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A variação entre o pretérito perfeito simples e o pretérito perfeito composto no espanhol argentino

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Academic year: 2018

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(1)

A variação entre o pretérito

perfeito simples e o

pretérito perfeito composto

no espanhol argentino

"

Denísia Kênia Feliciano Duarte

Universidade Federal do Ceará / ninisi_td@hotmail.com

Márluce Coan

Universidade Federal do Ceará / coanmalu@ufc.br

Valdecy de Oliveira Pontes

Universidade Federal do Ceará / valdecy.pontes@ufc.br

Trabajo recibido el 23 de septiembre de 2015 y aprobado el 7 de septiembre de 2016.

Resumen

El presente artículo trata de la variación lingüística entre el Pretérito Perfecto Simple (PPS) y el Pretérito Perfecto Compuesto (PPC) en la

codi-icación de pasado con relación al momento del enunciado. Nos basamos en la teoría de la variación y cambio (Labov 1972, 1994, 2001) y las considera

-ciones de Donni de Mirande (1992), López (1994), Gutiérrez Araus (1997), Fontanella de Weinberg (2004), Aleza Izquierdo y Enguita Utrilla (2010) y Jara Yunpaki (2013), sobre los usos y valores de esos tiempos verbales. Obtuvimos nuestros datos a través de la elección de periódicos regionales

argentinos delimitados por el período del día 29 de mayo de 2015 hasta el 2

de junio de 2015, seleccionados a partir de la propuesta de división dialectal del español argentino de Fontanella de Weinberg (2004). Encontramos un total de 259 datos, 241 del PPS (93,1%) y 18 del PPC (6,9%). Constatamos que los marcadores temporales prehodiernos y los verbos dinámicos con

-dicionan la forma simple, mientras los verbos estáticos y los marcadores hodiernos condicionan la forma compuesta. Con relación a los modaliza

-dores, los de certeza condicionan al PPS y los de incertidumbre al PPC.

Abstract

In this article, we discuss the linguistic variation between the Simple Perfect Preterite (SPP) and the Compound Perfect Preterite (CPP) in the

enco-ding of the past in relation to the time of speech. Our research is based on the theory of variation and change (Labov 1972, 1994, 2001) and the

Palabras clave

Pretérito perfecto; Variación lingüística; Periódicos argentinos

Keywords

(2)

considerations by Donni of Mirande (1992), Lopez (1994), Gutiérrez Araus (1997), Fontanella de Weinberg (2004), Aleza Izquierdo and Enguita Utrilla (2010) and Jara Yunpaqui (2013), about the uses and values of these tenses. Our data were obtained through the selection of regional newspapers in Argentina from May 29, 2015 to June 2, 2015, chosen in accordance with the Fontanella de Weinberg (2004) proposal of dialectal division of Argentine Spanish. We obtained a total of 259 data, of which 241 contain SPP (93.1%) and 18 contain CPP (6.9%). We found that pre-hodierno time counters and dynamic verbs call for the use of the simple form, while static verbs

and hodierno markers call for the use of the compound form. Regarding

modalizers, we found out that certitude markers call for the use of SPP and

uncertainty markers call for the use of CPP.

Resumo

Neste artigo, tratamos da variação linguística entre o Pretérito Perfeito

Simples (PPS) e o Pretérito Perfeito Composto (PPC), na codiicação do passado em relação ao momento de fala. Deram suporte a nossa pesquisa

a teoria da variação e mudança (Labov 1972, 1994, 2001) e as pesquisas de Donni de Mirande (1992), López (1994), Gutiérrez Araus (1997), Fontanella de Weinberg (2004), Aleza Izquierdo e Enguita Utrilla (2010) e Jara Yunpaki (2013), sobre os usos e valores desses tempos verbais. Nossos dados provêm de jornais regionais da Argentina do período compreendido entre os dias 29 de maio de 2015 e 2 de junho de 2015, selecionados a partir da proposta de divisão dialetal do espanhol argentino de Fontanella de Weinberg (2004). Obtivemos 259 dados, sendo que 241 (93,1%) são do PPS e 18 são do PPC (6,9%). Constatamos que os marcadores temporais pré-hodiernos e os ver

-bos dinâmicos condicionam a forma simples, enquanto os ver-bos estáticos e os marcadores hodiernos condicionam a forma composta. Em relação aos modalizadores, os de certeza condicionam o PPS e os de incerteza, o PPC.

1. Introdução

Este estudo analisa a variação entre as formas do Pretérito Perfeito Simples (PPS) e do Pretérito Perfeito Composto (PPC) do indicativo, no âmbito jornalístico, especiicamente em jornais regionais virtuais da Argentina, concentrando seu foco em zonas dialetais deste país. Guiamo-nos pela teo -ria sociolinguística va-riacionista para analisar os contextos linguísticos e

extralinguísticos correlacionados à variação dessas formas na codiicação da função de passado em relação ao momento de fala. Conforme Sá (2014, 110), a Sociolinguística é “a linha de pesquisa responsável por conceituar o estudo da língua em seu contexto social, ou seja, por descrever todas as áreas do estudo da relação entre língua e sociedade”. Considera-se a visão da Sociolinguística de Labov (1972, 1994, 2001), para quem o con

-texto social funciona como um sistema de referência que explica os usos

individuais da linguagem.

