• Nenhum resultado encontrado

Repositório Institucional UFC: A cultura do preconceito: rosa ou azul? Preta ou branca? Quais as cores da infância?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Repositório Institucional UFC: A cultura do preconceito: rosa ou azul? Preta ou branca? Quais as cores da infância?"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

A CULTURA DO PRECONCEITO: ROSA OU AZUL? PRETA OU BRANCA? QUAIS AS CORES DA INFÂNCIA?

Edilson de Alcantara Primo1

Maria Isadora Gomes de Pinho2

RESUMO

O preconceito se expande em vários aspectos da vida de formas peculiares, seja racial, de gênero ou orientação sexual, é um problema real que se manifesta desde a infância. Em função disto e da importância de estudar a temática da cultura afrodescendente e igualdade de gênero, este trabalho tem como principal objetivo conhecer como se manifestam precocemente as distintas formas de preconceito e discriminação na infância e adolescência, além de fortalecer a valorização das diversidades. Como mecanismo de apropriação e coleta de informação, realizou-se um conjunto de atividades que trouxeram uma fundamentação

teórica e prática relacionada à cultura do preconceito e a equidade de gênero na infância (02 a 06 anos) e na pré-escola (11 anos), com foco nas escolas EEI Marcelino Primo Correia e EEF

Pedro Fernandes de Alcântara, ambas localizadas no distrito de Cariutaba, Farias Brito – CE. Após a análise dos dados coletados ficou constatado que ainda na educação infantil, as crianças apresentam comportamentos preconceituosos quanto à cor, gênero e etnias, porém com um nível menos elevado que no ensino fundamental causado pelo convívio com pessoas adultas historicamente preconceituosas.

Palavras-chave: Cultura. Gênero. Preconceito.

INTRODUÇÃO

Preto, branco, amarelo, rosa, azul, boneca, carrinho, rico, pobre, bonito, feio, o mundo é colorido e diverso, como você o vê? A nossa percepção de mundo é resultado da construção social, é a herança de um processo de colonização de mão-de-obra barata a partir

da exploração dos colonizadores sobre os colonizados, negros e indígenas. De acordo com o Artigo 113, inciso 1 da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei”, porém, na prática a realidade é outra.

É contraditório que em uma sociedade de miscigenações o preconceito seja algo tão presente no dia a dia, desde muito cedo aprendemos a negar aqueles que não são brancos, e a crescer com essas ideias, muitas delas aprendidas na escola ou no próprio convívio familiar, reforçadas ainda mais com termos e frases como: Moreninho, mas honesto; magia negra;

1 Edilson de Alcantara Primo, Professor da rede pública, Especialista em Geografia e Meio Ambiente, Universidade Regional do Cariri, edilsonaprimo@gmail.com, Farias Brito, Ceará-Brasil.

2 Maria Isadora Gomes de Pinho, Graduanda em Ciências Econômicas, Universidade Regional do Cariri,

(2)

preto de alma branca; lista negra; ovelha negra da família; cabelo ruim; a coisa está preta. É possível definir preconceito como sendo uma atividade hostil ou negativa para com determinado grupo, baseado em generalizações deformadas ou incompletas (ARONSON, 1999), seria uma idealização antecipada, uma opinião formada antes de ser estabelecido conhecimentos adequados. O preconceito causa impactos danosos na vida de toda criança ou adolescente, tanto do ponto de vista psicológico e/ou social. A criança pode aprender a discriminar apenas por ver os adultos discriminando. Nesses momentos, ela se torna vítima do racismo e da intolerância. De acordo com Nelson Mandela (1995) em seu livro long walk to freedom, “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”

Outra vertente dessa pesquisa é a igualdade de gênero, já que atualmente as mulheres estão cada vez mais exercendo funções que antes eram estritamente masculinas, assim como os homens estão cada vez mais interessados na educação dos filhos. Quando as crianças estão brincando, elas estão experimentando, mas os pais já a induzem a seguir modelos e papéis sociais pré-definidos.

