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JEAN ÍTALO DE ARAÚJO CABRERA RUTH KÜNZLI. Universidade Estadual Paulista - Unesp Campus de Presidente Prudente SP

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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1.

p. 000-000

O PATRIMÔNIO CULTURAL E AS NOVAS TERRITORIALIDADES CULTURAIS: UMA REALIDADE EMERGENTE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO LAGOA SÃO PAULO – 02 / MUNICÍPIO DE

PRESIDENTE EPITÁCIO – SP

JEANÍTALODEARAÚJOCABRERA RUTHKÜNZLI

Universidade Estadual Paulista - Unesp Campus de Presidente Prudente – SP

jeancabrera80@gmail.com kunzli@fct.unesp.br

RESUMO - O propósito deste trabalho é o da contribuição que uma pesquisa arqueológica pode oferecer à compreensão da utilização do espaço geográfico e suas transformações pelo homem primitivo; também procura entender como estes vestígios podem representar o meio de resgate e, de valorização cultural como atrativo turístico. Visa ainda compreender o modo de vida através das técnicas de manufatura que permitem reescrever o cotidiano destes grupos e sua relação com o espaço ocupado. Para tanto, busca estimular a recomposição de cenários de ocupação humana no local e nas proximidades de escavação, evocando uma das mais tradicionais formas de transmissão da cultura, o turismo e a inclusão do patrimônio arqueológico no elenco das potencialidades de uso turístico pelo munícipio que, para tanto, deverá ser precedida de legislação específica que discrimine, inclusive, as garantias quanto à sua proteção e preservação. Isso porque a herança arqueológica indígena é até de Patrimônio Nacional, de interesse de todos, superando os interesses locais circunscritos aos limites de um único município. Além da caracterização do uso do espaço local quanto às suas potencialidades para o turismo arqueológico, por meio da análise espaço-temporal do meio antropizado, tendo por base a pesquisa do Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02.

Palavras chave: Arqueologia; Patrimônio; Turismo Cultural.

ABSTRACT - The purpose of this work is the contribution that an archaeological survey can provide the understanding of the use of geographical space and its transformations by primitive man; also seeks to understand how these traces can represent the ransom, and cultural appreciation as a tourist attraction. It also aims to understand the way of life through the manufacturing techniques which allow to rewrite the routine of these groups and their relationship to the space occupied. It seeks to stimulate the recovery of scenarios of human occupation on site and nearby excavation, evoking one of the most traditional forms of transmission of culture, tourism and the inclusion of the archaeological heritage in the list of potential uses for tourist municipality that for both, should be preceded by specific legislation that discriminates, including safeguards for their protection and preservation. This is because the archaeological heritage is indigenous to National Heritage, the interest of all, overcoming local interests confined to the limits of a single municipality. Besides the characterization of the use of the local area as to their potential for archeological tourism, through the spatio-temporal analysis of anthropogenic means, based on the research of Archaeological Lagoa São Paulo - 02.

Key words: Archaeology, Heritage, Cultural Tourism.

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Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1.

1 INTRODUÇÃO

Qualquer economia, seja de mercado ou de planejamento centralizado, se fundamenta na interação social e na interação espacial/cultural. Nenhuma economia pode existir sem que haja relações entre os seres humanos, relações essas que ocorrem em um dado espaço geográfico, influenciando esse espaço e sendo por ele influenciadas. Os atributos [do espaço] influenciam o homem nos seus comportamentos, percepções e escolhas e este age sobre o espaço para modificá-lo. Tendo em conta as restrições que lhe são impostas pelo espaço geográfico ele se organiza para satisfazer as suas necessidades econômicas, culturais e sociais.

O propósito desta pesquisa é o de desenvolver, no processo de planejamento do turismo da região, a caracterização do espaço local quanto às suas potencialidades, tendo por base a pesquisa do Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02 e assim inseri-lo como atrativo turístico. Para tanto, estimular a recomposição de cenários de ocupações humanas nos locais ou nas proximidades de escavação, evocando uma das mais tradicionais formas de transmissão da cultura.

O Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02 está localizado no município de Presidente Epitácio – SP, na margem esquerda do Rio Paraná, local onde, em 1995, foram encontradas duas urnas cerâmicas, com ossos humanos no interior de uma delas. Este material arqueológico foi retirado do barranco por uma empresa ceramista, quando fazia extração do pacote sedimentar para ampliação da área para depositar argila retirada do rio. Esse achado passou então a ser investigado pelos pesquisadores da equipe multidisciplinar de arqueologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT – UNESP), Campus de Presidente Prudente e através de intervenções sucessivas, o sítio foi delimitado e denominado Lagoa São Paulo – 02.

Do Sítio Lagoa São Paulo – 02 foram resgatadas em campanhas sucessivas, além das urnas, peças líticas lascadas, polidas, fragmentos e vasilhas cerâmicos, material malacológico e ósseo; este último resultou, até o momento, em 10 esqueletos humanos identificados, sepultados em urnas e fora delas, associados ou não a restos de fogueira, sendo que uma destas contendo restos alimentares. De posse desses materiais, realizou-se uma triagem no Centro de Museologia, Antropologia e Arqueologia (CEMAARQ) da FCT – UNESP, compreendendo limpeza, cadastro e armazenamento, composição de reserva técnica, exceto o material ósseo assim como algumas urnas funerárias.

2 O SÍTIO LAGOA SÃO PAULO - 02

O Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02 faz parte do rol dos sítios que foram escavados pelo

“Projeto de Salvamento Arqueológico de Porto Primavera – SP / Etapa I”, financiado pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) em 1998 / 2002 e em função da construção da Usina Hidrelétrica “Engenheiro Sergio

Motta”, segundo exigências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), por estar inserido na área diretamente impactada pela formação do lago desta usina.

Com base nas recentes idas a campo, no decorrer da Etapa II do “Projeto de Salvamento Arqueológico de Porto Primavera – SP”, e análise laboratorial do material arqueológico realizadas, constatou-se, por meio dos resultados preliminares, que o Sítio Lagoa São Paulo – 02 é remanescente da cultura Guarani, caracterizada por traços culturais, como: tipo de antiplástico, decoração, formas e técnicas de manufatura do material cerâmico, além de apresentar elementos de influência jesuítica, como a presença da decoração plástica escovada; o período de ocupação aferido pela profundidade de deposição atual e da influência jesuítica, indica ser um sítio com aproximadamente 400 a 500 anos a. P., tendo sido estes lavradores seminômades, talvez sucessivamente, construindo cabanas e formando aldeias.

No que concerne aos artefatos e fragmentos líticos encontrados no sítio, a uma profundidade de 1,20 m a 3,5 m, pode-se afirmar que se trata de uma ocupação distinta da anteriormente descrita, tanto devido à profundidade, quanto às características de lascamento, seleção e utilização de matéria-prima (seixos de arenito silicificado, quartzo, sílex), sendo possível identificá-la como de tradição Umbu, relativa a povos caçadores e coletores nômades.

3 A GEOGRAFIA, O TURISMO E A ARQUEOLOGIA

Desde os mais remotos tempos da história do mundo é sabido que o homem teve sempre a necessidade da ocupação e construção de seu espaço social. Temos estudos que comprovam que, de diversas maneiras, o homem sempre esteve disposto a conquistar espaços cada vez mais longínquos do globo terrestre. A ciência geográfica se faz presente para registrar esses estudos e compondo um leque de várias áreas de atuação de outras ciências que a auxiliam a fazer tal análise.

A Arqueologia surgiu no cenário científico a partir da necessidade dos estudiosos de conseguirem capturar o máximo de dados possíveis do contexto geográfico onde o homem ou a cultura de épocas muito antigas estavam inseridos, incluindo restos faunísticos e florísticos, localizados em sítios arqueológicos ou em suas proximidades, de imensa importância para se decifrar o cenário paleoambiental no qual cada sítio está inserido, bem como das matérias primas utilizadas para a elaboração dos artefatos líticos e cerâmicos.

