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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

DANIEL PINHEIRO VIEGAS

A TRADICIONALIDADE DA OCUPAÇÃO INDÍGENA E A CONSTITUIÇÃO DE 1988:

A territorialização como instituto jurídico-constitucional

Dissertação ap resentada ao Programa de Pós-gradu ação em Dir eito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, como requisito para obtenção do grau de M estre em Direito Ambiental.

ORIENTADOR: Professor Doutor Edson Damas da Silveira

Manaus 2015

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DANIEL PINHEIRO VIEGAS

A TRADICIONALIDADE DA OCUPAÇÃO INDÍGENA E A CONSTITUIÇÃO DE 1988:

A territorialização como instituto jurídico-constitucional

Dissertação ap resentada ao Programa de Pós-gr aduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, como requisito p ara obtenção do grau d e Mestre em Direito Ambiental.

ORIENTADOR: Professor Dr. Edson Damas da Silveira

Manaus 2015

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Cat alogação na font e

Elaborada pela Universidade do Est ado do Amazonas/UEA V657t Viegas, Daniel P inheiro

A tradicionalidade da ocupação indígena e a Constit uição de 1988 / Daniel P inheiro Viegas. – Manaus: Universidade do Est ado Amazonas,

2015.

195 fls.: 30 cm

Dissert ação apresent ada ao P rograma de Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Est ado do Amazonas – UEA.

Orient ador: P rof. Dr. Edson Damas da Silveira

1. Direit o Const itucional. 2. Ocupação Indígena. 3. Territ orialização. I.

T ít ulo.

CDU 349.6(043.3)

UNIVERSIDADE DO EST ADO DO AMAZONAS

Av. Cast elo Branco, 670 – Cachoeirinha – Programa de P ós-graduação em Direit o Ambiental.

Cep. 69027-170 – Manaus-Am.

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TERMO DE APROVAÇÃO

DANIEL PINHEIRO VIEGAS

A TRADICIONALIDADE DA OCUPAÇÃO INDÍGENA E A CONSTITUIÇÃO DE 1988:

A territorialização como instituto jurídico-constitucional

Dissertação ap rovada pelo Progr ama de Pós-gradu ação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, p ela Comissão Julgadora abaixo identificada.

Manaus, 27 de março de 2015.

Presidente: Prof. Dr. Edson Damas da Silveira Universidade do Estado do Amazonas

Membro: Prof. Dr. Alfredo Wagner B erno de Almeida Universidade do Estado do Amazonas

Membro: Profa. Dra. Jaiza M aria Pinto Fraxe Membro externo

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DEDICATÓRIA

Aos Povos Indígenas brasileiros, que resistem cotidianamente ao direito de existir, dedico a p resente p esquisa como minha p equena contribuição na desconstrução do que lhes é imp osto como norma.

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AGRADECIMENTOS

Aos Colegas e amigos da Procuradoria Geral do Estado do Amazonas, Júlio Cezar d e Lima Brandão, p elo estímulo e su gestões; Júlio Cesar de Vasconcellos Assad, p ela comp reensão e apoio; Rafael Lins Bertazzo p ela força e reflexões diárias.

Ao amigo Fabiano Buriol, grande p arceiro nessa emp reitada acadêmica.

Às amigas Lor ena, Renata e Dan ielle p ela fr aterna co mp anhia durante o M estrado. À amiga Isabela Sales, p arceira de ideias e ideais. À incansável Dona Rai (Raimunda Albuquerqu e De Oliveira) semp re p aciente e atenciosa a frente da Secretaria do M estrado.

Ao Professor Edson Damas da Silveira atencioso e p aciente orientador, p elas reflexões e confiança no desenvolvimento da p esquisa.

Ao Professor Alfredo Wagner Berno de Almeida, cujo entusiasmo e as p rovocações me foram essenciais e sem as quais essa pesquisa não se realizaria.

Aos meus p rimos Henrique, André, Alessandro, Flávio, Ludugério Junior e Leandro que, sem perceberem, contribuíram de maneira fundamental.

Aos meus p ais Gilberto e Josilda que desde cedo me ensinaram a respeitar a diferença.

Aos meus filhos Antonio Au gusto, Mateus e Gabriel, cu ja existência é o grande estímulo p ara sonhar com um mundo melhor.

À Juliana, que dá sentido a tudo isso.

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RESUMO

A dissertação investiga o sentido da expressão terras tradicionalmente ocupadas cunh ada na Constituição Federal de 1988 e interpretada p elo Sup remo Tribunal Federal que, no julgamento da Petição nº 3.388/RR, em 2009, do caso d a Terra Indígena Rap osa Serr a do Sol, sob fundamento da teoria do fato indígena, estabeleceu a promulgação da Carta M agna como marco temp oral p ara o reconhecimento do direito territorial indígena. Par a isso fo i realizada inicialmente uma p roblematização da historicidade da relação do Estado com o direito territorial indígena no Br asil, a partir da an álise d e como os Estados ibéricos, no período colonial, e o Estado brasileiro estabeleceram, a p artir de mar cos legais, a r egulamentação d a relação com os povos indígenas brasileiros e com seus territórios. Em seguida, an alisou-se todo o p rocesso de construção do texto normativo do art.231, §1 º da CRFB/88, d esde os debates internacion ais em torno da Convenção 169 da OIT até as discussões travadas na Assembleia Nacion al Constituinte de 1987. A p artir disso, descreveu-se o levantamento de como a doutrina jurídica e a jurisp rudência do Sup remo Tribunal Feder al p assaram a interp retar o citado texto normativo.

Diante desses dados docu mentais, a pesquisa p assou a analisar a h ip ótese de a Constituição Federal de 1988, no art.231, §1º e art.215,§1º, p ara além do indigena to e do fato indígena, ter positivado a territorialização como instituto jurídico. Para a af erição dessa hip ótese a p esquisa investigou as seguintes questões: 1) A exp ressão “terras que tradiciona lmente ocupam” é “vaga”

e admite a ap licação da concepção do Sup remo Tribunal Federal? 2) É p ossível, a partir da teoria da mutação constitucional, admitir que o art.231, §1 º da Constituição Federal de 1988 tenha seu sentido alterado p ara se admitir uma limitação temp oral do direito territorial indígen a? 3) Ante a relação entre direito territorial indígena e quilombo la, como este último tem sido concretizado pela jurisp rudência dos tribunais inferiores? 4) Como os p ovos indígenas interp retam o art.231,

§1º da Constituição Federal de 1988 a p artir das exp eriências de reiv indicação dos indígenas do Nordeste e dos novos conflitos urbanos no Norte? 5) Como p ensar uma tradicionalid ade que se distancie de uma p ersp ectiva arqueoló gica e etnocêntrica? 6) Como se ap roximar de uma concretização constitucionalizante do art.231, § 1º da Constituição Federal?

Palavras-cha ve: terra, território, tradição, indígena, etnogên ese, fato ind ígena, indigenato, territorialização, direito constitucional.

