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ÁVIDOS: VESTÍVEIS PARA CONECTAR PAI E BEBÊ DURANTE A GESTAÇÃO - FASE 3

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Academic year: 2022

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ÁVIDOS: VESTÍVEIS PARA CONECTAR PAI E BEBÊ DURANTE A GESTAÇÃO - FASE 3

Aluna: Luma Ohanna Rodrigues de Amorim Orientadores: Luiza Novaes e João de Sá Bonelli

Introdução

Este trabalho constitui a terceira fase da pesquisa “Ávidos: vestíveis para conectar pai e bebê durante a gestação”, realizada no Laboratório de Interfaces Físicas Experimentais (LIFE), do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio, desde 2017. O projeto propõe a investigação do uso de dispositivos vestíveis wireless com o objetivo de fortalecer o vínculo entre o casal e o bebê e principalmente entre o pai e o bebê em momentos de distância física durante a gestação

Em fases anteriores da pesquisa foi desenvolvido um sistema composto de dois dispositivos, um para a gestante e outro para o pai do bebê. O dispositivo para a gestante se configurou na forma de um um cinto com mini alto-falantes, que ela pode parear com seu celular e assim reproduzir mensagens de áudio do pai para o bebê. Além disso, há um sensor que a mãe pode pressionar para sinalizar para o pai que sentiu o bebê se mexer quando ele está fisicamente distante. O dispositivo desenvolvido para o pai, assumiu a forma de um cordão com um pingente que vibra quando recebe a informação sinalizada pela mãe do movimento do bebê. O cinto e o cordão se comunicam por Bluetooth com um aplicativo, que transmite os dados à distância por Wi-Fi.

Nesta fase da pesquisa, foi planejado um experimento com a finalidade de mensurar a capacidade dos dispositivos vestíveis desenvolvidos de estabelecer um vínculo à distância entre pai e bebê, com enfoque nas emoções do pai. Tal experimento foi pensado a partir da possibilidade de mapear a atividade cerebral do pai, primeiramente no momento em que ele toca na barriga da mãe e sente o bebê se mexer, e posteriormente quando está longe da mãe e recebe uma vibração em seu cordão. A ideia inicial era comparar os registros da atividade cerebral do pai nos dois momentos e buscar informações que nos ajudassem a verificar os efeitos dos dispositivos desenvolvidos.

Contudo, a partir da crise global da pandemia de Covid-19, o experimento permaneceu apenas idealizado e a pesquisa encontrou outros rumos, buscando descobrir eventuais mudanças na relação do pai com a gestação de sua companheira neste momento em que muitos casais precisam estar confinados. Redirecionou-se a pesquisa para compreender se e como a presença cotidiana e mais ativa do pai durante a gestação contribui para o desenvolvimento neurológico e psicoafetivo do bebê, seja no reconhecimento da voz paterna, ou nas reações do bebê à proximidade e ao toque paterno na barriga da mãe. Para tanto, foi criado um diário virtual para dar voz a estes casais, compartilhando seus relatos de mudanças no envolvimento com a gestação durante o confinamento.

Objetivos

1- Investigar e pontuar eventuais mudanças na relação entre os homens e a gestação de suas parceiras durante o confinamento;

2- Estabelecer uma comparação entre o papel masculino na gestação antes e depois do confinamento;

3- Identificar aspectos de uma possível relação simbiótica entre pai e bebê

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devido ao convívio, para além da simbiose natural entre a mãe e o bebê;

4- Valorizar as narrativas destes casais expectantes sobre eventuais mudanças em seu envolvimento com a gestação após o confinamento.

Metodologia

A pesquisa possui caráter exploratório, assumindo a metodologia da prática-reflexiva, a partir de relatos encontrados durante a pesquisa, diálogos com especialistas, além de conversas conduzidas virtualmente com pais e mães, identificando padrões e relatos em comum, de modo a gerar uma análise qualitativa.

Desenvolvimento

Retomando a última fase do sistema de comunicação Ávidos, faz-se importante recordar os dispositivos projetados para serem usados por casais gestantes em momentos de distância física: um cinto para a mãe, com mini alto-falantes, que a mãe usa para parear com seu celular e assim reproduzir áudios do pai para o bebê ouvir; um cordão para o pai, que vibra quando a mãe sinaliza que o bebê se mexeu em sua barriga, por meio do aplicativo que media as duas tecnologias vestíveis.

Ávidos é um sistema de comunicação com tecnologias vestíveis para casais gestantes que proporciona ao homem uma conexão emocional com o bebê

mesmo quando estiver distante da mulher

Nesta nova fase da pesquisa, cogitou-se mudar o enfoque para momentos da relação entre pais e filhos posteriores à gestação, retomando a investigação sobre a voz como elemento de conexão emocional desde a vida intrauterina, uma das premissas do sistema de comunicação Ávidos. Neste sentido, a partir de uma pesquisa inicial, foi encontrado o dispositivo “Voices of Life”1, da Samsung, em que uma caixa de som é conectada ao interior de incubadoras com bebês prematuros para reproduzir a voz e os batimentos cardíacos da mãe, como forma de tranquilizar e ajudar no desenvolvimento do bebê prematuro.