Segundo Ross (1996), o entendimento da verdadeira dimensão e importância do homem como ser vivo e social passa obrigatoriamente pela compreensão das limitações que a rigidez da natureza impõe à sua existência:

“É objeto de preocupação da Geografia conhecer cada dia mais o

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ambiente natural de sobrevivência do homem, bem como entender o comportamento das sociedades humanas, suas relações com a natureza e suas relações socioeconômicas e culturais. Aprender como cada sociedade humana se estrutura e organiza o espaço físico- territorial em face das imposições do meio natural, de um lado, e da capacidade técnica, do poder econômico e dos valores socioculturais, de outro. Os grupos sociais, por mais autossuficientes e simples que sejam não conseguem sobreviver de forma absolutamente isolada e estabelecem uma teia complexa de relações socioculturais e econômicas”. (ROSS, 1996, p.16.) É nesse ponto que a ciência arqueológica pode auxiliar o homem contemporâneo a compreender o passado humano, principalmente através de um conjunto de evidências materiais que foram deixados e sobreviveram ao longo do tempo. (ROBRAHN- GONZÁLEZ , 1999).

Quando não havia nada além do meio natural, o homem escolhia da natureza suas partes ou aspectos considerados fundamentais para o exercício da vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condições naturais que constituíam a base material da existência do grupo.

Segundo Santos (1996), “é por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica”. As técnicas constituem um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço.

Essa forma de ver a técnica não é, todavia, completamente explorada.

Friedmann (1966) diz que “a partir do Paleolítico médio e superior, os trabalhos do homem para defender-se, alimentar-se, alojar-se, vestir-se, decorar seus abrigos ou seus lugares de culto implicam técnicas já complexas (...)” (FRIEDMANN, 1966).

Tanto para a Geografia quanto para a Arqueologia é fundamental o estudo das técnicas, pois é através delas que o homem pode medir seu nível cultural.

Segundo Gourou (1974), o nível da civilização seria medido pelo nível das técnicas.

“Sendo uma civilização uma combinação de técnicas de produção e de enquadramento, uma escala dos níveis de eficácia deve levar em consideração essas duas ordens técnicas”.

“[...] Em todos os casos, trata-se efetivamente de analisar, de localizar, de explicar, de responder a uma pergunta que é sempre a mesma: Como os fatos humanos do espaço estudado se

justificam? E, sobretudo, por que o conjunto de técnicas de produção (técnicas de exploração da natureza, técnicas de subsistência, técnicas da matéria) e de enquadramento (técnicas das relações entre os homens, técnicas de organização do espaço): a existência do menor grupo exige regras do jogo, técnicas de enquadramento. Essa soma de ligações e de técnicas é a civilização.

Em suma, todo grupo humano é sustentado por técnicas que fazem de seus membros seres ‘civilizados’. E não existem ‘selvagens’”. (GOROU. 1974, p 43).

Para SORRE, 1948, p 76, a noção de técnica estende-se a tudo o que pertence à indústria e à arte, em todos os domínios da atividade humana.

Assim, é importante tentar entender e compreender que essas técnicas são a peça chave para saber quais eram os hábitos e costumes dos povos pré- históricos, pois através dessas técnicas é que podemos saber quais eram seu modo de vida e sua relação com o espaço ocupado.

Segundo SANTOS, 1996, p 123 as transformações impostas às coisas naturais já eram técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como um momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. A isso também se chama técnica.

Ainda segundo este autor, as motivações de uso eram, sobretudo, locais, ainda que o papel do intercâmbio nas determinações sociais pudesse ser crescente. Assim a sociedade local era, ao mesmo tempo, criadora das técnicas utilizadas, comandante dos tempos sociais e dos limites da sua utilização.

A harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse modo, respeitosa com relação à natureza herdada e ao processo de criação de uma nova natureza. Produzindo-a, a sociedade territorial produzia, também, uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação e a continuidade do meio de vida. Exemplo disso é, entre outros, a rotação das terras e a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras sociais e regras territoriais, tendentes a conciliar o uso e a

“conservação” da natureza, para que ela possa ser, outra vez, utilizada. Esta preocupação já deve ter ocorrido desde tempos pré-históricos e é verificada atualmente.

Segundo FERREIRA (2002), a grande variabilidade e multifuncionalidade dos objetos líticos, utilização de diferentes técnicas na debitagem de lascas, morfologia diversa, induz o investigador a considerar que diferentes culturas habitaram a mesma área (Alto Paraná- SP) em épocas distantes ou correlatas. O mesmo, segundo Estevam (2003), pode-se dizer em relação à cerâmica.