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ABSTRACT

This dissertation investigates the meaning of the exp ression traditionally occup ied lands coined in the Feder al Constitution of 1988 and interp reted by the Sup reme Court in which the judgment of Petition no. 3388/RR in 2009, the case of the Rap osa Serra do So l Indigenous Land, founded on the theory of the indigenous fact (“fato indígen a”), established the p romulgation of the National Constitution as a timeframe for the recogn ition of indigenous territorial r ights. For this p urpose, an initial inqu iry on the history of the State's relationship with indigenous territorial rights in Brazil was carried out, based on the analy sis of how Iberian States during the colon ial period, and the Brazilian government established regu lation of the relationship with Brazilian indigenous p eoples and their territories, through legal frameworks. Then the entire construction process of the legal text of article 231, p aragrap h 1 of CRFB/88 from international debates on the ILO Convention No. 169 is analy zed, up to the discussions held in the National Constituent Assembly of 1987. I describe the survey of how the legal do ctrine and jurisp rudence of the Sup reme Court came to interp ret the legal text mentioned her e. Given these do cumentary data, the research will examin e the hy p othesis that the Federal Constitution of 1988, in art. 231, §1º and article 215, §1 º, go in g bey ond the indigena to and indig enous fact, have established territorialization as a legal institution. To measure this hypothesis the research investigates the followin g issues: 1) Is the exp ression traditiona lly o ccupied lands “vague” and does it p ermit the app lication of the concep tion used by the Supreme Court? 2) Is it p ossible, through the theory of constitutional chan ge, to ad mit that article 231, §1 of the 1988 Federal Constitution has altered its meanin g to allow a time limitation for indigenous territorial rights? 3) Considering the relationship between indigenous and quilombola territorial law, how has the latter been achieved by case-law of the lower courts? 4) How do indigenous p eoples interp ret article 231, p aragrap h 1 of the 1988 Federal Constitution from the exp eriences of Northeast Indian demands and new urban conflicts in the North? 5) How to think about a traditionalism that is distant from archaeo logical and ethnocentric p ersp ectives? 6) How to approach constitutionalizing attainment of article 231, § 1 of the Federal Constitution?

Keywords: land, territory , tradition, indigenous, ethnogenesis, indigenous fact, indigenato, territorialialization, constitutional right.

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SUMÁRIO

1. IN TRO DUÇÃO...11 2. A RELAÇ ÃO DO ES TADO C O M O DIREITO TERRITORIAL INDÍGENA NO BRASIL:

UM LEVANTAMEN TO DO S MARC OS LEGAIS DO PERÍODO COLONIAL À DITADURA CIVIL-MILITAR ...17 2.1.OS POVOS PRÉ-COLOMBIANOS E OS T ERRIT ÓRIOS: A P RESENÇA COLONIAL COMO FAT O HIST ÓRICO DETERMINANTE...18 2.2.A DOUT RINA COLONIALIST A DA (DES)IGUALDADE BIOLÓGICA COMO JUST IFICAT IVA PARA A AÇÃO COLONIZADORA SOBRE AS COMUNIDADES INDÍGENAS E P ARA

(DES)T ERRIT ORIALIZAÇÃO. ...20 2.3.AS “GUERRAS JUSTAS” PELA (DES)T ERRITORIALIZAÇÃO DOS P OVOS INDÍGENAS:

DOUT RINA DA VIOLÊNCIA P ARA A OBEDIÊNCIA AT RAVÉS DOS INST ITUT OS DO

REQUERIMIENTO, ALDEAMENTO E DESCIMENTO...24 2.4.A INDEP ENDÊNCIA DO BRASIL E AS BASES DA P OLÍTICA INDIGENIST A P RATICADA DURANTE O SÉCULO XVIII E XIX: AVANÇO DA ASSIMILAÇÃO DOS P OVOS INDÍGENAS....28 2.5.A LEI Nº 601 (1850): A MERCANTILIZAÇÃO DA T ERRA E A LEGALIZAÇÃO DAS

EXP ROPRIAÇÕES DOS T ERRITÓRIOS INDÍGENAS...31 2.6.A REP ÚBLICA: DA P OLÍTICA DE INVISIBILIZAÇÃO À CONST IT UCIONALIZAÇÃO DO INDIGENAT O COMO EFEIT O DA ANCEST RALIDADE DA POSSE INDÍGENA ...34 2.7.A DIT ADURA CIVIL-MILITAR: OS P OVOS INDÍGENAS E SEUS T ERRIT ÓRIOS COMO GRANDES EMPECILHOS AOS GRANDES “ P ROJET OS DESENVOL VIMENTIST AS” ...48 3. DIREITO TERRITORIAL INDÍGENA E A CO NS TITUIÇ ÃO FED ERAL D E 1988 ...56 3.1.OS ANT ECEDENT ES HISTÓRICOS DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONST IT UINT E: O ATIVISMO DO MOVIMENT O INDÍGENA E A ADESÃO DA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA ...

...59 3.2.A P ART ICIPAÇÃO DOS ANT ROP ÓLOGOS NAS SESSÕES DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONST ITUINT E DE 1987: A APRESENT AÇÃO DE UMA NOVA P ERSP ECT IVA DOS DIREIT OS DOS P OVO S INDÍGENAS ...66 3.3.A P ART ICIPAÇÃO E OS T EMAS ABORDADOS PELA SOCIEDADE CIVIL E P OR JURIST AS NA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTIT UINTE: A P ROP RIEDADE FUNDADA NO MODO SOCIAL E A NECESSIDADE DE SE EST ABELECER INST RUMENT OS QUE P OSSIBILIT EM A DEFESA DOS DIREIT OS TERRIT ORIAIS ORIGINÁRIOS ...73 3.4.AS REIVINDICAÇÕES T ERRIT ORIAIS DAS LIDERANÇAS INDÍGENAS: “ ESSE POVO NÃO PODE SER REPRIMIDO, ESSE POVO NÃO PODE SER ESPREMIDO, ESSE POVO NÃO PODE SER ISOLADO, ESSE POVO TEM QUE SER ATENDIDO”. ...76

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3.5.O P ROCESSO DE CONST RUÇÃO DO T EXT O CONST IT UCIONAL DO ART .231,§1º NA ASSEMBLEIA NACIONAL CONST ITUINTE ...80 3.6.A NORMA JURÍDICA EXTRAÍDA DA INTERP RETAÇÃO DO ART .231, §1º DO TEXTO CONST ITUCIONAL, PELA DOUT RINA JURÍDICA BRASILEIRA ...102 3.7.A NORMA JURÍDICA HISTORICAMENT E EXT RAÍDA DOS DIVERSOS T EXT OS

CONST ITUCIONAIS P ELA JURISP RUDÊNCIA DO SUP REMO T RIBUNAL FEDERAL. ...114 4. A TRADIC IO NALIDADE DA O CUPAÇÃO INDÍGENA NO TEXTO DA C O NSTITUIÇÃO DE 1988: A DIS PUTA ENTRE A NO RMA JURÍDIC A VIVENC IADA E A NORMA JURÍDIC A REPR ESADA PELA MUTAÇ ÃO INCONS TITUC IO NAL ...131 4.1.AS “TERRAS QUE TRADICIONALMENTE OCUPAM”: UMA T ENTATIVA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DE T ORNAR “ VAGA” UMA EXP RESSÃO T EXT UALMENTE

