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Marcos teóricos para reflexão sobre direito & desenvolvimento

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Academic year: 2017

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Stricto Sensu em Direito

Trabalho de Conclusão de Curso

MARCOS TEÓRICOS PARA REFLEXÃO SOBRE

DIREITO & DESENVOLVIMENTO

Brasília - DF

2011

Autor: Rafael Amorim de Amorim

Orientador: Dr. Ivo Gico Teixeira Junior

Stricto Sensu em Direito

Trabalho de Conclusão de Curso

MARCOS TEÓRICOS PARA REFLEXÃO SOBRE

DIREITO & DESENVOLVIMENTO

Brasília - DF

2011

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MARCOS TEÓRICOS PARA REFLEXÃO SOBRE MARCOS TEÓRICOS PARA REFLEXÃO SOBRE

DIREITO E DESENVOLVIMENTO DIREITO E DESENVOLVIMENTO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientador: Dr. Ivo Gico Teixeira Junior

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

A524m Amorim, Rafael Amorim de

Marcos teóricos para reflexão sobre direito e desenvolvimento. / Rafael Amorim de Amorim – 2011.

126f. 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011.

Orientação: Gico Teixeira Junior

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Agradeço aos professores e aos alunos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília o convívio durante o período de Mestrado e as lições aprendidas antes, durante e depois das aulas, principalmente a seu Coordenador, Professor Dr. Antônio de Moura Borges.

Agradeço ao meu orientador, Professor Dr. Ivo Gico Teixeira Junior, a paciência e compreensão em relação às dificuldades enfrentadas por este orientando, bem como o constante estímulo aos estudos e às pesquisas, sempre instigando um novo olhar e uma nova visão do fenômeno jurídico.

Agradeço aos meus amigos e familiares o convívio ao longo dos anos e os ensinamentos de vida. Agradeço, em especial, àqueles que, ao acompanharem minha trajetória pessoal, acadêmica e/ou profissional, torceram, e ainda torcem, pela realização de todos os meus projetos.

Agradeço, principalmente, aos meus pais, Gilberto Antonio da Silva Amorim e Maria Margarete de Amorim Amorim, o exemplo de caráter e dignidade em relação à vida e o amor e generosidade em relação a seus filhos. Agradeço a meus irmãos, Marcos Daniel Amorim de Amorim e Vanessa de Amorim Amorim.

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Referência: AMORIM, Rafael de Amorim. Marcos Teóricos para Reflexão sobre Direito e Desenvolvimento. 2011. 126 págs.. Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília, Brasília, Distrito Federal, 2011.

Em linhas gerais, o presente trabalho dedica-se, em uma perspectiva histórica, ao estudo dos marcos teóricos da relação entre sistema jurídico e processo de desenvolvimento, disciplina, de caráter interdisciplinar, envolvendo áreas correlatas ao Direito e à Economia, que objetiva orientar e explicar os programas de reformas que procuraram alterar os sistema legais em nome do desenvolvimento, nas suas perspectivas econômica, política e social. Proceder-se-á, antes de iniciar o debate principal ora proposto, à apresentação dos referenciais teóricos que influenciaram, direta ou indiretamente, as discussões sobre sistemas legais e desenvolvimento. Com tal desiderato, os pressupostos teóricos que permeiam o campo da “Economia do Desenvolvimento” serão, inicialmente, apresentados, privilegiando-se, sobretudo, os paradigmas que mais impactaram no campo do Direito e Desenvolvimento. Para enriquecer as discussões específicas sobre sistema jurídico e processo de desenvolvimento, prosseguir-se-á com a apresentação das correntes teóricas que explicitam o papel de variáveis alternativas no desenvolvimento dos países (p. ex. aspectos geográficos, fatores culturais e a origem do sistema legal). Logo depois, delimitar-se-á o referencial teórico de Max Weber, teórico social que mais influenciou o campo do “Direito e Desenvolvimento”, desvelando, ao estudar a ascensão da civilização industrial europeia, o Direito como um fator determinante no processo de desenvolvimento, contribuindo, assim, para aumentar a consciência acerca do papel social do direito. Aprofundando o debate específico ora proposto, serão apresentados o Movimento “Direito e Desenvolvimento” e o Movimento “Estado de Direito”, buscando-se, então, sistematizar e conferir certa racionalidade ao arcabouço teórico existente, privilegiado-se, para tanto, os consensos acerca da utilização do direito como instrumento de promoção do desenvolvimento. Por fim, serão delineadas as linhas principais do novo Movimento em Direito e Desenvolvimento que está em formação, o qual tende a conciliar os erros e os acertos pretéritos, conformando um programa consentâneo aos desafios postos à sociedade contemporânea.

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Reference: AMORIM, Rafael de Amorim. Theoretical Guides for Reflection on Law and Development. 2011. 126 sheets. Dissertation submitted to the Pos-graduate studies in Law at Catholic University of Brasilia, Brasília, Federal District, 2011.

In general, this paper focuses on a historical perspective to the study of theoretical frameworks of the relationship between legal system and process development, discipline, interdisciplinary, involving areas related to Law and Economics, which aims to guide and explain the reform programs that sought to change the legal system on behalf of the development in their economic prospects, political and social. Will proceed, before starting the main debate is now proposed, the presentation of theoretical frameworks that have influenced, directly or indirectly, discussions of legal systems and development. With this aim, the theoretical assumptions that underlie the field of "Development Economics" will be initially presented, focusing, above all, the paradigm that most influenced the field of Law and Development. To enrich specific discussions on the legal system and the development process, will proceed with the presentation of theoretical perspectives that explain the role of alternative variables in developing countries (eg. Geography, cultural factors and the origin of the legal system). Soon after, it will outline the theoretical framework of Max Weber, social theorist who most influenced the field of “Law and Development”, unveiling, to study the rise of European industrial civilization, the law as a determining factor in the development process, contributing, thus, to raise awareness about the social of Law. Deepening the specific debate is now proposed, will be presented the Movement "Law and Development" and the Movement "Rule of Law", seeking, then, organize and give some rationality to the existing theoretical framework, privileging, to this end, the consensus about using the Law as an instrument for promoting development. Finally, are outlined the main lines of the new Law and Development Movement who is in training, which tends to reconcile the errors and correct past tense, forming a program commensurate to the challenges contemporary society.

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1 INTRODUÇÃO...09

2 MARCOS TEÓRICOS INICIAIS DO DEBATE SOBRE DESENVOLVIMENTO....14

2.1 A Economia do Desenvolvimento...16

2.2 As Explicações Alternativas...21

2.2.1 As Influências Geográficas...22

2.2.2 As Influências Culturais...27

2.2.3 As Influências da Origem Legal...36

2.3 As Contribuições de Max Weber...40

2.3.1 A Classificação Weberiana dos Modelos Jurídicos...42

2.3.2 Os Requisitos da Racionalidade Lógico-Formal Weberiana...44

2.3.3 A Explicação Weberiana para a Ascensão Econômica Weberiana...46

2.3.4 O Direito Moderno Weberiano e o Processo de Desenvolvimento...48

3 MOVIMENTOS TEÓRICOS SOBRE DIREITO E DESENVOLVIMENTO...51

3.1 Movimento Direito e Desenvolvimento...51

3.1.1 Síntese das Influências Teóricas...55

3.1.2 O Modelo Jurídico Concebido…...61

3.1.3 Relação entre o Modelo Jurídico Concebido e as Experiências Práticas...68

3.1.4 A Crise do Movimento Direito e Desenvolvimento…...74

3.2 Movimento Estado de Direito...82

3.2.1 Síntese das Influências Teóricas...87

3.2.2 O Modelo Jurídico Concebido...92

3.2.3 Relação entre o Modelo Jurídico Concebido e as Experiências Práticas...97

3.2.4 A Crise do Movimento Estado de Direito…... 103

3.3 Novo Movimento em Direito e Desenvolvimento...108

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1. INTRODUÇÃO

Do ponto de vista teórico, o estudo sobre a relação entre Direito e Desenvolvimento remonta, pelo menos, ao século XIX, atraindo, desde então, o interesse de inúmeros pesquisadores. Do ponto de vista prático, sobressaem, também, da mesma época, os primeiros esforços para implementação, sob influência do Direito e Desenvolvimento, de projetos voltadas para o progresso dos países pobres (TRUBEK; SANTOS, 2006).

