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DIAGNÓSTICO DA PISCICULTURA NA MESORREGIÃO SUDESTE DO ESTADO DO PARÁ

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DIAGNÓSTICO DA PISCICULTURA NA MESORREGIÃO SUDESTE DO ESTADO DO PARÁ

Ana Martha Castelo Branco da SILVA1, Raimundo Aderson Lobão de SOUZA2, Ylana Priscila da Costa MELO3, Diego Maia ZACARDI4, Rosildo Santos PAIVA5 & Luiza NAKAYAMA4

RESUMO

Este trabalho objetiva caracterizar a situação da pisicultura e contribuir para melhor conhecer as atividades desse setor na mesorregião do estado do Pará. Realizou-se entrevistas com aplicação de questionário se- miestruturado, para pequenos produtores de 12 municípios desta mesorregião. Verificou-se que o sistema de cultivo predominante é o extensivo e os alevinos são adquiridos fora do estado. Para redução dos gastos com o cultivo, sugere-se a implantação de unidades produtoras locais, com incentivo ao uso de tanques-rede, ao policultivo e ao consorciamento de peixes com aves; quanto à venda seria interessante que o peixe fosse comercializado filetado e congelado. Considera-se que a produção nessa região paraense é expressiva com 507.165 kg/ano, mas poderia melhorar se houvesse assistência técnica efetiva e financiamentos da atividade por órgãos públicos e privados.

Palavras chave: Peixes, produção, sistema de cultivo.

PROFILE OF FISH CULTURE IN THE SOUTHEAST OF THE STATE OF PARÁ ABSTRACT

This work aims to characterize the situation of the fish farming arid to contribute to better know the activities of this sector in mesoregion Southeast of Pará State. Interviees conducted with application of semi-structures interview for small producers of 12 municipalities of the mesoregion Southeast of Para State. It was found on farming system extensive is predominant and fingerlings are purchased outside the state. To reduce spending from growing, it is suggested the establishment of local production units, encouraging the use of tanks, to polyculture and association among fish-birds; regarding the sale would be interesting that the fish were filleted and sold frozen. Moreover, it is considered that production in Pará mesoregion is expressive with 507,165 kg/

year, but could improve if there were effective technical assistance and financing activity for public and private agencies.

Key words: Fishes, production, culture system.

_____________________

1- M.Sc. em Ciência Animal, Centro Integrado de Educação do Baixo Tocantins.

2- Professor, Instituto Sócio-Ambiental e Recursos Hídricos, Universidade Federal Rural da Amazônia.

3- M.Sc. em Ecologia Aquática e Pesca, Instituto Acquamazon.

4- Pesquisador, Laboratório de Biologia de Organismos Aquáticos, Universidade Federal do Pará.

5- Professor, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará.

e-mail: anamarthacb@gmail.com

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INTRODUÇÃO

A piscicultura, cultivo de peixes em ambiente confinado, tem despertado grande interesse por parte de pequenos e médios empresários em todo o país, por se tratar de um empreendimento que tem uma alta taxa de aceitação do seu produto final (GAMA, 2008).

Ostrensky, Borghetti e Soto (2008) comentam o estado da arte da piscicultura brasileira. No entanto, há diversos estudos sobre a piscicultura em regiões específicas, com destaque para: Sawaki (1996) na Amazônia; Prochmann e Tredezini (2003) e Rotta (2003), no Mato Grosso do Sul; Castellani e Barrella (2005) na região do Vale do Ribeira (SP).

O cultivo de peixes na região norte brasileira é incipiente e limitados aos trabalhos de Rezende et al. (2008), no Acre; Gama (2008), no Amapá e Silva (2007) e Alcântara Neto (2009) no nordeste paraense, sendo baseado principalmente ao cultivo de tambaqui (OSTRENSKY; BORGHETTI; SOTO, 2008).