Devido às limitações de se seguir adiante com uma pesquisa em que seria necessário acessar ambientes hospitalares restritos como incubadoras, retornou-se à linha de pesquisa

1 Disponível em: https://vimeo.com/165502818

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inicial, restrita ao período da gestação. Em paralelo, o professor e orientador João Bonelli comenta sobre uma imagem de ressonância magnética que revela os cérebros de uma mãe e de um bebê, gerada a partir de um estudo sobre o córtex visual de bebês pela Dra. Rebecca Saxe do MIT, que também protagoniza a imagem com seu bebê.

Cientistas reconfiguraram um scanner de ressonância magnética para capturar uma mulher e seu bebê.

(Rebecca Saxe e Atsushi Takahashi / Departamento de Cérebro e Ciências Cognitivas, MIT / Centro de Imagem Athinoula A. Martinos no Instituto McGovern para Pesquisas sobre o Cérebro, MIT)

Desta forma, surge a intenção de validar aspectos mais objetivos sobre o funcionamento do sistema Ávidos sob a perspectiva paterna, a partir de um experimento. Tal experimento consiste em mapear a atividade cerebral do pai durante o toque com sua mão na barriga da mãe enquanto sente o bebê se mexer e comparar com sua atividade cerebral enquanto está longe da mãe e recebe uma vibração em seu cordão, o que previamente associaria a um chute do bebê. A hipótese seria uma resposta diferente do cérebro para ambas as situações, mas com algumas similaridades importantes.

Para realizar tal experimento, iniciou-se uma parceria com o Mograbi Lab, laboratório do departamento de Psicologia da PUC-Rio que realiza pesquisas com Eletroencefalograma (EEG). O professor Daniel Mograbi, supervisor do laboratório, se disponibilizou a auxiliar nesta pesquisa, embora questionado inicialmente sobre as melhores técnicas para detecção de áreas do cérebro ativadas diante de um evento. Segundo o Prof. Mograbi, o EEG “é uma técnica de baixa resolução espacial, ou seja, ele não é bom para detectar diferenças de ativação em regiões cerebrais. Por outro lado, a resolução temporal dele é muito boa, na ordem de milissegundos.”

Neste sentido, com o EEG seria possível apenas associar eventuais picos e quedas da atividade elétrica cerebral durante um certo evento e intervalo, e não indicar as áreas cerebrais mais estimuladas. Considerou-se também a utilização do dispositivo portátil MindWave2, que mede as ondas cerebrais (ondas alfa, ondas beta, etc), apresentando níveis de relaxamento e atenção, similar a um equipamento de EEG, e disponível no Laboratório de Interfaces Físicas Experimentais (LIFE).

Além de uma perspectiva objetiva, a intenção do experimento é também compreender e comparar a subjetividade paterna nas duas situações. Assim, considerou-se a possibilidade do uso de Emocards3, um método pictográfico de avaliação da experiência do usuário, em que este pai associaria suas emoções nas experiências a desenhos de rostos com 8 tipos de

2 Disponível em: https://store.neurosky.com/pages/mindwave

3 Disponível em: https://celulamultimidia.ufc.br/emocards/

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emoções diferentes, para identificar níveis de relaxamento e excitação do usuário. Neste sentido, os Emocards seriam usados para medir a subjetividade da emoção do pai, enquanto o Mindwave seria utilizado para quantificar sua atividade cerebral.

No experimento idealizado, pretendia-se registrar a atividade cerebral do pai em 3 cenários possíveis, pelo método da observação participante (acompanhando o cotidiano do casal), a nível de comparação: Enquanto pai e mãe estivessem juntos, quando pai sente o bebê se mexer com sua mão na barriga na mãe; Enquanto pai e mãe estivessem distantes, quando pai sente vibração de alerta da mãe sinalizando que o bebê se mexeu; Enquanto o pai estiver sozinho, tranquilo e relaxado. Após cada etapa do experimento, seria pedido ao pai que identificasse uma expressão entre os Emocards que melhor representasse como se sentiu durante a experiência.

Contudo, a partir da crise global da pandemia de Covid-19, o experimento permaneceu apenas idealizado e a pesquisa encontrou outros rumos, buscando descobrir eventuais mudanças na relação do pai com a gestação de sua companheira neste momento em que muitos casais gestantes precisam estar confinados. Redirecionou-se a pesquisa então para compreender se e como a presença cotidiana e mais ativa do pai durante a gestação contribui para o desenvolvimento neurológico e psicoafetivo do bebê, seja no reconhecimento da voz paterna, ou nas reações do bebê à proximidade e ao toque paterno na barriga da mãe. Neste momento, o projeto ‘Ávidos’ também foi selecionado para o Programa de Aceleração de Startups Shell Iniciativa Jovem 2020 e está atualmente sendo desenvolvido como empreendimento neste programa.

Algumas formas de recolher relatos e dados foram consideradas, e, por fim, a partir de relatos de pais e mães encontrados durante a pesquisa, artigos de jornais, conversas conduzidas virtualmente com pais e mães, e também com influenciadores digitais que possuem pais e mães gestantes como público, foi possível identificar padrões e relatos em comum, de modo a gerar uma análise qualitativa.

