• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DO LARGO DE SÃO FRANCISCO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO DO LARGO DE SÃO FRANCISCO"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO DO LARGO DE SÃO FRANCISCO

HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO DO BRASIL (DTB0101) PROFESSOR JORGE LUIZ SOUTO MAIOR

MONITORAS: TAINÃ GÓIS E MARIA PAULA PINHEIRO

TRABALHO FINAL GRUPO 1

PERÍODO ESCRAVISTA

ALFREDO MARQUES DO VALE NETO N° USP 12511090

SÃO PAULO

2021

(2)

INTRODUÇÃO:

Para que seja possível compreender a estrutura trabalhista do período colonial brasileiro, é necessário que aja devida análise histórica acerca dos antecedentes que permeiam o surgimento de tal articulação.

Assim, é notória a busca insaciável de riquezas que a coroa portuguesa possuía, principalmente nos séculos XIV e XV, para a obtenção de capital das formas mais variadas possíveis, de forma que se foi criado inúmeros sistemas de comércio e extração de recurso em seus territórios recém descobertos.

Por diversos fatores, dos quais destacam-se a unificação política vanguardista e a tradição marítima, Portugal acabou sendo o primeiro país a, de fato, explorar a navegação de forma que pudesse extrair grandes quantias de recurso e transformar-se na maior potência mundial.

Com isso, começa-se a exploração da costa africana, estrutura que permitiu a eventual descoberta de uma nova rota para o comércio com as Índias, como também possibilitou o início do uso de mão de obra de habitantes dos países recém colonizados que haviam sido capturados por grupos adversários. De forma que passaram a utilizar-se, cada vez mais, esse novo negócio para abastecer seus territórios de produção.

É notável o desprezo português para a vontade de outros povos que se relacionavam com tal estrutura, uma vez que a metrópole se moldava apenas para a demanda comercial, iniciando ou abandonando qualquer negócio menos lucrativo, de forma que aquele povo colonizado nada podia opinar ou reagir às ordens de comando do grupo dominante.

Nesse contexto em que se encontra a invasão ao Brasil, uma vez que o comércio de especiarias indianas já não supria as vontades da coroa. Então, as recém terras descobertas no início do século XVI, acabaram finalmente recebendo uma maior atenção.

O INÍCIO DA EXPLORAÇÃO BRASILEIRA

Por ainda não ser muito popular o tráfego de escravos, os primeiros anos após a

“descoberta” do território brasileiro, não se foi utilizada a mão de obra negra escravizada.

Com isso, fazia-se uso da mão de obra disponível no território. A qual era marcada pela

presença indígena que, de início, aceitava os termos trabalhistas. Os quais consistiam na troca

entre o trabalho extrativista da madeira do litoral brasileiro abundante na época, pau-brasil, por

objetos de pouco valor, que os navegantes portugueses possuíam e, por outro lado, as tribos

exploradas nunca tiveram contato.

(3)

Dessa maneira é visível, desde o começo da colonização, o pensamento explorador português, que nada se importava com a população nativa brasileira. Uma vez que propunham negócios extremamente injustos para os nativos, aumentando exponencialmente seu lucro com o comércio europeu.

Mais adiante, após as primeiras décadas de exploração de pau-brasil, inicia-se uma colonização mais concreta do novo território. Nesse momento, ouve um conflito de interesses entre os exploradores portugueses e os jesuítas que buscavam a catequização do povo nativo.

Enquanto os primeiros objetivavam uma utilização de mão de obra indígena escravizada para os mais diversos trabalhos braçais na colônia, o grupo religioso impedia tal ato, uma vez que estes indivíduos seriam ingênuos e precisariam de um contato com Deus para conquistar sua salvação.

Assim, fechou-se um acordo em que não haveria utilização de mão de obra indígena escravizada, a menos que estes se contrariassem a aceitar a catequização imposta pelos jesuítas.

Esse ato ficou conhecido como guerra justa, que permitia a utilização do trabalho dos indígenas que não teriam salvação aos olhos da igreja católica.

Porém, mesmo com determinações expressas emitidas pela igreja, ouve um enorme genocídio com a população indígena. Os portugueses acabaram por explorar esse grupo cruelmente, uma vez que não era possível que a atividade jesuítica regulasse todo o território explorado. Tal ação pode ser observada quando se nota o levantamento de indígenas no país, que representam menos de 20% da população original

1

.

O INÍCIO DA UTILIZAÇÃO DE MÃO DE OBRA AFRICANA ESCRAVIZADA

É notável que havia uma despretensão portuguesa para a aplicação de enormes investimentos para uma intensa manutenção do território colonizado. Assim foi-se criada a divisão territorial denominada de capitanias hereditárias, das quais os responsáveis pelo território tinham praticamente poder absoluto para regular a região.

