GALILEO
E O PRINCIÞIO DA RELATTVIDADEROBERTO
D[
ANDRADIÌ MARTINShtstítuto
deFísica 'Gleb
Wøtaghin,'Centro de Lögica, Epistemologio e
Históríadø
Ciêncit Unìyersidade Estadual de&mpinas
r
TNTRODUçÃO Denomina-se comumente impossível detectar-se alg de um sistemafísico,
por cias realizadasdentro
de não pode ser notado.A
fonte
mais comumente citada como origpm doprincfpio
de relatividade deGa-lileo
(CLAVELIN
1968, cap. 5; TONNE.
.
.
sobre os dois principais sistemas do outras passagens importantes, encontra_se tas vezes reproduzida, e que faz partedo
.v. 2,372; GALILEI,
Dialogue, 1967,
1gÉexperiências que poderiam ser ¡ealizadas no
interior
de um cômodode um navio e que, esteja ele parado
ou
emmovimento,
dá'oo
me,smo resurtado, nâ-opermitindo,
por-tanto, determinar o estado de movimento do navio.No contexto
da obra em que aparece essa descrição, Galireo preocupa-sebasicamen-te com a defesa
do
sistema heliocêntrico dema de Copérnico se tornasse aceitável. O cia do navio mostra essa vinculação; e ela
,';1,:"{^?'}3!rl;t'Í)",',:iåtîiåi:,'i
Tudo isso é bem conhecido.
No
entanto,muitos
aspectos históricos do surgimento doprincípio
de relatividade sâ'o pouco estuãados.o
piesentetra¡¿rrã
tem
os seguin_ tes objetivos:l.
estudar os precede.ntes históricos, pré-galileanos,do
princípio
de relatividade; 2. e.studar a evolução do pensamento
¿i C¿ieo
soUró ,sraque;ä;;
3. discutir a validade da argumentaçâo apresentada por
Garil'eo.
-
'
70
Roberto deAndrøle Martira
2 ARISTOTELES, PTOIJOMEU E O MOVIMENTO
DA TERRA
Aristóteles,
no
tratado Sobreo
Ceu(De
Caelo), discutea
questão do movimento da Terra(De
&eb,II.
14). Ele nosinforma
que, antes dele, várias doutrinas haviam sido propostas, seja defendendo o movimento da Terra, seja defendendo sua imobilidade. Opróprio
Aristóteles defende a imobilidade terrestre, e apresenta, para tanto, ¿ugumen-tos de muitostipos.
Alguns deles são teóricos e baseiam-se em sua concepçlio dosmo-vimentos
naturais.Não
trataremosaqui
dessas justificações. Interessa-nos principal-mente o seguinte argumento (De Caeb296b,21-7)
que invoca a experiência:É claro, portanto, que a Terra deve esta¡ no centro [do universo ] e imóvel, não apenas pe-las razões jrí indicadas, mas também porque corpos pesados ati¡ados forçadamente [violen-tamentel para cima, [em direçaio] bem reta, reto¡nam ao ponto de onde partiram, mesmo se
forem ati¡ados a uma distância
intnita.
Dessas considerações torna-se claro que a Terra nâo se move e não estd em um lugar diferente do centro.Esse famoso argumento de Aristóteles será repetido e ampliado por todos os defen-sores posteriores da imobilidade da Terra. Ele é, de fato, um
forte
argumento: se a Ter-ra se movesse, ao atirarmos um corpo ve¡ticalmente pata cima, deveríamos esperar que a Terra saísse de sua posição inicial, enquanto o corpo estivesse no ar; e que, portanto, quando ele retornasseao
solo,já
neo poderiacair
no ponto
de origem. Somente o desenvolvimento de nov¡rs concepções mecânicasiria,
muito
depois de A¡istóteles, in-validar esse argumento.Também no Almagesto encontramos argumentos experimentais contra o
movimen-to
da Terra. Ptolomeu (1952,I.
