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CUSTAS REGULAMENTO TRANSACÇÃO RESTITUIÇÃO

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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 6868/07.2TBSXL-A.L1-6 Relator: TERESA SOARES

Sessão: 03 Fevereiro 2010 Número: RL

Votação: DECISÃO INDIVIDUAL Meio Processual: AGRAVO

Decisão: REVOGADA A DECISÃO

CUSTAS REGULAMENTO TRANSACÇÃO RESTITUIÇÃO

TAXA DE JUSTIÇA

Sumário

I- Não obstante aos autos se aplicar o Código das Custas Judiciais, face à data em que foram propostos, a verdade é que tendo ocorrido transacção a atento a data em que a mesma foi efectuada, ao processo era possível ser aplicado o benefício instituído pela norma transitória consagrada no artigo 19º do Decreto-Lei nº 34/2008, que aprovou o novo Regulamento das Custas Processuais.

II- Visou-se a criação de sistema de benefícios com o objectivo das partes procurarem mecanismos alternativos aos tribunais para resolver os litígios.

III- O facto de o legislador no artigo 19º dizer que: “Beneficiam a título

excepcional do disposto no n.º2 do art.º 22.º…”, só se justifica, na medida em que o art.º 22, para além do n.º2 tem também os n.ºs 3, 4 e 5 todos eles

referentes à conversão da taxa de justiça, mas em diferentes proporções.

IV- Ora, é o nº 2, do artigo 22º que se encontram as situações análogas àquelas a que o artigo 19º se reporta: acordo das partes; desistência da

instância para recurso a instrumentos de resolução alternativos, situações que correspondem às elencadas sob as alíneas b) e c) do citado n.º2.

V- O art.º 22 instituiu um regime global inovador, com ele se criando a figura da conversão, até aqui inexistente, e dispondo sobre as várias modalidades de conversão e respectivas consequências.

VI- O legislador, ao aludir a um benefício a título excepcional, fazendo reporte ao n.º2, estará a dizer, embora sem uma redacção feliz, que os sujeitos

beneficiarão do regime do art.º 22.º, sendo a proporção a atender a que

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consta do n.º 2 – conversão integral.

VII-Não havendo encargos, como é o caso dos autos, e tendo as partes

prescindido de custas de parte, sendo que também não constam outras dívidas ao processo, haveria que proceder à restituição da totalidade das taxas pagas, como decorre do n.º6 do art.º 22.

VIII-O legislador fez opção por não tributar o serviço que presta, quando esse serviço prestado seja apenas “mínimo”, ou se trate de matéria de relevo social - processos de jurisdição voluntária, em matéria de família. Tudo isto, apenas nos casos elencados no n.º2.

(LS)

Texto Integral

1.U..., SA intentou acção declarativa de condenação contra S..., SA.

2. Na pendência da acção da acção, por requerimento datado de 9 de Janeiro de 2009, vieram as partes pôr termo ao processo, por transacção, tendo acordado, no tocante a custas, o seguinte:

“As custas correm inteiramente por conta de U..., prescindindo as ora outorgantes de custas de parte e de procuradoria na parte disponível, sem prejuízo da aplicação do benefício estabelecido no art.º 19.º do DL 34/2008, de 26 de Fevereiro e nos arts.º 1.º e 3.º do DL 181/2008, de 28 de Agosto.”

Esta transacção foi homologada, por sentença transitada, tendo no tocante a custas se decidido assim: “Custas conforme acordado, sem prejuízo de

aplicação do disposto no art.º 19.º DL 34/2008, de 26 de Fevereiro, na redacção que lhe foi dada pelo DL 181/2008, de 28 de Agosto”.

3. Realizada a conta veio a A dela reclamar alegando, em síntese, que não foi tomado em consideração o disposto no art.º 19.º do Regulamento das Custas Judiciais, aprovado pelo DL 34/2008, com as alterações introduzidas pelo DL 181/2008 e pelo art.º 156.º da Lei do Orçamento de Estado, Lei 64-A/2008, de 31/12.

Defende, com base em tais normativos, que “deve ser convertido o montante já pago pelas partes a título de taxa de justiça, retirado o valor apurado a título de encargos e devolvido o remanescente às partes, na proporção do por cada parte pago. Acresce que, considerando a inexistência de encargos,

verifica-se que haverá que devolver a taxa de justiça paga em excesso.”