No caso de se tratar de um contato, parte-se da suposição de que tanto os objetos altamente trabalhados, quanto os menos, em alguns sítios desta

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mesma região, foram encontrados em camadas estratigráficas comuns a eles; além da incidência de material cerâmico encontrado juntamente com material lítico em outros sítios da região, porém em número menor.

George (1974) diz que se a cultura é nacional ou regional, a técnica é universal. Essa é uma afirmação válida, pois povos de diversas partes do mundo produziam artefatos com técnicas semelhantes e com datas muito díspares umas das outras.

Como vimos FERREIRA (2002) lança a hipótese de que os povos pré-históricos regionais tenham tido contato com outras culturas e por isto poderia já não ser somente caçadores, mas também lavradores, pois há indícios de que estes confeccionavam artefatos de pedra lascada, porém de maneira bem mais tosca, além da polida, uma vez que os povos exclusivamente caçadores lascavam a pedra de maneira bem mais aprimorada, com retoques e artefatos bifaciais.

Fica comprovado que a região do Alto Paraná foi uma área de atração populacional pré-histórica, pela facilidade em obter a matéria-prima (rocha e argila) para confecção dos objetos líticos e cerâmicos, pela vegetação que abrigava grande diversidade de fauna e até megafauna, pela presença de cursos d´água de grande porte, que era fonte de fauna aquática e, portanto, também de alimento, de rios de menor porte que propiciavam água para beber, cozinhar e tomar banho, enfim, todo o ecossistema, por consideração da influência climática, além da possibilidade de paleoilhas e paleolagos, que são discutidos atualmente.

Assim, pela importância ressaltada sobre a tecnologia como meio de expressão de uma sociedade e pela escassez de dados sobre as populações pré-históricas na região e mesmo outros dados mais antigos (paleoilhas, paleoclima, etc.), este trabalho terá relevância no conhecimento da relação homem/meio, apropriação e transformação do espaço geográfico dessa região.

Atualmente o Turismo, entendido como um fenômeno econômico, social, político e cultural do mundo contemporâneo, instala-se com alta voracidade e tecnologia até mesmo em locais inacessíveis, causando total revolução no lugar, transformando as paisagens e as comunidades envolvidas. O turismo contemporâneo se caracteriza como um grande consumidor da natureza.

A relação do turismo com o espaço (meio) tem se dado, de modo geral, através da apreciação da paisagem na qual se materializam os elementos do espaço turístico: a oferta, a demanda, os serviços, os transportes, a infraestrutura, o poder de decisão, os sistemas de informação, promoção e comercialização (NOGUEIRA, 2006, p 12).

A oferta, traduzida pela distribuição geográfica do patrimônio (valores produzidos pela diversidade da natureza e pelos remanescentes da memória do passado) constitui-se na maior riqueza para a dinamização turística das comunidades.

Estudar as incidências espaciais da atividade turística e dar um tratamento geográfico às mesmas é de fundamental importância para que se minimize o uso massivo do espaço; se maximize seu uso construtivo e que o turismo possa efetivamente contribuir para o desenvolvimento local e regional, valorizando o patrimônio natural e cultural.

Ao se fazer uma relação da Geografia com o Turismo, numa perspectiva espacial, ressalta-se a compreensão dos fatores de ordem física, social, política e econômica em toda a sua variedade e complexidade. Ao tratar de Geografia e Turismo, na perspectiva espacial, procura-se identificar conceitos e categorias do espaço geográfico apoiando-se em autores que se dedicam ao estudo do espaço geográfico, do território, da região e do lugar, bem como da paisagem, destacando a relevância da Geografia para o Turismo, considerando o caráter transformador que essa atividade promove no espaço geográfico (TELES, 2009, p 23).

