IX Simpósio Nacional de Ciência e Meio Ambiente – SNCMA – III CIPEEX 1335
CONFLITOS DE USO DA TERRA NAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NA BACIA HIDROGRÁFICA DO MANANCIAL DO ALTO CURSO DO RIO SANTO ANASTÁCIO – PONTAL DO PARANAPANEMA
– SÃO PAULO - BRASIL
Matheus Naoto Archangelo Okado 1 Antonio Cezar Leal 2
Resumo: Este trabalho teve como objetivo identificar o uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do manancial do Alto Curso do Rio Santo Anastácio, na região do Pontal do Paranapanema, estado de São Paulo, Brasil, com base nas imagens do satélite WolrdView 2, bem como as ocorrências de conflitos de uso da terra nas áreas de preservação permanente (APP), tendo como referência o Código Florestal brasileiro.
Utilizando os recursos disponíveis no geoprocessamento, foi possível mapear seis classes de uso e cobertura da terra que, subpostas às delimitações das áreas de preservação permanente, possibilitou identificar e mensurar os locais de conflitos, subdivididos nos cinco municípios com área na bacia hidrográfica. Ao final, identificou-se que o uso da terra em toda a área de estudo é majoritariamente destinado às pastagens, o que se refletiu também nas áreas de preservação permanente. Constatou-se que na bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio as áreas de preservação permanente possuem 36,65% de área florestal e 63,35% com inadequados usos antrópicos, o que exige medidas para a recuperação e proteção dessas APP.
Palavras-Chave: Uso da terra; áreas de preservação permanente; conflitos, bacia hidrográfica.
LAND USE CONFLICTS IN PERMANENT PRESERVATION AREAS IN THE WATERSHED OF THE UPPER SANTO ANASTACIO RIVER –
PONTAL DO PARANAPANEMA – SÃO PAULO – BRAZIL
Abstract:
This study aimed to create a land use map of Upper Santo Anastácio river watershed, in Pontal do Paranapanema, state of São Paulo, Brazil, based on the WolrdView 2 satellite images, as well as indentify land-use conflicts in permanent preservation areas, based on the Brazilian Forest Law. By using existing resources in GIS, it was possible to map six classes of land use that, once placed under the permanent preservation areas, identified and measured the location of conflicts. The survey of land use and conflict areas was subdivided into the five counties that constitute the river basin. At the end of the study, land use was identified as mostly attributed to pastures, which was also reflected in the areas of permanent preservation. It was verified that the hydrographic basin of the Upper Santo Anastácio river has 36.65% of forest area and 63.35% of anthropic activity in its permanent preservation areas.
Keywords: Land use; permanent preservation áreas; conflicts; watershed.
1 Graduando em Engenharia Ambiental (Engenharia Ambiental, FCT - UNESP, Brasil). FCT – UNESP, Brasil. mna.okado@gmail.com
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2 Doutor em Geociências, Unicamp, 2000. Professor do Departamento de Geografia da FCT/UNESP, campus de Presidente Prudente. Pesquisador
PQ/CNPq. E-mail: cezarunesp@gmail.com.
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1. Introdução:
Devido à fragilidade do solo e ao processo de ocupação e uso da terra que, segundo Stein, Ponçano & Saad (2003), são predominantemente inadequados da forma como são realizados usualmente, ferindo a capacidade de suporte natural do meio e tendendo a gerar erosões, a bacia hidrográfica do Rio Santo Anastácio encontra-se com processos de assoreamento avançados e impactando seus cursos hídricos. Perspectiva já demonstrada em Silva (2006), que afirma que o Rio Santo Anastácio se encontra com seu leito principal e dos seus afluentes completamente assoreados. Além dos danos ambientais, o rio ainda recebe águas residuais, ainda que tratadas, oriundas de abate de bovinos, de laticínios e curtumes em quantidades superiores à sua capacidade de suporte, o que vem degradando cada vez mais a qualidade de suas águas. Algumas dessas características e problemas também podem ser observadas na bacia hidrográfica do manancial, localizado no alto curso do Rio Santo Anastácio.