Até pouco tempo as características identificadas com a postura feminina não eram bem-vindas no mercado de trabalho, mas aos poucos as mulheres foram perdendo seu posto

de dona de casa e ocupando cargos cada vez mais elevados, conseguindo administrar grandes empresas e até mesmo o Governo Federal, Pinho (2005) defende que:

(...) os traços “naturalizados” como masculinos – objetividade, força, racionalidade, entre outros – sempre foram mais valorizados socialmente, e a ideia de liderança e poder de decisão também sempre esteve fortemente associada aos homens. As mulheres, portanto, definitivamente não se encaixavam no perfil buscado pelas empresas, já que elas estavam associadas a características distintas daquelas necessárias para exercer essas funções mais elevadas (PINHO, 2005, p. 41-42).

Para melhor analisar o quanto as crianças são influenciadas por experiências negativas na primeira etapa do Ensino Fundamental, foram coletadas informações envolvendo crianças da creche e pré-escola de 02 a 06 anos de idade, da EEI Marcelino Primo Correia,

para fazer analogia com os alunos da faixa etária de 11 anos do 5º Ano da EEF Pedro Fernandes de Alcântara, ambas localizadas no Distrito de Cariutaba, Farias Brito-CE.

(3)

gênero e o respeito à diversidade étnico-racial, e se amplia com propostas cognitivas de cunho

explicativo e interpretativo.

Em função disto, da importância e do auto grau de relevância que a temática traz para o mundo acadêmico, este trabalho buscou conhecer como se manifestam precocemente as distintas formas de preconceito e discriminação na EEI Marcelino Primo Correia e na EEF Pedro Fernandes de Alcântara, além de fortalecer a valorização das diversidades e a promoção da equidade de gênero.

METODOLOGIA

O presente trabalho realizou um conjunto de atividades que possibilitaram uma fundamentação teórica e prática relacionada a cultura do preconceito e a equidade de gênero na infância (02 a 06 anos) e na pré-adolescência (11 anos), com foco nas escolas EEI

Marcelino Primo Correia e EEF Pedro Fernandes de Alcântara, ambas localizada no Distrito de Cariutaba, Farias Brito-CE.

Para efetivar a pesquisa propõe-se atividades previamente planejadas, buscando

enriquecer o trabalho com uma diversidade de opiniões acerca do tema, recorrendo as pesquisas bibliográficas em obras diversas, que tratam o tema proposto, em sites da internet, pesquisa empírica com observações, entrevistas, conversa com os docentes, aplicação de experiências práticas, brincadeiras variadas e contato direto com os pais e/ou responsáveis dos pesquisados.

Durante a execução de toda e qualquer atividade foi feita uma análise da coleta de dados e informações por meios de registros fotográfico, escritos para posterior apresentação aos educadores nas escolas e a quem de interesse. Classificada como uma pesquisa exploratória, busca explorar o meio social que a criança está envolvida bem como o tipo de relação e o grau de influência que a sociedade tem sobre ela a partir de dados primários.

O método utilizado para a observação dos fatos e fenômenos, para que se torne possível retirar conclusões e de cuja causas desejamos conhecer é o método indutivo. Para Lakatos e Marconi (2007, p. 86):

Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal,

(4)

ÁREA DE ESTUDO

O levantamento das entrevistas aconteceu de janeiro a março de 2016. Durante esse período foi realizada uma pesquisa em duas escolas públicas e municipais, sendo uma de Educação Infantil e outra de Ensino Fundamental, ambas localizadas no distrito: Cariutaba, localizados no Sul do estado do Ceará como pode ser observado na (figura 1). Este município limita-se ao Norte com Várzea Alegre, Cariús e Tarrafas; ao Sul com Nova Olinda e Crato; ao

leste com Caririaçu e Várzea Alegre; e, ao Oeste, com Tarrafas, Assaré e Altaneira.

Figura 1 - Localização do Município de Farias Brito-CE. Fonte: IPECE, 2002. Adaptado por (ARRAES, 2016).

