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ESTUDOS SOBRE A AQUISIÇÃO DE LÍNGUA INGLESA POR FALANTES NATIVOS DE LÍNGUA UCRANIANA

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ESTUDOS SOBRE A AQUISIÇÃO DE LÍNGUA INGLESA POR FALANTES NATIVOS DE LÍNGUA UCRANIANA

Ms. Ruth Mara Buffa - UNICENTRO/Irati

RESUMO. O estudo aqui apresentado busca traçar parâmetros de aprendizagem entre falantes nativos de Língua Ucraniana e falantes nativos de Língua Portuguesa que encontram-se em processo de aquisição de Língua Inglesa em ambiente formal de ensino. Esta pesquisa objetiva buscar mecanismos que facilitem a aprendizagem do primeiro grupo, uma vez que para aqueles, a Língua Inglesa se constitui em um terceiro idioma (L3), enquanto que para os falantes nativos de Língua Portuguesa, tal processo corresponde à aquisição de uma segunda Língua (L2). Considerando-se os poucos estudos desenvolvidos na área de aquisição de L3 e o contexto de ensino que se apresenta na região de Prudentópolis (PR), o arcabouço teórico disponível para o desenvolvimento dos estudos aqui apresentados partirão da Teoria da Processabilidade, proposta por Manfred Pienemann (2003), com base nos conceitos propostos pela Gramática Léxico-Funcional (Levelt, 1989). Os resultados obtidos apontam claramente para a adoção de uma metodologia diferenciada de ensino, devido à extrema instabilidade interlingüística entre os sistemas em foco.

PALAVRAS-CHAVE: Aquisição de LE – Bilingüismo – Processabilidade

ABSTRACT. This study aims to establish some learning parameters between native

speakers of the Ukrainian Language and the Portuguese Language ones who are under

the process of English Language acquisition in formal teaching settings. The research

presented here has its main purpose on the search for teaching devices to facilitate the

learning process of the former group since, for them, the English Language constitutes

itself in a third language (L3), while for the latter one, such process is a second language

(L2) acquisition one. Taking into account the few studies available in the field of L3

acquisition and the teaching context found in the region of Prudentopolis (PR), the

theoretical framework adopted here were the ones proposed by Manfred Pienemann

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(2003), based on the concepts presented in the Lexicon-Functional Grammar (Levelt, 1989). The outcomings point clearly towards the establishment of a new teaching methodology, due to the extreme interlinguistic instability among the three systems focused.

KEY WORDS: Foreign Language Acquisition – Bilingualism - Processability

Uma questão relevante a todo profissional envolvido com o processo de ensino e a aprendizagem eficiente de uma Língua estrangeira centra-se na metodologia a ser adotada em cada contexto de ensino. Princípios e pressupostos metodológicos somente são válidos quando relacionam-se à situação educacional que o docente, ou o futuro docente, encontrará em sala de aula.

A implantação da habilitação em Língua Inglesa no Campus Avançado de Prudentópolis oportunizou uma nova linha de investigações lingüísticas: adaptar metodologicamente o ensino desse idioma a falantes nativos da Língua Ucraniana. A maioria dos estudos disponíveis na área de aquisição de Línguas Estrangeiras focava na aquisição de uma segunda língua (L2), mas não abordava as questões pertinentes a uma terceira língua (L3). Partindo-se dessa constatação, foram desenvolvidos instrumentos de coleta de dados e um estudo do idioma ucraniano no alfabeto arábico 1 para, em um primeiro momento, analisar suas particularidades sintáticas e morfo-lexicais. A base teórica adotada para a análise e argumentação dos resultados obtidos foi disponibilizada pela Teoria da Processabilidade, proposta por Manfred Pienemmann (2003), com base nos conceitos propostos pela Gramática Léxico-Funcional (Levelt, 1989).

A TP, como proposta por Pienemann (2003) procura explicar a capacidade de processamento da linguagem na aquisição de uma língua por meio da definição de quais formas lingüísticas são processáveis em pontos diferentes do desenvolvimento. O escopo da Teoria busca, igualmente, demonstrar que o conceito de “processabilidade propicia condições para que se façam previsões que, quando submetidas a teste, podem indicar caminhos desenvolvimentais entre línguas tipologicamente diferentes”

1

E st es est u dos específicos for a m r ea liza dos e sist em a t iza dos pela a ca dêm ica Lu cia n a

Ter lh u k, a ca dêm ica de Let r a s/In glês n o Cam pu s Ava n ça do de P r u den t ópolis, ela m esm a

fa la n t e n a t iva da Lín gu a U cr a n ia n a , du r a n t e a vigên cia do pr ogr a m a de In icia çã o

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(Pienemann 2003, p.679). Os conceitos envolvidos no estudo desta teoria apontam para o papel central da variação interlingüística e da transferência da Língua Materna na formação de sua base empírica.

