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Risco à ulceração nos pés de diabéticos: estudo transversal

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Academic year: 2021

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ISSN: 1676-4285

Risco à ulceração nos pés de diabéticos: estudo transversal

Juliana Marisa Teruel Silveira da Silva¹, Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad¹, Mariana Angela Rossaneis², Sonia Silva Marcon²

1 Universidade Estadual de Londrina 2 Universidade Estadual de Maringá

RESUMO

Objetivo: Identificar a prevalência do risco à ulceração nos pés de pessoas com diabetes mellitus (DM) residentes em área rural. Método: Estudo transversal, realizado com 293 pessoas com diabetes mellitus tipo 2 e idade superior a 40 anos, considerando as características socioeconômicas, demográficas, dados clínicos e estilo de vida. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista, análise de prontuário e exame clínico dos pés. Resultado: O risco à ulceração foi encontrado em 37,2% no pé direito e 35,8% no pé esquerdo, predominando o grau de risco 2. A idade avançada, o baixo nível educacional, o uso de insulina e as outras complicações crônicas do DM foram fatores associados à maior prevalência de risco a ulceração nos pés.

Conclusão: Evidenciou-se a necessidade de implementação de ações que considerem as especificidades das populações rurais, principalmente no que se refere à mudança no estilo de vida para o controle do DM.

Descritores: Diabetes Mellitus; Pé Diabético; Estilo de Vida; População Rural; Enfermagem.

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INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é respon- sável por 90% a 95% dos casos e caracteriza-se por um estado de resistência à ação da insulina, associado a um defeito na sua secreção. O trata- mento é realizado por meio de mudanças com- portamentais e no estilo de vida, mas algumas pessoas necessitam de hipoglicemiantes orais e/ou insulina para obter o controle metabólico adequado(1-3).

O DM2 está associado ao alto risco de desenvolvimento de complicações microvascu- lares e macrovasculares, bem como de neuro- patias(4). A neuropatia diabética periférica afeta principalmente os membros inferiores e quando associada à doença vascular periférica e ao fator infecção definem um estado fisiopatológico denominado pé diabético(4-5).

O pé diabético é uma das complicações mais graves do DM, pois muitos casos evoluem para amputação. A repercussão na vida dessas pessoas é grande, gera incapacidades físicas e sociais, como perda de emprego e produtividade, além de afetar sua autoimagem e autoestima(6).

Devido às graves consequências que o DM2 traz para o indivíduo, família e sociedade, a prevenção e o controle dessa patologia são duas das prioridades dos serviços de atenção primária à saúde no Brasil. Contudo, dados epidemioló- gicos demonstram que a maioria das unidades básicas de saúde não estão estruturadas para oferecer o tratamento necessário às pessoas com DM2, na maioria das regiões brasileiras.

Essa realidade é ainda mais preocupante nas áreas rurais, onde as pessoas vivem longe dos serviços públicos de saúde(7).

A prevenção é o cuidado mais eficaz para evitar as ulcerações nos pés de diabéticos.

Estudos têm demonstrado que programas de educação que incluem exame regular dos pés, classificação de risco e educação terapêutica,

podem reduzir a ocorrência de lesões nos pés em até 50%(1,8).

Este estudo objetivou verificar a prevalên- cia do risco à ulceração em pés de pessoas com DM residentes em área rural de um município do sul do Brasil.

MÉTODO

Estudo transversal descritivo-exploratório, realizado com 293 portadores de DM2, cadas- trados em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da área rural de um município de grande porte no sul do Brasil.

A amostra foi calculada no programa Epi Info versão 3.5.3, considerando a prevalência estimada de 11% de diabéticos na população com 40 anos ou mais de idade(9),adotando-se o nível de confiança de 95% e erro amostral de 5%.

Os participantes foram selecionados por sorteio aleatório e convidados para participar do estudo via contato telefônico ou por meio de visi- ta domiciliar dos Agentes Comunitários de Saúde.