4. O Sr. Contador prestou a “Informação” nos termos do art.º 61.º do CCJ, sendo que dela não se retira qualquer esclarecimento, a não ser a afirmação que a “conta encontra-se correctamente elaborada.”

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5. O M.P. teve vista dos autos onde concluiu pela necessidade de reformulação da conta e pelo deferimento parcial da reclamação, sem contudo se alcançar quais os exactos termos em que preconiza esse deferimento parcial.

6. Sobre esta reclamação recaiu o despacho que se segue:

“Vem a Autora reclamar da conta efectuada nos autos pretendendo que o benefício previsto no art. 22º, nº2 do Regulamento das custas processuais aprovado pelo DL34/2008, de 28/08, implica, na situação presente, a devolução às partes da totalidade do valor pago a título de taxa de justiça inicial.

Pede a reformulação da conta em conformidade.

O Sr. contador prestou informação em 17 de Abril de 2009 dizendo que o que está em causa é a interpretação que deva dar-se aos art.s 19º e 22º do DL 34/2008, com as alterações introduzidas pelo DL 181/2008, de 28/08 e pelo art. 156º da Lei de Orçamento de Estado, Lei nº 64-A/2008, de 31/12.

O MºPº pronuncia-se no sentido do deferimento parcial da reclamação defendendo a interpretação correctiva do preceito legal referido de acordo com a totalidade do instituto jurídico introduzido pelo regulamento das custas processuais e sua regulamentação entretanto publicada - Portaria 419-A/2009, de 17/04.

Cumpre decidir:

Estabelece o art. 19º, nº1 do DL 34/2008, de 28/08 que "beneficiam a título excepcional do disposto no art. 22º, nº2 do regulamento das custas

processuais, as partes que em qualquer altura ou estado do processo, salvo quando já tenha sido proferida sentença em primeira instância: a) cheguem a acordo".

A sentença que homologou a transacção estabelecida entre as partes ressalvou a aplicação deste benefício concedido por lei.

Impõe-se, pois, entender em que consiste este benefício e compreender a sua real dimensão.

Importa, em primeiro lugar, sublinhar que a única norma aplicável aos processos pendentes antes da data de entrada em vigor do regulamento é a contida no art. 22º, nº2 ou, melhor dizendo, sob pena de não se retirar

qualquer utilidade do preceito mencionado, no art. 22º, nº1 e 2, impondo-se, deste modo, a sua interpretação correctiva.

Nos termos desta disposição legal, quem puser termo a processo, nos termos e condições ali estabelecidos, beneficia da imputação integral da taxa de justiça paga previamente no seu débito de encargos.

Tal só pode significar, em nosso entender, que havendo encargos a pagar, as

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partes que tenham posto termo ao processo dentro dos condicionalismos já vistos, liquidarão tais encargos com recurso ao valor pago antecipadamente a título de taxa de justiça, até ao limite do respectivo montante.

A questão a dirimir, neste caso, consiste em saber o que ocorre quando não há encargos a pagar ou quando estes são de valor inferior ao da taxa de justiça já paga.

A Autora defende a sua devolução à parte que procedeu ao seu pagamento.

Não vemos, no entanto, qual a base legal para tal procedimento.

Não a encontramos no Código das Custas aplicável, resultante do DL 324/2003, de 27 de Fevereiro.

E o legislador não considerou aplicar aos processos pendentes a norma prevista no art. 22º, nº5 do regulamento das custas processuais, que expressamente prevê que "o valor convertido que exceda os montantes já apurados a título de encargos mantém-se como crédito na conta de custas, sendo devolvido à parte o que prestou, depois do trânsito em julgado e de saldadas todas as dívidas ao processo, se não for entretanto destinado ao pagamento de encargos ou custas de parte."

Não adiantaremos ainda qual a interpretação a dar a tão complexa norma, apenas reforçando que a mesma não pode ser aplicada aos processos pendentes, com base no art. 19º, nº1 DL 34/2008, sequer por apelo à

interpretação correctiva, por não ser lícito presumir, na situação em análise, que o legislador disse menos do que queria dizer - cfr. art. 9º CC.

