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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0641664

Relator: ALBERTINA PEREIRA Sessão: 25 Setembro 2006 Número: RP200609250641664 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: PROVIDO PARCIALMENTE.

DESPEDIMENTO SEM JUSTA CAUSA INDEMNIZAÇÃO

CONDENAÇÃO

Sumário

I. Relativamente ao cálculo da indemnização por antiguidade, o art. 439º do C.T. operou uma mudança relativamente ao direito anterior, prescrevendo-se agora que essa indemnização é fixada pelo Tribunal, entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo ou fracção de antiguidade.

II. Se o trabalhador se limitar a pedir as retribuições devidas desde o

despedimento vencidas num determinado valor, não pode o tribunal, por força do disposto no art. 74º do CPT, condenar a entidade patronal em montante superior, pois o direito em causa não é irrenunciável.

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação do Porto

1. Relatório.

B…….., instaurou acção emergente de contrato de trabalho, com processo comum, contra C…….., S A, alegando em resumo que foi admitida ao serviço da ré e sua antecessora em 9.5.1987 tendo sido despedida mediante

procedimento disciplinar, mas sem justa causa em 16.01.2004. Pede a

condenação da ré a pagar-lhe quantias relativas a retribuições que deixou de auferir desde o despedimento, férias, subsídio de férias e de Natal, trabalho suplementar, indemnização por antiguidade e por danos não patrimoniais.

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A ré contestou, aduzindo no essencial que os factos imputados à autora na decisão disciplinar constituem justa casa de despedimento, concluindo pela sua absolvição.

A autora respondeu mantendo os seus pontos de vista.

Teve lugar a audiência de discussão e julgamento, tendo-se respondido à materia de facto sem reclamação.

Proferida sentença foi a acção julgada parcialmente procedente, tendo sido julgado improcedente o pedido relativamente ao trabalho suplementar e por danos não patrimoniais; declarou-se a ilicitude do despedimento e condenou- se a ré pagar à autora a quantia de Euros 15.682,50.

Inconformada com esta decisão recorreu de apelação a ré, concluindo da seguinte forma:

1. Ao discutir em voz alta com outra colega no local e durante e horário de trabalho, num espaço físico que propiciava a constatação disso por parte da sua Administração e até por terceiros, ignorando, sucessivamente as várias instruções dos seus superiores hierárquicos para se calar e acabando por abandonar as suas funções saindo da empresa, apesar de ser admoestada a não o fazer, onde regressou cerca de 4 horas depois, já no período da tarde, a apelada cometeu ilícito disciplinar grave, por violação culposa dos deveres de respeito, urbanidade, lealdade e obediência previstos nas alíneas a), c) e g) do n.º 1 e 2 do art.º 20, do DL 49 408, de 24.11.1969, a que se encontrava

adstrita pelo contrato de trabalho.

2. A prática de tais factos por parte da apelada, quebrou a confiança inerente à respectiva relação laboral, tornando-a imediata e praticamente impossível, até por não restar já o mínimo suporte psicológico para o respectivo

desenvolvimento, nos termos do art.º 9, n.ºs 1 e 2, a), b), c), e) e i) do RJ aprovado pelo DL 64-A/89, de 27.02.

3. Dado que o despedimento da apelada ocorreu em 23.01.2004, os efeitos dele decorrentes regem-se já pelo Código do Trabalho, aprovado pela Lei 99/2003, de 27.082, nos termos dos artigos 3 e 9, alinea c).

4. Por isso, ainda que houvesse lugar a indemnização por hipotética ilicitude do despedimento, a concreta e escorreita aplicação dos critérios a que alude o art.º 439, do Código do Trabalho, impunham a respectiva fixação em valor nunca superior ao de 15 dias de retribuição base por cada ano de antiguidade ou fracção, ou seja 5.535,00 Euros.

5. O valor peticionado (Euros 3.690,00) a título de retribuições deixadas de

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auferir desde a data do despedimento até à da propositura da acção, há que deduzir, por força do n.º 4 do art.º 437, do CT todas as que se inserem no período decorrido entre o dito e os 30 dias anteriores àquela instauração.