O presente estudo não se limita a descrever os usos contemplados pela norma padrão: o PPS para referir-se a uma ação acabada no passado e o PPC para referir-se a uma ação passada que faz parte do presente, uma vez que considera a diversidade linguística a respeito desses tempos verbais. Desta forma, vem contribuir para uma revisão teórica, visto que desfaz a ideia exposta por livros didáticos de que sempre os falantes fazem o uso

Palavras-chave

(3)

da norma padrão da língua, além de desfazer a crença do desuso do pre

-térito perfeito composto na Argentina, ao corroborar o exposto por Pontes (2009), possibilitando o ensino de valores do pretérito simples e do pretérito composto da Língua Espanhola mais próximos da realidade linguística. É, portanto, objetivo deste artigo:

a) comprovar a existência do uso do pretérito composto na variedade do Espanhol argentino, e

b) veriicar quais fatores linguísticos e extralinguísticos propiciam a variação entre pretérito simples e pretérito composto na Argentina.

Assim, para atingir os objetivos dessa pesquisa, utilizamos, como corpus, sete jornais regionais virtuais, pertencentes às distintas regiões dialetais argentinas, com base na divisão dialetal de Vidal de Battini (1964), reformu

-lada por Fontanella de Weinberg (2004), que divide o território da República Argentina em sete regiões dialetais: (R1) Bonaerense; (R2) Litorânea; (R3) Patagônica; (R4) Guaranítica/Nordeste; (R5) Noroeste; (R6) Central e (R7)

Cuyana.

Para retratar nossa pesquisa, este artigo está organizado da seguinte forma: primeiramente, far-se-á uma breve explicitação sobre o modelo teórico-me

-todológico da sociolinguística quantitativa dentro da perspectiva de Labov (1972, 1994, 2001) e Tarallo (2005); em seguida, expomos conceitos e estudos sobre os usos do Pretérito Perfeito Simples e do Pretérito Perfeito Composto em Língua Espanhola. Depois, apresentar-se-á a metodologia, de forma a especiicar os procedimentos de pesquisa e os critérios para a

escolha do corpus. Finalmente, será feita a análise dos dados gerados pelo

programa Goldvarb.

2. Fundamentação teórica

2.1. Sociolinguística quantitativa

Mesmo não sendo o primeiro sociolinguísta no cenário da investigação linguística, o americano Willian Labov deu início ao modelo teórico-me -todológico da sociolinguística quantitativa, também denominada de teo-ria da vateo-riação e mudança linguística ou sociolinguística laboviana. Foi

ele quem insistiu na correlação entre língua e sociedade, em oposição ao modelo gerativista de Chomsky (1965). Conforme Tarallo (2005, 6), para Chomsky “o objetivo dos estudos linguísticos é a competência linguística do falante-ouvinte ideal, pertencente a uma comunidade linguisticamente homogênea”. Em contrapartida a este modelo, Labov (2008) acredita que a língua é heterogênea, e que esta heterogeneidade pode ser sistematica

-mente explicada. Corroborando essa visão, Tarallo (2005, 6) airma que “a cada situação de fala em que nos inserimos e participamos, notamos que a língua falada é, a um só tempo, heterogênea e diversiicada. E é precisa

-mente essa situação de heterogeneidade que deve ser sistematizada”. Para Labov (2008, 78), “a variação sistemática é um caso de modos alternativos de dizer a mesma coisa”. Tal sistematização, segundo Tarallo (2005, 10),

consiste primordialmente em:

(4)

b) descrição detalhada da variável, acompanhada de um peril completo das variantes que a constituem;

c) análise dos possíveis fatores condicionadores (linguísticos e não linguísticos) que favorecem o uso de uma variante sobre a(s) outra(s);

d) encaixamento da variável no sistema linguístico e social da comunidade: em que nível linguístico e social da comunidade a variável pode ser colocada;

e) projeção histórica da variável no sistema sociolinguístico da comunidade.

Conforme Weinreich, Labov, Herzog (2006), a sociolinguística quantitativa toma como objeto de estudo a variação e mudança da língua dentro de um contexto social da comunidade de fala. Ao referirmo-nos à sociolinguística como o estudo da língua em seu contexto social, segundo Figueroa (1996), não devemos interpretar que a sociolinguística laboviana é uma teoria de fala e nem que o estudo da língua limita o seu objetivo em descrevê-la, mas é o estudo do uso da língua a im de veriicar o que revela sobre a estrutura linguística. A sociolinguística proposta por Labov tem o objetivo de estudar a evolução e estrutura da língua dentro do contexto social da comunidade (Labov 2008).

Para isto, Labov (1972) airma que comunidade de fala, dentro do modelo teórico-metodológico da sociolinguística, não é entendida como um grupo de pessoas que falam do mesmo jeito, e sim como um grupo que, por com

-partilhar alguns traços linguísticos, normas e atitudes frente ao uso da lin

-guagem, distingue-se de outros. Corroborando esta ideia, compreendemos que, nas comunidades de fala, vão existir formas linguísticas em variação, ou seja, que são usadas ao mesmo tempo ou que concorrem entre si.

Conforme Tarallo (2005, 8), “em toda comunidade de fala são frequentes as formas linguísticas em variação”. Sendo assim, o autor airma que “a essas formas em variação dá-se o nome de variantes”, sendo estas, portanto, “diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística”. No presente estudo, temos como variável o pas

-sado em relação ao momento de fala e como variantes o Pretérito Perfeito

Simples e o Pretérito Perfeito Composto.

Como Mollica e Braga (2003, 10; 2010, 11), cremos que “toda variação é

motivada, isto é, controlada por fatores de maneira tal que a heterogeneidade

se delineia sistemática e previsível” e que cabe à sociolinguística “investigar o

grau de estabilidade ou de mutabilidade da variação, diagnosticar as variáveis

que têm efeito positivo ou negativo sobre a emergência dos usos linguísticos

alternativos e prever seu comportamento regular e sistemático”.

