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Internações consomem a maior parte das despesas assistenciais: 43,3%, segundo dados da ANS - Akio Kon / Bloomberg

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Internações consomem a maior parte das despesas assistenciais: 43,3%, segundo dados da ANS - Akio Kon / Bloomberg

Hoje, ao meio-dia, os custos com a saúde suplementar no país vão atingir R$ 22,7 bilhões este ano. É o que informa o “Custômetro”, nova ferramenta on-line lançada pela Associação

Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) — que representa empresas privadas de assistência à saúde do segmento de medicina de grupo — divulgada em primeira mão pela “Defesa do Consumidor”.

Segundo a entidade, o objetivo é dar transparência aos valores investidos pelo setor. Já para especialistas em saúde e defesa do consumidor, o instrumento é mais uma ferramenta do segmento para pressionar por reajustes maiores dos planos de saúde, no cabo de guerra travado entre empresas e usuários.

Como um 'Impostômetro'

A exemplo do “Impostômetro”, criado pelas associações comerciais paulistas, o instrumento permitirá acompanhar, em tempo real, os valores desembolsados pelas operadoras para manter os serviços aos cerca de 50 milhões de beneficiários. A cada R$ 4 mil desembolsados, o placar muda.

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inovações tecnológicas. No Brasil, porém, não se sabe, pois não existem informações confiáveis. Os empresários se acostumaram a chutar. O que seria útil saber é o gasto por destinação de cada plano e de cada empresa.

‘Medicina bem feita é barata’

Mais contundente, Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), acredita que será impossível o consumidor verificar se aquele custo é o que realmente foi arcado pela operadora, ressaltando que há ganhos em negociações de escala, por exemplo, que não podem ser avaliados pelo usuário:

— Trata-se de uma pseudoinformação, cujo propósito único é o de justificar mais aumentos dos planos, mais benesses fiscais às operadoras e mais calotes ao SUS. É como pedir à raposa para contar os ovos das galinhas.

Num primeiro momento, o consumidor terá acesso apenas ao montante total aplicado pelo setor, mas a ideia, antecipa o diretor da Abramge, é abrir os dados sobre os gastos, por procedimentos e operadoras. Com a divulgação, admite Ramos, busca-se aprofundar a discussão sobre quais são os principais motivos da constante elevação das despesas assistenciais e o impacto no setor. Segundo o Mapa Assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), 43,3% das despesas são de internações; 33,6%, de consultas; 18,5%, de exames complementares; e 4,6%, de terapias. Mas o mais importante, diz o

executivo da Abramge, é conscientizar os usuários de que 25% do que se gasta, seja no setor privado ou no público, são desperdício, por falta de coordenação no atendimento, tratamentos excessivos, fraudes, corrupção e má gestão:

— Pretendemos alertar o cliente para que use o plano com bom senso. Se marcou a consulta, compareça ou avise que não vai. O índice de absenteísmo nos consultórios, clínicas e

hospitais é de 20% a 30%. Isso custa dinheiro, o que acaba pesando para os dois lados. Um terço do montante gasto poderia estar sendo economizado se não houvesse o absenteísmo. Se atingirmos a meta de acabar com o desperdício, quem ganha é o consumidor.

Ramos chama atenção ainda para o fato de que, a cada cem reais gastos na saúde suplementar, R$ 85 vão para os custos assistenciais, ou seja, 85%. Os 15% restantes da receita são divididos entre despesas administrativas e comerciais, taxas e impostos. Ele admite que é impossível falar em custos sem mencionar reajuste de preços, o que pode fazer com que mais consumidores deixem esse mercado: só no ano passado, um milhão de pessoas

deixaram de ser beneficiárias de planos de saúde. Este ano, ele estima perda semelhante, já que muitos brasileiros já não conseguem pagar o custo das mensalidades. Mesmo assim, o diretor da Abramge insiste na necessidade de reajustes maiores:

— Nos últimos dez anos, o governo concedeu reajustes aquém da inflação médica, hoje em torno de 17%. Enquanto a inflação era de 10%, davam 5%. Se os reajustes fossem

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como o aumento do rol da ANS, por exemplo, impacta as operadoras. Aumentam os benefícios, e o que vemos são empresas quebrando sistematicamente.

Longe de uma solução

Para a economista do Idec Ione Amorim, o que é preciso é uma fiscalização mais rigorosa, regulação das atividades entre operadoras e prestadoras de serviço e maior transparência nos repasses de recursos com responsabilidade fiscal e jurídica:

— Expor o custo médio não corrige distorções que encarecem serviços, servem de porta de entrada para superfaturamento e precarização dos procedimentos e resultam em baixa qualidade de serviços, com custos crescentes para o usuário.