7) aceita que, no que se refere a observações das estre-las, seria possíveltanto
supor aTerra em
repousoquanto em
movimento, mas que o movimento da Terra é incompatívelcom
os fenômenos observados perto de sua su-perffcie(1952,
L2):. . . em relaçÍio aos fenômenos das estrelas, nadatalvez impedisse quc as coisas estivessem de aco¡do com essa simples conjetura [do movimento de rotação da Terral, ¡nas à vista daquilo que ocorre em torno de nós no ar, tal noção parece completamente absurda.
Ptolomeu
(1952, 12)
nosinforma
logo
depois algumas dessas conseqüências ab-surdas:.
, . todas as coisas que nâo estivessem em repouso sobre a Tcrra parccetianr ter um movi-mento contr¡írio a esse [ao movimento daTerra],e nunca ss ve¡ia uma nuvom mover-sc pâra leste, nem eualquer out¡a coisa que voasse ou que fosse atirada para o a¡. Pois a Terra sem-pre as ultrapassaria em seu movimento para leste, e assim todos os corpos pareceriam scr deixados para trás e mover-se para oeste.Ptolomeu
discute uma possível soluçãodo
problema; poder-se-iadizer
quea
at-mosfera é arrastada pelo movimento da Terra e que o ar, por sua vez, arrasta os corposque
estão nele;por
isso, nada pareceria mover-se para oeste. Mas Ptolomeu descarta essaexplicaçío,
pois, nesse caso, seo
artem o
poder de arrastar os corpos, nâ'opode-ria existir o
movimento dos corpos ou projéteis através do ar: todos teriam de ficarpa-Galileo e o Princípio da
Relatívklade
7l
rados em
relação
cair' mas incapazes de sedeslo-*,
purulestebu
atirar-se projéteis para leste ouiãiu'o.rt.,
uc-rt
desses corpose
que não seria'portanto,
caPaz d3NICOLEoREsMEEsUADEFESADOMoVIMENToTERRESTRE
que traduzo quæe literalmente do francês arcaico:
Após anunciar sua intenção, Oresme
(DUHEM
1958,330)
começa descrevendo os três principais argumentos contra o movimento da Terra;t.
vemãso
céu, as estrelas,o sol,
a Lua e os planetas girando emtorno
da Terra e, portanto, o céu tem um movimentodiário;
2.
se a Terra girasse, sopraria um ventomuito forte
do oriente, pois a Terrairia mo'
ver-se em relação ao ar,3. a experiéncia proposta por Aristóteles' que ele assim descreve:
cont¡ário é Percebido, de fato. Note-se que Oresme
modific
introduzindo uma
exPeriênciamuito
em voga na Idade Média, de Aristóteles (talvez SimPlício ou a Ptolomeu, como aqui.Para responder aos
tiês
argumentos, Oresmeplocura'
primeiramente, mostrar queos
movimentos relativos são-os
únicos que podem ser observados(DutIEM'
1958'F
72
Roberto de Andrade MartinsEntão, eu suponho que o movimento local nãio pode ser percebitlo sensivelmente a nâo ser
tafito quanto se percebc queum corpo estcja [em movimento]olhando+e paraoutro cotpo. E por isso, se um homem está em um navio chamado A, que se move muito suavemente, rá-pida ou lentamente, e se esse homem nalo vê out¡a coisa, além de um outro navio chamado
B, que seja movido de forma totalntente semelhante ao modo como [se move] A, no qual ele está, eu digo que parecerd a esse homem que um e outro [navios] não se movem; e se A estáemrepousoeBémovido,pareceJheeassemelha-sequeBémovido;eseAémovidoe B fica em repouso, parece-lhe, como antes, que A está em repouso e que B é movido.
