 17)

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A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director.

Endereço para correspondência

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Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto

Rua Dr. Plácido Costa, 91 · 4200.450 Porto · Portugal Tel: +351–225074700

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Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa) Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança) Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

Publicação semestral da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto

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7 13 22 36 45 56 65 73 83 Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Vol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001 ISSN 1645-0523 Dep. Legal 161033/01 ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO

Capacidade aeróbia em futebolistas de elite em função da posição específica no jogo P.J. Santos, J.M. Soares

Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função do desporto praticado, idade,

sexo e posições específicas

J.Magalhães, J.Oliveira, A.Ascensão, J.M.C. Soares Crescimento, maturação, aptidão física,

força explosiva e habilidades motoras específicas. Estudo em jovens futebolistas e não futebolistas do sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idade Seabra, J.A. Maia, R.Garganta

O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil

D. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. Korsakas Desporto de crianças e jovens

– um estudo sobre as idades de iniciação Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

As actividades desportivas no Porto de 1900 J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

ARTIGOS DE REVISÃO A importância da depilação no rendimento desportivo em natação J.P. Vilas-Boas

Miopatia do Exercício.

Anatomopatologia e Fisiopatologia J.A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth, H.J. Appell, J.M.C. Soares

INFORMAÇÃO

Encontro “A Universidade nos anos 2000”. Síntese e conclusões

A RPCD é subsidiada pelo

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É nossa sina não caber no berço. Desde os primórdios que somos emigrantes. O português pré-histórico já era aventureiro, navegador, missionário, semeador de cultura. (…) Todos os caminhos transversais de Portugal vêm ter ao mar. Verificá-lo, é avivar na consciência a nossa razão de ser. Que nascemos para embarcar. Ou de imediato, ou na lembrança ou na imaginação.

Miguel Torga Uma noite quente e estrelada ergue-se por cima do convés do navio em que viajamos ao longo do rio Chao Phraya que banha Banguecoque. O luar de prata refulge nas águas e alumia-nos os olhos esbugalhados, quando o guia turístico anuncia a embaixada de Pro-tu-Ked, levantada na insuperável brancura do estilo manuelino.

O nosso anfitrião apercebe-se da emoção e fala-nos de Portugal com respeito, admiração e afecto: «Foi o primeiro povo europeu que aqui chegou e foi o único que não veio para destruir. Veio portador de

intenções e propósitos de construir.»

Perguntamos-lhe o que é que os tailandeses sabem do Portugal contemporâneo. A resposta chega pronta e cabal: «É isso que aprendemos na escola. Não é preciso saber mais, porque o sentido da história não se perde.»

Estas palavras adentram-nos a alma como se fossem fantasmas erguidos das pegadas sonâmbulas deixadas nestas e em tantas outras paragens pela humana condição da gesta lusitana. Igrejas que apontam o céu, cruzes que redimem para a eternidade, misericórdias e instituições de auxílio que associam os homens como semelhantes, nomes que misturam o sangue e as pessoas. Na África, no Brasil, na Índia, na Indonésia, na China e no Japão,

Nota editorial

«Das lusofonias»

Jorge Bento

por todo o lado se confirma o acerto do Pe. António Vieira, de que Deus nos deu «tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra; para nascer, Portugal; para morrer o Mundo.» Em toda a parte se ouve o eco da Cantiga de Ceilão, de Jorge de Sena, a

atravessar distâncias de oceanos, a murmurar o hábito de serões e vigílias, de solidões, tédios e saudades que, apesar de outros povos, de outros domínios e de outros reinos, ficaram para sempre nas memórias teimosas de gente abandonada e dissolvida, presa por um fio a um país esquecido e que se esquece ao longe, palavra a palavra. Sim, o mundo é, de um extremo ao outro, uma litania de pegadas sonâmbulas, de pisadas indeléveis de um passado cujo sentido e memória projectam lusofonias pelos séculos fora. Falam-nos de um tempo que já não existe e funcionam como espelho da realidade. Testemunham que, mais do que o poder e o dinheiro, foram a alucinação, a inquietação dispersiva, a atracção da errância e da diáspora, a demanda de espaços abertos, o absurdo e o sonho, o fado e a procura do destino os marcos cimeiros da colonização portuguesa. Uma aventura em que o épico ganha a forma e a substância do poético, não sendo por acaso que a obra maior da nossa literatura é um poema e que o género da poesia se inscreve na carne e na alma de cada português. É tudo isso que faz com que os dois mundos – o colonizado e o colonizador – continuem tão unidos no afecto e na lembrança das gentes.

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da nossa mediania; e ricos, sim, de humanidade e de sonho de aventura. Ela impõe-se como um desafio, perante a onda opressiva da globalização em americanês, a convidar-nos a reinventar a nossa identidade etnocultural de nómadas planetários, de romeiros do Santo Espírito, de peregrinos das sete partidas, de cidadãos do mundo. Um desafio do nosso achamento interior, posto pela dificuldade não de sermos, mas antes de nos conhecermos e

compreendermos. Sem o enfrentarmos, alerta-nos Torga, «sem um sonho a encher-nos o vazio da noite da vida, como poderíamos amanhecer contentes de nós?»

Na trajectória da Lusofonia emerge, sobranceira e em antecipação, a animação polimórfica e

polissémica das diferenças. E a sua aceitação. Elas perdem o carácter de limites e fronteiras para se tornarem interiores ao conhecimento de nós, dos outros e das coisas. Ou seja, a diferença e a

alteridade integram a norma e deixam de ser a excepção; o mesmo é dizer que o universal é

fabricado pelo diferente e deve ser dito no plural. Eis assim o nosso passado a ganhar razão e a encontrar-se justificado e plasmado na nova lógica paradoxal e pluridimensional que hoje desponta no mapa da multiculturalidade.

