• Nenhum resultado encontrado

Brasil Bolívia. Paraguai. Argentina Uruguai

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Brasil Bolívia. Paraguai. Argentina Uruguai"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)
(2)
(3)

Colômbia Equador

Perú

Bolívia

Paraguai

Argentina

Uruguai Brasil

Chile

Legenda 1 Cartagena

2 Medellín 3 Cali 4 Ipialés 5 Tumaco 6 Tulcán 7 Mira e Ibarra 8 Baltar 9 Máncora 10 Trujillo 11 Lima 12 Nazca 13 Cusco 14 Chivay/Arequipa 15 Puno

16 La Paz 17 Uyuni

20 Concon/Valparaiso 21 Santiago do Chile 22 Mendoza 23 Rufino 24 Buenos Aires 25 Sacramento 26 Montevideo 27 Chajari 28 Corrientes 29 Assunção 30 Foz de Iguazu 31 Florianópolis 32 Curitiba (e Morretes) 33 Santos

34 São José dos Campos 35 Paraty

36 Rio de Janeiro

Mapa: Vemaps.com

(4)
(5)

O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página.

Agostinho de Hipona

E nós resolvemos voltar a sair…

Quem quer que sejas, sê bem-vindo a este relato.

(6)
(7)

Prefácio

Esta é uma história de infância, uma história de sonho concretizado, a história dos meus irmãos Zé e Luís.

Quando me pediram para escrever este prefácio lembrei-me de todas as minhas fantasias de expedições, das grandes odisseias de Júlio Verne onde fui criando o gosto pelas grandes viagens, às aulas de geografia que me fizeram querer ir às Américas dos Andes e das palavras mágicas de Luís Sepúlveda, Isabel Allende, Gabriel Garcia Marquez, entre outros autores sul americanos...

Como é possível que estes meus dois irmãos tenham decidido partir — sem me consultar — e tenham vivido todo o fantástico do meu imaginário?!

E não só o viveram, como, com ousadia, o partilham neste livro.

Tive o privilégio de ir acompanhando esta grande aventura através de relatos regulares, combinados com fotos fantásticas e áudios cheios de emoção, através do Whatsapp. Bem Haja às novas tecnologias!

É com muito orgulho, e mesmo vaidade, que vi crescer esta ami- zade profunda entre dois adolescentes que depressa se tornaram homens.

Acompanhei-os no monopólio, na bisca lambida, nos namoros, no trabalho e nas muitas aventuras. E o maravilhoso é que, apesar das distâncias e das diferenças, a amizade entre eles esteve sempre lá. Linda de ver e de sentir.

Estes dois adolescentes, homens feitos, decidiram fazer aquilo que

normalmente é destinado aos jovens universitários: uma longa viagem

pela América do Sul. Eles fizeram-no no início de uma nova etapa das

(8)

suas vidas, a chamada terceira idade ou os «anos dourados», como um rito de passagem para a reforma.

Planearam e organizaram os seus sonhos e, com a sua «Perla Negra» (o jipe que os carregou), cobriram caminhos e estradas de belezas imensuráveis.

Achei uma loucura dois portugueses, já crescidinhos, irem com um carro de matrícula portuguesa e pela 1ª vez em solo sul americano, percorrer estradas e carreiros do hemisfério sul. Mas só com loucura o mundo avança e eles avançaram.

Conheceram outros povos, outros hábitos, outros costumes e con- cluíram quase três meses de viagem com uma amizade de 50 anos ainda mais forte e mais consolidada.

Neste livro poderão acompanhar esta odisseia não de 80, mas de 82 dias à volta das Américas, da Colômbia ao Brasil, passando por 9 países, com percursos de afetos, de discussões e de muita emoção em que greves, bloqueios e muita aventura, os mantiveram unidos.

Espero que gostem tanto deste relato como eu.

É um privilégio ter um irmão de sangue e ter um irmão de coração.

