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MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA
PUC/SP
São Paulo
TEREZINHA FRANCELINO FERREIRA
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Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE
PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA,
sob a orientação do Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio.
PUC/SP
São Paulo
Banca Examinadora
________________________________________ Profº Drº UBIRATAN D’AMBROSIO
________________________________________ Profª Drª CELIA MARIA CAROLINO PIRES
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
AGRADECIMENTOS
Ao longo desta jornada, contei com o auxílio, conhecimento, incentivo e amizade de muitas pessoas. Foram momentos compartilhados com intensidade e alegria. Agora que chegamos ao final, é tempo de agradecer.
Ao prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio, pela paciência, carinho e seriedade com que conduziu as orientações e, sobretudo, sua amizade.
A Capes pelo apoio financeiro.
Aos prof. Dr. Sérgio Nobre e Célia Maria Carolino Pires, integrantes da banca examinadora, pelas sugestões que muito contribuíram no enriquecimento deste trabalho.
A Prof. Elenice de Souza Lodron Zuin, pela ajuda no início do desenvolvimento da pesquisa.
Aos professores do Programa do Mestrado profissional em Educação Matemática, pelas experiências e conhecimento compartilhado durante o curso.
A meu esposo João, pelo constante incentivo, paciência nos momentos difíceis, e compreensão de minhas ausências, sempre demonstrando seu amor.
A minha mãe, Maria Joana, por me ensinar a nunca desistir e por entender minhas ausências. A meus irmãos, pelo carinho.
A minha amiga Maria José, pela ajuda com quem pude contar sempre.
Aos professores que, gentilmente, tiveram participação direta nesta pesquisa.
Ao João, Déric e Thaís
meu carinho
SUMÁRIO
Sumário ... l
Lista de quadros ... III
Resumo ... IV
Abstract ... V
1. Introdução ... 1
2. A importância da história no ensino ... 8
4. Metodologia e alguns resultados ... 28
5. As entrevistas e análise dos resultados ... 41
6. Discussão dos resultados ... 106
Considerações finais ... 114
I
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
1.1. Introdução... 1
1.2. Problemática... ... 3
1.3. Objetivo e questão de pesquisa... 4
1.4. Descrição da dissertação... 5
CAPITULO II – A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA NO ENSINO 2.1. Introdução... 8
2.2. A história na educação básica ... 9
2.3. Por que é importante o ensino da história?... 11
CAPÍTULO III – HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR 3.1. Introdução... 20
3.2. A história na formação do professor, algumas concepções ... 20
3.3. A concepção dos alunos com relação à história da matemática... 24
CAPÍTULO IV – METODOLOGIA E ALGUNS RESULTADOS 4.1. Introdução... 28
4.2. Procedimento Metodológico... 28
4.3. Descrição de relato dos professores ... 30
CAPÍTULO V – AS ENTREVISTAS E ANÁLISE DOS RESULTADOS 5.1. Introdução... 41
5.2. As entrevistas ... 41
5.3. Análise ideográfica ... 72
CAPÍTULO VI – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
6. Discussão dos resultados ... 106
6.1. A História da Matemática na formação do professor ... 108
6.2 . A avaliação na História da Matemática ... 109
6.3. Uma proposta de avaliação ... 111
Considerações finais ... 114
CAPÍTULO VII – REFERÊNCIAS 7. Referência... 117
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 – Questionário para o Coordenador do curso
Questionário para o professor de História da Matemática
Anexo 2 – Plano de Curso – Entrevista I e III
Anexo 3 – Pano de Curso – Entrevista II
Anexo 4 – Plano de Curso – Entrevista IV
III
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Unidades de significado da entrevista I ... ... 78
Quadro 2 – Unidades de significado da entrevista II ... 80
Quadro 3 - Unidades de significado da entrevista III ... 82
Quadro 4 - Unidades de significado da entrevista IV ... 84
Quadro 5 - Unidades de significado da entrevista V ... 86
Quadro 6 – Matriz Ideográfica ... 93
Quadro 7 – convergências ... 100
Quadro 8 - Grupos de Significado ... 102
RESUMO
Este estudo teve como objetivo investigar as concepções dos professores com relação à disciplina História da Matemática no ensino
superior, a fim de responder algumas questões de pesquisa: “Por que
consideram a disciplina de História importante no curso? Como desenvolvem
suas aulas? Como avaliam seus alunos?” Para isso, foi desenvolvida uma
pesquisa de caráter qualitativa, com um grupo de professores que ministram
aulas de História da Matemática em instituições de Ensino Superior. Ao
analisar os discursos desses professores, buscou-se compreender suas
concepções e práticas ao tratar a História. O estudo das concepções dos
professores pesquisados possibilitou destacar o papel da História da
Matemática na formação do professor, como também reflexões sobre o
desenvolvimento da Matemática por meio das dificuldades inerentes da
sociedade e a contribuição da História no desenvolvimento da maturidade e
criticidade do aluno.
V
ABSTRACT
This study had how objective investigate the conceptions of the
professors with relation to disciplines History of the Mathematics in superior
education, in order to answer some questions of research: “Why they consider
disciplines it of important History of the Mathematics in the course ? How do
they developed theirs classes ? As pupils evaluate?” For this, a quality
research of character was developed, with a group of professors who give
lessons of History of the Mathematics in institutions of Superior Education.
When analyzing the speeches of these professors, was searched understand
its pratical conceptions and when treating History of the Mathematics. The
study of the conceptions of the searched professors it made possible to detach
the paper of History of the Mathematics in the formation of the professors, as
also reflections on the development of the Mathematics by the inhrent
difficulties of the society and the contribuition of History in the development of
the maturity and criticism of the pupil.
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NTRODUÇÃO1.1
– Introdução
Algumas inquietações levaram-me a realizar esta pesquisa; embora
já tivesse concluído o curso de graduação, há algum tempo, sentia certa
insatisfação com minha formação. Quando comecei a lecionar no ensino
fundamental e médio, algo despertava meu interesse e curiosidade, foram os
textos, mesmo os pequenos trechos nos manuais dos livros didáticos que
tratavam de história.
