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A BASE DOUTRINÁRIA DAS TROPAS REGULARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO FACE ÀS AMEAÇAS IRREGULARES NUM AMBIENTE DE OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf JULIANO TRINDADE MARTINS DE CAMPOS

Rio de Janeiro 2020

A BASE DOUTRINÁRIA DAS TROPAS REGULARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO FACE ÀS AMEAÇAS

IRREGULARES NUM AMBIENTE DE OPERAÇÕES NO

AMPLO ESPECTRO

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Maj Inf JULIANO TRINDADE MARTINS DE CAMPOS

A BASE DOUTRINÁRIA DAS TROPAS REGULARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO FACE ÀS AMEAÇAS

IRREGULARES NUM AMBIENTE DE OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa.

Orientador: Ten Cel Inf Rogerio Gomes Marques

Rio de Janeiro 2020

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C198b Campos, Juliano Trindade Martins de

A base doutrinária das tropas regulares do Exército Brasileiro face às ameaças irregulares num ambiente de operações no amplo espectro. / Juliano Trindade Martins de Campos – 2020.

40 f : il. ; 30 cm.

Orientação: Rogerio Gomes Marques.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares)一Escola de Comando e Estado- Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2020.

Bibliografia: f. 37-40

1. OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO.

AMEAÇAS IRREGULARES I. Título.

CDD 355.4E

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Maj Inf JULIANO TRINDADE MARTINS DE CAMPOS

A base doutrinária das tropas regulares do Exército Brasileiro face às ameaças irregulares num ambiente de

operações no amplo espectro.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa.

Aprovado em 02 de novembro de 2020.

COMISSÃO AVALIADORA

________________________________________

Rogerio Gomes Marques- Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

____________________________________________

- Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_____________________________________________________

- Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

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Aos soldados brasileiros que diuturnamente trabalham pela manutenção da nossa soberania.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, TC Gomes Marques, pelas orientações precisas e oportunas.

À minha esposa, pela compreensão por minha ausência nos momentos de lazer para confeccionar o presente trabalho.

(7)

“À Pátria tudo se deve dar, sem nada exigir em troca, nem mesmo compreensão”

Antônio de Siqueira Campos

(8)

RESUMO

O Exército Brasileiro, nos últimos anos tem sido cada vez mais empregado em operações de Garantia de Lei e da Ordem (GLO), o que aumentou sobremaneira o rol de capacidades requeridas de suas tropas para o cumprimento dessas missões, sem, no entanto, abrir mão das capacidades clássicas de defesa interna. As unidades operativas foram empregadas nos grandes eventos, dentre eles, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, missões essas desenvolvidas em centros urbanos, em um contexto próximo às operações de GLO. Na faixa de fronteira, as Forças Armadas atuam ao longo de milhares de quilômetros para coibir o tráfico de armas, drogas e demais crimes transfronteiriços. Tanto nas operações de GLO, quanto nas operações de faixa de fronteira, as forças adversas assumem características típicas de forças irregulares, compostos de força de guerrilha, subterrânea e sustentação. Inclui-se ainda grupos terroristas e seus modos de agir característicos. O Exército Brasileiro possui ampla bibliografia teórica para orientar o preparo e emprego de suas tropas, com destaque para os manuais de campanha. Porém, alguns manuais que abordavam de maneira ampla o combate às ameaças com características irregulares, foram revogados, dando lugar a manuais voltados para o combate em área edificadas e para operações de garantia da lei e da ordem. Face ao exposto, o trabalho apresenta conceitos e exemplos que mostram a base doutrinária disponível e vigente para as tropas regulares do Exército Brasileiro no enfrentamento às ameaças do século XXI, num ambiente de operações no amplo espectro.

Palavras-chave: Operações no Amplo Espectro, Ameaças Irregulares.

(9)

ABSTRACT

The Brazilian Army, in recent years, has been increasingly employed in Law and Order Guarantee (GLO) operations, which greatly increased the number of capabilities required of its troops to carry out these missions, without, however, opening classic defense capabilities. The combat units were used in major events, among them, the World Cup, the Olympic Games, which were carried out in urban centers, in a similar context of GLO operations. In the border line, the Armed Forces operate over thousands of kilometers to fight against illegal weapon dealers, drug dealers and other cross-border crimes. In both GLO operations and border line operations, adverse forces assume characteristics typical of irregular forces, composed of guerrilla, underground and sustaining forces. It also includes terrorist groups and their characteristic ways of acting. The Brazilian Army has ample theoretical bibliography to guide the preparation and use of its troops, with emphasis on field manuals. However, some manuals that broadly addressed the fight against threats with irregular characteristics, were revoked, giving rise to manuals aimed at fighting in urban areas and for GLO operations. Therefore, this work presents concepts and examples that show the doctrinal basis available for the regular troops of the Brazilian Army to face the threats of the 21st century, in an environment of operations in the broad spectrum.

Keywords: Full Spectrum Operations, Irregular Threats.