Matérias jornalísticas

A partir de matérias jornalísticas, foi possível pontuar alguns dados relevantes sobre o cenário brasileiro para a mulher gestante durante a pandemia de Covid-19 e para as mulheres em geral. Até Julho deste ano, oito em cada dez grávidas e puérperas que morreram no mundo por coronavírus eram brasileiras, segundo estudo conduzido por Unesp, UFSCAR, IMIP e UFSC, e publicado no International Journal of Gynecology and Obstetrics (Takemoto et al., 2020).

Mesmo em um contexto significativamente diferente do brasileiro, pesquisadores canadenses identificaram aumento em casos de depressão e ansiedade em grávidas durante a pandemia, em estudo feito pela Universidade de Calgary (Lebel et al., 2020). Os quadros com sintomas mais graves estavam associados às ameaças da Covid-19 para mãe e bebê, não fazer o pré-natal de forma adequada e tensões no relacionamento. 89% das participantes relataram mudanças no pré-natal devido ao isolamento social, 36% pelo cancelamento das consultas e 90% pela proibição de levar acompanhante às consultas.

No Brasil, apesar de terem ocorrido diversos casos em que acompanhantes foram proibidos de acompanhar o momento do parto de seus filhos, e até mesmo casos em que gestantes vão à justiça pela garantia deste direito, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro4, o Ministério da Saúde5 e a OMS6 se posicionam a favor do direito da gestante a um acompanhante, previsto em lei federal, contanto que o acompanhante esteja sem sintomas

4 Disponível em: shorturl.at/xJLMY

5 Disponível em: shorturl.at/sJWY5

6 Disponível em: shorturl.at/fEOP0

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gripais e use equipamentos de proteção. Segundo Luciana Zenti7, jornalista, fotógrafa e ativista de parto humanizado, uma mãe que deu a luz em um hospital público de Curitiba, relatou que seu marido

(...) só foi chamado no momento em que nosso filho ia nascer. Mas a parte mais difícil foi o período após a cesárea em que fiquei sem ele na enfermaria e passei muito mal. Tive que cuidar da bebê sozinha e estava com muita dor. Chegou uma hora em que eu não conseguia nem mais segurar minha filha e tive uma crise de choro e desespero.

Notícias relatam também aumentos expressivos nos casos de violência doméstica contra a mulher e feminicídios durante o confinamento. No Brasil, estudo revela que o feminicídio cresceu em 22% em 12 estados entre março e abril de 2020, em relação ao ano passado, segundo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública8. A mesma pesquisa indica também aumento de 44,9% de mulheres vítimas de violência doméstica atendidas pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Já no Rio de Janeiro, o TJRJ9 indica aumento de mais de 50%

de denúncias desde março. De acordo com dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos10, em abril, o número de denúncias de violência contra a mulher pelo canal telefônico 180 subiu 40% em relação ao mesmo mês no ano passado.

Redes Sociais

A partir das redes sociais, fez-se um levantamento de relatos de casais que falam sobre suas experiências de gravidez durante a pandemia, através do trabalho em rede realizado por perfis estratégicos que dialogam com o público de pais e gestantes.

No canal IGVT do humorista Marcos Veras, que viveu a gravidez durante a pandemia com a atriz Rosanne Mulholland, sua esposa, o casal disponibilizou a série de vídeos “Filhos da Quarentena”, no formato de entrevistas virtuais com casais que viveram a gravidez durante a pandemia. Dentre os episódios, algumas falas marcantes se destacaram como comuns às experiências dos casais. Destaca-se a seguir trechos do terceiro episódio da série11. ‘Como é que tá a relação com a família?’, pergunta Marcos Veras para a atriz Marcia de Oliveira, que responde ‘Totalmente virtual’. O esposo de Marcia, o ator Fabio Galvão, complementa sobre a experiência durante o parto: ‘Poderia ter o acompanhante, né, no caso, o pai, e mais uma doula e mais um acompanhante. Tudo ficou restrito ao pai, que virou acompanhante, que virou a doula, e virei fotógrafo.’ Rosanne, então, questiona Marcia: ‘A quarentena surgiu um pouco antes de ela nascer (...), quais foram os medos que vieram junto?’, ao que Marcia responde ‘De não poder fazer o parto ali na casa de parto, a gente não queria ir para o hospital’. Fabio Galvão complementa: ‘Todo mundo tá indo pro hospital, com suspeita ou não, a última coisa que a gente queria era um hospital.’ Marcos Veras pergunta ao casal ‘Eu queria saber de vocês se (...) conseguiram se proteger e esquecer um pouquinho as coisas que tão rolando no mundo’, ao que Marcia responde ‘De alguma forma a gente tá tentando ver com esse olhar positivo, de que a quarentena trouxe pra gente essa possibilidade de estarmos juntos’. Marcos Veras prossegue: ‘Ficar juntos 24 horas tem um lado positivo, mas vira e mexe rola um atrito?’, ao que o ator Fábio responde

Quando ela fala ai meu deus, a Domitila sujou a fraldinha, eu falo deixa que eu vou, descansa, porque isso é importante, né, a mãe ela é o alicerce, a gente tem que poupar, porque querendo ou não, a mãe é a que vai dar o mamar, cara. Você pode tentar fazer ninar, você pode trocar a fralda, você pode acalentar, mas e se ela quer peito, cara, ela quer mamar? Só a mãe pode dar, a mãe que vai ter que ficar acordada com ela no colo, entende, dando de mamar.