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Capacidade aeróbia em futebolistas de elite

em função da posição específica no jogo

P. J. Santos J. M. Soares

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMO

Vários investigadores consideram que a capacidade aeróbia desempenha um papel decisivo no futebol. Várias

investigações acerca das exigências energéticas e do padrão de actividades dos jogadores de elite durante um jogo de futebol permitiram concluir que a grande maioria das acções são marcadamente aeróbias (4,18). No entanto, foram descritas diferenças acentuadas em função da posição desempenhada pelo jogador em campo (1). O propósito deste estudo foi avaliar a capacidade aeróbia dos jogadores, de acordo com a sua função, recorrendo ao limiar aeróbio-anaeróbio (12). Investigámos 91 futebolistas seniores de equipes da 1ª Liga Nacional que foram agrupados de acordo com a sua posição em jogo: centrais (n=17), avançados (n=24), laterais (n=14) e médios (n=36). A velocidade de corrida correspondente a uma concentração sanguínea de 4mmol/l (V4) foi considerada como

medida critério na determinação do limiar aeróbio-anaeróbio. Utilizámos velocidades de corrida entre 3.0 e 4.2m/s com incrementos de 0.4m/s e patamares de carga superiores a 5min30s. Após cada patamar, o teste era interrompido durante 1min para recolher sangue capilar do lóbulo da orelha e posteriormente analisado num YSI 1500L Sport. No tratamento estatístico dos dados recorremos à análise de variância a um factor e ao teste de múltipla comparação a posteriori de Scheffée. O nível de significância foi estabelecido

em 5%. Os valores médios da V4 em cada grupo foram de

3.66±0.27m/s (centrais), 3.70±0.19m/s (avançados), 3.88±0.24m/s (laterais) e 3.89±0.22m/s (médios). Foram encontradas diferenças significativas na capacidade aeróbia entre as quatro posições (F=5.98, p<0.05): centrais versus

médios e avançados versus médios. Em suma, os nossos dados

evidenciaram diferenças significativas na capacidade aeróbia dos futebolistas em função da posição ocupada no jogo. Essas diferenças são semelhantes às descritas por outros autores relativamente à distância máxima total percorrida em jogo. Deste modo, consideramos que a determinação da V4 pode

constituir um instrumento fundamental na determinação do perfil aeróbio dos jogadores, possibilitando ainda uma individualização do treino aeróbio.

Palavras-chave: futebol, elite, capacidade aeróbia, limiar

anaeróbio, lactato

ABSTRACT

Aerobic capacity differences among soccer players according to their function in the game

Several researchers uphold the notion that aerobic capacity plays a decisive role in soccer play. In fact, investigations concerning the energy demands and the pattern of activities of elite players during a soccer match allowed to conclude that most of the actions are markedly aerobic (4,18). Nevertheless, considerable differences have been reported according to the player’s position in the game (1). Thus the purpose of this study was to evaluate the player’s aerobic capacity according to their function using the aerobic-anaerobic threshold (12). We investigated 91 Portuguese top male senior soccer players from several 1st League teams which were grouped according to their function in the game: defenders (n=17), forwards (n=24), full-backs (n=14) and mid-fielders (n=36). The running speed at a blood lactate concentration of 4mmol/l (V4)

was used as criterion for the aerobic-anaerobic threshold determination. We’ve used running speeds ranging from 3.0 to 4.2m/s with increments of 0.4m/s and steps above 5min30s. Following each loading level the test was interrupted for 1min to take blood samples from the ear lobe which were analysed using an YSI 1500L Sport. Statistical analysis included Anova and a Scheffe post hoc test. Mean results in the V4 for each

group was 3.66±0.27m/s (defenders), 3.70±0.19m/s (forwards), 3.88±0.24m/s (full-backs) and 3.89±0.22m/s (mid-fielders). Significant results were achieved concerning the V4 among the four game positions (F=5.98, p<0.05):

defenders versus mid-fielders and forwards versus mid-fielders.

In conclusion, our data evidenced significant differences in aerobic capacity according to the player’s function in the game, which are similar to those reported by other authors in relation to the distance covered during a match. We consider that these results strongly suggest that V4 determination

might be seen both as an important tool for determining soccer player’s aerobic profile and for allowing the individualisation of aerobic training.

Key words: soccer, elite, aerobic capacity, anaerobic threshold,

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INTRODUÇÃO

O futebol é um jogo extremamente complexo do ponto de vista fisiológico, com acções específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade e que, em termos metabólicos, apelam a fontes energéticas claramente distintas. De facto, o futebolista, dada a natureza intermitente do seu esforço e a ampla faixa de intensidades que o caracteriza, tem de privilegiar no seu treino aspectos tão distintos como o desenvolvimento da força explosiva, da velocidade, da resistência anaeróbia e da resistência aeróbia.

Entre os distintos sistemas energéticos que sustentam as acções de jogo, vários têm sido os autores que referem o metabolismo aeróbio como constituindo o suporte energético fundamental para uma partida de futebol. Com efeito, investigações acerca das exigências energéticas e do padrão de actividades evidenciados pelos jogadores de elite durante um jogo, permitiram concluir que a maioria das acções são acentuadamente aeróbias e

suportadas pelo metabolismo oxidativo (4, 18). A distância média total percorrida pelos jogadores durante uma partida de 90min situa-se em torno dos 11km (4, 23), o que vem reforçar a noção de que, para um futebolista de topo, é fundamental possuir uma boa preparação aeróbia.

A este propósito, têm sido descritas diferenças acentuadas da performance aeróbia nestes jogadores

consoante a sua função em campo (1, 5, 7). No entanto, a quase totalidade destas investigações tem sido conduzida em laboratório, razão pela qual os resultados obtidos pouca aplicabilidade têm no trabalho de campo do atleta.

Com base no anteriormente exposto, foi objectivo principal deste estudo investigar eventuais diferenças a nível da capacidade aeróbia entre futebolistas de elite, de acordo com a sua função no jogo (defesas, centrais, médios e laterais). Para a avaliação aeróbia dos sujeitos recorremos ao limiar aeróbio-anaeróbio, mas utilizámos um teste de terreno de simples execução e, simultaneamente, capaz de fornecer dados transferíveis para o treino dos atletas.

MATERIAL E MÉTODOS

A amostra deste estudo foi constituída por 91 futebolistas seniores portugueses pertencentes a equipas da 1ª Liga.

Recorremos ao limiar aeróbio-anaeróbio para determinar a capacidade aeróbia dos jogadores, tendo utilizado um teste de terreno realizado numa pista sintética de atletismo (400m) com 4 patamares de intensidade crescente. As distâncias situaram-se entre 1200m e 1600m (fig. I), tendo os atletas corrido sempre a uma velocidade constante durante um período nunca inferior a 5’30”.

Para assegurar um ritmo de corrida uniforme foram assinalados os tempos de passagem (avisos sonoros) em cada 200m durante a realização dos patamares de carga. As velocidades utilizadas variaram entre 3.0 e 4.6m/s e os incrementos de carga foram de 0.4m/s por patamar (quadro I).

V (m/s) 4.6 4.2 3.8 3.4 3.0 2.6 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Distância (Km)

Fig. I – Representação gráfica da dinâmica de carga referente ao teste de terreno utilizado na avaliação da capacidade aeróbia dos futebolistas e andebolistas. Foram utilizadas distâncias de 1200m (3.0 e 3.4m/s) e 1600m (3.8, 4.2 e 4.6m/s) por patamar e incrementos de 0.4m/s.