Hoshino (2004) acredita que, embora a piscicultura seja a atividade mais importante atualmente no Pará, devido ao estado apresentar excepcionais condições climáticas, hidrobiológicas e de infraestrutura favoráveis para o seu desenvolvimento, ainda não atingiu nível satisfatório, pela carência de acesso aos incentivos governamentais e pela não difusão de tecnologia adequada. Assim, os principais polos de piscicultura paraense, ditados, principalmente, por melhor desenvolvimento de vias de escoamento da produção e de infraestrutura necessária à produção e à comercialização, estão localizados próximos a Belém, ao longo da bacia do rio Tocantins, próximos à região do lago de Tucuruí, e município de Santarém e seus arredores (SEPAq, 2010).

Neste contexto, o presente estudo visa caracterizar a situação da piscicultura, contri- buindo para o conhecimento das atividades do setor piscícola da mesorregião Sudeste do estado do Pará.

MATERIAL E MÉTODOS

A mesorregião Sudeste paraense está localizada entre: 4° e 6° de latitude Sul e 48° e 51° de longitude Oeste (Figura 1) e abrange uma área de 54.469,20 km², com uma população total do território de 550.610 habitantes, dos quais 116.720 vivem na área rural, correspondendo a 21,20% do total; possui 9.831 agricultores familiares, 25.175 famílias assentadas e 5 terras indígenas; seu Índice de Desenvolvimento Humano médio é 0,69.

(PORTAL DA CIDADANIA, 2010).

Figura 1 - Área de estudo destacando a mesorregião Sudeste paraense.

Fonte: IBGE (2006).

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O estudo foi realizado em 12 municípios da mesorregião sudeste paraense, dos 14 que a compõem, citados com os respectivos números de questionários respondidos:

Bom Jesus do Tocantins (4), Brejo Grande do Araguaia (9), São João do Araguaia (8), Curionópolis (4), Eldorado dos Carajás (1), Itupiranga (34), Marabá (16), Nova Ipixuna (2), Palestina do Pará (4), São Domingos do Araguaia (3), São João do Araguaia (8) e Tucuruí (8), totalizando 101 questionários.

Salienta-se que nas entrevistas foram aplicados questionários semiestruturados aos pequenos produtores, abordando aspectos socioeconômicos dos entrevistados e informa- ções gerais sobre a piscicultura praticada. Também foram realizadas observações in loco e registros fotográficos.

Posteriormente, os dados dos questionários foram planilhados em programa Excel versão 2007 para construção de gráficos e de tabelas. Utilizou-se o teste estatístico não paramétrico de Kruskal Wallis (teste H), adotando-se um nível de significância de 5%, para avaliar as diferenças entre produção, manejo, comercialização e padrão socioeconômico dos piscicultores, de acordo com o programa BIO ESTAT 5.0 de Ayres et al. (2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os piscicultores da mesorregião sudeste paraense residem em suas propriedades e a maioria (79,6%) não tem instrução formal ou possui ensino fundamental incompleto, alegando que não tiveram oportunidade de estudar porque desde cedo auxiliam no sustento da família. A baixa escolaridade dos produtores foi detectada por outros autores em diferentes regiões brasileiras (SAWAKI, 1996; PROCHMANN; TREDEZINI, 2003;

ROTTA, 2003; CASTELLANI; BARRELLA, 2005; SILVA, 2007; GAMA, 2008; OSTRENSKY;

BORGHETTI; SOTO, 2008; REZENDE et al., 2008). Cabe ressaltar que na região nordeste paraense (ALCÂNTARA NETO, 2009) e no Mato Grosso do Sul (ROTTA, 2003) foi verificado que os proprietários, em sua maioria, possuem nível superior completo e residem em áreas urbanas.

A mão-de-obra na maioria dos casos é familiar (Figura 2) devido às pequenas pro- priedades serem oriundas de assentamentos; essa realidade corrobora com Rezende et al.

(2008) no estado do Acre e Silva (2007) em São Domingos do Capim (nordeste paraense).

Situação diferenciada foi observada por Alcântara Neto (2009), na qual alguns proprietários da região nordeste paraense, por possuírem maior grau de instrução escolar e poder aqui- sitivo, contratam mão-de-obra mais qualificada.