Percebia que o conhecimento de história fazia muita falta. A partir
de 1996, com a nova LDB nº 9394/96 o acervo das bibliotecas nas escolas
públicas melhorou; mas, sempre me deparava com algumas histórias
interessantes nas prateleiras de acervo de matemática, muitas vezes, separava
alguma obra para trabalhar com os alunos. Notava que estes ficavam atentos,
quando comentavam algo sobre a história da matemática.
Lembro-me de um caso, com um aluno da 5ª série do Ensino
Fundamental. Assim, no início do ano letivo, como de costume, levei alguns
numeração. Após algumas aulas, um aluno perguntou-me várias vezes:
“professora, a gente não vai fazer conta?” Assim, percebia que os alunos
demoravam a identificar a disciplina, sempre me indagando “a senhora é professora do quê?” Ficando claro, para o aluno que os números identificam a
matemática.
A insatisfação com minha formação e a quase certeza de que muitos
professores de matemática concluem seus cursos de graduação, sabendo
pouco sobre história da matemática. Não excluindo um dos motivos: a falta de
oportunidade.
Esta inquietação fez com que desencadeasse uma busca às
Instituições de Ensino Superior, para trazer algumas concepções dos
professores atuantes no Ensino Superior que ministram aulas de História1. Pretendo com este estudo contribuir, para que outras pesquisas
retomem o assunto. Fornecendo mais e mais, respostas às perguntas aqui
levantadas, ou ainda, que carecem ser melhor estudada; tendo em vista que
existe apenas uma pequena amostra dos muitos profissionais da área que
participaram diretamente deste trabalho.
Ao fazer um trabalho de pesquisa muitas são as inquietações,
dúvidas, os caminhos parecem infindáveis, pois, muitos momentos são tão
vazios e angustiantes. Mas acredito que nada acontece por acaso em nossas
vidas, pois os caminhos que escolhemos fazem nosso amanhã ser diferente.
1
3
1.2
– Problemática
Muitas vezes, encontramos nos manuais do professor alguma nota,
pequenos textos referindo-se a um matemático famoso, explicando sua
importância e o que fez. Sem falar nos paradidáticos que trazem a História de
vários conteúdos matemáticos, como também da própria História que são,
facilmente, encontrados nas escolas públicas.
Entretanto, percebemos quão pouco desses livros são utilizados
pelos professores, mesmo com a indicação do uso da História trazida pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino de Matemática (PCNEF, 1997).
Muitos professores não conseguem lidar com essa questão, isto é, fazer uso
da História da Matemática em suas aulas. Esta questão talvez possa estar
relacionada com a própria formação do professor. Não quero aqui justificar o
não uso da História, porém considero importante que alunos de curso superior
e oriundo das diversas áreas de exatas tenham contato com a História da
disciplina que irão lecionar.
Ao estudar História da Matemática no ensino superior, o aluno
poderá se sentir motivado a buscar novos conhecimentos, facilitando sua
compreensão, como também contribuir na sua forma de ensinar e transmitir, o
que sabe sobre História.
Com esse trabalho, não tenho a intenção de dizer qual será a melhor
maneira de ensinar História, mas, mostrar como a História da Matemática é
importante no curso que forma professores de matemática, valorizando os
1.3
– Objetivo e questão de pesquisa
No Brasil, a inclusão da História da Matemática na grade curricular
de Ensino Superior aparece em algumas universidades a partir de 1980.
Quando entra em discussão a proposta de mudanças no currículo de
matemática, no sentido de abandonar o movimento, ora predominante, com a
Matemática Moderna, o interesse e preocupação em tratar a aplicação didática
do uso da História da Matemática levaram ao interesse pela História.
Conforme o estudo realizado por Stamato (2003) revela que a
maioria das instituições começa a oferecer em seus currículos a disciplina de
História, em 1998, após o Primeiro Exame Nacional dos Cursos de Matemática.
Considerando a importância de se estudar e ensinar a História da
Matemática (seja como recurso didático que facilite uma melhor compreensão
dos conceitos matemáticos envolvidos, seja pela motivação que pode despertar
no aluno), precisamos entender como os fatos aconteceram, mesmo para ter
ciência que tudo teve um motivo, uma razão para existir.
O objetivo de investigar as concepções dos professores que atuam
no ensino superior, apóia-se nas seguintes questões: Por que acreditam ser
importante a disciplina de História? Como desenvolvem suas aulas? Como
avaliam seus alunos?
Para esse estudo, o oferecimento da disciplina nos cursos de
Licenciatura é fundamental, constituindo-se em nosso ponto de partida.
Assim, a pesquisa será iniciada com a investigação das instituições de ensino
superior que oferecem a disciplina História da Matemática. Após ter esse
5
Sustentando a preocupação inicial de identificar suas concepções com relação
à História na Licenciatura. Assim sendo, a questão de pesquisa que se
apresenta, neste estudo é:
A disciplina História da Matemática: Um
estudo sobre as Concepções do professor do
ensino superior.
Para nos auxiliar na tarefa de prover uma resposta consistente à
questão de pesquisa, tomamos outras questões subjacentes, a saber:
• Há quanto tempo lecionam a disciplina e, também, o que levou esses
professores a lecionar História da Matemática?
• Por que acreditam ser importante a História no curso?
• Quais as metodologias utilizadas para ministrar as aulas de História?
• Como os professores de História avaliam seus alunos?
• E, também, algumas das finalidades da História na Educação?
O caminho selecionado para responder a estas perguntas está
descrito a seguir.
No capítulo de Introdução, evidenciamos o objetivo do estudo
tecendo algumas considerações sobre a relevância do conhecimento da
História da Matemática, problematizamos o desenvolvimento de conceitos
relacionados à mesma e, por fim, explicitamos nossa questão de pesquisa.
No capítulo II, analisaremos o documento oficial do Estado de São
Paulo, sob o ponto de vista da História da Matemática no Ensino Fundamental
e Médio. Em seguida, procuramos ressaltar a importância da História da
Matemática no ensino, tendo como base as concepções de Struik e outros
autores que fundamentarão o presente estudo.
No capítulo III, abordaremos a contribuição da História na formação
do professor de Matemática; tendo como base alguns estudos já realizados
anteriormente, incluindo, relatos de alunos da Licenciatura.
No capítulo IV, descreveremos a metodologia utilizada no
desenvolvimento da pesquisa e relatos dos professores.
No capítulo V, apresentaremos a transcrição e análise das
entrevistas.
