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A Educação Física e a Ciência Moderna

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Academic year: 2022

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A Educação Física e a Ciência Moderna

Nilene Matos Trigueiro1.

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Professora do curso de licenciatura em Educação Física do IFCE, campus Juazeiro. e-mail: nilene@ifce.edu.br

Resumo: O respectivo texto compromete-se a investigar a influência do desenvolvimento da ciência moderna na construção do conhecimento da educação física. Para atingir tal intento, foi empreendida uma reflexão da abordagem da educação física enquanto ciência, representada na presente discussão pelos estudos de Go Tani. Reflexão esta desenvolvida através de uma revisão de literatura, realizada no período de março a julho de 2012, cujas fontes utilizadas provem de leituras realizadas pela autora do trabalho, no mestrado acadêmico em educação da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, precisamente na disciplina de pesquisa em educação. Tal reflexão buscou atingir os seguintes objetivos: Investigar a influência do desenvolvimento da ciência moderna na construção do conhecimento da educação física; Compreender se a abordagem da educação física enquanto ciência é capaz de possibilitar respostas satisfatórias para aqueles que necessitam de seu conhecimento em sua intervenção profissional. A reflexão acerca do assunto tornou perceptível que o transplante de teorias e metodologias originárias das ciências exatas não é capaz de possibilitar respostas às questões que ocorrem em áreas aplicadas como a educação física.

Palavras–chave:ciência, conhecimento, educação física

1. INTRODUÇÃO

A ciência moderna avançou muito nas últimas décadas, diversos métodos de investigação da realidade, presentes nas ciências exatas consolidaram-se possibilitando uma leitura mais profunda e rigorosa da natureza que os métodos especulativos e sem comprovação científica anteriormente conhecidos.

Esse progresso é responsável pelo desenvolvimento nunca antes presenciado pela humanidade e define o surgimento de novos paradigmas de explicação da realidade em que disciplinas como a física, a matemática e a biologia ganharam a partir da revolução científica, iniciada durante o século XVI e consolidadas entre os séculos XIX e XX, um modelo de racionalidade e métodos investigativos próprios. Sob esse influxo, para considerar-se ciência, diversas áreas de conhecimento pertencentes às ciências humanas adotaram este modelo na busca de padrões metodológicos, transplantados, não raras vezes, sem a mínima reflexão necessária.

Vale destacar que essa busca desenfreada pelo reconhecimento acadêmico e social pode culminar em uma perda de sentido quanto à produção do conhecimento pela humanidade, que é o esforço permanente de adaptar a natureza as necessidades humanas e melhorar a condição de vida da população.

A prática social, nem sempre de fácil leitura e como espaço de problematização e investigação do conhecimento, não pode ser relegada, já que a ciência deve dar conta do real e ir além da busca de reconhecimento pela academia, ela deve possibilitar a produção de conhecimentos socialmente relevantes e que contribuam, também, para a superação de dificuldades econômicas e sociais imersas na realidade dos sujeitos, refletindo em suas vidas, a quem se destina todo esse “aparato intelectual”

desenvolvido pela academia.

Ao analisar a literatura, será empreendida uma reflexão da abordagem da educação física enquanto ciência, representada na presente discussão pela abordagem de Tani (1996), indagando acerca da procura pelo reconhecimento acadêmico, sem o devido questionamento de sua função social.

Tal reflexão buscará atingir os seguintes objetivos: Investigar a influência do desenvolvimento da ciência moderna na construção do conhecimento da educação física; Compreender se a abordagem da educação física enquanto ciência é capaz de possibilitar respostas satisfatórias para aqueles que necessitam de seu conhecimento em sua intervenção profissional.

ISBN 978-85-62830-10-5 VII CONNEPI©2012

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2. MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão de literatura, realizada no período de março a julho de 2012, cujas fontes utilizadas provem de leituras realizadas pela autora do trabalho, no mestrado acadêmico em educação da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, precisamente na disciplina de pesquisa em educação.