Figura 2 - Frequência relativa (%) do tipo de mão-de-obra empregada nas propriedades da mesorregião Sudeste paraense.

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As atividades realizadas pelos entrevistados dentro das propriedades são bastante variadas (Figura 3), sendo a piscicultura convencional a mais praticada (quase 50%), assim como o observado por Rezende et al. (2008) no Acre. A segunda atividade foi a agricultura de subsistência (aproximadamente 35%), com o plantio de milho, feijão e mandioca e a comercialização da banana, cupuaçu e cacau, no mercado local.

Figura 3 - Frequência relativa (%) das atividades desenvolvidas dentro das propriedades da mesorregião Sudeste paraense.

Apesar da piscicultura ser considerada atividade principal na maioria das propriedades da região nordeste paraense, Alcântara Neto (2009) e Silva (2007) observaram, em algumas propriedades, a piscicultura como atividade secundária, onde a retirada da argila/barro para a produção de cerâmica e a agricultura foram as principais atividades, respectivamente.

Segundo Souza (2004), o sistema de cultivo na piscicultura, pode ser: extensivo - realizado em represas construídas ou em lagos naturais onde o produtor se preocupa apenas com o primeiro povoamento de alevinos; semi-intensivo – realizado em viveiros, maximizando a produção primária servindo como principal fonte de alimento para os peixes, com a adubação do viveiro, administração de ração e calagem e Intensivo – realizado em viveiros planejados, escavados com máquinas e por possuírem declividade para facilitar o escoamento da água e despesca dos animais.

A área hídrica total cultivada foi de 64,33 ha, sendo a maior contribuição de Brejo Grande do Araguaia (19,10 ha) e a menor, Eldorado dos Carajás (0,2 ha). O tamanho de área cultivada (Tabela 1) variou muito, devido ao aproveitamento de áreas alagadas pelo represamento de um trecho de igarapé ou rio (com finalidade de irrigação agrícola ou produção de energia), no sistema extensivo e ao aproveitamento de área disponível na propriedade para a construção dos viveiros de piscicultura, no sistema semi-intensivo.

Tabela 1. Cruzamento entre sistema de criação e área hídrica (Categorizada).

AH = Área Hídrica; EB= Em branco; NI = Não informado.

Área Hídrica (ha) Sistema de Criação Total %

EB % Extensivo % NI % Semi-intesivo %

Em Branco - - 5 5,4 - - - - 5 5,4

< 0,7 - - 60 58,4 1 1,1 14 13,6 75 72,0

≥ 0,7 < 2 10 10,8 3 3,2 - - 1 1,1 14 15,1

≥ 2 6 6,5 - - - - 1 1,1 7 7,5

Total 16 17,2 66 7 1 1,1 10 15,8 101 100

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Verificou-se que a maioria do cultivo é extensivo, uma vez que é desenvolvido por produtores que não dispõe de recurso financeiro, por ocuparem áreas de assentamento, aproveitando, assim, área alagada menor que 0,7 ha, para piscicultura; o restante dos produtores (19,35%) utiliza o sistema semi-intensivo.

Os cultivos extensivos (Figura 4) apresentaram áreas com espelho d’água maior, devido às grandes barragens, onde a média foi de um peixe por cada 10 m2; nos cultivos semi-intensivos, os peixes foram criados em viveiros, com uma média de 2 peixes por m2.

Figura 4 - Vista de cultivo extensivo, em área alagada de barragem, em propriedades da mesorregião do Sudeste paraense.

No sistema semi-intensivo (Figura 5), a maioria de produtores (13,6%) também possui pequena área de cultivo (< de 0,7 ha), sendo menor que a encontrada por Castellani e Barrella (2005) com área média de 1,6 ha. Sugere-se que o tamanho da área de cultivo está diretamente relacionado ao poder aquisitivo do produtor, pois para construção de viveiros escavados, o custo médio de movimento de terra é de R$ 200,00/hora máquina.

Figura 5 - Viveiro de cultivo semi-intensivo de engorda, em propriedades da mesorregião do Sudeste paraense.