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LISTA DE ABREVIATURAS

DOAMEPI

EPP EUA FARC FIFA F Irreg FM GLO MD

MINUSTAH Op Cj Op Pac OCCA PP TCC TTP URSS VICA

Doutrina, Organização, Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura

Exército do Povo Paraguaio Estados Unidos da América

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Federação Internacional de Futebol

Forças Irregulares Field Manual

Garantia da Lei e da Ordem Ministério da Defesa

Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti Operações Conjuntas

Operação de Pacificação

Operações de Cooperação e Coordenação com Agências Programa-padrão

Trabalho de conclusão de curso Táticas Técnicas e Procedimentos

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas Volátil Incerto Complexo e Ambíguo

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Caracterização do Ambiente Operacional...18

Figura 2: Exemplos de agências...22

Figura 3: Conceito Operativo do Exército...26

Figura 4: Fatores determinantes das capacidades...29

Figura 5: As IP 31-15 de 1969 (Revogado)...30

Figura 6: O Problema...34

Figura 7: Manual de Contra Insurgência do Exército Norte-americano...35

(12)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Classificação das operações militares...20 Quadro 2: Espectro dos conflitos...25

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 METODOLOGIA ... 19

2.1 TIPO DE PESQUISA ... 19

2.2 UNIVERSO E AMOSTRA ... 19

2.3 COLETA DE DADOS ... 19

2.4 TRATAMENTO DOS DADOS ... 20

2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ... 20

3 AS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO ... 20

3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES MILITARES ... 20

3.1.1 Quanto às forças empregadas ... 21

3.1.2 Quanto à finalidade ... 21

3.2 AMPARO LEGAL DAS OPERAÇÕES ... 23

3.3 OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO ... 25

4 AS AMEAÇAS IRREGULARES ... 26

5 A DOUTRINA ESCRITA VIGENTE ... 28

6 CONCLUSÃO ... 32

REFERÊNCIAS ... 36

ANEXO A – PROGRAMA- PADRÃO CTTEP GLO ... 38

ANEXO B – ÍNDICE DO MANUAL DE CONTRA INSURGÊNCIA...40

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1 INTRODUÇÃO

As duas grandes Guerras Mundiais ocorridas na primeira metade do século XX caracterizaram-se por batalhas entre estados nacionais que defendiam seus interesses, territórios e sua própria existência. A guerra, de maneira ampla, foi assim descrita pelo militar prussiano Carl von Clausewitz em sua famosa obra intitulada Da Guerra:

A guerra nada mais é do que um duelo em grande escala.

Inúmeros duelos fazem uma guerra, mas pode ser formada uma imagem dela como um todo, imaginando-se um par de lutadores.

Cada um deles tenta, através da força física, obrigar o outro a fazer a sua vontade. O seu propósito imediato é derrubar o seu oponente de modo a torná-lo incapaz de oferecer qualquer outra resistência. A guerra é, portanto, um ato de força para obrigar o nosso inimigo a fazer a nossa vontade. (CLAUSEWITZ, 1984, p.

75)

Na Segunda Grande Guerra os combates eram de elevada intensidade, em extensas frentes, envolvendo infantaria, pesadas barragens de artilharia, blindados e apoio aéreo de aviões.

Os combatentes, quase sempre pertencentes às forças armadas estatais, envergavam uniformes, atuavam conforme os regulamentos, normas e doutrina padronizada pela sua força singular e se integravam sob um rígido sistema hierárquico, característico das instituições militares. Identificar um soldado no campo de batalha não era tarefa difícil, pois além das características de seu uniforme, de sua etnia e língua, as frentes de batalha eram bem definidas e cada lado oponente sabia bem qual eram as posições de sua tropa e a do inimigo. (ARAUJO, 2013)

O conflito era caracterizado pelo emprego massivo de tropas, veículos, aeronaves e artilharia. Para a manutenção das campanhas, havia uma produção industrial incessante diante da voracidade da máquina de guerra. As fábricas de bens de consumo e permanentes foram direcionadas para suprir as necessidades do aparato bélico. Dessa maneira o segmento civil colaborava de maneira fundamental para esforço de guerra nacional.

A disposição em grandes frentes, a ocupação de posições defensivas e as manobras eram planejadas, prioritariamente, para ocorrerem em regiões de campos abertos e locais desabitados. Porém os centros urbanos e vilarejos não passaram

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incólumes. Com o avançar dos combates e a intensificação da violência entre as partes, as baixas civis foram superiores às casualidades no efetivo militar.

De uma maneira geral, o desenrolar da Primeira e Segunda Grande Guerra Mundial seguiu o que a concepção clássica de guerra apregoa:

As duas guerras mundiais consagraram o estereótipo da

“guerra industrial” como dogma, tanto para a formulação de políticas de defesa quando para destinação das forças armadas.

É inegável que, de um modo geral, o senso comum conserva um entendimento da guerra limitado, essencialmente, ao conflito interestatal, protagonizado por exércitos nacionais permanentes e orientado para a consecução de objetivos políticos na estrita acepção de Clausewitz. É de acordo com esse paradigma que as forças armadas em todo o planeta, têm se organizado, treinado e desenvolvidos suas capacidades. (VISACRO,2018, p.49)

O advento das armas nucleares mudou sobremaneira a visão humana sobre as guerras e suas consequências. O lançamento das bombas nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, causando dezenas de milhares de mortes civis, impactou o mundo, transformando o conceito anterior que existia de “destruição”. A fase pós Segunda Guerra Mundial traz consigo o temor do cataclismo nuclear e a possível extinção da humanidade na terra. A geopolítica se rearranja em um mundo bipolar com os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) despontando como forças militares e ideologicamente antagônicas. Após o bem-sucedido teste nuclear da URSS no ano de 1949, a possibilidade de uma guerra nuclear finalmente tornou-se real. Para muitos historiadores esse seria o marco inicial da Guerra Fria. Apesar de diversos conflitos envolvendo indiretamente as superpotências, o uso de tais artefatos ficou restrito à trágica experiência japonesa.