Por certo, isso não significa que existam respostas definitivas para todos os problemas, teóricos e práticos, provenientes da relação entre Direito e Desenvolvimento. De maneira geral, o tema sujeita-se a muitas controvérsias, levando, inclusive, algumas linhas teóricas a questionar se os sistemas legais exercem mesmo alguma influência nos processos de desenvolvimento e outras correntes teóricas a suscitar outras variáveis ao debate (p. ex. cultura, religião etc.).

Neste contexto, o aprofundamento das investigações é fundamental, de modo a consolidar um campo de pesquisa, de caráter interdisciplinar1, focado na realidade contemporânea e capaz de responder aos desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento. Na ocasião, o objeto central do debate será a relação entre Direito e Desenvolvimento, abordando-se, com o propósito de enriquecer as discussões propostas, explicações teóricas que destacam variáveis alternativas.

Pressupõe-se, desde logo, que o direito é uma variável decisiva no desenvolvimento dos países, reconhecendo-se, todavia, dada a complexidade subjacente ao debate, que tal variável não é a única a ser sopesada. Em outras palavras, Karl Polanyi (1944[2000]) defende que o desenvolvimento resulta da interação de um grande número de fatores, ressalvando, contudo, que o sistema legal é um dos fatores determinantes no processo de desenvolvimento.

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Com esteio na literatura acadêmica, constata-se que, ao longo do período, a relação entre Direito e Desenvolvimento passou por diferentes fases, explicitando-se o término da II Guerra Mundial e a independência das colônias europeias como

propulsores de estudos e, também, de práticas relacionados à temática, em decorrência da incorporação de tal problemática nos programas das agências de desenvolvimento, principalmente nos programas de reformas jurídicas:

[O estudo da relação entre] Direito e Desenvolvimento orienta e explica a prática corrente daqueles que procuram alterar os sistemas legais em nome do desenvolvimento [...]. (TRUBEK e SANTOS, 2006, p. 3, tradução nossa)

Em linhas gerais, o estudo da relação entre sistemas legais e desenvolvimento perpassa questões relacionadas à teoria econômica, à teoria

jurídica e às práticas institucionais correlatas, que influenciam e são influenciadas mutuamente2. Sistematizar e conferir certa racionalidade ao arcabouço teórico existente é um enorme desafio, visto que é necessário trabalhar, simultaneamente, com pressupostos diferentes e potencialmente contraditórios.

Dessa forma, os movimentos acadêmicos dedicados ao estudo da relação entre sistemas legais e desenvolvimento também foram constituídos, implicando, em virtude de influências políticas e econômicas distintas, o surgimento de abordagens diferentes. Em que pese ter sofrido influências dos movimentos mencionados, o Brasil ainda não constituiu um campo próprio de pesquisas na área, evidenciando, assim, a necessidade de os acadêmicos pátrios refletirem sobre o tema.

Para subsidiar tal reflexão, propõe-se, na ocasião, a revisão teórica dos movimentos acadêmicos do Direito e Desenvolvimento, adotando-se, para tanto, um enfoque retrospectivo histórico. Por oportuno, salienta-se, desde logo, que os movimentos acadêmicos sobrevieram de intensos debates e consolidaram, em cada período histórico, consenso intelectual sobre algumas questões, persistindo, claro, divergências teóricas em outros aspectos.

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Proceder-se-á, porém, antes de iniciar o debate principal ora proposto, à apresentação dos referenciais teóricos que influenciaram, direta ou indiretamente, as discussões sobre sistemas legais e desenvolvimento. Com tal desiderato, os

pressupostos teóricos que permeiam o campo da “Economia do Desenvolvimento” serão, inicialmente, apresentados, privilegiando-se, sobretudo, os paradigmas que impactaram o campo do Direito e Desenvolvimento.

Para ilustrar o debate, prosseguir-se-á com a apresentação das correntes teóricas que explicitam o papel de variáveis alternativas no desenvolvimento dos países, oferecendo-se, então, um diálogo (di + a = dois ou mais; logos = lógica ou modo de pensar) com diferentes disciplinas. Certamente, muitas polêmicas permeiam as correntes teóricas alternativas, aproveitando-se, todavia, seus insights para enriquecer o debate específico sobre Direito e Desenvolvimento.

Logo depois, delimitar-se-á o referencial teórico de Max Weber, teórico social que mais influenciou o campo do “Direito e Desenvolvimento”, desvelando, ao estudar a ascensão da civilização industrial europeia, o papel então desempenhado pelo sistema jurídico. Posteriormente, promover-se-á, enfim, a apresentação dos movimentos acadêmicos que se dedicaram ao estudo do Direito e Desenvolvimento e, assim, pautaram o debate a respeito do tema em âmbito mundial.

O Movimento “Direito e Desenvolvimento” foi o precursor dos projetos acadêmicos na área, consolidando, entre as décadas de 1950 e 1970, sob a

influência da teoria da modernização, os primeiros trabalhos voltados a compreender a relação entre direito e desenvolvimento, entrando em colapso, pelo fato de as reformas jurídicas prescritas não terem alcançado os resultados esperados, no final do período mencionado.

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Infelizmente, as reformas jurídicas prescritas também não alcançaram os resultados esperados, sobressaindo, no final da década de 1990, como sucedâneo do programa propugnado pelo Consenso de Washington, problemas graves nos

países, que contribuíram para crise do Movimento “Estado de Direito”, fato decisivo para necessária reflexão acerca do autêntico papel da ordem jurídica nos processos de desenvolvimento dos países.

Sob influências das críticas teóricas e dos problemas práticos observados nos movimentos acadêmicos precedentes, exsurge, atualmente, embora de forma não muito clara, um novo Movimento em Direito e Desenvolvimento, o qual, na leitura de David Trubek, busca conciliar os erros e os acertos pretéritos e delinear conscientemente um programa consentâneo aos desafios postos à sociedade contemporânea. Dado o quadro fático, importa observar que:

As teorias não evoluem gradualmente, ajustando-se a fatos que sempre estiveram à nossa disposição. Em vez disso, surgem ao mesmo tempo em que os fatos aos quais se ajustam, resultando de uma reformulação revolucionária da tradição científica anterior – uma tradição na qual a relação entre o cientista e a natureza, mediada pelo conhecimento, não era exatamente a mesma. (KUHN, 2000, p. 179)

Parafraseando Brian Tamanaha (1995), explicita-se, portanto, que a revisão dos diferentes movimentos acadêmicos ora proposta é oportuna, devendo ser privilegiados os consensos acerca da utilização do direito como instrumento de promoção do desenvolvimento. Desse modo, o presente trabalho, além de contribuir para evitar a repetição dos erros já cometidos no passado, contribuirá, talvez, para a evolução do campo do Direito e Desenvolvimento.

Nas palavras de Alan F. Chalmers (2009, p. 135), “o conhecimento científico cresce continuamente à medida que observações mais numerosas e mais variadas

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Nesse sentido, destaca-se, para fins didáticos, que quase metade da população mundial – mais de 3 bilhões de pessoas – sobrevivia, segundo dados do Banco Mundial referentes ao ano de 2005 (SHAH, 2010), com menos de $ 2,5

dólares por dia, e, desse total, quase um sexto da população mundial – aproximadamente 880 milhões de pessoas – sobrevivia com menos de $ 1,0 dólar por dia, demonstrando, enfim, a importância do diálogo ora proposto.