No capítulo VI, destacaremos as considerações finais baseadas na
análise da pesquisa.
C A PÍTULO
II
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APÍTULO
II
A
IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA NOENSINO DE
M
ATEMÁTICAMuitos dizem que estudar História da Matemática seja uma perda de tempo, talvez, muitos tenham razão, porque a matemática como a física e outras ciências naturais são cumulativas. Podemos perceber que muitos assuntos importantes na matemática, quando muito importante no passado foi incorporado em assuntos posteriores e passando, assim, a fazer parte da nossa matemática.
Dirk J Struik
2.1 – Introdução
Ao recorrer à literatura, encontrei pesquisas que serviram como
subsídios para este estudo, procurei registrar algumas concepções que tratam
9
Na intenção de justificar o uso da História da Matemática (seja como
recurso didático, metodológico, ou pedagógico), encontramos na literatura
diversos autores que tratam a História da Matemática sob diferentes
concepções, muitos se completam em seus questionamentos, outros diferem
em suas concepções. Portanto, é interessante que saibamos a importância da
História da Matemática no ensino de Matemática.
Neste capítulo, trataremos a História do ponto de vista do Ensino
Fundamental, Ensino Médio e estudos que tratam do assunto.
2.2 – A história na educação básica.
Pudemos observar a preocupação ao tratar a História nos currículos
oficiais do Ensino Fundamental, desde a década de 80.
Conforme observa Miguel, com o refluxo do Movimento da
Matemática Moderna a partir de 1980 acontece um “reavivamento do interesse
pela história e a tentativa de tornar explicita as suas potencialidades
pedagógicas” (MIGUEL & BRITO, 1996, p.48).
Nos currículos do Ensino Fundamental, observa-se uma
recomendação dos PCN1 que o professor procure apresentar os conceitos dentro de uma visão histórica. Alguns caminhos são apontados para se “fazer
matemática” na sala de aula, sendo quatro recursos citados, a saber:
1. Resolução de problemas (para que o aluno chegue à formulação de vários
conceitos matemáticos);
1
2. História da Matemática (esse recurso possibilita ao professor desenvolver
atitudes e valores mais favoráveis ao aluno, diante de conhecimento
matemático. O aluno percebe quando estabelece relações e comparações
entre o passado e o presente das diferentes culturas em determinados
momentos históricos. Esclarece idéias matemáticas, no momento de sua
construção, onde o aluno encontra resposta de alguns “porquês”, tendo um
olhar mais crítico sobre os objetos de conhecimento);
3. Tecnologias da informação (calculadoras e microcomputadores);
4. Jogos (favorece a interação).
Muitos pesquisadores têm se preocupado com abordagens
históricas em sala de aula, como também em divulgar experiências
realizadas. Podemos encontrar em muitos trabalhos, sugestões de estudos,
fazendo uso da História e considerando fatores que servem para motivar o
interesse dos alunos e professores.
Para Mendes (2001), o professor precisa ser um pesquisador, pois
deve dominar o conhecimento histórico do assunto a ser abordado, para
levantar questionamentos instigantes. Os alunos terão posição de investigador
na História da Matemática, assim estarão construindo seu conhecimento
matemático. Alicerçando o conhecimento das respostas para muitos porquês
presentes na matemática difíceis de serem assimiladas, como as propriedades,
teoremas e fórmulas matemáticas.
O recurso à História da Matemática, conforme Brolezzi “propicia uma
visão de totalidade do conhecimento matemático que é fundamental para uma
11
sentido”. (BROLEZZI, 1991, p.146). A História fornece informações que dão
sentido ao conteúdo matemático.
Nos currículos do Ensino Médio, observamos que a indicação à
História não é explicita na proposta de São Paulo nem nos PCNEM (2000).
Percebe-se forte indicação à contextualização do conteúdo nesta modalidade
de ensino, podendo a História ser uma das formas de contextualização.
Com relação aos documentos oficiais para a Formação de
professores, percebemos que estes não apontam referências tão explicitas
com relação à História. Entretanto, existem debates a respeito da História da
Matemática na Educação e isso se reflete nos livros didáticos e paradidáticos,
como também na constituição de linhas e grupos de pesquisa.
2.3 – Por que é importante o ensino da História
Muitos autores dedicam estudos sobre a importância do estudo da
História, porém o texto de Struik2, serviu como base para desencadear o
estudo de outros.
Na perspectiva de conhecer e analisar a importância da História da
Matemática no ensino, foi realizado um estudo sobre as razões descritas por
Struik, em que procurei abordar as concepções do autor citado com outros
textos que também tratam do assunto. Na intenção de relacionar outras
2 STRUIK, D. J. História da Técnica e da Tecnologia (Org. R. Gama), tradução de Célia Regina
concepções a respeito das “seis razões” citadas por Struik no estudo e ensino
da História da Matemática. Assim, conforme o ponto de vista do autor citado
procuramos discorrer cada questão.
1. “ela satisfaz o desejo de muitos de nós de sabermos, como as coisas em matemática se originaram e se desenvolveram”.
Muitas vezes, nós, professores, perguntamos o motivo pelo qual
estamos ensinando determinado conteúdo. Percebemos também a quantidade
de temas abordados sem muita importância, usando assim todo o tempo do
aluno na aula. Conseqüentemente, nosso tempo esgota para desenvolver algo
interessante e acabamos reproduzindo talvez o que já ocorreu conosco um
dia.
D’Ambrosio (1996, p.16) afirma nós professores precisamos “assumir
e darmos à Matemática que integra os currículos sua verdadeira cara, fazendo
um estudo crítico no seu contexto histórico”.
A coerência Matemática, também, é necessária, tudo tem um motivo
para existir, nada acontece ao acaso; a História ajuda muito a entender como
as coisas aconteceram no decorrer dos anos. Assim, as coisas vão se
incorporando na vida da gente e, muitas vezes, assumimos aquilo como se
fosse natural. (NOBRE, 2005, informação verbal).