Foram observadas três formas de viveiros de acordo com o tipo de abastecimento, baseados em Souza (2004): 1) de interceptação: o mais utilizado (62,37%), por ser uma construção simples e de baixo custo, o qual pode aproveitar a água de barragens e sua produtividade primária para alimentação dos peixes; a desvantagem dessa estrutura está na dificuldade de controlar a qualidade da água, uma vez que os tanques são interligados, facilitando a transmissão de doenças; 2) de derivação: (19,35%) nos quais há um contro- le maior no abastecimento (os tanques são independentes, mas o custo da construção é maior) e utiliza-se ração na alimentação dos peixes, porém, com maior produção e 3) de captação: (9,68%) onde a água é originada de nascentes, rios ou de barragens e lançada diretamente nos viveiros. Alcântara Neto (2009), no nordeste paraense, e Rezende et al.

(2008), no Acre, observaram a utilização tanto de viveiro de interceptação quanto de deri-

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vação.

A principal finalidade da produção foi o comércio (Figura 6), semelhante ao obser- vado por Rezende et al., (2008), seguido da subsistência-comércio e do misto (comércio, lazer e subsistência).

Figura 6 - Frequência relativa (%) das finalidades de produção piscícolas, na mesorregião Sudeste paraense.

A comercialização do pescado pelos pequenos produtores tem forte apelo social no mercado, pois os consumidores acreditam, de acordo com Santana (2002), que a produção familiar, gerada em comunidades de baixo poder aquisitivo, possui um diferencial: uma

“produção mais limpa”.

A maioria pratica o monocultivo (79,57%), que se caracteriza pela criação de uma única espécie, semelhante à Rotta (2003) no Mato Grosso do Sul. O policultivo (13,98%) caracterizado pela criação de mais de uma espécie como: tambaqui com curimatã ou tambaqui com tilápia, possibilita ao produtor fazer mais de uma despesca por ano, o que resulta em maior produtividade, sendo essa forma mais destacada no Acre, por Rezende et al., (2008). No entanto, Alcântara Neto (2009) no nordeste paraense e Silva (2007) em São Domingos do Capim observaram a utilização das duas formas indistintamente.

As espécies cultivadas na região foram: carpa (Cyprinus sp.); curimatã (Prochilodus nigricans AGASSIZ, 1829); pirarucu (Arapaima gigas CUVIER, 1817) e tilápia (Oreochromis sp.). As espécies popularmente chamadas de redondos: tambaqui (Colossoma macropomum CUVIER, 1818); pacu (Piaractus mesopotamicus HOLMBERG, 1887); híbrido “tambacu”

(fêmea de tambaqui x macho do pacu) e pirapitinga (Piaractus brachypomus CUVIER, 1818) foram as mais cultivadas (aproximadamente 65%), similar ao verificado por Rezende et al. (2008), no Acre. As espécies consideradas como outras foram: aracu (Schizodon vittatus VALENCIENNES, 1849), acara-açu (Astronotus ocelatus AGASSIZ, 1831) e jeju (Hoplerythrinus unitaeniatus SPIX & AGASSIZ, 1829), e não eram consideradas foco do cultivo, mas entraram nos viveiros principalmente em sistema extensivo de barragens, através do canal de abastecimentos de água (Tabela 2).

Salienta-se que Silva (2007); Gama (2008); Alcântara Neto (2009) e Sampaio (2010) relataram intensa utilização do tambaqui; já Sawaki (1996) cita a preferência por pirarucu, tambaqui e curimatã.

De acordo com Bernardino et al., (2000), citado por Rezende et al., (2008), no Acre, o tambaqui e a curimatã são vendidos com peso médio de 2,0 kg e a tilápia com 0,7kg, portanto, embora no Sudeste paraense os peixes sejam ofertados com peso menor, o tempo de cultivo também foi menor, atendendo a demanda do mercado local. O pirarucu geralmente é vendido a partir de 20 kg, o que corresponde ao segundo ano de vida; de acordo com Imbiriba (2001), um exemplar adulto chega a medir 1,6 m e a pesar 40 kg, levando aproximadamente quatro anos para adquirir essas características.