DELIMITADA PELA CONST ITUIÇÃO FEDERAL DE 1988...133 4.2.A T EORIA DA MUTAÇÃO CONSTIT UCIONAL NA JURISP RUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E SEUS LIMIT ES INT ERP RET ATIVOS. ...136 4.3.O DIREIT O T ERRITORIAL QUILOMBOLA NA JURISP RUDÊNCIA COMO P ARADIGMA DE DISCU SSÃO P ARA DIREIT O TERRIT ORIAL INDÍGENA ...145 4.4.AS CAUSAS E OS EFEIT OS DA CONST ITUIÇÃO DE 1988 NAS EMERGÊNCIAS ÉT NICAS DOS P OVOS INDÍGENAS E A NECESSIDADE DE UMA CONCRET IZAÇÃO

CONST ITUCIONALIZANT E ...153 4.5.O CONT EÚDO DO CONCEIT O DE T RADIÇÃO COMO P ONT O DE P ARTIDA P ARA UMA NOVA INT ERP RETAÇÃO CONST ITUCIONAL DA T RADICIONALIDADE DA OCUPAÇÃO INDÍGENA ...162 4.6.A TERRITORIALIZAÇÃO COMO NOVO INST IT UTO JURÍDICO TRAZIDO P ELA

CONST ITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 PARA ALÉM DO INDIGENAT O E EM CONT RAP OSIÇÃO AO FAT O INDÍGENA...169 5. CONS IDERAÇÕ ES FINAIS ...177 6. REFER ÊNCIAS BIBLIOGRAFIC AS ...182

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1. INTRODUÇÃO

A presente p esquisa surge do mesmo qu estionamento de Said (2007) qu anto à p ossibilidade de sobreviver às consequências da divisão da realidade humana em cu lturas, histórias, tradições, sociedades e a até raças claramente diferentes para de algu m modo evitar a hostilidade exp ressada p ela divisão dos homens em “nós” e “eles”, cu jo uso histórico e de f ato, normalmente, teve intenções não muito admiráveis.

Esse questionamento norteia e instiga a busca p or uma maior compreensão das escolhas jurídicas e p olíticas do Sup remo Tribunal Federal brasileiro, no ano de 2009, ao ap reciar a Petição nº 3388 e julgar a Ação Popular ajuizada contra a União, em maio de 2005, p elos Senador es Affonso Botelho Neto e Francisco M ozarildo de Melo Cavalcanti, na qual se imp ugnava o mod elo d e d emarcação contínuo d a Terra Ind ígena Raposa Serr a do Sol, situada no Estado de Roraima.

Nesse julgamento, a mais alta Corte do Poder Judiciário nacional f irmou uma gr ande quantidade de conceitos e critérios para demarcação de terras indígenas, dentre os quais, o estabelecimento da data da p romulgação da Constituição Federal de 1988 como marco temp oral para aferição das áreas tradicionalmente ocup adas p elos p ovos indígenas. Nesse acórdão do STF, sob o item 11, intitulado O CONTEÚDO POSITIVO DO ATO DE DEM ARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS, o M inistro Relator Ay res Britto, disp ôs que a Constituição Federal trabalhou com a data da p romulgação dela p róp ria (5 de outubro de 1988), como “insubstituível referencial p ara o d ado da ocup ação de u m determinado esp aço geo gráf ico p or essa ou aqu ela etnia aborígene” (BRASIL, 2009). Disso já se observa as escolhas da Sup rema Corte em utilizar as mesmas exp ressões que rotulam os indígenas desde o p eríodo colonial.

Prosseguindo, o Ministro Ay res Britto (BRASIL, 2009) também fez uma interp retação de qual seria o sentido d a exp ressão terras tradicionalmente o cupadas cunhad a na Constituição Federal, disp ondo, sob fundamento da teoria do fato indígena, que haveria um marco da

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tradicionalidade d a ocupação, ou seja, “é p reciso que esse estar coletivamente situado em certo esp aço fundiário também ostente o caráter da p erdurabilidade, no sentido anímico e p síquico de continuidade etno gráfica”, excetuando ap enas quando a reocup ação não ocorr eu p or efeito de renitente esbulho p or p arte de não-índios.

Esse entendimento estimulou essa investigação acer ca do con ceito de “ocupação tradicional”, d isp osto no art.231, §1 º da Constituição da R ep ública, p ara verificar se de f ato o texto constitucional qualif ica a p osse indígen a a p artir de uma relação con gênita, como p retende o indigenato (1912); se existe força explicativa nessa teoria do fato ind ígena, que condiciona o direito territorial a temporalidad e da posse, a p artir do conceito de habitat; ou ainda, se houve novo caminho para comp reender a comp lexidade da ocupação indígen a institucionalizado na Constituição de 1988, considerando a realidade da etnogên ese e da territorialização na história e na antropologia nacionais.

Para tanto, foi necessária a p roblematização d a historicid ade da relação do Estado co m o direito territorial indígena no Brasil, a p artir da análise de como os Estados ibéricos, no período colonial, e o Estado brasileiro estabelecer am, a p artir de marcos legais, a regulamentação da relação co m os p ovos indígenas brasileiros e com seus territórios, investigando o que h á de comum nos p eríodos comp artimentados e p eriodicizados da história vulgar, bem como, o que há de etnocêntrico nessas normas legais instituídas a p retexto de uma distinção bioló gica ou religiosa, p ara justificar a submissão do que lhe era diferente.

Em seguida, a p artir da constatação de que a Constituição Fed eral de 1988 manteve a tradição constitucional brasileira do ind igenato, r econhecendo aos p ovos indígen as o direito territorial sobre as terras tradicionalmente ocup adas, foi n ecessário observar se o texto foi além e desvinculou o dir eto das comunidad es indígen as da p ersp ectiva arqueológica e da linear idade temp oral, não exigindo p ara o reconhecimento do direito territorial uma p osse imemorial e nem datada, mas a tradicionalidade do seu uso.

Para isso, se analisou os antecedentes da Assembleia Nacional Constituinte de 1987, os debates e discussões nas Conferências Internacionais do Trabalho promovidas p ela Organização Internacional do Trabalho – OIT e, mais profundamente, as disp utas dentro do Congresso Nacional, qu e não ap enas culminaram co m o texto referente ao d ireito territorial indígena, mas deram início a um novo embate interp retativo travado na doutrina juríd ica e n a jurisp rudência do Sup remo Tribunal Federal e nas demais Cortes brasileiras.

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Por fim, se investigou a ressemantização do conceito de “tradição” p ara contrap ô-lo aos institutos jurídicos do indigenato e do fato ind ígena, p ara verificar se no campo jurídico é possível, a p artir da interp retação constitucional, observar a necessidade da incorp oração de uma nova categor ia no léxico jurídico, que justifique e solucion e as novas demandas territoriais, observadas as exp eriências do direito territorial quilombola, das comunid ades ind ígenas no Nordeste e as novas territorialidades urbanas na cidade de M anaus, no Estado do Amazonas.