O esfacelamento da URSS em 1992 trouxe consigo um período de incertezas em todos os campos do poder. O mundo bipolar, dividido entre duas ideologias e duas grandes alianças militares, dá lugar a um turbilhão de incertezas, sem um consenso se o polo norte-americano conseguirá influenciar o que sobrou do antigo bloco comunista. Países que recebiam forte apoio militar e financeiro da URSS viram-se órfãos do dia para a noite. Disputas políticas nessas áreas de influência do bloco soviético ocasionaram instabilidade em todo o mundo.

Em que pese às expectativas criadas com o desaparecimento dos grandes blocos da guerra fria, a

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esperança de um mundo em paz segue ameaçada pelo aparecimento de novos conflitos e tensões que oferecem um panorama de riscos e incertezas amplas, e que configuram uma situação internacional certamente complicada.

(BRASIL, 2014, p.2-2)

No pós-Guerra Fria, o novo arranjo da geopolítica mundial caminhou embalado pelo desenvolvimento tecnológico. A revolução dos meios de comunicação integrou o planeta, permitindo um tráfego e compartilhamento de informações a nível global. O capital e os meios de produção já não viam nas fronteiras entre os países, um obstáculo ao seu crescimento. Os meios de transporte tornaram-se mais eficientes e baratos, popularizando-se. Nesse período o termo “Globalização” definiria as novas maneiras de relações entre entes estatais e não estatais a nível mundial. Porém a globalização também permitiu o crescimento e difusão de atividades extremistas e criminosas, surgindo novos atores e novas ameaças.

Essas novas ameaças exigem que os estados se capacitem para o emprego integrado no combate ao narcotráfico, ao tráfico de armas e ao terrorismo. Os países por vezes se organizam em coligações e alianças para a manutenção e ou imposição da paz sob a égide de organismos internacionais (BRASIL 2014).

A América do Sul mantém sua condição de região periférica apresentando um crônico subdesenvolvimento, com áreas de graves instabilidades, demandas sociais não atendidas e prática comum de ilícitos transnacionais que podem transbordar conflitos (BRASIL, 2014).

O Brasil, inserido no subcontinente, possui quase 17 mil quilômetros de fronteiras terrestres com países conhecidamente produtores de narcóticos. Essa condição é enorme desafio no combate à entrada de drogas, armas e munições em seu território, tornando-se um mercado atrativo para os narcotraficantes, que tem no país um grande mercado consumidor e uma rota de escoamento da droga para a Europa. Para a manutenção de sua atividade ilícita, os grupos traficantes se armam para defender esse lucrativo ilícito. A malha do crime organizado permeia todo o território nacional, desde as regiões fronteiriças até os grandes centros urbanos.

O ambiente operacional apresenta-se de uma maneira volátil, incerta, complexa e ambígua, (VICA). A leitura do ambiente torna-se difícil, dificultando a interpretação e o controle das ações. Os conflitos são caracterizados por sua longa duração, natureza crônica, baixa intensidade e impacto difuso (BRASIL, 2017a).

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Diante desse novo cenário, o Exército Brasileiro implementou uma profunda transformação doutrinária, traçando objetivos para Força Terrestre combater na “Era do Conhecimento”:

Esta Força deve ser dotada de armamentos e de equipamentos com tecnologia agregada, sustentada por uma doutrina em constante evolução, integrada por recursos humanos altamente treinados e motivados. Para isso, baseia sua organização em estruturas com as características de flexibilidade, adaptabilidade, modularidade, elasticidade e sustentabilidade, que permitem alcançar resultados decisivos nas Operações no Amplo Espectro, com prontidão operativa, e com capacidade de emprego do poder militar de forma gradual e proporcional à ameaça (BRASIL, 2014).

Figura 1- Caracterização do Ambiente Operacional Fonte: EB70-MC-10.212 Manual de Campanha

Operações Especiais, 2017a, p. 2.1

O emprego da Força Terrestre em Operações de Cooperação e Coordenação com Agências e em Operações Complementares, ganhou notório vulto nos últimos vinte anos. As características dessas operações demandam um preparo muito mais abrangente do que era realizado no século XX. Os requisitos para se combater na

“Era do Conhecimento” não substituem o arcabouço clássico do conflito da “Era

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Industrial”, pelo contrário, as tarefas se acumularam, aumentando sobremaneira o rol de capacidades da força.

A Força Terrestre deve dispor de pessoal e material aptos a atuarem nessas operações, sem abrir mão do poderio bélico dissuasório. Na dosagem da utilização e emprego desses recursos reside o maior desafio na geração de novas capacidades (ARAÚJO, 2013).

Para orientar o preparo e emprego da Força Terrestre no cenário complexo da atualidade, o Comando de Operações Terrestres (COTER) , por meio do Centro de Doutrina do Exército (CDoutEx) disponibiliza por meio de seu sítio eletrônico (http://www.cdoutex.eb.mil.br/) o acervo da Biblioteca Digital do Exército (https://bdex.eb.mil.br/jspui/). O acervo oferece uma vasta coleção de publicações que dão o suporte doutrinário para o preparo, emprego e para o entendimento da nova concepção doutrinária da Força Terrestre.

