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Fotos, fachadas e personas: a construção identitária por meio do uso do aplicativo Instagram

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Academic year: 2023

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ESPM/SP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E PRÁTICAS DE CONSUMO

Pietro Giuliboni Nemr Coelho

FOTOS, FACHADAS E PERSONAS:

A construção identitária por meio do uso do aplicativo Instagram

São Paulo 2016

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Pietro Giuliboni Nemr Coelho

FOTOS, FACHADAS E PERSONAS:

A construção identitária por meio do uso do aplicativo Instagram

Dissertação apresentada à ESPM como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo. Orientadora:

Profa. Dra. Marcia Perencin Tondato

São Paulo 2016

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Coelho, Pietro Giuliboni Nemr

Fotos, fachadas e personas : a construção identitária por meio do uso do aplicativo Instagram / Pietro Giuliboni Nemr Coelho. - São Paulo, 2016.

93 f. : il. p&b.

Dissertação (mestrado) – Escola Superior de Propaganda e Marketing, Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo, São Paulo, 2016.

Orientador: Marcia Perencin Tondato

1. comunicação. 2. consumo. 3. identidade. 4. Instagram. 5. fachadas. I.

Tondato, Marcia Perencin. II. Escola Superior de Propaganda e Marketing. III.

Título.

Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da Biblioteca ESPM

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Pietro Giuliboni Nemr Coelho

FOTOS, FACHADAS E PERSONAS:

A construção identitária por meio do uso do aplicativo Instagram

Dissertação apresentada à ESPM como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo.

Aprovado em ______ de ___________ de ___________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________

Presidente: Profa. Marcia Perencin Tondato, Orientadora, ESPM-SP

____________________________________________________________

Membro externo: Prof. Luis Mauro Sá Martino, Faculdade Cásper Líbero-SP

____________________________________________________________

Membro interno: Profa. Mônica Rebecca Ferrari Nunes, ESPM-SP

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“We all die. The goal isn't to live forever, the goal is to create something that will.”

Chuck Palahniuk

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que passaram por mim durante o processo desta pesquisa e que de alguma forma me auxiliaram, inspiraram e me deram forças para continuar sempre em frente. Aos que acreditaram em mim e confiaram que o caminho que eu estava seguindo era o certo, não tenho palavras para demonstrar minha gratidão.

Também gostaria de agradecer à Escola Superior de Propaganda e Marketing por novamente abrir suas portas e me receber no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas do Consumo, concedendo-me a oportunidade de continuar crescendo e aprendendo; aos professores do programa que compartilharam conhecimentos e auxiliaram na minha caminhada pelo meio acadêmico; à toda equipe da secretaria, administração e biblioteca por oferecerem suporte e serviços durante esse período.

Agradeço a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Marcia Perencin Tondato por toda a paciência, todas as trocas de e-mails, telefonemas, reuniões, sessões terapêuticas e por todo o auxílio durante os últimos dois anos. Obrigado por me ajudar a dar os primeiros passos e me ensinar a caminhar sozinho, pelas correções, pelas risadas, discussões e por ser minha maior companheira e amiga durante todo o trajeto deste trabalho.

Aos professores Rosilene Marcelino, Paulo Cunha, Matheus Matsuda Marangoni e Vicente Martins Mastrocola, obrigado pela força, pela inspiração e pelo apoio desde a época da graduação e processo seletivo. Obrigado pelas dicas, pelas conversas, pelos grupos de estudo e por serem sempre companheiros, amigos e mentores desde o início dessa trajetória acadêmica.

Aos colegas da M14, agradeço por todas as risadas, conversas, comemorações de aniversário, empréstimos de livros e arquivos digitais, pelas inspirações e companheirismo. Aos amigos que fiz, tenho certeza que ainda continuaremos avançando e nos apoiando no futuro.

Não tenho nem palavras para agradecer à minha família, pois sem o apoio de vocês nunca teria conseguido seguir em frente. Ao meu pai Marcelo, minha mãe Magda e meu irmão André, obrigado por estarem sempre ao meu lado, por jamais desistirem de mim e por sempre acreditarem que eu estava no caminho certo.

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RESUMO

O ambiente digital das redes e aplicativos sociais possibilita aos usuários produzirem e compartilharem conteúdos originais em tempo real e para diversas pessoas ao redor do mundo. No aplicativo Instagram, através do consumo material e simbólico, usuários se apropriam de símbolos e signos culturais para produzirem fotos dos mais diversos temas e construírem seus perfis dentro de um ambiente colaborativo e dinâmico. A pesquisa aqui apresentada teve como objetivo estudar este processo de produção imagética e como isso se relaciona à construção identitária de seus usuários no ambiente digital, através do recorte de momentos de suas vidas e da construção de fachadas. Apoiados em autores como Castells, Giddens, Goffman, Primo, Silva, Slater e Tondato, discutimos o funcionamento do aplicativo e como isso se relaciona aos conceitos de identidade e consumo em uma sociedade Pós-moderna; e por meio de entrevistas com usuários do aplicativo, desenvolvemos a discussão sobre a construção dos perfis e as possíveis implicações para com a imagem de cada usuário. Os resultados nos mostram como o Instagram se torna um palco onde seus usuários podem construir uma fachada a partir de recortes de seus cotidianos, exibindo um estilo de vida ideal, através do consumo de produtos e serviços retratados nas fotos, ainda que não intencionalmente. Fachada esta acessível a um público mais restrito do que aquele de outras redes sociais.

Palavras-chave: comunicação; consumo; identidade; Instagram; fachadas.

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ABSTRACT

The digital environment of social networks and apps allows the users to produce and share original contents in real time, to several people around the world. In the Instagram app, through material and symbolic consumption, users take possession of cultural symbols and signs to produce photos about the most diverse themes and to build their profiles inside a collaborative and dynamic environment. The research here presented had as an objective to study this process of imagery production and how it relates to the identity construction of the users in the digital environment, by snipping moments of their lives and the construction of facades. Supported by authors such as Castells, Giddens, Goffman, Primo, Silva, Slater and Tondato, we discussed the operation of the app and how it relates to the concepts of identity and consumption in a Post-Modern society; and based on interviews with users of the app, we develop the discussion about the construction of profiles and the possible implications to the image of each user. The results show us how Instagram becomes a stage, where users can build a facade by snipping moments of their daily activities, showing an ideal lifestyle, through the consumption of products and services portrayed in the pictures, even if its done unintentionally. Façade that is accessible to a more restrict audience than in other social networks.

Keywords: communication; consumption; identity; Instagram; facades.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO …………..………... p. 10

CAPÍTULO 1: FOTOGRAFIA, IDENTIDADE E TECNOLOGIA ……....…... p. 14 1.1 A MAGIA DA FOTOGRAFIA: DO ANALÓGICO AO DIGITAL – UM BREVE HISTÓRICO ………... p. 14 1.2 DA FLANÊRIE À INTERAÇÃO: A WEB COLABORATIVA E O INSTAGRAM

………...….. p. 18 1.3 AÇÕES E INTERAÇÒES – IMAGENS E CONTEXTOS: O USUÁRIO DO INSTAGRAM ... p. 22 1.4 A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES: DO ANONIMATO ÀS FACHADAS. p. 25 CAPÍTULO 2: PARA ALÉM DAS FACHADAS – O INSTAGRAM E AS PRÁTICAS DE CONSUMO ... p. 29 2.1 A CULTURA DO CONSUMO NO AMBIENTE DIGITAL ………... p. 29 2.2 COMPARTILHAMENTO E INTERAÇÃO: CONSUMINDO (N)O INSTAGRAM

………...…... p. 34 2.3 IDENTIDADE E VISIBILIDADE: ENTRE O SIMBÓLICO E A REPRESENTAÇÃO……… p. 36 2.4 ENGAJAMENTO E INTEGRAÇÃO SOCIAL: CONSUMINDO SIGNIFICADOS