Pienemann (op. cit) afirma que a capacidade limitada de processamento caracteriza-se como uma hipótese padrão aceita nos estudos da cognição humana e, em suas pesquisas ele tenta explicitar o conceito de processador com base na Teoria da Gramática Léxico-Funcional, para definir os procedimentos processuais que levam à aquisição e à estruturação de um modelo de processador lingüístico. A partir dessas considerações foram desenvolvidos os estudos a seguir, com o objetivo de fornecer subsídios ao processo de ensino dos futuros docentes que encontrarão em suas aulas de Língua Inglesa, aprendizes cuja Língua Materna não é o Português, mas sim o Ucraniano.

1. Considerações sobre a gramática da Língua Ucraniana

O alfabeto da Língua Ucraniana, originalmente escrito em cirílico, é composto por 33 letras, sendo 10 vogais e 23 consoantes.

1.1.Sistema Fonético/Fonológico

São dez as vogais que se dividem em:

1) duras (não palatizadas)-/I/,/Е/,/а/,/u/,/o/

2) brandas-/i/,/ї/,/ye/,/ya/,/yu/

Se as vogais brandas forem precedidas de consoantes alveolares estas tornar-se- ão brandas também, ou seja, assimilarão um traço secundário palatal. Não existem vogais nasais em ucraniano. No ucraniano, as consoantes alveolares podem ser duras, como em kon (linha), ou brandas com um traço secundário palatal como em kón (cavalo).No português as consoantes não possuem esse traço secundário.

No ucraniano, a oposicão entre uma oclusiva como /t/ ou uma africada como /ts/

é suficiente para alterar o significado das palavras.Já no português as africadas não tem valor fonológico, ou seja, se a palavra chave for pronunciada como tchave o significado mantem–se.

O ucraniano tem todas as fricativas do português e ainda outras duas:/x/ com um

ponto de articulacão velar e /h/ com ponto de articulacão glotal.No ucraniano não há

distinção de /r/ como em caro e /R/como em carro.

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A consoante /l/ do ucraniano corresponde ao /l/ do português que é a consoante velarizada que ocorre no final da palavra papel.

Em ucraniano são permitidas várias seqüências silábicas:

Vogal(v)- como na palavra a(e) v.c- como na palavra arka(arco) c.v- como na palavra mama(mãe) c.c.v- como na palavra vsé(sempre)

c.c.c.v-como na palavra stratehya(estratégia) c.v.c- como na palavra stil(mesa)

c.v.c.c-como na palavra mist(ponte)

Podemos encontrar em posição inicial de sílabas uma, duas ou três consoantes, em posição final são permitidas até duas.

Acento.

O acento de palavras na lingua ucraniana é livre e pode ocorrer em qualquer silaba.

1.2 Sistema Sintático

O ucraniano não tem uma ordem fixa para os constituintes essenciais da frase:

sujeito(s), verbo(v) e objeto(o). Apesar da ordem mais usual ser svo, é o sistema flexional, essencialmente as terminações de caso, que dão conta das relações entre os diferentes constituintes, ou seja, um nome com função de sujeito pode aparecer antes ou depois do verbo, uma vez que tem um marcador nominativo que determina a sua função na frase. Compare-se os exemplos a seguir: nas frases em Português O avô acordou o menino/O menino acordou o avô, as funções sintaticas são alternadas em constituintes na troca da ordem das palavras, conferindo-lhes significados contraditórios. Já no ucraniano, nas frases, Didus rozbudila khloptsia (avô acordou menino)/ Khloptsia rozbudiv didus’ (menino acordou avô), ambas significam “o avô acordou o menino”, uma vez que didus está na sua forma nominativa e khloptsia na forma acusativa.

Mas, assim como em português, os constituintes com informações dadas

precedem habitualmente os constituintes com informações novas em ucraniano, como

pode-se perceber a seguir.

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Considerando-se que, em português, a ordem básica dos constituintes é svo (p.

ex. A criança comeu o bolo), pode-se ter uma alteração por fatores de ordem sintática ou de natureza discursiva. Como exemplo de ordem sintática temos as frases interrogativas, como em O que comeu a Maria? Verifica-se a inversão da ordem dos constituintes sujeito e objeto , passando-se a ter uma frase ovs.