As leituras versaram principalmente acerca da teoria do conhecimento científico e discutiram sobre o desenvolvimento do pensamento científico nos diversos momentos históricos da humanidade.

A discussão aqui apresentada baseou-se principalmente nas reflexões desenvolvidas em artigos, periódicos e livros de diversos autores que tratam do assunto.

Para compreender melhor os conceitos acerca da educação física enquanto ciência foi realizada uma pesquisa em periódicos da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Movimento, Revista Motus Corporis, que contém publicações de diversos autores que estudam a epistemologia da educação física.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todo o arcabouço da ciência construído nos séculos XIX e XX, com vistas a melhorar a qualidade de vida humana e aperfeiçoar os processos de produção é também o responsável pela construção de novos paradigmas no campo das ciências exatas, estas explicações emergentes dispararam o gatilho na busca de uma epistemologia própria para as ciências humanas e sociais, entre elas a educação física.

Representante deste movimento, pode-se destacar os estudos realizados por Go Tani (1996), que advoga um estatuto científico próprio para a educação física, em seu texto Cinesiologia, Educação Física e Esporte: Ordem Imanente ao Caos na Estrutura Acadêmica.

É latente nas discussões do autor uma fragmentação do conhecimento da educação física, ao dividir seu conhecimento em: Cinesiologia, ciência básica da educação física, responsável pelo estudo do movimento humano. Esta não teria preocupações com a aplicação prática de seus conhecimentos, por tratar-se de uma ciência básica que utilizaria suas investigações na pesquisa aplicada, em áreas de atuação profissional como a educação física e a fisioterapia.

A Cinesiologia seria dividida em três subáreas, denominadas: Biodinâmica do Movimento Humano, composta pela Bioquímica do exercício, Fisiologia do Exercício, Biomecânica e Cineantropometria; Comportamento Motor, que envolveria os estudos sobre o Controle Motor, Aprendizagem Motora, Desenvolvimento Motor e Psicologia do esporte; e Estudos Socioculturais do Movimento Humano, composta por Sociologia, História, Antropologia, Fisiologia, Ética e Estética do Movimento Humano/Esporte.

Ao analisar essa literatura, é clara a fragmentação, apesar de Tani afirmar que suas concepções não se assentam nas denominadas ciências clássicas e sim na ciência atual, ele segue dividindo. A Educação Física será conceituada como responsável pela síntese dos conhecimentos produzidos pela Cinesiologia e como uma área de ciência aplicada de preocupação pedagógica e profissional. A subdivisão da Educação Física ocorreria com a seguinte denominação: Pedagogia do Movimento Humano e Adaptação do Movimento Humano.

Tal separação, encontrada nessa abordagem, encontra-se presente nos métodos das ciências clássicas que influenciaram fortemente o pensamento científico, já que para o método científico moderno conhecer significa dividir e classificar para depois poder encontrar as relações entre o que se separou. É desta forma que mundo da matéria é abordado, como um mundo que o racionalismo cartesiano torna cognoscível ao decompor os elementos, transformando-se na hipótese da era moderna representada pelo racionalismo mecanicista.

Diante do exposto, vale ainda fazer uma última reflexão: de que forma essa ciência da educação física seria capaz de resolver os problemas dos professores e alunos em sala de aula? O encontro de seu status e respeitabilidade acadêmica poderiam trazer respostas aos problemas encontrados em sua prática cotidiana? Será que essa busca de autenticidade e respeitabilidade pode ser capaz de dar respostas que vão além do âmbito acadêmico?

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6. CONCLUSÕES

Go Tani (1996) defende a sintonia entre a educação física, a ciência e a tecnologia como respostas as mudanças presentes na sociedade. O mercado de trabalho, também é uma preocupação de Tani ao afirmar que a educação física deve acompanhar o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, para tal intento ela deveria buscar encontrar uma identidade que ainda não possui.