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2. MARCOS TEÓRICOS INICIAIS DO DEBATE SOBRE DIREITO E DESENVOLVIMENTO

Nos últimos 60 anos, agências governamentais de países desenvolvidos (p. ex. Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional – USAID), fundações privadas (p. ex. Ford), organismos internacionais (p. ex. Grupo Banco Mundial) e, claro, os próprios países em desenvolvimento (p. ex. Brasil) têm investido vultosos recursos em projetos de reformas jurídicas, sem contar, porém,

com um referencial teórico robusto na área de Direito e Desenvolvimento.

Pelo fato de não serem fins em si mesmos, os projetos de reformas jurídicas estiveram, desde o início, inclusos em projetos de assistência internacionais mais abrangentes, objetivando, sob influência direta dos diferentes momentos históricos, potencializar o progresso econômico e social dos países pobres. Depreende-se, assim, a influência dos fatos históricos nos projetos de reformas jurídicas, com impactos diretos na própria área do Direito e Desenvolvimento.

Em que pese terem empreendido diversos estudos e pesquisas voltados para a temática, obtendo, inclusive, significativos financiamentos para seus projetos de pesquisa, as universidades e os teóricos não consolidaram um referencial teórico proporcional aos esforços práticos realizados no período. Por essa razão, observa-se, coincidentemente, a “persistência com a qual seus participantes têm-se declarado estar 'em crise'” (TAMANAHA, 1995, p. 188).

Houve, a rigor, significativo desapontamento em relação aos projetos de assistência internacionais, os quais não propiciaram, nas últimas décadas, o desenvolvimento esperado, hipótese reforçada, em larga medida, pela literatura acadêmica (DAM, 2006). Burnside e Dollar (2000, p. 864, tradução nossa), por

exemplo, asseveraram: “Em consonância com outros autores, descobrimos que a assistência internacional teve, na média, pouco impacto sobre crescimento”.

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ao mesmo tempo, seguiam boas políticas. Easterly, Levine e Roodman (2004) demonstraram, porém, com base em dados mais consistentes, que os economistas não podiam ser tão otimistas quanto aos potenciais resultados dos projetos de

assistência internacional.

David Landes (1998, p. 523, tradução nossa), por sua vez, é mais categórico: “A história demonstra que as soluções mais bem sucedidas para pobreza provieram de dentro”. Nessa leitura, entende-se que os projetos de assistência internacionais podem ajudar, mas, pelo fato de desencorajarem os esforços próprios, também podem prejudicar, deixando uma sensação paralisante de incapacidade na população dos países auxiliados3.

Inobstante as polêmicas teóricas e práticas, que serão posteriormente retomadas, David Trubek, em entrevista concedida em 2007, incluída no livro “O Novo Direito e Desenvolvimento: Presente, Passado e Futuro” (2009), destacou que a academia até exerce certa influência nos projetos voltados para o desenvolvimento dos países pobres, sendo, porém, o trabalho mais significativo da área feito, a

contrario sensu, por economistas, com pouca participação de operadores jurídicos.

Em outras palavras, David Trubek, teórico cuja produção confunde-se com a própria ascensão, morte e revitalização do campo do Direito e Desenvolvimento (RODRIGUEZ, 2009), entende que as faculdades de direito ainda não deram atenção suficiente à temática, deixando, por isso, prevalecer, nos últimos 60 anos,

teorias e práticas com a visão dominante dos economistas, que foram, por sinal, responsáveis pela inclusão das reformas jurídicas na agenda política.

Posto isto, sobreleva-se, naturalmente, a necessidade de apresentar as teorias econômicas que perpassam o debate, explicitando-se, na ocasião, os paradigmas subjacentes que influenciaram os diferentes movimentos acadêmicos do Direito e Desenvolvimento. Pelo fato de o foco deste trabalho estar restrito aos movimentos acadêmicos inspirados pela escola norte-americana “Law and

Development”, alguns recortes teóricos serão oportunamente realizados.

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2.1 A Economia do Desenvolvimento

Os estudos sobre sistemas legais e processos de desenvolvimento foram influenciados e, possivelmente, impulsionados pelos economistas, que constituíram a denominada “Economia do Desenvolvimento” ou, como alguns preferem, “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, objetivando compreender as causas do desenvolvimento de alguns países, com vistas a definir os instrumentos capazes de potencializar o crescimento dos países pobres.

Em termos práticos, reconhece-se, assim, inobstante os esforços teóricos a serem empreendidos neste trabalho para diferenciar as contribuições das duas disciplinas, que o debate sobre ordem jurídica e desenvolvimento estava, em um primeiro momento, direta e/ou indiretamente, inserto em um debate mais amplo, conduzido no âmbito da disciplina da “Economia do Desenvolvimento”, o que traz, logicamente, pontos de intersecção entre os dois campos4.

Do ponto de vista metodológico, a técnica de investigação adotada pelos economistas para enfrentar os desafios teóricos explicativos relacionados ao desenvolvimento econômico também influencia o campo do Direito e Desenvolvimento. Para fins ilustrativos, recorre-se a Celso Furtando, que, em sua obra “Direito e Subdesenvolvimento” (1961 [2009], p. 25), esclareceu que a tarefa explicativa dos economistas projeta-se em dois planos, a saber:

O primeiro – no qual predominam as formulações abstratas – compreende a análise do mecanismo propriamente dito do processo de crescimento, o que exige construção de modelos ou esquemas simplificados dos sistemas econômicos existentes [...]. O segundo – que é o plano histórico – abrange o estudo crítico, em confronto com uma realidade dada, das categorias básicas definidas pela análise abstrata.

Em outras palavras, Celso Furtado (1961[2009]) sustenta que não basta construir um modelo abstrato e elaborar a explicação do seu funcionamento. Em termos práticos, isso significa que qualquer abstração teórica só será válida se,

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depois de confrontada com a realidade histórica, tiver comprovada sua eficácia explicativa, promovendo-se, depois disso, dadas as limitações inerentes a qualquer abstração, as modificações necessárias:

[...] o problema que se nos apresenta é duplo: primeiro, saber até que ponto é possível generalizar para outras estruturas observações feitas em uma; segundo, definir relações que sejam suficientemente gerais para ter validez no curso de determinadas modificações estruturais. (FURTADO, 1961 [2009], p. 26)

Com efeito, o problema metodológico decorrente da natureza abstrata e histórica não é exclusivo dos economistas, relacionando-se, a priori, a todos os teóricos preocupados com o desenvolvimento dos países, que observam, em suas análises, problemas comuns e específicos em cada nação, explicitando-se, assim, que cada fenômeno histórico de desenvolvimento é relativamente singular, hipótese que enfraquece, ex ante, os modelos abstratos universais.

Observar-se-á, posteriormente, o impacto das limitações metodológicas supracitadas nos estudos sobre ordem jurídica e desenvolvimento, destacando-se,

desde logo, suas influências decisivas nas crises finais do Movimento Direito e Desenvolvimento e do Movimento Estado de Direito. Sem adentrar em maiores polêmicas, apresenta-se, agora, de modo bastante breve, os pressupostos teóricos que permeiam o campo da “Economia do Desenvolvimento”.

Com tal desiderato, adota-se a classificação proposta por Kenneth Dam (2006), que defende que a produção do campo da “Economia do Desenvolvimento”, com reflexos no campo do “Direito e Desenvolvimento”, perpassa três estágios diferentes. Nessa concepção, os economistas clássicos - Adam Smith, David Ricardo, J. Stuart Mill etc. - não são abordados5, privilegiando-se, dessa forma, os referenciais mais proeminentes no período posterior à II Guerra Mundial.