Parabéns Zé e Luís pela coragem de terem concretizado um dos vossos (nossos) sonhos!

Obrigada por partilharem a vossa amizade vadia, regida por con- tenção e explosão.

Ana Meira

(9)

Prólogo do Zé

Não faço ideia do que é que vai sair daqui ou quanto tempo passará até que apareça a palavra FIM. Estamos em finais de Fevereiro de 2020.

Esta história resulta de uma compilação feita por mim, o Zé, e pelo meu amigo, o Luís.

Dedicaremos duas introduções, uma de cada um. Nelas poderão haver ideias duplicadas. Apenas porque comecei a escrever primeiro que o Luís, algumas das coisas que aqui registo provavelmente caberia ao Luís fazê-lo, mas não é importante.

Para quem não nos conhece, convém dizer que somos dois amigos desde os tempos do Liceu de Matosinhos, ou seja, desde os 12 anos de idade e somos muito diferentes: o Zé, na opinião do Luís, é mais comedido, calmo e poupado, enquanto o Luís é mais aventureiro, explosivo e gastador.

Concordo com o comedido e calmo para mim e explosivo para o Luís.

Sobre dinheiros e a forma como cada um o gasta, é melhor não discutir o assunto. Ainda mal começamos…! E aventureiros, somos os dois.

Vamos, então, ter a minha introdução e a do Luís porque, nesta fase, andamos cada um nas suas guerras.

Antes de ir directo ao tema principal, que é a nossa viagem através da América do Sul em 2019, quero fazer uma pequena introdução.

Em Setembro de 2018 meti os papéis para a reforma. Não devia,

pois antecipei-me em alguns meses relativamente à idade ideal, o que

significa que vou levar com uma penalização, mas nada a fazer. Os dados

estão lançados.

(10)

Ainda em Setembro de 2018, estando a viver junto com a Isabel e filho (o filho é da Isabel, de um casamento anterior, mas para mim é também o meu filho), mudámos para Cascais.

Em Outubro de 2018, uns dias depois do meu aniversário, saí de trouxa e bagagens de nossa casa por me ter separado da minha com- panheira com quem estive 12 anos. A data, julgo ter sido 13 Outubro;

o motivo da saída, essa é outra história…

Saí de casa e a minha irmã disponibilizou-me um quarto na sua. Por sinal era o meu quarto quando ainda lá vivia com os meus pais.

A minha grande preocupação, em termos de pessoa reformada, era, e ainda é, a ocupação do tempo; não pretendo nem quero tornar o mapling como o meu desporto favorito.

Andava muito a pé pelo paredão, entre a praia da Azarujinha, onde passei parte da minha adolescência, e Cascais, onde gastei muito dinheiro em copos enquanto adolescente.

Ia a eventos, espectáculos, passeios e por aí fora. Parar é que não queria.

Numa bela quarta-feira de Outubro de 2018, julgo que no dia 24, fui a um passeio a Lisboa que começou às 19 horas. O passeio chamava-se «Noite de Lua Cheia em Lisboa» e consistia numa caminhada nocturna pelos miradouros da cidade. Para me acompanhar neste passeio e pela ordem que segue, convidei separadamente a minha ex-companheira (a Isabel), que declinou o convite, a minha irmã Cármen, que também declinou e uma grande amiga da adolescência, a Mané (por acaso uma ex-namorada), que também declinou o convite.

Assim, fui sozinho e com o único objectivo de preencher o meu

tempo de uma forma activa. Durante o passeio fui conversando com

uns e outros e admirando as belezas nocturnas de Lisboa, numa sublime

noite de lua cheia. Pelas 21h30 min e prevendo que teria mais uma hora

e meia de caminhada, embora acompanhado de muitas pessoas, dei

de caras com uma menina e, em uníssono, dissemos: estou com fome. Ali

mesmo decidimos abandonar o passeio e fomos jantar juntos. A menina

é brasileira, é a Carolina, mas essa é também outra história…

(11)

Apanhei o último comboio no Cais do Sodré para casa, em S. João do Estoril, e apenas consigo dizer que nessa noite aconteceu qualquer coisa em mim e eu mudei. Fiquei diferente e senti que me tornei uma pessoa melhor.

