A
CUL,TLJRA DE WEIMAR, A CAUSALIDADE E ATEORIA QUÂNTICA,
l9lat927
:A
adaptação de físicos e matemáticæ alemães aum
ambiente intelecrualhostil
*
PAUL FORMAN
Smit hso nian
Institut
io n"E inteftssante natat que mesmo a física, uma díscíplinø figotosomente comprcmetida com os resultados da expe-rimentaçîo, é levada a caminhos perfeitamente paralelas aos dos movimentos intelectudis de oufias dreas fda vída
modemol.
"
Gustav Mie, øula ínougurøI como Professor deFtsica, Unívercidade de Freíburg i.8., 26 de ianeiro de 1925.
Naquela que talvez seja a mais original e sugestiva dæ seções de seu
livro
The Concep' tuøl Devetopmentof
Qnntum
Mechanics, Max Jammer assegura "que certas ideiæfì-losóficæ
do séculoXX
não apenas prcpararam o clima intelectual para a formação dæ novÍts concepções da modemateoria
quântica, mascontribuíram
decisivamente paraela";l
especificamente,"o
contingentismo,o
existencialismo, o pragmatismo e oem-pirismo
lógico surgiram em reação ao racionalismotradicional
e à metafísicaconven-cional.
(...)
A
afirmação que faziam de uma concepção concreta da vida e suarejei-ção
deum
intelectualismo abstrato culminaram em suadoutrina
delivre-arbítrio,
narecusa
do
determinismo mecanicistaou
da causalidademetafísica"
Unidæ na rejeição da causalidade, apesar de não o fazerem nas mesmas bæes, tais correntes depensamen-to
prcpararam,por
assim dizs¡,s
pano-de-fundofilosófico
para a mecânica quânticamodema.
Elascontribuíram com
sugestõesno
estágioformativo
do
novo esquema conceitual e depois promoveram sua aceitação."2* Noto editorial. Publicado originalmente ern Histoical Sudies in the Physical Sciences 3 (1971).
1M.
Jammer, The Conceptual Developmentof
Quanrum Mechanics (Nova York: McGraw-Hill, 1966), seção4.2,
"The Philosophical Backgroundof
Non-Clæsical Interpretations"; næ pp. 166-16',t.2
lbid., p.180.
A
busca pbr influências e precedentes filosóficos realizada por outros autores fo-calizava-se quæe exclusivamente na douttina de complementa¡idade de Bohr. Recentemente, o assunto-
de que não me ocupalei diætamenþ aqui-
foi de novo examinado, e aliteraturare-pæsada, por Gerald Holton, "The Roots of Complementaty", Daedalus 99 (outono, 1970), pp.1015 -1055.
6
Paul FormanEssas são afirmações ambiciosas. No meu entender, se interpretadæ adequadamen-te, são essencialmente
conetæ.
Deve-se dizer, no entanto, que Jammer não se esforçamuito
em demonstrá-las. Ele aponta a presença de tais sentimentos anticausais emdi-venos filósofos
do
século pæsado-
franceses, dinamarqueses e norte-americanos-,
mas praticamente não reúne qualquer evidência paracobrir
as extensas lacunas repre-sentadaspelo
decorrer deum quarto
de século, uma tradiçãocultural
e as disciplinas da fìlosofìa e da física, que separam suas teses fìlosóficæ do desenvolvimento damecâ-nica
quânticapor
físicos centroæuropeus de língua alemã emtomo
de1925.
Meuob-jetivo
não é preencher tais lacunæ, mæ examinar detidamente oterritório
queconsti-tui
seulimite
maisdistante.
O resultado é, em primeiro lugar, a evidência esmagadora de que, nos anos que sucederamo
fìm
daI
Guerra Mundial, mas antes dodesenvolvi-mento
de uma mecânica quântica acausal,um
grande número de cientistæ alemães, sob a influência de "correntes de pensamento" epor
razões apenÍN incidentalmente re-lacionadæ ao desenvolvimento de suaprópria disciplin4
se distanciou da causalidade na física ou a repudiou explicitamente.Desse modo, a tese mais importante de
Jammer
-
de que influênciæ extrínsecæ le-varam os físicos a desejar ardentemente, buscar ativamente e aderir com entusiæmo auma mecânica quântica acausal
-
é aqui demonstrada para a esferacultural
alemã, mæ apenas paraela.
Essa restrição cultural é essencial; ela forma a'bæe de minha tentativade proporcionar, em segundo lugar, uma resposta à pergunta
-
que, na sua forma geral,é
decisiva para toda ahistória
intelectual-
do por que edo
como tais "correntes depensamento",
cujo efeito
sobre os físicos era evidentemente negligenciável na passa-gem do século, vieram a exercer umainfluência tão forte
sobre físicos alemães depois de1918.
Pois me parece que ohistoriador
não pode se contentar com expressões va-gas e equívocas dotipo
"prepararamo
climaintelectual", ou
"prepararÍtm,por
assim dizer, o pano-de-fundofilosófìco",
mas deveinsistir
numa análise causal,exibindo
æ circunetânciæ e æ interações através dæ quais os homens de ciência são arrastadospor
correntes intelectuais.
Tal
análise podetanto
ser'þsicológica"
quanto"sociolôgica".
Ou seja, tanto pode considerar a conformaçãomental
de cada um dos cientistæ em questão, enfatizando o papel de ambientes intelectuais prévios e experiênciæ condicionantes na determinação de atitudes subseqüentes, quanto, aocontrário,
podeigrorar
esses fatores, tratando apostura mental presente como uma reação socialmente determinada ao ambiente inte-lectual
imediato
e às experiênciæ vividæ no presente. Alinha
que escolhifoi
a segun-da,procurando
um
modelo
em que certas "variáveis decampo"
e suas derivadas emum
dado lugar e momento são encaradæ como representantes de atitudescorrespon-dentes.
Apesar de poder parecer ofensivo enfatizar æ pressões sociais eigrorar
ædo
res emocionais, e apesar de aparentemente ser insatisfatório interromper nossos esfor-ços explicativosno
nível da decisão individual,continuo ajulgar
que a abordagem"sG
ciológica" é amais geral efrutífera.
A
busca deve, então, se iniciar pela caracterizaçã'o do meio intelectual em que osA
Culturade
lUeimar e ø TeoriaQuântica
7problema formidável, sobretudo devido a dihculdades
metodolôgicæ.
E a ta¡efa ées-pecialmente desinteressante para o
historiador
daciênciq
pois exige dele que trabalhenão
apenæcom
as "expressões" de cientistæ mætamHm
com as de não-cientistæ,forçandoo,
assim, a abandonaro critério
de demarcação por meio do qual ele procuraidentifica¡ e delimitar
seu campo de interesse. Não obstante, com a ajuda e orientação de estudos anteriores, realizados por historiadores da vida intelectual gera[especialmen-te
o
trabalho deFritz K.
Ringer, abordo esse problema na ParteI'
Af
mostro çlue,a-pós a derrota alemã, a tendência
intelectual
dominanteno
mundo acadêmico de Wei-mar era uma"filosofia
davida"
existencialista e neo-romântica, que se alimentava de crises e se caracterizava pelo antagonismo em relação à racionalidade analítica em geral e às ciências exatas e suæ aplicações técnicæ emparticular. Implícita
ouexplicitamen-te,
o cientista era o bode expiatório de incessantes exortações em favor de uma renova-ção espiritual, enquanto o conceito-
ou meramente a palavra-
"causalidade"simbo
lizava tudo aquilo que era odioso na atividade científica.Ora, se o interesse do lústoriador se prende exclusivamente às realizações
científicæ
substanciais
-
como em geral ocorre mesmo em nossos dras-,
ele imediatamente se vêperante um paradoxo apreciável: esse lugar e
período
deprofundahostilidade
à física e à matemáticafoi
tambémum
dos mais criativos de toda a história dessæ atividades. Confrontados comtal
paradoxo,muitos
de nós seríamos tentados a esfregar satisfeita-mente as mãos e a considerá-lo como uma bem-vinda refutação a qualquer tentativa de negar a autonomia dessæ ciênciæ e a adequação de sua história intelectualista-intema'lista.