………... p. 40

CAPÍTULO 3: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE SEGUNDA OS USUÁRIOS DO INSTAGRAM ………... p. 44 3.1 INDO À CAMPO: CONVERSANDO COM USUÁRIOS DO INSTAGRAM ... p. 44 3.2 EM BUSCA DE INFORMAÇÕES: USUÁRIOS E PERFIS ………... p. 47 3.3 HÁBITOS, USOS E OPINIÕES: UMA POSSÍVEL CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA………... p. 50

3.3.1 O USO DO INSTAGRAM: OS MODOS DE CADA UM ………... p. 50 3.3.2 USO DO INSTAGRAM: MOTIVAÇÕES E RAZÕES ………... p. 53

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3.3.3 O APLICATIVO CHAMADO INSTAGRAM ..……….. p. 56 3.3.4 EU SOU ASSIM…ELES PARECEM SER ……..………... p. 61 3.3.5 O PALCO INSTAGRAM: ONDE FACHADAS SÃO CONSTRUÍDAS E HISTÓRIAS ELABORADAS ………... p. 71 CONCLUSÃO ……….... p. 77 REFERÊNCIAS ………... p. 83 APÊNDICES ………... p. 86

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INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, a comunicação entre as pessoas se tornou muito mais fácil e rápida devido às novas tecnologias digitais e ao ambiente online, que eliminaram barreiras geográficas e lhes permitiram estarem sempre em contato, a qualquer hora, em qualquer lugar, produzindo e compartilhando conteúdos, trocando mensagens e entrando em contato com os últimos acontecimentos do ambiente que as cerca. As chamadas redes sociais são consideradas um dos maiores representantes dessa mudança que o processo comunicativo sofreu, servindo de espaço para a interação, exposição de opiniões e expressão de identidades, tudo em tempo real.

Neste trabalho, o foco não é simplesmente os benefícios que as redes sociais e as novas tecnologias trouxeram para o campo da comunicação, mas, sim, a possibilidade que elas fornecem aos usuários de expressarem e construírem elementos identitários dentro do ambiente digital, podendo transportá-los para o mundo físico. Através de mensagens compartilhadas no ambiente online, indivíduos podem expor valores, opiniões, gostos, e outros fatores que compõem suas identidades, ao mesmo tempo em que possuem a liberdade de assumir e adotar novas posições, construindo uma nova imagem. Isso é algo que ocorre em todas as redes sociais.

No entanto, para fins desta pesquisa, o foco recairá sobre o aplicativo de fotografias Instagram.

Não se pode colocar o Instagram e a fotografia como os principais meios influenciadores das transformações que a identidade de um indivíduo pode sofrer. Deve-se ir além, analisando as mudanças pelas quais a própria comunicação passou com o advento de novas tecnologias. Ela começou a ocupar um lugar estratégico na configuração de novos modelos de sociedade, como afirma Martin-Barbero (2006). Com o advento de novas tecnologias, a maneira de transmitir uma mensagem, bem como a interação entre os indivíduos, acabou sofrendo alterações. A noção de espaço é alterada, somos impactados por novas informações a qualquer hora do dia, em qualquer lugar:

(...) as redes informáticas, ao transformarem nossa relação com o espaço e com o lugar, mobilizam figuras de um saber que escapa à razão dualista com a qual estamos habituados a pensar a técnica (...), pois se trata de movimentos que são ao mesmo tempo de integração e de exclusão, de desterritorialização e relocalização, nicho no qual interagem e se misturam lógicas e temporalidades tão diversas como as que entrelaçam no hipertexto as sonoridades do relato oral

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com as intertextualidades da escrita e as intermediações do audiovisual (MARTIN-BARBERO, 2006, p. 57).

Essa relação entre sujeito e tecnologia é algo que modifica não só os modos de comunicação, mas também as relações com o mundo à sua volta, seus hábitos diários, sua interpretação de acontecimentos, seus ideais. Estar conectado diariamente, o tempo todo, faz com que o indivíduo se integre a um novo ambiente, com regras e costumes próprios, em uma nova cultura, característica daquele meio. Um ambiente que permite muito mais do que troca de informações: a produção de conteúdo e a customização de mensagens também estão englobadas neste âmbito. Logo, o indivíduo passa a ocupar tanto o papel de emissor quanto o de receptor de mensagens, buscando se adequar a contextos específicos e interagir com os demais usuários presentes no ambiente digital, a promover discussões, produzir novos conteúdos de maneira integrada e permitir uma socialização e troca de conhecimentos que transcende as barreiras geográficas/físicas e temporais.

Dessa forma, smartphones, aplicativos, sites de redes sociais e outras plataformas tecnológicas de comunicação permitem aos usuários produzir e transmitir suas próprias mensagens de uma maneira rápida. Além disso, possibilitam uma interação com outras pessoas, marcas e empresas em diversas localidades, o que antes era considerado um processo longo, difícil ou inacessível, por mais que houvesse uma intenção em se promover tais interações. Essa quebra de barreiras, como já mencionado, além de permitir e facilitar as interações, também possibilita o início daquilo que entendemos como sendo um processo de construção de imagem dentro do ambiente digital. Isso faz com que os usuários deixem rastros de suas interações, ao mesmo tempo em que entram em contato com novas culturas, ideias e pontos de vista, que podem agregar valores a seus modos de vida e influenciar suas futuras interações.

Da mesma forma que ocorre no ambiente físico, a maneira como nos comportamos dentro do ambiente digital deixa impressões sobre aquilo que somos. Tendo isso em vista, há uma hipótese que deve ser discutida mais detalhadamente nessa pesquisa, que pode modificar a maneira como se dão as relações entre os indivíduos no ambiente digital: por contar com um aparato tecnológico como mediador, o sujeito se sente mais protegido em relação à sua identificação, bem como a seus comportamentos, expressões de gostos e opiniões, assumindo, de certa forma, um estado de anonimato dentro daquele universo. Tomando como princípio de reflexão o conceito de fachadas discutido por Goffman (1983), o ambiente digital possibilita que

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os sujeitos estabeleçam novos comportamentos e construam uma nova imagem que os irá representar neste espaço comunicacional.

Não se pode afirmar que os comportamentos dentro de um ambiente de redes sociais digitais, por exemplo, sejam necessariamente diferentes daqueles praticados pelo indivíduo em seu dia-a-dia. No entanto, a facilidade e a liberdade que um sujeito acredita possuir no ambiente digital para adotar certos comportamentos e se integrar a diferentes grupos otimiza a criação de fachadas. Para Goffman (1983, p. 46), “se um indivíduo tem de dar expressão a padrões ideais na representação, então terá de abandonar ou esconder ações que não sejam compatíveis com eles”.

O indivíduo imerso no universo digital é, portanto, capaz de incorporar novos comportamentos e descartar costumes habituais, cotidianos, e que não são adequados ao contexto, grupo ou assunto em que deseja interagir. Essa atividade acontece por meio da interação com os outros usuários, produzindo mensagens e conteúdos a serem compartilhados, e por outras práticas virtuais que permitem que ele expresse seus valores e seja visto de uma maneira específica por aqueles presentes no mesmo espaço comunicacional.

Partindo destas ponderações, entramos na questão identitária dos indivíduos, uma vez que, ao construir uma fachada dentro do ambiente digital, o sujeito acaba incorporando valores conforme aquilo que observa/ou no comportamento virtual de outros usuários que ocupam o mesmo espaço. Como resultado, sua imagem neste ambiente passa a ser, de alguma forma, diferente daquela no mundo físico. Trata-se de um processo que pode exigir a adoção de elementos comportamentais (de fachada) que vão constituir uma nova identidade naquele universo.