Estudar História é estar no presente, analisando o passado, com
isso podemos nos tornar criadores de novas idéias; neste sentido, temos
exemplos muito significativos na História, que surgiram do estudo de registros
13
O estudo de Prado mostra a importância do estudo da História, de
modo mais significativo, revelando que:
Fatos isolados não fazem história. Assim uma motivação mais fecunda pode ser despertada no aluno quando este compreende as origens dos conceitos, problemas, demonstrações e as transformações que sofreram dando origem a novos conceitos, teorias e leis. Ao professor, caberia a tarefa de colocar à disposição do aluno material histórico pertinente e, de posse de um material desse tipo, o aluno poderia, então, usando sua imaginação, buscar penetrar no espírito da época e compreender seu problema dentro daquele contexto. (PRADO, 1990, p.33).
2. “o estudo de autores clássicos pode oferecer uma grande satisfação em si mesmo, mas também pode auxiliar no ensino e na pesquisa”.
Ao fazer levantamento na literatura sobre a importância da História da
Matemática, encontramos um número considerável de publicações. Muitos
autores expõem argumentos e razões para o estudo e ensino da História da
Matemática. Apresentando diferentes concepções, nas quais o conhecimento
matemático ocorre.
O estudo da História em cursos universitários foi sugerido, há algum
tempo por Grattan-Guinnes, quando aponta a idéia dos professores
universitários desenvolverem seus cursos sob o ponto de vista histórico. Isso
mostra que não é recente a preocupação com a história nos cursos de
Licenciatura. (Citado por BYERS, 1982, p.60).
Em 1982, Byers afirma: muitos estudos e relatórios de vários países
professores, porém declara não haver consenso quanto ao que ensinar, e com
relação aos professores “O que fariam com a história que tivessem aprendido”
(BYERS, 1982, p.59).
Em 1996, D’Ambrosio também faz recomendações para que os
cursos de Licenciatura em Matemática ofereçam História da Matemática. Mas,
lamenta por essa recomendação ser pouco seguida.
Estudar História da Matemática deve ir muito além de datas, fatos
interessantes e biografias. A História deve proporcionar uma visão mais ampla
não ficando apenas limitadas a certos fatos.
A História mostra ao aluno que as dificuldades encontradas em
determinados conceitos prolongam-se por toda a humanidade, porque muitos
matemáticos também tiveram dificuldades. No entanto, é comum que tenhamos
alguns tropeços na compreensão de certos conceitos matemáticos.
3. “ela ajuda a entender nossa herança cultural, não somente através das aplicações da matemática na astronomia, na física e em outras ciências, mas
também devido às relações existentes ainda em campos variados como a arte,
a religião, a filosofia e as técnicas artesanais”.
Conforme o Professor D’Ambrosio (1996) conceitua as
manifestações matemáticas são mais do que a manipulação das notações e
operações aritméticas ou trabalhar com a álgebra e calcular áreas e volumes.
Mas, tratam-se de relações e comparações quantitativas com formas espaciais
do mundo real e fazer classificações e inferências. Desse modo encontramos
matemática nos trabalhos artesanais, nas manifestações artísticas e nas
15
Ao desenvolver a Matemática devemos considerar a realidade do
aluno presente nas escolas e lidar com suas peculiaridades e interesses; pois
não podemos esquecer do avanço científico que ocorre graças ao produto
cultural elaborado por seus antepassados.
Nesta concepção, Nobre (1995), faz a seguinte afirmação:
é necessário um avanço nas relações de ensino/aprendizagem, e este avanço esta diretamente ligado ao conteúdo e a forma de como trabalhá-lo. Este avanço não pode ser processado isoladamente, sem uma perspectiva histórica. É importante restabelecer a historicidade da origem sócio-cultural do conhecimento científico. (NOBRE, 1995, p. 17).
Ter um conhecimento mais profundo da História da Matemática,
amplia o entendimento do desenvolvimento que está vinculado aos problemas
sociais e culturais de uma sociedade, como afirma Prado.
O estudo da história da matemática auxiliaria o professor de matemática a ver a conexão entre a matemática e os demais assuntos do currículo escolar. .., embora a matemática seja utilizada por outros ramos do conhecimento humano , quer emprestando sua linguagem.., quer pela aplicação de seus conceitos no desenvolvimento de teorias, a matemática não se desenvolve independentemente das necessidades sociais e da cultura em geral.(PRADO, 1990, p. 33).
Como tudo evoluiu trazendo consigo seu histórico, a matemática
também teve sua evolução. Ocorrendo em meio grupos sociais, nos quais se
tese de que a história tal como a matemática intera-se com o desenvolvimento
do pensamento humano.
Compreender a matemática passada em seu contexto histórico ajuda a entender a relação que ela teve, e ainda tem, com campos variados como a arte, a religião, a filosofia adquirindo uma melhor compreensão do lugar da matemática no mundo. (SOUTO, 1997, p. 20).
4. “ela pode proporcionar um campo onde o especialista em matemática e os de outros campos da ciência podem encontrar interesse comum”.
Na História da Matemática, os interesses relacionam-se em conexão
com outras ciências e, ao mesmo tempo, subsidiam-se. Por sua vez, as
ciências fornecem pistas para melhor entendimento e compreensão do todo.
Como o próprio Struik afirma “a matemática como a física e outras ciências
naturais é cumulativa” (STRUIK, 1985, p.191). Quando estudamos a História da
Matemática, notamos que as descobertas não foram por mero acaso e estas
não aconteceram linearmente.
Para Anglin (1992), a História da Matemática é importante, porém o
autor refere-se sobre os cuidados para não glorificarem ou desprezarem
pessoas. A maneira como um matemático famoso é citado na História, pode
mudar seu conceito concebido como pessoa, como também sobre o próprio
desenvolvimento da matemática. Por isso, é importante olhar a História
criticamente, evitando reforçar uma certa predileção, ocasionalmente presente
em algumas histórias ou fatos, dificultando, assim, o discernimento da evolução
17
5. “ela oferece um pano de fundo para a compreensão das tendências em educação matemática no passado e no presente”.
A História constitui-se como pano de fundo, pois só por meio de
estudos realizados em arquivos e registros de outras épocas, poderá
transparecer que a educação matemática teve em determinado momento
histórico diferente organização do sistema nacional de ensino. Assim, cada
época tem sua especificidade e prioridade.
6. “podemos ilustrar ou tornar mais interessante o seu ensino e conversação com historietas”.
Vários autores empenham-se em fornecer argumentos para tornar
mais interessante o ensino de Matemática de modo a ser mais significativo
para o aluno.