Diante dessa grande expressividade do turismo, a Geografia não poderia furtar-se de realizar a análise e interpretação das mudanças espaciais causadas pela atividade turística, buscando a compreensão da estrutura e dos processos que deram causas a essas transformações. Isso porque a Geografia é uma ciência que propõe pensar o mundo além das aparências, tentando superar as dicotomias (homem/meio; trabalho manual/

intelectual; teoria/prática; todo/parte) empenhando-se em compreender as relações entre sociedade e espaço para a realização da transformação social. O estudo do turismo no enfoque geográfico é de fundamental importância, pois a Geografia, por tradição, lida com as relações sociedade/natureza. Aliás, é a única ciência que desde a sua formação se propôs a estudar a relação entre o homem e o meio natural – o meio atualmente em voga é propalado na perspectiva que engloba o meio natural e social (MENDONÇA, 1993, p 54).

Sobre o tema do turismo dentro da Geografia, encontramo-nos em um momento de pensar como tratar o assunto conforme seu peso na reordenação do espaço geográfico no início do século XXI. Não devemos encarar a atividade como uma panacéia para áreas degradadas, nem como atividade totalmente perversa quanto ao dinamismo entre seus agentes, e sim caminhar para o exercício de encará-la como atividade intercultural ou ainda intersubjetiva, o que não impossibilita considerá-la em seu âmbito econômico e socioambiental.

4 CONCLUSÕES

Neste aspecto, a pesquisa “O Patrimônio Cultural e as Novas Territorialidades Culturais: Uma Realidade Emergente no Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02 Município de Presidente Epitácio / SP” tem por objetivo compreender as formas de apropriação do espaço geográfico pelo homem primitivo, por meio da análise do material arqueológico encontrado durante escavações, bem como a coleta de novos dados em

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campo, quando necessário, procurando identificar, através dos sítios compreendidos na região de Presidente Epitácio, para coleta de informações complementares, quais as técnicas utilizadas pelos povos pré-históricos que habitaram a região, bem como compreender a forma com a qual eles se relacionavam com o meio natural para a construção do espaço geográfico no qual habitaram e as transformações ocorridas (paisagem pretérita) e deixadas (paisagem atual).

O estudo destes aspectos culturais é de grande relevância, uma vez que, segundo ANDRADE, 2002, p. 34, pode se considerar como Patrimônio Cultural todo o conjunto de bens materiais ou não, mas que seja representativo da história de uma determinada sociedade e que a ela confere identidade, que, no caso, coloca em destaque o patrimônio cultural arqueológico pré-colonial, a fim de apreendermos a identidade regional.

Por meio da análise tecnotipológica será possível identificar os costumes que tais povos mantinham, pois, segundo ANDRADE (2002), a classificação de um objeto como patrimônio cultural requer como causa a busca da própria identidade do grupo. Identidade esta que, na sua ligação intrínseca com o lugar, foi e é passível de mudança ao longo do tempo.

Assim, não se colocará como causa para mudanças identitárias o tempo como sujeito da mudança, mas a própria criatividade humana, que implica na transformação dos lugares seguindo princípios que os tornem apropriados para o desenvolvimento de uma vida social aceita pelos seus habitantes.

Objetiva-se, também, fazer uma análise do ambiente passado, pois foram evidenciados materiais arqueológicos em diferentes níveis de deposição, ou seja, distintas ocupações: uma “mais recente” contendo material cerâmico entre 40/60 cm de profundidade e com decoração plástica escovada, comum entre os sítios de contato com jesuítas, que nos leva a deduzir uma datação prévia de 400 a 500 anos a.P.; um segundo nível de deposição entre 1,00/1,40 metros de profundidade com material lítico, sendo a possível segunda ocupação e material lítico ainda mais profundo entre 1,80/2,60 metros, sendo esta possivelmente a primeira ocupação, provando que este sítio possui uma gama riquíssima de artefatos arqueológicos, além de urnas funerárias contendo esqueletos e artefatos líticos rituais e de trabalho.

Outro fator que deve ser ressaltado é o contexto da área de enterramento, pois foram evidenciados três tipos de sepultamentos humanos; o primeiro deles foi com o corpo depositado dentro de urnas, que continham vasilhas cerâmicas menores e artefatos rituais como tembetás de quartzo e machadinhas polidas; o segundo tipo de sepultamento era realizado diretamente no solo com material ritual associado; e um terceiro tipo no qual o sepultamento era composto dos dois tipos de vasos anteriormente citados. Dado relevante a ser salientado neste contexto e que destoa do corriqueiro, é que, além da disposição dos enterramentos, estes fazem parte da área interna da aldeia.