Por tal razão, não pode proceder a reclamação apresentada pela Autora.

Pelo exposto, indefiro a reclamação apresentada.”

7. Deste despacho agravou a Autora alegando e concluindo, em síntese:

- entende a ora Recorrente que o Tribunal interpretou o "benefício" conferido pelo legislador, por remissão para o número 2 do artigo 22° do Regulamento das Custas Processuais, completamente fora do espírito do sistema instituído pelo referido Regulamento, de que aquela norma faz parte;

- na lógica daquele Regulamento, a taxa de justiça é paga antecipadamente, e de modo integral, de uma vez só (vide artigo 13°/2 daquele Regulamento) : - nos termos daquele artigo 22°, é essa taxa de justiça paga, antecipadamente, e de modo integral, que é totalmente convertida em encargos do processo:

Quer isto dizer que as partes, depois da conversão dos valores pagos a título de taxa de justiça em encargos do processo, não têm, na lógica daquele

Regulamento, que pagar qualquer outro montante a título de taxa de justiça;

- Assim, o benefício que o legislador, de um modo grosseiramente imperfeito, quis atribuir através do preceituado no citado artigo 19° do Decreto Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro, foi o de antecipar a aplicação, em bloco, daquele

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regime do artigo 22.º do Regulamento das Custas Processuais, às partes que ponham termo aos processos, nos termos e condições ali estabelecidos -

mesmo quando, de acordo com o regime de custas anterior, não tenham ainda pago antecipadamente a totalidade da taxa de justiça;

- A intenção legislativa, ao antecipar a atribuição do benefício constante do artigo 22° do Regulamento das Custas Processuais, foi a de garantir às partes, nos litígios então pendentes, uma isenção de custas em caso de resolução consensual do litígio, procurando assim fomentar, no tempo e casos

excepcionais ali previstos, os acordos e, por essa via, a diminuição da pendência judicial;

- tendo atenção o preceituado no artigo 9° do Código Civil, o intérprete deve considerar que o legislador, tendo em conta as circunstâncias em que o

Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro, foi elaborado (congestionamento dos Tribunais), e os seus objectivos (a diminuição da pendência), pretendeu aplicar às partes, em bloco, o regime do artigo 22°, no que a esta matéria diz respeito e não apenas o preceituado no seu n.o 2 - que, aliás, desacompanhado dos restantes números do artigo, é inaplicável;

- Importa assim entender que o legislador, naquele artigo 19°, disse menos do que queria dizer;

- Por isso, o artigo 19.º do Decreto-Lei n.o 34/2008, de 26 de Fevereiro, deve ser interpretado extensivamente, com o sentido de que as partes ali referidas beneficiam, a título excepcional, do regime previsto no artigo 22° do

Regulamento das Custas Processuais, incluindo, para o que agora interessa, os respectivos números 1 e 6;

- Importa assim considerar que a decisão recorrida violou o preceituado no artigo 19° do Decreto-Lei n.o 34/2008, de 26 de Fevereiro, com as alterações introduzidas pelo Decreto Lei número 281/2008, de 28 de Agosto e pelo artigo 156° da Lei n.o 64 A/2008, de 31 de Dezembro;

- Por fim, cumpre entender que ora Recorrente nada mais tem a pagar a título de taxa de justiça, devendo ainda ser-lhe restituída a que já pagou, nos termos previstos no número 6 daquele artigo 22°.

8. Contra-alegou o M.P., pugnado pela improcedência do recurso. Contudo, no corpo das suas alegações defende que:

-o art.º 19.º é uma norma excepcional pelo que só admite interpretação extensiva;

- o benefício em causa consiste na conversão e, tendo em conta a diferença de regimes, a desnecessidade de pagamento de taxas subsequentes, o que

estende ser a interpretação contida no espírito e letra da lei;

Decorre daqui que o M.P. defendeu a desnecessidade de pagamento da taxa de

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justiça que foi liquidada à recorrente e que vem a ser a essência do recurso apresentado, dado o valor envolvido (€14.000).

9. Dada a sua simplicidade, cumpre decidir liminar e sumariamente o recurso, nos termos do art. 705º, CPC, sendo certo que a decisão é recorrível, o

recurso é o próprio, assim como o regime de subida e efeito atribuídos, nada obstando ao conhecimento do seu objecto e inexistem quaisquer outras questões prévias de que cumpra conhecer.