Para Prado, apenas atribuir um significado histórico ao tópico que
está ensinando, não garante que este seja significativo e compreensível. “Para
tanto é necessário o professor associar seu conhecimento matemático ao de
História, de certa forma disponibilizar um plano de trabalho claro, cuidadoso e
uno, quanto a essa associação”. (PRADO,1990, p.25).
A motivação é fundamental para que ocorra a aprendizagem. Muitos
autores defendem que a História pode despertar no aluno o interesse pela
matemática, e com isso se sinta motivado a aprender.
As referências históricas “oportunamente introduzidas, podem
responder a esse componente motivador, dada à curiosidade natural e o
interesse do aluno pela história”, de acordo com (ESTRADA, 1993, p. 17 citado
No próximo capítulo, apresentaremos alguns conceitos sobre a
C A PÍTULO
III
HISTÓ RIA
DA
M A TEM Á TIC A
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ISTÓRIA DA MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DOP
ROFESSOR3.1 – Introdução
Buscaremos apresentar a História da Matemática e sua importância para a formação de professores. Iniciaremos o capítulo, com as concepções de
alguns historiadores. Na seqüência, olharemos a História do ponto de vista de
alguns alunos da Licenciatura, cujos comentários achamos pertinentes para
essa pesquisa.
3.2 – A História na formaç ão do professor, algumas
concepções.
Estudos anteriores mostram que não é recente utilizar História na
21
ainda existem inúmeras instituições de ensino Superior que não oferecem a
disciplina de História da Matemática em seu currículo.
Mesmo sendo discussão de muitos eventos voltados do ensino de
Matemática, desde de 1989, no I Encontro Paulista de Educação Matemática a
problemática tem sido abordada, conforme afirmam Miguel e Brito (1996) nesse
evento foi “levantado um problema referente à função o estudo da História da
Matemática na formação do professor de Matemática” (MIGUEL & BRITO,
1996, p. 48), onde os participantes lamentavam a ausência da disciplina no
curso. Inúmeras discussões foram questionadas a respeito da disciplina. O
motivo pelo qual foi inserida no currículo e, também, as justificativas das
instituições não oferecerem a disciplina, podemos encontrar no trabalho de
Stamato1 (2003), que rendeu parte de sua dissertação de Mestrado.
A seguir, destacamos alguns elementos que contribuem na
formação do futuro professor, assim, talvez possa fazer uso da História da
Matemática na construção do conhecimento matemático.
Destacamos a questão escrita por Valente “que História da
Matemática é importante para a formação do educador matemático?”
(VALENTE, 2002, p.88).
Estando diante de inúmeras possibilidades o que podemos ter como
prioridades no momento de preparar o plano de curso? Podemos pensar em
uma maneira de trabalhar a História, não como disciplina isolada das demais,
nem tão pouco dar importância apenas a fatos históricos interessantes, mas,
como escrevem Miguel, Brito (1996), “uma participação orgânica da História na
1
formação do professor, como fonte de uma problematização que deveria
contemplar as várias dimensões da matemática (lógica, epistemológica, ética
estética, etc)”. Assim, o professor terá argumento para analisar com seus
alunos as relações que a matemática tem com outros campos do saber. Ainda
para Miguel “a finalidade dessa problematização é fazer com que o professor
alcance um metaconhecimento da matemática que lhe propicie a abertura de
novos horizontes e perspectivas” (MIGUEL & BRITO, 1996, p.49).
Na opinião do professor D’Ambrosio, a grande importância da
História da Matemática na formação do professor é que, geralmente, ele
conhece seu conteúdo como um conjunto de resultados e técnicas, mas
dificilmente consegue ver a razão daquele conteúdo, do ponto de vista social e
cultural, mesmo do ponto de vista de sua inserção no conhecimento
matemático como um todo. Talvez seja a única possibilidade de reconhecer
onde se encaixa um determinado conteúdo na organização geral da
matemática.
Assim, na Licenciatura muitos alunos questionam-se, porque estou
aprendendo este ou aquele conteúdo, achando muito diferente do que se aplica
na sala de aula. Reconhecem ser importante estudar o rigor da matemática,
por fazer parte dos estudos na educação superior, mas não necessariamente
carecem ser apresentados dentro de um quadro axiomático estático, como vêm
sendo reproduzido imutavelmente.
Souto (1997, p. 20) considera que a História também contribuiu para
o aprimoramento da prática docente e da formação do professor. “Através da
história, o professor adquire uma visão mais clara do desenvolvimento da
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Entretanto Byers (1982)2, adverte, “se o papel da História da
Matemática é ajudar na compreensão da matemática, deve-se fornecer ao
professor o tipo de compreensão do assunto que é uma pré-condição para o
bom ensino”.
A importância da História da Matemática na formação de
professores promove um conhecimento mais aprofundado dos conceitos
matemáticos como também do próprio conhecimento histórico da matemática.
... metaconhecimento, proveniente de uma formação histórica, poderia contribuir para uma preparação mais cuidadosa dos conteúdos ensinados, para um tratamento mais adequado dos erros e das dificuldades dos alunos e para possibilitar uma reelaboração das concepções de historia que tanta influência exerce sobre o ensino da matemática. (Souto, 1997, p.180).
Com a História, o professor poderá ter uma compreensão
diferenciada da matemática, pois ela lhe proporciona uma visão global de seu
desenvolvimento, podendo, assim, enxergar sua beleza à qual não estamos
acostumados.
Observar como as coisas se desenvolveram em Matemática, tal
como a razão para que esses conceitos foram criados, que importância tiveram
àqueles que a construíram; como também quais necessidades tinham? Enfim,
tudo isso nos faz refletir e perceber o quanto esta ciência é bela.
Assim, o professor convicto de que História, tanto contribui como
auxilia sua prática em sala de aula, com seu uso ele poderá despertar no
aluno o gosto pela Matemática, como também motivá-los a “criar” Matemática.
2
Talvez isso faça com que tenhamos no futuro uma sociedade mais justa,
menos desigual e mais humana.
Conforme cita D’Ambrosio3 a Matemática é a espinha dorsal de nossa sociedade, mas essa sociedade é cheia de arrogância e prepotência. A
civilização moderna é feia! A desigualdade social ocorre em todo o mundo
sendo um problema universal. A espinha dorsal da civilização tem algo a ver
com essa civilização moderna? Esta é uma pergunta difícil de ser feita como
também ser aceita.