Como defende Castells (2000), o indivíduo que busca redefinir sua posição na sociedade e transformar toda a sua estrutura social é capaz de se utilizar dos materiais culturais ao seu alcance para construir uma nova identidade que lhe pareça (mais) apropriada para atingir seus objetivos. No entanto, cabe ao sujeito que constrói essa identidade saber equilibrá-la, de maneira a ser fiel àquilo que deseja representar, o que pode ser realizado de diferentes modos.

Ao se apropriar de elementos culturais, o indivíduo realiza uma forma de consumo, visto que, de acordo com Douglas e Isherwood (2004, p. 108), “(...) a função essencial do consumo é a sua capacidade de dar sentido”. Nesta discussão consideramos esta função de dar sentido do consumo com o objetivo de cada usuário dentro do ambiente das redes sociais. Quando falamos

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sobre a construção identitária, estamos analisando o consumo de elementos, sejam eles culturais, materiais ou simbólicos que busquem agregar valores específicos à imagem de cada indivíduo.

Desta forma, ele objetiva ser visto sob determinadas perspectivas pelos outros usuários que ocupam o mesmo espaço digital, estabelecendo, assim, novos elementos identitários em um contexto de interesse.

Nos primeiros dois capítulos desta dissertação, trabalhamos uma discussão teórico- conceitual sobre os quatro principais pilares que compõem o trabalho: tecnologia, identidade, comunicação e consumo. Com o apoio de autores como Castells, Slater, Primo, Benjamin, Tondato, Goffman, Giddens, entre outros, abordamos a evolução e desenvolvimento da fotografia e, consequentemente, do papel do fotógrafo na sociedade. Relacionamos esse processo aos adventos das tecnologias móveis e das redes sociais, que mudaram não só a forma como as pessoas se comunicam, como também os hábitos e práticas de consumo. É justamente por meio de um consumo simbólico e material, mediados pela cultura, que os usuários se integram a um novo ambiente comunicacional que lhes permite produzir conteúdos próprios, transmitir visões, opiniões e ideias sobre assuntos variados. Ao mesmo tempo, incorporam características, comportamentos e valores aos perfis de seus produtores, compondo fachadas digitais, que são associadas à identidade de cada indivíduo-usuário.

O que expressamos nessa abordagem teórica foi observado de maneira empírica junto a usuários do aplicativo para smartphones Instagram, por este ser um espaço que permite, através do consumo cultural e material, a seleção de elementos e produção de imagens a serem compartilhadas nas redes sociais. Esta é uma prática que permite que os usuários ganhem mais visibilidade e, consequentemente, atraiam mais atenção para os conteúdos que foram publicados, podendo por meio disso ganhar seguidores e fãs dentro do ambiente digital. Isso faz com que suas mensagens, opiniões e ações ganhem mais relevância no interior daquele cenário perante os olhos de outros indivíduos que ocupam o mesmo espaço1.

Através do consumo material, cultural e simbólico, aliados ao anonimato proporcionado pelo ambiente digital, os usuários conseguem ter acesso a elementos que podem auxiliá-los a

1 No ambiente das redes sociais, o número de seguidores muitas vezes depende da qualidade do conteúdo produzido por determinado usuário. Quando há um grande número de seguidores, normalmente isso significa que aquele perfil produz mensagens, fotos ou vídeos vistos por muitas pessoas, fornecendo uma posição de status a ele.

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transformar suas imagens, atendendo a objetivos especificados ou não para o próprio autor. No entanto, até que ponto essa imagem é fiel à identidade do indivíduo?

Capítulo 1: Fotografia, tecnologia e identidade

1.1 A magia da fotografia: do analógico ao digital – um breve histórico

A atividade fotográfica, uma maneira de retratar o cotidiano, de reproduzir a visão de mundo de um observador em um material que pode ser compartilhado, apreciado por terceiros e reproduzido em larga escala, possibilitou a composição de cenários que eventualmente refletem posições sociais, elementos identitários e pontos de vista sobre contextos específicos. O que antes era realizado através da pintura, que até certo ponto dava ao artista mais liberdade de expressão em relação àquilo que retratava, articulando seus próprios valores e interpretações para gerar uma obra única e digna de admiração, a exigir competências artísticas e habilidades técnicas muito específicas, acaba se enfraquecendo, fazendo com que os quadros passem a valer “apenas como testemunho do talento artístico do seu autor” (BENJAMIN, 1994, p. 93). Com a fotografia, esse processo adquire novos valores, pois ao retratar uma pessoa, objeto ou paisagem por meio da técnica fotográfica, “preserva-se algo que não se reduz ao gênio artístico do fotógrafo (...), algo que não pode ser silenciado, que reclama com insistência o nome daquela que viveu ali, que também na foto é real, e que não quer extinguir-se na ‘arte’”(BENJAMIN, 1994, p. 93).

O que nas obras de arte era chamado de “aura”, como explica Benjamin (1990), uma essência que a obra original possui e que, espera-se, é transmitida àqueles que a observam, gerando um sentimento de fruição, apreciação única de algo que vai além da imagem registrada, acaba perdendo força e desaparecendo com o tempo, devido à possibilidade de reprodução característica do processo fotográfico. Essa perda da essência a partir da reprodução ocorreria porque “a própria noção de autenticidade não tem sentido para uma reprodução, técnica ou não”

(BENJAMIN, 1990, p. 246). No entanto, embora ocorra o enfraquecimento e, consequentemente, a perda dessa aura e sensação de autenticidade devido à possibilidade de reprodução, a técnica pode transportar a obra (reproduzida) “para situações nas quais o próprio original jamais poderia se encontrar. Sob a forma de foto ou de disco, ela permite sobretudo aproximar a obra do espectador ou do ouvinte” (BENJAMIN, 1990, p. 246). Assim sendo, por meio da técnica, a

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visão de mundo de um observador-fotógrafo, representada em um material/suporte físico (a fotografia), pode alcançar novos públicos, não só proporcionando a estes o contato com um produto artístico-cultural, mas também ampliando os modos de leitura e interpretação sobre a obra.

O processo de reprodução, técnica ou não, abordado por Benjamin, é um ponto-chave para que se entenda a importância da fotografia, não apenas para uma possível construção de elementos identitários do fotógrafo, mas ao processo de registro fotográfico realizado por ele, que é, antes de qualquer coisa, um observador do mundo à sua volta. Ao registrar um momento por meio da técnica fotográfica, o fotógrafo procura observar e capturar certos detalhes, específicos de um momento que é único, o que não ocorre na elaboração das obras de arte, de acordo com a concepção de Benjamin (1990). Isso, aliado à possibilidade de reprodução e, consequentemente, de compartilhamento e difusão, possibilita que um registro fotográfico ganhe significados e interpretações diferentes, do ponto de vista da recepção, por um número muito maior de pessoas, que podem enxergar outros detalhes, outras situações, que escaparam ao olhar do fotógrafo.

(...) a técnica mais exata pode dar às suas criações um valor mágico que um quadro nunca terá para nós. Apesar de toda a perícia do fotógrafo e de tudo o que existe de planejado em seu comportamento, o observador sente a necessidade irresistível de procurar nessa imagem a pequena centelha do acaso, do aqui e agora, com a qual a realidade chamuscou a imagem, de procurar o lugar imperceptível em que o futuro se aninha ainda hoje em minutos únicos, há muito extintos, e com tanta eloquência que podemos descobri-lo, olhando para trás (BENJAMIN, 1994, p. 94).