Os dias foram rolando e, numa noite de conversa com o meu amigo Luís, lembro-me que foi próximo da sua data de aniversário (28 de Dezembro), a América do Sul foi o nosso tema principal:

— Estou à procura de alguém que me acompanhe numa viagem através da América do Sul — diz o Luís. — Desde que, em adolescente, vi o filme do Che Guevara, Diários de Motocicleta, que sonho em fazer o seu percurso, mas queria começar na Colômbia. A situação política na Venezuela está muito complicada, pelo que não quero lá ir. Estou numa situação de vida que me permite realizar este sonho e julgo que agora é o momento, mas sozinho não dá.

— Não procures mais que eu vou!

— Estás a falar a sério?! Lembro-me que há 12 anos combinámos ir ao Brasil e tu falhaste. Acabámos por não ir.

— Estou a falar a sério, Luís! Estou diferente. Tens companheiro para a viagem.

— Perfeito! Vamos pensar no assunto. Deixemos passar as festas de fim de ano e, em Janeiro ou Fevereiro de 2019, marcamos encontro para começarmos a planear…

— Combinado!

E assim, em 40 segundos, se acerta um programa que será, com toda a certeza, a grande viagem das nossas vidas.

Eu e o Luís somos amigos desde 1965. É verdade que já lá vão uns anos.

Mas somos duas pessoas extremamente diferentes, mesmo bastante distintas.

Muitos amigos me alertaram: «Zé, vê lá no que te metes. Aturar o Luís não é pêra doce». Embora ciente dos perigos e riscos, a verdade é que não vacilei nem por um segundo.

As semanas foram passando, cada um de nós cogitando com os seus

pensamentos e planos e, em Fevereiro de 2019, lá nos encontrámos para

estabelecermos estratégias e distribuição de tarefas.

(12)

Os desafios principais eram, e sem que a ordem tenha qualquer significado, definir data e local de partida (eu vivo em Lisboa e o Luís vive no Porto), tempo da viagem, percurso e locais a visitar, escolher o meio de transporte a usar através da América do Sul, orçamento, consultas médicas, sítios de dormida (hotéis ou similares), cartões de crédito e muitas outras coisas de que nos fomos lembrando.

O grande percurso foi rapidamente decidido: Chegar à Colômbia e depois passar pelo Equador, Peru, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Eram nove países a conhecer e atravessar.

Até à Colômbia não havia quaisquer dúvidas de que iríamos de avião mas, e depois, desde a Colômbia até ao Brasil?

Opção 1: apanhar autocarros? — Não. Já não temos idade para isso.

É muito desconfortável.

Opção 2: saltitar de avião de um sítio para o outro? — Não. Perderíamos dias em aeroportos e acabávamos por não ver o país. Embora as viagens dentro de cada país tenham preços aceitáveis, de um país para outro são muito caras.

Opção 3: alugar um carro? — Não. Não é possível alugar um carro na Colômbia e entregá-lo no Brasil. Aliás, posteriormente confirmámos que nas fronteiras entre aqueles países não existem empresas de aluguer de carros. Inviável.

Opção 4: Comprar um carro na Colômbia e vendê-lo no Brasil? — Não.

O carro teria que ser usado e preparado para uma viagem deste tipo. Estamos a falar de 15 a 20 mil quilómetros e por estradas desconhecidas. As probabilidades de encontrar alguém de con- fiança na Colômbia seriam praticamente nulas. E sem contabilizar o tempo que perderíamos se escolhêssemos esta opção.