3.3 – A concepção de alunos com relação à História da
Matemática
No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa, achar interessante
saber o que os alunos pensam a respeito da História da Matemática no curso,
como também qual a contribuição da História em sua formação. Optamos por
fazer algumas perguntas que fossem em forma de diálogo. Tivemos a
participação de três alunos. A questão que consideramos pertinente foi a
seguinte:
O que acha de estudar História da Matemática no curso? E o que
tem contribuído na sua formação?
O primeiro aluno disse: “acho muito interessante porque são
apresentados seminários no decorrer do curso. O seminário faz o aluno
3
25
pesquisar, ele busca na História da Matemática o que aconteceu em
determinado período e, assim, ele aprende muito”. Ressalta: “não é só
importante aprender a fazer contas ou decorar fórmulas, que é o que muito
aluno faz; enfim, aprender aquela fórmula e saber de onde veio, quem fez
aquilo é interessante”. Quanto à contribuição da História em sua formação, “A
história da matemática tem ajudado na pesquisa e, também, na resolução de
problemas”.
“Acho muito interessante, pois nos dá embasamento histórico”, relata
o segundo aluno, “saber como surgiu a matemática, quais foram os
precursores é importante”. Revela que a História da Matemática contribuiu para
sua formação: “a matéria abre um leque de possibilidades”. Cita que o aluno
pesquisando e falando a respeito do assunto, ele vai aprendendo.
“Particularmente, gostei”, afirma o terceiro aluno. “Alguns assuntos
nunca tinha ouvido falar antes, o modo como foi realizado através da disciplina
foi muito bom”. Em relação à contribuição da História em sua formação, ele
revela: “A História da Matemática serve para saber como as coisas evoluíram e
como está sendo norteada, podemos ter uma base como as pessoas
passaram, que tiveram erros e falhas. Como as coisas foram se
desenvolvendo”.
Desse modo, por meio do diálogo com esses alunos foi possível
perceber uma grande satisfação ao falarem da disciplina História da
Matemática. Disseram que a disciplina foi muito importante em sua formação,
alegaram que ao fazer o trabalho final do curso, recorreram à História da
Matemática, buscando a fundamentação teórica para sua pesquisa. Já atuando
estudar História, seus alunos, sentem-se mais confiantes, quando falam de
determinados assuntos. Então, procuram sempre comentar alguma coisa que
aprenderam sobre a História.
Tudo isso nos revela que estudar ou ensinar História da Matemática
favorece uma aprendizagem mais significativa com relação à Matemática,
trazendo informações que foram essenciais ao desenvolvimento da
humanidade em geral.
O conhecimento da História permite ao professor uma visão de como
os conteúdos matemáticos foram desenvolvidos e modificados ao longo do
tempo até chegarmos à Matemática que temos, atualmente. Conforme se
refere Mendes (2001, p. 18), “cabe-nos, entretanto, o cuidado de saber buscar
na história da matemática a medida certa para nos tornarmos capazes de
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ETODOLOGIA DA PESQUISA
4.1
– INTRODUÇÃOEste capítulo tem por objetivo descrever em detalhes o desenho
metodológico deste estudo, que será desenvolvido com o objetivo de responder
à questão da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utilizará o
pressuposto a esse tipo de pesquisa (GARNICA, 1997).
O capítulo foi estruturado visando a descrever, inicialmente, o
procedimento metodológico, depois apresentar os relatos dos professores.
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Iniciamos a pesquisa enviando por meio de correio eletrônico, um
questionário1 aos professores e coordenadores dos cursos de Matemática que, atualmente, ministram aulas na disciplina História da Matemática.
Elaboramos o questionário com a preocupação de identificar, como
a disciplina História da Matemática está sendo oferecida; procuramos investigar
então, a formação dos professores, o que os levou a lecionar a disciplina, a
metodologia utilizada, como avaliam seus alunos e, também, a importância da
História da Matemática no curso.
O retorno obtido foi baixo, pois foram enviados questionários e o
retorno foi de sete, só três tiveram a participação dos coordenadores do curso.
Após a leitura dos questionários respondidos por professores e
coordenadores, assim, obtivemos uma visão geral da disciplina, por meio de
suas concepções com relação às questões levantadas.
No segundo momento da pesquisa, optamos fazer entrevistas com
mais cinco professores que atuam na disciplina História da Matemática, a fim
de obter informações mais detalhadas. Para isso, aproveitamos o questionário
já elaborado, realizamos apenas algumas adaptações para trazerem mais
informações à pesquisa. As entrevistas foram gravadas, transcritas e
analisadas, conforme a metodologia proposta na pesquisa qualitativa,
envolvendo a análise ideográfica e a análise nomotética que se encontram no
próximo capítulo.
A seguir, mostraremos as concepções dos professores participantes
do primeiro momento da pesquisa, ou seja, o retorno dos questionários com as
1
questões respondidas. Optamos por não citar os nomes, tanto das instituições,
como também dos professores que contribuíram na pesquisa.
4.3. Descrição de relato
dos professores
O coordenador da Instituição de Ensino Superior A relata que a disciplina História da Matemática é obrigatória no currículo com carga-horária
de 40 h/a, que é lecionada no 5º semestre do curso. O coordenador acha
interessante como a disciplina está organizada, porque favorece o trabalho do
professor de História, (uma vez que o aluno já adquiriu grande parte do
conteúdo matemático necessário à sua formação). Afirma: “é fundamental para
a formação do futuro professor de matemática o conhecimento cronológico do
desenvolvimento histórico das diversas leis e teoremas que fundamentam o
ensino da matemática”.
O professor da Instituição tem formação em Licenciatura em
Matemática com mestrado em Educação. Leciona a disciplina há quatro anos,
seu interesse em lecionar esta disciplina foi em razão das leituras e pesquisas
desenvolvidas no curso de mestrado. Considera fundamental a História da
Matemática no Curso de Licenciatura. Cita: “é interessante que todos os
professores trabalhem história ao ensinar um tema matemático”.
31
História da História Matemática, para que o aluno saiba do surgimento e evolução de conteúdo matemático.