No
entanto,tal
inferência seria demæiado apressada. Pressupondo a hostilidadedo ambiente
intelectual,
a questãoimportante
conceme à nafitreza da reação docien-tista
nessæ circunstâncias. Em ocasião anterior eu mesmo assumi que, face a correntesanticientíficæ,
a rcaçãLo predominante nessæ ciênciæ altamente profìssionalizadæ seria o entrincheiramento, a busca da proteção da ciência e da comunidade de seus pratican-tes, a reafirmação da ideologia tradicional da disciplina-
isto é, suas noções a respeito do valor, função, motivações, objetivos efuturo
da atividadecientífica.3
,Se esse fosse defato
o caso, então qualquer tentativa deatribuir
a esse mesmo ambiente intelectual umainfluência forte e
direta sobreo
discursocientífìco
e sobre æ disposições dessæ mesmas pessoas pareceria, afortiori,
pouco plausível.Contudo, o
historiador
que prestar mesmo a mais casual dæ atenções às avaliações que se fazem da física na sociedade norte-americana contemporâne4por um
lado,
eàs tendências ideológicæ atuais nessa ciência,
por outro, dificilmente
poderia sustentar que a reação predominante a um ambiente intelectual hostil é o entrincheiramento.Ao
contrário, à medida que ressentimentos e antagonismos com respeito à atividadecientí-fica
-
associados aoresurgimento
de uma Lebensphilosophie exrstencialista-
foram setornando
proeminentesnos últimos
anos, esses mesmos sentimentos encont¡aram expresão e concessões cada vez maioresno
ârnbito dæprôpriæ
ciênciæ. Na verdade,3
P.
Forman, The Envi¡onment and Practice of Atomic Physics ín tt)eimar Germany (dissertação de Ph.D., Berkeley, 1967; Ann A¡bor: University Microfilms, 1968), pp.ll-24'
8
Paul Formantestemunhamos hoje nos Estados Unidos uma ampla e profunda acomodação da ideo-logia
cientíhca
aum
meio intelectualhostil.
Como pôs recentemente o eminente físi-co-químicoFranklin
A.
Long,
ao mesmo tempo explicando e advogando essa tendên-cia:"O
corpo docente, e especialmente os estudantes, é sensível aos problemæ sociais, ansioso em atacá-los e, freqüentemente, está preparado para alterar seu modo de vida anterior para consegui-lo. As pressões da orientação disciplinar e a tradição do saber individual são fortes entre os membros do corpo docente, mæ não o bastante para con-trabalançar as pressões da preocupaçãosocial."
E, em toda essa"disponibilidade",
háuma
sinceridade estarrecedora, uma notável ausência de projeção de imagem cfnica ecalculada,
o
que é testemunho de uma participação surpreendente dos próprios físicos nesses sentimentos que são fundamentalmente, e com freqúência manifestamente, anti-científicos.aMas nossa experiência contemporânea não nos leva apenas a antecipar uma acomo-dação ideológica
por parte
dos físicos e matemáticos deWeimar;
ela também sugereum
rnodelo simples para as circunstânciæ sob as quais umatal
acomodação tende aocorer.
Podemos supor que, quando os cientistæ e sua atividade gozam de alto prestí-giono
ambiente socialimediato (ou,
então, naquele que é mais importantepor
algumoutro título),
tem
também relativa liberdade para ignorar as doutrinæ, simpatiæ e an' tipatias específicæ domeio
cultural correspondente. Quando,a aprovação está æsegu' rada, eles ficam livres de pressões extemas, e livres para acompanhar as presões inter-nas da disciplina-
o
que significa usualmente liberdade para agarrar-se à ideologia tra-dicional e a predisposíçõesconceiluais. No entanto,
quando os cientistas e seutraba-lho
experimentam uma perda deprestígio,
vêem-se impelidos atomar
medidas para compensar essedeclínio.
Aproveitandose
da noção deKarl
Hufbauer, de fatorização do prestígio em termos de imagem e valores, percebe-se que tais contramedidas toma-rão, em geral, a forma de tentativæ de modifltcar a imagem pública da ciência, de modo a trEzê-la outra vez à consonânciacom
os valores alterados dopúbtco.
Mæ, quando não se resumem à mera projeçâo de inlagem, tais alteraçoes da imagem do cientista e desua atividade envolverão também uma mudança nos valores e na ideologia da ciência, podendo até mesmo afetar os fundamentos doutrinários da disciplina
-
como mostrou Theodore Brownno
caso do Collegeof
Physiciansbritânico,
sob cerco nofinal
dosé-culo
XVII.s
a F. A. Long, "Interdisciplinary Problem-Oriented Resea¡ch in the Univenity leditorial]", Science
l7l
(L2 de março delg'tl), p.g6L.
Marvin L. Goldberger, "Physics andEnvironment: How physicists Ca¡r Contribute",Physics Today (dezembro de 1970), pp.26-30, e a réplica de JoúrnBoa¡dman, iófd. (fevereiro de 1971),
p.9.
A
nova disposição da comunidade cientíhca,espe-cialmente quanto ao neo-splengferismo, é discutida por Bentley Glass em sua palestra
presiden-ciat à AAAS [Sociedade Norte-Americana para o Progresso da Ciência],28 de dezembro de 1970, "Science: Endless Horizons o¡ Golden. Agæ-?." Science
l7l
(8 de janeiro de 1971), pp. 23-29.s K.Hufbauer, "social Support for Chemistry in Germany During the Eighteenth Century: How
andr'VhyDidItChange?",HistoricølStudiesinthePhysicalSciences 3(1971),pp.205-231;T, M. Brown, "The College of Physicians and the Acceptance ofIatromechanism in England, 1665-1695", Bulletin of The History of Medicine 44 (197 0), pp. 12-30.
I
I
1'
A
Culturude
lleimar
ea
Teorit
Qtôntica
9 Nas PartesII
eIII
aplico esse modelo aos cientistas exatos de língua alemã que tra-balhavamno
ambiente acadêmico durante operíodo
da República deWeimar.
Man-tendo em mente a escala de valores radicalmente rearranjada em ascensão logo após adenota alemã, exploro, naParte
II,
as reações desses cientistas aonível ideológico.Pro-curei tais
reações preferencialmenteem
aulas inaugurais, comunicados, conferênciæ etc. føddresses] proferidospor
cientistæ perante audiênciæ com educação acadêmica, e especialmente perante opúblico
formadopor
su¿rsprópriæ univenidades.
O histo-riador conta com a vantagem de que as instituiç-oes da vida acadêmica alemã proporcio-navÍun freqüentes oportunidades para discursos dessetipo,
e ainda mais pela circuns-tância de ser costumei¡a a publicação de taisReden.
Reciprocamente, a existência des-sas instituições eratanto um
índice quantoum
instrumento da pressão social extraor-dinariamente pesada queo
ambiente acadêmico alemão podia exercer, e de fato exer-cia, sobreo
cientistaou
acadêmicoindividual
nelæsituado.
Como ilustro naParteII,
entre os físicos e matemáticos alemães havia, rla verdade, uma
forte
tendência arefor-mular
suaprópria
ideologia demodo
a setomar
congruente aos valorese
atmosfera desse ambiente-
o
repúdio a concepções positivistæ com respeito à natureza da ciên-cia, a justificaçõesutilitárias
para seus objetivos e, em alguns casos, à própriapossibili-dade e valor da atividade científtca.
A
tendência para a acomodação, que predominou na reação que essa comunidadecientífica
altamente profissionalizada ofereceuao
ambienteintelectual hostil,
confi-nou-se ao nível ideológico ou éstendeu-se além deste e penetrou no conteúdodoutriná-rio
substa¡tivo da própria ciência? Especificamente, existiriam indicações de que os fí-sicos e matemáticos alemães ansiavam, e deliberadamente tentaram, alterar o caráter de suæ disciplinæ enquanto empreendimentos cognitivos e buscaram mudar conceitoses-pecíficos nelas empregados, de
modo
a trazê-læ a uma conformidade mais estreita aos valores do meiointelectual
delVeimar?
Suspeito fortemente que o movimentointui-cionista na matemática, que ganhou tantos adeptos e causou tanto
furor
na Alemanhadesse período, representava originalmente uma expressão desses precisos objetivos e
in-clinações.