2.2. Variável

pretérito perfecto

Considerando como fenômeno deste estudo a variável passado em relação

ao momento de fala (pretérito perfecto), tendo como variantes o PPS e o PPC, acreditamos que seja necessário tecer algumas considerações sobre estes tempos verbais. No que tange ao aspecto, segundo Lindstedt (2000,

365)1, a forma verbal perfectiva caracteriza-se “pela relevância de uma

situação passada desde o ponto de vista presente e pela sua distinção de outras formas do passado”. Para Fleischman (1983, 191-192)2, “a relevância

1. Citação original: “se caracteriza por la relevancia de una situación pa -sada desde el punto de vista presente

y por su separación de otras formas

de pasado” (Lindstedt 2000, 365). 2. Citação original: “la relevancia presente es una noción aspectual (con un tono temporal) que requiere

determinar subjetivamente el evento

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é uma noção aspectual (com um tom temporal) que requer determinar subjetivamente o evento em relação a um ponto de referência”. Já para Dahl e Hedin (2000, 392)3, “a relevância presente é um conceito gradual que envolve a perduração do resultado, de tal maneira que as consequências do evento passado são relevantes no momento da fala”. Levaremos em conta, para este estudo, essas considerações, pois presumimos que há um consenso entre os autores no que se refere à relação entre aspecto perfec

-tivo e a zona temporal presente.

De acordo com Jara Yupanqui (2013), a função perfectiva em espanhol é tipicamente relacional, de forma que se utiliza para referir-se a uma ação passada em relação ao momento de fala, com relevância atual. Conforme Cartagena (1999), tanto o PPS quanto o PPC indicam anterioridade em rela

-ção ao momento de fala, mas a forma composta indica essa anterioridade dentro da zona temporal do presente.

No tocante à escolha do tempo verbal, Matte Bon (2010) destaca que o falan

-te dispõe de diversos recursos para falar do passado, entre os quais o PPS e o PPC desempenham um papel fundamental. O autor, também, ressalta que a escolha entre estes depende da perspectiva que o falante queira dar ao enunciado. Para Matte Bon (2010), geralmente, quando se usa o PPC, as ações relatadas vêm acompanhadas por marcadores hodiernos, ou seja, por marcadores que se referem a períodos temporais inacabados ou deini

-dos em relação ao momento de fala, sendo incompatível com marcadores temporais que remetem a um período temporal acabado.

De acordo com Gutiérrez Araus (1997), as características que deinem o PPC no subsistema verbal das formas passadas são: (a) passado continuativo com resultado no presente ―os resultados da ação passada ainda perduram no momento de enunciação―; (b) ante presente ―refere-se a um tempo passado anterior ao tempo atual, mas a ação focaliza um plano atual―; e (c) passado para enfatizar uma forma narrativa ―é posto pelo falante para dar maior ênfase e emoção a uma ação passada concluída―. Traços estes ausentes no PPS. De forma breve, o PPC, no que tange à temporalidade, faz parte de um plano atual, em contrapartida, o PPS é uma forma absoluta do passado, ou seja, não tem relação com o presente.

Para Jara Yupanqui (2013), o PPC é uma forma verbal frequente tanto na Língua Espanhola quanto em outras línguas do mundo, porém pode desapa

-recer com o tempo ou continuar mudando. Tal instabilidade é constatada no estudo de Harris (1982), que distingue de forma diacrônica o valor do PPC nas línguas românicas em quatro etapas, sendo elas: (1) para referir-se a estados presentes resultantes de ações passadas; (2) aquisição de relevância presente em contextos especíicos; (3) marcação de ações passadas com relevância no presente; e (4) usado com funções desempenhadas pelo PPS.

No que concerne ao PPS, segundo Castro (1996), é utilizado para: (1a) expressar ações terminadas, realizadas em uma unidade de tempo que o falante considera sem continuação no presente (com marcadores temporais

pré-hodiernos: ayer, anteayer, el año pasado, etc.); (2a) referir-se a uma uni

-dade de tempo ou espaço temporal no qual já não está o falante; (3a) falar de quantidades de tempo determinadas; (4a) contar fatos ou ações como algo independente, não como costumes; (5a) ordenar as ações, quando há várias, ou interrompê-las no seu transcurso; (6a) dar opinião. Enquanto o PPC se usa para: (1b) falar de ações ou situações ocorridas em um período

3. Citação original: “la relevancia presente es un concepto gradual que

involucra la <<continuidad de un

resultado>>, de tal manera que las

(6)

de tempo que chega até o presente (com marcadores temporais hodiernos: hoy, este mes, últimamente, nunca, siempre, etc.); (2b) falar de ações ou situações passadas imediatas (com marcadores temporais pré-hodiernos: hace poco, hace un momento, etc.).

Resumidamente, utilizamos o PPC com advérbios que incluem o momento de fala, referindo-se a um passado que ainda faz parte do presente. Em contrapartida, utilizamos o PPS com advérbios que excluem o momento de fala, ou seja, faz referência a um passado que não faz parte do presente. Vejamos os exemplos4:

(1) Hoy he ido al cine [‘Hoje fui ao cinema’].

(2) Ayer fui al cine [‘Ontem fui ao cinema’].