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De maneira geral, a literatura do pós-guerra focou, inicialmente, em uma proposição simples: produção era função das variáveis capital e trabalho. Sob enfoque macroeconômico, os teóricos macroeconômicos do desenvolvimento

preconizaram, ao observarem o excesso de trabalho e a escassez de capital, a simples transferência desta última variável para os países pobres, com vistas a aumentar sua produção e a propiciar o seu desenvolvimento (DAM, 2006).

Em outros termos, os teóricos compreendiam que o desenvolvimento decorria do aumento da produção, que, por sua vez, dependia de maior incorporação das variáveis capital e trabalho ao processo produtivo. Para viabilizar os investimentos necessários para expansão do processo produtivo, era, então, diante da escassez de capital acumulado, necessário deslocar capitais para os países em desenvolvimento (FURTADO, 1961 [2009]).

A propósito, o setor privado dos países pobres era ainda incipiente e não contava com capital acumulado suficiente e com conhecimento apropriado para promover a expansão da produção. Diante dessa situação fática, o setor público assumiu, por um lado, a dianteira dos investimentos produtivos necessários para promover o desenvolvimento, contraindo, para tanto, empréstimos significativos, e, por outro lado, estimulou a instalação de empresas estrangeiras em seu território.

Corroborando os fatos históricos relatados, Kenneth Dam (2006) salienta que não ocorreu, devido aos postulados da Teoria Macroeconômica do Desenvolvimento,

a simples transferência de capital para os países pobres, sobressaindo, também, uma forte política de intervenção estatal no domínio econômico, com investimentos estatais diretos e com a concessão de subsídios a novas indústrias, o que, na sua opinião, decorreu de leituras precipitadas do modelo teórico ora examinado.

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[...] no segundo estágio do pensamento sobre desenvolvimento econômico, os insights da política econômica neoclássica deveriam ser aplicados, não apenas mediante a abertura dos mercados domésticos para as importações e a liberação dos controles de preços, mas, além disso, especialmente mediante a estabilização macroeconômica. (2006, p. 4, tradução nossa).

Propugnava-se, assim, no seu segundo estágio, conhecido como Teoria Neoclássica do Desenvolvimento, que o setor privado era o motor do progresso econômico, defendendo-se que os empresários poderiam, por meio do sistema de

créditos e de capitais, financiar os seus investimentos, cabendo ao setor público a função de prover ao setor privado as condições estruturais necessárias para o seu pleno desenvolvimento (FURTADO, 1961[2009]).

Por consequência, as denominadas “reformas estruturais” foram propaladas em âmbito mundial, com a vinculação de empréstimos destinados aos países em desenvolvimento à implementação das medidas de ajustes estruturais propugnadas, incluindo-se, logo após, no receituário preceituado, algumas reformas microeconômicas (p. ex. privatizações, reformas trabalhistas, reformas no sistema financeiro etc. [DAM, 2006]).

No contexto descrito, inúmeros países enfrentaram crises econômicas severas, que sucederam a implementação das medidas supracitadas. Por essa razão, o terceiro estágio da “Economia do Desenvolvimento” amplia, consoante Kenneth Dam (2006), o escopo de sua análise, privilegiando, então, a realidade e, principalmente, os problemas dos países em desenvolvimento, com foco destacado para as suas diferentes instituições:

[…] atualmente, a ideia que instituições, em especial instituições legais, são cruciais no processo de desenvolvimento econômico é amplamente aceita nas universidades e nos departamentos de pesquisa das instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial. (DAM, 2006, p. 5, tradução nossa)

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uma evolução da teoria neoclássica, sendo acrescidos os custos de transação às variáveis que compõem a função produção. Sob a perspectiva microeconômica, sobreleva-se o impacto das instituições jurídicas nos custos de transação e,

sobretudo, no desenvolvimento, hipótese até então ignorada pelos neoclássicos.

Superada esta breve apresentação preliminar, reitera-se que o campo do “Direito e Desenvolvimento” sobreveio dos trabalhos da “Economia do Desenvolvimento, subsistindo, certamente, pontos de convergência e divergência entre as duas disciplinas. Como já noticiado, a relação entre direito e economia influenciou as escolas “Law and Economics”, “Critical Legal Studies” e “Law and

Development”, sendo esta última o foco dos escritos subsequentes.

Parafraseando David Trubek (2006), adverte-se, desde logo, que, inobstante as contribuições propostas por economistas, os operadores jurídicos devem comprometer-se ainda mais com as pesquisas afetas ao desenvolvimento dos países, de modo a consolidar uma teoria robusta de caráter interdisciplinar, caracterizada como uma autêntica “Doutrina do Direito e Desenvolvimento” e capaz de direcionar os rumos dos programas de reformas jurídicas.

Por certo, isso não significa que David Trubek compreenda o Direito e Desenvolvimento como uma área exclusivamente jurídica. Pelo contrário, o teórico deixa claro, em sua obra “O Novo Direito e Desenvolvimento Econômico – Uma Abordagem Crítica” (2006 [tradução nossa]), organizada em parceria com Álvaro

Santos, que o campo provém da intersecção do Direito, da Economia e do estudo de Instituições, sobressaindo, mais uma vez, seu caráter interdisciplinar.

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2.2 As Explicações Alternativas

Dada a complexidade subjacente ao debate ora proposto, que, por sinal, evidencia que não existe uma resposta única para os problemas correlatos, importa agora, antes de iniciar as discussões específicas acerca da relação entre ordem jurídica e processo de desenvolvimento, discorrer sobre as correntes teóricas que se dedicaram ao estudo do desenvolvimento e, ao final, concluíram que outras variáveis foram decisivas para o progresso das nações.

Observando a complexidade inerente aos problemas relacionados aos diferentes níveis de desenvolvimento dos países, David S. Landes (1998) refutou a adoção de visões simplistas, que concedem importância excessiva a uma única variável. Propugnou, porém, ao explicitar exemplos de mudanças positivas, que o domínio das explicações alternativas pode potencializar a capacidade de os teóricos proverem as soluções necessárias para alavancar o progresso dos países.

Kenneth Dam (2006, p. 24, tradução nossa) reforçou esse entendimento: “as explicações alternativas sobre as diferenças no desenvolvimento dos países possuem alguns méritos”. Na sua leitura, as diferenças geográficas e culturais, por exemplo, parecem, a priori, ter algum reflexo no desenvolvimento dos países, ressalvando-se, todavia, que, até o momento, as explicações alternativas não ofereceram insights suficientes para a (re)formulação dos projetos de assistência.

Nessa linha, Dani Rodrik (2007) constata, após analisar os índices de crescimento econômico dos países em desenvolvimento, que existe uma variedade significativa no desempenho dos países, ressaltando, logo depois, que as diferentes experiências dos países em desenvolvimento podem contribuir para a definição das melhores “estratégias de crescimento”6. Portanto, as explicações alternativas enriquecerão, certamente, os debates subsequentes.

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Brian Tamanaha (2010, p. 178) propugna, então, que “a sociedade é o centro de gravidade absoluto do Direito e Desenvolvimento” e esclarece, em seguida, que “o termo 'sociedade' é aqui usado em um sentido amplo, abrangendo a totalidade da

história, a cultura, os recursos humanos e materiais, as composições religiosas e étnicas, a demografia, o conhecimento, as condições econômicas e a política”, características que devem, na sua opinião, ser consideradas7.

2.2.1 As Influências Geográficas

A partir do século XVIII, a influência dos aspectos geográficos no desenvolvimento dos países passou a ser amplamente debatida. Montesquieu foi, sem dúvida, o precursor das discussões teóricas sobre o impacto das variações geográficas, vez que, no capítulo XIV de sua obra clássica “O Espírito das Leis”, analisou a influência das variações climáticas nas atividades humanas, inaugurando, então, as polêmicas que permeiam tal explicação alternativa (DAM, 2006).