Existe uma considerável produção de artigos sobre operações no amplo espectro, principalmente trabalhos de conclusão de curso (TCC) da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).

Porém existe uma carência de publicações doutrinárias, em forma de manual, para orientar as forças regulares no combate às ameaças irregulares num ambiente de operações no amplo espectro. A base doutrinária escrita que trata do combate às ameaças irregulares, com um detalhamento mais profundo, encontra-se nos manuais para tropas de operações de operações especiais, como o EB70-MC-10.212 Operações Especiais e o C31-21 Batalhão de Forças Especiais. Porém tal tipo de publicação se destina a uma tropa de natureza distinta das tropas convencionais, não compondo subsídio adequado.

Desta feita, esse trabalho visa apresentar a doutrina escrita disponível para as tropas regulares da Força Terrestre no combate contra ameaças irregulares num ambiente de operações no amplo espectro, apresentando algumas sugestões de composição de manual que, de alguma forma, congregue assuntos pertinentes ao preparo e emprego da tropa.

2. METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA

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A presente pesquisa terá uma abordagem qualitativa, com emprego do método de estudo de casos simples, qual seja, o emprego das forças convencionais da Força Terrestre em operações em que as forças adversas apresentem características irregulares.

2.2 UNIVERSO E AMOSTRA

O universo do presente estudo estará englobado nas forças convencionais da Força Terrestre do Exército Brasileiro que de alguma forma estão em condições serem empregadas em operações contra ameaças irregulares, historicamente, operações de cooperação e coordenação com agências, operações de pacificação e de garantia da lei e da ordem (GLO).

2.3 COLETA DE DADOS

Conforme o Departamento de Pesquisa e Pós-graduação, a coleta de dados do presente trabalho de conclusão de curso dar-se-á́ por meio da coleta na literatura, realizando-se uma pesquisa bibliográfica na literatura disponível, tais como livros, manuais, revistas especializadas, jornais, artigos, internet, monografias, teses e dissertações, sempre buscando os dados pertinentes ao assunto. Nessa oportunidade, serão levantadas as fundamentações teóricas para a comprovação ou não da hipótese levantada.

2.4 TRATAMENTO DOS DADOS

Conforme Departamento de Pesquisa e Pós-graduação, o método de tratamento de dados que será́ utilizado no presente estudo será́ a análise de conteúdo, no qual serão realizados estudos de textos para se obter a fundamentação teórica para se confirmar ou não as questões do estudo apresentada.

2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A limitação dar-se-á pela dificuldade de enquadramento de ameaças enfrentadas como irregulares ou não, bem como a falta de registros de missões de caráter sigiloso.

Não haverá estudo de campo, sendo realizado uma revisão bibliográfica e pesquisas por meio de formulário.

3 AS OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO

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3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES MILITARES

As operações militares podem ser classificadas quanto às forças empregadas e quanto à sua finalidade.

Quadro 1: Classificação das operações militares Fonte: EB70-MC-10.223 Operações, 2017.

3.1.1 Quanto às forças empregadas

Operações singulares são aquelas desenvolvidas por apenas uma das forças armadas. As operações conjuntas (Op Cj) são compostas por mais de uma força singular, sob um comando único e com um estado-maior composto por elementos das forças singulares. As forças combinadas são compostas por forças singulares de diferentes nações, num esforço multinacional. (BRASIL, 2017b)

3.1.2 Quanto à finalidade

Quanto à finalidade, as operações podem ser básicas e complementares.

3.1.2.1 Operações Básicas

As operações básicas podem, por si mesmas, atingir objetivos determinados por uma autoridade que a comanda. Numa situação de guerra as operações básicas são as ofensivas e defensivas e numa situação de não guerra são operações de cooperação e coordenação com agências (OCCA). (BRASIL, 2017b)

Ainda de acordo com o Manual de Campanha EB70-MC-10.223, Operações, de 2017, as OCCA são:

“operações executadas por elementos do EB em apoio aos órgãos ou instituições (governamentais ou não, militares ou civis, públicos ou privados, nacionais ou internacionais), definidos genericamente como agências. Destinam-se a

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conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum. Buscam evitar a duplicidade de ações, a dispersão de recursos e a divergência de soluções, levando os envolvidos a atuarem com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos.

Observa-se, para efeito de comparação, o que diz o Manual de Campanha EB20- MC -10.201, Operações em Ambiente Interagências, 2013, quanto ao conceito de Operações Interagências:

“Interação das Forças Armadas com outras

agências com a finalidade de conciliar interesses e coordenar esforços para a consecução de objetivos ou propósitos convergentes que atendam ao bem comum, evitando a duplicidade de ações, dispersão de recursos e a divergência de soluções com eficiência, eficácia, efetividade e menores custos.

Entenda-se como eficiência a capacidade de produzir o efeito desejado com economia (emprego racional) de meios; com eficácia (a obtenção de um efeito desejado); e como efetividade (a capacidade de manter eficácia ao longo do tempo).

Da comparação, conclui-se que entre as definições de Operações Interagências e OCCA, não apresentam substanciais diferenças para o estudo em questão, sendo doravante utilizado o termo mais recente adotado pela bibliografia do Exército, qual seja, OCCA.

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Figura 2: Exemplos de agências Fonte: EB70-MC-10.223 Operações, 2017.