Foram excluídos os diabéticos em trata- mento dialítico, aqueles que tinham úlceras ativas nos pés e os que não apresentavam capa- cidade de raciocínio lógico e juízo preservados.

A coleta dos dados transcorreu nos meses de fevereiro e março de 2014 e foi integralmen- te realizada por uma das pesquisadoras, o que permitiu a uniformidade das avaliações e maior fidedignidade nos dados obtidos.

Utilizou-se um instrumento contendo da- dos sociodemográficos e clínicos, informações sobre o estilo de vida e doenças associadas, além de itens para registrar os dados identificados no exame clínico dos pés, bem como a classificação do risco à ulceração(10).

Para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC) foi verificado o peso com o mínimo de roupas possível e a altura sem sapatos. Poste-

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riormente, o IMC foi calculado por meio da divi- são do peso pela altura elevada ao quadrado e classificado em baixo peso (IMC < 18,5 kg/m2), eutrófico (IMC entre 18,5 a 24,9 kg/m2), sobrepe- so (IMC entre 25 a 29,9 kg/m2) e obesidade (IMC

≥ 30 kg/m2)(2). Verificou-se a pressão arterial após o repouso de 5 minutos, retirando as roupas do braço no qual foi colocado o manguito. O mem- bro foi posicionado na altura do coração, apoia- do com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido, e o entrevistado se manteve em silêncio durante o procedimento.

Os valores considerados normais foram quando a pressão arterial sistólica < 140 mmHg e pressão arterial diastólica < 90 mmmHg(11).

No exame dos pés, avaliaram-se os aspectos neurológicos e vasculares. A avaliação de altera- ção vascular foi realizada por meio da palpação dos pulsos pediosos e tibiais posteriores. Para a avaliação da neuropatia diabética utilizou-se o teste do monofilamento Semmes-Weinstein de 10 g(4). O risco à ulceração nos pés foi classificado em grau 0 quando não havia perda da sensibili- dade protetora (PSP) e nem doença arterial pe- riférica (DAP); grau 1 na presença de PSP com ou sem deformidade; grau 2, presença de DAP com ou sem PSP e grau 3 em casos de úlcera prévia(1). Ainda, o risco de ulceração foi categorizado em baixo risco de ulceração, incluindo os graus 0 e 1, e alto risco de ulceração para os graus 2 e 3.

Em cada UBS foi avaliada a existência de programas ou ações sistematizadas voltadas aos diabéticos, como a avaliação e classificação do risco à ulceração nos pés ou grupo de diabéticos.

A análise dos dados foi realizada no pro- grama SPSS 20. Para a identificação de asso- ciações entre as variáveis foi usado o teste de qui-quadrado com correção de Yates quando necessário. Em todos os testes considerou-se nível de significância de 5% (p<0,05).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Hu-

manos de uma universidade pública pelo parecer número 139/2013 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética – CAAE nº 19292513.9.0000.5231.

RESULTADOS

Participaram do estudo 293 pessoas com DM2, 64,5% eram do sexo feminino e 72% con- viviam com companheiro. Em relação à cor da pele, 64,5% se autorreferiram brancos e 25,3%

pardos. A média de idade encontrada foi de 63,7 anos, sendo 40 anos a idade mínima e 88 anos a máxima. Quanto à escolaridade, a média de anos de estudo encontrada foi de três anos, 27,6%

eram analfabetos, 36,5% tinham entre um e três anos de estudo e somente 12,3% estudaram mais do que oito anos.

A presença de algum grau de risco de ul- ceração nos pés foi encontrada em 37,2% dos participantes desse estudo, com predominância das alterações do grau 2, seguidos por alterações do grau 1 e grau 3, conforme demonstrado na Tabela 1. Quando agrupados os graus 0 e 1 em baixo risco e 2 e 3 em alto risco, encontrou-se que 24,9% dos participantes apresentavam alto risco no pé direito e 23,2% no pé esquerdo.

Tabela 1. Classificação do risco à ulceração nos pés de pessoas com DM2 residentes em área rural. Brasil, 2014.