As questões colocadas pela recorrente são duas e não só uma, como foi o considerado quer pelo Sr. Juiz, no despacho que proferiu, quer pelo MP, nas suas contra-alegações.

Já quando teve vista do autos o M.P. ao pronunciar-se sobre a reclamação apresentada deu conta de se tratarem de duas questões, pugnando pelo

deferimento de uma delas, tendo-se pronunciado pela necessidade de reforma da conta.

As questões são as seguintes:

1.ª - saber se haveria lugar à elaboração da conta, com a liquidação da taxa de justiça que se entendeu ser devida;

2.ª saber se à lugar à restituição à A da taxa já paga, uma vez que não decorreram dos autos “encargos”.

Os elementos a ter em consideração são os que constam do relatório supra e ainda o seguinte:

Dos termos da conta de fls 43 conta que:

-o valor da acção é de €1.737.794,00;

- valor da taxa paga pelo Autor - € 1.152,00 - valor da taxa paga pelo Réu - € 1.152,00 - taxa de justiça aplicável -€16,704,00

-taxa de justiça devida ao IGFIJ - €16,704,00 - total de conta/liquidação - € 14.400,00

À acção em causa aplica-se o Código das Custas Judiciais, dada a data da sua instauração.

Contudo, em virtude da transacção corrida e a data respectiva, estava o processo em condições de lhe ser aplicado, como foi na sentença, o benefício instituído pela norma transitória que está consagrada no art.º 19.º do DL 34/2008 que aprovou o novo “Regulamento das Custas Processuais”.

É questão consensual que este novo diploma veio proceder a uma alteração

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radical do sistema anterior vigente, em matéria de custas, sendo muitas as dúvidas que se vêm suscitando na sua aplicação, dada a novidade e a forma pouco esclarecedora de alguns preceitos.

Decorre da lei de autorização legislativa - L26/2007, de 23/7 - por via da qual o governo foi autorizado a criar uma nova legislação em matéria de custas, que se pretendem criar uma correspondência o mais real possível entre o valor das custas (comprendendo taxa de justiça e encargos) e o valor efectivo do serviço de justiça e inerentes custos.

Visou também essa autorização a criação de um sistema de benefícios com vista a que as partes procurem mecanismos alternativos aos tribunais para resolver os seus litígios.

Dando concretização a tais orientações pode ler-se no preâmbulo do DL 34/08:

“A presente reforma procurou também incentivar o recurso aos meios

alternativos de resolução judicial, estabelecendo benefício e reduções no que respeita ao pagamento das custas processuais” e mais adiante:”A taxa de justiça é, agora com mais clareza, o valor que cada interveniente deve prestar, por cada processo, como contrapartida pela prestação de um serviço.”

Analisemos, antes de mais, o art.º 22.º do Regulamento.

Merece adesão as considerações feitas por Salvador da Costa no seu Regulamento Anotado-2009, onde se pode ler:

“Reporta-se este artigo, inovador, de extensão imensa, à conversão da taxa de justiça paga em encargos, em cuja motivação esteve a ideia de simplificação processual decorrente da eliminação dos casos de redução da taxa e de não devolução desta às partes.

Por via dele, a taxa de justiça efectiva e previamente paga vai ser afectada à realização do direito de crédito das partes e dos terceiros que prestaram a sua colaboração nos processos respectivos.

É uma conversão integral, de metade, de um terço ou na medida do excesso eventualmente pago…

Trata-se, na realidade de uma isenção total ou parcial de taxa de justiça,

aproximando o nosso regime de custas do que existe noutros ordenamentos no sentido de que os custos dos processos se cingem aos encargos, da

responsabilidade de quem acciona e de quem é accionado na jurisdição cível, lato sensu.”

Esta a filosofia subjacente ao citado art.º 22.º do RCP.

Passemos então agora à norma transitória, cuja aplicação gerou a controvérsia dos autos.