Opção 5: Comprar um carro usado em Portugal. Prepará-lo em Portugal

e enviá-lo para a Colômbia de barco. No final da viagem seria

enviado do Brasil para Portugal onde seria vendido? Depois

de muita discussão e porque o Luís tem uma empresa de trans-

portes e conhece muito bem o mercado, esta foi a hipótese

(13)

Apenas um parêntesis relativo aos preços de transporte e papelada de entrada na América do Sul e, mais tarde, com o retorno a Portugal:

foi a fatia do bolo que mais nos afastou do orçamento. No entanto, com alguma poupança noutros itens, fizemos a viagem completa dentro do budget que estimámos.

Foi o Luís quem acabou por descobrir um Nissan Patrol 3000, usado, em Cabeceiras de Basto.

O meu primeiro sentimento foi de que estava a trair os 4x4 do meu coração. Primeiro o grande, velhinho e resistente UMM e depois o Mitsubishi Pajero. Isto de criar laços sentimentais com as empresas onde amámos trabalhar tem que se lhe diga!

Mas o Nissan era de alguém de confiança e o mecânico que nos ia preparar o carro, o Hélder, conhecia bem o 4x4.

Como eu ia ficar com o carro um par de meses para o testar, deci- dimos que ficaria em meu nome. E, por questões de logística, os portos de destino e de recolha do 4x4 ficaram logo definidos: entraria por Cartagena das Índias, na Colômbia, e sairia de Santos, no Brasil.

A data da nossa partida ficou agendada para finais de Setembro, isto porque eu estava a trabalhar a tempo parcial e tinha-me comprometido com a entidade patronal até finais de Setembro.

O bilhete de avião foi comprado pelo Luís, com saída do Porto (pois claro, ou não fosse o Luís a comprar os bilhetes…). Data de partida:

26 de Setembro de 2019. Data de regresso: antes do Natal de 2019.

Uns dias após a compra dos bilhetes demos conta do nosso pri- meiro disparate: chegávamos a Cartagena numa quinta-feira à noite, ou seja, disporíamos de apenas um dia útil para tratar do despacho de importação do carro e, com o fim de semana, iríamos perder pelo menos dois dias de viagem. Ou seja, o ideal teria sido voar num domingo para estarmos no destino segunda-feira de manhã para nos ocuparmos com o despacho.

Percebemos que, por mais documentos que enviássemos relati-

vos ao carro e a mim, pois o carro estava em meu nome, documentos

autenticados e em várias vias, o transitário local não iria fazer nada até

à nossa chegada. Era necessária a minha presença. E pediam cada vez mais

(14)

papelada autenticada ao Luís. Tivemos algumas discussões stressantes pois tínhamos que tomar decisões e criar compromissos com alguns hotéis ainda sem sabermos quanto tempo levaria o despacho. Eram decisões difíceis de tomar.

Fui a Cabeceiras de Basto para comprarmos o carro. Estávamos em finais de Março e com o compromisso de o levar para Cabeceiras para ser preparado no início de Julho. Teria que embarcar, o mais tardar, no final de Agosto para chegar mais ou menos na mesma data que nós a Cartagena. Afinámos o itinerário com as principais cidades de passagem e locais a visitar. Era regra sagrada que devíamos chegar aos destinos com luz do dia e que mais de 600 km por dia seriam proibidos. Estabelecemos um percurso por forma a acabar com o carro em Santos e mais uns dias de relaxe no Brasil. Depois de trocarmos muitas folhas de cálculo por correio electrónico, o itinerário lá ficou definido. O Luís regressaria a Portugal a 17 de Dezembro e eu ficaria mais uns tempos pelo Brasil.

Dividimos o itinerário mais ou menos a meio. A primeira metade era da minha responsabilidade em termos de marcações de hotéis e a segunda metade era do Luís. Correu tudo muito bem.

As reservas foram quase todas feitas pelo Booking.