As OCCA geralmente se desenvolvem num contexto de não guerra, podendo ser empregado o poderio militar no âmbito interno e externo. São elas:

a) garantia dos poderes constitucionais;

b) garantia da lei e da ordem;

c) atribuições subsidiárias;

d) prevenção e combate ao terrorismo;

e) sob a égide de organismos internacionais;

f) em apoio à política externa em tempo de paz ou crise; e g) outras operações em situação de não guerra.

3.1.2.2 Operações Complementares

As operações complementares são definidas segundo o EB20-MF-03.109 Glossário de termos e expressões para uso no Exército:

“Aquelas que se destinam a ampliar, aperfeiçoar e/ou complementar as operações básicas no amplo espectro, a fim de maximizar a aplicação dos elementos do poder de combate terrestre. Abrangem, também, operações que, por sua natureza, características e condições em que são conduzidas, exigem especificidades quanto ao seu planejamento, preparação e condução, particularmente, relacionadas às técnicas, táticas e procedimentos (TTP) ou aos meios (pessoal e material) empregados.”

São exemplos de operações complementares:

a) aeromóvel;

b) aeroterrestre;

c) de segurança;

d) contra forças irregulares;

e) de dissimulação;

f) de informação;

g) especiais;

h) de busca, combate e salvamento;

i) de evacuação de não combatentes;

j) de junção;

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k) de interdição;

l) de transposição de curso de água;

m) anfíbia;

n) ribeirinha;

o) contra desembarque anfíbio;

p) de abertura de brecha; e q) em área edificada.

3.2 AMPARO LEGAL DAS OPERAÇÕES

As operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) desenvolvidas pelas Forças Armadas encontram-se previstas na carta magna do país, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que diz em seu capítulo II, artigo 142:

As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

As Operações na Faixa de Fronteira foram inicialmente reguladas pela lei complementar Nr 117, de 2 de setembro de 2004, que estabeleceu novas atribuições subsidiárias para as forças armadas, dando ênfase na cooperação com outros órgãos federais:

"Art. 17A. Cabe ao Exército, além de outras ações pertinentes, como atribuições subsidiárias particulares:

I – contribuir para a formulação e condução de políticas nacionais que digam respeito ao Poder Militar Terrestre;

II – cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do órgão solicitante;

III – cooperar com órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, no território nacional, na forma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução;

IV – atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de:

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a) patrulhamento;

b) revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e

c) prisões em flagrante delito."

A Lei Complementar Nr 136 de 25 de agosto de 2010 atualizou a LC Nr 97/1999, incluindo o artigo 16-A, incisos I, II e III. Essa atualização consolidou o poder de polícia das Forças Armadas na faixa de fronteira:

“Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de:

I - patrulhamento;

II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e

III - prisões em flagrante delito.

Parágrafo único. As Forças Armadas, ao zelar pela segurança pessoal das autoridades nacionais e estrangeiras em missões oficiais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, poderão exercer as ações previstas nos incisos II e III deste artigo.”

3.3 OPERAÇÕES NO AMPLO ESPECTRO

As operações militares no amplo espectro caracterizam-se pela combinação simultânea ou sucessiva de operações ofensivas, defensivas e de cooperação e coordenação com agências, ocorrendo em situação de guerra e não guerra. Essas operações devem estar sincronizadas entre si e suas ações letais e não letais obedecem aos princípios da proporcionalidade (BRASIL, 2018b).

Pode-se afirmar que essas operações congregam todo o espectro de atuação da Força Terrestre, desde as missões precípuas de defesa da pátria contra um invasor externo, passando por ameaças não estatais num contexto colaborativo com agências e órgãos públicos.

Na atualidade, o Brasil não apresenta disputas fronteiriças com seus vizinhos, suas águas territoriais são bem delimitadas pela Convenção das Nações Unidas sobre

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o Direito do Mar e não há nenhum conflito estatal com as demais nações do entorno estratégico ou fora dele. Desta feita, no espectro dos conflitos, o que prevalece no cenário interno são as operações em uma situação de não guerra

Quadro 2: Espectro dos conflitos Fonte: EB70-MC-10.223 Operações, 2017.

Nos últimos anos as Forças Armadas brasileiras foram empregadas com frequência em situações de não guerra. Destacam-se o emprego em eventos de grande vulto como Copa do Mundo FIFA de Futebol, Jogos Olímpicos Rio de Janeiro e Jornada Mundial da Juventude. Operações de Pacificação também foram empreendidas em áreas dominadas por grupos de narcotraficantes na cidade do Rio de Janeiro. No exterior ressalta-se a participação brasileira na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti entre 2004 e 2017. Essa operação enquadrou-se como uma OCCA, sob a égide de organismos internacionais. (FILHO, 2013).

Figura 3: Conceito Operativo do Exército

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Fonte: EB70-MC-10.223 Operações, 2017.

Infere-se, desta maneira, que o emprego recente da Força Terrestre ocorre num ambiente de não guerra e com predomínio de operações de cooperação e coordenação com agências (OCCA), conforme a situação 4 da figura 3.