Dispôs o DL 34/2008, que aprovou o Regulamento, da norma transitória consubstanciada no art.º19.º com a seguinte redacção:

"1. Beneficiam a título excepcional do disposto no n.º2 do artigo 22º do

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Regulamento da Custas Processuais, as partes que em qualquer altura ou estado do processo, salvo quando já tenha sido proferida sentença em 1.ª instância:

a) cheguem a acordo;

b) desistam da instância para recurso a instrumentos de resolução alternativa de litígios.

2. O benefício concedido no número anterior abrange os acordos e desistências ocorridas entre a publicação do presente decreto-lei e 1 de Setembro de 2008”

Este n.º 2 veio a ser sucessivamente alterado, sendo a sua versão final a dada pelo art. 156º da Lei de Orçamento de Estado, Lei nº 64-A/2008, de 31/12, que alterou a data para 20 de Abril de 2009.

Não oferece dúvida que este “benefício”, assim apelidado pela lei, se insere no âmbito das várias medidas que têm vindo a ser tomadas visando o

descongestionamento dos tribunais.

Com o mesmo objectivo se dispôs na lei 60-A/2007 de 30/12 (Lei do Orçamento do Estado para o ano de 2006), integrado no seu Capítulo XIII, com a epígrafe

“Incentivos excepcionais para o descongestionamento das pendências judiciais” onde se dizia “Nas acções cíveis declarativas e executivas que

tenham sido propostas até 30 de Setembro de 2005, (…) e venham a terminar por extinção da instância em razão de desistência do pedido, de confissão, transacção ou de compromisso arbitral apresentado até 31 de Dezembro de 2006, há dispensa do pagamento das custas judiciais que normalmente seriam devidas por autores, réus ou terceiros intervenientes, não havendo lugar à restituição do que já tiver sido pago nem, salvo motivo justificado, à

elaboração da respectiva conta”.

Chegamos, só agora, ao cerne da questão: como interpretar este art.º 19.º quando diz que “Beneficiam a título excepcional do disposto no n.º2 do art.º 22.º…”

Entendeu o Sr juiz que: “a única norma aplicável aos processos pendentes antes da data de entrada em vigor do regulamento é a contida no art. 22º, nº2 ou, melhor dizendo, sob pena de não se retirar qualquer utilidade do preceito mencionado, no art. 22º, nº1 e 2, impondo-se, deste modo, a sua interpretação correctiva. “

Efectivamente, se atentarmos ao citado n.º 2 isoladamente não é possível daí retirar qualquer aplicação prática.

Em nosso entender, o reporte feito pelo legislador ao n.º 2 só se justifica, na medida em que o art.º 22, para além do n.º2 tem também os n.ºs 3, 4 e 5 todos eles referentes à conversão da taxa de justiça, mas em diferentes proporções:

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enquanto o n.º2 nos diz que a conversão respeita à taxa integral, já o n.º3 se reporta a metade da taxa; o n.º4 à taxa paga, que seja superior àquela que resulte do valor que o juiz venha a fixar à acção; e o n.º5 reporta-se a um terço da taxa.

E não existe dúvida que assim seja, porque é no n.º2 que se encontram as situações análogas àquelas a que o art.º 19.º se reporta:

- acordo das partes;

- desistência da instância para recurso a instrumentos de resolução alternativos.

Estas duas situações correspondem às elencadas sob as al.b) e c) do citado n.º2.

Daí a necessidade que o legislador terá sentido de fazer referência ao n.º2,dada a equiparação das situações. Não vemos na alusão ao n.º2 nada mais que a definição da proporção da conversão a fazer.

O art.º 22 instituiu um regime global inovador, com ele se criando a figura da conversão, até aqui inexistente, e dispondo sobre as várias modalidades de conversão e respectivas consequências.

Se o legislador pretendesse a aplicação do sistema que não de uma forma global, teria que ter referido a aplicação apenas dos n.º1 e 2 do art.º 22.º.

A nosso ver, o legislador, ao aludir a um benefício a título excepcional, fazendo reporte ao n.º2, estará a dizer, embora sem uma redacção feliz, que os sujeitos beneficiarão do regime do art.º 22.º, sendo a proporção a atender a que

consta do n.º 2 – conversão integral.

Só esta interpretação se mostra consentânea com a pretensão do legislador de criar um benefício excepcional.