Na preparação da viagem, marcámos no total, por forma a cobrir todo o itinerário, 36 hotéis, maioritariamente de três estrelas, com preços que oscilavam entre 30 € e 50 € por quarto duplo, com pequeno-almoço e, preferencialmente, com parque estacionamento incluído. Tivemos a preocupação de deixar em aberto datas de cancelamento no próprio dia ou, no máximo, com dois dias de antecedência.

Coube-me a mim a tarefa de fazer todas as reservas desde a Colômbia até ao Chile, inclusive, e as restantes reservas foi o Luís quem as fez.

Já durante a viagem classificávamos os hotéis por um pormenor da casa de banho: se tinha ou não tapete. E ríamos pois era a primeira coisa que fazíamos quando entrávamos no quarto: ir espreitar a casa de banho.

Na primeira parte da viagem poucos ou nenhuns tinham tapete porque,

segundo o Luís, eu tinha posto a fasquia mais baixa, a rondar os 20 €

a 30 €. Mas não foi bem assim. Na zona que me tocou os hotéis eram,

(15)

muitas T-shirts, que íamos deixando nos hotéis, essas eram o nosso tapete da casa de banho. Esta questão dos hotéis foi uma discussão recorrente entre mim e o Luís, mas lá sobrevivemos…

Tive o cuidado de, relativamente aos hotéis que marquei, ter obtido os contactos pelo WhatsApp e de ter comunicado com eles por essa via.

E ainda bem que assim foi, pois deu bom resultado.

Foi complicado fazer a marcação de hotéis para os primeiros dias, na Colômbia, pois não sabíamos o tempo que levaria a despachar o carro em Cartagena.

Cada um de nós e nas suas zonas de residência, agendou a consulta do viajante. É fundamental quando se visita aquele Continente devido às vacinas. É curioso que maiores de 60 anos não precisam de ser vacinados contra a febre amarela, pois os riscos são maiores tomando a vacina.

Começamos a receber muitos conselhos sobre os cuidados a ter, quer connosco, quer especialmente com o jeep: dois pneus sobressalentes, jerry cans para combustível, peças sobressalentes, bomba de ar, triângulos (em alguns países são necessários dois), extintor, carregador de bateria, um frigorífico e milhares de outras coisas… Tivemos que filtrar muita da informação que nos foi passada e julgo que as decisões que tomámos foram acertadas. Só duas curiosidades: levámos apenas um pneu e uma bateria sobressalentes, estando esta acoplada com a bateria principal.

Alguma da chamada «tralha» foi polémica, mas lá chegámos a um acordo. Por exemplo, uma tenda, sacos-cama, uma mesa de cam- pismo e vários tachos, em que eu não concordava em levar. Na verdade quase nada veio a servir. Mas o Luís queria… e quando o Luís quer não há nada a fazer. A título de exemplo, a mesa de campismo apenas foi usada no último piquenique que fizemos, já no Brasil, e com o intuito de apenas tirar uma foto para as memórias no Facebook.

Uma das polémicas foi a relativa à compra de um frigorífico. O Luís

precisava mesmo de um que fizesse frio por causa do seu medicamento

para a diabetes. Discutimos bastante sobre o assunto. E lá paguei metade

do frigorífico para os seus medicamentos e para as suas cervejas… é que

eu estava de dieta até aos primeiros dias de Dezembro e cervejas estavam

proibidas. Só muito excepcionalmente.

(16)

Que raio de ideia!… Ir para a América do Sul em dieta, apaixonado e ainda por cima com o Luís!

Carta de condução internacional é para esquecer. Não vale a pena gastar dinheiro com isso. A nossa carta emitida em Portugal serviu sempre e fomos parados várias vezes e em diferentes países. Falaram-nos de um documento chamado carnet e acta, emitido pelo acp (Automóvel Clube de Portugal) e que custa uma pipa de massa, justificando de que iria ser necessário quando atravessássemos fronteiras.