Como forma de minimizar o assoreamento dos cursos hídricos da bacia hidrográfica, e promover o seu correto manejo, é importante que os mesmos sejam protegidos através do isolamento, plantio de mudas e manutenção da vegetação nativa ao redor dos cursos d’água e suas nascentes, proteção essa que deve fornecida pelas áreas de preservação permanente com vegetação arbórea, como estabelece a Lei Federal Nº 12.651/2012, conhecida popularmente como Código Florestal, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa.
De acordo com o estabelecido nesta lei, em seu Art. 3º, inciso III, a área de preservação permanente é definida como:
(...) área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Brasil, Lei 12.651/2012, Art. 3º).
A mesma lei define as dimensões das áreas de preservação permanente e as considera, em seu Art. 4º, inciso I, como:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; (Brasil, Lei 12.651/2012, Art. 4º).
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Em caráter complementar ao estabelecido na Lei Federal Nº 12.651/2012 , a Lei Municipal nº 153/2008, que trata do Zoneamento Urbano do Município de Presidente Prudente estabelece que:
Art. 23. As Zonas de Preservação e Proteção Ambiental - ZPPA destinam-se exclusivamente a preservação e proteção de mananciais, fundos de vales, nascentes, córregos, ribeirões, matas e vegetações nativas. Quaisquer obras nestas zonas restringem-se a correções de escoamento de águas pluviais, saneamento, combate à erosão ou de infraestrutura, e equipamentos de suporte às atividades de lazer e recreação.
Parágrafo único. Os limites das zonas de preservação e proteção ambiental deverão cumprir os índices exigidos pelos órgãos competentes, sendo os mínimos que seguem:
a) 30 metros do leito para: Córrego do Veado, Córrego do Limoeiro e o Córrego da Colônia Mineira e seus afluentes;
b) 50 metros de raio para nascentes;
c) 50 metros do leito para: Córrego da Cascata, Córrego do Gramado, Córrego Taquaruçú, Córrego da Onça, Ribeirão do Mandaguari, Córrego da Anta e seus afluentes;
d) 30 metros do leito para os afluentes do Córrego do Cedro;
e) 60 metros do leito para os afluentes do Ribeirão ou Rio Santo Anastácio; (grifo nosso) f) 150 metros do espelho d'água do Balneário da Amizade;
g) as áreas com cota inferior a 1,50 metros, medida a partir do nível máximo do Balneário da Amizade e situadas a uma distância mínima, inferior a 100 metros das zonas de que tratam as alíneas “a” e “f” deste artigo;
h) as áreas cobertas por mata e toda forma de vegetação nativa.
Nesse contexto, o presente trabalho apresenta o uso e cobertura da terra e as áreas de preservação permanente dos cursos d’água da bacia hidrográfica do manancial do Alto Curso do Rio Santo Anastácio, de forma a identificar as áreas onde o uso da terra, em suas diferentes formas, encontra-se inserido nos limites das áreas de preservação permanente das nascentes e cursos d’água, gerando conflitos entre as finalidades protetivas das áreas de preservação permanente e o uso exploratório da terra.
2. Material e Métodos 2.1. Área de estudo
Localizada entre as coordenadas 22º 07’37’’S e 22º16’52’’S e 51º19’37’’W e 51º31’27’’W, a bacia hidrográfica do manancial do alto curso do Rio Santo Anastácio é responsável pelo abastecimento de 30% da população do município de Presidente Prudente, o que corresponde a aproximadamente 67.560 habitantes, considerando-se os dados do censo do IBGE (2010). O município está localizado na porção oeste do Estado de São Paulo, sendo capital regional e maior cidade da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema (UGRHI - 22).
A bacia hidrográfica tem como principal curso d’água o Rio Santo Anastácio, que percorre
um trecho de 20,5 km no sentido SE-NW, até a represa de abastecimento da Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). A jusante da represa, o rio percorre no
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mesmo sentido até desaguar no Rio Paraná, tendo sua bacia hidrográfica como parte integrante da UGRHI – 22.
A bacia hidrográfica supracitada possui 197,9 km², compondo parte dos municípios de Álvares Machado, Anhumas, Pirapozinho, Presidente Prudente e Regente Feijó. Sua localização geográfica pode ser observada na Figura 1.
Figura 1 – Localização geográfica da bacia hidrográfica do manancial do Alto Curso do Rio Santo Anastácio
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51°31'27"W 51°19'46"W
22°16'52"S 22°16'52"S
Des. e Org. Por: Eduardo Pizzolim Dibieso