4 AS AMEAÇAS IRREGULARES

O manual MD35-G01, Glossário das Forças Armadas, de 2016, define

“Ameaça” da seguinte maneira:

É qualquer conjunção de atores, entidades ou forças com intenção e

capacidade de, explorando deficiências e vulnerabilidades, realizar ação hostil contra o país e seus interesses nacionais, com possibilidades de causar danos ou comprometer a sociedade nacional (a população e seus valores materiais e culturais) e seu patrimônio (território, instalações, áreas sob jurisdição nacional e o conjunto das informações de seu interesse). Ameaças ao país e a seus interesses nacionais também podem ocorrer na forma de eventos não intencionais (naturais ou provocados pelo homem)

Doravante denominaremos “ameaças irregulares” as ameaças que se assemelham às forças irregulares por se organizarem e utilizarem modus operandi similares aos de uma força irregular, definida da seguinte maneira, ainda pelo Glossário das Forças Armadas:

Força Irregular: Forças capacitadas à execução da guerra irregular, caracterizadas por organização não institucionalizada. Num movimento revolucionário ou de resistência, as forças irregulares são integradas por três segmentos: força de guerrilha, força de sustentação e força subterrânea.

As diferenças residem na motivação que as movem. As forças irregulares tipicamente são movidas por objetivos ideológicos, religiosos e políticos. Apesar das diferenças entre grupos criminosos e insurgentes estarem na motivação e no modo de agir, pode-se afirmar que os grupos criminosos são uma espécie de insurgência urbana. (MANWARING, 2005)

No contexto de uma guerra assimétrica, forças armadas podem adotar TTP’s típicos da guerra irregular para fazer frente a um oponente que possua esmagadora superioridade. (BRASIL, 2018b)

No contexto brasileiro, as ameaças irregulares têm como objetivo precípuo a obtenção de capital, têm no dinheiro sua motivação. As ameaças irregulares atuais são bem representadas pelas quadrilhas de traficantes em favelas e por traficantes

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de armas e drogas que atuam nas fronteiras do país. Essas quadrilhas são comumente denominadas “organizações criminosas” ou “crime organizado”.

A Lei Nr 12.850, de 2 de agosto de 2013 define “organização criminosa” da seguinte maneira:

Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. (BRASIL, 2013a)

Um exemplo, a facção criminosa Comando Vermelho, teve sua origem no final da década de 70, quando houve um intercâmbio de conhecimentos entre criminosos comuns e presos políticos, estes últimos conhecedores das táticas, técnicas e procedimentos (TTP) da guerra de guerrilha. Os foragidos do Presídio da Ilha Grande - RJ, começaram então a aplicar os conhecimentos adquiridos em assaltos a bancos e joalherias (ESCOTO, 2015).

A articulação e o alcance das facções criminosas cresceram de maneira indiscutível nos anos 90, ocorrendo associação com grupos extremistas estrangeiros como o Sendero Luminoso, Foças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército do Povo Paraguaio (EPP). Essa associação é uma ameaça à segurança nacional, pois armas, drogas e outros ilícitos cruzam nossas fronteiras diuturnamente, impondo o preparo das tropas da F Ter para o combate contra essas ameaças (ESCOTO, 2015).

Segundo Woloszyn (2018), as tecnologias advindas pós anos 80 possibilitaram o intercâmbio entre facções nacionais e internacionais, possibilitando uma verdadeira globalização do crime organizado e uma profissionalização da atividade criminosa em nível internacional.

Os conflitos ou conjunturas em que as forças ou ameaças irregulares atuam, geralmente, possuem características como: dificuldade da definição de linhas de contato entre as partes conflitantes; tendência que o conflito se prolongue no tempo;

presença da mídia; valorização das questões humanitárias; relevância do papel da população nos conflitos e fragilização das fronteiras geográficas por conta da dimensão informacional (BRASIL, 2017).

Desta feita, fica claro que as ameaças com características irregulares contemporâneas, executam suas atividades ilícitas nos ambientes urbano e rural e

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utilizam meios avançados de comunicação para interagir com outras ameaças.

Visam, no caso brasileiro, o lucro advindo, principalmente, do tráfico de armas, drogas e munições.

5. A DOUTRINA ESCRITA VIGENTE

A Força Terrestre, no enfrentamento de ameaças com características irregulares, deve ser capaz de agregar ao seu rol de capacidades, conhecimentos e habilidades específicas para o enfrentamento ao um oponente que se utiliza de TTP’s tão distintas de um exército regular inimigo. A Doutrina Militar Terrestre define o termo

“capacidade” e como obtê-la:

[...]aptidão requerida a uma força ou Organização Militar, para que possa cumprir determinada missão ou atividade. Essa aptidão é exercida sob condições e padrões determinados, pela combinação de meios para desempenhar uma gama de tarefas.

[...]

A capacidade é obtida a partir de um conjunto de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis: Doutrina, Organização (e/ou processos), Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura – que formam o acrônimo DOAMEPI. (BRASIL, 2019, p. 3-2 e 3-3).

Figura 4: Fatores determinantes das capacidades Fonte: EB20-MF-10.102 – Doutrina Militar Terrestre

A doutrina escrita disponível, é em sua maioria composta de Manuais Doutrinários, Manuais de Campanha, Cadernos de Instrução e Instruções Provisórias.