7 Disponível em: shorturl.at/dmt56

8 Disponível em: shorturl.at/ixyFV

9 Disponível em: shorturl.at/gBRU1

10 Disponível em: shorturl.at/ouzBW

11 Disponível em: shorturl.at/bWXZ2

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A atriz Marcia fala ainda sobre o tempo vivido em família durante o confinamento: ‘A quarentena trouxe isso, o Fábio tá aqui’; o ator Fabio complementa: ‘Às vezes eu viajava a trabalho’. Rosanne finaliza a entrevista ao casal com a pergunta ‘O que vocês esperam do nosso futuro próximo, como que vai ser o mundo pós-pandemia, o que vocês imaginam ou desejam?’, ao que o ator Fabio responde, dentre outras coisas, dizendo: ‘Como você mede um ano? Você mede por dias, noites. Por que não medir pelo amor, esse tempo? A gente tá precisando mais disso mesmo.’

O perfil do Instagram Querida Gestante12, criado pela jornalista Xenya Bucchioni, em que são publicadas cartas virtuais escritas por mulheres gestantes para fortalecer outras grávidas em meio à pandemia de coronavírus, serviu como referência para a criação de um diário virtual13 como ferramenta de visibilidade deste estudo, para valorizar as narrativas de pais e mães gestantes sobre as transformações na convivência cotidiana e a relação do homem com a gravidez durante este período de isolamento social.

Um dos relatos divulgados neste perfil conta a história de uma gestante que acabou de passar por um término de relacionamento. Ela desabafa:

Doloroso estar em uma fase tão difícil como esta, em plena pandemia, em plena confusão de sentimentos que a gravidez trás, e não ter mais o carinho da pessoa que você achou que ficaria junto contigo, que iria te acolher junto com o neném (...) Às vezes, é melhor se separar pra acabar com o conflito, mas, ainda assim, passar por um término estando grávida é muito triste para uma mulher (...) se ele não for um pai presente e não te apoia nesse momento, saiba que essa é a realidade de muitas mulheres; procurem apoio em grupos, desabafem com alguém que vocês confiem. Para aquela que, assim como eu, está grávida nesse momento e tendo que lidar com um término, queria dizer que, a cada dia que passa, a gente vai chorando menos, até não chorar mais nada... e logo, logo a gente vai sentir o prazer de ter o nosso neném nos braços!

O perfil de Instagram Homem Paterno14, conduzido pelo naturólogo Thiago Koch, que fornece orientação e ministra cursos para homens sobre gestação, parto e puerpério, serviu como ponte para uma melhor compreensão deste público. Em uma de suas lives, Thiago fala sobre como a quarentena pode se tornar uma oportunidade para o homem vivenciar a paternidade integral. Em um trecho do vídeo, Thiago fala sobre a questão da importância do tempo em família para os homens durante o confinamento:

Quanto mais tempo você tiver com o seu filho, com a sua filha, isso vai fazer com que você tenha uma sincronia com ele. E isso só se dá com tempo disponível, e é o que nós temos agora. (...) saber o que o bebê tá querendo, por exemplo, assim que nasce, que ele tá chorando, ele tá chorando, e você não sabe, esse entendimento vai se dar com a quantidade de tempo que você tá ali, e com a qualidade

Diário virtual

O diário virtual iniciado a partir da referência do perfil “Querida Gestante”, trata-se de um perfil de Instagram utilizado para publicar depoimentos anônimos de pais e mães gestantes sobre suas experiências no período do isolamento social ocasionado pela pandemia de Covid-19, principalmente com o enfoque nas transformações na relação do homem com a gestação; contudo, o canal é também utilizado para divulgar informações gerais sobre o projeto Ávidos, de tecnologias vestíveis para casais gestantes.

Os primeiros depoimentos foram coletados a partir de conversas virtuais com pais e mães gestantes. Algumas perguntas norteadoras iniciavam as conversas, como “Você está confinado com sua companheira gestante neste período de quarentena? Comparando com antes, a quarentena mudou sua relação com a gestação e com sua companheira? Se sim, quais foram essas mudanças?”, adaptadas de acordo com o gênero do/da participante.

12 Disponível em: https://www.instagram.com/queridagestante/

13 Disponível em: https://www.instagram.com/projeto.avidos/

14 Disponível em: https://www.instagram.com/homempaterno/

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Sobre os demais depoimentos, se falará mais adiante.

O perfil do Instagram serve como diário virtual desta pesquisa e divulgação do projeto Ávidos

Condução de entrevistas semi-estruturadas e análise

Em conversa remota com uma mãe gestante, M., moradora do Rio de Janeiro, foram realizadas as seguintes perguntas: “Você está atualmente confinada com seu esposo neste período de quarentena? Comparando com antes, a quarentena mudou a relação do seu esposo com a gestação e com você? Se sim, quais foram essas mudanças?”. M. respondeu:

Sim, estou confinada com meu esposo. Percebi uma mudança sim. A nossa bebê reagia à voz dele no fim do dia quando nos encontrávamos. Agora reage mais por ouvir mais a voz dele durante o dia. Ela ja reconhece. E comigo a relação ficou mais próxima, mais prazerosa por estarmos aguardando muito pela bebê. Estamos tendo mais tempo tb de interagir com ela e observar mais as reações dela, que antes na correria do dia a dia não dava.