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Tabela 2 - Frequência relativa (%) de peixes cultivados registrados na mesorregião Sudeste do Pará, com seu respectivo peso médio de comercialização.

Peixes cultivados (%) Variação do peso médio comercializado (kg)

Peso Médio Comercializado

(kg)

Carpa 0,75 0,80 0,80

Curimatã 7,52 0,20 – 0,4 0,30

Pirarucu 1,5 0,4 – 40 20,20

Tilápia 14,29 0,25 – 0,30 0,28

Peixes redondos 66,17 0,10 – 1,50 1,25

Outros 9,77 0,20 – 0,22 0,21

A maioria dos peixes foi comercializada viva (83,87%) ao preço médio de R$ 6,50/kg, estando de acordo com os valores de mercado encontrados por Rezende et al. (2008). O peixe vivo é vendido para o mercado consumidor a partir de 1,2 kg (a exemplo do tambaqui);

ultrapassando esse peso, normalmente, é mantido nos viveiros, aumentando o custo com a alimentação. Uma vez que a menor parte da produção (4,30%) foi comercializada no gelo ou eviscerada, sugere-se como forma de agregar valor à venda do pescado filetado, como citou Prochmann e Tredezini (2003) e que os órgãos públicos invistam na construção de câmaras frigoríficas para congelamento do excedente, beneficiando, assim, a comunidade local.

Quando questionados sobre a aquisição de alevinos, a maioria dos produtores afirma comprar em outros estados (Figura 7) como: Piauí, Goiânia e Mato Grosso. Os 19,80% dos produtores que adquirirem alevinos no estado, não informaram sua origem, embora Alcân- tara Neto (2009) considere duas estações de produção de alevinos: no município de Terra Alta e em Santarém. Atualmente, dado não publicado, indica que há mais um fornecedor de alevinos de peixes, no município de Igarapé-Açu. Rezende et al., (2008) e Gama (2008) afirmam que a maior parte dos alevinos é produzida em seus respectivos estados, Acre e Amapá, respectivamente.

Figura 7 - Frequência relativa (%) da procedência dos alevinos utilizados na piscicultura, na mesorregião Sudeste paraense.

Kubitza (1999) salienta que a alimentação na piscicultura, principalmente a comercial, pode consumir até 60% do que é gasto com o cultivo. Os produtores citam que, inclusive, há uma indústria em Ananindeua-PA, porém, alegam que essa ração sai mais cara do que a

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comprada em outros estados, uma vez que alguns compostos são adquiridos fora do Pará. Portanto, sugere-se o aproveitamento dos resíduos (carcaça e vísceras) das indústrias pesqueiras paraenses para produzir a farinha de peixe, base protéica da ração.

Apesar do custo, a ração comercial foi a mais utilizada (76,34%), que de acordo com Sawaki (1996), por ser balanceada, supre as necessidades nutricionais de cada fase de desenvolvimento dos peixes, aumentando a produtividade da piscicultura na mesorregião Sudeste paraense, em torno de 507,16 kg/ano (Figura 8); deste total 60,9% (308,87 kg) foram de peixes redondos e o município de Tucuruí contribuiu com a maior parte (144,50 kg) muito embora apresente pequena área hídrica cultivada, provavelmente, devido ao cultivo em tanques-rede produzir valores iguais ou superiores a 30 indivíduos por m2. Em menor escala (4,3%), também foi empregada ração caseira, produzida com subprodutos e produtos agrícolas, embora, em outras regiões do Norte do Brasil (SILVA, 2007; REZENDE et al., 2008; ALCÂNTARA NETO, 2009), seja a forma mais comum de alimentação na piscicultura.

Figura 8 - Produção média anual de pescado fornecida pelos pequenos piscicultores, nos municípios da mesorregião Sudeste paraense.