Para ele, ainda não há uma análise rigorosa entre a educação física no currículo escolar e a educação física enquanto área de conhecimento, diferentemente do que ocorreu com a química, a física e a biologia, que existem independentes de suas construções no currículo escolar.

Não se pode buscar legitimar uma área de atuação através de critérios desenvolvidos pela ciência dos séculos XVIII e XIX, a compreensão deste agir intencional em disciplinas como a educação e a educação física, pode ser encontrada na sua intervenção profissional, diz respeito a teorias que possuem relação com a prática intencional fecundas de finalidades socialmente definidas.

Essa imitação do método científico das ciências exatas pelas humanas, como forma de obter status, acabou desenvolvendo uma visão estática e linear dos fenômenos sociais, nesta perspectiva, restaram as ciências humanas a apropriação de critérios matemáticos, conceitos e metodologias obedecendo a uma configuração hegemônica que dita às regras na comunidade acadêmica.

Não se pode realizar comparações entre a educação física e estas ciências, pois, as reflexões acerca da educação física como um conhecimento sistematizado são bem recentes, datam especificamente da revolução industrial, aproximadamente no século XVIII, sendo ainda mais recentes no Brasil, diferentemente dos métodos desenvolvidos pelas ciências exatas que já possuem um longo período de amadurecimento de seus estudos.

Outro ponto a destacar nas proposições de Tani (1996) é a sua excessiva divisão e consequente fragmentação do conhecimento da educação física, apesar do autor criticar os métodos presentes nas ciências clássicas. Seu posicionamento não auxilia em nada a romper com a dualidade destinada ao corpo nos momentos anteriores da história da humanidade, ao contrário, já que a divisão entre uma ciência que produz o conhecimento e outra que o aplica nos remete a abordagem contemplativa do conhecimento desenvolvida na Grécia Antiga.

A apropriação de modelos para tentar justificar determinado conhecimento como academicamente relevante, não dá conta de explicar toda a sua problemática enquanto disciplina do currículo escolar, ou até mesmo, como área de conhecimento fora da escola, pois a realidade social é muito mais complexa e encontra-se em constante movimento.

A educação física, assim como a educação, é uma área de intervenção profissional, seus conhecimentos devem ser pensados para sujeitos inseridos em determinada sociedade, com interesses e necessidades específicos que emergem das relações de suas práticas profissionais e pedagógicas estabelecidas no cotidiano.

O conhecimento da educação física é de um teor diferenciado daquele que se produz em ciências que desenvolvem conhecimentos aplicados em formas de ação, por isso, a Cinesiologia enquanto ciência básica parece estar ocupando um lugar que já existe, este seria o lugar das “ciências- mãe”, que dão suporte a reflexão sobre a prática profissional nesta área.

Não é baseado em critérios desenvolvidos entre os séculos XVI e XVIII que a educação física irá consolidar-se como ciência, já que as próprias ciências exatas avançaram bastante em relação a estes critérios, o que torna arriscado para muitos estudiosos que insistem em adotá-los sem o devido questionamento acreditando em sua aplicabilidade “universal”.

Presumir que o transplante de teorias, metodologias trarão respostas às questões que ocorrem em áreas aplicadas, é acreditar na superficialidade, é pensar na ciência enquanto um bem que se retroalimenta de seus interesses acadêmicos e de mercado.

Lidar com o humano vai muito além do que se pode mensurar, já que nenhuma intervenção na realidade pode estar amarrada em conceitos que não permitam reconhecer a constante descoberta do inesperado, do real que se encontra vivo e de formas diversas.

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Para isso, deve-se buscar o espírito crítico de reflexão sobre a realidade, pois não há como lidar com o humano sem agir como outro humano, que procura reconhecer problemas, interesses, necessidades e possibilidades desenvolvidas em sua prática.

REFERÊNCIAS

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1996. Disponível em:

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