Essa capacidade da fotografia de registrar o acaso, de capturar momentos de uma maneira rápida e, ao mesmo tempo, ser produto da competência técnica e de um ponto de vista do observador/fotógrafo, é impulsionada com o surgimento de novas tecnologias, que permitem ao fotógrafo realizar seu trabalho a qualquer hora, a qualquer momento, em qualquer situação. O desenvolvimento de câmeras digitais e sua posterior agregação aos telefones celulares com acesso à internet, os chamados smartphones, que por sua vez comportam aplicativos de fotografia, ampliou o acesso à atividade fotográfica ao eliminar fatores limitadores como a necessidade do filme fotográfico e a consequente revelação das fotografias. Isso implica na facilitação e rapidez do produto final e, especialmente, na redução de custos envolvidos no processo, possibilitando que mais pessoas adotassem a fotografia não somente como um hobby,

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forma de registro de momentos importantes ou instrumento artístico, mas também como uma atividade de socialização, potencializada pelas postagens nas redes sociais.

Capacitado por uma tecnologia portátil, o flâneur “tecnológico”, aqui denominado aos moldes do flâneur benjaminiano (1991), não só se refugia nas multidões e perambula pelas ruas e galerias, observando comportamentos e situações para adquirir novas experiências (BENJAMIN, 1991), mas, por meio da atividade fotográfica, é capaz de enxergar novas possibilidades de representação dos acontecimentos, registrando-os instantaneamente. A este flâneur/fotógrafo é possível notar oportunidades e detalhes que representam costumes e culturas, sendo capaz de registrá-los e compartilhá-los no ambiente digital, tornando o que observa em sua flanerie acessível a um público maior.

Podemos relacionar a posição desse fotógrafo-observador/flâneur/fotógrafo ao observador definido por Crary (2012, p. 15), que não é só “aquele que vê”, mas principalmente,

“aquele que vê um determinado conjunto de possibilidades, estando inscrito em um sistema de convenções e restrições”. No entanto, esse sistema de que fala Crary não se trata apenas da sociedade em que vive o indivíduo no mundo físico, e dos momentos que vivencia em seu cotidiano. Ele também abarca as atividades, discussões, costumes e experiências que observa e experimenta no ambiente digital. Trata-se de elementos simbólicos que constituirão uma identidade que é transmitida àqueles que compartilham dos mesmos espaços sociais, o que resulta em uma fachada específica a determinado contexto.

Levando em consideração a afirmação de Crary, o observador flâneur, ao registrar um momento, mobiliza seus valores, opiniões e visões sobre aquilo que observa durante suas perambulações, refletindo, obviamente, a cultura em que está inserido. Em relação a esta, ela pode ser entendida como “um processo de montagem multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ler e utilizar” (GARCIA CANCLINI, 1995a, p. 41).

No ambiente digital, assim como na vida cotidiana do mundo off-line, que trataremos aqui como o mundo físico, o homem busca se relacionar com outros indivíduos e com o ambiente à sua volta “com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade” (HELLER, 1972, p. 17). Ao fazer isso, ele acaba expondo “todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias”

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(Idem), o que pode ser observado muitas vezes nas fotografias realizadas, resultado de um estilo específico e da identidade de quem faz o registro.

Ao ter sua individualidade exposta, como aborda Heller (1972), o indivíduo que atua no ambiente digital tem como objetivo se expressar e se relacionar com outros usuários que também participam daquele ambiente, expondo seus valores, opiniões e gostos. Ao fazer isso, ele busca se integrar a novos contextos, grupos e discussões para trocar experiências e conhecimentos, uma vez que “enquanto indivíduo, portanto, é o homem um ser genérico, já que é produto e expressão de suas relações sociais” (Ibidem, p. 21). Isso permite que ele tenha a possibilidade de agregar novos valores à sua identidade.

A busca por integração e sociabilização, característica do ser humano, foi potencializada pelo desenvolvimento das tecnologias digitais. Elas possibilitaram a mobilidade com os tablets e smartphones, cujas telas atuam como mediadores das ações diárias, tornando-se um espaço propício para práticas colaborativas por meio dos aplicativos e das redes sociais. Disso resultam indivíduos cada vez mais conectados, o que caracteriza uma cultura da interação, que marca “as gerações que nasceram já no interior dos contextos midiáticos digitais – os “nativos digitais” – e vem substituir a cultura e as estéticas do espetáculo que marcaram as gerações do cinema e da TV” (DI FELICE, 2011, p. 102).

A cultura da qual trata Di Felice permeia nosso interesse de estudo por “marcar o cotidiano e a existência das novas gerações que vivem em contextos sociais e midiáticos digitais e promete alterações qualitativas na política, na democracia e na forma de pensar a sociedade”

(DI FELICE, 2011, p. 102). Ou seja, ela trata de práticas no ambiente digital e as implicações que estas podem trazer para a vida dos usuários, por promoverem novas relações sociais e culturais com o mundo que os cerca. Mediado pelas novas tecnologias digitais, elimina barreiras geográficas, possibilitando maior exposição e interação com diferentes pessoas a qualquer momento, através do consumo de símbolos e elementos culturais para a produção de fotografias e mensagens.

Com relação à atividade fotográfica, o surgimento de uma cultura moldada pelas novas tecnologias viabiliza a compreensão das mudanças ocorridas ao longo dos anos, saindo de uma época que exigia dos eventuais fotógrafos uma capacitação marcada por procedimentos técnicos que exigiam o manuseio dos suportes, materiais, na escolha das películas, do trabalho no

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laboratório de revelação, habilidades além das competências criativo-artísticas. Com as tecnologias digitais, algumas etapas do processo original são eliminadas, ampliando o acesso da atividade, agora ao alcance de mais pessoas, tanto pelo barateamento do hardware como pela facilidade de manuseio para o uso mais geral, embora produções mais elaboradas ainda exijam conhecimentos específicos, programas mais sofisticados. Os avanços tecnológicos também permitiram que a atividade fotográfica, além de se constituir enquanto uma manifestação artística de registro do mundo, passasse a ser utilizada como uma forma de comunicação, de linguagem, por meio da qual usuários, com suas fotos, transmitem mensagens, mostrando seu cotidiano, ilustrando suas opiniões sobre assuntos diversos, contribuindo com discussões, socializando e construindo uma imagem derivada daquilo que compartilha.

Disso depreendemos que o desenvolvimento das plataformas digitais como espaço de comunicação inaugura uma nova fase da atividade fotográfica na medida em que a fotografia se torna uma linguagem explícita de interação para os usuários destas plataformas. Nos espaços comunicacionais como o Instagram, objeto deste estudo, usuários ressignificam símbolos que circulam em seus cotidianos ao elaborar representações fotográficas a serem compartilhadas, que transmitem, por meio de uma seleção e organização intencional, seus valores, gostos, posições sociais e outros elementos conforme a identidade desenhada para este compartilhamento. O que nos leva a citar Martin-Barbero (2006, p. 54), falando a partir de Castells: “o que está mudando não é o tipo de atividades nas quais participa a humanidade, mas, sim, sua capacidade de utilizar como força produtiva o que distingue a nossa espécie como rareza biológica, sua capacidade de processar símbolos”, pode ser observado no uso que se faz de aplicativos como o Instagram.

1.2 Da flanêrie à interação: A web colaborativa e o Instagram

Ao falarmos em tecnologia e comunicação nos dias de hoje, não podemos deixar de citar a internet e, mais especificamente a Web 2.0, termo mercadológico que diz respeito “não apenas a uma combinação de técnicas informáticas (…), mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo computador” (PRIMO, 2006, p. 1). Ela diz respeito a uma nova fase do universo digital que traz mudanças em relação ao modelo comunicativo praticado até então, sendo que da

“separação identitária entre emissor e receptor e num fluxo comunicativo bidirecional” passa

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“para um modelo de circulação das informações em rede no qual todos os atores são, ao mesmo tempo, emissores e receptores” (DI FELICE, 2011, p. 102). Disso surgem os chamados produsers, como definido por Bruns (2008), modificando o ato de comunicar, que agora “torna- se o resultado da interação com os circuitos informativos e dos estímulos contínuos das interfaces e das distintas extensões comunicativas” (DI FELICE, 2011, p. 102).