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O Boletim Especial do Exército Nr 6, de 2020, publicou a Portaria Nr 112, da Secretaria Geral do Exército, de 31 de março de 2020, aprovando a Relação das Publicações do Exército, Edição 2020. Em sua quarta parte: Manuais de Caráter Doutrinário; Título VII: Manuais de Campanha, observam-se que os manuais mais vocacionados para orientar as tropas regulares no enfrentamento às ameaças irregulares num ambiente de operações no amplo espectro são:

EB20-MC-10.201: Operações em ambientes interagências, 2013 EB70-MC-10.242: Operações de garantia da lei e da ordem, 2018 EB70-MC-10.303: Operação em área edificada, 2018.

Com o surgimento das Op GLO, as Brigadas de Infantaria (Bda Inf) deixaram de priorizar os adestramentos em operações contra forças irregulares. Houve em 2002 revogação dos manuais de campanha C 31-16 – Operações Contra Forças Irregulares em Ambiente Rural; IP 31-15 – O Pequeno Escalão nas Operações Contraguerrilha e as IP 31-17 – Operações Urbanas de Defesa Interna (ESCOTO, 2015).

Figura 5: As IP 31-15 de 1969 (Revogado) Fonte: Internet

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Os Programas-padrão (PP) do Exército (Anexo A) contemplam o período de adestramento para que as tropas sejam empregadas em Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Entretanto, pela complexidade dessas operações e pelo modus operandi das facções criminosas, há a necessidade da complementação dos adestramentos com treinamentos específicos. (NEGRÃO, 2018, p.54).

O EB70-MC-10.242, Operação de Garantia da Lei e da Ordem, de 2018, é o principal Manual de Campanha que norteia o emprego das tropas regulares em operações de GLO. O corpo do manual, faz alusão ao ambiente rural em três passagens apenas, com destaque para as duas a seguir:

As Op GLO são operações militares de coordenação e cooperação de agências (CCA), realizadas no contexto específico da missão constitucional da garantia da lei e da ordem, conforme o artigo 142 da Constituição Federal de 1988 (CF/88), podendo ser desenvolvidas em ambiente rural ou urbano.

(p.1-1). (grifo nosso).

Em seus estágios iniciais de organização, os APOP, normalmente, necessitam de redutos e áreas de homizio que lhes proporcionem relativa segurança. Áreas humanizadas densamente povoadas, sobretudo as periferias de centros urbanos desassistidas pelo Estado e/ou áreas rurais remotas, tradicionalmente prestam-se para tal fim. (p. 3-7)

Da mesma maneira, o termo “irregular” ou “irregulares” é apresentado uma única vez em seu corpo, na página 2-1:

As ações de GLO abrangem o emprego da F Ter em variados tipos de operações e atividades, em face das diversas formas com que os agentes perturbadores da ordem pública (APOP) podem se apresentar, excetuadas as operações contra forças irregulares e as operações contra o terrorismo, que serão abordadas em manual específico. (grifo nosso).

É um erro grave considerar que o preparo da tropa para as operações de GLO são suficientes para enfrentar facções criminosas que operam de maneira irregular (ESCOTO, 2015). Percebe-se nos trechos acima que o manual de GLO não contempla de maneira enfática as operações em ambiente rural, semelhantes às que ocorrem na faixa de fronteira ou em regiões matosas em que as facções criminosas se homiziam.

O Manual de Operações de Pacificação do Exército (EB20-MC-10.217) de 2015, apresentava a preparação, execução e avaliação das operações de pacificação, passíveis de serem conduzidas por elementos da F Ter em operações no amplo

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espectro dos conflitos. O manual apresentava em suas referências bibliográficas manuais norte americanos como: FM 3-242. Tactics in Counterinsurgency e FM 3-07, C1, Stability Operations. Também era rico em referências da experiência brasileira na MINUSTAH. Observa-se em seu corpo a análise do contexto estratégico em que as Op de pacificação se realizam:

Da análise do ambiente operacional contemporâneo, no qual forças convencionais e irregulares, combatentes e população civil, destruição física e guerra de informação estão cerradamente interligados, é possível delinear o contexto estratégico para a realização das Op Pac. (BRASIL, 2015)

Porém o manual foi revogado em 31 de outubro de 2019, pela portaria Nr 326 EME.

O Manual de Campanha EB70-MC-10.303, Operação em área edificada, 2018, apresenta características do combate urbano no contexto das operações ofensivas, defensivas e nas OCCA. Porém, devido à delimitação do ambiente operacional que o manual aborda, as operações contra ameaças irregulares em ambiente rural, logicamente, não são citadas.

Da observação da doutrina escrita vigente, disponibilizada pelo Exército em seus sítios eletrônicos, infere-se que há uma boa disponibilidade de fontes que amparam o preparo e emprego das tropas regulares para operações de GLO e OCCA em ambiente urbano. Porém há uma escassez de manuais que tratam do enfrentamento de ameaças irregulares nas regiões rurais, na faixa de fronteira ou outro ambiente fora de centros urbanos.

6. CONCLUSÃO

A evolução do combate ao longo dos tempos mudou sobremaneira a forma em que os conflitos são analisados atualmente. No imaginário comum, o termo “guerra”

pressupõe o conflito entre forças armadas nacionais, cada qual lutando por seus interesses, normalmente materializado por disputas territoriais. No mundo bi polarizado do pós-guerra fria, as potências antagônicas influenciavam suas áreas de interesse, de modo que cada partido, por meio de forte propaganda, qualificava o lado oponente como vilão.