Pusemo-nos em contacto com um amigo do Luís, o Pedro, que coincidentemente viajava pela América do Sul há já alguns meses e que nos disse não ser preciso nada disso. E assim foi. Não adquirimos o dito documento e ainda bem, pois não foi necessário para nada. Os trâmi- tes de passagem de um país para o outro foram sempre muito simples e tranquilos. Apenas algum tempo de espera, dependendo da quantidade de pessoas, mas muito fácil e, acima de tudo, gratuito.

Recolhi muita informação na internet sobre sítios a visitar.

Decidimos comprar uma grade para colocar no tejadilho.

Adquirimos uma num ferro velho e lá a montámos.

Obtivemos dois cartões de débito virtuais: o N26 para mim e o Revolut para o Luís. Excelentes cartões pois nunca nos deixaram ficar mal durante a viagem. Criámos uma conta conjunta com valores iguais nesses cartões e tudo funcionou na perfeição.

O seguro do carro para a América do Sul foi complicado. Nenhuma

empresa em Portugal, nem multinacionais em Portugal com delegações

naquele continente nos fizeram o seguro. Na internet havia ofertas

de seguros, mas de origem duvidosa e caros. Acabámos por sair de Portugal

apenas com seguro para os Países do Mercosul (Chile, Argentina, Uruguai,

Paraguai e Brasil) e Bolívia. Este seguro foi tratado directamente com uma

seguradora na Argentina, através de uma pessoa que conheci por acaso

em Madrid. O Javier. Saímos de Portugal sem seguro para Colômbia,

Peru e Equador, que decidimos tratar localmente. O seguro do carro para

o Equador não era obrigatório.

(17)

Sobre este período e até 26 de Setembro fizemos, evidentemente, muitos pequenos acertos, algumas discussões, mas nada importante para ser relatado.

Eu arranco para o Porto, de comboio, a 25 de Setembro, para apanhar o avião a 26 Setembro. Foi o meu cunhado Zé que me levou até à Estação do Oriente.

Por curiosidade, o carro, que tinha seguido por barco com uma semana de atraso relativamente às nossas previsões iniciais, chegou a Cartagena a 24 de Setembro. Estava a começar bem.

E em 26 de Setembro lá nos apresentámos, com algum tempo de antecedência e de malas feitas, no aeroporto Sá Carneiro, no Porto.

Comecemos então com o diário de bordo propriamente dito.

Só mais um detalhe: o caderno de apontamentos que levei comigo

para escrever o diário é um pequeno livro chamado Viajário, que me foi

oferecido pelo meu ex-colega e amigo, o Rui. Não segui a lógica sugerida

pelo livro e fui escrevendo página após página. Em determinados sítios

aparece um texto supostamente sobre viajantes. Transcrevo vários desses

textos no dia respectivo e o que é interessante é que muitos deles até parece

terem sido escritos para o que nos esperava nesse dia…

(18)
(19)

Prólogo do Luís

Lendo o relato do Zé, pouco mais me resta para acrescentar.

Também eu solicitei a reforma antecipada em Agosto de 2018 e, até à presente data (Maio 2020), ainda não estou reformado e a 28/06/2020 vou ter 66 anos e 6 meses, idade máxima para a reforma.

Contando que em finais de 2019 já estaria reformado, programei fazer uma grande viagem, mais especificamente à América do Sul, continente que sempre esteve nos meus planos. Há marcas da juventude que não se esquecem e o filme Diários de Motocicleta foi uma delas. Procurava um companheiro para partilhar a viagem e foi uma grande surpresa a posição do Zé. Mesmo depois da nossa conversa, telefonei-lhe de novo na semana seguinte a perguntar se era verdade e se tinha pensado bem em ser meu companheiro na viagem.

Resolvi, mesmo sem a reforma, fazer a viagem tirando três meses sem vencimento na empresa (Sunvilog) e comecei a fazer os preparativos.