Aliado a essa questão, há o início da produção extrativista da cana-de-açúcar, sob regime de plantation, o qual focava em três pilares fundamentais: produção de monocultura exportadora, uso de latifúndio para tal articulação e emprego de mão de obra escravizada.

Diante desse cenário, passa-se a ser necessário, para a administração portuguesa, a adoção da mão de obra africana que, além de ser mais fácil e abundante para a plena utilização, traria lucro para a coroa, que estaria intervindo no transporte e eventual revenda dos escravizados.

1 disponível em: < https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20506-

indigenas.html#:~:text=De%20acordo%20com%20os%20dados,em%20terras%20ind%C3%ADgenas%20oficialm ente%20reconhecidas.> acesso em 15/nov/2021.

(4)

O navio negreiro então se tornou símbolo do período escravista brasileiro. Isso porque foi amplamente utilizado durante séculos para permitir que a alta lucratividade portuguesa fosse mantida.

Tal medida representava uma proporção tão elevada de lucros que, mesmo com o trato desumano com os africanos, havia vantagem em relação a alta mortalidade durante o percurso.

Futuramente, no ano de 1684, criou-se um regulamento que impunha um limite de 7 transportados a cada tonelada que o navio possuía, medida que ainda assim não acabou com os maus tratos e estruturas sub-humanas durante as viagens.

O escravizado chegava ao Brasil como uma mercadoria, tendo sua humanidade desconsiderada. Havia, em seguida, um processo de “engorda” desses indivíduos, que eram transferidos para galpões que providenciavam tal prática. Em seguida, eram colocados à venda com um preço tabelado de acordo com as suas qualidades físicas.

Após a venda, estes eram propriedade completa de seu dono, que juridicamente havia adquirido um objeto. Dessa forma, iniciava-se um processo de despersonalização com o indivíduo, uma vez que estaria sujeito aos mais desgastantes trabalhos no latifúndio em troca apenas de alimentação e moradia precárias.

A ressocialização somente acontecia quando este indivíduo aceitava sua condição como ser inferior e que sempre estaria sujeito ao seu senhor. A partir desse ponto, o escravizado estaria apto para um trabalho que exigisse maior confiança do dono para com o escravo, podendo até mesmo, em alguns casos, conviver diretamente na casa de seu senhor, sendo considerado um “bom escravo”, que finalmente entendeu sua função.

O Estado, com o passar do tempo, passou a aumentar sua articulação referente ao apoio aos direitos do senhor de escravos. Isso é visível com o aumento de leis que resguardavam a posse de escravos e combatia qualquer ação revolucionária que o grupo dominado viesse a ter.

Alguns dos mais importantes exemplos podem ser notados como o decreto de 11 de abril de 1829, que determinava a morte de escravo que matasse seu senhor, sem a necessidade de julgamento imperial. Ou como o decreto de 14 de dezembro de 1830, que obrigava clara autorização para um escravizado estar fora de sua vila, sob pena de apreensão.

Dessa forma, é notável que a estrutura de trabalho escravista era completamente desumana e explorava ao máximo o povo africano, enquanto elevava constantemente o poder dos senhores de engenho, que cada vez mais enriqueciam por conta do trabalho do grupo oprimido.

O CONTEXTO DA IMIGRAÇÃO BRASILEIRA

Após a passagem dos primeiros séculos sob o regime de escravidão, ouve um fenômeno que favoreceu a intensificação da chegada de mão de obra imigrante ao invés de escravizados no país.

Isso ocorreu, pois, a nação imperialista da época, Inglaterra, objetivava alcançar um

maior mercado consumidor para sua indústria em expansão para além da Europa. Diante disso,

(5)

começou a surgir exigências que Portugal acabasse com seu sistema escravista em terras brasileiras para possibilitar tal expansão inglesa.

Dessa maneira, a metrópole portuguesa notou que, além da grande perda de lucro com o tráfico negreiro, a população do país seria em sua maioria negra, caso houvesse uma abrupta libertação dos escravos.

Então, foi-se buscado retardar ao máximo a alforria, apresentando leis que na prática acabavam não sendo utilizadas, as ditas “leis para inglês ver”. De forma que, apesar de uma redução do tráfico humano, a atitude foi mantida por várias décadas posteriormente.

Outro ponto que trazia grande preocupação aos membros da elite presente no território explorado, era a questão referente a proporção de etnias contidas no país. Isso porque a população negra configurava-se como maioria quando comparada a classe dominante portuguesa.

Diante disso, ficou decidido que deveria haver um “branqueamento” da população para que não mantivesse uma maioria negra e livre no território. Com isso, Portugal fez intensa campanha nos países europeus e posteriormente asiáticos, de forma que se trazia uma visão extremamente positiva do novo território. No período, tal medida consolidou-se como eficaz, já que havia grande crise e desigualdade social nos países europeus, fazendo com que a imagem utópica de um Brasil repleto de riquezas seria a possibilidade de uma vida melhor.