6. Assim porque não vêem pedidas quaisquer retribuições vincendas e a acção não foi proposta nos 30 dias subsquentes à cessação contratual, ainda que o despedimento fosse declarado ilícito por essa proveniência, a apelada não teria direito a mais do que 615,00 Euros.

7. A douta decisão recorrida violou os artigos 20, n.º 1, alíneas a), c) e g) e n.º 2 do DL 49 408, de 24.11.1969; 9, nºs 1 e 2, a), b), c), e) e i) do RJ aprovado pelo DL 64-A/89, de 27.02; 9, alínea c), da Lei 99/2003 de 27 de Agosto; 439 e 437, n.º 4 do CT.

A autora contra-alegou pugnando pela manutenção da decisão recorrida, sem prejuízo do recurso subordinado que interpôs da sentença referida, onde conclui que:

a) Deve aplicar-se à sentença o princípio extra vel ultra petitum nos termos do art.º 74 do Código de Processo Trabalho.

b) Na medida em que, tendo sido o despedimento considerado ilícito sentença do tribunal a quo deveria o Mm.º Juiz ter condenado a ré, além do pedido da autora, também no pagamento das retribuições que deixou de auferir desde a data do despedimento até ao transito em julgado da decisão do tribunal, entendendo assim que se trata de um direito irrenunciável e que lhe assiste nos termos do n.º 1 do art.º 437, do Código do Trabalho.

c) Deve prevalecer a justiça material sobre a justiça formal, sendo que, é um direito da trabalhadora aqui recorrente receber todos os montantes

ocasionados pela ilicitude do despedimento e que a lei contempla nas já citadas disposições legais.

d) A sentença deve ser reformulada condenando em quantidade superior ao pedido nos termos doa rt.º 74 do CPT e artigos 249 e sgs. E 437 do CT, sendo que até à presente data, essa quantia asecende ao montante de Euros

14.760,00.

O MP emitiu parecer no sentido de que o recurso independente merece parcial provimento e de que não deve ser provido o recurso subordinado.

Admitidos os recursos foram colhidos os vistos legais.

2. Matéria de Facto.

Na primeira instância foram considerados provados os seguintes factos:

1. A autora foi admitida ao serviço da ré, por si e sua antecessora em

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09.05.1987, sob a autoridade e direcção desta, exercendo ultimamente as funções de 1.ª escriturária.

2. Auferindo ultimamente a retribuição mensal de Euros 615,00.

3. Em 16.01.2004 a autora foi despedida na sequência de processo disciplinar.

4. No dia 14.11.2004, pelas 10,00 horas a autora e uma colega durante a prestação de trabalho, envolveram-se numa discussão, que travaram em alta voz.

5. O chefe da secção tentou acalmá-las, mas sem êxito, não logrando que aquelas baixassem o tom de voz.

6. Também o superior hierárquico da autora, Dr. D……., chefe da secção administrativa, acorreu a apelou às contendoras para que se calassem.

7. Então a autora abandonou o local de trabalho, enquanto que o referido D…….. aconselhava a não o fazer.

8. A autora regressou ao seu posto de trabalho após o almoço, pelas 14,00 horas tendo sido então suspensa verbalmente sem perda de retribuição.

9. A autora não tem antecedentes disciplinares.

10. O local de trabalho situa-se no edifício sede da ré, no r/c por debaixo dos gabinetes da Administração, próximo do hall de entrada por onde passam todas as pessoas relacionadas com a ré, incluindo clientes.

11. Na ré vive-se um ambiente de disciplina e respeito entre os trabalhadores.

12. A colega interveniente na discussão foi também alvo de despedimento, nas circunstancias dos factos, e, tendo recorrido a juízo, aí vieram a transigir.

13. O marido da autora foi também trabalhador da ré, tendo rescindido por sua iniciativa em 01.07.2003, na sequência de um litígio extra-judicial.

3. Direito.

De acordo com o preceituado nos artigos 684, n.º 3 e art.º 690, n.º s 1 e 3, do Código de Processo Civil, aplicáveis ex vi do art.º 1.º, n.º 2, alínea a) e art.º 87 do Código de Processo do Trabalho, é pelas conclusões que se afere o objecto do recurso, não sendo lícito ao tribunal ad quem conhecer de matérias nelas não incluídas, salvo as de conhecimento oficioso.