MÉTODOS ANALÍTICOS

Para iniciarmos a pesquisa, foi realizada a aplicação de questionários na EEI Marcelino Primo Correia e na EEF Pedro Fernandes de Alcântara, com o objetivo de identificar as opiniões das crianças em relação as aparências físicas e os papéis sociais assumidos por negros e brancos, e para os gêneros masculino e feminino. Foram questionadas aproximadamente 40 crianças do ensino infantil e 40 do ensino fundamental.

Ao chamar individualmente cada criança, foi apresentada duas bonecas, portando as mesmas características físicas, a única diferença seria seu tom de pele, uma branca e outra negra. Foram feitas as seguintes perguntas: Qual das duas bonecas é a mais bonita? Qual você queria como irmã? Qual delas aparenta ser pobre? Esse questionário nos serviu de base para a análise da opinião das crianças em relação as aparências e os papeis sociais que as mesmas atribuem a pele negra e a pele branca.

(5)

O teste da boneca foi realizado pela primeira vez em 1939 pelo psicólogo afro

-americano Kenneth Clark, onde foi constatado que 63% das crianças escolheram a boneca branca como a bonita e boa enquanto a negra ficou como a feia e má.

Em um segundo momento foi posto sobre uma mesa dois brinquedos: uma boneca e um carrinho. Foram então questionados sobre qual dos dois brinquedos seria o seu preferido, para que então pudéssemos analisar as diferenças e preferências entre as meninas e os meninos. A terceira pesquisa realizada, teve como objetivo identificar a influência da cor rosa para o sexo feminino e azul para o sexo masculino, através da doação de um lápis azul ou rosa, as crianças poderiam escolher entre os dois lápis aquele que mais lhe agradava.

RESULTADOS

A partir dos questionamentos aplicados obtivemos os seguintes resultados: 65% das crianças da Educação Infantil disseram que a branca parecia ser mais rica; 66% afirmaram que a branca é mais bonita, enquanto 34% acharam a negra mais bela. Ao serem perguntados sobre qual das bonecas queriam como irmã, 76% escolheram a branca, enquanto 24% preferiram uma irmã negra.

Ao realizarmos a mesma pesquisa com os alunos pré-adolescentes de 11 anos do

final da primeira etapa do Ensino Fundamental na EEF Pedro Fernandes de Alcântara, foi possível constatar como o preconceito aumenta à medida que as influências da sociedade se torna mais frequente. Sobre os padrões de beleza: 85,1% dos entrevistados afirmaram que as pessoas mais belas são brancas e apenas 14,9% disseram que a pessoa com estereótipos afro descendentes são mais belas. Para os mesmos entrevistados constatamos que 81,5% acham que os brancos terão uma ascensão social e ocuparam cargos de prestigio, enquanto somente 18,5% dos negros conseguirão um status social significativo.

Ao serem perguntados qual o brinquedo você gostaria de brincar, os alunos com idade entre 02 e 06 anos, o carrinho foi preferência em 100% dos meninos e 11 % das meninas, a boneca foi escolhida por 89%. Entre os alunos do 5º Ano do Ensino Fundamental 100% dos alunos escolheram o carrinho e 100% das meninas escolheram a boneca.

(6)

A diretora da escola ao conversar conosco disse que alguns dos meninos escolheram a rosa por que tem irmã, e por brincarem juntos aprenderam a gostar da rosa, mas isso não faz dele um homossexual, o problema é que os outros não entendem, e descriminam suas atitudes. Mas será possível que de tantas meninas todas tenham o mesmo gosto? Ou elas apenas estão escolhendo aquela que a ensinaram a escolher?

O envolvimento e a influência que os adultos tem sobre as crianças interfere diferentemente nas opiniões e caráter que a mesma tende a formar no decorrer da vida. No Ensino Infantil quando as crianças ainda não estão envolvidas ou influenciadas pelas atitudes e ideais empregados pelos adultos, um menino ao escolher uma boneca como brincadeira é algo simples e inocente para ele, mas no Ensino Fundamental quando a criança já convive e entende o que os adultos julgam correto, sentem-se envergonhados e vê com maus olhos

aqueles que preferem a boneca.