Estou convencido, e na ParteIII
procuro
demonstrá-lo, queo
movimento para eliminar a causalidade na física, surgido tão bruscamente e que floresceu luxurian-temente na Alemanha após 1918,exprimia
fundamentalmenteum
esforço dos físicos alemães em adaptar o conteúdo de sua ciência aos valores de serr amhiente intelectual.Portanto,
a exptcação para a criatividade desse lugar e períorlo deve ser buscada, ao menos em parte, na própria hostilidade do meio intelectual de Wei¡nar. A prontidão, a ansiedade dos físicos alemães em reconstruir os fundamentos de sua ciência, deve æsim ser interpretada como reação a seu prestígionegativo.
Além disso, a natureza dessa re-construção era virtualmente ditadapelo
ambiente intelectual geral: caso o físico dese-jasse melhorar sua imagempública,
devia antes detudo
dispensar a causalidade, ode-terminismo rigoroso,
esse aspecto universalmente detestadoda
descriçãofísica
do mundo.E
isso, é claro, era precisamente o necessário para a solução dos problemas da física atômica que, naépoca, çonstituíam ofoco
de interesse do físico.Agradecimenlos:
A
StephenG.
Brush, Stanley Goldberg,Joh¡ L.
Heilbrol,
Karl Huf-bauer, Hans Kangro,Fritz K.
Ringer, DonaldE.
Strebel e aoeditor
desta revista[I/ls-l0
Paul Formøntorical
Studiesin
the Physical Sciencesl, Russel McCormmach,por
sualeitura crítica
e
atentado
original
e por
su¿ts numerosÍts questões, sugestões, objeções e correções' Também agradeço sinceramente aAnn
Schertz e aos demais funcionários dolÞparta-mento lnterbibliotecário
de Empréstimosda Biblioteca
Rush Rhees, sem cuja ajuda constante não teria sido possível conduzir esta investigação em Rochester, Nova York.I.
A
CTJLTURA DE WEIMAR COMO TIMAMBIENTE INTELECTUAL HOSTIL
1.1. Visto pelos Físicos e MatemdticosDurante o verão de 1918, os flsicos alemães, como o resto do
público
de seu país, con-tinuavam a anteciparcom
confiança e satisfação uma conclusão vitoriosa da guerra na qual estavam envolvidos há quatroa¡os.
Talvez mais do que qualqueroutro
segmentodo
mundo
acadêmico alemão, eles também sentiam auto-confiança e auto-satrsfação por suas contribuições aos sucessos militares da Alemanha e por sua expectativa, para o após-guerra, de um ambientepolítico
e intelectual altamente favorável à prosperidade eprogresso de suas
disciplinas.
O botânico que olhæse para seuinstituto
desolado e va-z,io era forçado a concluir que "provavelmente permaneceria dessejeito
depois daguer-ra, pois
ajuventude
sevoltará
para a tecnologia e deixará uma disciplinatão
'inútil'
quanto
a
botânica abandonada àmatgem."ó
O
químico,o
físico,
o matemático, po-rém, enfatizando a grande importânciaprática
de suæ disciplinæ durante a guerra e aconveniência e inevitabilidade de uma colaboração ainda mais estreita com a tecnologia
no
futuro,
aguardavam confìantespor institutos
ainda maiores, mais bem equipados eem maior número, e
por
estimapûblica e
prestígio acadêmico substancialmenteau-mentados.
"Quanto
maisperto
parecemos chegar da conclusão vito¡iosa da guerta", observouFelix Klein
emjunho
de
1918 perante uma audiência que incluía lícleres daindúst¡ia
alemã e do govemo prussiano, "mais nossos pensamentos são dominados pela questão do que deverávir
depois que a pazfor
conquistada com sucesso". Osdesidera-tos
deKlein
variavam desdeum
instituto
de matemática para ele e sua universidade, pæsandopor
uma reorientação geral da pesquisa acadêmica næ ciênciæ exatæ demo
do
a alcançar uma "harmonia preestabelecida" com as exigênciæ da indústria e dos mi-lítares, até uma reorientação correspondente da educação alemã em todos os níveis.7 E6 Karl v. Gocbel a Th. Herzog, lrlunique, 19 de julho de 1917, em Goebel, Ein deutsches Forsdter-Ieben
in
Biefen
aus sechs Jahrzehnten, 1870-1932, ed- por Ernst Bergdolt, 2a. ed. (Berlim, 1940),p. t70.? F. Klein, "Festrede zwn 20. Stiftungstage [ZZ Oe 1'untro de 1918] der Göttinger Vereinigung zur Förderung der Angewandþn Physik und Mathematik", Jahresbericht det Deutschen Mathemati-ker-Vercinigtns27(1918),Pa¡æI,pp.217-228;næpp.217,219.
Duranteaguerra,oscientis-tas e matemáticos aumentâtam substancialmente suæ exigências quarito aos cur¡ículos daescola secundária, como os filólogos observaram algo amargamente: Robert Neumann, "Politik und Schulreform", Monatschrtft
fi)r
hahere Schulenf8
(1919), pp. 93-106, "Vortrag, gehalten im Berliner Philologen-Verein Februar 1918"; Friedrich Poskc e R.von Hanstein, Der naturwissen-schøftliche Untenicht an den höheren Schulen, Schriften des Deutschen Ausschusses für denA
Cultum de
ll)eimar ea
TeorinQuôntica 1l
ao
menos aprimeira
desas reivindicações parecia assegurada quandoo ministro
da Educação,Friedrich
Schmidt, anunciou uma dotação de300000
marcos. Quem,par'
ticþando
dessæ festividades,poderia
ter
previsto que
o instituto
de matemática deGöitingen
ainda teria que esperar dez anos Pafa ser construído' e mesmo assim com di-nheiro norte-americano?I
Quando aquéIe
"fim
vitorioso",
que parecia iminenteno
verãode
1928, transfor-mou-se subitamente numa derrota completa no outono seguinte, os cientistæ exatos seviram peranie uma alteração dramática na escala pública de valores e,
portanto,
diante de uma avaliação drasticamente diferente do seu campo detrabalho.
Essa, certamente,foi
a percepção que tiveram da situação. Cæo não contássemos comtos
que o confirmassem, mesmo æsim poderfamosinferi-lo
do tom nos discursos de cientistas exatos perante seu público, na ocasião deCæ. Enquanto, no
fim
da guerra, tais discunos transmitiam autaconfiança e Segutança na estima e boa-vontade da audiência, isso praticamente deixou de ocorrer no período deWeimar. E,
apesarda
dihculdadeem reproduzir
essetom, é
ao menos possível apontar passagens que aludem, de modo mais ou menosexplícito,
a censuras dirigidas às ciências exatas, [censuras essas] queo
orador claramente supõe estar presentes na mente de sua audiência. Assim, em novembro de 1925, Wilhelm Wien descreve as gran-des descobertascientíficæ
doinício
doperíodo
modemo, especialmente a derivação newtoniana dos movimentos dos planetæ apartir
dæ leis da meCânica, como "a primei-ra demonstração convincente da causalidade [n.b.]
dos processos naturais, que revelo pela primeira vezro
homem a possibilidade de compreender a Naturezapor meio
dforça lógica de seu
intelecto".
Mas, imediatamente a seguir, Wien concede que tal pro-grama,tão portentoso para
o
cientistanatural,
tem suas limitações-
e passa acitar
Schiller:
"Insensível mesmo àhonra
de seucriador/
Como a batidamorta
do relógio depêntlulo/
Privada de Deus, a Natureza segue fraudulentamente alei
da gravidade."e Claramente, a citação é feita em resposta à exigência popular, como o ætrofísico Hans Rosenbergtorna
ainda mais evidente em seu comunicado acadêmico de 18 dejaneiro
de
1930:
,' 'Com
certeza, seu terreno é o mais sublime do espaço/ Mas, meu amigo, o sublime não reside no espaço', ouço Schiller-Goethe nos dizer." 106ùahrcsbeicht der D.M.-V.27 (19f 8), Pafie
2,p.47.
Em 1926, alntemationalEducation Board da Fundação Rockefeller destinou 2?5 000 dóla¡es a um instituto de matemática. (Geo. W. G¡ay, Education on an Intenational Scale, AHßtory
ucation Boørd, 1923-1938 [Nova York, 1941],p.30;
OttoNeugebauer,
des Mathematischen In-stitutes derUniversitàtGöttingen",llfinerva-Ze
07-111.)9 W.