Contemporaneamente, Jeffrey Sachs, por meio dos working papers “Subdesenvolvimento Tropical” (2001, tradução nossa) e “Instituições não prevalecem: efeitos diretos da geografia sobre a renda per capita” (2003, tradução nossa), reacendeu o debate sobre o impacto dos fatores geográficos e ecológicos (p. ex. clima, doenças e distância da costa), no desenvolvimento dos países, investigando, em linhas gerais, os desafios enfrentados pelos países.

Para tanto, Jeffrey Sachs (2001/2003) recorre a sistemas de informações geográficas e identifica que países situados em zonas tropicais são, na sua maioria, pobres, enquanto países situados em zonas temperadas são, na sua maioria ricos (ver Figura 1). Para fins exemplificativos, Sachs (2001) assinala que das 30 (trinta) economias classificadas pelo Banco Mundial como de alta renda apenas 2 (duas) –

Hong Kong e Cingapura – estão situadas em zonas tropicais.

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Figura 1 - Efeitos Diretos da Geografia sobre a Renda Fonte: Jeffrey Sachs (2001, p. 37)

Jeffrey Sachs (2001) demonstra, na figura 1, que a maioria dos países pobres concentra-se próximo à linha do equador, excepcionando-se as nações pobres comunistas e os países pobres com extremo isolamento geográfico localizados na região temperada. Diante disso, Sachs (2001, p. 3, tradução nossa) preconiza: “talvez a relação empírica mais robusta relacionada à pobreza e à riqueza dos países diz respeito a regiões geográficas e renda per capita”.

Para ilustrar a sua tese, Sachs (2001) recorre, ainda, aos grandes países, que

possuem extensão territorial significativa. Destacou, por exemplo, o caso do Brasil, onde a zona tropical possui nível de renda inferior à zona temperada. Possivelmente, os problemas enfrentados pelas regiões situadas na zona tropical são, na sua opinião, decorrentes do atraso tecnológico, da baixa produtividade, da falta de inovação, da dinâmica social, e de fatores geopolíticos.

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hipótese corroborada, inclusive, pelos teóricos que refutam a teoria que privilegia o papel dos fatores geográficos (DAM, 2006).

Por meio do working paper “Instituições não prevalecem: efeitos diretos da geografia no rendimento per capita”, Jeffrey Sachs (2003) reforçou seu entendimento quanto à importância das variáveis geográficas e ecológicas nos níveis de renda per capita e de crescimento econômico, refutando, ao final, a linha teórica que sustenta que a situação atual dos países é reflexo de uma complexa interação entre as variáveis geográficas e ecológicas e as instituições e políticas outrora adotadas.

Acemoglu, Johnson e Robinson (2001), Easterly e Levine (2002) e Rodrik, Subramanian e Trebbis (2002) entenderam, ao refinarem a teoria ora analisada, que os níveis de renda e de crescimento teriam decorrido, na verdade, das escolhas institucionais pretéritas, que, por sua vez, teriam sido influenciadas pelos fatores geográficos e ecológicos. Rodrik, Subramanian e Trebbis apresentaram posicionamento bastante esclarecedor:

Uma vez que as instituições são controladas, fatores geográficos têm, na melhor das hipóteses, efeitos diretos fracos sobre a renda, embora tenham um forte efeito indireto, influenciando a qualidade das instituições. (2002, p. 01, tradução nossa)

Inobstante a linha teórica adotada, constata-se, em última análise, que os fatores geográficos influenciaram, nessa concepção, direta e/ou indiretamente os níveis de desenvolvimento dos países. Por um lado, Sachs (2001/2003) entende que as variáveis geográficas são determinantes primárias do nível de renda e de crescimento; por outro lado, os teóricos citados compreendem tais variáveis como determinantes secundárias do desenvolvimento dos países.

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necessárias para o seu desenvolvimento econômico.

Por relevante, Acemoglu (2003) reforçou que, embora exista correlação entre

geografia e prosperidade, os fatores geográficos não são influências primárias do desenvolvimento. Em complemento, o teórico preconizou que, se os fatores geográficos fossem determinantes por si só, os lugares que já eram ricos antes da colonização permaneceriam ricos e os lugares que já eram pobres, por sua vez, permaneceriam pobres, hipótese não corroborada pelos fatos históricos.

[...] não é possível que o clima, a ecologia, ou as doença presentes nas áreas tropicais condenaram estes países à pobreza hoje, pois essas mesmas áreas com o mesmo clima, ecologia e doenças foram mais ricas que as zonas temperadas há 500 anos. (ACEMOGLU, 2003, p. 28, tradução nossa)

Para resolver a questão, Daron Acemoglu (2003) sustentou, então, com base em evidências históricas, que os fatores geográficos influenciaram apenas a definição da estratégia de colonização adotada pelos europeus, a qual determinou as características das instituições implementadas, que, aí sim, impactaram decisivamente no desenvolvimento de cada colônia. Nessa perspectiva, Acemoglu (2003, p. 28, tradução nossa) contextualizou:

Em um extremo, os europeus estabeleceram instituições exclusivamente extrativistas, exemplificadas pela colonização belga do Congo, as plantações com a utilização de escravos no Caribe, e o sistema de trabalho forçado na minas da América Central. Essas instituições não protegiam os direitos de propriedade dos cidadãos comuns e não restringiram o poder das elites. No outro extremo, os europeus fundaram colônias onde estabeleceram sociedades de colonos, repetindo e, muitas vezes, melhorando instituições europeias que protegem a propriedade privada. Os principais exemplos deste modo de colonização são Austrália, Canadá, Nova Zelândia e os Estados Unidos. Nessas sociedades, os colonos também conseguiram impor restrições significativas às elites e aos políticos, embora tenham tido que lutar para alcançar esse objetivo.

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(2003), por sua vez, consignou que os prováveis fatores que influenciaram a estratégia de colonização foram a adaptação ao clima, os riscos de doenças e os riscos de sobrevivência. Kenneth Dam explica:

Em regiões apropriadas apenas para a exploração mineral ou para agricultura e onde os europeus não poderiam sobreviver facilmente devido às doenças tropicais, os europeus escravizaram a população indígena e não estabeleceram assentamentos permanentes. Mas em terras mais pobres, como Nova Inglaterra, onde os nativos não eram facilmente escravizados e onde havia forma de organizar atividades de exploração de massa, os europeus foram forçados a estabelecer seus próprios assentamentos. (2006, p. 58, tradução nossa)

Sustenta-se, enfim, nessa concepção, que os fatores geográficos e ecológicos, apesar de não condenarem à pobreza e não garantirem à riqueza, impactaram possivelmente na definição da estratégia de colonização, que foi responsável pelas escolhas institucionais definidas para cada colônia. Supõe-se, dessa forma, que os níveis de renda e de crescimento podem ter decorrido da interação entre geografia, políticas e instituições (EASTERLY e LEVINE, 2002).

Figura 2 – Interação entre Geografia, Políticas e Instituições Fonte:Rodrik, Subramanian e Trebbis (2002, p. 24)

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compatibilizando-as, em especial, com as explicações institucionais. Afinal, se os fatores geográficos fossem as únicas variáveis determinantes, seria impossível explicar, por exemplo, as diferenças significativas no nível de renda e de

crescimento do Chile e da Argentina (DAM, 2006).

2.2.2 As Influências Culturais

Os trabalhos que relacionam as variáveis culturais aos diferentes níveis de desenvolvimento não são recentes. Contaram, geralmente, com contribuições de cientistas sociais e historiadores, os quais introduziram ao debate, nas décadas de 1940 e 1950, diversas variáveis culturais (valores, práticas, símbolos, crenças, etc.), concluindo, mesmo diante de críticas robustas, que os fatores culturais faziam toda diferença no processo de desenvolvimento dos países (DAM, 2006).

Neste contexto, Kenneth Dam (2006) alertou que explicações culturais para os diferentes níveis de desenvolvimento não são fáceis de refutar ou confirmar porque cultura é difícil de definir e medir, fato que impactou na decisão de alguns economistas que preferiram evitar tais explicações. A cultura constitui-se dos valores que orientam as atitudes da população, que determinam, de maneira geral, o comportamento e as escolhas de indivíduos que compõem certo grupo social.