Na sentença (1), a ação ocorreu, porém ainda resulta no presente, pois o dia ainda não acabou. Já na segunda, a ação não tem relação com o presente, pois, diferentemente do exemplo anterior, o dia já acabou. Para distinguir o PPS do PPC, Bello (1979) faz a comparação entre as seguintes proposições:

(3) “Roma se hizo señora del mundo” [‘Roma foi a soberana do mundo’] (Bello 1979, 423).

(4) “La Inglaterra se ha hecho señora del mar” [‘A Inglaterra tem sido a soberana do mar’] (Bello 1979, 423).

O autor airma que, na frase (3), o senhorio de Roma é um fato que já passou. Entretanto, na quarta frase, traz a Inglaterra como soberana dos mares na época em que o autor escreve o enunciado. Ou seja, o senhorio de Inglaterra, distinto do de Roma, estabelece-se no passado, porém pro -longa-se até o momento atual.

Conforme Alarcos Llorach (2007), com relação ao modo, tanto o PPS como o PPC têm o morfema de indicativo e podem referir-se a fatos anteriores ao momento de fala, o PPS porque seu morfema tem perspectiva de passado, e o PPC por sua perspectiva de presente. Assim, podemos mostrar uma mesma realidade com as duas formas verbais, isto depende da perspectiva (temporal ou psicológica). No que tange à diversidade linguística desses tempos verbais, Alarcos Llorach (2007) ressalta que, na América, usa-se o PPS frente ao PPC, como por exemplo, Yo no sé como no lo encontraron hasta ahora..., no lugar de han encontrado. Já, nas falas de Madrid e das zonas andinas da Argentina, percebe-se uma frequência maior do PPC.

Segundo Gómez Torrego (2005, 150)5, a diferença entre o PPC e o PPS “é que os fatos expressados por este último estão fora da zona temporal do falante”. Para exempliicar, o autor utiliza as seguintes airmações:

(5) (5) “Este año lo hemos pasado mal” [‘Temos passado mal este ano’] (Gómez Torrego 2005, 150).

(6) “El año pasado lo pasamos mal” [‘Passamos mal no ano passado’] (Gómez Torrego 2005, 150).

Como podemos constatar, na quinta frase, a ação está situada na mesma zona de tempo em que se encontra o falante (este ano), enquanto que, na

4. Os exemplos 1 e 2 são de autoria própria. Aos demais exemplos, faremos

a devida referência no corpo do texto.

5. Citação original: “es que los

hechos expresados por este último

(7)

sexta, o falante encontra-se em outra zona temporal. Gómez Torrego (2005) ressalta que a relação temporal do falante com a ação pode ser meramente psicológica. Vejamos os exemplos a seguir:

(7) “Hace tres años que ha muerto mi padre” [‘Faz três anos que o meu pai está morto’] (Gómez Torrego 2005, 150).

(8) “Hace tres años que murió mi padre” [‘Faz três anos que o meu pai morreu’] (Gómez Torrego 2005, 150).

Apesar de o autor utilizar o mesmo marcador temporal (hace tres años) em

ambas as frases, pode-se inferir um valor distinto entre elas, pois quando utilizamos o PPC deduz-se que a ação perdura de alguma forma até o pre

-sente do falante, ou seja, a morte do pai ainda é sentida, de forma afetiva,

pelo falante.

Em relação aos estudos sobre diversidade linguística do PPS e do PPC, pontuamos as seguintes considerações:

a) Segundo Penny (2004), a alternância entre as formas do PPS e do PPC foi objeto de atenção antes mesmo da aparição da Sociolinguística variacionista, visto que gramáticos e dialetólogos já teciam relexões a respeito dessa alternância, pon -tuando as diferenças entre algumas regiões e outras. Além disso, destaca que a preferência por uma das duas formas, que atuam neste sentido como uma espécie de marcador regional, levou alguns linguistas a concluir que a oposição entre o PPS e o PPC parece neutralizada em algumas variedades da Língua Espanhola.

b) Aleza Izquierdo e Enguita Utrilla (2010) destacam que, ao contrário do que nos dizem grande parte dos materiais didáticos, existe sim o uso do PPC na América, ainda que a forma simples seja predominante.

c) De acordo com Vidal de Battini (1964), na Argentina, o uso do PPC é dominante no Noroeste do país. No restante das regiões argentinas, há a alternância entre a forma composta e a forma simples, porém, o uso do PPS prevalece.

d) Para Donni de Mirande (1992), exceto nas regiões do norte da Argentina, não se utiliza o PPC para referir-se a um passado com conexão com o presente na língua oral. Os falantes argentinos preferem usar o PPS em quase todo tipo de contexto. Além disso, ressalta que o PPC tem mais frequência no nível culto formal.

e) Conforme Oliveira (2010), os complementos adverbiais pré-hodiernos (ayer, la semana passada, etc.) favorecem o uso do PPS, enquanto que os hodiernos (hoy, esta mañana, etc.), o PPC. Entretanto, é possível encontrar, em contexto hodierno, a forma verbal simples. Em um estudo anterior, Oliveira (2007) constatou, através da aplicação de um teste estatístico, que tanto em países hispano-americanos como na Espanha há o uso tanto do PPS quanto do PPC, porém estes ocorrem de forma diferente. A autora veriicou que, na Espanha, ainda que a ocorrência do PPC tenha sido maior que nos países hispano-americanos, o emprego do PPS segue sendo mais frequente em todo contexto hispânico.