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v (m/s) 400m 800m 1200m 1600m 3.0 2’13"33 4’26"67 6’40"00 – 3.4 1’57"65 3’55"29 5’52"94 – 3.8 1’45"26 3’30"53 5’15"79 7’01"05 4.2 1’35"24 3’10"48 4’45"71 6’20"95 4.6 1’26"96 2’53"91 4’20"87 5’47"83 Quadro I – Tabela utilizada nos testes de terreno com indicação dos respectivos tempos de passagem (cada 400m) para as várias velocidades (m/s) correspondentes aos patamares de carga utilizados. No final de cada percurso o teste era interrompido durante 1 min para recolher sangue capilar do lóbulo da orelha para determinação imediata da

concentração sanguínea de lactato utilizando um

YSI-1500L Sport. O teste era dado como concluído

quando o atleta ultrapassava uma concentração sanguínea de 4mmol/l de lactato.

Como critério de detecção do limiar aeróbio-anaeróbio utilizámos a velocidade de corrida correspondente a uma concentração sanguínea de 4mmol/l (V4) determinada por interpolação linear a partir dos dados obtidos nos testes de terreno. No tratamento estatístico dos dados, além da determinação dos valores médios e do desvio padrão, foram utilizados a análise de variância a um factor e o teste de múltipla comparação a posteriori de Scheffée.

O nível de significância foi estabelecido em 5%. RESULTADOS

Os valores médios para a amostra relativos à idade, altura e peso foram de 25±2.6 anos, 177.8±4.1 cm e 72.8±4.5 kg, respectivamente. O valor médio correspondente ao limiar aeróbio-anaeróbio foi de 3.85±0.28m/s. Os resultados da ANOVA para a posição ocupada pelos jogadores evidenciou diferenças estatisticamente significativas (F=5.98,p<0.05). Os valores médios da V4 por posição no jogo podem ser observados na fig. II. O teste de múltipla comparação a posteriori expressou

diferenças significativas somente entre médios vs

centrais e médios vs avançados.

V4 (m/s)

3.66

3.7

3.88 3.89

centrais avançados laterais médios

n=17 n=24 n=14 n=36 4.2 4.1 4 3.9 3.8 3.7 3.6 3.5 3.4

Fig.II – Comparação entre os valores médios (±dp) da V4 (expressa em m/s) no grupo de futebolistas em função da posição ocupada pelos jogadores na equipa.

DISCUSSÃO

Vários estudos realizados nos últimos 10 anos e centrados na análise de jogo têm evidenciado que um jogador de futebol percorre em jogo uma

distância total de 10 a 12Km (3, 4, 6, 13, 15, 17, 22). No entanto, sabe-se que os vários elementos de uma equipa percorrem distâncias bem diferentes de acordo com a sua função no jogo (4, 22). Ao longo das últimas décadas verificou-se um aumento progressivo da distância total percorrida (DTP) em jogo, tendo sido referido, a partir da análise das distâncias percorridas em campeonatos do mundo, que esse valor aumentou mais de 100% entre os mundiais da Suiça (1954) e de Itália (1990), ou seja, mais especificamente, de 4500m para 10000m, respectivamente (21). Vários autores têm

igualmente descrito níveis diferenciados de condição aeróbia em futebolistas consoante a sua posição no jogo. Com efeito, estudos acerca da potência máxima aeróbia em futebolistas revelaram níveis diferentes de acordo com a função desempenhada (1, 5, 7, 16). Uma investigação recente (20) refere mesmo que a DTP em jogo depende de forma significativa da capacidade aeróbia dos jogadores e que 60% da DTP pode ser explicada pelo nível aeróbio do atleta. Em suma, os dados da literatura sugerem que jogadores

(12)

de diferentes posições não só percorrem distâncias diferentes, como igualmente apresentam performances

aeróbias distintas.

No entanto, são escassos os estudos nesta

modalidade em que tenham sido utilizados testes de terreno específicos para avaliar a performance aeróbia

dos sujeitos. Uma investigação recente (14) utilizando o Yo-Yo intermittent endurance test (2),

revelou diferenças significativas de resistência entre laterais e médios versus centrais e avançados

(n=327). Porém, não conhecemos nenhuma investigação no terreno que tenha procurado determinar as diferenças a nível da capacidade aeróbia por posição com base no limiar anaeróbio. Com efeito, apesar de Bangsbo (1) ter utilizado o limiar anaeróbio num estudo com objectivos semelhantes, fê-lo, contudo, recorrendo à investigação laboratorial.

A grande vantagem da investigação no terreno é, obviamente, o grande transfere que permite dessa informação para o trabalho de campo do atleta. Deste modo, possibilita não apenas a recolha de dados fundamentais para a caracterização fisiológica dos jogadores, como permite ainda a obtenção de dados preciosos para a equipa técnica, no sentido de rentabilizar, tanto quanto possível, o treino desses atletas. Adicionalmente, quanto mais investigação for efectuada com base neste tipo de testes, tanto maior será a hipótese de fazer a validação cruzada dos dados de forma a optimizar a metodologia utilizada neste tipo de pesquisas.

Relativamente ao valor médio da V4 obtida pelos futebolistas da nossa amostra (3.85m/s),

verificámos que foi muito semelhante à descrita num estudo similar (8) envolvendo tanto jogadores amadores (n=15) como profissionais (n=15) do campeonato alemão. Nessa investigação não foram encontradas diferenças significativas da capacidade aeróbia entre grupos, com os profissionais a apresentarem um valor de 3.71m/s e os amadores 3.90m/s. Outras investigações realizadas com selecções nacionais alemãs referem valores médios de 4.15m/s e de 4.05m/s (10,11). No entanto, esses testes foram realizados em laboratório e utilizando patamares de 3min, o que implica uma

sobrevalorização da V4 (9) relativamente à utilização de patamares de 5min (ou superiores).

Em relação aos resultados obtidos em função da posição ocupada na equipa, os valores mais elevados encontrados nos médios (3.89m/s) e laterais (3.88m/s) versus avançados (3.70m/s) e centrais

(3.66m/s), são algo semelhantes aos descritos por Bangsbo (1) que também refere valores de

resistência superiores nos médios relativamente aos centrais, embora utilizando como referência a velocidade de corrida (tapete rolante)

correspondente a uma concentração sanguínea de lactato de 3mmol/l (V3).