I. Recurso principal.

Emergem, assim, como questões a apreciar

a) Lei laboral aplicável

b) Justa causa de despedimento

c) Cálculo da indemnização por antiguidade

d) Dedução das retribuições de tramitação, correspondentes ao período anterior a aos 30 dias que antecederam a propositura da acção.

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II. Recurso subordinado Condenação além do pedido.

I.

a) Relativamente a esta questão consideramos ser aplicável o regime

decorrente do Código do Trabalho. Com efeito, como resulta do art.º 9, alínea c), da Lei 99/2003 de 27 de Agosto que aprovou aquele diploma e tem sido sustentado pela doutrina, consideram-se determinados aspectos relacionados com procedimentos iniciados antes da entrada em vigor do Código do

Trabalho, que não se alteram, não estando em causa os respectivos efeitos.

Assim sendo, ao procedimento disciplinar iniciado na vigência da anterior legislação laboral aplica-se a tramitação aí prevista, todavia, os efeitos do despedimento daí decorrente já efectuado no domínio da lei nova são os previstos no actual diploma. [Pedro Romano Martinez e Outros, Código do Trabalho Anotado, Almedina, 2.ª edição, pág. 42]

b) No que se refere à justa causa de despedimento, consideramos que embora em termos sintéticos a sentença se mostra devidamente fundamentada, tendo feito correcta aplicação da lei aos factos, para a mesma se remetendo, art.º 713, n.º 5 do Código de Processo Civil.

c) Quanto ao cálculo da indemnização por antiguidade, é sabido que o art.º 439 do Código do Trabalho operou uma mudança relativamente ao que decorria do regime anterior (onde se determinava que essa indemnização correspondia a um mês de retribuição base por cada ano de antiguidade ou fracção, art.º 13, n.º 3 do DL 64-A/89, de 27.02), prescrevendo-se agora que o montante da indemnização é fixada pelo tribunal entre 15 e 45 dias de

retribuição base e diuturnidades por cada ano completo ou fracção de antiguidade, atendendo ao valor da retribuição e ao grau da ilicitude decorrente do disposto no art.º 429.

Na fixação da indemnização cabe agora ao julgador ponderar factores como o montante da retribuição auferida pelo trabalhador e também o grau de

ilicitude do despedimento.

Nessa graduação ponderar-se-á, por exemplo, que numa situação em que o tribunal conclui que a justa causa está claramente preenchida, mas há um vício no procedimento disciplinar que conduz à sua nulidade, não é igual à situação em que o móbil para o despedimento assenta em factores

discriminatórios, como sexo, raça ou religião. Também é diferente a situação em que o empregador despede sem organizar o procedimento disciplinar

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daquela em que a conduta do trabalhador merece punição mas o

despedimento se apresentou como sanção desproporcionada. [Neste sentido, Albino Baptista, Estudos Sobre o Código do Trabalho, Coimbra Editora, pág.

136] Por seu turno, o valor mais ou menos elevado da retribuição, também será outro dos elementos a considerar naquela fixação.

No caso em análise a ré pretende que seja a indemnização fixada no mínimo legal (15 dias). Não lhe assiste razão. Na verdade, muito embora não nos

encontremos em presença de despedimento sem precedência de procedimento disciplinar, ou fundado em motivos discriminatórios, não pode deixar de

ponderar-se que o mesmo configura manifestamente uma sanção

desproporcionada e excessiva, face à conduta (pontual) da autora, cfr. art.º 367, do Código do Trabalho. É que não pode olvidar-se que se não provou que tal conduta tenha provocado qualquer tipo de danos à entidade patronal, para além de que a autora trabalhava há 17 anos para a ré, sem passado

disciplinar. Acresce que a sua retribuição relativamente modesta (Euros 615,00), também deve ser ponderada, como se viu, neste caso, em termos de não nos situarmos no mínimo da indemnização a arbitrar-lhe. Consideramos, pois, adequada a indemnização de antiguidade calculada com base num mês por cada ano de antiguidade como foi fixada na sentença.