Men,
Univenalttdt und Einzelfonchung. Rektorats-Antrittsrede, gehalten am 28. November 192å Münchener Universitàtsreden, Heft 5 (Munique, 1926), 19 pp., nap. 14.r0 H. Rosenbe rg, Die Entwicklung des rdumlichen Weltbildes der Astronomie, Rede
iu¡
Reichs-gründungsÍeíer (...) am 18. fonuar 1930(lliel,
Ig3O), 27 PP., na P. 26. Os mesmú versos sãocitados
-
com ainda mais profunda 'leverência ante o segredo que o outro lado esconde denós"
-
por Hans Kienle,"Vom V/esen ast¡onomischer Fo¡schung. Rede, gehalten bei der Ve¡fæ-sungsfeier der Ilnivenität Guttingen am 29.Júi
L932", Bremer Be¡ffage zur Natwwissenschaft12
Puul FormanMas é
claro
que os sentimentos ouvidospor \ilien,
Rosenberg e/ ø/. partem de suaaudiência;
e eles procuram escapar a parte da censura mostrando que também eleses-tão familiarizados com as expressões literárias clássicæ do idealismo alemão. No
entan-to,
quandoo físico
ou matemático figurava na audiéncia, era obrigado a ouvir críticas mais severas.Em
março de 1927, Friedrich Poskeretomou
dos funerais do poeta Carl Haupûnanncom
os ouvidos cheios dæ acusações contra as ciênciæ naturais exatæ que encontrou 1á, 11 acusações aþarentementemuito
semelhantes às que o pobre Max Born era obrigado aouvir
diariamente de sua mulher, uma poeta e dramâturga frustrada. He-dwigBom extrala
un
prazer mæoquista da "sensação deter
sido lançada sobre uma superfícielunar
gelada", que a companhia dos cientistæ naturais"objetivos"
lhe des-pertava. 12E
ela não hesitava emtomar
claro para os colegas de seu marido que"pata
mim
é sempre como uma revelação quando, por triis dofísico,
descubro subitamente oserhumano; querodizer,há,também,
físicosinumanos". 13 Com certezanãohárazões parajulgar
que a explicação de Einstein-
"o
que você chama de'o
materialismo deMax'é
simplesmente a maneira causal[n.b.]
de considerar as coisas"14-serviapara
aliviar a inquietação da Sra. Born.Por
mais doloroso que a necessidade de conviver com essas atitudes podeter
sido parao físico teórico,
a acusação de Entseelung, de destruição da alma do mundo, não era apior
com
que sedef¡ontava.
Como Max von Laue percebeu no verão de 1922, aescola de
Rudolf
Steiner "levanta acusações seriíssimæcontra
as ciênciæ naturais dehoje.
Estas são representadæcomo
æ culpadæ pela crise mundial In,b.]
que estamos atravessando,e
toda a
miséria intelectual e material ligada a essa criseé atribrfda
àsciências naturais".
rs
O contra-ataque publicado por Lauefoi
lido
"com muito
prazer"11
F.
foske, na Flauptversammlung da Deutscher Verein zur Förderung des mathematischen und natwwissenschaflichen Unterrichtes,3l de março de 1921. (tlnterichtsbl¿tter fitrMothematrk und Naturwissenschaft 27Íl92ll,p'
34.).12 H. Bom,..Altprt Einstein gurzpivat",HeIIe Zeit
-
dunkle Zeit. In Memoiøm Albert Einstein' ed. por C. Seelig (Zurique, 1956), pp. 35'39' nap' 36.r 3 H. Bom a H. A. K¡amen, 29 de setembro de 1925 :"Offengestanden hatte ich früher fast etwas Angst vot lhnen! Abe¡ die ist ganz ve¡schwunden,, seit ich hier die W?irme, de¡1 Emst und dio
ungLkün.t"lt" Kraft Ihres Wesens kennenle¡nen durfte. Es ist mir immer wie eine Offenba-rung,'wenn ich neben dem Physiker plötzlich den Menschen finde; es gibt nämlich auch un-menschliche Physiker!" (Archive for History of Quantum Physics, Sources for History of Quan' tum Physics, Microfilme 8, Seção 2; para descrições e localizações neste arquivo, ver Thomas S' Kuhn ef al., Sources for History of Quantum Physics. An Inrvntory and Report, "ìlemoirs" da American Philosophical Society, Vol. 68 [fitatÉlfra, 19617.1
14 Einstein
aH.
Bom, 1o. de setembro rle 1919, em Albe¡tEinstein, Hedwig eMaxBom,Brief' wechsel, 1916-1955, editado e anotado por M. Born (Munique)'rs
M. v. Laue,'steiner und die NaturwissenschaÍt",neul.sche Revue 47 (1922),pp.41-49;reedi-tado em Lalue, Aulsdae und Vortrdge =Gesammelte Schiften und Vortrdge, BandIII
(Braun-schweig, 1962), pp. 48-56, na p. 48.i
I
A
Cltltura de
lileimar ea
TeoriøQuântica
13por
seu mentor e colega Mo< Planck, que imaginou que o artigo "certamente produzirá bons efeitos em círculos mais amplos". 16Evidentemente, para Planck,
Rudolf
Steiner proporcionava meramente a ocasião e o alvo ostensivo para rebater umconjunto
de atitudes que ele e Laue sentiam ser dissemi-nado entre opribti.o
educado alemão. Algumas semanas mais tarde' o próprio Pla¡rck advertiu contra essæ atitudes, e seupefgo
para a ciência' em um comunicado à Acade-mia Prussiana de Ciênciæ.u
Noinício
do ano seguinte ele reclamou amargamente, nu-ma conferênciapública,
que "precisamente em nossa época, tão orgulhosa de seupro'
grcssismo, ut.tit
diversasformæ
de crença em milagres-
ocultismo, espiritualismo, ieosofia e todas aS suÍts numerosas variedades, nãoimporta
como se charnem-
pene-tram
amplos círculos dopúblico
educado e não-educado, mais enganosamente do que nun.u, uprru, dos teimosoi esforços defensivos que o ladocientffico
drrige contra elæ." Em comparação comese
moyimento, a agitação dabête noíreatúelgr
de Planck, a Li-ga Monista, òonæguiu, como ele agora admite, "apenas um sucessomuito restrito"'
l8 Assim, nãoé
de surpreender que os restos desse movimento positivista'monistajá
quasemorto
concordassem enfaticamente com Planck, em que o ambiente intelectualdi
Weimar era fundarnental e explicitamente antagônico àciência.
Recorrendo àana-logia univenalmente
aceita, entre a Alemanha contemporânea e operíodo
que sese-guiu
à derrota para Napoleão, Wilhelm Ostwald julgava evidente que"Na
Alemanha dehoje sofremos outra vez de
um
misticismo desvairado, que' do mesmo modo comono
pæsado, se volta contra a ciência e a tazão, Como seus inimigos mais perigosos'"le Mes-1ó Planck a Laue,8 dejulho del922:
ngen gelesen. Er
(...)
wird gewiss"Ihren Aufsatz über R. Steiner habe ich mit vielem
Vergnü-in
weiteren K¡eisen gute Wirkung erzielen." (Hantlschriften-sammlung, Biblioteca do Deutsches Museum, Munique.)1? M. Planck, "Ansprache des vorsitzenden Sekættirs, gehalten
in
der öffentlichen Sitzung zur Feier des Iæibnizischen Jahæstages, 29. Jr¡¡i 1922",Preuss.Akad. d. tntiss. Sítzungsber- (L922)' pp.lxxv-lxxvii,
reeditado emMøxPlanckin seínen Akademie-Ansprachen; Erinnerungsschift der Deuischen AkademiederÍllissenschaftenzuBerlin @erlim, 1948),pp.41-48. Umacarac-terizaç{'oseme
feita no outono de 19Ùber
àilsemein
eåens [Rektoratsantrittsit'¿ltsreden
XI
'4:
'Em anos Écentesvido cada vez mais uma hostilidade consciente ao modo natural-científico de pensamento.
(...)
O fato é que, com muita força e barulho, a nova maneira de pensar conquistou sucesso em tGdos os ter¡enos
-
naWissenschaft e na arte, na literatura e na política, no que se escreve eno que se diz."tE M. Planck, Kausalgesetz und Willensfreiheit. Òffenttichet l'ortTag gehalten in det Preuss. Akad.
d.