Outra mudança dessa nova fase do universo digital é caracterizada pelo surgimento de espaços como blogs, wikis, vlogs e redes sociais, “criando uma outra cultura tecnológica que supera a concepção instrumental do uso que convida à interação e à manipulação e que, sobretudo, não produz apenas informações, mas o social” (DI FELICE, 2011, p. 103).

Essa nova estrutura comunicativa interativa de que fala Di Felice e as atividades que ela inaugura no ambiente digital caracterizam uma cibercultura, uma vez que a produção e troca de informações entre os usuários auxilia na criação de costumes, comportamentos e ligações entre indivíduos, que passam a construir vínculos, para se comunicar e trocar informações.

A cibercultura vai se caracterizar pela formação de uma sociedade estruturada através de uma conectividade telemática generalizada, ampliando o potencial comunicativo, proporcionando a troca de informações sob as mais diversas formas, fomentando agregações sociais. O ciberespaço cria um mundo operante, interligado por ícones, portais, sítios e home pages, permitindo colocar o poder de emissão nas mãos de uma cultura jovem, tribal, gregária, que vai produzir informação, agregar ruídos e colagens, jogar excesso ao sistema (LEMOS, 2008, p. 87).

Se as novas tecnologias influenciam na dinâmica da sociedade, modificando os meios de produção, fluxos de trabalho e formas de comunicação, isso não significa uma imposição determinística sobre as atividades sociais, que são reformuladas e potencializadas. Como defende Lemos (2008, p. 86), “podemos ver nas comunidades do ciberespaço a aplicabilidade do conceito de socialidade (mas também de sociabilidade), definido por ligações orgânicas, efêmeras e simbólicas”. Ou seja, por mais que as mudanças sejam mediadas por avanços tecnológicos, elas refletem aspectos institucionalizados do mundo físico, o que consideramos ser uma migração da sociedade para um ambiente social mais complexo, mas que ainda tem suas raízes em conceitos enraizados em nossas atividades diárias.

A partir das ligações efêmeras e simbólicas que o ambiente digital proporciona a seus usuários como forma de socialidade, constituindo a cibercultura abordada por Lemos (2008), a Web 2.0, como evolução tecnológica, propicia espaços nos quais os usuários podem, ao mesmo

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tempo, produzir e consumir conteúdos que refletem elementos culturais e simbólicos, compartilhando e socializando-os com outros indivíduos, formando grupos e, a partir das ações e mensagens compartilhadas, construir uma imagem conforme um contexto determinado. Por essas características, tomamos o ambiente analisado nesta pesquisa como uma das instâncias do conceito de cultura definido por Garcia Canclini (2004), na qual acaba se constituindo dentro das interações realizadas pelos indivíduos, que criam vínculos e formam grupos e comunidades baseadas em ligações simbólicas, através da produção e reprodução da sociedade, ao mesmo tempo em que desenvolvem processos de significação para as práticas diárias realizadas naquele ambiente em questão, constituindo um universo no qual os comportamentos dos indivíduos possuem valores e significados para com o espaço em que atuam e interagem.

(...) cultura é vista como uma instância simbólica da produção e reprodução da sociedade.

A cultura não é um suplemento decorativo, entretenimento dominical, atividade de ócio ou recreio espiritual para trabalhadores cansados, mas algo constitutivo das interações cotidianas, à medida que no trabalho, no transporte e nos demais movimentos comuns se desenvolvem processos de significação. Em todos estes comportamentos estão entrelaçados a cultura e a sociedade, o material e o simbólico (GARCIA CANCLINI, 2004, p. 45).

Ao abordar o conceito de cultura como algo constituinte das interações diárias que desenvolvem processos de significação para os comportamentos e atitudes dos indivíduos, seja no ambiente físico ou virtual, Garcia Canclini (2004) compreende as principais ações do uso dos serviços situados na Web, mais especificamente quando falamos nos espaços digitais denominados “redes sociais”, como o Facebook, Twitter, Instagram, Youtube, entre outros.

Nestes, a produção de conteúdos e consequente interação entre os usuários resultam no desenvolvimento de valores, costumes e hábitos daquele ambiente. Tais espaços, no formato de websites e de aplicativos para smartphones (apps), propiciam a construção de perfis públicos ou semipúblicos dentro dos limites permitidos pelo sistema digital, no qual usuários podem estabelecer e explorar conexões com outros indivíduos (BOYD; ELLISON, 2007 apud BUSSO, 2013, p. 22, tradução nossa).

Ao entrar em uma rede ou aplicativo social, os usuários se encontram em um espaço onde pessoas e/ou marcas estão habilitadas a construir perfis digitais e produzir e divulgar conteúdos originais, dialogando e trocando experiências, criando vínculos grupais (tribos), além de poder observar as atividades de outros usuários. Por ser um ambiente altamente dinâmico,

“existe a possibilidade de que os processos criativos migrem dos domínios onde nascem para

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outros campos de aplicação” (CASTELLS, 2010, p. 185), incentivando os usuários a pensar em novas e criativas formas de produção e compartilhamento de mensagens.

Com as práticas de geração de conteúdo e compartilhamento de informação nas redes sociais, realizadas de maneira rápida e imediata, surgem novas formas de comunicação, nas quais há o diálogo entre meios distintos, dando origem a novas formas de conteúdo diferenciados, que podem ser usados para os mais diversos fins, como a divulgação de uma marca, contribuição à uma discussão, ou simplesmente aquisição de visibilidade. “A competência textual, narrativa, não se acha apenas presente, não é unicamente condição da emissão, mas também da recepção”

(MARTIN-BARBERO, 1997, p. 302), isto é, os usuários têm a possibilidade de acompanhar as mensagens divulgadas nas redes e, a partir disso, elaborar novos conteúdos criativos para serem compartilhados, podendo se destacar e adquirir maior visibilidade frente às milhares de mensagens compartilhadas a todo momento pelos demais indivíduos interagindo no mesmo espaço.

Esse papel que os usuários podem adotar no ambiente das redes sociais digitais tem como base a socialização, entendendo-se que, em um espaço como esse, o ato de se informar e, consequentemente, adquirir ideias para novos conteúdos, “deixa de ser apenas um ato racional e objetivo para se tornar também uma atividade de interação que possibilita um ‘estar aí‘ e uma forma de participação à distância” (DI FELICE, 2011, p. 122). Essa mudança ocorre no ambiente digital como um todo com a chegada da Web 2.0 e, mais especificamente, das redes sociais como o Facebook e o Instagram, por exemplo (Ibidem).

O Instagram, rede social em formato de website e também de aplicativo para smartphones, funciona a partir da criação de um perfil digital dos usuários e marcas, que podem seguir e interagir uns com os outros, assim como com outras redes (Facebook e Twitter). No entanto, diferentemente do que ocorre em muitos desses espaços, nos quais as mensagens são, em sua maioria, em formato de texto, a comunicação funciona primariamente a partir do compartilhamento de fotos e vídeos, criados pelos próprios usuários, que podem editá-las, adicionando filtros, e compartilhá-las em seus perfis. Nesse processo, podem ser adicionadas legendas e hashtags2, que têm como objetivo categorizar as produções dentro de palavras-chave e

2 União de uma frase ou palavra-chave (tags) e o sinal gráfico de uma cerquilha (#), com o objetivo de categorizar e organizar mensagens pertencentes a um determinado assunto ou tópico. Fonte: Dicionário Oxford.

<http://www.oxforddictionaries.com/definition/english/hashtag>. Acesso em: junho de 2015.

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assuntos em pauta no momento, visando, assim, adquirir mais visibilidade em meio ao fluxo de mensagens compartilhadas diariamente.