Com isso, a p resente pesquisa lança co mo hip ótese a ser afer ida, a p ossibilidade da Constituição Federal de 1988 no art.231, §1 º e art.215,§1 º, p ara além do indigenato, ter positivado, como instituto jurídico, a territoria lização, co mo um processo natural e reverso à política indigenista territorial p raticada p elo Estado colonial e, posteriormente, p elo Estado brasileiro, não originár io d e uma anterior idade da p osse ou da p resença ind ígena, mas decorr ente da p roteção constitucional ao direito de existir desses grup os étnicos, com suas esp ecificidades?

Para os p rocedimentos da p esquisa foi utilizada uma base docu mental co mp osta p or livros e artigos científicos, artigos de jornais, alvarás régios, decr etos, leis, p rojetos de lei, antep rojetos de constituições, atos institucionais, atos adicionais, rep ertórios de jurisprudência, acórd ãos, sentenças, anais legislativos, relatórios e p areceres, que p ermitiu r ealizar a descrição e an álise da historicidade d a r elação dos p ovos indígenas co m o Estado e comp reender o f enômeno interp retativo constitucional, para aferir a p ossibilidade de novas estratégias de ar gu mentação diante de conflitos étnicos fundiários relacion ados aos p ovos indígenas, a p artir das normas jurídicas estabelecidas.

Antes, p orém, é necessário r egistrar as op ções conceituais de determinadas expressões, p ara que os leitores entendam o p orquê da p esquisa se utilizar de alguns termos como sinônimos, mesmo de maneira contrária ao entendimento do Sup remo Tribunal Federal no julgamento da Petição nº 3.388 /RR. Esse registro segue o alerta de Foucau lt (2007: XV-XVI), no Prefácio de As Palavras e as Coisas, de que não há, “mesmo p ara a mais in gênu a exp eriência, n enhuma similitude, nenhuma distinção que não resulte de uma op eração precisa e da ap licação de um critério prévio”, que é indisp ensável p ara a imposição da ordem do “nós” ao “outro”.

Portanto, “é só o reconhecimento do caráter essencialmente p reconceituoso de toda comp reensão que p ode levar o p roblema hermenêutico à sua real agudeza” (GADAM ER, 2005:360), observando qu e as esco lhas con ceituais são ordens, e como tais for mam, “a rede

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secreta segundo a qual elas se olh am de algu m modo u mas às outras e aquilo que só existe através do crivo de um olhar, de uma atenção, de uma linguagem” (FOUCAULT, 2007: XVI).

Assim, considerando que a “variação semântica no temp o e no esp aço é indissociável dos condicionamentos p ragmáticos, ou seja, dos interesses, exp ectativas e valores envolvidos no momento da interp retação/ap licação ” (NEVES, 1994:322), é que esta p esquisa rejeita a ap licação da exp ressão “silvícola”, “aborígen e”, “p rimitivo”, “nativos”, “gentil”, “brabo”, bem como as distinções estabelecid as p elo Sup remo Tribunal Fed eral em r elação à terra e ao território, além da sua escolha de não se referir aos indígenas como p ovos.

A abolição das exp ressões asp eadas acima deve-se ao fato de estarem associadas a uma ideia p rimitivista de id ealizar os índios como ser es que habitam a selva, selvagens na defin ição encontrada no dicionár io (ABL,1008:1181), como elementos do atraso e da d esordem, que não distinguiria co munidad es indígena d e primatas, numa p ersp ectiva evolucionista, cujo r anço ainda está fortemente presente na jurisp rudência em exp ressões como “aculturados”, “misturados” entre outras1, para justificar a ap licação de um conceito restritivo de nação.

O Sup remo Tribunal Federal consid erou “território” como uma categoria juríd ico-p olítica, que delimita espacialmente “a incidência de uma dada Ordem Jurídica sober ana, ou autônoma”, enquanto o substantivo “terras” seria uma categoria sócio-cultural, e n ão política, p ara con cluir que nenhuma das comunid ades indígenas brasileiras deteria estatura normativa de “Nação”,

“País”, “Pátria”, “território nacional” ou “p ovo” independente (BRASIL, 2014).

Todavia, seguindo a doutrina d e Souza Filho (2003:101) em seu estudo acerca da territorialidade no Estado brasileiro, observa-se que as d istinções estabelecidas pelo Sup remo Tribunal Federal, em verd ade, rev elam que a mesma ideolo gia utilizada p ara negar a existência de um p ovo é historicamente aplicada para nega o território.

Os nomes que o Direito brasileiro, no decorrer dos tempos, deu aos territórios indígenas são rev eladores do conteúdo qu e se atribuía ao direito outorgado.

“Reserva” era o nome utilizado pela Lei de T erra de 1850, Lei nº 601, e guardava a ideia de res ervar um espaço territorial aos povos que fossem en contrados na

1 Nesse trecho do acórdão da Petição nº 3388 se observa a perspectiva evolucionista na distinção entre índios e silvícolas, como se este fosse um estágio anterior ao suposto processo de perda de cultua que a Corte denomina de

“aculturação”, mas que não tem respaldo n a antropologia contemporân ea: “ O SIGNIFICADO DO SUBST ANT IVO

"ÍNDIOS" NA CONST IT UIÇÃO FEDERAL. O substantivo “índios” é usado pela Constituição Federal de 1988 por um modo invariavelmente plural, para exprimir a diferenci ação dos aborígen es por numerosas etnias. Propósito constitucional de retratar uma diversidad e indígena tanto interétnica quanto intra-étnica. Índios em processo de aculturação permanecem índios para o fim de proteção constitucional. Proteção constitucional que não se limita aos silvícolas, estes, sim, índios ainda em primitivo estádio de habitantes da selva (BRASIL, 2009).

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colonização para a distribuição, chamada de ordenada, a quem tivesse capital para nelas investir. Nas terras reserv adas, os índios deveriam ficar até que aprend essem um trabalho “ civilizado” e pudessem ser integrados à vida nacional.

Embora reserv ados, os direitos eram provisórios, mas sempre ligados a um espaço territorial.

A palavra “ área” foi tamb ém usada, e fin almente “terra indígena”. O nome

“território” nunca foi usado; ao contrário, foi intencionalmente neg ado. É claro que há uma não muito sutil diferença entre chamar entre “ terra” e “ território”:

“terra” é o nome jurídico que se dá à propriedade individual, seja público ou privada; “território” é o nome jurídico que se dá a um espaço jurisdicional.

Assim, o território é um espaço coletivo que pertence a um povo. (SOUZA FILHO, 2003:101)

Trata-se do reflexo, no discurso jurídico, da imp lantação d e uma política co lonialista e etnocentrista, comum nas Constituições dos Estados-nacionais latino-americanos que incorp oraram às orientações do modelo europeu, no qual a Constituição estabelecia um rol de direitos e garantias indiv iduais, sendo omissas quanto a qualquer direito que não fosse a possibilidade de aquisição p atrimonial individual.

A origem histórica desse discurso e das escolhas conceituais e distinções estabelecidas nos precedentes jurisp rudenciais remontam a uma estratégia d e disp uta de p oder estabelecida ap ós as Revoluções In glesa, Francesa e Americana, as qu ais, segundo Hobsbawn (2012), não p oderiam desp rezar a terra como precondição e consequên cia necessária d a sociedade bur guesa e de todo o desenvolvimento econômico na velocidade em que se p retendia.