Grau de Risco a ulceração

Pé Direito Pé Esquerdo

N % n %

Grau 0 184 62,8 188 64,2

Grau 1 36 12,3 37 12,6

Grau 2 56 19,1 53 18,1

Grau 3 17 5,8 15 5,1

Total 293 100 293 100

Fonte: autoria própria

O alto risco de ulceração foi diretamente proporcional ao fator idade (p=0,048), sendo que 31% da população maior de 70 anos apresenta-

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ram alto risco para lesões nos pés, enquanto que apenas 8% das pessoas com menos de 50 anos se enquadravam nessa classificação, conforme demonstrado na Figura 1.

0 10 20 3040 50 60 7080 90 100

40 a 49

anos 50 a 59

anos 60 a 69

anos 70 anos ou mais

92 86 82

69

8 14 18

31

Porcentagem

Baixo Risco Alto Risco

Ainda, o nível de escolaridade foi inversa- mente proporcional ao risco de desenvolver o pé diabético, uma vez identificado que quanto mais baixo o nível educacional, maior o risco à ulceração (p=0,040). Entretanto, nessa pesquisa o risco de ulceração nos pés não demonstrou significância estatística quando relacionado ao sexo, raça e situação conjugal (p>0,05).

Quanto aos hábitos relacionados ao estilo de vida, entre os entrevistados, 54,3% referiram fazer algum tipo de dieta alimentar para o con- trole do DM2 e 34,8% praticavam atividade física, sendo 23,2% de forma regular. Apesar disto, 37,2% da amostra apresentavam sobrepeso e 47,1% obesidade, de acordo com o IMC(1,4,9).

O consumo de bebida alcóolica foi referido por 31,4% da população estudada, desses 9,6%

relataram consumir álcool em excesso periodi- camente. Quanto ao tabagismo, 10,2% relataram ser fumante ativo e 36,2% ex-tabagistas.

A média do tempo de diagnóstico de DM2 foi de 9,4 anos, variando entre zero a 32 anos, sendo que em 56% dos casos o tempo de diagnóstico foi inferior a 10 anos e 44%, 10 anos ou mais. Quanto ao tipo de tratamento, a maioria dos participantes (62,5%) fazia uso do hipoglicemiante oral como tratamento, 9,9%

eram insulinodependentes e 25,3% utilizavam hipoglicemiante oral e insulina associados.

O tipo de tratamento mostrou-se estatis- ticamente associado ao risco de lesão nos pés (p=0,024), sendo que 50,7% das pessoas que faziam uso de hipoglicemiante oral e 28,1%

daqueles que utilizavam hipoglicemiantes e insulina apresentaram alto risco à ulceração nos pés. O tratamento também foi associado significativamente à perda da sensibilidade protetora dos pés: 46,3% dos pacientes que apresentaram perda da sensibilidade faziam uso do hipoglicemiante oral e 35,2% da associação de hipoglicemiante e insulina (p=0,037).

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) foi identificada em 86,3% dos casos. Ainda, no momento da entrevista e avaliação, a pressão arterial estava elevada em 39,6% dos partici- pantes do estudo.

Entre as complicações crônicas do DM2 encontradas, 29,7% possuíam retinopatia diabética, 8,5% referiram que já tiveram infar- to agudo do miocárdio (IAM), 6,5% acidente vascular encefálico (AVE) e 5,8% apresentavam nefropatia. A nefropatia, a retinopatia e o AVE foram as complicações crônicas associadas ao maior risco de ulceração nos pés, sendo o p-valor igual a 0,043, 0,023 e 0,015, respectivamente.

Entre as pessoas que apresentaram alto risco à ulceração, 43,7% tinham retinopatia diabética e 14% já tiveram um AVE.

