• Nenhum resultado encontrado

Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 133/12.0TTBCL.6.P1.S1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 133/12.0TTBCL.6.P1.S1"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Supremo Tribunal de Justiça

Processo nº 133/12.0TTBCL.6.P1.S1 Relator: PAULA SÁ FERNANDES

Sessão: 14 Julho 2021 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA Decisão: NEGADA A REVISTA.

ACIDENTE DE TRABALHO PRATICANTE DESPORTIVO DESPORTISTAS PROFISSIONAIS

Sumário

I- A Lei n.º 8/2003 prevê um regime específico de reparação dos danos

emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais, prevendo, nomeadamente, que são devidas pensões com limites diferentes, uma a vigorar até o beneficiário completar 35 anos e outra depois dessa data. II- Todavia, apenas, quando passe a ser devida esta última, pode haver lugar à remição parcial da pensão, nos termos do artigo 75.º n.º 2 da LAT, pois

aplicação deste dispositivo pressupõe uma pensão anual e vitalícia, ou seja, a pensão definitivamente fixada.

Texto Integral

Processo n.º 133/12.0TTBCL.6.P1.S1 Recurso de Revista

Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça

I. Relatório

(2)

O Sinistrado, AA, na presente ação especial de acidente de trabalho movida contra Fidelidade – Companhia de Seguros S.A., em incidente de remição, pretende remir parcialmente o valor de € 30.000,00 da sua pensão anual a que corresponde um capital de remição de € 496.650,00.

A Ré Seguradora veio opor-se.

Em 27 de junho de 2019 foi proferido despacho que autorizou a remição parcial da quota-parte da pensão no montante de € 30.000,00.

A Ré/ Seguradora, inconformada, interpôs recurso de apelação, que o Tribunal da Relação do Porto julgou procedente, revogando a decisão da 1.ª instância e indeferindo a requerida remição parcial da pensão.

O Sinistrado, inconformado, interpôs o presente recurso de revista, tendo para o efeito elaborado as seguintes Conclusões:

1.O presente recurso tem por objeto esclarecer o sentido e alcance do art.º 75.º da LAT quanto às condições de remição parcial em caso de fixação de uma IPP inferior a 30%, mas cuja pensão anual vitalícia seja superior a seis vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida.

2.Estabelece o art.º 75º, nº 2 da LAT que pode ser parcialmente remida (…) a pensão anual vitalícia, desde que cumulativamente:

a pensão anual sobrante não seja inferior a seis vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida em vigor à data da autorização da remição;

o capital de remição seja ser superior ao que resultaria de uma pensão calculada com base numa incapacidade de 30%.

3.É inconstitucional, por violação dos princípios da igualdade e da

proporcionalidade, bem como da justa reparação aos sinistrados com acidente de trabalho, consignados nos arts. 13.º, n.º 1, 18.º n.º 2 e 59.º n.º 1 alínea f) da Constituição, impor a um sinistrado que o valor da sua pensão sobrante em caso de remição parcial seja o correspondente a seis vezes o valor da

retribuição mínima mensal, não podendo esta superior.

4.Um sinistrado, e dentro dos requisitos estipulados no n.º 2 do 75.º da LAT, tem que ter a autonomia de optar e escolher qual o valor da sua pensão sobrante.

(3)

5.Mantendo o trabalhador o essencial da sua capacidade de ganho, apenas a ele deve competir essa decisão, não existindo fundamentos

constitucionalmente válidos que legitimem a limitação da sua capacidade para administrar o seu património, nomeadamente no que concerne à utilização do capital obtido com a remição da pensão devida por acidente de trabalho - em especial quando o sinistrado requereu expressamente pretender a remição parcial da pensão.

6.É inconstitucional, por violação dos princípios da igualdade e da

proporcionalidade, bem como da justa reparação aos sinistrados com acidente de trabalho, consignados nos arts. 13.º, n.º 1, 18.º n.º 2 e 59.º n.º 1 alínea f) da Constituição que o preenchimento dos requisitos do n.º 2 do art.º 75 da LAT devam ter em conta a totalidade da pensão anual.

7.Sujeitar os requisitos do n.º 2 do art.º 75.º ao limite n.º 1 do mesmo preceito às situações em que é fixada uma IPP inferior a 30%, mas cuja pensão anual é superior a seis vezes a retribuição mínima mensal, é inconstitucional por violação do principio da igualdade, porque seria impor um limite que não é imposto aos casos em que é fixado uma IPP superior a 30 % mas cuja pensão anual é também superior a seis vezes a retribuição mínima mensal.