Este estudo constatou que as crianças que convivem com pessoas preconceituosas, mesmo que tenham experiências positivas em relação a um grupo de pessoas, tais experiências valem menos do que as ideias negativas que elas estão acostumadas a escutar em seu convívio, principalmente quando os pais são os responsáveis por tais ensinamentos.

CONCLUSÃO

Segundo a UNICEF (2010) Estudos na área de educação infantil revelam que, ainda na primeira infância, a criança já percebe diferenças na aparência das pessoas (cor de pele, tipo de cabelo, etc.). A responsabilidade dos adultos é muito importante nesse momento, evitando explicações ou orientações preconceituosas.

Meninas devem brincar de boneca, e meninos de carrinho? Elas vestem rosa e eles azul? Regras comportamentais que nos seguem desde bem cedo. De acordo a psicóloga, especialista em educação, Fernanda Araújo Cabral, “durante o desenvolvimento infantil, que ocorre entre os três e sete anos, as crianças passam por uma fase onde naturalmente os meninos tendem a imitar o pai e as meninas a mãe”.

Hoje há uma grande preocupação dos pais quanto à sexualidade dos filhos. Podemos garantir que seu filho (a) não será homossexual por ter gostado de cor-de-rosa quando criança

(7)

Com essa pesquisa podemos notar como somos influenciados pelos outros, essas crianças não desenvolveram o preconceito, elas apenas refletem o que veem dos seus pais e de todos com quem ela convive. Nessa fase aprendem a imitar o que observam, são copiadores, e como copiam o jeito de andar e falar, copiam também o preconceito. Aos 3 anos já apresentaram uma breve tendência ao racismo e preconceito, mesmo que ainda não tenha se infiltrado em seu pensamento. Seria nessa fase um ótimo momento para intervenção: com brincadeira, histórias infantis, cânticos e literatura que valorizem o negro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PINHO, Ana Paula David de. Nem tão frágil assim: um estudo sobre mulheres em cargos

de chefia. Rio de Janeiro, 2005. Dissertação (Mestrado em Psicossociologia de Comunidades

e Ecologia Social) – EICOS / Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

UNICEF, O impacto do racismo na infância. Materiais da Edição 2008 do Selo UNICEF.

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de e COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia Para Jovens

do Século XXI. Imperial Novo Milênio: Rio de Janeiro, 2007.

ARONSON, E. Prejudice. In: The Social Animal. New York. Worth Publishers/W.H. Freeman and Company, 1999. p. 304-363.

Imagem

Figura 1  -  Localização do Município de Farias Brito - CE. Fonte: IPECE, 2002. Adaptado por (ARRAES, 2016).

Referências

Documentos relacionados

ado a necessidade de modificar o pré- se manter o dorso do frango à 95C por 30 minutos, este procedimento desnaturava o colágeno, formando um gel scrito

Era de conhecimento de todos e as observações etnográficas dos viajantes, nas mais diversas regiões brasileiras, demonstraram largamente os cuidados e o apreço

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

Frente ao exposto, o presente trabalho teve como objetivo analisar e comparar a cinética do consumo de oxigênio e os valores de referência para a prescrição do treinamento

A sociedade local, informada dos acontecimentos relacionados à preservação do seu patrimônio e inteiramente mobilizada, atuou de forma organizada, expondo ao poder local e ao

Neste estágio, assisti a diversas consultas de cariz mais subespecializado, como as que elenquei anteriormente, bem como Imunoalergologia e Pneumologia; frequentei o berçário

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

do 5 (mais velho), com 33 vocábulos conhecidos, sendo os inquiridos que mais vocábulos conhecem. Na cidade do Funchal, em geral, a diferença entre os jovens e os menos jovens é mais