Wiss. am 17. Februar 1923 (Be:Jtm, 1923),52 pp; reeditado em Plancþ Vortage und Ein-nerungen (Stuttgart, 1949), pp. 139-168; nas pp. 162-163. E de novo, oito anos mais tafde:"É
de estarrecer o modo como tantas pessoas, particularmente nos círculos educados,('.')
caem sob a influÇncia dessas novas æligiões, entrando em irideséncia com todos os matizes, desde o misticismo mais confuso aÉ a superstição mais ctassa"" ("\ilissenschaft und Glaube.weihnachtsartikel vom Jah¡e 1930", ibid.,pp. ?A6-?A9; também citado extensamente em Hans
Hartmann, Max Planck als Mensch und Denlær [1953; ¡eeditado emFranldturt, 196a], pp. 52-55, nas pp. 52-53.)
re
ril.
Ostwald, Lebenslinien. Eine Selbstbiographie (Betßm, 1926-L927) 3, p'442.
E, de novo, ibid.,2,p. 309: ' Hoþ se considera modemo falar todo o mal concebível do intelecto."74
Pøul Formsnmo
quando havia grande interessepúblico
em resultados particulares da pesquisa ffsi-ca, como na teoria da relatividade,tal
interesse,no
que é de meu conhecimento, nun-cafoi
interpretado pelos físicos como evidência de aprovação e apreciação de suaati-vidade. Ao
contrário, pareceu a Einstein "especialmenteirônico
quemuita
genteacre-dita
serposível
encontrar nateoria
da relatividade apoio paraaiendência
anti-racio-nalista de nossos dias".2oDesse modo,
A¡nold
Sommerfeld claramente falava em nome da maioria de seusco-legas quando, ao responder à solicitação da mais prestigiosa revista mensal da Alema-nha
do
sul
para que escrevesse umacontribuição
a um número especial sobre a ætro-logia, perguntou:r
I I l ì l IA
Cttltum de
lleimtr
ea
TeoriaQwântica
15 tâliuel-.22 Essa sensação de se estar encarandoum
ambiente antagônico dentroe
fo
ra
da universidade era compartilhada tão geralmenteente
os matemáticos que Gerhard Hessenberg pôde apelar para ela ao tentar persuadiro físico teórico
Amold
Sommer'feld
a
adotar umalinha
de ação que antagonizariaum ffsico
experimental(Friedrich
Paschen)a
quem Sommerfeld recorria paraobter
boaparte
de seumaterial bruto:
"Mas nós,
matemáticos, pobres bodesexpiatórios,
nOs acostumamosa ouvir
tan'to
mal dito
contra nós nestes dias-
por
trás
de nossas costæ e jogado contranos
sos rostos-,
que
diferençafaria
um pouquinho
a maisou
a menos1...)".23
Comefeito,
essas"correntes
antimatemáticas", eSSe "aSSaltO COntra a matemátiCa" que Sedesencadeou após a guelra, parecia tão
forte
e ameaçador que, em 1920, os matemá'ticos
alemães se reuniramnuma
organização de defesa, a Mathematischer Reichsver-band,cuja atribuição
especial eraproteger
a posição dos matemáticos nas escolas.24Desse modo, é
claro,
o resultado dessa primeira abordagem do problema deestabe-lecer
o clima
do ambiente intelectualem cujo âmbito
os cientistæ físicos de Weimar trabalhavamtão
produtivamente: os
cientistas físicos percebiamo
ambiente como marcadamentehostil. É
necesário
proseguir
com
nossa investigação?Afinai,
pode--se argumentar que seriainútil
indagar se tais percepções correspondiam à "realidade"e,
além disso, que a resposta não te¡ia conseqüências quanto ao comportamento doscientistas
físicos. Não
obsta¡rte, a precisãoou
imprecisão dessas percepçõesé
cefia-mente
um
dadoimportante
acefca dessas pessoæ,um
dado essencial para qualquertentativa
deinferir
suas percepções e os efeitos deum
dado ambiente intelectualso-bre
suaciência.
Além
disso,para
as fìnalidades deste artigo,é importante
explorar mais extensamente as atitudes com respeito à ciência física na Alemanha de Weimar; se de;rcmos determinarem
que medidae
em
que sentido a ideologia e as idéias dos cientistasfísicos podem
ser consideradæcomo
reaçõesa
seu ambiente intelectual, precisamos de uma especificação mais detalhada dessæ atitudes.22 Tlr.Vahlen, llertundWesenderMathematik.Festrede
(...)
am 15.V. 1923,GreifswalderUni-versitàtsreden9(Greifswald,L923),32PP.,naP. 1. EaomenosnissoKonradKnoppconcor-dava com Vahlen: "Nós, matemáticos,(...)
nalo fomos capazes de conquistar, ou menos sim-plesmenb mant€r, a posição na vida pública que a matemática merece." ("Mathematk und Kultnr, Ein Vortuag", Prcussische .Iahrbücher2ll
lL928l, pp. 283 -300, na p. 283.)23 G. Hessenberg a A. Sommerfeld, 16 de junho de 1922: "Wir
{rmen
Sündenböcke von Ma-thematikem aber habenin
diesen Tagen so viel Schlechtes, hintenherum, wie auchvorncher-um,über
unszu
hö¡en bekommen, dæs es uns auf ein bischen mehr oder weniger nicht ankommt: der Geæchæ hat nun einmal viel zu leiden." (Sourcesfor
Historyof
Quantum Physics, Microfilme 33, Seçâo 1.)24 Georg Hamel, presidente, durante
a
primeira assembléia geral da Mathematischer Reichs-verband, Ienu 23 de setembro de l92l,Jahrcsbeicht der Deutschen Mathematiker-Vereinígung3l
(L922), Pa¡te 2, p. 118.E
na segunda assembléia geral, eml*ipzig
a 22 de setembro de 1922, .o Arbeitsausschuss de novo sublinhou em seu relatório que, "Quanto ao seu lugar ep¡estígio fGeltung) nas escolæ, a matemática se encontra em posiçâo defensiva. Dirigidæ con-tra o ihtelectualismo e o racionalismo, as conentes intelectuais contemporâneas sÍio decididamen-te desfavoráveis àmatemática." (Ibid. 12 [t923], larte 2,pp. lL-L2.)
16
Paul Form¿nL2.
Confirmødopor
Outros ObsemadoresFaltandome tanto
a inclinação quantoa
competência para empreender independen-tementeuma
extensa exploraçãoe
reconstrução do ambienteintelectual
de Weimar, voltei-me paraoutros
observadores-
primeiro
historiadores davida intelectual,
de-pois
comentadores contemporâneos-,
em
busca de sua-s conclusõese
de sua orien-tação.sobre
nossoperíodo
e
tema existem estudos de Georg Lukács,2sKurt
sonthei-mer,2óPeter Gayzt
"
-
o
mais recente, detaihadoe
relevante-
deFritz
Ringer.28Apesar de esses historiadores da vida intelectual não estarem preocupados especifica-mente
com
as atitudes em relação àsciênciæexatas,as cancte.'jzaçõrus que traçam domeio intelectual têm
implicações diretas sobre a questão. Em especial, o exame queRínger
laz da
ideologia
académica exibemuitas
das atitudes perantea
ciência que impregtavam o mundo acadêmico de Weimar, e nos leva a muitas fontes importantes.E, não
obstantea
divenidadedæ
perspectivæ pessoais e profìssionais, métodos depesquisa
e
motivaçõesético-políticas
desseshistoriadores,
o
quadro geraldo
meio intelectual de weimar que eles traçam é bæicamente o mesmo: rejeição da razão comoinstrumento
epistemológico,por
ser inseparável dopositivismo-mecanicisrno-materia-lismo
e, sendo fundamentalmente desintegradora,por
ser incapaz de satisfazer à"fome
de
completude";2e glorificação
da"vida",
daintuição,
da experiência não-mediati-zadae
nãcanalisada, com a apreensão imediata de valores, e não a dissecção de nexos causais,como
oobjeto
adequado da atividade acadêmica ecientífica.
Essa"hlosofia
davida",
da
qual o existencialismofoi
apenas uma variedade, é interpretadapor
Lu-kácscomo
"a
ideologia dominante detodo
o período imperalista alemão.(...)