Embora possibilite o acesso por duas vias, desktop e tecnologias móveis, o Instagram é mais utilizado na plataforma mobile, uma vez que na web os usuários podem apenas realizar buscas por hashtags e nicknames, editar seus perfis e interagir com outros indivíduos através de comentários e curtidas. Já a plataforma móvel, além das funções possíveis via website, também permite a postagem e edição de fotos, considerados os principais motivos para o uso da rede.

De certa maneira, esse incentivo a um maior uso da tecnologia móvel pode ser considerado um dos pontos cruciais para o sucesso do aplicativo, uma vez que, ao perambular pelas cidades e experimentar novas experiências e acontecimentos, o usuário-observador é capaz de registrá-los facilmente com a câmera de seu smartphone e compartilhá-los em tempo real.

Além da rapidez do registro e possibilidade do imediatismo nas postagens, o uso dessas tecnologias permite um acesso maior a mensagens compartilhadas por outros usuários e marcas, incentivando a interação. Ao falarmos deste conjunto de mensagens disponíveis aos usuários, citamos também o conteúdo produzido e divulgado pelas grandes instituições midiáticas, que dessa forma podem alcançar novos públicos a qualquer momento, uma vez que “os dispositivos móveis, em seu estado atual de desenvolvimento, têm uma capacidade suficiente, embora não ótima, para incrementar a exposição dos usuários aos conteúdos midiáticos” (IGARZA, 2009, p.

49, tradução nossa), o que faculta a divulgação de acontecimentos e situações de maneira mais rápida e direta.

Para entender o funcionamento do universo do Instagram como espaço comunicacional, é necessária uma investigação mais detalhada, verificando como se comportam seus usuários que, muitas vezes, dedicam boa parte de seu tempo elaborando as fotos a serem postadas e interagindo com os demais indivíduos que circulam naquele ambiente. Por meio de uma análise das práticas envolvidas no processo de uso do aplicativo, discutimos, mais adiante, as implicações na vida de seus usuários e relações com suas imagens dentro do ambiente online.

1.3 Ações e interações – imagens e contextos: o usuário do Instagram

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Ao compartilhar uma imagem no Instagram, o indivíduo se integra a contextos já existentes, assumindo a possibilidade de interação com os demais usuários. Dependendo da repercussão das imagens postadas, positiva ou negativa, conforme os critérios e expectativas dos grupos específicos de interesse de quem posta, isso pode resultar em uma posição de destaque, que se realimenta tendo em vista que “a lógica da popularidade na internet é autorreferente: algo se torna popular porque é popular, e quanto mais visto/ouvido/espalhado, mais será conhecido e, portanto, visto/ouvido/espalhado por outras pessoas” (MARTINO, 2014, p. 128).

Esse processo de compartilhamento de imagens ilustra o sistema de conexões entre as redes sociais do ambiente digital, que se comunicam entre si, mesmo que cada uma se situe em um tipo de plataforma e/ou possua seus próprios formatos de mensagem ou funcionalidades. “Na prática, os mundos online e off-line estão integrados em um todo maior e mais complexo, a vida cotidiana” (MARTINO, 2014, p. 137), o que leva o usuário a escolher as informações que deseja divulgar. Para tanto, é necessária a vivência de experiências reais que fornecerão os elementos essenciais para as fotos e vídeos a serem compartilhados no aplicativo. Este é um processo que exige atenção em relação à imagem de si mesmo que é transmitida dentro do espaço a ser ocupado a partir daquele compartilhamento ou para outras redes.

O ambiente do Instagram, ao contrário de outras redes digitais, possibilita um diálogo com o off-line, pelas fotos produzidas pelos usuários a partir do consumo de elementos culturais no mundo físico. Essa dinâmica de relacionamento e interação existente no mundo das redes sociais digitais possibilita a repercussão, ou não, da mensagem, pelos elementos que a compõem, sobre um assunto específico. Isso traz implicações para seu produtor, que poderá agregar novos valores à sua imagem e identidade dentro daquele contexto, a alterar a maneira como ele é visto e tratado em suas interações diárias no meio digital, podendo ser refletido também para o mundo físico e para as posições e comportamentos que o indivíduo irá adotar ao longo de seu dia-a-dia.

Esse diálogo entre o mundo digital e o off-line é o que caracteriza o ambiente do app como interativo. A interatividade se caracteriza como “a propriedade de instrumentos informáticos específicos que permitem que o usuário oriente o desenvolvimento das operações, de etapa em etapa e quase instantaneamente, ou seja, em tempo real” (VITTADINI, 1995, p. 155 apud FRAGOSO, 2001, p. 9). Um ambiente como o do Instagram permite a participação imediata de um indivíduo que, a partir da interação com as mensagens disponibilizadas, assumindo seu

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papel de receptor, pode também orientar sua produção, realizada em um ambiente físico. Trata- se, então, da “simulação, em meio digital, da interação comunicativa estabelecida entre interlocutores humanos (...) e entre o espectador e um elemento de seu entorno” (FRAGOSO, 2001, p. 9).

Devido à interatividade proporcionada ao usuário pelo Instagram, podemos dizer que “a vida se torna um modo de vida marcado por uma sociabilidade teatral, pela representação (por fazer presente o ausente), pela fabulação” (SOUZA MARTINS, 2008, p. 91). A partir desta perspectiva, o indivíduo procura obter acesso aos instrumentos necessários para se apresentar da maneira que deseja no meio digital, socializando e transmitindo aos grupos de interesse uma imagem planejada. A esta imagem planejada, remetemos a possibilidade de agregar valores à identidade de cada indivíduo, como já foi citado anteriormente; ao interagir com o ambiente físico, transportando essa atividade para o digital, o usuário realiza, além de um processo de produção de mensagens e socialização com outros indivíduos, um trabalho contínuo de elaboração de uma identidade própria, que está em constante desenvolvimento conforme suas ações e comportamentos diários.

Embora os ambientes físico e digital estejam ligados durante as atividades diárias realizadas pelo indivíduo, o digital possui características que não devem ser ignoradas e que são pontos cruciais para a discussão que propomos nesta pesquisa: a capacidade que cada usuário possui de filtrar aquilo que será transmitido aos outros, de acordo com sua própria vontade ou objetivo que considerar conveniente em cada momento específico. No entanto, isso só é possível graças à possibilidade de anonimato e segurança que a mediação da tela de um computador ou tecnologia móvel confere às suas ações diárias, fazendo com que se sintam seguros para expressar e compartilhar suas ideias e pontos de vista sobre os mais variados assuntos, sem se preocuparem tanto com as consequências.

“As relações virtuais criam a sensação de eliminar algumas dificuldades de interação existentes na vida cotidiana” (MARTINO, 2014, p. 124), entre elas a sensação de segurança citada no que concerne à adoção de padrões comportamentais, filtrando e formatando informações e mensagens que desejam transmitir aos demais indivíduos que compartilham o mesmo espaço que eles, no caso desta pesquisa, o Instagram. Essa filtragem/formatação de informações é realizada já na montagem dos perfis, “a escolha de fotos e a descrição que se faz

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de si mesmo permitem construir uma imagem de si mesmo que, pessoalmente, talvez seja difícil de manter” (MARTINO, 2014, p.124), ou seja, cada usuário pode assumir mais facilmente diferentes papéis dentro desse ambiente, com uma sensação de segurança e privacidade maiores do que no mundo físico.