Com relação à metodologia utilizada, “aulas expositivas, leituras,
apresentação de filmes e seminários”, vimos que os alunos são avaliados por
meio de provas e, sobretudo por meio de trabalhos de pesquisa sobre o
conteúdo estudado e, também, de seminários.
Na Instituição B, o coordenador relata que a disciplina é obrigatória no currículo com carga-horária de 68 h/a. Mas não está de acordo, como a
disciplina está organizada, justifica:
Eu acho que para a disciplina ter importância no curso de licenciatura em matemática ela deveria estar diluída dentro das disciplinas do curso e não como uma disciplina isolada, ou seja, cada disciplina deveria dar o enfoque histórico no desenvolvimento dos conteúdos.
A professora dessa Instituição leciona a disciplina há quase cinco
anos, sendo Licenciada em Ciências e Matemática, Especialização em
Metodologia para Ensino da Matemática e Mestrado em Educação. Sua
afeição pela História mostra o interesse em lecionar a disciplina, sua
concepção sobre a importância de estudar História da Matemática, é a
seguinte:
estes profissionais atuarão futuramente. Estabelece uma certa “intimidade“ entre o estudante os matemáticos e os conteúdos com eles relacionados. Há, talvez, uma identificação de propósitos de natureza pessoal que estimula a aprender mais.
Usa a metodologia desenvolvida por dois de seus professores do
Mestrado. “Trata-se de desenvolver as aulas de um determinado conteúdo em
três momentos pedagógicos”. A professora não descreve como são esses
momentos. Quanto à avaliação destaca como principal e suplementar.
Principal: Prova com os conhecimentos ministrados por mim e por eles (seminários).
Suplementar: Quando apresento um trabalho que envolve, por exemplo, etnomatematica, peço que entreguem um trabalho semelhante, envolvendo outro assunto no dia da prova. Costumo apresentar filmes ligados a História da Matemática e formulo questões e tarefas referentes a estes filmes, que eles devem entregar no dia da prova. Estas questões envolvem conhecimentos de outras disciplinas e eles têm que pesquisar para responderem, de acordo com aqueles conhecimentos.
Quanto à Instituição C, as informações obtidas pelo coordenador do
curso, a disciplina é obrigatória com carga-horária de 40 h/a. Justifica a
importância da História da Matemática no curso por permitir a ampliação dos
conhecimentos dos professores em formação, como também de complementar
o trabalho desenvolvido em duas outras disciplinas (Grupos de Estudos de
Filosofia da Ciência e da Matemática e Tendências em Educação Matemática
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disciplinas do currículo, sendo a articulação mais explicita com as disciplinas
Prática de ensino de Matemática e o Estágio Supervisionado).
Mestre pela Unesp a professora dessa Instituição, ministra aulas de
História há três anos. Começou a lecionar a disciplina naturalmente, quando a
instituição passou a oferecê-la no curso, pela facilidade apresentada em lidar
com a História da Matemática. Considera a disciplina importante, por fazer o
fechamento de outras disciplinas do currículo, como também fornecer
subsídios aos alunos que com base no desenvolvimento histórico do conteúdo
enfocado, muitos acabam fazendo seus trabalhos de conclusão de curso.
A metodologia adotada pela professora consiste em: Seminários
semanais sobre tópicos de História da Matemática, apresentação de
seminários, discussão de textos atuais de revistas especializadas em
Educação Matemática e elaboração de resenhas e de textos serem
disponibilizados na Internet.
Os alunos são avaliados pela Participação em seminários, debates,
apresentação de trabalhos escritos e trabalho final da disciplina disponibilizado
na Internet.
Em entrevista ao professor da Instituição D, fomos informados que a disciplina é obrigatória. Licenciado em Matemática, Mestre em Educação e
Doutorando, leciona a disciplina há três anos. Começou a lecionar História da
Matemática pela falta de professores de História e acabou tomando gosto pela
disciplina.
estatística, eu falo da História. Geralmente, os alunos gostam muito de ter essa disciplina, praticamente todos os trabalhos de conclusão de curso vêm para o professor de História, os alunos buscam fundamentação no trabalho através da História.
O modo como a disciplina está organizada não o agrada e lamenta a
redução das aulas no curso. Declara: “essa disciplina é encaixada em
semestres diferentes podendo ser em algumas turmas no 2º semestre, outras
do 3º ou 4º semestre, sendo um arranjo, apenas por conveniência de grade,
não tem nenhum critério pedagógico”. Diz:
Tá a maior bagunça, a combinação da aula deixa o professor mais livre mais à vontade, conforme tem aula de cálculo, de álgebra a gente conversa vai montando a ementa, conforme esses professores o que tem mais necessidade pro aluno se é de contar história do porquê ou discutir a história daquilo que esta estudando, a gente vai amarrando, ajustando.
Na metodologia utiliza textos (leitura e resumos) e discussão em
grupo de um tema matemático. Nas avaliações - “normalmente, a prova é uma
crítica de um texto”.
Quanto ao professor responsável pela disciplina da Instituição E
informa, a disciplina é obrigatória. Licenciado em matemática pela USP
começou a lecionar a disciplina a partir da década de 70. A curiosidade da
descoberta levou-o a lecionar a disciplina.
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lógica? Assim, sempre procurei me inteirar, para cada coisa que estudava (e não só matemática). Qual a origem. Qual a utilidade e qual o contexto lógico. Esses conhecimentos sempre me deram muito mais segurança e condições de estudar e depois lecionar Matemática. A (minha) vivência no magistério me mostrou que colocar a Matemática como fato social, ligada às necessidades da sociedade, aumenta o rendimento dos cursos, que ministrava, despertando muito mais interesse por parte dos estudantes. Isso me ligou ao prof. Lira, que lecionava HM no IME e, quando ele faleceu, a disciplina foi oferecida a mim.
Considera a disciplina História da Matemática muito importante, tanto
na compreensão dos fatos matemáticos como no processo de construção do
conhecimento e seus métodos. Afirma que a história é um excelente meio
didático no curso de matemática. Ressalta, “o curso desta universidade é
voltado para a formação de professores”.