Oresme
atribui
a Witelo essa idéia geralr . Aplicando-a ao céu e à Terra, Oresmecon-clui
quetanto no
caso em que a Terra se mova eo
céu esteja parado, quanto no cÍrsooposto, as pessoas colocadas na Terra
diriam
queo
céu se move, e pessoas porventura colocadasno
céu diriam
quea Tera
se move.Portanto,
a aparência de movimento celeste nâ-o prova a imobilidade da Terra.Essa
primeira
argumentação de Oresme era bem conhecida na época. Defato,
sobo ponto
de vista puramente astronômico,ou
seja, quando se tenta apenas prever as posições aparentes dos astros, é indiferente supor-se que a Terra se moveou
que ela está parada. Seria apenas através de experiências realizadas na própria Terra que se po-deria descobrir se ela está em repouso ou emmoviminto.
Oresme volta-se então para o argumento do vento e dá uma resposta curta(DUIIEM
1958,332)
:À
segunda [experiéncial ap¿üece a resposta por isso; segundo essa opinifio, a Terra nâo émovida sozinha,mas com aágltae o ar,como
édito;
embora aáguae oardaquidebaixopossam ser movidos de out¡a forma pelos ventos ou pelas outras causas; e é semelhante co-mo se um navio se movesse e nele houvesse ar guardado; pareceria àquele que estivesse em tal ar que ele não se move.
Ou
seja;o ar
realmente pode estar se movendo parao
oriente, com a Terra, mas não percebemos esse movimento, pois é um movimentoiomum
do ar e da Terra.Por
fìm,
Oresme discute o argumento dos projéteis(DUHEM 1958,332):
À
te¡ceira experiência, que parece mais forte, da seta ou pedra lançada para cima etc., dir-se-á que a seta atirada para o alto, com esse movimento, é movída para o oriente muito tapidamente com o ar at¡avés do qual ela passâ e com toda a massa da parte baixado Mun-do, antes indicada, que se move com movimento diurno; e por isso a seta recai no lugar da Ter¡a de onde partiu.E tal cojsa parece posslvel por semelhança; pois, se um homem estivcssc em um navio movi-do para
o
oriente muito rapidamente sem que ele percebesse cssc movimonto e esticasse sua malo fazendo-a desce¡ e descrever uma linha reta contra o mastro do navio, parecc{hc-ia que sua mão nâo se moveu a nÍio ser com um rnovimcnto reto;e assim também, segun<lo essaopinião, parece-nos da seta que desce ou sobe ¡eta para baixo ou para cima.
Aqui
parece uma idéia importantíssima: o movimento da seta ou doprojétil
parecereto,
masnlo
é-
há ao mesmotempo
um movimento vertical eoutro
horizontal,a-companhando a
Terra
(ou o
navio). Oúnico
movimento observável pela pessoa quelT¡ata-se de um livro sobre perspectiva, de Witelo (século XIII), onde é natural que se tenha discutido apenas a rclatividade óptica dos movimentos.
Galílæ e o Princípio dø
Relatlvidale
73estâna Terra
(ou no
navio) é o movimentodo
qual ele nãoparticipa.Oresmegenera-liza sua idéia(DUHEM
1958, 332'3):þualnrentc, dent¡o do navio assim movido conlo foi dito, podem existir movinrentos longi-tudinais, transversais, para
o
alto, para baixo, de todas as maneiras, e pareceriam scr em tudo como se o navio respousasse. . .; e de modo semelhante, no caso colocado antes, todosos nrovirnentos aqui em baixo pareceriam ser como se a Tetta repousasse.