Durante a realização do exame clínico dos pés, identificou-se que 11,3% dos participantes estavam com pulso pedioso diminuído em pé direito e 10,2% em pé esquerdo. Além disso, 17,7% da amostra apresentavam pulsos tibiais diminuídos em pé direito e 16,7% no pé esquer- do. O preenchimento capilar estava alterado em 2,7% dos avaliados. Verificou-se perda da sensibilidade protetora dos pés em 18,1% dos diabéticos. Ainda, 8,5% da amostra já tiveram ulceração prévia nos pés, sendo que o mediopé foi a região de maior ocorrência de lesões (48%).

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DISCUSSÃO

Os participantes desta pesquisa apresenta- ram baixo nível de escolaridade. A média de três anos de estudo está abaixo da média brasileira, que é de 8,8 anos(12). Esse dado corrobora com outros estudos realizados em área rural, que evidenciaram de um a quatro anos de estudo para a maioria dos participantes(13-14).

A variável anos de estudo se mostrou as- sociada estatisticamente à maior prevalência de risco à ulceração dos pés, sendo que quanto menor a escolaridade, maior risco à ulceração. O baixo grau de escolaridade é um fator importan- te a ser considerado no planejamento das ações educativas necessárias ao controle do DM2, pois pode interferir na compreensão do indivíduo so- bre os cuidados prescritos e, consequentemente, na adesão ao plano terapêutico(1,4,10).

Além disso, a baixa escolaridade pode restringir a aquisição de informações, devido ao comprometimento das habilidades de leitura, escrita e fala, bem como a compreensão dos me- canismos da doença, dos cuidados necessários e do tratamento(15). Assim, esse fator torna-se um desafio para as equipes de saúde, pois essa po- pulação requer ações de promoção e educação em saúde com linguagem que seja acessível.

A prevalência do pé de risco à ulceração foi identificada em 37,2% da amostra, predominan- do as alterações de grau 2, seguido por grau 1 e alterações de grau 3, números esses superiores quando comparados a estudo realizado na área urbana do mesmo município, que identificou que 12,3% dos participantes possuíam risco de ulceração nos pés(10). Ainda, em outro estudo realizado em um município da Espanha, os resul- tados demonstraram que 14,5% dos pacientes avaliados apresentavam grau 1 de risco à ulce- ração, 26% grau 2 e 14,5% grau 3(16).

Esses resultados indicam disparidades em relação à área urbana e rural. A maior prevalência

de alteração nos pés dos residentes em área rural pode estar associada à rotina dessa população que está mais exposta a traumas e lesões devi- das às atividades com a terra e com os animais e baixa adesão ao autocuidado.

Têm-se ainda as limitações relacionadas ao acesso aos serviços de saúde devido à distância, dificuldade de transporte e no trajeto até essas instituições. Nesse contexto, a assistência pre- conizada para o controle da doença, que inclui consultas médicas especializadas e exames periódicos, fica prejudicada e ainda é excluída de programas de acompanhamento e educação para o autocuidado. Muitos desses indivíduos só recebem algum tipo de assistência durante as visitas domiciliares das equipes da Estratégia Saúde da Família, contudo os recursos humanos e estruturais limitados das UBS não permitem que essa ação seja periódica e efetiva no controle do DM2 nessa população.

Quando agrupados os resultados em baixo risco e alto risco, verificou-se uma elevada pre- valência de pessoas com alto risco à ulceração nos pés. Esse valor foi superior ao identificado em outro estudo realizado na área urbana deste mesmo município, no qual descobriu-se que 8,8% dos diabéticos com 40 anos ou mais, residentes em área urbana, apresentavam alto risco à ulceração(10), o que novamente demonstra que a população rural está mais vulnerável aos riscos da ulceração e consequente amputação.

Durante a pesquisa identificou-se ainda que a avaliação dos pés e a classificação do risco à ulceração não eram realizadas em nenhuma das UBS da zona rural do município estudado. A maioria dos participantes demonstrou o desejo pela continuidade das avaliações, entendendo o significado dessas ações que podem diminuir o risco de ulcerações e consequentemente das am- putações. A classificação do risco à ulceração deve ser considerada no agendamento de retornos para avaliação destes pés na atenção básica(1,4,9).