Desde a altura do pedido da reforma já andava a preparar o meu sócio e braço direito na Sunvilog, José Carlos, para assumir sozinho a gestão da empresa e, não estando fisicamente presente durante três meses, foi uma excelente decisão. Estando este assunto resolvido, começámos a engendrar os trajectos, os países a visitar, o meio de deslocação e muitas outras coisas.

Logo à partida excluímos a Venezuela por questões de segurança, mal sabendo nós o que nos reservavam os outros países.

A pouco e pouco a viagem começava a ganhar forma e recorri

à ajuda da Antónia Pinto, responsável da Qualidade na Sunvilog, para

me ajudar com as reservas dos hotéis e as folhas de Excel para cálculo dos

(20)

quilómetros, das despesas, etc. Todo o resto do que o Zé fala começou a encaixar-se e, com mais ou menos discussões, lá chegávamos a consenso.

Nunca tive a menor dúvida que nos iríamos entender, apesar de sermos diferentes. Somos amigos de infância e isso nunca nos impediu de fazermos férias juntos e sempre nos completávamos. Na verdade, eu sou mais atrevido, audaz e, por vezes, mandão, mas nada que impeça umas boas discussões e um reconhecimento mútuo das nossas falhas.

Perante o desafio da viagem estávamos conscientes de que precisávamos um do outro e que nunca nos iríamos zangar por termos pontos de vista antagónicos, pois sabíamos também reconhecer os nossos erros. Foi exactamente o que aconteceu e saímos dos vários imbróglios mais amigos e mais fortes. Só tenho pena que o Zé fosse para a viagem de dieta e apai- xonado porque perdi, por algum tempo, o meu companheiro da borga, mas depois lá alinhou.

A Perla foi um achado. Uma das suas particularidades é a de ter ar condicionado, o que nos ajudou em muito durante a viagem. O Nissan Patrol 3000 foi o percursor dos SUV, pois tinha toda a comodidade de uma viatura ligeira, mas com as performances de um todo-terreno.

A América do Sul para mim era um continente de sonho e o meu entusiasmo era tal que penso que contagiei o Zé e, podemos dizer, sem sombra de dúvida, que a nossa viagem ultrapassou largamente as nossas expectativas. O único senão foi o trânsito que, por ser perigoso, tira qualquer um do sério e obrigou-nos a correr alguns riscos.

Esta viagem teve a ajuda dos patrocinadores Sunvilog, Triple-S,

Sar Forwarding, Volumespecial e Auto Miranda. Todos eles tiveram uma

participação activa na nossa viagem e foram nossos compagnons de route

nos nove países e 17 000 km percorridos. Uma palavra de apreço para

o Hélder Miranda, que nos ajudou a encontrar a Perla Negra e a pre-

parou para esta grande viagem. Vamos, então, embarcar nesta aventura

de 26 de Setembro a 16 de Dezembro.

Referências

Documentos relacionados

(1998), em estudo com Eucalyptus grandis Hill ex Maiden, aos 189 meses de idade, em que os desbastes foram controlados pela área basal, constataram que, no tratamento com menor peso

Conclui-se que sementes da espécie Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville respondem de forma diversa aos dois tratamentos na superação de dormência,

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Apesar do número de alunos matriculados em cursos de curta e média duração online e live ter aumentado consideravelmente, a partir da pandemia, alguns executivos relatam que foi

Ainda, este estudo provê um conjunto de facilitadores que pode ser tomado como um caminho para as empresas que pretendam construir práticas de gestão de cadeia de

Para este trabalho usamos as abordagens 1 e 2, ou seja, investigamos o modelo estocástico definido em uma rede regular com evolução temporal assín- crona através de simulações de

Para tal, o projeto reuniu uma usina termelétrica a gás natural equipada com turbinas de última geração, uma FSRU customizada para receber um sistema de ancoragem moderno