De outro lado, o receio de se associar a id eia de p ovo com a formação de uma nação, o que colocar ia teoricamente em risco a integrid ade territorial nacional revela-se numa falsa p remissa e no p reconceito de se imaginar qu e a “nação singu lariza o elemento humano do Estado ou se confunde com o p róp rio Estado” (SILVA: 2005:852). Trata-se de uma p erspectiva sup erada ante a realidade d e existirem Estados multinacion ais ou multiétnicos, Estado sem nação (o Vaticano) e nação sem Estado co mo os judeus até a fundação do Estado de Israel ( SAUER,1933:186 ap ud SILVA,2005:852).

Como bem observa A gamb en, há no conceito de p ovo dentro da política ocidental uma ambiguidade semântica que não é casual, mas reflexo de u ma anf ibologia intencional, uma oscilação dialética entre dois p olos op ostos:

de um lado, o conjunto Povo como corpo político integral, de outro, o subconjunto povo como multiplicidade fragmentária de corpos necessitados e excluídos; ali uma inclusão que se pretende sem resíduos, aqui uma exclusão que se sabe sem esperanças; num extremo, o Estado total dos cidadãos integrados e soberanos, no outro, a reserva - corte dos milagres ou campo - dos miseráveis,

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dos oprimidos, dos vencidos que foram banidos (AGAMBEN, 2014).

M enos que conceitos científicos, essas distinções semânticas revelam a existência de “uma luta teórica contra a força dos esquemas interpretativos dos positivistas no direito”(ALMEIDA, 2008:20), que confundem

etnias, minorias e/ou povos tradicionais dentro de uma noção g enéri ca de

“povo”, elidindo a diversidade cultural, e contra a ação s em sujeito de esquemas inspirados nos “ estruturalismos”, que privilegiam e se circunscrevem às oposições simétricas entre “ comum” e “ individual”, entre “ coletivo” e “ privado”, entre “ propriedade” e “ uso”, entre recursos “ abertos” e “fechados”, entre

“tradicional” e “ moderno”, menosprezando a dinâmica das situaçõ es concretas produzidas pelos povos e grupos tradicionais nas suas relações sociais com seus antagonistas históricos. O “modelo de propriedade comum”, concebido pelos legisladores para harmonizar a homogeneização jurídica dos registros cadastrais de terras, e as interpretações absolutas do “uso comum”, que aparecem nos documentos ofi ciais com finalidad e de recens eamento agrop ecu ário, são aqui relativizados e considerados como noções pré-con cebidas, que contraditam as ações mobilizatórias dos chamados “ povos tradicionais” e suas categorias intrínsecas de apropriação dos recursos naturais (ALMEIDA, 2008:20).

Desta feita, não se op tará nesta p esquisa em p erpetuar a distinção entre “terra” e

“território”, cuja relevância se refere muito mais a uma questão ideoló gica historicamente construída do que numa diferen ça ontoló gica que conduziria a alguma teoria sep aratista ou consp iratória contra a soberania estatal. Assim, ap ós a Constituição de 1988, “não se co loca mais em dúvida que o Estado nacion al é pluriétnico e multicu ltural, e qu e todo o direito, em sua elaboração e ap licação, tem esse marco como referência inafastável” (PEREIRA,2007:09).

Por consegu inte, a opção pela deno minação “p ovos indígenas” fund amenta-se juridicamente nos cr itérios adotados pela Convenção n º 169 d a OIT2, p romulgada p elo Decreto n.º5.051, de 19 de abril de 2004, e p elo Decreto n. 6.040, d e 7 de fever eiro de 2007, qu e “Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais”.

2 Art.1º

[…] 3. A utilização do termo "povos" na presente Convenção não deverá ser interpret ada no sentido de ter implicação alguma no que se refere aos direitos que possam ser conferidos a esse termo no direito internacional.

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2. A RELAÇÃO DO ESTADO COM O DIREITO TERRITORIAL INDÍGENA NO BRAS IL: UM LEVANT AMENTO DOS MARCOS LEGAIS DO PERÍODO COLONIAL À DITADURA CIVIL-MILIT AR

Reconstruir uma historicidade da r elação do Estado com o dir eito territorial indígena, seja o português no p eríodo colonial, ou o brasileiro ap ós a “indep endência”, exige, ao menos, duas cautelas iniciais: a de se evitar descrever os fatos históricos e marcos legais de man eira evolucionista, o que n ão teria fundamento científico e nem corresp onderia à realid ade v ivenciada pelos p ovos indígenas; e a d e que, embor a as normas jurídicas busquem a univ ersalid ade e a uniformidad e entre as pessoas, contraditoriamente, não há uma r elação “genérica” entre indígen as e não-índios, como se as inf initas diferenças entre as comun idades autóctones e os contatos estabelecidos p udessem ser comp reendidas a partir da dicotomia “bom selvagem/bárbaro”.

Assim, a p retensão deste cap ítulo é identificar como os Estados ibéricos e o Estado brasileiro estabeleceram, a p artir de marcos legais, a regu lamentação d a relação com os p ovos indígenas brasileiros e co m seus territórios, investigando o que há de comu m nos p eríodos comp artimentados e p eriodicizados da história vulgar, bem como, o qu e há de etnocêntrico nessas normas legais instituídas, que carr egavam co mo p retextos uma distinção bioló gica ou religiosa para justificar a submissão do que lhe era diferente.

Essa compreensão das origens dessas relaçõ es entre os p ovos indígenas com os Estados ibéricos e co m o Estado “nacional” brasileiro é essencial p ara encontrar o nascedouro de velhos instrumentos legais de insp iração colonial que imp edem a efetivação dos novos disp ositivos da Constituição Federal de 1988, o que ocorr e mecan icamente nos ap aratos burocrático- administrativos do Estado, como também são resultantes de estratégias en gendrad as, seja p or interesses que historicamente monopolizaram a terra, seja p or interesses de “novos grup os emp resariais” interessados na terra e demais recursos naturais (ALM EIDA, 2008:40).

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2.1.OS POVOS PRÉ-COLOMBIANOS E OS TERRITÓRIOS: A

PRESENÇA COLONIAL COM O FATO HISTÓRICO

DETERM INANTE

Debater a categoria território como terra tradicionalmen te ocupada exigir á uma p esquisa quanto à gênese da for mação desse conceito, bem como a sua interface co m a terra e a prop riedade. Contudo, é relevante r egistrar que território é domínio, qu e p ode se materializar em um esp aço físico, mas dessa forma não está ontolo gicamente ligado a n atureza humana, nem está presente em todas as culturas das sociedades human as, sendo objeto da análise de diversas ciências sociais, como o direito e a antrop ologia. Oliveira (1998:54) recorda que

Bohanan (1967) forn ece uma grande quantidade de exemplos em que os princípios ordenadores de uma sociedad e estão localizados em um ponto especí fi co da estrutura social - o sistema de linhagem, as classes de idade, a organização militar, o sistema ritual, as fo rmaçõ es religiosas -, sem que as ações sociais possuam qualquer conex ão mais significativa com alguma bas e territorial fixa.