A melhor V4 evidenciada pelos médios resulta, provavelmente, da função de ligação entre defesas e atacantes, o que implica um maior volume de corrida sustentada (1,4). Com efeito, pensamos que as diferenças significativas encontradas entre médios

versus centrais e médios versus avançados, poderão,

entre outros factores, estar relacionadas com a maior distância percorrida tanto em treino como em competição, em resultado da especificidade das funções desempenhadas.

Também os resultados da literatura a nível da potência aeróbia em futebolistas de alto nível (1, 16) referem valores mais elevados nos médios,

comparativamente a defesas centrais e guarda-redes. Resultados concordantes são descritos num outro estudo (19) com uma amostra que incluía jogadores portugueses da 1ª divisão nacional (n=44), com os valores mais elevados a serem exibidos pelos médios e laterais (59.5 e 59.3ml/min/Kg, respectivamente) relativamente aos centrais (56.8ml/min/Kg) e avançados (54.9ml/min/Kg).

Os dados emergentes desta investigação permitiram constatar que, em termos fisiológicos, as exigências impostas a jogadores que ocupem posições

diferentes no terreno de jogo podem ser, do ponto de vista aeróbio, substancialmente distintas. Futuras pesquisas realizadas no terreno com base no limiar anaeróbio permitirão, entre outras coisas, a elaboração de tabelas com valores de referência por posição. Dada a grande aplicabilidade prática deste tipo de trabalhos, consideramos que eles podem constituir uma mais valia tanto em termos de investigação, como nos aspectos relacionados com o controlo de treino dos atletas.

(13)

CORRESPONDÊNCIA

Paulo Jorge Miranda Santos Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto

Portugal

[psantos@fcdef.up.pt]

futebolistas que percorrem maiores distâncias em situação de jogo são, simultaneamente, aqueles que exibem níveis superiores de capacidade aeróbia (20). Deste modo, se aceitarmos que a DTP pode ser um factor importante no jogo, então seguramente que o desenvolvimento da capacidade aeróbia será um factor a contemplar no planeamento de treino de uma equipa de futebol. Nesta perspectiva, o conhecimento da V4 por posição pode ser um instrumento importante para a equipa técnica no sentido de ultrapassar eventuais carências a nível das capacidades físicas de alguns jogadores.

Em suma, os nossos dados evidenciaram diferenças significativas na capacidade aeróbia dos futebolistas em função da posição ocupada no jogo. Essas diferenças são semelhantes às descritas por outros autores tanto em relação à DTP em jogo, como aos valores de potência e de capacidade aeróbias. Adicionalmente, consideramos que a determinação da V4 através de um simples teste de terreno pode constituir um instrumento fundamental na determinação do perfil aeróbio dos jogadores, possibilitando ainda uma individualização do treino aeróbio por permitir uma aplicação quase imediata dos dados obtidos no trabalho de campo dos atletas.

(14)

REFERÊNCIAS

1. Bangsbo J. (1993). The physiology of soccer Dissertação apresentada às provas de doutoramento. Universidade de Copenhaga. Copenhaga

2. Bangsbo J. (1996). Yo-Yo tests. HO+Storm, Copenhagen,

Denmark and Tocano Music A/S, Smorum, Denmark 3. Bangsbo J, Lindquist F (1992). Comparison of various exercise tests with endurance performance during soccer in professional players. Int J Sports Med 13:152-157

4. Bangsbo J, Norregaard L, Thorsoe F (1991) Activity profile of competition soccer. Can J Sports Sci 16:110-116

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(15)

Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função do

desporto praticado, idade, sexo e posições específicas

J. Magalhães J. Oliveira A. Ascensão J.M.C. Soares

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMO

A força muscular dos membros inferiores é considerada um importante factor da prestação no futebol e voleibol, como suporte de habilidades e acções motoras específicas. Por isso, tal como em outras capacidades motoras, como por exemplo a resistência, tarefas específicas, idade, sexo e diferentes funções específicas, poderão induzir diferentes padrões de

desenvolvimento da força muscular. Alguns investigadores sugerem que níveis insuficientes de força poderão estar associados a um risco acrescido de lesão dos tecidos moles. Por estas razões, a avaliação e controlo da força muscular assumem uma importância particular na monitorização dos efeitos dos programas de treino bem como na despistagem de factores de risco de lesão. A avaliação isocinética da força fornece informação relevante através de indicadores como o torque máximo, as diferenças bilaterais de força e a razão antagonista/ agonista dos membros dominante e não dominante.

Deste modo, o objectivo fundamental deste trabalho foi descrever e comparar os perfis isocinéticos da força em futebolistas e voleibolistas de diferentes idades, sexo e funções específicas.

Utilizando um dinamómetro isocinético (Biodex – System 2)

avaliaram-se os torques máximos concêntricos com correcção gravítica dos músculos flexores e extensores do joelho em protocolo de 5 repetições máximas à velocidade angular de 360°.seg.-1 (6.28 rad.seg.-1) e 3 repetições máximas a 90°.seg.-1

(1.57 rad.seg.-1).

Em conclusão, podemos dizer que o carácter específico da actividade funcional das modalidades desportivas estudadas, a idade e a função específica não se constituem per se factores

indutores de desequilíbrio bilateral da força muscular dos membros inferiores. Contudo, no que concerne à razão I/Q, a modalidade desportiva praticada e o sexo, mesmo em sujeitos treinados, parecem ser factores que influenciam o perfil isocinético de força.

Palavras-chave: força, avaliação isocinética, futebol, voleibol

ABSTRACT

Isokinetic strength assessment in athletes of different sports, ages, gender and positional roles

Leg muscle strength is considered to be an important factor of performance in volleyball and soccer, supporting specific motor skills and actions. Therefore, like in other capacities such as endurance, specific tasks, age, gender and specific positional roles may induce different strength patterns. Additionally, several authors argue that strength weaknesses and/or unbalances are related to soft tissue injury risk. For these reasons, strength assessment and control is of critical value for monitoring the effects of training programs and injury risk factors. Isokinetic evaluation provides relevant information through indicators such as peak torque, bilateral strength differences in leg extensor (Ext) and flexor (Flex) muscles and antagonist/agonist strength ratios in dominant (D) and non-dominant (ND) limb.

Thus, the main purpose of the present investigation was to evaluate and to compare isokinetic strength profiles of soccer and volleyball players by gender, age and different positional roles, with respect to peak torque, bilateral strength differences and antagonist/agonist ratio.