Já em conversa virtual com um pai à espera de um bebê, R., também residente no Rio de Janeiro, foram feitas perguntas semelhantes: “Você está atualmente confinado com sua esposa gestante neste período de quarentena? Comparando com antes, a quarentena mudou sua relação com a gestação e com sua esposa? Se sim, quais foram essas mudanças?” R.

respondeu:

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1. Sim, estou confinado com minha companheira gestante, no período da pandemia. 2. Não mudou. Nossa relação está até mais amorosa durante o isolamento. 3. Estamos tendo a possibilidade de aproveitar e curtir mais o momento de preparativo para a chegada do bebê.

Trechos dos depoimentos de M. e R. foram divulgados no diário virtual após as devidas permissões, acompanhados de um chamado para pais e mães que se identificaram também enviarem seus depoimentos.

Relato da gestante M. publicado no diário virtual

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Relato do pai R. publicado no diário virtual

Observou-se uma semelhança entre os dois depoimentos, mesmo oriundos de pessoas com contextos diferentes, no sentido de a vivência do isolamento social ser uma possibilidade de o casal se preparar melhor para a chegada do bebê, vivendo em um ritmo mais lento, fora da imposição do ritmo acelerado do cotidiano no mundo do trabalho. De acordo com o depoimento de M., isso até mesmo se materializou em um maior reconhecimento da presença paterna pelo feto.

Entrevista com Thiago Koch

Durante a pesquisa, compreendeu-se que Thiago Koch, naturólogo e instrutor de cursos sobre gestação, parto e puerpério para homens, seria um personagem chave para esta pesquisa, por mediar o contato com o público que se quer compreender. Sua rede social foi considerada como um dos perfis estratégicos para ter acesso a depoimentos de pais.

A partir de mensagem enviada para Thiago, foi possível apresentar a pesquisa e combinar uma videoconferência.

Ao ser questionado sobre como os homens que orienta têm vivido o confinamento em casa, durante o período da gestação de suas esposas, e como isso está afetando a relação deles com o bebê e com a gravidez, Thiago forneceu alguns valiosos apontamentos sobre as diversas vivências daqueles com quem tem contato.

Bom, tem muitas realidades, né. Olhando para a gestação, há muitos relatos de que essa pandemia, por um lado tem aproximado, inclusive, esses homens da gestação, do convívio, inclusive da construção da sua própria paternidade já desde a gestação, acompanhando mais as transformações fisiológicas e também psicológicas que essa mulher vivencia durante a gestação, podendo estar mais de perto mesmo, observando, e isso tem sido muito positivo para as pessoas que têm esse privilégio. Na contramão disso, (...) o medo ele permanece de forma horizontal, (...) o que difere mais é qual é o recorte, por exemplo, tem casos de homens que mesmo durante a pandemia têm que sair pra trabalhar, né, então existe esse medo de levar, de repente, o vírus pra dentro de casa, como lidar com essa dinâmica que é nova pra todo mundo.

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Existe também um medo desses casais em relação ao acompanhamento médico e também ao parto, muito medo, eu acho que esse é um dos maiores medos, sentimentos presentes nos casais gestantes é o medo justamente por esse vírus, e na hora do parto, como que vai ser isso, como que será no hospital, então isso tá muito presente nas narrativas desses casais que eu acompanho e dos grupos que fazem parte dos grupos também em que eu estou inserido, sabe. Então, o medo ele tá muito presente, e diversas incertezas, como que vai ser. Para os casais que estão vivenciando o puerpério, que é esse período pós-parto, tem uma semelhança também dos casais, desses homens que têm a possibilidade agora de estar trabalhando no home-office, então também pode estar de uma certa forma mais participativo, por estar presente, né, em questão de horas mesmo, dentro de casa, e que tem facilitado esse fortalecimento ou uma construção do vínculo com esse filho, inclusive de entrar em contato com coisas que eles não entravam antes, por não estar dentro de casa tantas horas consecutivas, e isso tem sido um processo desafiador, mas muitos trazem como um benefício. Existem também alguns que já trazem como um grande desafio mesmo, porque tá sendo difícil fazer a gestão de todas essas novidades que a paternidade traz, mais a pandemia, mais as cobranças de produtividade, por exemplo, pelo trabalho. (...) Uma das coisas que ficam muito presentes nas falas dessas famílias que têm filhos recém-nascidos, é como equalizar as ansiedades inclusive dos parentes, de lidar com essas visitas, como se posicionar, inclusive, com a mãe, com a tia, com a avó, ali ansiosos pra entrar em contato, pra se aproximar desse bebê, e de alguma certa forma não seja possível pelo menos fisicamente, pra uma parcela grande dessas famílias.