Como exemplo de fatores de ordem discursiva temos (1) o João chegou/ (2) Chegou o João. O exemplo (1) poderia ser a resposta a uma pergunta como: Quem é que chegou? Sabemos que chegou alguém mas não sabemos quem.

Sintagma nominal.

O artigo.

O ucraniano, ao contrário do português e do inglês não tem artigo definido ou indefinido. A diferença entre os valores de definidos e indefinidos pode ser feita através da colocação do sujeito na frase:

1) Se estiver no inicio tem valor definido, uma vez que é informação conhecida Student stuknuv dveri. (estudante bateu porta).

2) Se estiver no fim tem valor indefinido

U dveri stuknuv student. (a porta bateu estudante).

O Nome.

Os nomes em ucraniano tem marcas de caso, suas terminações podem indicar diferentes funções que podem ter na frase.Em ucraniano os nomes apresentam sete casos diferentes:

Nominativo-sujeito(o João leu o livro) Acusativo-objeto direto(o João leu um livro) Genitivo-posse(o livro do João)

Dativo-objeto indireto(eu enviei um livro ao João) Locativo-local(o João vive em Kiev)

Instrumental-o João cortou o pão com a faca) Vocativo-(Ó Maria!)

A palavra voda(água)por exemplo, é do gênero feminino e segue as seguintes

terminações de caso:

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Nom-voda Acus-vodu Gen-vodu Dat-vodi

Instr-vodóiu Loc-vodi Voc-vódo!

Além disso os nomes variam em gênero e numero.

Gênero - masculino, feminino e neutro.

As formas do masculino e feminino provêm de radicais distintos:

khlopchyk/divchyna(menino/menina),tcholovik/ zhinka(homem/mulher),

no entanto, todos nomes tem um marcador de gênero.Normalmente é a terminação da palavra no caso nominativo que indica o gênero:

As terminações a e ia são marcadores femininos, e as consoantes duras marcam habitualmente o masculino; a maioria dos nomes terminados em o/e sao do gênero neutro.

Quanto ao número a maioria dos nomes masculinos no plural terminam em v, os femininos através de v, va ou i e os substantivos neutros substituem as terminações o e a por e e ya.

Adjetivo

Os adjetivos precedem sempre o nome e concordam em gênero, número e caso, como no em Na mama krasiva suknia (na mãe bonito vestido) = A minha mãe está a usar um bonito vestido.

Pronomes

Os pronomes apresentam casos (exceto o vocativo), sendo que os pronomes com função de sujeito encontram-se quase sempre antes do verbo, e os pronomes de objeto antes ou depois. Os pronomes possessivos e demonstrativos precedem o nome ou sintagma nominal e concordam com ele em número, gênero e caso.

No caso possessivo a posse exprime-se pelo genitivo, como em Tvóre Tarása

Chevtchénka (as obras de Tarás Chevtchenko),diferente do inglês que é marcado pela

presença do apóstrofo(`), como em Davis`house (casa de Davis),ou presença do (`s)

como no exemplo Mary`s book (o livro da Mary).

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Sintagma verbal - tempo/ modo/ aspecto.

O perfectivo não tem tempo presente. Uma ação que foi ou será completada.O imperfectivo denota uma ação incompleta, contínua ou repetida. Para cada verbo imperfectivo há um verbo perfectivo.Vejamos os seguintes exemplos:

1) verbo imperfectivo: Vin tchetav knezhku (ele estava a ler um livro).

2) verbo perfectivo: Vin protchetav knezhku (ele leu um livro).

O prefixo da segunda frase permite formar o verbo perfectivo a partir do verbo imperfectivo.

Formação dos verbos perfectivos e imperfectivos.

A maior parte dos verbos é formada a partir do mesmo radical.Temos a seguir os seguintes pares de formação de verbos perfectivos e imperfectivos.

1) pares em que a forma de base é a imperfectiva e o perfectivoé formado através da adição de um prefixo, por exemplo tchetav-protchetav.

2) pares em que a única diferença entre os dois é a vogal que precede a terminação de infinitivo-ty, por exemplo: navchyty(perfect)-navchaty(imperfect).´´ensinar``.

3) pares em que a forma de base é a perfectiva e o imperfectivo se forma por meio de um alargamento do radical,por exemplo:vidpotchete(perfect)

vidpotchevate(imperfect)´´descansar``.