Por meio de técnicas de montagem de fotos e da troca de comentários, curtidas e/ou compartilhamento de mensagens, é possível aos usuários “criar propositadamente quase todos os tipos de falsa impressão sem se colocar na posição indefensável de ter dito uma flagrante mentira” (GOFFMAN, 1983, p. 63). Isso oportuniza a construção de fachadas nos contextos escolhidos para tal, permitindo que o sujeito-usuário seja visto conforme planejado, ou pelo menos é o que se espera. O que Goffman comenta em relação à abordagem dos fatos pelos meios de comunicação de massa torna-se válido no ambiente do Instagram, para o indivíduo “comum”:

As técnicas de comunicação, tais como a insinuação, a ambiguidade estratégica e omissões essenciais permitem ao informante enganador aproveitar-se da mentira sem tecnicamente dizer nenhuma. Os meios de comunicação de massas têm sua própria versão a respeito disso e demonstram que, por meio de reportagens e ângulos fotográficos criteriosos, uma minúscula resposta a uma celebridade pode ser transformada em uma torrente impetuosa (GOFFMAN, 1983, p. 63).

Embora o que afirma Goffman seja algo possível de ocorrer quando estamos tratando de um ambiente interativo como o Instagram, não podemos afirmar que todos os usuários do aplicativo se valham deste estratagema de construção de fachada no ambiente digital, visando alcançar um objetivo pré-determinado.

1.4 A construção de identidades: do anonimato às fachadas

A possibilidade de anonimato e a segurança que o ambiente digital proporciona a seus usuários de se esconderem por trás de perfis e nicknames (PRIMO, 2006, p. 7), são pontos de apoio para discutir sobre a construção de elementos identitários dentro do Instagram. Como já mencionado, a partir de Goffman (1983), durante o processo de montagem de fotos a serem compartilhadas no aplicativo, os usuários se apropriam de elementos de seu cotidiano por meio do consumo, seja ele de produtos e serviços culturais ou de símbolos. Isso resulta em uma seleção de elementos que representem determinados valores, que são associados à imagem do próprio usuário, ocasionando em uma construção de fachada, que transmite determinados padrões de

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comportamentos adotados em contextos específicos. “Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo” (GOFFMAN, 1983, p. 41).

Devido à acessibilidade que o ambiente digital proporciona, somada à necessidade de sociabilização de todos nós e a um fluxo intenso e constante de informações compartilhadas, os usuários com opiniões e valores semelhantes tendem a se agrupar para discutir acontecimentos, trocar opiniões, resultando, consequentemente, na criação de vínculos. Sabemos que “pertencer a uma comunidade não é um fato obrigatório” (HELLER, 1972, p. 76); no entanto, é a partir desse tipo de participação ativa que os indivíduos podem crescer e adquirir mais visibilidade dentro de uma rede ou aplicativo social, fazendo com que muitos adotem, como objetivo para suas ações diárias, o reconhecimento de outros usuários, conferindo-lhes a sensação de pertencimento a um contexto maior.

A identidade social de um indivíduo depende, em boa parte, da comunidade à qual ele está ligado. Saber quem se é significa também saber a quais grupos se está ligado – “sou torcedor do time x, adepto da religião y, pertenço à família w, estudo na faculdade z” – e de que maneira essa ligação se reflete nele mesmo (MARTINO, 2014, p. 141).

Muitas vezes, o desejo de participar de determinado grupo ou contexto acaba sendo despertado nos usuários, que devem procurar expressar padrões ideais de representação, abandonando ou escondendo ações que não sejam compatíveis com as adotadas pelos outros membros daquele grupo específico (GOFFMAN, 1983, p. 46). Devem selecionar elementos que sejam adequados para aquele contexto e descartar daqueles que não condizem com os valores, acredita-se, partilhados pelos outros membros.

Deve-se reforçar o fato de que a identidade de cada pessoa está em um contínuo processo de construção, na medida em que, por meio de suas ações e atividades de interação, estão constantemente agregando novos valores, realimentando as imagens de si próprios que transmitem nos ambientes em que atuam. No ambiente digital, e mais especificamente no Instagram, essa agregação de valores atua mais intensamente na construção identitária, o que, aliado à mediação das telas digitais, como citado anteriormente, reforça a sensação de segurança para que selecionem as imagens que lhes confiram características com as quais desejam ser reconhecidos.

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A atividade de seleção e descarte de elementos que irão compor as fotos compartilhadas no aplicativo nos remete ao conceito de identidade de projeto abordado por Castells (2000), segundo o qual os usuários do Instagram, ao consumirem elementos culturais como bens de entretenimento, produtos e outros serviços, acabam se apropriando de valores que acreditam ser condizentes para atingir objetivos específicos de uma identidade desejada. Esse conceito pode ser relacionado à afirmação de Giddens (2002, p.74): “somos não o que somos, mas o que fazemos de nós mesmos”. Dessa forma, relacionando os dois autores ao tema desta pesquisa, podemos dizer que as escolhas e ações que são tomadas durante o processo de montagem e compartilhamento de fotos no Instagram, e que acabam incorporando valores às identidades de cada indivíduo, fazem parte de um projeto maior, de acordo com o que cada usuário deseja alcançar no aplicativo, seja retratar seu cotidiano, ganhar mais visibilidade e seguidores, demonstrar seu lado criativo, entre vários outros.

(...) a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre

“sendo formada”. (...) A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é

“preenchida” a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros (HALL, 2006, p. 38).

Não podemos afirmar que uma possível construção de fachadas por meio da articulação de elementos identitários dentro do ambiente do Instagram ocorra a todo momento e seja desejável por todos os usuários que utilizam o aplicativo. Entretanto, a possibilidade de que isso aconteça, por ter implicações tanto no ambiente online quanto no off-line, é um fenômeno de suma importância a ser estudado nesta pesquisa. O comprometimento que cada usuário deve ter com a imagem que desenvolveu dentro do ambiente digital é uma dessas implicações, fazendo com que procurem adotar comportamentos e posições que condigam com aquilo que desejam transmitir, a evitar que sejam descobertos neste processo de construção de fachada, podendo colocar sua reputação, status e credibilidade em risco.

Os indivíduos surpreendidos em flagrante no ato de dizer mentiras descaradas não apenas ficam desacreditados durante a interação, mas podem ter sua dignidade destruída, pois muitas plateias acharão que se um indivíduo pode permitir-se uma vez contar semelhante mentira, não deve nunca mais merecer confiança (GOFFMAN, 1983, p. 63).

Ao compartilhar uma foto e adotar uma posição dentro do ambiente do Instagram, o

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indivíduo que busca participar de um grupo deve procurar manter uma imagem dentro desse ambiente, produzindo e compartilhando fotos que possuam certos elementos que possam ser interpretados pelos outros usuários de maneira a indicar certos gostos, comportamentos e valores similares ao do contexto em questão. A identidade construída por esse sujeito que deseja participar de determinado contexto só acaba sendo formada de maneira eficaz, sendo reconhecida pelos outros presentes naquele ambiente, a partir da repetição, neste caso, a constante produção e compartilhamento de fotos no Instagram sobre um tema específico, que se relaciona ao grupo que deseja participar.

A eficácia produtiva dos enunciados performativos ligados à identidade depende de sua incessante repetição. Em termos da produção da identidade, a ocorrência de uma única sentença desse tipo não teria nenhum efeito importante. É de sua repetição e, sobretudo, da possibilidade de sua repetição, que vem a força que um ato linguístico desse tipo tem no processo de produção da identidade (SILVA, 2011, p. 93).

Tondato (2011, p. 165), defende que “nas mídias, as identidades são apresentadas sob a forma de representações, construídas a partir de sistemas simbólicos, passíveis, portanto, de interpretações diversas”. Deste modo, ambiente do Instagram é um espaço que dá a seus usuários liberdade de expressão; porém, para que o processo de montagem de representações, ou fachadas, possa ocorrer de maneira adequada, há a exigência de que o repertório necessário para decodificar as mensagens transmitidas nas imagens seja compartilhado. Concordamos também com Woodward (2009, p.17), quando afirma que “para que possam ser ‘interpretadas’, as representações devem fazer parte de um processo cultural, a partir de que são estabelecidas identidades individuais e coletivas”.