Para Souza Filho (2002), mesmo nos povos em que existe essa categoria, no sentido de exercício do p oder em determin ado esp aço geo gr áfico, ela se fund amenta nos mais variados motivos, como mitos, crenças e cultura, que definem critérios totalmente diferentes da ocup ação próp ria e de defesa contra a ocup ação por terceiros, afirmando que

cada povo indígena tem uma idéia própria de território, elaborada por suas relaçõ es internas, com os outros povos e com o espaço onde lhes coube viver.

Por isso mesmo, estão incluídos nos direitos territoriais os direitos ambientais, que têm estreita ligação com os culturais, uma vez que significam a possibilidade ambiental de rep roduzir hábitos alimentares, farmacologia própri a, arte e artesan ato. Além disso, supõe-se que cada povo sabe a história, real ou mítica, de seu território, conhecendo sua extens ão e seus limites (SOUZA FILHO, 2002:53).

Exemp lo disso são os Caiap ó, p ara os quais há definições quanto aos limites de seu território e resistem a qualquer tip o de invasão, seja indígen a ou não (SOUZA FILHO,2002). Os Guarani Kaiowá, tamb ém p ara exemp lificar, habitantes do sul do M ato Grosso (Brasil) e norte do Paragu ai, têm sua territorialidad e associada à p ermanência nas “fazendas”, como trabalhador es rurais e muitas vezes em situação análo ga a de escravos, p ara não se afastar de seus sítios

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ancestrais, sendo esse contexto determinante para o alto índice de suicídio entre os Kaiowá, com casos graves de suicídios coletivos. (THOM AZ DE ALM EIDA ap ud SOUZA FILHO,2012).

Assim, se ainda hoje não é un iforme e não têm os mesmos sentidos o debate sobre território e direito territorial, imagine antes da descob erta da América e dos amer icanos, que, como bem avalia Todorov (2010), foi o mais surp reendente encontro da história, mais que as ch egada em qualquer outro continente ou até mesmo à Lua, ante o sentimento radical d e estranheza que anuncia e funda a identidade da p op ulação p resente a partir do maior genocídio da humanidade.

Portanto, constando-se que a categoria território não está p resente em todas as sociedades indígenas brasileiras e que são inúmeros os fatores internos e externos, que p odem ser indicados para explicar a p assagem de uma sociedad e segmentar à condição d e socied ade centralizada, Oliveira (1998) observa que no caso brasileiro o elemento mais repetitivo e constante, resp onsável p or tal transformação, foi o p rocesso de colonização, que sujeitou as sociedad es indígenas a u m ap arato p olítico-administrativo que integr a e rep resenta um Estado (seja politicamente soberano ou somente com status colonial).

Foi a p resença colonial, como fato histórico, o resp onsável p or instaurar uma nova relação das sociedades indígen as com o território, deflagr ando transformações em múltiplos níveis de sua existência sociocu ltural (OLIVEIRA,1998), que cu lminou com a in corporação de elementos étnicos e de autodefin ição coletiva, concorrendo p ara r elativizar divisões p olítico-administrativas (ALM EIDA, 2011) bem como a p róp ria p ercepção da p rop riedade p rivada.

Dessa maneira, p ara que se p ossa comp reender a doutrina jur ídica e os p recedentes judiciais relacionados ao direito territorial indígena, princip almente os que urdem “p or uma p á de cal”

(BRASIL, 2009) em torno da ef etivação desse direito, é relevante a p roblematização da historicidade d a relação do Estado com o direito territorial ind ígena no Brasil, a p artir da invasão colonial.

Esse é o fato histórico primordial p ara observar e entender como se dá a formação das concep ções jurídicas p ostas em debate no Sup remo Tribunal Federal, bem co mo a origem da pretensão de se imp rimir o selo da universalidade a um p onto de vista sobre o mundo social que conduz à tentativa de universalização da prática, quer dizer, à generalização nas p ráticas, de um modo de ação e de exp ressão até então p róp rio de uma região do espaço geográfico ou do esp aço social (BOURDIEU,2011).

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2.2. A DOUTRINA COLONIALISTA DA (DES)IGUALDADE

BIOLÓGICA COMO JUSTIFICATIVA PARA A AÇÃO

COLONIZADORA SOBRE AS COM UNIDADES INDÍGENAS E PARA (DES)TERRITORIALIZAÇÃO.

A exp ansão colonialista ibérica buscou estabelecer uma relação co m os p ovos indígenas a partir de uma p ersp ectiva maniqueísta e evolucionista, fundada em uma filosofia religiosa sincrética e dualística, em que a rep resentação dos indígen as é feita a p artir da sua igualdade ou distinção bioló gica do colonizador, o qu e irá justificar a diversidade d as relações estabelecid as, porém conduzirá semp re a um mesmo desfecho. Ou seja, o determinismo bio ló gico serv e como substrato p ara a execução do determinismo geográfico.

Não é p or outra razão que se observ a a v ariação d e que os indígen as ora são tidos como seres de um p araíso terrestre, de um Éden p erdido, nobres selvagens, na infân cia do mundo, ora como seres inferiores, inf iéis e traiçoeiros (LACERDA,2007), um meio termo entre os homens e os animais (TODOROV,2010).

Trata-se do início do debate quanto à formulação doutrinária da desigualdade e a sua contrap osição, que defendia a igu aldad e entre indígen as e colonizadores, exp ondo a op osição entre identidade e diferença, em qu e a “difer ença se degrad a em desigualdade; a iguald ade em identidade” (TODOROV, 2010:211). Essa querela doutrinária fica bem ev idenciada no Duelo d e Valladolid3, em 1550, com o d ebate travado entre Juan Ginés d e Sep úlveda (1490-1573), teólo go e jurista erudito, que se tornara o exp oente maior da defesa d a desiguald ade bio ló gica, da incap acidad e indígen a e da sua escravização em “guerras justas”, e do outro lado Bartolomé de Las Casas (1484-1566), dominicano, Bisp o de Chiapas, com longa vivência junto aos indígenas e defensor da doutrina da igualdade (TODOROV,2010).

Todorov (2010:221) revela que Sep úlveda achava

que a hierarqui a, e não a igualdade, é o estado natural da sociedad e humana. Mas a única relação hierárqui ca que conhece é a simples superioridade-in ferioridade;

não há, pois diferen ças de n atureza, mas apen as graus diversos numa única escala de valores, ainda que a relação possa repetir-se ad infinitum.

3 O Duelo de Valladolid ocorre quando SEPÚLVEDA, não obtendo do Conselho das Índias o direito de imprimir seu tratado que consagra às justas causas das guerras, recorre àquele para tentar reverter a decisão. LAS CASAS então propõe-se a defender os argumentos contrários (T ODOROV,2010).

