COM~RCIO
INSEGURO O MERCADO CAFEEIRO
No 2.0 semestre de 1962, O
govêrno federal prosseguiu na política de defesa dos preços do café} com o propósito de pro- curar manter nes níveis ultima- mente atingidos a receita nacio- nal de moedas estrangeiras obti- da pelas exportações. O preço
FOB defendido gira em tórno de 40 dólares por saca de 60 k para os cafés do estilo Santos, algo menos para os de outras quali- dades menos reputadas, algo mais para os nlais finos. Dêsse preço defendido, 22 dólares, re- presentando 55% do total, des- tinam-se ao Fundo de Reserva de Defesa do Café, por conta do qual correm tcdos os gastos da defesa, principalmente os da aquisição dos excessos entre a produção e a exportação pos- sível.
As compras dos excessos da produção têm permanecido ele-
FEVEREIRO
vadas, devendo diminuir no en- tanto ocasionalmente na próxi.
ma safra de 1963/64, em conse- qüência de fenômenos climáti- cos desfavoráveis (frio intenso e continuado, e geadas) ocorridos na época das floradas na princi- pal região produtora do país: o Norte do Paraná.
Como temos acentuado em nossos comentários, a defesa dos preços externos do produto em níveis demasiadamente elevados, tem resultado em que o Brasil proporcione a seus concorrentes condições extremamente favorá·
veis na competição dos mercados mundiais de importação e tenha de conformar-se com sua posiçãe de mero fornecedor residual. A posição brasileira de fornecedor residual pode ser vista no QUA- DRO I, que reproduz as importa- ções mundiais e as exportações brasileiras, umas e outras no pe-
47
ríodo compreendido entre 1952 e 1961. Embora a comparação seja feita com dados diferentes, de um lado as importações, de outro as exportações, o resultado do confronto não é afetado de
modo significativo, porque no lapso relativamente longo de 10 snos os efros derivados do pro- cesso adotado tendem a compen- sar-se.
QUADRO I
POSiÇÃO DO BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL 1952/1961
Média das importa- Média das exporta- Porcentagem de (2) Qüinqüênio ções mundiais (I) çõe, brasilEiras (2) sôbre (1)
(em milhares d~ sacas de 60 k)
- - - -
1952/56 ]957/61
33542 40502
Revelam êstes dados que, en- quanto a média anual das im- portações mundiais cresceu de 20,7% de um para outro dos 2 qüinqüênios considerados, a rnt!- dia anual das exportações brasi- leiras registrou aumento de ape- nas 8,10/0.
É de lamentar-se que a ten- tativa de impor um determinado nível de preços ao mercado ve- nha resultando na contínua per- da de nossa posição, ao mesmo tempo que cria internamente condições favoráveis à expansão das lavouras de café. Dá-se, as- sim, a exaustão precoce e inútil de enormes áreas de terras fer- tilíssimas, pois grande parte do café que nelas se produz, ou foi destruído, ou permanece arma- zenado, com pesados ônus. Jun-
48
14560 15745
43,40 38,87
te-se a tudo isto que a segurança de preços defendidos pelo Brasil constituiu estímulo adicional ao aumento das plantações de café em outras regiões do planêta, no- tadamente nas antigas colônias européias da África, onde exis- tem condições favoráveis à cultu- ra do café: terra, clima, mão-de- -obra, capitais e assistência técni- ca eficiente das metrópoles, inte- ressadas em criar safras outras (cash crops) que não as desti·
nadas à simples subsistência da') populações indígenas.
As exportações brasileiras de café em 1962 foram de ... 16 377 717 sacas, segundo os dados divulgados mês a mês pelo Instituto Brasileiro do Café.
Nos últimos 5 anos essas expor- tações foram as seguintes, por semestre:
CONJUNTURA ECONOMICA
~
QUADRO 11
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CAFt (sacas de 60 k)
ANOS 10 SEMESTRE
1958 5 796 707
1959 7 484 1\82
1960 7 968 452
1961 7 252 853
1962 7 695 833
No decurso de 1962, os pre- ços dos cafés brasileiros acom- panharam a tendência geral de baixa dos demais tipos que com êles concorrem no mercado. Se- gundo divulga a "Carta Sema- nal" do BUfeau Pan-Americano do Café, os dos cafés do estilo Santos baixaram, acompanhando os dos despolpados colombianos que baixaram também.
Já
os cafés despolpados latino-ameri- canos, outros que não os colom- bianos, mantiveram seus preços pràticamente nos mesmos ní- veis, enquanto os dos cafés afri- canos 'da variedade robusta su- biram substancialmente.A baixa dos preços dos cafés do estilo Santos restabeleceu de
FEVEREIRO
2.° SEMESTRE TOTAL
7 094 242 12 890 949
<) 968 753 17 413 436
8 849 575 16 818 027 9 71 t 409 16 964 262 8 681 884 16 377 717
forma parcial a capacidade com- petitiva dêles, porque, como é sabido, quando a diferença en- tre os preços de nossos cafés dt terreiro e os dos despolpados la·
tino-americanos é menor 'do que a que lhes reconhece O comércio internacional, a preferência dos compradores volta-se para os despolpados, cujos produtores atuam sempre com acentuada agressividade no mercado inter- nacional. A alta dos preços, em- bora substancial, dos cafés dn variedade robusta não afetou as vendas dos cafés brasileiros, por- que a diferença entre os preços de uns e outros ainda é grande, cêrca de 12 dólares por saca
~ver QUADRO 111).