(8)

g) Jara Yupanqui (2013) contrasta a frequência relativa do PPS e do PPC na variedade do Espanhol de Lima (1989, 2013) com a de outras capitais da América Latina. Para isto, considera estudos que mostram a presença do PPS para cada PPC na fala culta de San Juan de Porto Rico (1978), México (1985), Colômbia (1990), Santiago de Chile (1980-1981) e Buenos Aires (2009). A análise dos dados de fala culta apontam uma proporção, do PPS frente ao PPC, de 3:1 na variedade de San Juan de Porto Rico, de 4,6:1 na variedade mexicana, de 2,9:1 na variedade colombiana, de 2,4:1 na variedade limenha (1989) e de 2,9:1 na variedade de Santiago do Chile. Com relação a outros estudos, os dados apontam a proporção de 8,6:1 na variedade bonaerense e de 4,8:1 na variedade limenha 4,8:1. Logo, os dados evidenciam que Lima (1989) tem um padrão mais distante do México e mais próximo do Chile e da Colômbia. Em contrapartida, os dados de Lima (2013) aproximam-se mais do México e tem cerca da metade dos dados bonaerenses.

3. Metodologia

Nesta seção, descrevemos a metodologia adotada nesta pesquisa, que tem por inalidade conigurar uma perspectiva analítica dos usos do PPS e do PPC. Tendo em conta a extensão do território da República Argentina que, segundo Medina López (1994, 233)6, “é um dos maiores em extensão geo

-gráica da América do Sul”, baseamo-nos na proposta da Fontanella de Weinberg (2004), que reavalia a divisão dialetal da Argentina feita por Vidal de Battini (1964), devido aos avanços que a Língua Espanhola teve nas regiões deste país. Sendo assim, Fontanella de Weinberg (2004) divide a região litorânea em três zonas, pois apesar dos traços comuns entre a fala bonaerense e a patagônica, quando se observa os níveis socioeducacionais mais baixos, há traços na variedade patagônica totalmente ausentes na variedade bonaerense. Com relação à variedade litorânea, se comparada com a bonaerense, estudos apontam que alguns fenômenos se diferem completamente nestas, como por exemplo, o apagamento do /s/ inal. Desta forma, a autora conigura a seguinte divisão:

a) Região Bonaerense,

b) Região do Litoral,

c) Região Patagônica,

d) Região Guaranítica/Nordeste,

e) Região Noroeste,

f) Região Central, e

g) Região de Cuyo.

3.1. Critérios para a seleção dos jornais

Nosso ponto de partida para a escolha do nosso corpus foi o contexto

geográico. Para isto, foram selecionados sete jornais, um para cada zona dialetal, considerando os seguintes fatores:

a) Acesso virtual (estes devem estar disponíveis na internet para qualquer usuário).

6. Citação original: “es uno de los mayores en extensión geo

(9)

b) Jornal regional (cada jornal deve estar vinculado a uma região da Argentina, ou seja, este não pode ser de distribuição nacional).

c) Seções7 (todos devem conter a seção política).

d) Presença do pretérito simples e composto (para poder quantiicar e analisar os seus usos).

Ao serem aplicados esses critérios, selecionamos os seguintes jornais para

compor o nosso corpus:

a) Jornal El Sol, – Região Bonaerense: http://www.elsolquilmes.com.ar/.

b) Jornal El Colono del Oeste, Região Litorânea: http://www.elcolonodeloeste.com.ar/.

c) Jornal El Cordillerano, Região Patagônica: http://www.elcordillerano.com.ar/.

d) Jornal Corrientes al Día, Região Nordeste: http://www.corrientesaldia.info/.

e) Jornal Catamarca, Região Noroeste: http://airevision.com.ar/.

f) Jornal Tribunal Digital, Região Central: http://www.tribunadigital.com.ar/.

g) Jornal Cuyonoticias, Região Cuyana: http://cuyonoticias.com/.

3.2. Procedimentos metodológicos

O primeiro passo metodológico, nesta pesquisa, foi a delimitação do fenô

-meno de estudo, selecionado a partir de pesquisas sobre o pretérito perfeito em Espanhol. Decidimos trabalhar com o pretérito perfecto simples e o

pretérito perfecto compuesto, posto que, neste sistema verbal do preté-rito perfecto, prescreve-se a forma composta com relação ao plano atual, enquanto se usa a forma simples como passado absoluto, ou seja, sem ter relação com o presente (Bello 1979, Castro 1996). No entanto, pesquisas apontam que há variação nos usos destes tempos verbais e que tais formas variam em algum aspecto entre distintas localidades (Alarcos Llorach 2007, Oliveira 2007, 2010).

Em relação às variáveis, analisamos os pretéritos em estudo, considerando a função de passado em relação ao momento de fala. No tocante aos grupos de fatores, dividimo-los da seguinte forma: a) linguísticos (marcador tempo

-ral ―pré-hodiernos e hodiernos―; tipo de verbo ―estático ou dinâmico―; e modalizadores ―de certeza ou incerteza―) e b) extralinguístico (região dialetal). Assim, consideramos, para embasar a análise da variável estu

-dada nesta pesquisa, os usos dos PPS e PPC, os pressupostos teóricos de Alarcos Llorach (1994), Bello (1979), Castro (1996), Gómez Torrego (2005) e Gutiérrez Araus (1997) e os estudos de Alcaíne (2007), Aleza Izquierdo e Enguita Utrilla (2010), Donni de Mirande (1992), Oliveira (2007, 2010), Penny (2004) e Vidal de Battini (1966) no tocante à diversidade desses tempos verbais descritos na seção 2.2.