Na avaliação do médico cardiologista Luiz Roberto Londres, dono da Clínica São Vicente e um dos fundadores do Observatório da Saúde — site em que se discutem práticas consideradas antiéticas na área médica e se mostram esforços para reconstruir a saúde pública — a iniciativa da Abramge está longe de atacar a causa da elevação dos custos da saúde e de priorizar a qualidade:

— A medicina bem feita é barata. Noventa por cento dos diagnósticos se fecham com a conversa, exames são feitos para comprovação. Se fosse adotado um pensamento

eminentemente ético e social, os custos cairiam, e os pacientes ficariam mais satisfeitos. A medicina foi deturpada.

Em nota, a ANS esclarece que a metodologia para calcular o índice máximo de reajuste dos planos individuais considera a média ponderada dos percentuais aplicados aos planos coletivos com mais de 30 beneficiários. O objetivo, diz a agência, é dar ao usuário de plano individual as vantagens obtidas nos acordos feitos pelos planos coletivos, que têm maior poder na negociação nos aumentos.

'Caixa-preta da saúde'

Diretora executiva da Aceso Global, organização que busca o fortalecimento dos sistemas de saúde nos mercados emergentes e países em desenvolvimento, a americana Maureen Lewis acredita que o Brasil tem lições a tirar do programa de reforma da saúde dos EUA, o

Obamacare, e diz que informação é uma peça-chave para melhorar a eficiência da saúde suplementar.

A saúde suplementar no Brasil vive um momento de crise. Como a senhora vê o segmento no país?

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rentabilidade dos serviços de saúde.

A iniciativa da Abramge não seria uma forma de justificar novos reajustes e pressionar pela desregulamentação do setor, principalmente dos planos individuais?

Os planos individuais são muito menos rentáveis para as empresas, ao mesmo tempo que aqueles que compram este tipo de seguro são os mais propensos a precisar dele. Com os planos em grupo, a necessidade de cuidados de saúde e, portanto, o gasto pelas operadoras é menor, porque é uma mistura de quem precisa dele agora e de quem tem seguro para um problema futuro. Se as companhias têm muitos planos individuais e os que compram usam os serviços de saúde imediatamente, acabam colocando operadoras em risco.

Esta tem sido uma questão histórica nos Estados Unidos, onde os planos individuais excluem qualquer pessoa com uma "condição pré-existente". Então, alguém com câncer, HIV, doença mental ou uma doença crônica, como o diabetes, não poderia obter um plano individual, porque, legalmente, as operadoras de saúde não precisa aceitá-los. No 'The Affordable Care Act', mais conhecido como Obamacare, isto foi alterado. Mas esta é uma questão difícil, pois o seguro assume que o risco está espalhado pelos doentes e, caso apenas os doentes tenham planos de saúde, os custos são muito elevados e algumas pessoas são excluídas. Portanto, esta é uma questão complicada. O que acontece no Brasil é que as pessoas participam de um plano em grupo quando pode. Isso também vai reduzir o custo para o beneficiário.

O setor tem citado muito o modelo americano como inspiração para uma mudança no país. Qual a sua avaliação?

Os EUA têm tido muitos problemas em dar a todos acesso aos cuidados de saúde. Não há um SUS, apenas um seguro para os mais pobres e aposentados. Por outro lado, em muitos

aspectos, o Brasil se assemelha ao sistema de saúde americano, uma vez que é fragmentado: existem vários pagadores e provedores, e a divisão público-privada no financiamento é quase a mesma. Assim, os dois países podem aprender um com o outro. Algumas das reformas do Obamacare, como a promoção de maior qualidade, maior eficiência e menores custos, são altamente relevantes para o Brasil. Isso significa ter melhores dados sobre muitos aspectos. Sem mais e melhores dados e um acompanhamento constante dessas informações, é difícil saber o que acontece na caixa-preta da saúde. É uma lição importante dos EUA. Sem os dados, o Obamacare não poderia ter criado os incentivos para reduzir custos e aumentar a qualidade.

Qual seria o melhor caminho para a saúde suplementar no Brasil?

É difícil dizer. Há muitas maneiras de melhorar a eficiência, com mais assistência ambulatorial, menos internações e ênfase em prevenção. A melhor forma de incentivar maior eficiência e qualidade é o contribuinte ter mais informações sobre onde os custos são elevados e dar incentivos aos prestadores. Os prestadores do Obamacare que têm readmissões dentro de 30 dias são penalizados; aqueles que não diminuírem o nível de infecção reduzido, são

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cuidados na saúde. O Brasil poderia se beneficiar destes tipos de incentivos e ter desempenho melhores.

Fonte: O Globo / Economia

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