8.Conforme o Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 172/2014 o

preenchimento da remição parcial, nos termos do n.º 2 do art.º 75.º da LAT, basta-se apenas com o preenchimento de dois requisitos cumulativos: o

enunciando na alínea a) [a pensão sobrante não pode ser inferior a seis vezes o valor da retribuição mensal garantida] e o da alínea b) [o capital de remição não pode ser superior ao que resultaria de uma pensão calculada com base numa incapacidade de 30%].

9. Deste modo, o Sinistrado, ao pretender a remição de € 30.000,00 da sua pensão anual, que corresponde ao capital de remição de € 496.650,00, cumpre os requisitos legais previstos do n.º 2 do artigo 75 da LAT, a saber:

a. A pensão anual sobrante (que será de € 85.691,84) não é inferior a seis vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida à data da autorização da remição.

b. O capital de remição não é superior ao que resultaria de uma pensão

calculada com base numa incapacidade de 30% (€ 200.004,00 X 70% X 30% =

€ 42.000,00 X 16.555 = 695.323,91).

(4)

Termos em que se requer que Vª Exª se digne dar provimento à presente alegação substituindo o acórdão recorrido por douto acórdão que confirme a decisão a 1ª instância, autorizando a remição parcial da pensão anual no valor de € 30 000,00, a que corresponderá um capital de remição de €496.650,00. A Ré/Seguradora/ré nas suas contra-alegações, pugnou pela confirmação do acórdão recorrida que indeferiu a remição parcial da pensão anual do

Sinistrado.

Neste Supremo Tribunal de Justiça, o Ex.º Sr. Procurador‑geral Adjunto emitiu parecer no sentido da improcedência da revista por considerar que a pensão fixada ao sinistrado não é parcialmente remível.

II. Fundamentação

A questão essencial suscitada nas conclusões do recurso interposto, que delimitam seu objeto, consiste em saber se o Sinistrado tem, ou não, direito à remição parcial da sua pensão anual, ao abrigo do n.º 2 do artigo 75.º da LAT.

Fundamentos de facto

Foram considerados provados os seguintes factos:

1.Por sentença datada de 05.01.2015 foi fixado ao sinistrado a IPP de

30,355%, por aplicação da tabela de comutação específica para a atividade de praticante de desporto profissional prevista pela Lei n. º 8/2003 de 12.05, e condenada a Ré seguradora a pagar-lhe a pensão anual e vitalícia de €

42.497,85, atualizável, com início em 31.12.2012, acrescida de juros de mora à taxa legal contados desde essa data e até integral pagamento.

2.Em 18.08.2016 o sinistrado veio requerer a revisão da sua incapacidade com o fundamento de que a mesma se agravou.

3. O sinistrado e a Ré seguradora vieram celebrar transação nos seguintes termos:

“1. A Ré Seguradora reconhece que, em consequência do acidente de trabalho que o sinistrado sofreu em 29.01.2011, a situação de incapacidade do

sinistrado é de 20% TNI com IPATH (incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual).

2. Nos termos da Lei n.º 8/2003 de 12 de maio, e considerando a idade do sinistrado (30 anos) à data do pedido de revisão de incapacidade, as partes

(5)

reconhecem que a essa IPP de 20% corresponde, em termos de comutação, a IPP específica de 34,37%.

3. As partes reconhecem que, atualmente, o sinistrado está afetado de IPP específica de 34,37%, com IPATH, ou seja, o sinistrado encontra-se

incapacitado para o exercício da sua profissão habitual de praticante profissional de futebol.

4. A Ré Seguradora obriga-se a pagar ao sinistrado uma pensão anual devida desde 18.08.2016 – data da apresentação do requerimento para revisão – e nos montantes máximos legais previstos no nº2 do artigo 2º da Lei nº8/2003 de 12 de maio.

4.1. Pensão anual de € 111.300,00 (cento e onze mil e trezentos euros) até aos 35 anos do sinistrado.

4.2. A partir dessa idade, uma pensão anual e vitalícia com limite máximo de 14 vezes o montante correspondente a oito vezes o salário mínimo nacional mais elevado garantido para os trabalhadores por conta de outrem em vigor à data da alteração da pensão, conforme alínea b) do n.º 2 do artigo 2º da Lei n.º 8/2003 de 12 de maio.

4.3. As prestações já vencidas serão pagas de uma só vez, com a primeira vincenda e a indemnização, deduzidas das pensões entretanto pagas,

acrescidas de juros de mora, à taxa legal (artigo 135º do CPT). 4.4. Às pensões anuais calculadas nos termos dos nºs.1 e 2 anteriores aplicam-se as regras de atualização anual das pensões previstas no nº1 do artigo 6º do DL nº142/99 de 30 de abril” (…)

4. Em 23.04.2018 foi proferido o seguinte despacho: (…) “Considerando que a IPP acordada (20% com IPATH) coincide com a atribuída em sede de junta médica e o valor pelo qual as partes pretendem transigir não implica qualquer renúncia a direitos indisponíveis, considero a transação válida, quer quanto ao objeto, quer pela qualidade das pessoas que nela intervieram, pelo que a

homologo por sentença condenando as partes e absolvendo-as, nos precisos termos aí exarados e aqui dados por reproduzidos” (…).

5. O sinistrado nasceu em 24.01.1986. Fundamentos de direito

Como acima se referiu, a questão essencial suscitada pelo Recorrente/ sinistrado consiste em saber se tem direito à remição parcial da sua pensão anual. Para o efeito, alega, em síntese, que ao pretender a remição de € 30.000,00 da sua pensão anual, que corresponde ao capital de remição de € 496.650,00, cumpre os requisitos legais, previstos do n.º 2 do artigo 75 da LAT, que dispõe:

(6)

2. Pode ser parcialmente remida, a requerimento do sinistrado ou do beneficiário legal, a pensão anual vitalícia correspondente a incapacidade igual ou superior a 30% ou a pensão anual vitalícia de beneficiário legal desde que, cumulativamente, respeite os seguintes limites:

a) A pensão anual sobrante não pode ser inferior a seis vezes o valor da retribuição mínima mensal garantida em vigor à data da autorização da remição;

b) O capital da remição não pode ser superior ao que resultaria de uma pensão calculada com base numa incapacidade de 30%.

Vejamos

Tendo o acidente ocorrido em 29.01.2011 são aplicáveis, in casu, a Lei n. º 100/97, o DL n.º 143/99, a Lei n.º 8/2003, de 12 de maio que iniciou a sua vigência em 13.05.2003 e que viria a ser revogada pela Lei n.º 27/2011 de 16.06.2011, esta aplicável apenas aos acidentes ocorridos após a sua entrada em vigor.

A referida Lei n.º 8/2003, prevê um regime específico de reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais, dada a natureza particular dos desportistas profissionais, dispondo desde logo o seu artigo 2.º:

Prestações

1 - Para efeitos de reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais dos quais resulte morte ou

incapacidade permanente absoluta para todo e qualquer trabalho, as pensões anuais calculadas nos termos da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, têm como limite global máximo o valor de 14 vezes o montante correspondente a 15 vezes o salário mínimo nacional mais elevado garantido para os trabalhadores por conta de outrem em vigor à data da fixação da pensão.

2 - Para efeitos de reparação dos danos emergentes de acidente de trabalho dos praticantes desportivos profissionais dos quais resulte uma incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual ou uma incapacidade

permanente parcial, as pensões anuais calculadas nos termos da Lei n.º 100/97, de 13 de setembro, obedecem aos seguintes limites máximos:

a) 14 vezes o montante correspondente a 15 vezes o salário mínimo nacional mais elevado garantido para os trabalhadores por conta de outrem em vigor à

(7)

data da fixação da pensão, até à data em que o praticante desportivo profissional complete 35 anos de idade;

b) 14 vezes o montante correspondente a oito vezes o salário mínimo nacional mais elevado garantido para os trabalhadores por conta de outrem em vigor à data da alteração da pensão, após a data referida na alínea anterior.

3 - Nos casos previstos nos números anteriores, ao grau de desvalorização resultante da aplicação da tabela nacional de incapacidades por acidente de trabalho e doenças profissionais corresponde o grau de desvalorização previsto na tabela de comutação específica para a atividade de praticante desportivo profissional, anexa à presente lei e que dela faz parte integrante, salvo se da aplicação da primeira resultar valor superior.

4 - Podem ser celebrados acordos e protocolos entre as empresas de seguros e as entidades empregadoras dos sinistrados, no sentido do estabelecimento de franquias em casos de incapacidades temporárias.