Na Tabela 3, são apresentadas as análises estatísticas (Teste de Kruskal Wallis), para verificar quais categorias influenciaram na produção.

Tabela 3 - Estatística descritiva das análises, na qual a produção é a variável resposta.

Produção Média (kg) H p valor

Municípios 13.18 0.212

Mão de obra 14.59 0.002**

Sistema de cultivo 23.76 0.001**

Tipo de abastecimento de água 2.66 0.255

Tipo de cultivo 6.96 0.008**

Espécie cultivadas 7.55 0.183

Origem dos alevinos 3.11 0.376

Tipo de ração 5.91 0.116

Formas de venda 3.82 0.148

Finalidade da produção 10.77 0.029*

Financiamento 5.26 0.079

Dificuldades 8.78 0.118

** = Altamente Significativo e * = Significativo, para α=0,05

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A produção para a mesorregião Sudeste paraense foi altamente significativa, para os seguintes atributos:

1. Mão de obra - embora a maioria da mão de obra seja familiar, a contratada foi a que produziu melhores resultados (produção média de 5.819 kg).

2. Sistema de cultivo - O sistema consorciado piscicultura e avicultura (2,02%), com o aproveitamento do esterco de frango para a fertilização dos viveiros, conseguiu bons resultados na produção de peixe (produção média de 12.850 kg). Além disso, a piscicultura em tanque-rede apresentou maior índice (produção média de 24.066 kg), com maior número de indivíduos confinados (≥ a 30 de indivíduos/m2).

3. Tipo de cultivo - o monocultivo da tilápia (79,57%) correspondeu apenas a 2.683 kg, enquanto a produção em policultivo dessa espécie com o tambaqui foi maior (13,98%), correspondendo a 12.849 kg da produção média, propiciando, assim, a despesca de duas ou mais safras por ano.

Quanto ao parâmetro significativo “finalidade da produção”, os itens comércio e lazer- comércio foram os que apresentaram melhores resultados (produção média de 43,16 kg), sugerindo que o produtor comercializou o pescado não só através de estabelecimentos comerciais, mas também através de pesque-pague.

Ao serem questionados sobre as dificuldades encontradas na piscicultura, os produtores citaram: ausência de assistência técnica especializada (26,76%); custo elevado da ração comercial (25,08%) e dificuldade no acesso aos financiamentos, pela burocracia ou pela falta de informação (18,06%), problemas já detectados por Sawaki (1996); Rezende et al., (2008) e Alcântara Neto (2009).

Grande parte dos produtores (37,63%) não informou a origem do financiamento.

Dos que responderam, a maioria (53,76%) possui financiamento do Banco da Amazônia S/A, assim como Rezende et al. (2008), no Acre; em segundo, citaram recursos próprios (7,53%), sendo essa forma de investimento mais utilizada na região Nordeste paraense, observado por Alcântara Neto (2009).

No entanto, a piscicultura na mesorregião sudeste paraense poderia ter um avanço, se órgãos públicos, como a Secretaria de Pesca e Aquicultura (SEPAq), prestassem, principalmente, assistência técnica efetiva, para essa atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema de cultivo predominante é o extensivo, pois requer baixo investimento para realização do empreendimento, em áreas de assentamento.

A aquisição de alevinos, em sua maioria, é feita fora do Pará, encarecendo o cultivo, o que poderia ser resolvido com a implantação de unidades produtoras de alevinos.

O incentivo ao cultivo em tanques-rede, o policultivo e o consorciamento de peixes com aves seriam importantes, pois esses sistemas se mostraram altamente produtivos, sugere-se também a comercialização do pescado beneficiado na forma de filé congelado, como forma de agregar valor.

A produção na mesorregião Sudeste paraense embora expressiva (507.165 kg/ano), pode ser melhorada com: fornecimento de assistência técnica especializada, diminuição do custo da ração e financiamentos da atividade, por órgãos públicos e privados.

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AGRADECIMENTOS

A CAPES pela cessão de bolsa de mestrado em Ciência Animal – UFPA/UFRA/

EMBRAPA, para a primeira autora deste artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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