Nope-ríodo do
pós-guena virtualmentetoda a
]lteltanschauungsliteratur burguesa, ampla-mentelida,
era le bensphilosophisch." ÐContando com esses estudos de historiado¡es da vida intelectual para nos dar alguma segura4ça de que não estamos caminhando seriamente
na
direção enada,examinemos urn pouco mais deperto
alguns dos slogøns pragmáticos dessa filosofìa da vida, confor-me resumidospor
observadores contemporâneos da vida intelectual de lvVeimar. Pensoque
tais
cuacteizaç&s
do ambiente intelectual não apenæ sugerirão irresistivelmente uma certa valoração do cientista físico, como também nos forçarão a reconhecer o pa-pel crucial do conceito de causalidade.2s G. Lukács, Die Zentörung der Vemunft. Der Weg des lrrationalismus von Schelling zu Hitler (Be¡lim, 1954).
26
K.
Sontheimer, Antidemokratisches Denlçcnin
der
hreimarer Republik (Munique, 1962). 27 P-Gay,lileimorCulturc:TheOutsideraslnsider (NovaYorþ 1968). Umaversãoapenasligei-ramente resumida, mas em que falta a extensa bibliografia, apa¡€ceu sob o mesmo título emDonald Fleming e Bemard Bailyn (eds.), The Intellecnal Migration (Cambridge, Mass.. 1969), pp. 11-93.
28 F.K. Èinger, 77re Decline of the GermanMandarins.
The Gennan Acodemic Communíty, 1890--1933 (Cambidge, Mass.: Ha¡vard University Press, 1969).
2e A frase é de Gay, ob.
cit
(nota 27). 30 Lukács, ob. cit. (nota 25), p. 318.I
l
I
I
I
i
I
A
Cltltura de
Weimar ea
TeoriaQuôntica
l7
Dentro
deum
ano apætir
dofim
da guerra, essas corentes intelectuais, quepassa-ram a monopolizar o movimento em
favor
da reforma educacional, floresciampor
to'
daparte.
Discutindo a "exigência sócio-pedagógia do presente" eml92fl,.Alfred
Vier-kandt pôde
ver claramenteque
"De modo
geralI
exPerimentamos,hoje,
umarejei-ção completa do positivismo; há uma
nova necessidade de unidade,uma
tendência sintéticaem todo o
mundo
do
conhecimento[I/issenschaftl-um modo
de pensallÛindenkenl
que enfatiza primariamenteo
orgânico em vez do mecânico,o vivo
em vez domorto,
os conceitos de valor,propósito
e finalidade emvez dacausalidade".3lUma
análisemais
agudae
penetrantedese
apelo
Por uma
"revolução
na
ciência fWissenschøft'1"no
inlcio
doperíodo
de Weimar é a de Emst Troeltsch, publicada em 1921.32Aqui
a causalidade aparece repetidamentecomo
o
termopejorativo
queepi-tomiza
a tendência de Íilissenschaft que é rejeitadapelo
novomovimento:
"Osméto-dos
dessas disciplinæcientíficæ
especializadas são aqueles da explicação causal, da causalidadenatural,
da causalidade psicofísica, psicológicae
sociológica.É
aculmi
nância da intelectualização de nossa atitude perante o mundo,
o
desencantamento do mundo,e a trilha
em
direção a uma aproximaçãoilimitada
aum
sistema totalmentecausal fGesamtkousalsy stem] dæ coisas".33
Em
comum commuitos
outros obærvadores, Troeltschcita
Henri Bergson como afonte
talvez mais importante-
e a única não-germânica-
do movimento contra"todq
determinismo
sufocante". "Um
suspiro geral de alívio acompanha quase audivelmente o estabelecimento cada vez maisforte
dessesistema."il
Se agora juntâmos tudo isso, a liberdade com respeito ao causalismo positivista e
ao dete¡minismo, a superação do formalismo neo-ka¡rtiano, ('. . ) a orientação no
sen-tido da experiência imediata de tenéncias culturais não'analisáveis mæ compreensí-veis, (. . .) um novo platonismo fenomenológico que, através de visões, apreende e
jus-tifica normæ e essênciæ, entâo se reúnem næ mãos todos os elementos da revolução wissenschaftlichen.
(...)
É um neo-¡omantismo, como anteriorment€ na Sturm und Drøg.ts3t
A.Vierkandt, Die sozialpaedøgogische Forderung der Gegenwart (Berlim, 1920), p. 20, citado por F,K.Ringer, "The German Univenities and the Crisis of læarning f 918-1932"(disserta-çã'o de Ph.D., Universidade de Harva¡d, 1960), p. 145.
32 E. Troe,ltsch, "Die Revolution in derWissenchaft",Schmoller! Jaltrbuch (Iahrbuch
fir
Gesen-sebuni,
Verwaltung...),
+S (192L), pp. 1001-1030. Reeditado em Troeltsch, GesammelteSchriften,Yol. 4: Aufsatze zur Geistesgeschichte und Religionssoziologie, ed. por Hans Ba¡on (Täbingen, 1 925 ; reeditado em 1 96 1), pp. 6 53 - 67 7.
33
lbid.,
p,
1020. Cf. Max Weber, "science as a Vocation [1919]", From Max llteber: Essøysin Sociologlt, traduzido e editado po¡ H.H.Ge¡th e C.Wdght Mills (1946;,reeclitado em Nova Yo¡k, 1958), p. L42:'E
hoje? Para a juventude, 'a ciência como o caminho para a Natu¡eza' soa¡ia como blasËmia. Hoje emdi4
a juventude proclama o oposto: rcdenção do intelectua' lismo da ciência, de modo a rctornar à própria natvÍeza e, com isso, àNaturezaem geral." 34 lbid., p.10053s lbid., p. 1007. Ou ainda,
"A
peculiaridade do pensamento alemão, na forma que hoje tanto seenfaliza, der¡tro
e
fora da Alemanha, deriva primariamerúe do Movimento Romântico(...)
18
Paul FormanEssas correntes intelectuais, cujas origens se situam
no período
do pré-guerra, mas que se derramaram imediatamente após a denota alemã, continuaram a dominar o meio intelectual em meados da décadade
1920, como nos primeirosa¡os
da República deWeimar.
Em
1927,num levantamento sobre a fìlosofia contemporânea e sua influênciamão, toma tudo comparável, a
tudo disolve
em elementos-
por outro
lado, (. . .)
ora-cionalismo e formalismo de uma sistematização lógica que deduz tudo, classifica tudo, submete
tudo
a conceitos."36Litt
prosseguia chamando a atenção para o paralelo-
freqüentemente notado-
en-sendo
hostil
à ciênciae à
razã.o. Reconhecendo queé
.,fora de moda', levar em con_ sideração os resultados da ciência natural, e que ele seria identificado porexibir
suaori-gem
de
cientista, mesmo æsim Driesch aceitaa
caractenzaçã.o deieu
método
pelo r:,pítetodifamatório
de "racional",
e sustenta que..o
despreio modemo pela
ciêìcia
pa ocidental
(.'.)"
(Troeltsch, "The Ideaof
Natural Law and Humanityin
World politics [1922]", emotto
Gierke, Natuml Law and the Theoryof
society,ls50l¿;ll,trad.
de E.Bar-ker [cambridge, 7934; reeditado em Boston, rgsz], p-p.
iot-zzí,'nup.2i0.;
rroettsch enfati-za (ab. cit.[nota:Z],
pp. 1003-1004, 1028-1029) que essa "Revolutionin
der Wissenschaft,, se limitava às Gcisteswíssenschaften, que as inovações ¡evolucioná¡ias na ciêncja natural não tinham qualquer sigrificação weltanschaulich; e ele insiste em que a estælta ligação entre æ ciências naturais e a tecnologia impediria que aquelæ ¡elaxassem o rigor de seus métodos, ou que esco[egassem para a 'Naturphilosophie" e para o diletantismo. No entanto, poder-se-iapergunta-r a Troeltsch: e se, sob a influência
dessæ mesmas cor¡entes intelecfuais, os cientistas exatos viessem a repudiar sua conexão com a tecnologia
-
como, de fato, ftzetaml. podería-mos, entâo, esperar algum paralelo com a flsica romântica do irucio clo séculoxX?
36 Th.
Litt,
Die Philosophie der Gegenwart undihr
Einlluss auf das Bildungsideø\, 2a. ed. (læipzig,1927), pp.32-33.
cf.