Using an isokinetic dynamometry (Biodex – System 2), soccer

and volleyball players were evaluated. Maximal gravity corrected concentric peak torque of knee extensor and flexor muscles were measured during a 5-repetition at 360º. sec.-1

(6.28 rad.sec.-1) and a 3-repetition protocol at 90º. sec.-1 (1.57

rad.sec.-1).

In summary the specific demands of soccer and volleyball, age and position roles do not induce bilateral leg unbalance. However, concerning H/Q ratio, sports and gender, even in trained subjects, seem to influence isokinetic strength profile.

(16)

J. Magalhães, J. Oliveira, A. Ascenção, J.M.C. Soares

INTRODUÇÃO

A força muscular é uma importante componente da prestação desportiva. Por essa razão a avaliação da força muscular com recurso à dinamometria

isocinética é largamente utilizada. Tem sido sugerido que as diferenças bilaterais de força e a razão dos torques máximos antagonista/agonista estão relacionadas com as exigências específicas dos diversos desportos (9, 10). Deste modo, o padrão motor de uma determinada modalidade desportiva poderá influenciar o perfil funcional dos atletas. A investigação em jogos desportivos tem demonstrado que também as posições/funções dos jogadores contribuem para uma adaptação funcional específica (5, 14, 28, 32). Por último, os estudos no domínio da aptidão física considerando o efeito da idade, do crescimento, da maturação e ainda, o efeito do treino apontam para diferenças da força muscular entre jovens e atletas adultos (para ref.’s ver 7, 36). Um outro domínio da investigação tem incidido no estudo comparativo da aptidão funcional entre sujeitos de sexos distintos (8). No entanto, no que concerne a eventuais diferenças de padrão no perfil bilateral da força isocinética e da razão antagonista/agonista a informação disponível é relativamente escassa. Em jogos desportivos como o futebol e o voleibol, os grupos musculares quadriceps e os isquiotibiais são

solicitados suportando diversas habilidades motoras tais como, por exemplo, a corrida, os saltos, os passes ou os remates. Estes grupos musculares que envolvem a articulação do joelho desempenham, igualmente, um importante papel na estabilidade desta articulação assim como na prevenção de lesões (1, 2, 41). De facto, alguns estudos sugerem que a boa funcionalidade dinâmica dos músculos

estabilizadores do joelho pode ser determinante na prevenção e/ou na limitação da severidade de lesões dos tecidos moles (3, 25, 26).

Apesar de escassa, a informação disponível

relativamente ao efeito da idade aponta para padrões de evolução crescente dos torques máximos e da razão antagonista/agonista (7, 20). Adicionalmente, os resultados da investigação relativamente ao efeito das tarefas no perfil da força muscular isocinética sugerem uma adaptação funcional específica (9, 38, 39). Deste modo, o objectivo do presente trabalho é o de avaliar e comparar o perfil das diferenças bilaterais

de força e a razão isquiotibiais/quadriceps (I/Q) em

diferentes desportos, idades, sexos e funções específicas.

METODOLOGIA

O presente trabalho enquadra-se num projecto de controlo e avaliação do treino de atletas de alto rendimento sendo composto por três estudos distintos. No primeiro (Estudo 1) descrevemos e comparamos o perfil isocinético da força muscular de atletas de diferentes desportos (voleibolistas vs.

futebolistas) e idades. No segundo (Estudo 2) comparamos sujeitos de sexo diferente relativamente à razão antagonista/agonista. Finalmente, no terceiro (Estudo 3) comparamos perfis de atletas de diferentes funções específicas.

AMOSTRA Estudo 1

Foram avaliados vinte e oito (28) voleibolistas adultos de elite subdivididos em dois grupos, dezoito (18) seniores (idade: 23.9±2.3 anos; peso: 83.6±5.8 Kg; altura: 190.8±4.5 cm) e dez (10) juniores (idade: 17.3±0.8 anos; peso: 82.6±9.3 Kg; altura: 188.2±2.9 cm), catorze (14) voleibolistas de elite sub-16 e quarenta e seis (46) futebolistas adultos de elite (idade: 25.2±3.5 anos; peso: 75.3±6.0 Kg; altura: 178.3±6.0 cm). Estudo 2

Avaliaram-se vinte e cinco (25) voleibolistas do sexo masculino pertencendo à selecção nacional

portuguesa (idade: 21.0±3.7 anos; peso: 83.6±6.2 Kg; altura: 190.9 ±3.8 cm) e dez (10) voleibolistas do sexo feminino de uma equipa da 1ª divisão do campeonato nacional (idade: 25.0±4.3 anos; peso: 70.0±4.9 Kg; altura: 178.5 ±3.3 cm).

Estudo 3

(17)

Avaliação isocinética da força

INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO Foram avaliados em dinamómetro isocinético (Biodex – System 2) com correcção gravítica os torques

máximos concêntricos dos músculos flexores e extensores do joelho às velocidades angulares de 360°.seg.-1 (6.28 rad.seg.-1) e 90°.seg.-1 (1.57 rad.seg.-1). No Estudo 3 apenas se considerou a última das velocidades angulares referidas. Os atletas avaliados realizaram um período de activação geral em cicloergómetro (Monark E-824) com uma resistência correspondente a 2% do peso corporal durante um período de 5 minutos. Em seguida os sujeitos foram sentados na cadeira do dinamómetro e estabilizado o seu posicionamento com recurso a cintos colocados ao nível do tronco, do abdómen e da coxa, no sentido de prevenir

movimentos acessórios. O joelho a avaliar foi posicionado a 90° da flexão (0° = extensão completa) e o eixo de rotação do braço da alavanca do

dinamómetro alinhado com a parte lateral do côndilo femoral. Após os procedimentos de posicionamento e dos alinhamentos foi pedido aos sujeitos a testar que efectuassem alguns movimentos de flexão e extensão a intensidade sub-máxima no sentido de completar o período de activação muscular e também para familiarização com o equipamento e procedimentos de testagem. Todos os sujeitos foram instruídos para colocarem de forma confortável os braços cruzados sobre o tronco tendo em vista o isolamento da acção dos grupos musculares responsáveis pela extensão e flexão do joelho.

Protocolo de avaliação

A avaliação consistiu na realização de 5 repetições à velocidade angular de 360°.seg.-1 e 3 repetições a 90°.seg.-1, por esta ordem e em cada um dos membros. Entre séries foi realizada uma pausa de repouso com a duração de 1,5 minutos. Para o estudo 3 apenas foram realizadas avaliações a 90°.seg.-1

Estatística

Foram utilizadas as medidas da estatística descritiva, média e desvio-padrão e para a comparação de médias o t-Test de medidas independentes, a ANOVA

factorial e o teste não paramétrico Kruskall-Wallis. O nível de significância foi estabelecido em 5%.