Damos especial atenção para a história de cada tópico do currículo do Fundamental e Médio: como apareceu a fórmula para a equação do 2° grau, como apareceu a trigonometria, a Geometria Analítica, os logaritmos, as matrizes, as contas aritméticas, a geometria e etc. Portanto, levamos em consideração os processos de geração (HM), organização (Matemática) e transmissão (Didática) de conhecimentos, tanto em nível social como individual.
Como metodologia realiza um misto de trabalhos em grupos e aulas
expositivas. Os alunos são avaliados por quatro notas bimestrais, conforme
a) são quatro provas bimestrais com perguntas e redações.
b) trabalhos em grupos. c) preparação da Semana da Matemática que é feita em quatro etapas: pesquisa e elaboração do texto base, discussão do método de apresentação e adaptação do texto à mídia e elaboração da apresentação.
Na Instituição F, a disciplina é obrigatória no currículo. A responsável pela disciplina é licenciada em Matemática pela USP e ministra aulas de
História da Matemática há 10 anos. Revela que gostou da História da
Matemática, desde a graduação e procura sempre estudar sobre o assunto.
Julga importante o estudo da História da Matemática na Licenciatura por
favorecer o hábito da leitura entre os educandos, como também da pesquisa.
Com isso, o aluno percebe artigos, revistas (SBM, SBEM, etc.) e livros. Isso
poderá despertar a preocupação do aluno pela sua futura profissão.
Adota a metodologia de aulas expositivas, leituras de texto e
preparação e apresentação seminários pelos alunos. Quanto à avaliação,
descreve:
Uma prova escrita individual e sem consulta (exigência do critério de avaliação da faculdade) sobre o assunto tratado em aula. Essa prova tem pergunta do tipo “analise tal situação”, “compare os resultados de um problema antigo com o atual”, etc.
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Quanto à Instituição G, a responsável pela disciplina tem formação em Bacharel em Estatística, é o segundo ano que leciona a disciplina, não
informa se a disciplina é obrigatória na grade curricular. A falta de professor
levou-a ministrar as aulas de História da Matemática. Acredita que a História da
Matemática poderá mudar a maneira como a Matemática está sendo trabalhada
nas escolas, tornando as aulas mais prazerosas e estimulantes.
Com relação à metodologia adotada, são aulas expositivas e
seminários. Nas avaliações revela: “avalio mais pelos seminários”, afirma que
poucos alunos levam a sério e se interessam pelos seminários.
Após a observação dos relatos desses professores e coordenadores
das instituições analisadas, conseguimos ter uma visão geral de suas
concepções quanto à importância da História no Curso de Licenciatura e suas
respectivas experiências ao lidar com esta disciplina. Constatamos diversas
preocupações quanto à disciplina, sobretudo no que diz respeito à formação
do professor de Matemática, enfatizando que, com a História da Matemática, o
aluno futuro professor adquira uma percepção mais clara das dificuldades
inerentes ao ensino e aprendizagem de matemática por meio do conhecimento
das dificuldades históricas encontradas do decorrer da evolução da matemática.
Souto (1997) defende o uso da História da Matemática, como
elemento que proporciona uma noção de totalidade do conhecimento
matemático, ao propiciar uma visão mais clara do desenvolvimento da
Matemática, favorece o aprimoramento da prática docente.
D’Ambrosio (1996) considera que é importante o professor
compartilhar o que sabe sobre a História da Matemática com seus alunos, até
Pelos relatos dos professores, percebemos o uso da História como
fonte de motivação. Muitas vezes, o interesse dos alunos ao estudar História da
Matemática revela sua curiosidade pela descoberta, buscando justificativa no
ensino da matemática por meio da aplicação do conhecimento matemático.
Prado cita que “o enfoque histórico não é o único meio de que dispõe
o professor para auxiliar seu aluno a compreender a relação entre as relações
que compõem a demonstração de um teorema, mas pode ser de grande auxílio
para o professor” (PRADO, 1990, p.19).
Assim, o professor pode usar a História para dar ênfase a um tema
estudado, pode não ser o modo mais interessante, sobretudo quando nos
referimos aos Cursos de Licenciatura.
O modo como muitos professores definiram a importância de estudar
História, mostra que esta estabelece uma estreita relação humana entre o
aprendiz, o professor e os conteúdos.
Desse modo, sabemos que isso é necessário, não apenas com a
História, mas, com todas as disciplinas que fazem parte do currículo, em
especial, o ensino da Matemática, que proporciona aos educandos uma melhor
maneira para recuperar os valores, e o interesse pelo estudo da matemática,
mostra o papel seu na sociedade.
Com relação às razões pelas quais o professor torna-se professor de
História da Matemática, constatamos que isso ocorre em situações bastante
particulares. Alguns relatos revelam que a curiosidade e os questionamentos ao
estudar História da Matemática na Licenciatura ou no Mestrado acabaram se
interessando cada vez mais pela História, quando surgiu a oportunidade
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lecionasse a disciplina, envolvendo-se de tal forma que acabaram ‘tomando’
gosto pela mesma.
Constatamos por meio dos relatos dos professores, que não há muita
diversidade no que diz respeito à metodologia adotada, sendo praticamente
unânime o destaque nas aulas expositivas, debate e seminários. Constatamos,
também, a preocupação desses professores para apresentar mais de um modo
de desenvolver suas aulas no curso.
Encontramos concepções distintas a respeito da avaliação em
História, porém, o que tem permeado como uma das formas de avaliação são
os seminários em praticamente todos os relatos.
De modo geral, notamos esta diversidade ao tratar a avaliação, que
algumas foram muito interessantes. No capítulo V, trataremos com mais
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APÍTULO
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ENTREVISTAS E A
NÁLISE DOS RESULTADOS5.1 – Introdução
Neste capítulo, apresentaremos as transcrições das entrevistas e a
Análise dos resultados que se encontram subdivididas em ideográfica e
nomotética. Iniciaremos, descrevendo cada uma das cinco entrevistas. Logo a
seguir, faremos uma análise ideográfica de cada entrevista e finalizaremos com
a análise nomotética.
5.2 – As Entrevistas
Na intenção de apresentar um trabalho mais proveitoso aos futuros
pesquisadores, deixo em aberto a continuidade da pesquisa, tendo em vista
que um pequeno grupo de professores participou deste trabalho, podendo ser
ampliado por futuros trabalhos.
Considerei o questionário já utilizado adequado para nortear as