A partir desses grupos de fatores, izemos uma análise quali-quantitativa da distribuição do PPS e do PPC no corpus desta pesquisa, visto que, de acordo com Scherre e Naro (2007), o fenômeno da variação linguística não ocorre de forma aleatória. Não temos a pretensão de generalizar o uso das formas

7. Para delimitar nosso corpus, sele-cionamos as notícias do dia 29/05/2015 até 02/06/2015. No caso de jornais com poucas notícias neste período, com

a inalidade de possibilitar a mesma

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verbais estudadas, senão analisar a expressão do passado nas regiões da Argentina. Para isto, optamos por trabalhar com jornais, pois são textos autênticos e oferecem um grande repertório de variantes.

Analisamos os dados obtidos nos jornais que compuseram o nosso corpus,

a partir das seguintes etapas:

a) Mapeamento: izemos um levantamento sobre os usos do PPS e do PPC de acordo com as considerações teóricas utilizadas para embasar esta pesquisa.

b) Análise quantitativa: submetemos os dados obtidos ao programa estatístico Goldvarb, gerando valores numéricos no que se refere à porcentagem e ao peso relativo do PPS e do PPC.

c) Análise qualitativa: interpretamos, à luz dos pressupostos teóricos, os usos do PPS e PPC nas regiões da Argentina.

Por im, identiicamos os fatores linguísticos e extralinguísticos que favore

-cem uma variante do pretérito frente a outra, com o intuito de comprovar

as seguintes hipóteses:

a) Em contrapartida ao que diz a norma padrão, é possível a forma simples vir acom -panhada de advérbios relacionados com o presente (Oliveira 2007, 2010).

b) Os verbos que indicam situações mais dinâmicas tendem a condicionar o uso do PPS, enquanto os verbos de natureza estática tendem a condicionar o uso do PPC, posto que, quando utilizamos o PPC, se deduz que a ação perdura de alguma forma até o momento atual, ou seja, a ação ainda tem valor afetivo para o falante no presente (Gómez Torrego 2005).

c) Devido à inluência do Quechua, trazida por colonizadores na região Noroeste da Argentina, os jornais tendem a usar o Pretérito Perfeito Simples com valor de certeza, enquanto que utilizarão o Pretérito Perfeito Composto com valor de incerteza (Alcaine 2007).

d) Apesar de se tratar de jornais do mesmo país, haverá tendências distintas para o uso do PPS e do PPC dentro das regiões da Argentina, visto que a língua é mutável (Donni de Mirande 1992, Penny 2004).

4. Análise dos dados

Obtivemos 241 dados de PPS contra 18 de PPC, motivo pelo qual conside

-ramos a forma simples do pretérito como aplicação da regra para a roda -da estatística no programa computacional Goldvarb. Dos quatro grupos de fatores testados, o programa selecionou como signiicativos apenas os grupos de fatores linguísticos, sendo eles os marcadores temporais (pré-ho

(11)

Trataremos, agora, dos resultados de cada grupo de fatores, por ordem de seleção estatística.

Tabela 1 – Atuação dos marcadores temporais no uso do PPS versus o PPC na codiicação da função passado em relação ao momento de fala.

Fatores Aplicação/Total Percentual Peso Relativo

Pré-hodierno 118/120 98,3% 0,770

Hodierno 123/139 88,5% 0,260

O primeiro grupo de fatores selecionado foi o dos marcadores temporais.

Com base nos pesos relativos expostos na tabela acima, veriicamos, por meio dos jornais analisados, que há favorecimento para a ocorrência do PPS, com marcadores temporais pré-hodiernos, o que contempla as consi

-derações de Castro (1996), ao airmar que o PPS expressa ações terminadas sem relação com o presente, o que podemos veriicar através de alguns advérbios de tempo. Vejamos o exemplo8 a seguir:

(9) El candidato a Presidente de la Nación por el PRO, Mauricio Macri, visitó ayer la ciudad de Quilmes [‘O candidato a Presidente da Nação pelo PRO, Maurício Macri, visitou ontem a cidade de Quilmes’] (Notícia 1, Jornal El Sol).

Como podemos observar, o verbo visitar está conjugado no PPS e vem

acompanhado pelo marcador temporal pré-hodierno ayer. Porém, como observa Oliveira (2007, 2010), este tempo verbal pode vir acompanhado de advérbios relacionados com o presente. Vejamos a seguir:

(10) El ministro del Interior y Transporte, Florencio Randazzo, visitó hoy la localidad de Cipolletti acompañado por el senador Miguel Ángel Pichetto [‘O ministro do Interior e Transporte, Florêncio Randazzo, visitou hoje a região do Cipolletti acompanhado pelo senador Miguel Angel Pichetto’] (Noticia 6, Jornal El Sol).

Em oposição ao exemplo (9), a décima sentença traz o PPS acompanhado de um marcador temporal hodierno, ou seja, o verbo visitar, o mesmo utilizado no exemplo anterior, desta vez vem acompanhado pelo adverbio de tempo hoy, que tem relação com o presente do falante. Desta forma, conirmamos a nossa primeira hipótese: nem sempre o uso do PPS contempla a prescrição.

Passemos, agora, à análise dos resultados do segundo grupo selecionado: tipo de verbo.

Tabela 2 – Atuação do tipo de verbo no uso do PPS versus o PPC na codiicação da função passado em relação ao momento de fala.