Contudo, a ação publicitária acabou por ser enganosa, já que os imigrantes deveriam arcar com todos os custos da viagem que haviam sido financiados pelo futuro chefe. O que acabou criando uma condição semelhante ao regime de escravidão, pois o novo trabalhador deveria incumbir-se de uma exaustiva rotina de trabalho que, no fim das contas, mal pagava a dívida inicial e tão pouco alimentação e moradia dignas.

Com isso, é possível observar a forma do pensamento trabalhista do período colonial do Brasil, que foi marcado pelo excesso de cobrança para os trabalhadores, além do foco quase que exclusivo para o lucro que tal atividade poderia trazer, sem contar com as condições dos trabalhadores durante o processo. Cenário esse que é notado tanto no regime escravista, quanto no trato com os imigrantes recém chegados ao país.

A MULHER NO PERÍODO COLONIAL

Outro ponto que se encontra presente nesse período e é muito negligenciado, relaciona- se com a questão do papel da mulher na sociedade colonial. Tal tópico permaneceu por séculos sem receber a devida atenção e há a necessidade de uma observação histórica.

Um dos pilares fundamentais do regime econômico da exploração latifundiária pautava-

se na liderança patriarcal presente em todos os segmentos da sociedade. Tal medida criava, cada

vez mais, um abismo entre o homem e a mulher na medida que o poder do senhor do engenho

aumentava graças a balança favorável no comercio exportador.

(6)

Com o livro do grande escritor realista brasileiro, Machado de Assis, “Quincas Borba”

2

, é possível notar brevemente a disparidade social entre homens e mulheres. Isso porque fica claro que Sofia, personagem importante na trama, se vê completamente dependente das decisões de seu marido, Cristiano Palha, para realizar qualquer atividade e, mesmo assim, acaba praticamente limitada aos trabalhos domésticos de sua casa.

Com isso, torna-se claro que a estrutura machista empregada em todo o processo de formação do Brasil limitou o desenvolvimento intelectual e social das mulheres sujeitas a tal regime. De forma que as condições trabalhistas para este grupo pouco fossem desenvolvidas, criando um abismo entre os gêneros, uma vez que as mulheres sempre estavam associadas e limitadas ao trabalho doméstico.

CONCLUSÃO

Diante de todo o conteúdo discutido, é possível concluir que o regime colonial ficou marcado pela extrema desigualdade social e injustiça para diversos grupos que não possuíam o poder político e nem mesmo o poder econômico.

É sabido que a população negra foi a historicamente mais prejudicada, uma vez que passaram por séculos de sujeição à uma estrutura escravista que os limitava a um trabalho sub- humano e sem qualquer perspectiva para uma retratação referente à humanidade deste grupo.

Isto ocorreu, pois, mesmo após a abolição da escravatura, pouco se foi feito para possibilitar uma inserção justa da população negra para a sociedade brasileira.

Além disso, os imigrantes também ficaram marcados pelo regime explorador em certa medida, já que presenciaram condições extremas de trabalho em troca de baixos salários. Tal parcela da população não sofreu na proporção da primeira, uma vez que não recebiam o ódio e a desvalorização trazidos com o racismo, porém sofreram com a questão da desigualdade social e dificuldades para a inserção plena no mercado de trabalho comandado pela mesma elite portuguesa.

Por fim, outra herança negativa trazida pelo regime colonial se apresenta com o machismo presente na sociedade, que acaba por minimizar as qualidades e competências que o grupo feminino possui para estar presente nas articulações sociais. Dessa forma, apesar de atualmente haver forte campanha para a igualdade entre os gêneros, há dificuldades para sua plena aplicação na sociedade por conta do machismo ainda existente.

2

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Klick Editora, 2006.

Referências

Documentos relacionados

O teste de patogenicidade cruzada possibilitou observar que os isolados oriundos de Presidente Figueiredo, Itacoatiara, Manaquiri e Iranduba apresentaram alta variabilidade

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

Convênio de colaboração entre o Conselho Geral do Poder Judiciário, a Vice- Presidência e o Conselho da Presidência, as Administrações Públicas e Justiça, O Ministério Público

Avaliação do impacto do processo de envelhecimento sobre a capacidade funcional de adultos mais velhos fisicamente ativos.. ConScientiae

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced

O primeiro passo para introduzir o MTT como procedimento para mudança do comportamento alimentar consiste no profissional psicoeducar o paciente a todo o processo,

Assim, este estudo buscou identificar a adesão terapêutica medicamentosa em pacientes hipertensos na Unidade Básica de Saúde, bem como os fatores diretamente relacionados

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários