PROCESSO Nº: 296/2021 RECURSO VOLUNTÁRIO Com pedido de Efeito Suspensivo
RECORRENTE: ASSOCIAÇÃO CHAPECOENSE DE FUTEBOL RECORRIDO: 2ª COMISSÃO DISCIPLINAR
DATA JULGAMENTO 28/10/2021
AUDITOR RELATOR Dr. JORGE IVO AMARAL DA SILVA
ACÓRDÃO
EMENTA: AFRONTA AS DIRETRIZES TÉCNICAS DA CBF.
CREDENCIMENTO. PREVENÇÃO COVID-19. OFENSAS DIRIGIDAS À EQUIPE DE ARBITRAGEM.
APLICAÇÃO DO ART. 213 DO CBJD.
MULTA MANTIDA.
Vistos etc., acorda, o Pleno do STJD, na conformidade do voto condutor, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Trata-se de Recurso Voluntário com Pedido de Efeito Suspensivo aviado por ASSOCIAÇÃO CHAPECOENSE DE FUTEBOL (SC), denunciada nas iras do art. 213 do CBJD, tendo como Recorrido a 2ª COMISSÃO DISCIPLINAR, que condenou a Recorrente “por UNANIMIDADE, para aplicar a pena de multa de R$ 5.000,00 (cinco mil
07 (sete) dias para cumprimento da obrigação pecuniária sob pena de incidência do art. 223 do CBJD”, devido ofensas dirigidas à equipe de arbitragem por pessoas credenciadas pela agremiação, conforme consignado na Súmula, nos seguintes termos:
“Após o término da partida quando a equipe de arbitragem dirigia-se ao seu vestiário na zona mista, várias pessoas com a camiseta da equipe da associação chapecoense de futebol, hostilizaram a equipe de arbitragem batendo palmas proferindo em voz alta as seguintes palavras: ‘ladrão, safado, filho da puta, safado, vagabundo’. Informo que a equipe de arbitragem necessitou do apoio do policiamento para chegar ao vestiário”.
Acordão Recorrido juntado aos autos (fls. 26/32) no dia 23/09/2021.
Partes devidamente intimadas no dia 24/09/2021 conforme constante à (fl. 33).
Recurso tempestivo nos termos do art. 43, § 1º c/c com o art.
138, I do CBJD e com preparo recolhido (fl. 52).
Efeito suspensivo concedido (fls. 54/56) no dia 30/09/2021
Manifestou a d. Procuradoria de Justiça Desportiva em parecer da lavra do d. Procurador Dr. Giovani Rodrigues Mariot pelo desprovimento do Recurso (fls. 62/65).
DAS RAZÕES RECURSAIS:
Aduz o Recorrente, em apertada síntese, em suma: (fls.
38/44)
QUE o árbitro da partida esteve em uma noite muito infeliz, invertendo faltas e deixando de marcar outras, não sabendo conduzir a partida de uma forma tranquila;
QUE após expulsão de um atleta adversário o arbitro após consulta ao VAR muda o entendimento quanto ao cartão vermelho;
QUE na segunda etapa o arbitro após consulta ao VAR expulsou atleta da Recorrente que sequer teria cometido falta cujo lance teria se dado em disputa normal de bola;
QUE a temperatura do jogo subiu vez que a equipe mandante estava sendo prejudicada por várias ações equivocadas da equipe de arbitragem;
QUE no que pese o entendimento da Comissão Disciplinar o Recorrente não teria deixado de reprimir e prevenir desordens em sua praça de desportos;
QUE restou evidente que houve identificação e condenação de um dirigente da Recorrente;
QUE a conduta tipificada deve ser afastada vez que a política militar entrou em ação e reprimiu com êxito qualquer confusão;
QUE o Recorrente tomou todas as providencias cabíveis para que não ocorresse qualquer desordem e não pode ser punido pela conduta de baderneiros que foram contidos pelas forças de segurança;
QUE a decisão recorrida carece de embasamento legal e factual, devendo ser a mesma reformada para absolver o clube ou alternativamente seja reduzido o valor da multa aplicada;
Em síntese é o breve relatório.
DO VOTO:
No entendimento deste Relator, tenho que não merece prosperar o presente Recurso.
A irresignação pelo resultado de uma partida de futebol jamais pode extrapolar o senso da razoabilidade e do respeito para com os atores envolvidos no espetáculo esportivo.
Nessa senda, não se pode aceitar que pessoas com vínculos diretos ou indiretos que estejam relacionadas para acesso aos estádios, conforme previsão da Diretriz Técnica da CBF, se arvorem contra a equipe de arbitragem de forma temerária.
O art. 213 do CBJD disciplina que:
Art. 213. Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir: (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009).
I - desordens em sua praça de desporto;
II - invasão do campo ou local da disputa do evento desportivo;
III - lançamento de objetos no campo ou local da disputa do evento desportivo.
PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$
100.000,00 (cem mil reais).
Este STJD vem entendendo ser punível a conduta a qual foi incurso o Recorrente nas iras do art. 213 do CBJD.
de desportos”, ou seja, que duas providências devem ser adotadas:
prevenção e repressão.
Ora, no caso em comento não houve detidamente a prevenção no tocante a garantir a integridade física da equipe de arbitragem, vez que houve necessidade de intervenção da Polícia Militar para garantir-lhes a segurança.
Ademais, aduz o Recorrente que “o que efetivamente
ocorreu no caso em tela, foram pessoas, frise-se, plenamente identificáveis pela relação oficial de integrantes da delegação do clube presentes a uma arena desportiva que é endereçada a CBF antes das partidas, inconformadas com uma atuação pífia da equipe de arbitragem, sendo contidas pelo policiamento [...]”.
Ora, a transcrição acima demonstra que a conduta foi perpetrada por pessoas integrantes da delegação do clube, inconformadas com o resultado do jogo.
E, diante da grave crise sanitária que atravessa o país em virtude da pandemia, o “Fique em Casa” é medida que se impõe e, nesse sentido compete as equipes atuarem para credenciar apenas pessoas necessárias ao desenvolvimento regular do espetáculo esportivo.
Ademais, cediço que o ônus da produção de prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo visando afastar da responsabilidade punitiva nos termos do § 3º do art. 213, era atribuição da ora Recorrente.
Isso posto, por tudo que dos autos consta, tenho que não logrou êxito o Recorrente em trazer elementos aptos a corroborar para a reforma da decisão recorrida.
CONCLUSÃO:
Pelo exposto, conheço do Recurso Voluntário interposto pela ASSOCIAÇÃO CHAPECOENSE DE FUTEBOL, para, no mérito, negar provimento, pelos fundamentos expostos, mantendo integralmente o acórdão recorrido nos exatos termos exarados pela 2ª Comissão Disciplinar deste Tribunal que condenou o Recorrido a pena de multa de 5.000,00 (cinco mil reais).
É como voto.
DECISÃO:
Vistos, relatados e discutidos os presentes Autos do Recurso Voluntário decidem, “Por unanimidade de votos conhecer do recurso para no mérito, por maioria, negar-lhe provimento e manter a multa
Sérgio Martinez que absolvia o clube. O pagamento da multa aplicada deve ser comprovada nos autos, no prazo de 07 (sete) dias, sob pena da imputação contida no Art. 223 do CBJD.”
Funcionou na defesa da Chapecoense o Dr. Marcelo Mendes, que requereu a lavratura do acórdão.
Rio de Janeiro/RJ, 29 de outubro de 2021.