Friedrich Meinecke,"über
spengler's Geschichtsbefiachtnng',, wíssenund Leben 16 (1923), pp. 549-561, conforme reeditado em Meinecke, tuerke yor.4 (stuttgart, 1959)' pp. 181-195, caractedzando a atmosfera dos tempos que corriam: "Fica-se também can-sado de se ter apenas inte¡conexões de causa e efeito lflnache und
llirkungl,
demonst¡adæ e redemonstradæ em consonância com métodos ¡acionaii de cogniçäo,"
,-r"ãb
de executa¡ taisdemonstrações; fitca-se com a opinião de que há muito mais na vida e na humanidade do que um aparato de causalidade lrKausatitatenl mecânica. Ficou-se cansado de conhecer, e sedento de viver
(...)."
3? Litt, loc. cit.
I T
i
r
I
t
A
Citltum de h)eimø
ea
TeoriaQuântica
19[natural]
se deve aofato
de seus campeões tomarem o conceitonum
sentido excessi-vamente estreito, ou seja, como denotando uma perspectiva mecaniCista do mundo"'3EO historiador da ciência pode sentir-se compelido a objetar que se trata de um sério equívoco considerar a ciência a
partir
delg00como
"mecanicista";
mais, que igualar o mecanicismo,o
maûerialismo e mesmo o racionalismo ao positivismo representa uma completafalta
de compreensão desteúltimo.
Na verdade,é
difícil
entendercomo
os observadOres de então deixaram, em geral, de reConhecer em Mach, Ostwald e seus se' guidoresum
movimento quæe romântico, em diversos respeito paralelosàLebensphi
losophie.e
No
entanto, todas esas objeções são, naturalmente,supérfluæ.
A
questão relevante diz respeito apenas à imagem que opúblico
educado alimentava sobre o cien' tistafísico
e sua visão demundo. A
imagem do mecanicista racionalista-causalistale'
vava, inevitavelmente, a uma valoração negativa.L3. Atiados Intelectuais: O Círculo de Viena e a Bauhaus
Mas é possível que essa descrição do meio intelectual em que vivia o cientista físico seja
precisa? Quandô dizemos
"cultufa
de Weimar", não nos lembramos também doClr'
c¡lo
de Viena e do positivismológico,
da Bauhaus e do funcionalismo, como suas ex-pressõestípicas?
E
tais movimentos não eram inerentemente simpáticos à análise ra-cional e às conquistas modemæ da ciência física e da tecnologia?Com
certezao
Círculo
de Viena, com seuobjetivo
de uma wissenschaftlicheltlel'
tauffassung bæeada
no
empirismo e na aná'lise lógico-atomística dæ estruturas concei-tuais,tinha
umaatitude
bætante'þositiva"
perante æ ciênciæ físicas e a matemática. Mas, quão característico eta seu estilo defìlosofìa?
Somos às vezes levados a crer que oposiïvismo lógico,
que defato
só surgiu comoprogama
coerente ern 792913O,en a õorrentefilosófìca
dominante na Alemanha durante toda a década de 1920. Assim éque
H.
Stuart Hugþesatribui
vigorpleno
ao movimentojá
no início
da década econ-"
fãreao
Tractatus Logico-Philosophias
deLudwig
Wittgenstein-
cuja edição alemãQgzl)
permaneciavirtualmente
desconhecida,no
númerofinal
dos extintos Annalen derNaurphilosophie
de Ostwald-
o papel de"o
trabalho filosÓfìco mais importantedo
pós-guena(...).
os
neo-positivistas(...)
foram
capazes dereabilitar
o
métodocientífico
naltlosofia
(...)
e,por
mais duæ décadæ, a Europa viveu sem umafilosofia
capaz de falar ao cidadão comum
(.'.)-'*
38 H. Driesch, Der Mensch und die \ate\(Leipzrg,1928), trad. para o inglês por W. J. Johnson sob o tíþtlo Man and the (Jnivene (Londres, 1929), pp. 5 -
I'
Cf. KarI Jaspers, Die geistige Sination der Gegenwøt (Berlim-læipzig, 1932\, trad. para o inglês por E. e C. Paul comoM¿nin
the Modem.Áge (Nova York, 1933), p. 159: "Hoje, no estrangeilot a anti-ciência se esgueira porto
dos os meios e seitas, manifesta¡rdo suainfluênciaentre pessoas das mais diversificadæ pe$pec-tivas e pulverizando a própria substância da exis6ncia humana racional'"se stephen G. Brush, "Thermodynamics andHistory",The GraduøteJounalT (1967),pp.477-565' nap.530.
40
H.S
and Society. The Reorientationof
European Socíal Thought,-20
Paul FormanContudo,
basta olhar pÍua os manifestos do Círculo de Viena para perceber queHu-gþes
dá uma
imagem completamente distorcida das
coisas.Na
lUissenschaftliche Ileltauffassung:Der
Í|iener Kreis, a
brochura
com
que,
em
1929,o
Círculo
veiopela primeira vez
a público, "seu
tom"
-
como Ringer
acertadamente assinala-"era
aquele dos intrusos desesperados".4rE,
efetivamente, as linhas de abertura nosdizem: "Muitos afirmam
que atualmente o pensamento metafísico e teologizador está crescendo, e não apenæ no dia-a-dia mas também na ciência e no saberfin
derllissens-chaftl(...).
Essa afirmaçãoé
facilmente confirmada
ao
examinarmosos temæ
deconferênciæ
næ
universidadese
ostítulos
de publicaçõesfilosóficas."a2
Em
1931, escrevendo nosSchriften
zur
Wssenschaftlichm rileltauffassungdo
Cfrculo,
PhilippFrank,
oúnico físico
do grupo, cita repetidamente a"Ganzheitsphilosophie" expressa naKøtegoienlehre
de Othmar Spann (1924) como característica da valoração negativa de que eram objeto as ciênciæ naturais e a matemática na"fìlosoûa
escolar" dominante.Para a disciplina que representa æ coisæ meramente por meio de traços extemos (quantitativos), æ essências das coisæ permanecem etema¡nente escondidas. Nisso está a chave por que a ciência natural matemático-causal não é uma disciplina
abran-gente, mentalmente criativ4 como as GeisteswíssenschaÍten.
(...) A
investigação quantificadora, æsim chamada exata, consiste apenas em mensurações e, como igloraa essência dæ coisas e precisa decompõlæ em magnitudes pafa ser czpaz de inventa-¡iá{æ, não merece o nome de l'lissenschaft no mesmo sentido elevado como merecem
u
Geisteswissenschaften.(...) A
questão da utilidade e dos objetivos alcançados éuma coisa, mas outra o vaTor fltltirdef das llíssenschaften genúnæ, ocupadæ com a
totalidadeeaes$ncia Talvaloraciêncianaturalmatemáticanãopossuihojeemdi¿.43 Longe de exerc€r
predomínio
sobre afilosofia
alemã durante a década de 1920, oCírculo
de Viena eo
grupo correspondente em Berlim-
o Gesellschaftfür
empirischePhlosophie,
reunido emtorno
de Hans Reichenbach e Richa¡d von Mises-,comsua
valofação altamentepositiva
da ciência natural matemática, representaramum
movi-mento bætante
tardio
e nitidamentemarginal.
A
impressão que SidneyHook
levou rich Rickert tinha a dizer a esse respeito em 1920: "O conceito hoje dominante em gtauespe-cialmente elevado na atmosfera intelectual
genlfdie
Durchschnittsmeinungenfnos parece sermais bem desigrrado pela expressão vidø. Desde algum tempo ela tem sido empregada mais e
mais freqüentemente, desempenhando papel importalte não apenæ entre os escritores popula-res mas também entre fiIósofos acadêrnicos. Palavras favorit¿s são 'Erlebnis'e 'lebendig', e não há opinião considerada tão modema como aquela que sustenta que é tarefa da filosofia fomecer uma doutrina da vida que, moldando-se vital e genuinamente a partir da experiência, seja capaz
de ser usada pelo ser humano
vivo."