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Assim, Sep úlveda fundamentava sua teoria na id eia aristotélica de servidão natural considerando quatro causas, que também são imp erativos morais, que justificariam a justiça da guerra emp reendida p elos esp anhóis contra esses “bárbaros”: a p rimeira seria a servidão natural dos homens “bárbaros”, incu ltos e inumanos que se neguem em admitir a dominação dos que são mais p rudentes, p oderosos e perfeitos que eles; a segunda seria atender ao p rop ósito de banir o crime h ediondo e assombroso de devor ar carne human a, cultuando demôn ios ao invés de Deus;

terceira causa ser ia salvar de ferimentos graves muitos mortais inocentes que são sacrificados todos os anos p or esses “bárbaros”; e por fim, a quarta justificativa da guerr a é a forma aberta e segura de abrir caminho p ara os missionários (TODOROV,2010).

Por essas razões, Sep úlveda, p ropunha tratamentos diferenciados confor me o tip o de reação indígena à conquista. Ou seja, aqueles que r esistirem com armas aos esp anhóis e for em vencidos deveriam ser entregu es á “justa escrav idão”, p erdendo assim a sua liberdade e seus b ens. A escravidão, contudo, não deveria ser reservada p ara aqueles que p or p rudência ou p or temor se entregarem à misericórdia e p oder dos cristãos. (SEPÚLVEDA ap ud LACERDA,2007).

Sepúlveda cita a ep ístola 75 de Santo Agostinho, segundo a qual, “a perda de uma só alma morta sem batismo u ltrap assa em gravid ade a morte de inumeráveis vítimas, ainda que fossem inocentes”, Todorov (2010:226) analisa que nessa concep ção

há um valor absoluto, que neste caso é o batismo, o fazer part e da religião cristã;

a aquisição desse valor tem precedênci a sobre aquilo que o indivíduo considera como seu bem supremo, a saber, a vida. Isso porque a vida e a morte do indivíduo são, justamente, bens pessoais, ao passo que o ideal religioso é um absoluto, ou melhor, um bem social. A diferença entre o valor comum, transindividual, e o valor pessoal é tão grande, que permite uma variação quantitativa inversa nos termos aos quais esses valores estão ligados: a salvação de um justifica a morte de milhares.

De outro lado, em contrap osição à concep ção hierárquica de Sep úlveda, de raízes aristotélicas, está a concep ção igualitarista de Las Casas, ap resentada p or ele mesmo, em seu discurso em Vallado lid, co mo proveniente dos ensinamentos do Cristo (TODOROV,2010). Não que o cristianismo ignore as op osições, ou as desigu aldad es, mas p ara Las Casas a oposição fundamental é entre crente e descrente, cristão e n ão-cristão, que se referem às d iferen ças de fato e não às diferenças naturais (TODOROV,2010).

Ou seja, Todorov (2010) demonstra que enquanto na op osição senhor-escravo derivad a de Aristóteles: o escravo é um ser intrinsecamente inferior, p ois lhe falta, ao menos em parte, a razão, que é justamente o que define o homem, e que não p ode ser adquirida, como a fé. Las

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Casas, defendendo a ideia de um indígen a “bom selv agem”, o verdadeiro cristão p or sua conduta materialmente desp rendida e pacífica, defende qu e as diferen ças fáticas são sup eráveis com a incorp oração da fé cristã.

Portanto, Las Casas dá uma exp ressão mais amp la à iguald ade, que é p osta como fundamento de qu alquer p olítica human a. Para ele “as leis e as regras naturais e os dir eitos do homem são comuns a todas as nações, cristã ou gentílica, e qualquer que seja a seita, a lei, o Estado, a cor e a cond ição, sem nenhuma difer ença. ” Com isso, ele não ap enas afirma a igualdade abstrata, mas de uma igu aldad e concreta entre nós e os ou tros, esp anhóis e índios ; daí a freqüência, em seus escritos, de fórmulas do gênero, a exemp lo da Carta ao Príncip e Felip e, 20.4.1544, em que afirma: “Todos os índios que ali se en contram d evem ser considerados livres:

pois na realidade o são, p elo mesmo dir eito que faz com que eu mesmo seja” (TODOROV, 2010:235).

Todorov (2010:236) observa que essa afirmação da igualdade dos homens se faz em nome de uma religião particular, o cr istianismo, cu jo p erigo é r evelado na citação que Las Casas fez do texto de São Crisóstomo, em Valladolid, segundo o qual,

assim como não há nenhuma di ferença natural na criação dos homens, tampouco há diferença no apelo para salv ar todos eles, sejam bárb aros ou sábios, pois a graça divina pode corrigir o espírito dos bárbaros de modo que tenham um entendimento razoável.

Assim a identidade b ioló gica p assa a acarretar a p ossibilidad e de u ma esp écie d e id entidade cultural entre índios e co lonizadores (TODOROV,2010), demonstrando a p erspectiva evolucionista na tese de Las Casas.

Esse igualitarismo p rop osto p or Las Casas é visto por Todorov (2010:243) como uma forma de p reconceito, gerador de “um obstáculo ainda maior ” ao reconh ecimento da alteridade dos índios: concebê-los como iguais p elo seu potencial de cristianização, sign ificaria “identificar, pura e simp lesmente, o outro a seu p róp rio ‘ideal do eu’.

As distinções naturais ou fáticas estão p resentes também na doutrina p olítica inglesa do século XVII, quando John Locke (1632-1704), as relaciona com o direito territorial, legitimando as conseqüências da intervenção nesse estado original em defesa d a prop riedade individualizada e protegida, afirmando que o

índio selvagem [...] que não conhece o cercamento, sendo ainda arrend atário comum”, sendo o índio americano pobre “ por não desenvolver” a terra com seu trabalho. Como o trabalho e o desenvolvimento constituíam o direito à

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propriedade, tanto mais fácil quanto legítimo para os europeus seria despojarem os índios de seus campos de caça. Essa filoso fia ganhava conto rnos religiosos quando os colonos puritanos interpretavam moralmente a sua apropriação das terras indígenas, referindo-se aos desígnios de Deus, no Gênesis 1,28, para

“povoar a terra e sujeitá-la (THOMPSON, 1998:134).

Portanto, via-se no “índio selvagem” uma submissão cultural degradante a um modo de vida p icaresco, descon exo ou vadio. Assim, o d ireito à terra p odia se fundamentar n a ideia de

“descoberta” como op osição a ideia de invenção, associada a exp ressão vacuum domicilium (THOMPSON, 1998:135), ou também terra nullius, que signif ica “terra sem dono”, comumente chamado d e “terra de ninguém”, que se v incula a doutrina segundo a qual os p aíses colon izadores ganh aram o título das terras das co lônias amer ican as em virtude d e ser em as p rimeiras naçõ es

“civilizada” a reclamá-las.

Observa-se, conseqüentemente, que tanto a igualdade bioló gica dos colon izadores com os indígenas, co mo a desigu aldade, p roduziram reflexos diretos na relação que os Estados ibéricos estabelecer am com esses p ovos, p rincipalmente no que se refere à p ilhagem das riquezas naturais e do espaço geográfico, que não p ossuíam as delimitaçõ es político-administrativas que vieram a ser imp ostas.