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Em relação ao estilo de vida, apesar de mais da metade dos participantes referir a adoção de algum tipo de dieta ou controle alimentar, sendo que em 34,8% dos casos associado à atividade física, o índice de sobrepeso e obesidade ainda é alto. Acredita-se que por serem condições au- torreferidas, alguns participantes, mesmo não realizando dieta ou atividade física, afirmaram fazê-lo. O estilo de vida das pessoas com DM2 precisa ser readequado para evitar as complica- ções da doença, esse é o foco de atuação e um dos maiores desafios do enfermeiro, pois são fatores modificáveis, porém ainda há muita resis- tência às mudanças, principalmente relacionas à alimentação, atividades físicas e tabagismo(2,6,8). A obesidade é considerada um dos prin- cipais fatores de risco para o desenvolvimento do DM2, da HAS e das dislipidemias, ressaltan- do que em comunidades com baixa renda e escolaridade, como nas áreas rurais, essa é uma condição prevalente(17). Outra relação com a obesidade está na cultura da alimentação na zona rural, que desde o início precisava ser mais calórica, sempre preparada com muita gordura animal, para manter a força para o intenso traba- lho físico exigido pelas atividades rurais.

Quanto ao hábito de fumar, os resultados de um estudo realizado no nordeste brasileiro demonstraram 24% de tabagistas; já o estudo desenvolvido em Pernambuco encontrou 12%

de fumantes. O tabagismo é causa de aumento da morbimortalidade, o que contribui para o elevado número de amputações de membros inferiores relacionadas ao DM. Estudos relatam que tabagistas possuem risco de amputação elevado em 4,6 vezes em relação aos não taba- gistas. Neste sentido, faz-se necessário que os profis sionais de saúde contribuam com orienta- ções educativas que venham, além de apoiá-los, esclarecer aos fumantes quanto os malefícios do tabaco(18-19). A porcentagem de ex-tabagistas chama a atenção para a consciência dos riscos

do tabaco na população estudada. Os grupos de tabagismo já são uma realidade na zona ur- bana, agora há a necessidade de programá-los também na zona rural, para que mais pessoas possam abandonar o hábito de fumar.

A média do tempo de diagnóstico de DM2 para esta pesquisa foi semelhante a outros estu- dos em que a maioria dos participantes possuía tempo de diagnóstico de DM2 inferiores a 10 anos(15-16,18-19).

O tempo de doença é um fator que deve ser con siderado nas ações de prevenção do pé dia- bético, uma vez que estudos constataram que há maior propensão ao desenvolvimento de lesões em pacien tes com mais de 10 anos de duração da doença. Esses dados são relevantes, pois o diagnóstico de DM2 pode ser tardio, trazendo consigo inúmeras compli cações que contribuem para o aumento dos riscos de ulceração e ampu- tação de membros inferiores. Outro fator a ser considerado é que quanto maior o tempo de diagnóstico, menor será a adesão ao tratamento, ou seja, a variável tempo de diagnóstico possui relação inversa à adesão ao tratamento, o que torna maior o risco de complicações advindas do controle metabólico insatisfatório(15,16,18).

A HAS foi identificada como fator associado ao DM2. No momento da entrevista e avaliação, a pressão arterial estava elevada em 39,6% dos participantes deste estudo. Dados estes que se aproximam de outro estudo, em que 84,6%

dos pacientes eram hipertensos e 22,5% apre- sentaram pressão arterial elevada na coleta de dados(19). A prevalência de HAS é de duas a três vezes maior em diabéticos do que na população geral. Cerca de 70% dos diabéticos são hiper- tensos(20).

O controle glicêmico ineficaz, se associado à HAS, à obesidade e à dislipidemia, é fator pre- disponente ao agravamento e/ou surgimento de lesões em pés de diabéticos. Esses fatores são passíveis de mudança por meio de intervenções

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que estimulem a adesão ao tratamento destas patologias associadas e acompanhamento pe- riódico com o enfermeiro, para prevenir compli- cações nos pés(2,21).