RESULTADOS

Estudo 1

Os principais resultados acerca da comparação entre futebolistas e voleibolistas são apresentados no quadro 1.

Quadro 1 – Diferenças bilaterais de força (%) e razão (%) isquiotibiais/ quadriceps (I/Q) dos futebolistas vs. voleibolistas adultos, a diferentes velocidades angulares.

Vel. Diferenças bilaterais de força Razão I/Q Músculos Futebol Voleibol Futebol Voleibol 360 Extensores 7.1±6.3 7.2±5.8 D#80.2±13.3 78.3±12.7

90 7.1±6.3 10.1±6.9 57.4±6.7 50.4±7.2**

360 Flexores 12.3±8.4 14.2±12.4 ND#82.5±13.3 82.0±11.9

90 10.6±8.0 6.9±5.5** 56.1±8.2 50.5±6.4**

*(°.seg.-1) ** Diferença significativa (futebolistas vs.

voleibolistas); p<0,05

# D (membro dominante); ND (membro não dominante). Os resultados que se reportam às diferenças bilaterais de força entre futebolistas e voleibolistas adultos mostram que apenas nos músculos flexores, quando avaliados à velocidade de 90º.seg.-1, se encontram diferenças significativas. A comparação das razões I/Q revelou-se estatisticamente

significativa entre grupos, mas apenas à velocidade angular de 90°.seg.-1. Porém, a comparação de médias da razão I/Q entre os membros dominante e não dominante dentro de cada grupo, não

apresentou diferenças significativas.

(18)

A análise dos resultados revela a existência de diferenças significativas na razão I/Q entre a categoria júnior e a de sub 16.

Estudo 2

Os principais resultados são apresentados no quadro 3 (razão I/Q em percentagem).

Quadro 3 – Razão I/Q (%) em ambos os sexos a diferentes velocidades (em º.seg.-1)

Velocidade Membro Masculino Feminino

360 Dominante 80,03 ± 13,14* 66,77 ± 13 Não Dominante 83,88 ± 12,12 75,81 ± 9,28 90 Dominante 50,07 ± 7,28 * 44,06 ± 6,96 Não Dominante 50,72 ± 7,43 * 44,47 ± 4,16

* estatisticamente significativo (masculino vs. feminino) p 0,05

A razão convencional concêntrica I/Q aumentou com a velocidade angular, quer nos sujeitos do sexo

masculino, quer nos do sexo feminino (quadro 3). Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos no membro dominante a altas velocidades (360º.seg.-1) e nos membros dominante e não dominante a baixas velocidades (90º.seg.-1). Este indicador, quando determinado a baixa velocidade (90º.seg.-1), apresentou valores inferiores aos habitualmente sugeridos como referência.

Estudo 3

Para a globalidade da amostra, os valores médios das diferenças bilaterais de força nos músculos

extensores e flexores foram 8.2% ±4.9 e 7.9% ±4.7, respectivamente. A razão I/Q (em percentagem) no membro dominante foi de 54.9±6.6 e no não dominante de 55.9±6.4.

Os resultados referentes a cada uma das funções específicas são apresentados no quadro 4. Quadro 2 - Diferenças bilaterais de força (%) e razão (%) isquiotibiais/quadriceps (I/Q) em voleibolistas de diferentes idades.

Vel.* Diferenças bilaterais de força Razão I/Q

Seniores Juniores Sub 16 # Seniores Juniores Sub 16

360 Extensores 7.8±6.2 7.0±5.4 7.8±5.2 D 74.0±13.5 83.5±13.2 61.9±14.0**

90 8.9±5.9 14.8±12.0 7.2±5.8 50.1±8.6 50.4±3.7 48.0±4.2

360 Flexores 10.8±7.5 14.0±7.8 14.8±16.5 ND 81.5±10.4 83.2±14.7 75.9±12.8

90 5.1±4.5 10.2±6.4 9.6±7.2 50.4±5.8 52.4±9.2 51.1±9.4

* Velocidade (°.seg.-1) ; # D (membro dominante); ND (membro não dominante)

** Diferença significativa (juniores vs. Sub 16); p<0,05

Quadro 4 – Torque máximo (Nm), diferenças bilaterais (%) e razão I/Q (%) em futebolistas de diferentes funções específicas.

Torque máximo Diferenças bilaterais Razão I/Q

Funções Ext - D Ext - ND Flex - D Flex - ND Ext Flex D ND

(19)

DISCUSSÃO

Os resultados do estudo 1 não evidenciaram diferenças bilaterais de força entre voleibolistas e futebolistas, com excepção da diferença significativa encontrada nos músculos flexores do joelho quando avaliados a 90º.seg-1. Estes resultados parecem realçar o carácter bilateral destas modalidades. Efectivamente, a frequente utilização de algumas habilidades específicas do futebol com manifesta preferência lateral, como por exemplo o passe, o remate, os tackles e/ou aspectos específicos do

treino, contrariamente ao que seria de esperar, não induzem incrementos pronunciados da força no membro dominante e, consequentemente, diferenças bilaterais acentuadas. Também Bennell et al. (6) não encontraram diferenças bilaterais significativas nos músculos flexores do joelho em 102 jogadores de futebol australiano. No entanto, num estudo efectuado por Wang et al. (39) em voleibolistas, foram encontradas diferenças significativas de força nos músculos rotadores do ombro, quando avaliados em modo isocinético, entre o membro superior

dominante e não dominante. Para os autores, a utilização sistemática de um dos membros relativamente ao outro nas acções de remate e do serviço poderá justificar as diferenças encontradas. Deste modo, e tendo em conta que no voleibol a lógica da utilização dos membros superiores é análoga à dos membros inferiores no futebol, a ausência de diferenças entre os grupos do nosso estudo poderá eventualmente ser explicada: (i) pela participação mais activa e diferenciada quanto ao modo contráctil do membro inferior não dominante nas acções de passe e remate do futebolista (27); (ii) pela menor frequência absoluta da realização de acções unilaterais de alta intensidade do futebolista comparativamente com as acções de serviço e remate utilizadas pelos voleibolistas (para refs ver 28, 33).

Efectivamente, num estudo com jovens futebolistas italianos(11), a exemplo dos nossos resultados, não foram encontradas diferenças bilaterais de força entre os membros dominante e não dominante. Mognoni et al. (30) encontraram torques máximos mais elevados na extensão do joelho do membro inferior não dominante comparativamente ao dominante, ainda que não tenham referido o modo de contracção utilizado. Estes resultados realçam a

importância da intensidade do trabalho desenvolvido pelo membro inferior não dominante, como perna de apoio, na realização de algumas acções motoras características do futebol e, consequentemente, reflectem a influência destas acções nos ganhos de força do membro contralateral.