O ambiente do Instagram permite ao usuário assumir diferentes papéis e participar em diversos cenários, diferentes até daqueles vivenciados no mundo físico, possibilidade esta obtida pelo uso que se faz do poder de representação, que dá àqueles que o possuem “o poder de definir e determinar a identidade” (SILVA, 2011, p. 91). Este poder está relacionado à escolha, ao acesso de um capital simbólico que, quando compartilhado, será interpretado no mesmo sentido em que foi usado para a construção da identidade pré-determinada para aquele ambiente digital. Um processo que, de acordo com Hall (2006, p. 12), vai ter implicações no ambiente físico, uma vez que o resultado das escolhas feitas acaba sendo incorporado pela identidade física, ainda que não totalmente em concordância.

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O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas no redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas (HALL, 2006, p.

12).

Decorrente de suas ações de produção e compartilhamento de mensagens em formato fotográfico no ambiente do Instagram, os usuários se apropriam de certos elementos identitários, incorporados à sua imagem naquele ambiente e, eventualmente, também no ambiente off-line, o que dá início a um processo que lhes permite se integrar a grupos, socializar com outros indivíduos e construírem uma nova identidade frente à um universo mediado por telas digitais.

Contudo, essa é uma possibilidade a ser analisada mais profundamente nesta pesquisa, sendo necessário também procurar investigar de que forma o consumo cultural e simbólico realizado durante o processo de montagem das fotos contribui para este acontecimento.

Capítulo 2: Para além das fachadas – o Instagram e as práticas de consumo 2.1 A Cultura do Consumo no ambiente digital

Quando se fala sobre o ambiente digital na sociedade pós-moderna, um espaço que está em constante evolução e no qual usuários produzem e trocam informações a todo momento, sempre buscando oferecer conteúdos customizados, a gerar diferentes tipos de engajamentos, estamos falando de um espaço comunicacional movido pelo consumo. Trata-se de um espaço no qual a troca de informações é essencial, e onde indivíduos participam de discussões e produzem conteúdos, ao mesmo tempo em que marcas possuem a possibilidade de se comunicar com o público em uma linguagem mais informal, adotar novos formatos para divulgarem seus produtos e serviços e conquistar consumidores, seguidores, fãs.

Ao discutirmos sobre a construção identitária no ambiente digital, mais especificamente no aplicativo Instagram, devemos também abordar outros processos envolvidos em seu uso para além da construção de fachadas. Esses processos inauguram novas formas de consumo, adotadas pelos usuários em suas atividades de participação em diferentes contextos e produzem conteúdos a serem compartilhados. Para discorrer acerca das práticas de consumo que um ambiente como esse promove e, mais especificamente, como isso é tratado no Instagram, é importante esclarecer

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que a discussão gira em torno de uma cultura do consumo, na qual o consumo é mediador das relações sociais, culturais e simbólicas.

A noção de “cultura do consumo” implica que, no mundo moderno, as práticas sociais e os valores culturais, ideias, aspirações e identidades básicos são definidos e orientados em relação ao consumo, e não a outras dimensões sociais como trabalho ou cidadania, cosmologia religiosa ou desempenho militar (SLATER, 2002, p. 32).

No âmbito da problemática deste estudo, de acordo com Slater (2002), podemos considerar o processo de seleção para a montagem de fotos a serem compartilhadas pelo Instagram e as trocas de informação decorrentes como parte de uma prática social e comunicacional também orientada para o consumo. Esse processo, por sua vez, possui determinado valor em contextos relevantes para o autor da mensagem em questão e para os demais usuários.

Todavia, temos de ter consciência de que não podemos tratar o estado atual da cultura e atividade do consumo no ambiente digital como algo que sempre existiu. A dinâmica aqui referida foi alterada ao longo dos anos: (1) com o surgimento de novas tecnologias, como os tablets e smartphones, que tornaram possível aos usuários realizar pesquisas de preço, locais e produtos em qualquer lugar e a qualquer hora; (2) por mudanças nas relações sociais, proporcionadas pela internet e as redes sociais, por meio das quais pessoas de diferentes partes do mundo conseguem trocar mensagens nos mais diferentes formatos; e (3) por alterações na noção de espaço público, que é ampliado para o meio digital, onde usuários possuem liberdade para se expressar, interagindo de maneira muito intensa por meio de símbolos e signos, em especial imagéticos, criando conteúdos próprios, e eventualmente estabelecendo novos valores à práticas consolidadas no mundo físico. Estas mudanças desenvolvidas com a Modernidade fizeram com que diversos valores, hábitos e comportamentos passassem a ser associados ao conceito de consumo, orientando pensamentos, ações e práticas diárias.

A cultura do consumo abrange um conjunto de imagens, símbolos, valores e atitudes que se desenvolveram com a Modernidade, tornaram-se positivamente associados ao consumo (real ou imaginário) de mercadorias e passaram a orientar pensamentos, sentimentos e o comportamento de segmentos crescentes da população do assim chamado mundo ocidental (TASCHNER, 2009, p. 79).

Ao falarmos em relações de troca, como as que não só ocorrem, mas caracterizam o ambiente digital a todo momento, e levando em consideração o que defende Taschner (2009),

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compartilhados na internet e nas redes sociais, pertencem à categoria de “mercadorias”. Para apoiar essa afirmação, mencionamos Appadurai (2010, p. 22), que descreve mercadoria como sendo “qualquer coisa destinada à troca” e, mais do que isso, que possui valor, mesmo que simbólico. No caso do Instagram, os usuários enxergam nas imagens compartilhadas valores de interação, que podem trazer benefícios para suas imagens na rede, como um aumento no número de seguidores ou uma aquisição de status.

Acreditamos que as atividades realizadas pelos usuários no processo de utilização do Instagram para a produção das fotos a serem compartilhadas implicam na ressignificação de diversos signos e símbolos, acarretando sua transformação em elementos de valor dentro daquele contexto. Isso faz com que as relações entre usuários das redes sociais, e mais particularmente do Instagram, possam ser consideradas como relações de troca, saindo do âmbito da socialização, apontando para, por assim dizer, certa “mercadorização”, numa esfera mais impessoal, concedendo mais importância aos objetivos de posicionamento e pertencimento dos indivíduos e os valores a isso creditados.

Tudo pode transformar-se em mercadoria ao menos durante parte de sua vida.

Esse potencial que todas as coisas, atividades ou experiências têm de se tornarem mercadoria, ou serem substituídos por mercadorias, coloca perpetuamente o mundo íntimo da vida cotidiana no mundo impessoal do mercado e de seus valores (SLATER, 2002, p. 35).

Quando falamos em cultura do consumo, estamos tratando basicamente de uma

“negociação de status e identidade – a prática e a comunicação da posição social” (SLATER, 2002, p. 38). Logo, ao compartilhar uma mensagem, o usuário expõe seu posicionamento específico sobre um assunto, promovendo a socialização, contribuindo para eventuais discussões sobre algum tema específico e incentivando a criação de novos conteúdos, ao mesmo tempo em que lhe é atribuída uma posição de reconhecimento e status. Dessa forma, podemos dizer que quando falamos sobre valores no ambiente digital, estamos discutindo os objetivos pretendidos pelos usuários ao compartilharem conteúdos, sejam eles no formato que for.

Com base nessa discussão, dispomo-nos a investigar como os usuários do Instagram agem na perspectiva de busca por visibilidade e reconhecimento por meio da produção de imagens e comunicação de uma posição social, representada por práticas de consumo, material e/ou simbólico. Podemos afirmar que ocorre uma negociação na qual os elementos utilizados nas fotos, através do consumo, possuem valor a ser trocado para atingir os objetivos dos usuários,

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