(Dre Philosophíe des Lebens. Dørstellung undKitik
der philosophischen Mode s tÒ'mungen unser er Zeir. [fUbingen, lgZO), p. a.)4l
Ringpr, ob. cit. (nota 28), p. 308.42 Verein Emst Mach, úlissenschaftliche Íl)eltauffassung. Der lttiener K¡eis (Viena, 1929), 63 pp,, na p. 9.
a3 O. Spann, Kategoienlehre
(l9A),
citado por P. Franþ Dos Kausalgesetz und seine Grenzen,(
A
Cultum de
lleimar
e ø TeorísQuântica
2l
para os Estados Unidos em 1929, após um ano de estudos filosóficos na Alemanh,a,foi
a
de
que quasetodæ
as escolæ de então eram "extraordina¡iamente indiferentes aosmétodos e
resultados da ciênciaffsica moderna".
Pior
ainda,"A
atitude do
filóso-fo
alemãoquanto
à
ciêncianão
é
sempre de indiferença. Freqüentementeé
de
a-berta
hostilidade."
Hook
julgava
que
os escritos de Hans
Reichenbach poderiamser de
grandeinterese
parao leitor
norte-americano, mas, na Alemanha,Reichen-bach
é
"ignorado pelos fìlósofos
acadêmicos,como o
sãotodos os da
sua estirpe(...)".*
Duas décadas mais maistarde, ao
esboçar ahistória do
Cfrculo
deViena,
Victor Kraft
descreveu a grande resonância que omovimento
encontrou na Europaocidental
e
nos
EUA,
aduzindo
compæsivamente que"foi
só
na Alemanhaque
a abordagem doCírculo
de Viena nãofoi,
demodo
algo-,
levada em consideração".sQuanto à Bauhaus,
o
casofoi
um pouco
diferente, pois o movimento do qualWal-ter
Gropiusfoi
o
principal
representante na verdade era, até certoponto,
caracterfs.tico
dacultura
de Weimar.aó Assim, neste caso devemos antes perguntar se a novaar-quitetura
eo movimento
de design quelhe
era æsociadoconstituíam
aexpresão
deum
impulso inerentemente peculiar aos métodos dæ ciênciæ exatasou
às conquistas da tecnologiamodema. No entanto,
quando se examinam os manifestos desse movi-mento, não sepode
deixar de se surpreender com sua ambivalência.Em primeiro
lu-gar,a
concepçãoinicial
e æ diretrizes artísticas da Bauhaus inscreyiam+e em grande medida noslimites
da tradição deMlliam Morris,
de umretomo
ao artesanato como reação contra a tecnologiamodema.
Quando Gropius-
em boa parte devido a simples necessidades fìnanceiræ-'começou
a reorientar a instituição em direção ao designin-dustrial, teve que enfrentar uma tenaz resistência
interna.
"Rejeito
com absoluta con-vicção omote
'Arte
e Tecnologia-
Uma Nova Unidade'",
escreveuLyonel
Feiningerem
agostode
1923em
correspondênciaprivada;
"essa interpretação equivocada da arte,porém,
é um
sintoma de nossostempos.
E
a exigência de ligá-la à tecnologia é.
absurda sob todos ospontos
devista."
O antagonismocom
respeito à ciência e àtec-nologia era
ainda maisexplícito
no
manifesto redigidopor
Oskar Schlemmer para ofolheto publicitário
daprimeira
exposição da Bauhaus,no
verãode 1923.
"Fiazãô eciência, 'os maiores poderes do homem', são os regentes, e o engenheiro o plácido exe-aa S. Hook, "A Personal Impression of Contemporary German
Philosophy", ,/oumal of Philosophy 27 (1930), pp. 141-160, næ pp. 147, 159. A mesma impressão é afirmatla, menos rigorosamen-te, por Kurt Grelling, "Philosophy of the Exact Sciences [na Alemanha]',, em E. L. Schaub (ed.] Philosophy Today (Aiczgo, 1928),pp. 3 93-4 f 5.
4s V. Kraft, Der liliener Kreis. Der Ursprung des Neopositivismus. Ein Kapitel der jüngsten Philo-sophiegeschíchte,2a.ed' (Viena,1968),p. 8. Aprimeiraediçãofoipublicadaem 1950. 46 No que se ¡efere à arquitetura, isso é bem demonstrado por Barbara MilletLane,Architecfi¿rc
and Politics.in Germany, 1918-1945 (Cambrideg, Mass., 1968). Cf. o discu¡so de Gropius
pe-ranþ o Landlag da Turíngia em Weimar, em 9 de julho de 1920: "Bæeado em fatos inconstes-táveis, agora mostrarei convincentemente'que aquilo que a Bauhaus realizou é um
desenvolvi-mento lógico e inintemrpto, que deve acontecer, e que já está acontecendo, por todo o país." (Hans M. Wingler led.l, The Bauhøus, Weimor, Dessau, Berlin, Chicago, trad. para o ingtês por W. J¿bs e B. Gilbert [Camhiage, Mass., 1969], p.42.)
22
Paul Formancutor
de possibilidadesilimitadas.
Matemática, estrutura e mecanização são os elemen-tos, poder edinheiro
os ditadores desses fenômenos modemos de aço, concreto, vidro e eletricidade (. ..) o
cálculo toma de æsalto o mundo transcedente:
a arte setransfor-ma num logaritmo."a?
Além
disso, opróprio
Gropius era profundamente ambivalente quanto a essaques-tão.
"Meu principal
objetivo"
no planejamento docurrfculo
da Bauhaus era"treinar
as capacidades naturais do
indivíduo
de aba¡car a vida comoum todo,
uma entidade cósmica una.(...)
Nossoprincípio
diretor
erao
de
que o designartístico
nãoconsti-tui
tarefa intelectual
ou
material,
mæ simplesmente uma parteintegral
do estofo davida."4
E assim retomamos, outra vez, à Lebensphibsophie.I.
4.
Ideois e Reformas EducacionøisTendo
obtido
uma imagem mais clara dæ atitudes Derante a ciência física e a racionali-dade analítica que eram dominantes entre as ciæses médiæ educadæ, e que eramespe-cialmente fortes
nò mundo
acadêmico doperíodo
de Weimar, podemos melhor avalia¡a
grande apreensãocom
que matemáticose
flsicos
encararam o movimento emprol
deuma reforma
educacional, que acompanhou a revolução.E
vale a pena examinar brevenente os ideais educacionais anunciadospor
aqueles que,no Ministério
de Edu-cação prussiano, tinham poder parainstituir
e administrar f¿i,sreformæ;
isso nosper-mitirá
compreender a ressonância encontradapor
tais atitudes em todos os quadrantes do espectropolítico,
bem como a iminência da ameaça que elæ constituíam års ciênciæ físicas.A
temática
anti'racionalistafoi
anunciadano início
do perfodo
de Weimar pelo StøatsseJcretilr CarlHeinrich Becker.
Becker, um islamista eminente, havia ingressado noMinistério
da Educação prussiano durante a guerra e, como democrata,foi
elevado aoprimeiro
escalão em novembro de 1918, quando os social-democratas dem¡baram oKultusminister Friedrich
schmidt.4e"o
mal
básico", garantia Beckerem
l9l9
emdi-fundiåo
ensaio sobrereformaunivenitária,
"é a supervão nzação dopunmente
intelec-tual
em
nossa atividadecultural,
a predominância exclusiva domodo
racionalista de pensamento, quetinha
de levar, e levou, ao egoísmo e ao materialismo em suæ formas mais crassas."E
mais umavez, em outro panfleto escrito na mesma época, Beckersus-tentava
que"todo noso
sistema'educacional é orientadopor
demais exclusivamente para ointelecto.
Devemos aprender outra vez a reverenciar oirracional."so
Isso talvez41
la Bauhaus após ter sidoimpresso-
não de-a racionalidade ou a tecrrologia, mas porqueda Bauhaus, "a construçâo da Catedral do 4E
w.
Gropius,The New Archirccture and the Bøuhaus,tlad- paÌa oinglêsporp. M. shand(Lon-dres, 1935), pp. 52, 89.
ae E¡ich rrVende, G H. Becker, Mensch und Politiker (Stuttgar! 1959). Cf. Fried¡ich Schmirtt-Ott, Erle b tes un d E n te b te s, I 86 0 - 1950 (Wiesbaden, 1 95 2)
s0 c. H. Becker, Gedanken zur Hochschulreform (r*,ipzig 1919), p. ix;Kulturpolítische Aufgaben des Reiches (I*'ipzig, 1919), p.55: "Wir müssen wieder Ehrfurchtbekomen vor