De salientar ainda no nosso estudo que, para ambas as modalidades, todos os valores encontrados neste parâmetro se encontram dentro dos critérios considerados adequados, i.e., inferiores a 10-15% (9), podendo por isso considerar-se que os voleibolistas e os futebolistas são atletas funcionalmente

equilibrados (quadro 1).

A razão de força antagonista/agonista tem sido associada com as exigências específicas da actividade funcional dos desportos (10). Os nossos resultados parecem confirmar este facto. À velocidade angular de 90°.seg.-1 encontramos diferenças significativas entre os voleibolistas e futebolistas. Os primeiros apresentam uma razão mais baixa do que os futebolistas, por apresentarem maior fraqueza dos isquiotibiais. Este facto pode dever-se às

características da modalidade (29), o que no caso do voleibol resulta para o quadriceps numa solicitação

frequente em muitas das acções típicas, ou/e por insuficiente trabalho compensatório de força dos músculos isquiotibiais. Pese embora possamos estar perante um facto resultante de uma adaptação específica às exigências do voleibol, este facto pode representar um factor de risco acrescido à ocorrência de lesões nos tecidos moles (4, 29, 40, 41). Segundo Aagaard et al. (3), valores da razão I/Q inferiores a cerca de 60%, quando avaliados a baixas velocidades, poderão aumentar a susceptibilidade de ocorrência de lesões. Alguns autores (para ref.’s ver 20) sugerem que os aumentos acentuados da força do quadriceps

induzidos pelo treino poderão estar associados à diminuição da co-activação antagonista dos músculos isquiotibiais (37), favorecendo a

susceptibilidade de lesões no joelho, nomeadamente de stress tensional no ligamento cruzado anterior

(LCA), por decréscimo das forças estabilizadoras desta articulação.

Diversos autores (1, 3, 24) têm sugerido que a razão I/ Q poderá ser interpretada como um indicador da capacidade dos isquiotibiais em contrariar a translação anterior da tíbia relativamente ao fémur

(20)

(shear forces), particularmente nos últimos ângulos

de extensão do joelho e durante a realização de contracções intensas do quadriceps. Da mesma forma,

os resultados de alguns estudos com recurso à electromiografia (1, 15) sugerem que a co-activação dos isquiotibiais, nomeadamente do biceps femoral (1), poderá também representar um mecanismo de estabilidade articular durante a rotação interna da tíbia na extensão do joelho. De facto, devido à localização externa da inserção distal deste músculo, a rotação interna da tíbia nos movimentos de extensão do joelho parece ser contrariada pela acção antagonista do biceps femoral. Por estas razões, estes

autores sugerem que a força produzida pelos isquiotibiais enquanto antagonistas no movimento de extensão do joelho, poderá determinar índices de co-activação com carácter de protecção funcional da articulação, nomeadamente da integridade do LCA. Este ligamento, sendo considerado uma das estruturas mais importantes na restrição da amplitude do movimento de gaveta da tíbia relativamente ao fémur durante a extensão do joelho, é sujeito a grande stress (29). Por isso, no estudo epidemiológico das lesões nos jogos desportivos colectivos (16, 17, 21), a lesão do LCA constitui-se como uma das mais frequentes (34). Em estudos com animais e humanos (15) tem sido referida a existência de um mecanismo de reflexo neural por parte do LCA na activação dos isquiotibiais e também dos gémeos (15) durante a extensão do joelho. Para além disso, DeLuca e Mambrito(13) sugerem que em alguns tipos de movimentos, nomeadamente naqueles em que de forma antecipada é prevista uma resposta neuromuscular compensatória, parece existir um mecanismo de condução neural comum, ou também denominado de activação neural proporcional, em que o sistema nervoso central parece controlar de forma sistemática e coordenada a activação de motoneurónios agonistas e antagonistas. Desta forma, parece provável que movimentos de extensão do joelho representem situações em que, por um mecanismo de activação neural proporcional agonista-antagonista, a força compensatória produzida pelos isquiotibiais é antecipada

diminuindo o stress induzido ao LCA pela contracção

do quadriceps.

Num estudo com velocistas (22) foi analisada a importância da força produzida pelos isquiotibiais como factor de prevenção de lesões neste mesmo grupo muscular. Verificou-se que os atletas lesionados, quando comparados com os não lesionados, apresentavam baixos índices de força nesse grupo muscular e, consequentemente, da razão I/Q quando avaliada de forma excêntrica num amplo espectro de velocidades angulares e de forma concêntrica a 30º.seg.-1. Desta forma, poderemos considerar este parâmetro isocinético como uma importante referência da estabilidade da articulação do joelho e da prevenção de lesões nos músculos flexores.

De salientar ainda que estudos comparativos das alterações neuromusculares induzidas por diferentes tipos de exercício sugerem que, após exercício intenso prolongado do tipo intermitente, se registam diminuições significativas da força muscular gerada pelos isquiotibiais e incrementos no tempo de atraso electromecânico deste grupo muscular. Estes factos não só comprometem a estabilidade da articulação do joelho por aumento da laxidez articular, como representam uma forte ameaça à integridade do LCA (18, 29). Desta forma, realça-se a importância da força produzida pelos isquiotibiais, enquanto músculos antagonistas, como factor de prevenção da

integridade desta articulação, em especial durante a realização de exercícios intensos e prolongados de carácter intermitente, como por exemplo um jogo de futebol ou de voleibol.

Segundo Aagaard et al. (3, 4) a razão entre o torque máximo dos isquiotibiais no modo excêntrico e o torque máximo do quadriceps no modo concêntrico,

(21)

dificuldades de operacionalização, tornando-se inviável como instrumento massivo de controlo e acompanhamento do treino em atletas de alto rendimento. A avaliação desta relação de força no modo concêntrico/excêntrico pode não só revelar-se muito demorada em virtude das características técnicas do dinamómetro, como também ser influenciada pelo factor aprendizagem. Devido à sua elevada exigência coordenativa, a avaliação de movimentos isocinéticos no modo excêntrico, sem experiências anteriores, é complexa, podendo distorcer os resultados.