Como
bom
conhecedorda física
aristotélica, Oresme sabeo tipo
de objeção que poderia ser colocada às suas idéias-
é impossível que um só corpo tenha dois movi-mentos ao mesmo tempo. Ou ele se move verticalmente, ou em rotaçâ'o emtorno
docentro
a idéia
de composição de movimentosé
estranhaâ
física
de Aristóteles. Por isso, Oresme dá um exemplo em que a própria física aristotélica levaria à compo' sição de movimentos. Suponhamos quea Terra
esteja em repouso e queo
céu gire'O
fogo
tende
a
subir,
segundo Aristóteles. Mas, se subissee
escapasseà
regiã'o doar
que estáem
repouso,ele continuaria a
subir e ao mesmo tempoiria adquirir
um movimento circular da região do céu onde está. Se isso nâ'o é absurdo, também não éabsurdo supor que a pedra
ou
a seta pudessemter
dois movimentos simultâneos, um vertical eoutro
circular. Oresme conclui(DUHEM
1958, 333):C-oncluo, portanto, que não se poderia por experiência aþuma mostrar que o céu tem um movimento diá¡io e que a Terra não é movida assim.
Essa exposição mostra claramente que Oresme
possuía
uma visão próxima da mo-derna sobreo princípio
de relatividade dos movimentos.Falta
a
Oresme, apenas, aidéia
deinércia,
que permitejustificar o
acompanhamento da Terra pelos projéteis. Na concepção de Oresme, os projéteis parecem acompanhar a Terra apenas Por perten-cerem à sua esfera,por
formarem com ela uma cetta unidade. É, possível que Oresme admitisse que, se a Terra cessasse de mover-se, os corpos à sua volta também cessariam imediatamente seu movimento,4
COPERNICO E GIORDANO BRUNOA
obra
manuscrita de Oresme pareceter
circulado amplamentena
Universidade deParis,
no
séculoXIV.
Entre
os
que aleram
estâ'o, segundo Duhem, Jean Buridan,Albert
cle Saxe e Pierre deAilly.
Nenhum deles concorda com Oresme(DUHEM
1958, 355).No ponto
crucial da experiência dos projéteis, Buridan é incapaz de acompanhar Oresmee
vtiltza
um argumentomuito
semelhante ao de Ptolomeu: quando uma flecha fosse atirada para cima com grande violência,o
ar não seria capaz de arrastá-la, assimcomo
o
vento
é
incapazde
arrastar completamente uma flecha atirada através dele, embora seja capazde
desviá-laum pouco
(BULLIOT
1914;DUHEM
1958,350).
O argumento de Oresme nã'o pressupõe que a seta seja arrastada pelo ar; tenta, apenasen-fatizar
queum
corpo
emmovimento muito
rápido eviolento
deixa dç pertencer ao seu meio e que,portanto,
a setajá
não poderia ser considerada como pertencente ao sisterna Terral-ar
+água e não teria motivo para acompanhar a Terra.Dc
rlualquerforma, a
argumentação de Oresmeparece
nâ'o ter sido convincentec,
dois séculos mais tarde, Copérnico teve que apresentar bonsmotivosparajustificar
74
Roberto de Andrade Martinso
movimento
da Terra e negar seu repouso. Em parte, a argumentaçâ'o de Copérnicoé
semelhanteà
de Oresme, masele
adiciona ainda razões teóricas pelas quais tentamostrar
queé
preferível
considerar quea Terra,
e
nãoo
céu, estáem
movimento. Como ^Oresme, Copérnico (COPERNICUS,Renlutions, I.
8,
519;KOYRÉ
1966, 166-71) supõe queo
movimento
de projéteisé
composto demovimento vertiçal
ehorizontal (circular) :
Devemos confessar que enì relaçâo ao universo o movimcnto de corpos que caem ou sobem é duplo e é, em geral, composto do retillneo e do circular'
O
movimento circular
daTerra
seria seu movimento natural, segundo Copérnico,e
aspÍ[tes
da
Terrateriam
por
isso uma tendênciaa
acompanhar esse movimentocircular.