Fatores Aplicação / Total Percentual Peso Relativo

Dinâmico 202/215 94% 0,559

Estático 39/44 88,6% 0,239

O segundo grupo de fatores selecionado foi o tipo de verbo, cujos resulta

-dos são descritos na tabela 2. Constatamos que verbo dinâmico favorece a ocorrência do PPS, tendo um peso relativo de 0,559, o que comprova a nossa

8. Todos os exemplos expostos

nesta seção foram retirados do corpus

(12)

segunda hipótese de que estes tipos verbais condicionam a forma simples

do pretérito perfecto. Além disso, veriicamos maior tendência do uso de verbos dinâmicos frente ao uso de verbos estáticos no gênero jornalístico. Vejamos dois exemplos:

(11) El gobernador de Buenos Aires y precandidato presidencial Daniel Scioli se reunió este lunes con su par de Catamarca, Lucía Corpacci, y con el intendente de la ciudad capital de esa provincia, Raúl Jalil, en las oicinas porteñas del Banco Provincia [‘O governador de Buenos Aires e pré-candidato a presidência Daniel Scioli se reuniu esta segunda com a sua companheira de Catamarca, Lucia Corpacci, e com o in-tendente da capital dessa província, Raul Jalil, nos escritórios portenhos do Banco Provincia’] (Notícia 4, Jornal Catamarca).

(12) El ministro de Defensa, Agustín Rossi, visitó ayer las ciudades de Recreo, San Carlos Centro y Esperanza… [‘O ministro da Defesa, Agustín Rossi, visitou ontem as cidades de Recreo, San Carlos Centro e Esperanza…’] (Noticia 5, Jornal El Colono).

Tanto no exemplo (11) quanto no exemplo (12), encontramos verbos de natureza dinâmica, do ponto de vista semântico, favorecendo o uso do PPS. Quando pensamos nos verbos reunirse e visitar, é possível perceber que estes expressam ação, ou seja, possuem movimento. Além disso, os sujeitos de ambas orações são agentes. Na décima primeira sentença, o sujeito da frase é o governador de Buenos Aires e o pré-candidato presidencial Daniel Scioli e são eles quem praticam a ação de reunir-se com outras pessoas. Na décima segunda, o sujeito é o Augustín Rossi, e é ele quem pratica o ato de visitar algumas cidades, ação esta que que tem início e im.

A continuação, apresentamos, na tabela 3, o terceiro grupo de fatores, destinado aos modalizadores de certeza e incerteza.

Tabela 3 – Atuação dos modalizadores no uso do PPS versus o PPC na codiicação da função passado em relação ao momento de fala.

Fatores Aplicação / Total Percentual Peso Relativo Certeza 236/249 94,8% 0,530

Incerteza 5/10 50% 0,050

Comprovando a nossa terceira hipótese, veriicamos que o modalizador de certeza condiciona o PPS, tendo o peso relativo de 0,530. Enquanto o de incerteza tende a condicionar o PPC, sendo muito difícil, encontrar, em contextos cuja ação passada tem relação com o momento de fala, verbos no PPS com valor de incerteza, tendo em vista o total de dados deste fator. Vejamos os exemplos a seguir:

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(14) Pichetto dijo: “[…] si alguien ha demostrado eiciencia y capacidad para llevar adelante todo lo encomendado por la presidenta ha sido Florencio Randazzo” [‘Pichetto disse: “[…] se alguém demonstrou eiciência e capacidade para levar adiante tudo o que estipulou a presidenta foi Florencio Randazzo”’] (Notícia 6, Jornal El Sol).

No exemplo (13), o jornalista utiliza o PPS, pois se compromete com a vera

-cidade da informação, já que o presidente do El Economista Quilmeño, ao defender o acordo alcançado entre o Radicalismo, o PRO e a Coalisão Cívica e ao airmar que não tem dúvidas (no tengo dudas), demonstra segurança da culminância desse acontecimento No exemplo 14, em oposição ao ante

-rior, interpretamos que Pichetto utiliza o PPC por não ter total segurança de que Florencio Randazzo demonstrou eiciência e capacidade para levar adiante tudo o que a presidenta estipulou, visto que, ao utilizar a conjunção si, subtende-se que a ação passada (ha demostrado) pode ter acontecido

ou não, isto é, indica probabilidade, deixando ao leitor a comprovação da veracidade da informação.

O quarto grupo considerado, diferente dos outros, é extralinguístico, e refere-se às regiões dialetais da Argentina.

Tabela 4 – Atuação das regiões no uso do PPS versus o PPC na codiicação da função pas -sado em relação ao momento de fala.

Fatores Aplicação / Total Percentual

Bonaerense 87/93 93,5%

Litorânea 18/18 100%

Patagônica 25/32 78,1%

Nordeste 72/76 94,7%

Noroeste 4/4 100%

Central 23/23 100%

Cuyana 12/13 92,3%

Na tabela acima, não apresentamos os pesos relativos, pois houve nocau

-te nas regiões litorânea, noroes-te e central. Desta forma, consideramos, para a análise desses fatores, apenas os valores percentuais. Esses evi

-denciam que há diferença em relação à frequência do PPS nas regiões da Argentina. Donni de Mirande (1992) e Vidal de Battini (1966) apontam o uso do PPC como dominante no noroeste da Argentina em comparação às outras regiões. Conforme Alcaíne (2007), a inluência do Quechua com

algumas variedades espanholas favorece o uso do PPC. Entretanto, como podemos observar na tabela 4, na codiicação da função passado em rela

-ção ao momento de fala, a região Noroeste não favoreceu o uso do PPC. Veriicamos que, na variedade Argentina, há predominância do uso da forma simples frente à composta em todas as regiões.