4) o perfectivo é marcado pela presença do sufixo ´nu`no radical, por exemplo:

znykaty(imperfect)- znyknuty(perfect)´´desaparecer``.

5) há pares que distinguem pela posição do acento, por exemplo:posipáte(imperfect)-posípate(perfect)´´espalhar``.

O ucraniano não usa diacríticos na escrita para assinalar a posição do acento na palavra, como no exemplo: Navtchiti(perfectivo) /navtchati(imperfectivo) = ´´ensinar``.

Presente

Só os verbos imperfectivos podem ser conjugados no presente. As terminações

são diferentes para cada pessoa do singular e do plural.Existem duas conjugações e

dentro dessas conjugações há um grande numero de radicais diferentes que são

exclusivos dela.

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Na conjugação I , a principal distinção é entre os radicais que terminam em vogal e os radicais que terminam em consoante. Se tivermos um verbo em que o radical termina com a vogal a (chitaty - ´ler`), a vogal de ligação não é-e- mas sim -ie- :chytaie.

Na conjugaçao I o acento é estavel e incide na mesma silaba do infinitivo.

Na conjugação II o acento não é estável e pode ocorrer sobre diferentes silabas do verbo.

Passado

No passado as formas dos verbos concordam com o sujeito em gênero e número e não em pessoa . Para formar o passado, substitui-se o marcador de infinitivo-ty pelas seguintes terminações :

-v(chytav) masculino singular -la(chytala) feminino singular -lo(chytalo) neutro singular

-ly(chytaly)plural(todos os gêneros)

Futuro

As formas do futuro dos verbos perfectivos são as mesmas do presente. Há duas formas para formar o futuro dos verbos imperfectivos: analítica (como no Portugues ”eu vou trabalhar”) ou sintética (como em português “eu trabalharei”).

Para formar o futuro analitico usa-se o verbo byt ´ser`no presente juntamente com a forma imperfectiva do verbo principal do infinitivo, como por exemplo: Byd`esh pratsiuvaty´´vais trabalhar``.

Para formar o futuro sintético usa-se a forma imperfectiva em diferentes terminações de pessoa/número.

Negação

O ucraniano é uma lingua de concordancia negativa. A concordância negativa acontece quando numa frase há dois ou mais elementos negativos que expressam uma única negação, como em Ivan ni pro scho ne hovore (Ivan sobre nada não fala).

Em Português esta frase pode ser considerada agramatical. Em ucraniano, no

entanto, os dois elementos neivos podem aparecer juntos na frase precedendo o verbo.

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Frase complexa.

1) Oração relativa

Iakyy é o pronome relativo mais usado e pode significar´que`,´o que`. Ou ´quem`. Este pronome concorda em gênero e numero com o antecedente e recebe o caso que a oração pede.Exemplo: Tam sydytch khloptyk, iakey meshkaie v Brazely (Ali está sentado o menino que mora no Brasil/ o menino que mora no Brasil está ali sentado).

Scho ´que`, quando pronome pode servir para introduzir orações relativas, sendo assim usado, mantém sempre o caso instrumental (gênero masculino) e aso dativo (gênero feminino): Tam sydytch khloptyk, scho meshkaie v Brazely (Ali está o menino que mora no Brasil).

2) Oração completiva

Para formar orações completivas usa-se a conjunção scho´que`: ia dóbre znaio , scho vone budut tut zavtra v ranenko (Eu bem sei que eles estarão aqui amanhã de manhãzinha).

2. Considerações sobre os resultados obtidos

Para conseguir uma exposição clara do comportamento lingüístico dos falantes nativos de Língua Ucraniana, foram selecionados 16 alunos da 2ª série do Ensino Médio de escolas públicas da cidade de Prudentópolis, no mês de março de 2008. O critério de seleção foi o de não haver tido contato com a Língua Inglesa no Ensino Fundamental, mas somente quando da entrada neste nível de ensino, o que significa a aquisição de conhecimentos exclusivamente por via escolar.

A inclusão dos aprendizes do Ensino Médio na pesquisa forneceu um recorte válido para a investigação na medida em que estes estudantes trazem consigo as estruturas da Língua Ucraniana ainda ativas nas operações lingüísticas, operando simultaneamente com as estruturas da Língua Portuguesa. Neste sentido, a aquisição da Língua Inglesa se configura em uma terceira estrutura, gerando um novo processamento interlingüístico.