Questionado acerca de relatos de pais que não puderam acompanhar o parto, Thiago respondeu:

Tem alguns hospitais sim em que está acontecendo isso, triste e contra a lei, na verdade, isso é inconstitucional, mas acaba que acontece e é uma hora de vulnerabilidade, né, o cara fala Meu, você não pode entrar, se não você vai botar a vida do seu filho, da sua parceira em risco (...) Tá acontecendo em alguns lugares. Tem chegado sim esse tipo de relato. E essa é uma das preocupações, inclusive, dos casais gestantes, (...) se vão deixar, não vão deixar, e aí eu sempre tento orientar para a melhor forma, saber quais são os protocolos institucionais, dessa maternidade, desse hospital (...). E tá existindo também um forte movimento de parto domiciliar. Eu vejo muitas pessoas que, de repente, antes ainda tinham dúvida, se fazia ou se não fazia, muitas pessoas estão optando pelo parto domiciliar justamente por segurança, né, por entender que a casa, agora, mais do que nunca, é o ambiente mais seguro pra se nascer.

Sobre experiências envolvendo o impacto da voz do pai como forma de fortalecimento do vínculo entre pai e bebê durante a pandemia, Thiago disse acreditar que

a partir do momento em que esse homem está mais presente, acompanhando essa gestação, ele começa a ser estabelecido. E de repente, não é nem que o bebê está reconhecendo a voz, mas talvez a presença dele e a proximidade (...) Não tem como a gente realmente provar que é um reconhecimento do bebê da fala do pai, mas é um som que de alguma certa forma o bebê vai se familiarizando e vai criando principalmente aí uma segurança, porque esse bebê, ele entende, Opa, essa voz gera sentimentos positivos, inclusive produz hormônios positivos, né, sempre que essa voz está presente é algo legal, então eu vou me mexer aqui, e isso acontece ao contrário, quando tem uma voz que traz agressividade, opressão, e aí o corpo dessa mulher entende como um risco, e aí isso acaba transferindo muitas vezes para o bebê, e depois por exemplo, tem casos, é difícil ser determinante (...), de uma dificuldade de estabelecer uma comunicação, porque esse bebê entende que aquela voz é um risco. Então, de repente, sempre que o pai falar ou o pai se aproximar, o bebê vai chorar, porque isso é um padrão já durante a gestação.

Ratificando tal fala de Thiago, destacam-se colocações do neurologista da USP Leandro Teles, afirmando que a voz do homem durante a gestação é

uma voz mais grave, que fala, canta e brinca bem pertinho da barriga. Em algumas situações, se manifesta sempre no mesmo horário, quando o pai volta do trabalho, por exemplo. E quando o bebê está maiorzinho, pode provocar toque e brincadeiras mesmo dentro do útero. (...) O bebê sente, em parte o que a mãe sente. Se ele percebe (após uma discussão, por exemplo) que a voz do pai esteve associada à tristeza, alteração cardíaca e movimentos bruscos da mãe, irá realizar associações mais negativas.

Ao final da conversa, Thiago se ofereceu para divulgar a pesquisa em um grupo de pais de todo o Brasil para quem ministra suas oficinas, para que os interessados deixassem seus depoimentos ou entrassem em contato.

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Entrevista com Xenya Bucchioni e repercussões

Da mesma forma que Thiago Koch, a jornalista Xenya Bucchioni também foi compreendida como uma potencial grande aliada a este estudo, uma vez que seu perfil

‘Querida Gestante’ nas redes sociais acolhe depoimentos de mulheres que contam suas experiências sobre a gravidez durante a pandemia. Portanto, seu perfil também foi considerado estratégico para compreender melhor o público desta pesquisa. O encontro com ela também deu-se por videoconferência.

Ao ser explicada sobre o tema de estudo desta pesquisa, Xenya prontamente fez a seguinte sugestão: “e até depois, se você quiser, que eu chame elas [as gestantes] lá na página pra responder alguma pesquisa sua, também posso fazer isso, de repente algumas delas podem colaborar, né, diretamente aí com a tua pesquisa.”

Sobre a iniciativa de criar o perfil ‘Querida Gestante’, Xenya compartilhou seu processo criativo:

Numa tarde, cuidando dela [da filha] me veio a ideia, meio na verdade um pensamento que eu eu poderia estar grávida, porque tinha sido tudo muito recente, minha filha com 1 ano e três meses, e eu pensei, Gente, se eu tivesse grávida agora, que loucura, como é que seria minha vida, que medo dessa situação, que desesperador, pensar em entrar num hospital, né, começou a me vir tudo isso na cabeça, e aí eu comecei a escrever mentalmente uma carta, pra essa gestante (...) e aí quando eu comecei a pensar nessa carta, eu comecei a pensar como algo solto, que eu até escrevi à mão no caderno, e aí depois passou, quando foi de noite que eu pensei, Gente, isso é um projeto, eu vou lançar esse projeto (...) as mulheres de alto risco, gestação de alto risco, elas estavam no grupo de risco logo de primeira, então eu fui uma gestante de alto risco, então eu me identifiquei muito (...) eu seria uma dessas mulheres, enfrentando gestação de alto risco, que por si só já é muito difícil e complicado, e ainda ia estar no grupo de risco do coronavírus. (...) E aí à noite eu falei pro meu marido, que ele é designer (...) isso daí é um projeto, eu vou montar, vamos pensar num logo (...) vou reunir cartas escritas por mulheres, assim, muito despretensiosamente mesmo, nem sabendo se ia dar certo. E aí no mesmo dia eu lancei, à noite ele fez um logo pra mim, à noite eu chamei as pessoas da minha rede, a minha doula, e aí a minha doula tem uma rede grande, e aí as coisas foram acontecendo e as cartas foram chegando (…) E aí também é muito legal porque, quando as mulheres escrevem, as que mandam as cartas, depois elas também me contam o quanto isso foi bom pra elas, porque também de alguma forma o exercício de você escrever uma carta nesse momento que tá completamente caótico, sem perspectivas de melhora, que a gente tá se sentindo todo mundo à deriva, (...) as mulheres que param pra escrever também contam o quanto que isso faz bem pra elas, porque você também de alguma forma dedicar uma mensagem positiva a alguém, compartilhar algo mais positivo, nesse momento tão difícil.