No cenário do Século XXI, apesar do termo “guerra” ainda remeter à lembrança do público leigo o estereótipo estatal dos conflitos, fica notório que a discussão se

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torna muito mais profunda e abrangente. As operações militares típicas, em que as forças armadas estatais oponentes se enfrentavam em uma fricção, não deixaram de acontecer. O que se observa então na evolução do combate é a diminuição do atrito entre estados e o aumento de conflitos entre os estados e grupos não estatais, muitas das vezes patrocinados por países rivais.

Nessa evolução de cenário, as forças armadas viram-se diante de uma situação desafiadora: adequar suas pesadas máquinas de guerra para um combate onde a percepção da ameaça se tornou difusa, onde as capacidades de operar numa situação convencional deve ser mantida e novas capacidades devem ser desenvolvidas frente às novas ameaças.

No ambiente doméstico, a situação atual exige que as tropas convencionais do Exército agreguem mais capacidades ao seu rol sem, no entanto, abdicar das condições para fazer face à uma invasão estrangeira, que caracteriza a missão precípua das Forças Armadas brasileiras no caso da defesa externa.

O enfrentamento às ameaças não estatais, no caso brasileiro, não se configura como um fenômeno exclusivamente contemporâneo. Porém, na atualidade o Exército busca adequar o seu preparo e prontidão ao volume e à complexidade das missões que lhe são demandadas.

A configuração atual de um ambiente de batalha complexo demanda, desta feita, o preparo das forças convencionais para as Operações no Amplo Espectro dos conflitos. As capacidades desejáveis e necessárias para o cumprimento das missões em uma situação como essa podem ser encontradas em outras forças singulares e, principalmente, em agências governamentais que promovem uma interseção de habilidades com as tropas regulares, possibilitando a operacionalidade desejada nas Op no amplo espectro.

Porém a doutrina escrita para a consecução de tal nível desejado pelas tropas regulares encontra-se fragmentada, fruto do natural emprego das tropas em grandes eventos e operações de GLO. A continuidade das missões para um ambiente fora de centros urbanos, que é uma possibilidade real no transcurso do enfrentamento às ameaças com características irregulares em áreas edificadas e densamente povoadas, não encontra uma base lógica escrita. As operações em faixa de fronteira também não dispõem de um arcabouço teórico que possibilite o caminho inverso do supracitado, qual seja: operações que tenham início em ambiente rural ou de selva e

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que mediante evolução na obtenção de informações, a oriente para o enfrentamento aos apoios em áreas urbanas.

Figura 6: O Problema Fonte: O autor

Observa-se na Figura 4 que ao centro do esquema está a letra “D” da doutrina.

Ela, não por acaso, encontra-se em posição central no pois não se admite um exército profissional basear suas capacidades apenas no empirismo e personalismo. O Exército Brasileiro, dotado de uma estrutura de ensino secular, sistemas de pesquisa doutrinária e lições aprendidas, centros tecnológicos e indústrias bélicas vinculadas, possui todas as ferramentas para a geração das capacidades requeridas e desejáveis.

Como forma de mitigar algum déficit ou até mesmo visando preparar-se para desafios vindouros, as Forças Armadas promovem intercâmbios com seus correlatos estrangeiros. Outra forma na busca de conhecimentos julgados úteis, é o estudo de material doutrinário de Forças Armadas que comungam de uma doutrina minimamente semelhante à nossa. Os Estados Unidos da América, desde meados do século XX, são importantes parceiros do Brasil no campo militar. Sua expertise nos assuntos de defesa são ótima fonte para a nossa Força.

Toma-se como um exemplo o manual de campanha do Exército Norte- americano FM 3-24 (Fig.6) que se apresenta como modelo para um manual similar brasileiro. É obvio que a simples cópia de tal publicação torna-se inócua para o propósito doméstico, tendo em vista as características distintas das missões do Exército Brasileiro e do Exército Norte-americano. Porém a estruturação, ordem lógica

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e amplitude do manual norte-americano, serve de inspiração para um manual genuinamente brasileiro, que contemple e congregue todo o cabedal teórico desejável ao enfrentamento às ameaças irregulares que se apresentam no território nacional. O exemplar brasileiro, poderia então, servir de base para operações na faixa de fronteira, se estendendo ao prosseguimento das missões em áreas urbanas, e vice-versa.

Figura 7: Manual de Contra Insurgência do Exército Norte-americano Fonte: Internet

Assuntos como Operações de Informação, Inteligência, Assuntos Civis, seriam agregados aos temas que já constam de nossos manuais e direcionados em um nível tático, perpassando, porém, desde o planejamento do Estado-maior até as TTP’s da tropa em contato no terreno.

Em síntese, o presente trabalho buscou apresentar uma reflexão sobre as missões do Exército na atualidade e como a doutrina escrita acompanha a demanda das tropas regulares para o preparo e emprego face aos desafios contemporâneos.

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Desta feita, o trabalho apresentado de maneira nenhuma esgota a discussão sobre as fontes escritas que orientam a tropa, sendo sugerido a ampla participação dos militares no contínuo aprimoramento de suas capacidades, independentemente do nível hierárquico ou funcional que ora ocupam.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO A – PROGRAMA-PADRÃO DE INSTRUÇÃO DA CTTEP – GLO

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ANEXO B – ÍNDICE NO MANUAL DE CONTRA INSURGÊNCIA NORTE AMERICANO FM 3-24/MCWP 3-33.5

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Referências

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