Ou
seja:
nâ'o háem
Copérnico aidéia de um movimento
por
inércia mas algumtipo
de acompanhamento de um movimento natural.É na
obra
deGiordano Bruno
que poderemosencontral
um avanço em relação a essa posiçâ'o.Na
Ceia dos penitentes,Bruno
defendeo
sistema de Copérnico, discutindoirreve-rentemente
asdoutrinas
aristotélicas.Em
uma seçãodo
diálogo,Bruno
discute osargumentos
do
a¡
e das nuvens, dando a respostatradicional
de queo
ar é arrastadopela Terra; e
passa então ao problema dos projéteis.Após
expol
a dificuldade
tra-ãicional, Brunò coloca nos lábios de Teófito a seguinte resPosta2:(Teófilo:) Todas as coisas que estâo na Te¡la movem-se com ela. se, portanto,de um lugar fora da Terra fosse lançada alguma coisa à Terra, pelo movimento desta aquela [coisal per-deria a retidâ'o [isto é, ndo cairia verticalmentel. Como se verifica no navio.'48, o qual, pas-saltdo pelo rio, se alguém, que se encontra na sua malgem
C,
lhe atir¿u di¡etamente uma pedra, enará suamiã,
por quánto vale a velocidade da co¡rida. Mas se alguém, colocado iob¡e o mastro do dito navio, que corra com a velocidade que se queira, [o fizer] sua mira não falha¡á, de modo que a pedra ou outra coisa lançada irá diretamente do ponto E, que está no topo do mastro, ou na gávea, ao ponto D que está na raiz do mastro, ou a qualquer parte do corpo do navio. Assim, se do ponto D alguém que está dent¡o do navio ati¡a aoponto
E
diretamente uma pedra, ela reto¡na¡á para baixo pela mesma linha, mova-se onavio quanto se queira, desde que ele nâo se incline.
B¡uno afirma
aqui que, para os fenômenos mecânicos internos ao navio, sua velo-cidadeé
irrelevante.
A
pedra largadado
topo do
mastro
cairána
basedo
mastro e, da mesmaforma,
apesar do movimento da Terra, uma pedra largada do alto de umatorre
cairá à base datorre.
Somente se a pedra fosse largada por alguém fora da Terra, quenão
se move com ela, Seria possível notar-se, da Terra,um
movimento de queda que-
não pareceria Yertical.Mas
por
que a velocidade daTerra
ou do
navio nãoinflui
nos fenômenos? Serápor
causado
ar arrastado oumotivo
semelhante? Bruno(Ceru,251-2)
vê claramente que não, e afirma mais adiante:2BRUNO
1956,250-l;
ver, tanrbém,KoYRÉ
1966,111-E2:MICI{¡L
1973, 190-3; MASSA 1973, A primeira ediçã-o da Cena é de 1584.Galileo e o Princípio da
Relatividade
7 5(Teófilo) O¡a, pa¡a voltar ao assunto, supõe-se que haja entâo duas [pessoasl, das quais uma se encontra dentro do navio que corre, e a outra, fora dele, e que tanto uma quanto a outfa tenham a ma--o perto do mesmo ponto do ar e, que do mesmo lugar, ao mesmo tempo, um deixe cair uma pedra e o outro outra; sem que lhe dôcm qualquer empurrão, a do primeiro, sem perder um ponto nem desvia¡ sua linha, atingirá o lugar prefixado, e a
do
segundoirá
encont¡ar-se dcslocada para trás. O que na:o decorte senão que a pedra que sai da mÍio daquele que é sustentado pelo navio, e que conseqüentemente move-se segundo o movimento dele, tem uma virtude impressa, que não tem a out¡a, que procede da malo daquele que está fora; e isSo apesar de as pedras possuírem a mesma gravidade, âtavessaremo
mesmo ar, partirem (se tal fosse possfvel) do mesmo ponto e possulrem o mesmo empurrâo. Nâo podemos dar ouüa ¡azão a essa dive¡sidade a não ser a de que as coisas que estão fixas ou que de forma semelhante pertençam ao navio movem-se com ele; e uma pedra leva consigo a virtude do motor que se move com o navio, e a outra, a daquele que não tem tal participaçâo. Disso se vé manifestamente que a virtude de andil em linha ¡eta na:o é obtida nem do ponto de onde se parte, nem do ponto para onde se vai, nem do meio no qual se move, mas da eficácia da virtude impressa primeiramente, da qual depende toda a diferença.Bruno
exprime aqui com
bastante claleza. aidéia
deinércia.