Questionada sobre relatos recebidos de gestantes que falam sobre a experiência de estarem confinadas com os maridos, Xenya disse acreditar que

o Brasil é um lugar de zero planejamento de gravidez, né, então eu sinto que talvez ali uma boa parte sejam mães que não estão com os parceiros, que não tão nesse processo em que o parceiro tá junto, tem bastante mulheres com esse perfil, que tão na casa morando com a avó ou com a mãe, mas que não tão com seus parceiros (...) Do mesmo jeito que as mulheres tão preocupadas, eu imagino que esses homens também estejam, só que eu imagino que para os homens, eles têm uma dificuldade tão grande, o machismo pega eles num lugar tão ruim, que eu acho que eles também ficam sem saber o que fazer, que que eu vou falar, pra onde eu vou correr, não têm também muitas iniciativas voltadas para os homens, que fale com eles nesse lugar do emocional (...) Mas também ali tem algumas mulheres que escrevem que dá pra perceber também que são aquelas que (...) estão conectadas com o parto humanizado, e aí você já percebe a figura do marido (...) acompanhando um pouco mais, e aí já tá se preparando também, conversando com a doula e tal, pra experiência do parto. (...) o medo de o marido não poder entrar na hora do parto, porque eu não sei como é que tá agora, mas no momento mais duro, eu acho que tava variando de acordo com cada estado, eu realmente não sei. Elas tinham que escolher, ou entra a doula, entra a doula primeiro, aí depois que nasceu pode chamar o marido, não tava podendo entrar todo mundo (...) Porque daí entra esse medo, de não poder estar com o companheiro na hora do parto mesmo. Mas olha, é um pouco isso, elas não falam, (...) eu nunca tinha parado pra pensar, agora com a tua pergunta que eu pensei focado que, realmente, ainda falta muito para os homens chegarem juntos no processo.

Xenya sugeriu novamente a divulgação deste trabalho no perfil ‘Querida Gestante’:

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Eu acho que vale muito uma carta, e aí eu publico como carta (...) A gente pode pensar um título, a gente pode escrever, de repente, essa carta a quatro mãos, eu posso te ajudar a escrever e você assina a carta, como se fosse uma carta sua, mas eu te ajudo a editar (...) E aí no título, a gente pode pensar alguma coisa que já coloque ali a palavra ‘pai’, pra chamar essas mulheres pra lerem, e no final da carta, a gente pode fazer o que falam que é o ‘call to action’, fazer uma pergunta mesmo pra elas marcarem os maridos (...) e aí já fica o convite pra responder a pesquisa (...) falar pra eles comentarem nos comentários do Querida Gestante.

A partir de tal estratégia, uma carta em conjunto foi escrita e postada no perfil ‘Querida Gestante’. O título é “O homem ‘grávido’ em meio à pandemia”. Segue o conteúdo da carta:

Querida gestante, desde o início da pandemia, uma curiosidade me acompanha quando penso em você, grávida, em meio às incertezas e desafios desse momento: Como estará a vida de casal diante da atual realidade? Agora que muitos maridos e mulheres estão passando mais tempo juntos, mesmo que forçados por um cenário repleto de tensões, os pais estão mais próximos das transformações da gestação? Eles estão conseguindo se conectar melhor com a "barriga" e com o serzinho que dentro dela, aos poucos, vai dando sinais de desenvolvimento, entre chutes e soluços? Eu sou Luma Rodrigues, estudante de Design da PUC-Rio, e tenho pensado nisso por estar fazendo uma pesquisa de iniciação científica com esse foco. Meu intuito é saber como tem sido, para o futuros papais, viver o combo pandemia e gestação. Imagino que muitos pais também estejam mais ansiosos, mais irritados ou, até mesmo, mais dispersos nesse momento assim como muitas de nós. E por isso, gostaria muito de ouvir as histórias deles sobre essa fase, pois ao longo da gestação, o estado emocional deles, muitas vezes, fica esquecido e, agora, na pandemia tudo isso pode se intensificar. Queremos ouvir dos papais e das mamães: vocês estão grávidos e confinados juntos durante a pandemia de Covid-19? Comparando com antes, a quarentena mudou a relação entre vocês e a relação do papai com o bebê? Se sim, quais foram essas mudanças? Se você puder me dar uma força nessa missão, marque um papai e peça para ele contribuir contando como tem sido viver a pandemia + a gestação. Um abraço virtual, Luma Rodrigues, Rio de Janeiro.”