As complicações crônicas do DM2, como a retinopatia diabética, a nefropatia e o AVE, também mostraram significância estatística em relação à prevalência do alto risco de ulceração.

A retinopatia é considerada risco pelo déficit visual, que pode atrapalhar as práticas de au- tocuidado, e a nefropatia, que pode ocasionar ressecamento e rachaduras nos pés(19).

Os resultados encontrados, relacionados às alterações de pulsos pediosos e tibiais, a perda da sensibilidade protetora dos pés e a ulcera- ção prévia, foram semelhantes aos dados de estudo realizado na Espanha, que identificou a diminuição dos pulsos em 16,6% da população pesquisada e a perda da sensibilidade protetora em 20,83%, ainda, 14,5% também relataram ulceração prévia(16).

A presença de pulsos pediosos ou tibiais posteriores diminuídos, o preenchimento capilar alterado e o histórico de úlceras prévias estão diretamente relacionados à presença de alto risco à ulceração(5,21). As alterações sensoriais po- dem afetar a sensibilidade dolorosa, percepção da pressão, temperatura e da propriocepção. A perda da sensibilidade protetora expõe o diabé- tico a fatores extrínsecos, pela insensibilidade a corpos estranhos e traumas(1).

Considerando a equidade como uma das principais diretrizes do sistema de saúde brasilei- ro, a população da área rural, que é vulnerável a diversos tipos de doenças devido ao acesso limi- tado aos programas de saúde, deve ser foco de discussões relacionadas às politicas públicas de prevenção, promoção e reabilitação da saúde(8).

O pé diabético pode ser prevenido por meio do controle glicêmico e outras medidas simples, como a avaliação periódica dos pés em busca de lesões, a hidratação, o corte de unhas

adequado e a secagem entre as interdigitais para evitar micoses (8,21).

A enfermagem, enquanto responsável pela educação para o cuidado, tem papel fun- damental na prevenção e detecção precoce das lesões nos pés dos diabéticos. O protocolo atual, indicado pelo Ministério da Saúde, enfoca a im- portância da avaliação dos membros inferiores das pessoas com diabetes durante a consulta com o enfermeiro como medida de intervenção para evitar o pé diabético(3).

Estudo realizado na região sul do Brasil ve- rificou que a maioria dos diabéticos internados por complicações apresentava baixo conheci- mento e atitude negativa em relação ao DM(22). Esses dados poderiam ser mais adequados se o déficit de conhecimento fosse suprido com a formação de grupos de diabéticos na atenção básica.

Apesar disso, não se verificou a prática de nenhuma atividade sistematizada de promoção à saúde das pessoas com DM assistidas pelas UBS que participaram dessa pesquisa. Tam- bém em nenhuma delas havia a realização de grupos de diabéticos e hipertensos, que tanto contribuem para disseminação de estratégias de autocuidado.

CONCLUSÃO

Identificou-se uma alta prevalência de risco à ulceração nos pés das pessoas com DM2 residentes em área rural que participaram deste estudo. Ainda, a maior parte dos indivíduos que compuseram a amostra possuíam excesso de peso, HAS e outras complicações relacionadas ao DM2.

Os serviços de atenção básica da área rural ainda precisam se estruturar para atender a de- manda de diabéticos com risco à ulceração nos pés e também aqueles sem risco no momento,

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que também precisam de pelo menos uma ava- liação anual dos pés.

É importante que os profissionais rece- bam capacitação para que se implemente um programa de atenção ao DM2 e outras doenças crônicas nos serviços de atenção primária à saúde, com ações de avaliação dos pés e clas- sificação do risco à ulceração e que atendam a especificidades da área rural.

A estratificação de risco de ulceração nos pés, realizada durante a consulta de enferma- gem ou visita domiciliar, é uma importante ferramenta para organização da assistência e alocação de recursos para prevenção e trata- mento precoce do pé diabético.

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Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.

objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

Recebido: 19/06/2015 Revisado: 19/08/2015 Aprovado: 25/08/2015

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