De tal modo, esse debate doutrinário ganha justificação juríd ica n a concr etização da relação de submissão que decorr eria de ambas as concep ções, co mo ficou emblemático no instituto do Requerimien to, criado p elo jurista real Palacios Rubios, em 1514, p ara regulamentar as conquistas territoriais, até então um p ouco caóticas (TODOROV, 2010).

Para Todorov (2010), o Requerimiento, criado sob o pretexto da coroa imp edir as guerras injustificadas e dar certos direitos aos índios, estabeleceu u m p rocedimento p ara a conqu ista de uma região, segundo o qu al, ser ia p reciso dirigir-se a seus habitantes, fazendo-lhes a leitura do texto, que relatava uma br eve história da hu manid ade, cujo p onto culminante é o aparecimento de Jesus Cristo, declarado “chef e da linhagem human a”, esp écie de soberano sup remo, que tem o universo inteiro sob sua jurisdição.

A p artir do estabelecimento desse p onto de p artida, as coisas teriam se encad eado naturalmente, ou seja, Jesus transmitiu seu p oder a São Pedro, e este aos p ap as que o suceder am;

um dos últimos p ap as doou o continente americano aos esp anhóis (e p arte aos p ortugueses).

Assim, colocadas as razões jurídicas da dominação esp anhola, seria necessário ap enas certificar- se de uma única coisa: que os índios serão informados (mesmo sem nenhum intérp rete) da

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situação, p ois é p ossível que ignorem esses p resentes sucessivos trocados p or p ap as e imp eradores (TODOROV, 2010).4

Essa imp osição não se dava amistosamente, basta observar o relato de Pedro de Vald ívia ao Rei da Esp anha, sobre os Aruaque, habitantes do Chile, que não quiser am submeter-se e sofreram a declaração de gu erra e a conseqü ente p unição: “M andei corta as mãos e os n arizes de duzentos deles p ara p uni-los p or insubordinação, já que v árias vezes tinham enviado a eles mensagens e lhes transmitido as ordens de Vossa Majestade” (TODOROV, 2010:214).

Nesse cenário colon ial, observ a-se que ao menos na América esp anhola, a doutrina igu alitarista de Las Casas se sobrep ôs na maioria dos do cumentos oficiais e nos marcos legais, em que havia a alegação de defensa dos direitos dos índios, e a proclamação de que eles não poderiam, em hip ótese algu ma, ser escrav izados, como exemp lifica Todorov (2010) citando a ordem de Carlos V (1530) e as Leyes Nuevas (1542).

Entretanto, seja na América espanhola, seja na p ortuguesa, a igualdade bioló gica e a diferença religiosa, ambas justificaram a ação co lonizadora sobre as comunidades ind ígenas e o apossamento de seus esp aços, seja desterritorializando os povos que identificavam o domínio sobre determinada ár ea, seja obrigando-os a estabelecer esp aços de resistência p ara sobreviv er ao julgo colonizador ou invizibilizando suas identidades.

2.3. AS “GUERRAS JUSTAS” PELA (DES)TERRITORIALIZAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS: DOUTRINA DA VIOLÊNCIA PARA A OBEDIÊNCIA ATRAVÉS DOS INSTITUTOS DO REQUERIMIENTO, ALDEAMENTO E DESCIMENTO

Em simetria a América esp anhola, Dom João III, Rei de Portugal, p reocup ado com o domínio territorial do Brasil, outorga a Tomé de Souza, o Regimento de 17 de dezembro de 1548, com d iretrizes de como d everia ser estabelecida a relação co m os p ovos indígen as, denominados de “ gentios”, deixando exp ressa a usurpação do território ocupado p elas nações que resistirem às p retensões p ortuguesas.

4 Observa-se que há uma semelhança entre os institutos do Requerimiento espanhol, dos cercamentos ingleses e do registro público imobiliário alemão, copiado pelo Brasil, nos quais se tenta criar um marco zero temporal, com fundamento teológico, para justificar a espoliação de direitos coletivos e a privatização das terras.

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Observa-se a imp lementação de uma doutrina da v iolência p ara a obediên cia, v alorizando os “gentios” que se submeteram ao julgo português e declarando gu erra “justa” aos que se op useram a esse domínio, conforme trecho do documento abaixo transcrito:

“sou informado que no ano de quarenta e cinco, estando Francisco Pereira Coutinho por Capitão da Bahia, alguma gente lhe fez guerra e o lançou da terra e destruiu as fazend as e fez outros muitos danos aos Cristãos, de que outros tomaram exemplo e fizeram o semelhante em outras Capitanias, e que alguns outros gentios da dita Bahia não consentiram, nem foram no dito alevantamento, antes estiveram sempre de paz, e estão ora em companhia dos Cristãos e os ajudam, e que assim estes que aí estão de paz, como todas as outras nações da costa do Brasil, estão esperando, para ver o castigo que se dá aos que primeiro fizeram os ditos danos” (PORT UGAL, 1548:2).

Sendo expressa a missão de d esterritorialização dos p ovos indígenas quando orienta que os

“gentios” Tup inambá que se levantarem contra os cristãos p ortugueses

e lhes fizeram muitos danos, e que ora estão aind a alevant ados e fazem guerra, e que será muito serviço de Deus e meu serem lançados fora dessa terra, para se poder povoar, assim dos Cristãos, como dos gentios da linhagem dos Tupiniquins, que dizem que é gente pacífica (PORT UGAL, 1548:4).

A mesma orientação se rep ete quando o Regimento se refere aos índios Peraçuí, Totuap ara:

Com os gentios das terras Peraaçuí, e de Totuapara, e com quaisquer outras nações d e gentios que houver n a dita Capitania da Bahia, assent areis paz e trabalhareis por que se conserv e ou sustente, para que nas terras qu e habitam, possam seguramente estar Cristãos e aproveitá-las; e quando suceder algum alevantam ento, acudireis a isso e trabalh areis por as paci ficar, tudo o melhor que puderdes, castigando os culpados (PORT UGAL, 1548:4).

Segundo Perdigão M alheiro (1867), os índios continuavam a ser, p elos colonos,

“aleivosamente assaltados e escravizados”, citando a carta dirigid a ao Rei p elo Ouvidor Geral Pedro Borges em 7 d e Fevereiro de 1550. Os povos indígenas er am instigados a r ivalizarem entre si, em guerras p rovocadas p elos colonizadores, conforme carta de 5 de Julho de 1559, em que

Padre Manoel da Nóbrega denun cia ao Governado r T omé de Souza, que em toda a costa se tem geralment e por grandes e pequenos qu e é g rande s erviço de Deus fazer aos gentios que se comam, e se travem uns com os outros; e nisso dizem consistir o bem e segurança da terra; e isto aprovam Capitães e prelados, eclesiásticos e seculares” (MALHEIRO,1867:32).

A política territorial imposta aos indígenas se comp leta com o instituto do Aldeamento, prevista no Regimento em relação aos “gentios” que se converterem ao cristianismo e colaborarem com os portugueses, sendo, conforme Perrone-M oisés (1992:120), a próp ria

“realização do projeto colonial, p ois garante a conversão, a ocup ação do território, sua defesa e uma constante reserva de mão-de-obra p ara o desenvolvimento econômico da colônia”.

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