Sob outra perspectiva, David Landes afirmou, como o próprio nome do seu artigo sugere – “Cultura Faz Quase Toda a Diferença” (2000, p. 1, tradução nossa) –, “se aprendemos alguma coisa na história do desenvolvimento econômico, é que cultura faz quase toda a diferença”. Nessa linha teórica, sobreleva-se, em especial, a obra “Cultura Importa: Como os Valores Definem o Progresso Humano” (2000, tradução nossa), editada por Lawrence Harrison e Samuel Huntington.

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brasileiro, os seguintes exemplos: imigrantes europeus na região sul, imigrantes japoneses na região sudeste etc.

Segundo David Landes (2000), alguns teóricos sustentaram a ilusão de que um bom motivo seria o suficiente para explicar as diferenças entre o desenvolvimento dos países, considerando, dessa forma, certa variável, por si só, determinante de algo tão complexo. Diante de críticas robustas, as explicações culturais perderam forças nas décadas de 1960 e 1970, retomando-se, apenas na década de 1980, o interesse por tal debate.

Com efeito, adverte-se que, ao ser sobrevalorizada a importância de fatores culturais no desenvolvimento econômico, transmite-se, implicitamente, a ideia de imutabilidade da situação econômica e social dos países, isto é, a ideia de que certos países estariam fadados eternamente ao subdesenvolvimento devido a fatores culturais que orientam sua população, reforçando-se, com isso, tacitamente, uma possível supremacia da cultura de alguns povos.

Diante disso, Landes (2000, p. 1, tradução nossa) afirma: “os determinantes de processos complexos são invariavelmente plurais e inter-relacionados”, explicitando-se, assim, que a cultura não é a determinante única do processo de desenvolvimento. Para fins exemplificativos, o teórico recorre a minorias expatriadas (p. ex. gregos) que alcançaram significativos resultados em países estranhos, enfrentando, porém, resultados precários nos seus países.

Os fatores culturais apenas influenciam o desenvolvimento, deixando-se, claro, com o exemplo supracitado, que outros fatores também exercem influências significativas. Afinal, se a cultura fosse o fator determinante, o que explicaria o fato de os gregos terem alcançado maior progresso econômico em países estranhos do que em seu próprio país? Vislumbra-se, então, a provável influência de outras variáveis, refutando-se, por isso, as teses radicais em defesa dos fatores culturais.

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sustentou, de forma completamente desproporcional, que os melhores resultados alcançados pela Coreia do Sul decorriam de diferenças culturais entre os dois países, subestimando a influência de todos os demais fatores envolvidos, a saber:

[…] pareceu-me que a cultura tinha de ser uma grande parte das explicações. Os sul-coreanos valorizavam a poupança, o investimento, o trabalho, a educação, a organização e a disciplina. Os ganeses tinham valores diferentes. (HUNTINGTON, 2000, xiii, tradução nossa)

Aconselha-se evitar, atualmente, visões míopes de um processo de tamanha complexidade. Deve-se considerar, a princípio, a cultura apenas uma das variáveis que devem ser sopesadas. Com o avanço das técnicas e a disposição de dados mais consistentes, os economistas podem identificar de forma sistemática as diferenças nas preferências e crenças das pessoas e testar suas influências no

desenvolvimento (GUISO, SAPIENZA E ZINGALES, 2006).

Como já noticiado, alguns economistas, em decorrência das dificuldades para definir e medir tais variáveis, preferiam, até pouco tempo, evitar explicações culturais, desconsiderando, por isso, a influência dos fatores culturais no progresso dos países. A tendência atual é um debate mais amplo, com diálogo permanente de teóricos de diferentes áreas, que devem identificar instrumentos capazes de remover ou alterar eventuais obstáculos culturais que dificultem o progresso dos países.

Nessa linha, observa-se, por exemplo, Kenneth Dam (2006) que alertou que a cultura pode ser considerada não apenas um suporte para o Direito mas também um substituto parcial, principalmente na área de execução contratual. Em termos práticos, Dam (2006) sustentou que o cumprimento dos contratos não pode depender exclusivamente da execução judicial, destacando-se também a importância de fatores culturais para a execução voluntária dos contratos firmados.

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influência dos fatores culturais, preocupando-se, também, conforme propõe Harrison (2000), com sua relação com outras varáveis (p. ex. instituições).

A propósito, o termo “cultura”, a depender da disciplina e do contexto, pode ter múltiplos significados, sendo adotado em alusão a diferentes aspectos que norteiam a vida em sociedade. Preocupar-se-á, a seguir, com os fatores culturais que podem afetar o desenvolvimento dos países, adotando-se uma definição subjetiva de cultura, prevalecendo, por isso, as variáveis culturais que influenciam os valores, atitudes, orientações e crenças da população (HUNTINGTON, 2000).

2.2.2.1 Religião

Max Weber, em sua obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, publicada originalmente em 1904-19058, trouxe ao debate sobre desenvolvimento a variável religião, investigando as influências das religiões protestante e católica no

progresso dos países. Na sua leitura, o protestantismo calvinista, pelo fato de possuir uma ética que conduzia e estimulava o sucesso econômico, contribuiu para a ascensão do capitalismo industrial.

Para Weber (1905[2005]), algumas características da ética protestante contribuíram para a generalização entre seus seguidores de racionalidade, ordem e diligência, levando-os, à época, a assumir os papeis de liderança da sociedade capitalista emergente. Por um lado, os protestantes estimulavam a instrução e a alfabetização e, por outro lado, conferiam uma importância significativa ao tempo, formando, portanto, nos seus seguidores uma personalidade diferenciada.

Blum e Dudley, no working paper “Religião e Crescimento Econômico: Weber Estava Certo?” (2001, tradução nossa), refutaram, todavia, a tese de Max Weber, e sustentaram, em síntese, que o progresso do noroeste europeu não pode ser atribuído ao comportamento econômico dos adeptos das religiões protestantes,

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devendo ser explicado pelo avanço da tecnologia de transportes e pela facilidade de acesso ao Oceano Atlântico, hipótese que reforça as explicações geográficas.

Não obstante, os debates sobre os reflexos da religião no comportamento econômico foram propalados por economistas, sociólogos, cientistas políticos etc., com intensa produção acadêmica evidenciando a correlação entre religião e fatores institucionais que favorecem o desenvolvimento econômico, justificando, em tese, o progresso vertiginoso alcançado por alguns países e a persistente pobreza observada em outras nações, a saber:

Apesar de os teóricos evitararem correlacionar diretamente religião com prosperidade econômica, eles relacionam religião a instituições que têm se mostrado fundamentais para o crescimento econômico. (GUISO, SAPIENZA E ZINGALES, 2003, p. 226, tradução nossa)

Nesse sentido, os teóricos fornecem evidências convincentes, demonstrando a correlação entre algumas crenças religiosas e certas instituições favoráveis ou não ao desenvolvimento. Robert D. Putnam (1993), por exemplo, ao analisar as diferenças de renda per capita e de progresso econômico entre regiões da Itália, asseverou que a ascendência católica no sul do país desestimulava a cooperação entre os agentes econômicos, com reflexos diretos no desenvolvimento da região.

Guiso, Sapienza e Zingales (2003), embora tenham ressaltado a possibilidade de a influência religiosa ser mitigada, apresentaram mais evidências acerca das influências da religião nas atitudes dos seus seguidores. Robert Barro e Rachel McCleary (2003) propugnaram que as crenças religiosas influenciam as características individuais que aumentam o desempenho econômico, sobressaindo, então, a seguinte conclusão:

(33)

Após revisitar a literatura atual, Eelke de Jong (2008) esclareceu que as religiões influenciam as sociedade de duas formas: primeiro, as atividades religiosas potencializam as relações sociais, facilitando a formação de redes que podem ser

úteis para as atividades econômicas; segundo, cada crença religiosa incute um conjunto de valores nos seus seguidores, influenciando seus comportamentos, com impactos nas suas atividades econômicas.