Os dados relativos às diferenças bilaterais de força e da razão I/Q em diferentes idades, com excepção da razão I/Q entre atletas juniores e sub16 no membro dominante a 360º.seg.-1, não evidenciaram diferenças significativas entre os grupos. Do nosso

conhecimento, não existem estudos acerca do efeito da idade no perfil de força muscular, avaliada em dinamómetros isocinéticos em voleibolistas. Contudo, num estudo efectuado com futebolistas de elite (20) foram encontradas diferenças significativas na razão recíproca (torque excêntrico máximo dos isquiotibiais dividido pelo torque concêntrico máximo do quadriceps) do membro inferior

dominante com a idade. O facto de tais diferenças não terem sido igualmente encontradas no membro inferior não dominante, levou os autores a concluir que provavelmente o efeito da adaptação ao treino específico, nomeadamente pela maior carga excêntrica a que está sujeito o membro dominante no futebol de alto nível, poderá ter tido maior influência na diferenciação da razão I/Q do que o factor idade. De salientar ainda que, no referido estudo, tais diferenças reportam-se a avaliações realizadas em modos de contracção diferentes daqueles por nós utilizados. Porém, quando avaliados no modo concêntrico/concêntrico, a exemplo dos nossos resultados, os autores não encontraram diferenças significativas entre os grupos de diferentes idades. No mesmo estudo, nas avaliações realizadas no modo excêntrico/excêntrico, a razão I/Q alterou-se significativamente com a idade em todo o espectro de velocidades angulares utilizado. No que diz respeito à razão recíproca (excêntrico/concêntrico), apenas à velocidade angular de 300º.seg.-1 foram encontradas diferenças

significativas entre futebolistas jovens e adultos. Assim, considerando a nossa amostra e de acordo com os resultados obtidos, ao contrário do sugerido por Calmels e Minaire (10) não parece existir um padrão diferenciado de desenvolvimento da força do

quadriceps e dos isquiotibiais com a idade. Assim

sendo, a idade não parece induzir alterações significativas no padrão do equilíbrio bilateral da força muscular dos membros inferiores e na razão antagonista/agonista quando avaliada no modo concêntrico.

Os resultados obtidos no estudo 2 quanto à razão I/ Q revelam que, à excepção do membro não

dominante a 360º.seg.-1, os sujeitos do sexo

feminino apresentam valores significativamente mais baixos do que os do sexo masculino. Para além disso, ambos os grupos, com especial destaque para o do sexo feminino, apresentam valores que podemos considerar baixos. Tal como sugerido na discussão dos resultados do estudo 1, a explicação para este facto poderá advir das características funcionais das principais acções de jogo. De facto, no voleibol, a hipersolicitação do grupo muscular

quadriceps e/ou um reduzido treino de força dos seus

antagonistas poderá explicar este perfil de força. De forma idêntica aos nossos resultados, Griffin et al. (19) verificaram que em sujeitos adultos destreinados a razão I/Q, independentemente do tipo de

contracção e das velocidades utilizadas, era significativamente inferior no sexo feminino. Assim, sugerimos que o treino do voleibol não será, por si só, susceptível de alterar as diferenças

relativas de força entre os isquiotibiais e o quadriceps,

mantendo-se o efeito do sexo mesmo em sujeitos treinados. Dada a escassez de estudos que

reproduzam e esclareçam, de forma clara, o efeito do sexo nas alterações da razão I/Q, provavelmente o recurso ao estudo de factores de natureza

morfológica, mecânica e neuromuscular poderá concorrer para uma explicação adicional da influência do sexo neste parâmetro.

De acordo com os resultados obtidos no estudo 3, as diferentes funções específicas dos futebolistas e a inerente actividade funcional que lhes está associada não parecem induzir padrões distintos no perfil isocinético da força muscular dos membros inferiores. A similaridade encontrada no nosso

(22)

estudo entre as diferentes funções específicas contraria a tendência dos resultados obtidos num outro estudo (38), pelo menos no que diz respeito aos torques máximos entre guarda-redes e avançados, quando determinados a baixas velocidades. Porém, nesse estudo não é fornecida qualquer informação acerca das diferenças bilaterais ou da razão I/Q. Da mesma forma, Oberg et al. (31) verificaram que a razão I/Q é significativamente mais elevada nos avançados comparativamente com os guarda-redes e defesas. Para estes autores, os elevados torques obtidos na avaliação dos músculos extensores do joelho nos guarda-redes e defesas poderão justificar os baixos valores da razão I/Q. Eventualmente, alterações da metodologia do treino, da concepção do jogo, nomeadamente a maior atenção ao treino compensatório da força muscular e a polivalência de tarefas realizadas, bem como a crescente utilização indiferenciada da técnica com ambos os membros, terão conduzido nos últimos anos a uma

indiferenciação do perfil de força muscular dos futebolistas de diferentes posições específicas, justificando os nossos resultados.

As diferenças bilaterais de força e a razão I/Q encontradas nos futebolistas das diferentes posições específicas vão de encontro aos valores normativos sugeridos na literatura (3, 9, 10, 23, 35) para avaliações a baixa velocidade (inferiores a 10-15% e cerca de 50-60%, respectivamente) e por nós encontrados no estudo 1. De facto, apesar de algumas habilidades específicas do futebol serem habitualmente realizadas em jogo ou no treino com preferência lateral, os nossos resultados sugerem que, independentemente da função desempenhada, os atletas avaliados são funcionalmente equilibrados. No que diz respeito à razão I/Q, os valores médios obtidos em atletas de algumas posições específicas (e.g. centrais e guarda-redes) encontram-se próximos dos valores mínimos referidos como adequados, o que poderá ser justificado quer pela elevada predominância de solicitação do grupo muscular quadriceps em algumas habilidades técnicas,

quer pelo insuficiente treino compensatório da força dos músculos isquiotibiais. De facto, De Proft et al. (12) registaram um incremento de 77% no torque máximo dos flexores do joelho quando introduziram duas sessões semanais de treino de força para esse

grupo muscular no programa anual de uma equipa de futebol belga. Na opinião dos autores, esta alteração pronunciada poderá significar uma insuficiente solicitação deste grupo muscular durante as acções típicas do futebol em treino e na competição e, portanto, a necessidade de treino compensatório sistemático.

Em conclusão e tendo em conta os resultados dos nossos estudos, podemos dizer que o carácter específico da actividade funcional das modalidades desportivas estudadas, a idade e a função específica não se constituem per se factores indutores de

desequilíbrio bilateral da força muscular dos membros inferiores. Contudo, no que concerne à razão I/Q, a modalidade desportiva praticada e o sexo, mesmo em sujeitos treinados, parecem ser factores que influenciam o perfil isocinético de força.

CORRESPONDÊNCIA José Oliveira

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do Porto R. Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto Portugal [joliveira@fcdef.up.pt]

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