5 - Às pensões anuais calculadas nos termos dos n.ºs 1 e 2 aplicam-se as regras de atualização anual das pensões previstas no n.º 1 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 142/99, de 30 de abril

Assim, resulta desde logo uma especificidade quando, nomeadamente, o seu n.º 2º estabelece que: Para efeitos de reparação dos danos emergentes de acidente de trabalho dos praticantes desportivos profissionais dos quais resulte uma incapacidade permanente absoluta para o trabalho habitual ou uma incapacidade permanente parcial, as pensões anuais calculadas nos termos da Lei n.º 100/97, de 13 de setembro, obedecem aos seguintes limites máximos indicados as alienas a) e b)

Assim, se o modus operandi é o mesmo que consta da LAT, já os limites a considerar serão diferentes, justificados pelo facto de os profissionais desportivos, auferirem, na generalidade, retribuições superiores à média auferida pelos demais trabalhadores por conta de outrem, prevendo-se, ainda, nas referidas alíneas, que são devidas pensões com limites diferentes, uma a vigorar até o beneficiário completar 35 anos e outra depois dessa data. Todavia, apenas, quando passe a ser devida esta última, pode haver lugar à remição parcial da pensão, nos termos do invocado artigo 75.º n.º 2 da LAT, pois aplicação deste dispositivo pressupõe uma pensão anual e vitalícia, ou seja, a pensão definitivamente fixada.

(8)

Ora, o Recorrente veio requerer o capital de remição de uma pensão anual que iria receber, apenas, por mais dois anos, no montante com base no qual efetua o cálculo respetivo, como se a mesma fosse vitalícia.

Resultou provado (facto n.º3) que na transação efetuada, ficou assente que: A Ré Seguradora obriga-se a pagar ao sinistrado uma pensão anual devida desde 18.08.2016 – data da apresentação do requerimento para revisão – e nos montantes máximos legais previstos no nº 2 do artigo 2º da Lei nº8/2003 de 12 de maio.

4.1. Pensão anual de € 111.300,00 (cento e onze mil e trezentos euros) até aos 35 anos do sinistrado.

4.2. A partir dessa idade, uma pensão anual e vitalícia com limite máximo de 14 vezes o montante correspondente a oito vezes o salário mínimo nacional mais elevado garantido para os trabalhadores por conta de outrem em vigor à data da alteração da pensão, conforme alínea b) do n.º 2 do artigo 2º da Lei n.º 8/2003 de 12 de maio. (sublinhado nosso)

Assim sendo, resulta claro da referida transação (ponto nº4.2) que a pensão vitalícia só será fixada depois do sinistrado perfazer 35 anos de idade. Deste modo, não é possível a aplicação do n.º 2 do artigo 75.º da LAT, com vista à remição parcial de pensão anual do sinistrado que foi fixada até aos 35 anos, por não se verificar, desde logo, um pressuposto prévio e essencial – que pensão que se pretende remir tenha sido fixada do modo anual e vitalício.

III. Decisão

Face ao exposto, acorda-se um julgar improcedente o recurso de

revista interposto e ainda que, com fundamento diverso, confirma-se a decisão recorrida.

Custas pelo Recorrente. STJ 14 de julho 2021.

Maria Paula Sá Fernandes (Relatora) Leonor Rodrigues

(9)

Júlio Gomes

Referências

Documentos relacionados

LXXXII. Sendo certo que a colocação das condutas apenas lhe retira lugar para dois carros. LXXXIII.O fornecimento de água potável ao concelho de Valença não é, nem pode

(2001) compararam resultados obtidos por provadores de café através da prova de xícara e os obtidos através da atividade da polifenoloxidase em amostras de

Nesse sentido, com base em leituras de autores com influências progressistas, como Auler (2011), Auler e Delizoicov (2006), Auler, Dalmolin e Fenalti (2009), Caldart (2011),

O pedido de extinção do direito de uso e habitação sobre um prédio urbano que, em transação judicial homologada por sentença transitada em julgado, a autora atribuiu ao

O Exmº Procurador-Geral Adjunto, teve vista nos autos, nos termos do artigo 87.º, n.º 3 do Código do Processo de Trabalho, proferindo proficiente parecer, pronunciando-‑se no

tem o seu pedido de ser julgado improcedente contra a 2ªR, por via do regime da repartição do ónus da prova (cf. os seguintes factos provados: 15) Tendo o canídeo referido em

1 - O acidente dos autos ocorreu no dia 8 de Janeiro de 2006, ou seja na vigência da Lei n.º 100/97, de 13 de Setembro, regulamentada pelo Decreto- Lei n.º 143/99, de 30 de

Como a audiência de partes não derivou em conciliação, veio o R contestar, suscitando a excepção dilatória da incompetência material do Tribunal do Trabalho para julgar a causa,