Por relevante, Guiso, Sapienza e Zingales (2003) defenderam que as religiões cristãs estimulam comportamentos mais favoráveis ao crescimento econômico, ressalvando, porém, que subsistem diferenças entre as crenças religiosas cristãs. Os católicos apoiam mais a propriedade privada e a concorrência; enquanto os protestantes confiam mais nas pessoas e instituições e têm menos disposição para sonegar impostos e aceitar propinas.

Diante disso, os teóricos esclareceram que ainda não é possível definir qual crença religiosa mais favorece o crescimento, pois existem aspectos positivos e negativos em qualquer religião. Nesse sentido, Eelke de Jong (2008, p. 1, tradução nossa) asseverou que “os resultados não indicam que uma religião em particular é sempre mais pró-crescimento que as outras”, alertando, em seguida, que líderes políticos tentam manipular a interpretação religiosa de forma perniciosa.

Inobstante a necessidade de mais pesquisas na área, Kenneth Dam (2006) assinalou, porém, ao observar o resultado dos trabalhos de Guiso, Sapienza e

Zingales (2003), a importância da correlação descoberta entre religião e obediência às normas. Como já noticiado, a religião é compreendida como uma fonte importante de valores, que moldam o comportamento dos seus seguidores, com impactos no desenvolvimento dos países (JONG, 2008).

2.2.2.2 Confiança ou Capital Social

Segundo Rafael La Porta et al. (1997), a confiança, ou como alguns preferem o 'capital social9', caracteriza-se, em síntese, como a propensão de as pessoas em

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certa sociedade cooperarem para produzir resultados socialmente eficientes. La Porta et al. (1997) procederam à análise detalhada de diferentes dados estatísticos, explicitando, ao final, que existe correlação entre o nível de confiança entre a

população e o desempenho público e privado do país.

Compreende-se, portanto, confiança como uma variável indispensável para assegurar cooperação em sociedade complexas ou, como outros sugerem, em organizações de grande porte (p. ex. mercado etc.), em que prevalecem relações entre estranhos, isto é, entre pessoas que não têm, a priori, qualquer relação. Para La Porta et al. (1997), maior nível de confiança acarreta, em síntese, maior eficiência do governo e melhor performance do mercado.

Em outras palavras, isso significa que a confiança entre os agentes promove maior cooperação, melhorando, enfim, o desempenho das diferentes organizações que compõem certa sociedade e promovendo, por isso, o desenvolvimento dos respectivos países. Robert Putnam (1993) defendeu, ao analisar o desempenho de diferentes regiões da Itália, que confiança é um hábito, o qual decorre das relações horizontais de associação formadas entre as pessoas ao longo do anos.

Neste contexto, La Porta et al. (1997) evidenciou, em consonância com a tese inicial defendida por Putnam (1993), que níveis de confiança mais baixos são encontrados em países e regiões com religiões dominantes hierárquicas (católica, protestante e islâmica), que privilegiam relações verticais assimétricas,

desestimulando, em tese, relações horizontais cooperativas, essenciais para o aumento dos níveis de confiança.

Stephen Knack e Philip Keefer (1997) reconheceram a importância do nível de confiança para o desempenho dos países, refutando, porém, a correlação entre relações horizontais associativas e desempenho econômico, propugnando, em seguida, que a confiança é mais forte em países com instituições formais que efetivamente protegem os direitos de propriedade e os contratos, e em países que possuem menos polarização de classe ou de etnia.

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Em termos práticos, Knack e Keefer (1997) compreendem a confiança como elemento essencial para o bom funcionamento das sociedades, com impactos significativos sobre a atividade econômica agregada. Exsurgiu, em síntese,

controvérsia sobre como a confiança pode ser fortalecida, privilegiando-se, na ocasião, mecanismos capazes de evitar a erosão da confiança, em detrimento do fortalecimento das relações associativas.

Sobreleva-se, portanto, que a confiança pode complementar ou, em alguns casos, substituir os mecanismos formais de coordenação (p. ex. leis, contratos etc.), contribuindo para o melhor funcionamento dos mercados e dos governos. Fukuyama (2001) preconiza, enfim, que a confiança reduz, na esfera econômica, os custos de transação associados aos mecanismos formais e promove, na esfera política, um tipo de relação associativa necessário para o sucesso dos governos.

2.2.2.3 Normas Sociais

No artigo “Normas Sociais e Teoria Econômica” (1989), Jon Elster esclarece que o termo “normas sociais” está diretamente associado ao “homo sociologicus” pensado por sociólogos (p. ex. Durkein e Weber) em contraponto ao “homo

economicus” propugnado por Adam Smith. Nessa perspectiva, as normas sociais orientariam o “homo sociologicus”, enquanto o “homo economicus” seria orientado pela racionalidade econômica instrumental.

O “homo economicus” seria puxado pelas recompensas futuras, adaptando-se às circunstâncias sempre em busca de melhorias, e o “homo sociologicus” seria empurrado por forças quase inerciais, aderindo ao comportamento prescrito (ELSTER, 1989). Jon Elster (1989), ao refinar a teoria precedente, defendeu, porém, que as ações são normalmente influenciadas tanto pela racionalidade econômica quanto pelas normas sociais.

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desaprovação desse mesmo grupo social (ELSTER, 1989). Para ilustrar, Kaushik Basu (1998, p. 1, tradução nossa) propugnou que “como as vacas, as normas sociais são mais fáceis de ser reconhecidas do que definidas”.

Não obstante, Dam (2006) propugna que as normas sociais desempenham um papel importante no comportamento dos agentes econômicos, sustentando, em seguida, que as normas sociais atuam, em alguns aspectos, de forma semelhante às normas legais. Garretsen, Lensink e Sterken (2004) defenderam, também, que as normas sociais exercem influência semelhante às normas legais no comportamento dos agentes econômicos, não podendo, por isso, ser negligenciadas.

Essas normas não-legais e obrigações são seguidas e cumpridas porque sua inobservância acarreta ao transgressor sanções sociais, com sentimentos induzidos de culpa ou vergonha, fofocas […], ostracismo e, não raro, a violência. (O'DONNELL, 2007, p. 1, tradução nossa)

Kenneth Dam (2006, p. 66, tradução nossa), por sua vez, esclareceu: “Normas legais são normas promulgadas e executadas pelo Estado. Normas sociais provém de indivíduos da sociedade, que as executa mediante pressões sociais e sanções sociais”. Por oportuno, Eric Posner (2000) explicou que existem normas sociais boas e ruins, ou melhor, desejáveis e indesejáveis, cabendo ao Direito estimular as normas sociais boas e desestimular as ruins.

Depreende-se, portanto, que existem normas sociais e legais que, amparadas por sanções sociais e judiciais que punem comportamentos não cooperativos, se reforçam e se complementam; subsistindo, porém, normas sociais e legais que são mutuamente excludentes. Diante disso, Eric Posner (2000) alerta que a regulamentação adequada das normas sociais é uma tarefa delicada e complexa, e que a atual compreensão das normas sociais ainda é insuficiente.

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relevância significativa, constituindo ao lado das normas jurídicas, como apregoa Douglas North (1990), “as regras do jogo”.

Por essa razão, Kenneth Dam (2006) enfatiza que os fatores culturais, em decorrência de sua influência nos projetos de reformas jurídicas, devem ser levados a sério pelos teóricos do Direito e Desenvolvimento, evitando-se, assim, que tais fatores obstaculizem as reformas necessárias para promover o desenvolvimento dos países pobres. Em última análise, os fatores culturais de um país contribuem decisivamente para a formação da própria cultura jurídica de sua população.