Ao analisarmos as operações cognitivas relativas ao estágio de reconhecimento

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comparativamente aos resultados acadêmicos, os estudantes tiveram um desempenho geral de 13 acertos em um grupo de 16 amostras.

Este procedimento confirma a previsão da TP de que o início da aprendizagem interlingüística se dá pela internalização de lexemas, os quais agregam em sua entrada lexical os NPs a eles relacionados. Além disso, estes aprendizes possuem, à sua disposição, um léxico mental mais amplo, o que lhes disponibiliza uma gama de opções morfo-sintáticas maior do que a dos falantes monolíngües.

Em relação ao estágio no qual a exigência sintática visa o estabelecimento da ordem canônica do inglês, verificamos alguns fatos interessantes:

1º) Quando da proposição para a verificação de elementos pronominais e da relação sujeito/verbo, o desempenho ficou abaixo do esperado. Uma explicação provável para este fato talvez seja a falta de um pronto reconhecimento de uma estrutura fixa e definida, como é a do inglês, considerando-se que, na Língua Ucraniana, a ordem é apenas uma variação, e não uma regra.

2º) Em relação à questão objetiva, que tratava diretamente da identificação e posicionamento pronominal, também houve um desnível interlingüístico no processamento destes elementos. A estrutura materna explica esse fato: na Língua Ucraniana, os pronomes possessivos e demonstrativos precedem o nome ou sintagma nominal e concordam com ele em número, gênero e caso, sendo que no caso possessivo a posse exprime-se pelo genitivo.

A análise do estágio no qual se prevê a concordânca morfológica do NP e o refinamento sintático em relação à posição do auxiliar em posição frontal e à inclusão do elemento negativo, demonstra fatos ainda mais surpreendentes. O nível de acertos chegou a ser comparável com os dos acadêmicos do 2º ano nas questões expandidas, mas extremamente baixo nas questões objetivas.

Por se tratar de um sistema em fase de adaptação, pode-se pensar que o reconhecimento das formas corretas se dá em um número limitado de opções, uma vez que não há parâmetros de comparação nem em português e nem em ucraniano. Ou seja, a estrutura ainda não foi aprendida, pelo fato da interlíngua não ter encontrado um

”atalho” para ela.

Quanto ao estágio em que foram envolvidos a concordância sujeito/verbo e

ainversão frasal, temos o seguinte quadro:

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1º) Na primeira proposição – “What´s your name?” – não havia muito trabalho para a interlíngua, uma vez que esta estrutura padrão é a preferida dos professores para memorização dos alunos em fase inicial de aprendizagem.

2º) Na segunda proposição – “Where are you from?” - apesar do número elevado de acertos, 9 em 16 amostras, uma variação interessante ocorreu quatro vezes: “You are from where?”. Esta variação só foi registrada neste grupo, o que pode ser atribuído à interferência interlingüística considerando-se que, pela peculiaridade própria da Língua Ucraniana em relação à ordem sintática,os constituintes com informações já dadas precedem habitualmente aqueles com informações novas (cf. Cap. IV). Neste caso, a informação a ser dada é “ de onde”.

3º) Uma estrutura do tipo “How do you spell your last name?”, por sua complexidade morfo-sintática, levou a maioria dos estudantes à omissão. Não havia na proposição nenhum elemento morfológico facilmente reconhecível e significativo, além do que a estrutura exigia muitas operações interlingüísticas para sua efetivação.

4º) Tal como na proposição 2, a informação dada precede a informação nova, ocorrendo a troca de posição dos consituintes. Ao invés da seqüência “Where is Mr.

Smith from?”, a forma variante de maior ocorrência foi “Where is from Mr. Smith?”, confirmando-se o comportamento lingüístico descrito anteriormente.

5º)Na proposição 5 – “Excuse me, what’s her name?” – a estrutura padrão não foi reconhecida, e ocorreram várias tentativas de inserção do pronome me na ordem sintática, operação da qual se pode inferir falha no reconhecimento interlingüístico.

Em todos as proposiçõs feitas, foi possível observar a forte influência da língua materna tentando operacionalizar o novo conhecimento lingüístico. Pode-se pensar em uma interlíngua própria, que não leva em consideração a estrutura da L2, o português, buscando subsídios na GU orginal para sua efetivação.

Em nível acadêmico, houve o acompanhamento de dois falantes nativos de língua ucraniana durante os dois primeiros anos da graduação em Letras/Inglês, sendo possível observar, informalmente, aspectos lingüísticos interessantes. O primeiro deles refere-se à morfologia: estes indivíduos recorrem, primeiro, ao léxico da língua ucraniana na tentativa de acomodar os novos items lexicais provenientes do inglês.