Acompanhamos assim o entendimento da recorrente quando alega que o n.º2 do art.º 22, só por si, é inaplicável e que, com recurso ao art.º 9.º do CC, teremos que entender que o legislador quis remeter para o novíssimo sistema da “conversão da taxa”.

No fundo, tudo se passa como se a esses processos já se aplicasse o regulamento, em matéria de conversão.

Vejamos como se passaria as coisas se este processo tivesse sido instaurado já após a entrada em vigor do regulamento:

- as partes teriam pago a totalidade da taxa de justiça devida;

- mas porque chegaram a acordo, a taxa paga era integralmente convertida em pagamento de encargos;

- não havendo encargos, como é o caso dos autos, e tendo as partes

prescindido de custas de parte, sendo que também não constam outras dívidas ao processo, haveria que proceder à restituição da totalidade das taxas pagas, como decorre do n.º6 do art.º 22.

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Isto para dizer que:

A -quanto à primeira questão colocada no recurso: não tem recorrente que pagar a taxa que estaria em falta, como se conta fosse elaborada de acordo com o CCJ;

B –quanto à segunda questão: assiste às partes o direito a que lhes sejam devolvidas as taxas que pagaram.

Dir-se-á: então não pagam nada?

Mas é efectivamente essa a filosofia que está por detrás do sistema

implementado pelo art.º 22.º, quando se verifica algum dos casos elencados no seu n.º2, pois, como nos diz Salvador da Costa, estamos perante uma

verdadeira isenção de taxa de justiça. As partes só haverão de pagar as despesas que ocasionaram ao tribunal, a terceiros, ou à parte contrária.

Trata-se de uma verdadeira isenção, que o legislador quis e que se

compreende dentro da filosofia de descongestionamento dos tribunais, com incentivo à solução consensual, libertando o tribunal o mais possível das pendências; pedindo o esforço das partes para, chegados a tribunal, resolver entre elas o litígio, antes que o peso das taxas impenda sobre elas;

Podemos, pois, concluir que o legislador fez opção por não tributar o serviço que presta, quando esse serviço prestado seja apenas “mínimo”, ou se trate de matéria de relevo social - processos de jurisdição voluntária, em matéria de família. Tudo isto, apenas nos casos elencados no n.º2.

A não se entender assim ou seja, defendendo, como no caso da conta em causa (leia-se Sr. Contador, sendo que o Sr Juiz expressamente sobre isso não se pronunciou, dado que se limitou a concluir que não havia lugar a devolução, nada tendo dito sobre a obrigação de pagar a taxa que lhe foi liquidada à reclamante), que haveria lugar ao pagamento da taxa em falta, logo o seu

“pagamento por inteiro”, então como é que se compreenderia que alguém desistisse da instância - que é outra das situações previstas no citado art.º 19.º,- para recorrer a mecanismos alternativos de resolução do litígio, quando saia do tribunal com o problema para resolver noutro local e tinha que sofrer o pagamento da taxa de justiça, na integra. Onde é que se encontrava então o incentivo ou, no dizer lei, o “benefício excepcional”?

Sobre esta mesma questão – aplicação da norma transitória contida no citado art.º 19.º -pronunciou-se o Centro de Formação dos Funcionário de Justiça, por parecer 409 de 14/7 de 2008, tendo entendido que:

- o montante das taxas pagas pelas partes foram arredacadadas pelo IGFIJ, pelo que o montante pago passa a figurar como saldo do processo, no descritivo “Custas prováveis”;

- só haverá lugar à elaboração da conta se houver lugar a pagamento de encargos e apenas para apuramento destes;

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- os encargos serão pagos através da inscrição em “custas prováveis”;

- não é apurada taxa de justiça;

- não havendo encargos em dívida , o valor das custas prováveis deve ser transferido para o descritivo “taxa de justiça” e devolvido às partes

respectivas, por “nota de restituição”.

Este também nos parece ser o caminho a seguir.

Nestes termos, dando provimento ao agravo, revoga-se a decisão recorrida e dá-se sem efeito a conta elaborada, bem como a nota de liquidação remetida à recorrente.

Não havendo encargos em dívida, será devolvido a cada uma das partes aquilo que pagaram, a título de taxa de justiça.

Sem custas.

Lisboa, 3/2/2010.

Teresa Soares

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