2.2.3 As Influências da Origem Legal

A origem legal do país constitui a última explicação alternativa que será abordada. Compreende-se, em linhas gerais, que a origem legal adotada pelos países tem relação direta com as taxas de crescimento econômico observadas10. “Common Law” e “Civil Law” são as duas famílias legais comentadas, evidenciando-se as características de cada modelo jurídico e os eventuais impactos na governança e no desenvolvimento econômico dos países.

O Direito recebe, dessa forma, maior atenção, sendo considerado elemento central do processo de desenvolvimento. Reconhece-se, assim, que as leis dos

diferentes países não foram escritas do zero, mas decorreram, em síntese, voluntariamente ou não, do Common Law, de origem inglesa, ou do Civil Law, de origem romana. A “Civil Law” possui 3 (três) famílias jurídicas distintas - francesa, germânica e escandinava (LA PORTA et al, 1998).

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Figura 3 – A Distribuição das Origens Legais Fonte: La Porta et al (2007, p.79)

Caracteriza-se, em síntese, o “Common Law” como o direito propugnado pelos juízes, constituído, na prática, por sucessivas decisões judiciais concernentes a casos concretos, que formam precedentes aplicados a casos semelhantes. Privilegia-se, por sua vez, no “Civil Law” o direito codificado, quer dizer, escrito, sob influência do primígeno direito romano e/ou do código civil napoleônico, em códigos e leis abstratas e genéricas, que são depois subsumidas aos casos concretos.

Rafael La Porta et al (1998), ao reconhecerem que as leis de cada país refletem a influência da tradição jurídica adotada, foram os precursores do debate sobre origem legal e desenvolvimento, desvelando, inicialmente, ao examinar como o Direito protege o investidor em 49 (quarenta e nove) países, a relação entre origem legal e finanças e identificando os impactos potenciais no progresso econômico dos países investigados.

(39)

Levadas em conjunto, essas evidências demonstram um link entre sistema legal e desenvolvimento econômico. É importante lembrar, entretanto, que, embora as deficiências de proteção dos investidores descritos neste trabalho pareçam ter consequências nefastas para o desenvolvimento financeiro e para o crescimento, é pouco provável que seja um gargalo intransponível. França e Bélgica, afinal, são dois países muito ricos. (LA PORTA et al, 1998, p. 1137, tradução nossa)

Rafael La Porta et al (1998) defenderam, ao final, em consonância com os trabalhos de King e Levine (1993), Levine e Zervos (1997), Rajan e Zingales (1997) e La Porta et al (1997), que o desenvolvimento dos mercados de crédito e de capitais contribuem para o desenvolvimento econômico, reforçando, sobretudo, a influência da tradição jurídica adotada por cada país nas características do seu respectivo sistema financeiro.

A literatura sobre as influências da origem legal tornou-se, com o tempo, mais abrangente. Para Beck, Kunt e Levine (2002), a literatura passou a explorar as diferenças na capacidade de adaptação de cada tradição jurídica às mudanças circunstanciais econômicas. Propugnaram, então, que os sistemas legais que supriam mais rapidamente às necessidades legais das transações econômicas favoreciam o desenvolvimento financeiro.

Para Kenneth Dam (2006), compreende-se, nessa linha, que os países com tradição jurídica proveniente do “Common Law” possuem um arcabouço legal favorável ao desenvolvimento financeiro e, por isso, apresentam maior crescimento econômico. Observando outra linha teórica, que também identificou maior progresso econômico nos países de “Common Law” do que nos países de “Civil Law”, visualiza-se, todavia, conclusão um pouco diferente:

[...] a diferença [entre os níveis de desenvolvimento] reflete uma maior orientação da Common Law para a atividade econômica privada e uma maior orientação da Civil Law para a intervenção governamental. (MAHONEY, 2000, p. 3, tradução nossa)

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da tradição jurídica inglesa, alegando, para tanto, que a ordem espontânea decorrente da jurisprudência construída de forma descentralizada pelo “Common

Law” era mais coerente com a liberdade individual, o que, nessa leitura, poderia ter contribuído para o progresso econômico superior observado:

Ao longo do período 1960-1992, os países de Common Law tiveram, em média, crescimento real do PIB per capita um pouco mais de meio por cento superior do que países de Civil Law [...]. Este resultado não é uma demonstração definitiva da superioridade da Common Law. Como consequência da colonização, Common Law ou Civil Law foram transplantadas juntamente com outros atributos. (MAHONEY, 2000, p. 29, tradução nossa)

De todo modo, resta a dúvida, como o próprio Mahoney (2000) assinala, se as diferenças nítidas entre o Common Law e o Civil Law traduzem-se em diferenças institucionais que afetam os resultados econômicos. La Porta et al (2007, p. 64, tradução nossa) tornaram, por sinal, mais incisivas suas posições, preconizando, então, que a origem legal “tem consequências significativas para o arranjo legal e regulatório da sociedade, bem como para os seus resultados econômicos”.

Rafael La Porta et al (2007) compreendem que a origem legal adotada determina o modelo jurídico de cada país, constituindo, ao final, um sistema altamente poderoso de controle da vida econômica. Nesse passo, Beck, Kunt e Levine (2002, p. 1, tradução nossa) destacam que há, implícito ao debate, diferenças quanto à ênfase dada pelas tradições jurídicas ao Estado e aos indivíduos, com reflexos potenciais no desenvolvimento alcançado pelos países.

Há evidências que sinalizam que os países de tradição Common Law

alcançaram, em regra, progresso econômico mais acentuado, subsistindo, porém, inúmeras exceções (ver figura 3). Exsurgem, por isso, críticas consistentes às ideias elencadas, questionando os pressupostos e a própria metodologia dos trabalhos apresentados, evidenciando, em síntese, a fragilidade das conclusões da Teoria da Origem Legal (DAM, 2006).

(41)

proposto possui caráter interdisciplinar, que possibilita o diálogo com diferentes áreas do conhecimento, existindo, por isso, inúmeros teóricos que possivelmente influenciaram, direta ou indiretamente, os movimentos acadêmicos constituídos ao

longo das últimas décadas.

Sobreleva-se, porém, como referencial teórico consensual em Direito e Desenvolvimento, tendo em vista a relevância das suas contribuições, o trabalho de Max Weber, que explicitou a possível relação entre instituições jurídicas e desenvolvimento, influenciando, desde então, em maior ou menor extensão, os teóricos que constituíram os movimentos acadêmicos subsequentes e os programas de assistência internacionais (TRUBEK, 2006).

Por essa razão, evidencia-se, enfim, a necessidade de ser delimitado o principal referencial teórico que perpassa o debate, explicitando, também, os paradigmas subjacentes que influenciaram os diferentes movimentos acadêmicos. Socorre-se, na ocasião, a Chalmers (2009, p. 124), esclarecendo-se, para evitar equívocos, que “um paradigma é composto de suposições teóricas gerais e de leis e técnicas para a sua aplicação adotadas por uma comunidade científica específica”.

2.3 As Contribuições de Max Weber

Como já noticiado, Max Weber pode ser considerado o referencial teórico consensual em Direito e Desenvolvimento. Por meio do artigo “Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo”, David Trubek (1972a) explicita uma leitura diferenciada da obra de Weber, mostrando suas influências no campo do Direito e Desenvolvimento, provenientes dos seus estudos da ascensão do capitalismo, em que identificou o direito como um fator determinante do desenvolvimento.

Imagem

Figura 1 - Efeitos Diretos da Geografia sobre a Renda Fonte:  Jeffrey Sachs (2001, p. 37)
Figura 2 – Interação entre Geografia, Políticas e Instituições Fonte:Rodrik, Subramanian e Trebbis (2002, p
Tabela I  – Classificação dos Sistemas de Direito pela Formalidade e Racionalidade  do Processo de Tomada de Decisão
TABELA I – Consenso de Washington

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