49
QUADRO III
MERCADO DO DlSPONIVEL DE NOVA VORIe (em cents de dólar por libra pcso)
DA TAS
PROCEDÊNCIA 4 I 62
Brasil
Santos n. 2 34.50
Santo~ 11 4 34,25
Colômbia
Mems 42,75
EI Salvador
Central stlllldard 36,38 México
Prime washed 36.38
Etiópio
DJimm:l 33.63
Angola
Ambriz n. 2AA 21.50
Uganda
W & C 11. 10 20,25
Fonte: - CONJUNTURA ECONOM1CA
A alta dos preços dos cafés da variedade robusta deve-se prin- cipalmente à Organização Inter- -Africana do Café, criada há pouco e integrada pela quase totalidade dos países produtores africanos.
o ACÔRDO INTERNACIONAL
o
Acôrdo Internacional do Café a longo prazo, concluído em fins de setembro, sob os auspí- cios da Organização das Nações Unidas, ainda não entrou em vi- 50DIFERENÇA EM
20.12.62 PONTOS
33,50 - 100
33,25 - 100
40,00 - 2 75
36,25 13
36,25 13
32,63 - 100
24.38 + 288
23.28 + 303
gor, por não ter sido ratificado ou aceito, ainda, pelo número mínimo exigido de países parti- cipantes. Entretanto, a Junta Di- retora do Convênio Internacio- nal tio Café a curto prazo apro- vou a prorrogação do referido pacto por mais 6 meses e estabe- leceu quotas para os 2 trimes- tres dêsse período, a saber, ou- tubro-dezembro de 1962 e ja- neiro-março de 1963, com base nos dispositivos do nôvo Acôrdo.
A Junta Diretora tomou essas medidas em atenção ao pedido CONJUNTURA ECONôMICA
da Conferência das Nações Uni- das sôbre o café para que atuas- se como grupo diretor provisó- rio do Acôrdo, até a sua entrada em vigor, "para que o nível de preços seja mantido e haja or- dem no mercado internacional do café durante o período de transição".
No Brasil, ainda não existe unanimidade de opinião quanto às vantagens que o Acôrdo nos possa proporcionar. As discus- sões a êsse respeito parecem não atinar para o fato de o Acôrdo Internacional do Café a longo prazo ter resultado de negocia-
ções em que tôdas as partes
transigiram mutuamente. Não pode ser, portanto, pacto que traga benefício apenas ao Brasil ou a outro grupo de países em prejuízo de Qutros. Nas presen- tes circunstâncias e nas que se pedem prever durante a sua vi- gência de 3 anos, o Acôr'cio pa- rece ser o que de melhor se po- dia conseguir, desde que seja ra- tificado pelos principais países signatários.
. O MERCADO INTERNACIONAL
As importações mundiais de café em 1962 deverão superar a cifra de 45 milhões de sacas. O consumo, no entanto, não atin- girá o mesmo volume, porque cêrca de 1 milhão de sacas do total das importações norte-nme-
FEVEREIRO
rica nas representam simples an- tecipação de compras. Na verda- de, temendo o reinício da greve dos estivadores dos portos da Costa Atlântica e do Gôlfo do México, a 23 de dezembro úl- timo - temor que se revelou fundado - os importadores, negociantes e torradores intensi- ficaram suas compras nos cen- tros prol,] utores, a fim de não se verem a braços com escassez de café, caso a greve viesse a ter duração maior que a espera- da. Até o fim do ano, as ne- gociações entre a International Longshoremen's Association e a N ew Y ork Shi pping Association permaneciam sem decisão, não existindo, por outro lado, qual- quer medida legal de que o go- vêrno norte-americano pudesse lançar mão para obter o término do movimento pan.ljista. Resta- va-lhe apenas solicitar do Con- gresso a votação de legislação anti-greve.
As perspectivas das importa- ções de cafés brasileiros, em 1963, nos países integrantes do M e r c a d o Comum Europeu (França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Holanda e Lu·
xemburgo) não são promissor2s.
em virtude do tratamento dis- criminatório que será dispensa- do ao café proveniente dos paí- ses e territórios associ~ljos aos membros daquele Mercado. Tais países e territórios associados es-
SI
larâo isentos do pagamento de qualquer impâsto alfandegário, ao passo que os restantes países produtores, entre os quais o Bra- sil, ficarão sujeitos à tarifa exte- rior comum de 9,6f ( ad vaIo- rem.
Em dezembro último, o Con- selho de Ministros do Mercado Comum Europeu fixou sua po- lítica sôbre a importação de café da América Latina e chegou a acôrdo sôbre uma convenção de 5 anos com 18 Estados africa- nos que, recentemente, alcança- ram sua independência, deixan- do assim de ser colônias france-
sas, belgas e italianas. A Bélgica.
a Holanda e o Luxemburgo (Be nelux) poderão importar o caf dA América Latina impondo gra- dativamente a tarifa exterior co- mum do Mercado Comum Eu- ropeu) da seguinte maneira: taxa ad vaIarem de 2% até 1965, de 5( ~ até 1967 e após, a tarifa exterior comum de 9,6 0/0. A pos- sibilidade de o Reino Unido e a Escandinávia aderirem àquele Mercado poderá, assim, agravar consideràvelmente a posição dos produtores latino-americanos, no que respeita às exportações de café.
r - HBU ---;~m\ ~:.o/ ---, HBU
I P a ra sua;;?}} I
I ~JlÍ~mdl bl
I Eficiência e Rapidez I
I no Banco Holandês I
I
BANCO HOLANDÊS UNIDOs.
A.I
RIO DE JANEIRO SANTOS SÃO PAULO
11. lunn Airts, 11/13 R. 15 di ~nembro, 15'/159 R. IS de Honmbro,lst1
L
Tel. 31·3155 BREVEMENTE1:M SALVADOR Tel. 2·11S1 Tel. 3HIG'.J
---
52 CONJUNTURA ECONôMICA