Durante o primeiro ano da graduação, os acadêmicos apresentaram enormes

dificuldades com o reconhecimento morfo-semântico dos conteúdos apresentados e

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algumas inversões sintáticas incomuns.

Considerando-se o arcabouço teórico disponível, tal fato ocorria devido à inexistência de uma “ponte” interlingüística entre os três idiomas em foco, os quais eram tipologicamente dessemelhantes: o ucraniano, o inglês e o português. Não havia, portanto, como buscar subsidios em apenas um dos sistemas, como o fazem os falantes de português, pois para aqueles, o inglês representa uma L3. Foi possível observar as várias tentativas de adaptação dos mecanismos de aprendizagem, que ora pendiam para o ucraniano, ora para o português.

Ao longo daquela série, o desenvolvimento do grupo de falantes nativos de português seguiu como o previsto para aquela etapa de aprendizagem, enquanto que para os falantes nativos de ucraniano, o desempenho foi somente razoável. As tentativas para conciliar os três sistemas lingüísticos parecia longe de um resultado satisfatório, porque não havia nenhuma alternativa de ensino e/ou indicação metodológica para facilitar o processo. Em uma decisão arriscada, mas consciente, decidi aprová-los para a segunda série, confiando nos resultados dos esforços que havia presenciado até então.Os acadêmicos foram informados desta opção e concordaram em continuar em seu empenho de aprendizagem.

Ao iniciar a segunda série procuramos, em conjunto, encontrar soluções para superar as dificuldades anteriores e prosseguir no processo. Analisamos as dificuldades e decidimos trabalhar juntos na análise sintática e morfo-semântica do inglês para comparativamente, estabelecermos as “pontes” que faltavam para a adaptação interlingüística. Foi nessa época que a acadêmicas Luciana Terlhuk, que havia se inscrito como bolsista BIC da UNICENTRO, trouxe os resultados de seus estudos sobre a gramática da língua ucraniana. O estudo, apresentado neste trabalho, trouxe os subsídios necessários ao esclarecimento de vários pontos de dificuldades surgidas ao longo da primeira série. Foi possível definir, de maneira geral, quais elementos serviriam de apoio, e quais seriam descartados na aquisição da L3.

Ao longo da segunda série foi possível testemunhar o rápido desenvolvimento da gramática interlingüística da L3, à medida que as estruturas apresentadas oscilavam entre os dois sistemas na busca de referências de apoio. E, ao final da segunda série, observou-se o salto qualitativo desses dois acadêmicos em relação aos demais colegas:

os progressos de aprendizagem foram visivelmente maiores do que aquele verificado

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entre os falantes nativos de português.

Este caso ilustra e explica, especulativamente, o desempenho dos aprendizes na aquisição de LE. Os falantes nativos adultos de língua ucraniana precisaram desenvolver “mecanismos de compensação” que oscilavam entre os dois sistemas, aprendendo a controlar o que Pienemann (2003, p.706) classificou de “dimensão de variação”. Some-se a isso, a pressão constante da formação formal de um curso de graduação e a necessidade de conhecer a L3 em todos os seus aspectos lingüísticos e funcionais.

No caso dos estudantes adolescentes do Ensino Médio e falantes também nativos de língua ucraniana, pode-se pensar em mecanismos compensatórios semelhantes, mas livres das pressões a que estavam submetidos os acadêmicos. A maior “liberdade” para explorar a dimensão de variação favoreceu o bom desempenho observado por meio dos dados coletados. É possível especular na grande vantagem de possuir dois sistemas lingüísticos à disposição, em comparação com apenas um – dos falantes nativos de português – dentro do qual, após superadas as dificuldades iniciais, há uma variedade muito maior de escolhas a fazer.

Além disso, o contato sistemático dos adolescentes com as línguas ucraniana e portuguesa, conferem dinamicidade a ambos os sistemas, diferentemente daquelas situações em que os sujeitos estão expostos a um contato ocasional com somente uma delas.

Referências

LEVELT, W.J.M. Speaking: From Intention to Articulation. Cambridge, MA: MIT Press, 1989.

PIENEMANN, Manfred. Language Processing Capacity. In: DOUGHTY, Catherine J.

& LONG, Michael H. (ed). The Handbook of Second Language Acquisition. USA:

Blackwell Publishers Ltda, 2003.

Referências

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