TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO
34a Câmara
APELAÇÃO S/ REVISÃO
N° 1250037- 0/1
Comarca de SAO JOSÉ DO RIO PRETO
Processo 72893/08 - 7 . V . C Í V EL
APTE RUBENS DOMINGOS PEREIRA
APDO COMPANHIA DE SEGUROS MINAS BRASIL
(NÃO CITADO)
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta data, deram provimento ao recurso e anularam o processo a partir da sentença, inclusive, por votação unânime.
Turma Julgadora da 34ª Câmara
RELATOR DES. IRINEU PEDROTTI
2o JUIZ DES. NESTOR DUARTE
3o JUIZ DES. CRISTINA ZUCCHI
Juiz Presidente DES. GOMES VARJÃO
Data do julgamento : 23/03/09
DES. IRINEU PEDROTTI
Relator
AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). PRESCRIÇÃO. Não ocorreu a prescrição, uma vez que esta e outras Câmaras desta Corte solidificaram entendimento de que o prazo para requerer indenização proveniente do seguro obrigatório DPVAT é o de 10 anos, previsto no artigo 205 do Código Civil de 2002. Não há que se falar em prescrição, uma vez o fato ocorreu em 11 de outubro de 2003, na vigência do novo regramento.
Voto n° 12.723.
Visto,
RUBENS DOMINGOS PEREIRA ingressou com "AÇÃO SUMÁRIA DE COBRANÇA
SECURITÁRIA - DPVAT" (folha 2 -
destaques do original) COntra COMPANHIA DE SEGUROS MINAS BRASIL, qualificações e caracteres das partes nos autos, com pedido de "...
condenação da Requerida ao pagamento da indenização do seguro obrigatório DPVAT, no valor de
R$ 20.200,00 ..."
(folha 4 - destaques do original).
O r. Juízo a quo indeferiu a inicial e julgou extinto o processo porque "... ocorreu a prescrição ..
."(folha 29).
"...a regra a ser seguida é a prevista no artigo 205 do Código Civil (...) que estabelece o prazo decenal
para a prescrição ..."
(folha 40 - destaques do original).
A r. sentença foi mantida e os autos remetidos para este Tribunal.
Relatado o processo, decide-se.
O decurso do tempo é um acontecimento natural de inigualável interesse para o Direito, porque o poder de ação em regra constitui direito subjetivo não eterno nem imutável: nasce, vive e desaparece.
Prescrição, prejudicial de mérito, no sentido jurídico consiste na forma pela qual o direito se extingue, tendo em conta o não exercício dele por certo lapso de tempo. Pode-se dizer, então, que corresponde à extinção de um direito em razão do curso do prazo imposto por lei, onde houve negligência da parte interessada.
A lei consagra a prescrição para que as ações atinjam a um fim e, assim, seja concedido aos homens ambiente de tranqüilidade e de segurança, fatores sem os quais a vida seria
inevitavelmente insuportável e, que, somente são encontrados no direito e na justiça pelo rigor das leis.
Parafraseando Clóvis Beviláqua, conclui-se que a prescrição é uma regra de ordem de harmonia e paz, imposta pela necessidade da certeza das relações jurídicas. O interesse do titular do direito, que ele foi o primeiro a desprezar, não pode prevalecer contra o interesse mais forte da paz social. Desta forma o grande fundamento da prescrição é o interesse público, a estabilidade das relações jurídicas.
Trata-se de matéria de ordem pública e, por isso, expressamente regulada em lei com
condições e formas de aplicação. Para acolher ou afastar esse império legal exige-se decisão fundamentada.
Câmaras desta Corte solidificaram entendimento no sentido de que o prazo prescricional para requerer indenização proveniente do seguro obrigatório DPVAT é o de 10 anos:
"AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) - Não se tratando de seguro de responsabilidade civil, mas sim de seguro de danos, o seguro DPVAT, que ostenta indiscutível caráter social, é hodiernamente regido, no que concerne à prescrição, pela regra geral do art.
205 do Cód. Civil – Prescrição afastada - RECURSO PROVIDO. "[1]
"Seguro DPVAT - Típico seguro de 'danos' - Evolução histórica e legislativa - Hipótese não se subordinando à disciplina do art. 206, § 3o, IX, do CC, que versa sobre seguros obrigatórios de 'responsabilidade civil' - Modalidades de seguro obrigatório que não se confundem, haja vista o respectivo elenco, expresso no art. 20 do Decreto-lei 73/66 - Prescrição da pretensão para recebimento da indenização DPVAT se inserindo, portanto, na regra geral do art. 205 do CC, de dez anos - Prazo não consumado na espécie - Sentença de proclamação da prescrição afastada."[2]
"O prazo de três anos de que trata o artigo 206, § 3o, inciso IX, do Código Civil, refere-se às hipóteses elencadas nas alíneas ‘b', 'c' e ‘m’, do Decreto-Lei n° 73/66, aplicando-se, para o seguro DPVAT, à míngua de qualquer artigo específico, a regra geral do artigo 205."
[3]
Não há que se falar em prescrição uma vez que o fato ocorreu em 11 de outubro de 2003, na vigência do novo regramento, o que fez incidir o prazo de 10 anos do artigo 205 do Código Civil de 2002.
Em face ao exposto, dá-se provimento ao recurso (afasta-se a prescrição) e anula-se o processo a partir da sentença, inclusive.
IRINEU PEDROTTI
Desembargador Relator
[1] TJSP - Ap. s/ Rev. 1.198.240-0/3 - 34a Câm. - Rei. Des. ANTÔNIO (Benedito do) NASCIMENTO - J. 10.11.2008.
[2] TJSP - Ap. s/ Rev. 1.109.819-0/6 - 25a Câm. - Rei. Des. RICARDO PESSOA DE MELLO BELLI - J. 22.4.2008.
[3] TJSP - Ap. s/ Rev. 1.122.873-0/1 - 35a Câm. - Rei. Des. ARTUR MARQUES - 3. 22.10.200 7.