Identificando e atestando estes dados, não apenas estaremos descobrindo uma parte de nossa própria história regional, mas avançando na compreensão da evolução do homem enquanto agente transformador do espaço que habitava e interagia com o meio, bem como propiciando o conhecimento, a valorização e divulgação deste patrimônio cultural, até agora adormecido, por meio da atividade turística.

Além do fato de que o patrimônio cultural tem de fazer sentido para a população e não só para o olhar do turista, que é um olhar transitório e efêmero.

Hoje, temos políticas públicas preocupadas com o desenvolvimento local, além de uma maior preocupação na preservação do patrimônio e na estruturação urbana para essas populações.

O passado é cada vez mais tema da atualidade. Os vestígios que são disponibilizados ao público são cada vez mais atrativos, sendo que as viagens e as visitas caracterizam um dos contextos mais habituais de acesso ao passado e seus restos materiais. E, também, o turismo é uma atividade que, em menos de um século, se transformou bastante, necessitando cada vez mais de atrações que permitam suprir o tempo do ócio; neste contexto, o patrimônio arqueológico é uma delas.

Os fatores que alimentam o desenvolvimento dos novos modelos turísticos (turismo rural e cultural em geral) são os que promovem a aproximação do público ao passado e à arqueologia. O patrimônio arqueológico e cultural de uma região serve como recurso para instrumentalizar o desenvolvimento comunitário, pois, a partir dele, pode fomentar-se a autovaloração e coesão da comunidade (de suas tradições e valores) que por sua vez serve como desenvolvimento econômico através de sua utilização como atrativo turístico.

A exemplo do que ocorre em vários países da América Latina, o Brasil é herdeiro de uma imensa diversidade cultural, intimamente associada a uma riqueza ambiental extraordinária que lhe dá suporte.

Uma diversidade patrimonial que abrange desde o legado das antigas culturas pré-históricas (patrimônio arqueológico), que é um representativo da distribuição no território das mais significativas manifestações humanas do passado em suas diferentes formas de expressão, até as migrações contemporâneas (portugueses, espanhóis, alemães, italianos e japoneses), representativo da diversidade. Apesar de possuir toda essa diversidade cultural, no Brasil a integração dos setores da cultura e do turismo, bem como o envolvimento das comunidades e a integração de suas dinâmicas e seus processos culturais, para desenvolver o turismo, é ainda muito recente.

Neste sentido, as estratégias ligadas ao uso do patrimônio arqueológico no Oeste do Estado de São Paulo para fins turísticos despontam como excelente laboratório para esta pesquisa.

A oportunidade para viabilizar essa investigação pode ser referenciada aos componentes da nossa trajetória nas pesquisas arqueológicas, acompanhando as dificuldades que existem em

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compartilhar e preservar os patrimônios arqueológicos brasileiros, principalmente aqueles que estão inseridos em áreas ameaçadas por empreendimentos de grande porte, como no caso da Usina Hidrelétrica “Engenheiro Sérgio Motta”, em cuja área de ação está inserido o Sítio Arqueológico Lagoa São Paulo – 02, bem como daqueles dos quais o material resgatado é depositado em laboratórios e museus sem contextualização, ou mesmo daqueles inúmeros sítios arqueológicos de arte rupestre, por exemplo, que são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, mas que, por falta de incentivos estão ameaçados de abandono no Parque na Serra da Capivara - Piauí.

É fundamental esta pesquisa para o enriquecimento da discussão teórica, embasando a questão da preservação do patrimônio cultural por meio do desenvolvimento do turismo arqueológico no Brasil, utilizando como estudo de caso, o Sítio Lagoa São Paulo – 02.

Por esses e outros fatores, está sendo de suma importância a realização desta pesquisa para aprofundarmos a discussão, ainda mais quando sabemos que tudo está por se construir diante da inconstância do debate da inclusão do patrimônio arqueológico no elenco das potencialidades de uso turístico no Brasil.

REFERÊNCIAS

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