d) Assiste razão à ré quanto ao aspecto aqui em causa. Efectivamente resulta do art.º 437, nº 4 do Código do Trabalho, que do valor das retribuições que o trabalhador deixou de auferir desde a data do despedimento até ao transito em julgado da decisão do tribunal, “ é deduzido o montante das retribuições respeitantes ao período decorrido desde a data do despedimento até 30 dias antesa da data da propositura da acção, se esta não for proposta nos 30 dias subsequentes ao despedimento”. No caso sub judice o despedimento da autora ocorreu em 16 de Janeiro de 2004, tendo a acção sido interposta em 14 de Julho de 2004, o que significa, muito para além dos referidos 30 dias

subsequentes ao despedimento. A título de compensação pelas retribuições que deixou de auferir, assiste, assim, à autora o direito a receber da ré tão só a quantia de Euros 615,00.

II. Entende a autora, em sede de recurso subordinado, que deveria a ré ter sido condenada a pagar-lhe as retribuições devidas desde a data do

despedimento até ao trânsito em julgado da decisão do tribunal pois se trata de direito irrenunciável nos termos do n.º 1 do art.º 437, aplicando-se, assim, o art.º 74 do Código de Processo do Trabalho (CPT) que prevê a condenação além do pedido. No caso a autora apenas peticionou as retribuições devidas desde o despedimento vencidas no valor de Euros 3.690,00.

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Desde já se adianta que não lhe assiste razão.

O art.º 74 do CPT estabelece a condenação ultra petitum quando esteja em causa a aplicação de preceitos inderrogáveis de leis ou de instrumentos de regulamentação colectiva. A tal respeito, desde há muito se vem distinguindo entre indisponibilidade absoluta e indisponibilidade relativa dos direitos, e entre direitos de existência e exercício necessários e direitos de existência necessária, constituindo exemplos dos primeiros as pensões e indemnizações por acidentes de trabalho ou doença profissional e exemplo dos segundos, as retribuições devidas pela prestação do trabalho, nelas incluídas os salários decorrentes do despedimento ilícito, como é o caso. Ora, relativamente aos primeiros, a indisponibilidade nunca existe, pelo que o credor (trabalhador) não pode dispôr de tais direitos enquanto tais. Os segundos são indisponíveis no domínio da vigência do contrato de trabalho, não podendo o trabalhador deles prescindir, mas tornam-se disponíveis desde a cessação do contrato de trabalho, dado que com ela termina a subordinação jurídica e económica, que tal contrato pressupõe. A cessação do contrato de trabalho pode ser apenas de facto, isto é, nos casos de despedimento ilícito, apesar da posterior declaração de invalidade da desvinculação ordenada pelo empregador. Não obstante o despedimento ilícito ser jurídicamente irrelevante em relação à vida do contrato de trabalho, o que é certo é que na data em que é efectuado esse despedimento cessa a subordinação do trabalhador ao empregador, ficando aquele liberto para poder prescindir dos direitos que não forem absolutamente irrenunciáveis, como é o caso das retribuições intercalares.

Deste modo, não tendo sido formulado pedido quanto a tais retribuições e porque o art.º 437, n.º 1 do Código do Trabalho não é uma norma

inderrogável, rege em pleno o princípio dispositivo, art.º 661, n.º 1 do CPC, por força do qual não pode a sentença condenar em quantidade superior ao que se pedir. Nada há, assim, a censurar à decisão recorrida quanto a este aspecto.

4. Decisão.

Em face do exposto, acorda esta secção social em conceder parcial provimento ao recurso principal da ré, revogando-se a sentença e condenando-se a ré a pagar à autora a título de retribuições devidas desde o despedimento a quantia de Euros 615,00 (seicentos e quinze euros), no mais se mantendo aquela decisão.

Nega-se provimento ao recurso subordinado da autora.

Custas pela ré e autora, na proporção.

Porto, 25 de Setembro de 2006

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Albertina das Dores Nunes Aveiro Pereira José Carlos Dinis Machado da Silva

Maria Fernanda Pereira Soares

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