Vale ressaltar que não queremos airmar, a partir da tabela 4, que os falan

-tes das regiões onde ocorreu nocaute não fazem o uso do PPC, visto que a forma composta apareceu em todos os jornais analisados, mas nem sempre foi considerada, tendo em conta que, neste estudo, restringimo-nos à aná

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usado para delimitar o objeto de estudo. Sendo assim, não consideramos as orações de forma isolada, mas sim todo o período de tempo na qual estas

estavam inseridas.

No que tange à frequência do Pretérito Perfeito na Argentina, os resulta

-dos de nossa pesquisa convergem com os de Donni de Mirande (1992), ao apontar que os argentinos tendem a utilizar mais a forma simples frente a composta. Predominância esta ressaltada nos estudos de Aleza Izquierdo e Enguita Utrilla (2010), Vidal de Battini (1964) e Oliveira (2007) sobre o Pretérito Perfeito em variedades do Espanhol da América Latina. Também, veriicamos uma convergência com o estudo de Alcaine (2007) no que tange aos modalizadores de certeza e incerteza, visto que nossos dados também mostram que o primeiro condiciona o PPS (transmissão de uma experiência vivenciada) e o segundo, o PPC (referência a um fato não presenciado). Além disso, como a pesquisa de Oliveira (2010), a nossa aponta que os marca

-dores temporais pré-hodiernos condicionam o PPS e os hodiernos, o PPC.

Esta pesquisa apresenta ainda convergência com a análise de Jara Yupanquí (2013), a partir de dados de Lima e Buenos Aires, apontando uma diferença signiicativa da frequência relativa do PPS e do PPC entre estas capitais. Entretanto, os dados da região bonaerense, utilizados no estudo de Jara Yupanquí (2013), a partir da pesquisa de Rodríguez Louro (2009), indicam a presença de 9 PPS para cada PPC frente a proporção aproximada de 5 PPS para cada PPC na região limenha. Essas diferenças podem ser associadas à instabilidade do Pretérito Perfeito apontada por Harris (1982), sugerindo a existência de um processo de mudança nos usos e valores do PPS e do

PPC por hispano-falantes.

5. Considerações inais

Os resultados aqui obtidos conirmam os pressupostos teóricos que pauta

-ram esta pesquisa, quais sejam: a) a variação é inerente às línguas: eviden

-ciamos que PPS e PPC constituem-se como variantes na escrita jornalística e, se assim o fazem em contexto mais formal, o mesmo deve ocorrer na oralidade; b) as variantes são condicionadas por fatores de natureza diver

-sa: marcadores pré-hodiernos, dinamicidade do verbo e modalizadores de certeza são fatores que, na função de passado em relação ao momento de fala, condicionam o uso do PPS; motivam o PPC marcadores hodiernos, estaticidade e modalizadores de incerteza; c) a variação é estruturada e pode ser sistematicamente explicada: quando em variação, esses pretéri

-tos parecem demarcar bem seus contex-tos temporais (pela adjunção a um advérbio), aspectuais (pelos traços de dinamicidade/estatividade, o que pode bem ser correlacionado a mais/menos duratividade) e modais (pelas noções de mais/menos certeza).

Embora o grupo extralinguístico (região/jornal) não tenha demonstrado relevância estatística, o percentual aponta a região patagônica como a mais propensa à variação entre PPS e PPC, pois, apenas nessa zona dialetal, a forma composta apresentou alguma saliência, em termos de frequência de uso. Em contrapartida, outros percentuais mostram uso categórico do PPS na função de passado em relação ao momento de fala (nas regiões litorânea, noroeste e central), o que pode ser indício de que as duas formas, em cer

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ortogonalidade às células (um jornal por região), o que reforça a não aleato

-riedade dos resultados linguísticos aqui obtidos. É salutar ponderar, ainda, que a forma composta apareceu em todas as zonas analisadas, mas nem sempre foi contabilizada, já que, nesta pesquisa, restringimo-nos à análise das variantes PPS e PPC associadas a marcadores temporais, critério usado para delimitar o objeto de estudo.

Nossa pesquisa contemplou sete jornais, uma média de 80 notícias ao total e quatro grupos de fatores como possíveis condicionadores dessas varian

-tes. Temos consciência de que mais pode ser feito, por exemplo, no que tange à proposta de divisão dialetal da Argentina, tendo em vista que a da Fontanella Weinberg (2004) não foi signiicativa estatisticamente, logo outra poderia ser adotada, como, por exemplo, a de Zamora Guitart (1988), que divide a Argentina em duas grandes zonas. Quanto aos grupos de fatores, estes podem ser expandidos, considerando-se, dentre outros, por exemplo, os seguintes: grau de formalidade da editoria (policial, deportes etc), presença ou ausência de marcador temporal, tipo de verbo (regular

ou irregular).

Escolhemos a função de passado em relação ao momento de fala, pois, conforme (Jara 2013), muitos são os estudos que apontam o uso do PPC com relevância atual em diversas variedades do espanhol latino-americano, mesmo com o PPS sendo predominante na maioria delas. Nossa pretensão, à luz da Sociolinguística variacionista, foi também comprovar hipóteses formuladas a partir de outras pesquisas sobre o tema. Nesse sentido, não temos a pretensão de airmar que o corpus selecionado para este artigo

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Imagem

Tabela 1 – Atuação dos marcadores temporais no uso do PPS versus o PPC na codiicação  da função passado em relação ao momento de fala.
Tabela  3  –  Atuação  dos  modalizadores  no  uso  do  PPS  versus  o  PPC  na  codiicação  da  função passado em relação ao momento de fala.
Tabela 4 – Atuação das regiões no uso do PPS versus o PPC na codiicação da função pas- pas-sado em relação ao momento de fala.

Referências

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