Imagem do post com a carta escrita em parceria com

Xenya Bucchioni, do perfil ‘Querida Gestante’

Seguem adiante alguns comentários recebidos a partir de tal iniciativa, no próprio perfil

‘Querida Gestante’, cuja publicação no diário virtual do projeto Ávidos ainda aguarda

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consentimento de alguns dos comentaristas. Uma gestante comenta: É nossa primeira gestação e muito desejada tbm. O confinamento fez a gente se unir mais e ele poder participar de mto mais coisas e se conectar sim com a ‘barriga’... agora M. diga a sua versão e visão sobre esse momento”.

Neste comentário, a gestante também convida o companheiro para escrever sobre sua experiência. Segue o relato do pai:

Estamos grávidos (eu e R.), de 26 semanas, descobrimos estávamos já confinados, e somos pais de primeira viagem, como pai e eu sempre desejei ser e estar pai!! Esse momento de confinamento me fez ser o homem mais feliz do mundo por acompanhar o crescimento da barriga e agora perceber os primeiros chutes! E parece q demora mas está passando muito rápido, a ligação com o bebê e com a barriga é muito maior. Sei que é um momento único e queremos aproveitar cada momento e sempre q vou ao escritório ou receber algum fornecedor já quero voltar logo para para ver e sentir os chutes que ela está dando.

Uma outra mãe também convidou seu companheiro para dar seu depoimento. Segue o relato do pai:

(...) tem sido ótimo esse período. Sempre fomos muito unidos e companheiros mesmo antes da pandemia.

Agora temos ficado cada vez mais juntos e cuidando uns dos outros. O fato de estarmos confinados, contribuiu para que eu acompanhasse cada evolução desse período. Só temos que cuidar para não exagerarmos nos cuidados!!

Uma outra mãe falou por ela e pelo companheiro:

Meu marido não tem Instagram. Mas seja conversamos muito sobre isso. Com certeza mudou muito a relação com a gestação. Metade da gestação passamos confinados. Ele acabou participando muito mais.

Antes não teria tempo nem de ir em todas consultas. Com a quarentena além de sempre me acompanhar nas consultas, ainda ajudou com a fisio, cuidou da minha alimentação, participou dos cursos de cuidados com o bebê e vou dia a dia a evolução da gestação. No final da gestação (que durou 41 sem) nós dois ficamos muitos ansiosos, essa parte foi bem difícil, pois não tinha muita opção de aliviar a mente, uma vez que não podia sair. Mas no final deu certo. Agora com o bebê (de 26 dias) está sendo muito bom também.. dividimos tudo (só amamentação que não). Ele não teria a oportunidade de ‘paternar’ dessa forma se não fosse essa situação. Já está totalmente conectado com o filho.

Análise crítica dos relatos

A partir de entrevistas remotas com pais e mães gestantes, pesquisas de perfis estratégicos nas redes sociais que engajam este público, entrevistas remotas com os gerenciadores de tais perfis, e matérias jornalísticas com dados sobre a temática, é possível elencar alguns principais pontos semelhantes sobre as vivências de uma gravidez em um período de confinamento por uma pandemia: medo do ambiente hospitalar, tanto para consultas de pré-natal e para o momento do parto, devido a uma possível infecção por coronavírus; medo de haver a proibição de o marido estar na sala de parto com a esposa durante o parto do bebê; dificuldade de lidar com demandas familiares por visitas à casa do casal durante o puerpério; possibilidade de maior conexão do pai com o bebê durante a pandemia, devido ao maior tempo disponível do homem e maior proximidade entre o casal, em relação à antes da quarentena; possibilidade de maior envolvimento do homem com os processos da gestação, como pré-natal e preparativos, em relação à antes da quarentena.

Os dados indicam também que não é seguro estar gestante no Brasil neste momento histórico, devido ao alto índice de mortalidade de gestantes que têm sido observado em uma escala global. A violência contra a mulher é encontrada também como um fator de risco no Brasil para mulheres confinadas com seus companheiros durante a pandemia. No entanto, apesar das diversas possíveis e não raras violências, os relatos obtidos sobre a experiência de gestar durante um período em que o núcleo familiar permanece reservado, apesar de não partirem de uma análise quantitativa, apontam para a existência de determinados contextos em que o isolamento favoreceu o envolvimento dos homens na gestação dos bebês junto às

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mulheres, em que eles puderam exercitar mais a afetividade deixada de lado pelo cotidiano usualmente acelerado e fora do ambiente doméstico.

Conclusões

O novo caminho de investigação delimitado pela pandemia e pelo isolamento social, encontra a oportunidade de compreender o papel do pai na gestação nos momentos de proximidade entre o casal, validando assim a pesquisa inicial do projeto “Ávidos”, cuja premissa era a necessidade do fortalecimento de vínculo entre pai e bebê desde a gestação e, desde os primeiros depoimentos colhidos nesta fase da pesquisa, foram relatados aumentos dos momentos de interação entre pai e bebê, o que de fato fortaleceu este vínculo em relação às rotinas anteriores ao isolamento social.

Apesar do aumento das estatísticas de feminicídio e violência doméstica durante a pandemia, também foi possível reconhecer, por meio desta pesquisa, aspectos positivos da convivência contínua entre os casais, uma vez que, pode-se observar que, durante a gestação, paternidades puderam despertar durante o período de maior convivência e acompanhamento da evolução da gravidez.

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