Seu linguajar pode parecer estranhoe
até
metafísico, masé
preciso lembrar que ao usar a palavra"Yir-tude
impressa", ele estáutilizando
o
mesmotermo
que Newton (Mathernnticalprin-ciples,
Definition 3,
5)
depoisveio a
utiliza¡,
emlatim
(vl's), paraindicar a
inércia (vis inertiae).Portanto,
no
racionalismo deBruno,
as experiências mecânicas realizadas em umnavio
nío
sâ-o influenciadaspelo movimento
do
navio,porque todos
os corpos donavio participam de
seumovimento; e
isso ocorre, mesmo se eles não est¿Ío encos' tados aonavio,
por
causada
"virtude
impressa" a eles,e
qu€ s€mantém.
Ou seja, nessa argumentaçãode Bruno
já
seencontram os
elementos básicosdo princípio
de relatividade.Note-se que, se
o
naviomodificar
seumovimento,
enquantoum
projétil
está noar,
o
projétil
não poderá acompanhar essa alteraçãoe por
isso seu moYimento em relaçâ'oao
navio será diferente. Brunoo
compreendeu, e épor
essemotivo
queindi'
cou claramente que o navio não deve inclinar-se ou oscilar.
Em
grande parte,Bruno
antecipa, assim, os argumentos que Galileoutilizou
mais tarde. Galileo jamaiscitou
o
nome deCiordano
Bruno, fosse em suas obras publica-das, fosseem
seus manuscritosou
correspondência pessoal3.É
estranho que issotenha
acontecido,pois, na
correspondência de Galileo, pode-senotar
queKepler
eoutros correspondentes
o
citaram. E pouco plausível que Galileo não tenha conhecido a obra tã'o polêmica de Bruno, que defendia idéias tão semelhantes às suas.Até
mesmo aforma
de diálogo, utilizadapor
Bruno em suas obras mais populares, será empregada3Pod"-r" verificar essa
afirmaçaîo, examinando-se o lndice analftico colocado no último volume das obras completas de Galileo, onde todas as ¡efe¡ências a Gio¡dano Bruno remetem a cartas e
escritos de out¡os autores, nunca do próprio Galileo. CLAVELIN (1968, 259, nota 80) atribui
essa lalta do citação a razões de prudência. Ver, também, GROSS 1974,536. Parece-nre diflcil que a prudðncia pudessc cxplicar a ausência de refe¡ência a Bruno, mesnto na correspondência g nas
a-notações pessoais de (ìalileo, enr que ele parece cxprintir-se com total libertladc.
76
Robqto
de Andrade Martinspor
Galileo.
Não
é
possível que ná-o houvesseinfluência
alguma deBruno em
seu pensamento e em sua obra, mas jamais saberemos o quanto Galileo deve a ele.5
TYCHOBRAHEEKEPLER
Aparentemente, os argumentos de Giordano
Bruno
-
como, antes dele, os de oresme-
não chegaram a convence¡ muitas pessoas. Assim é que, para citar apenas umexem-plo
célebre,Tycho
Brahe defendiai
imo
ilidade ¿areria
por
arguÃentos essencial-mente iguais aos de Aristôteles e de Ptolomeu. Ele simplesmente-negavao
resultadoempírico
previstopor
GiordanoBruno,
na experiência db navio ¡upuãrovnÉ
iloe,
183):
Os que acreditam que uma bala lançada para
o
alto no inte¡ior do navio em moyimento reto^rna ao mesmo lugar como se o navio estivesse em repouso, eles se enganam fortemente. De fato, abúa rtca¡á para trás, tanto mais quanto mais rapidamânte.,
o"íolo"
o nayio.Defendendo
a
imobilidade
da
Terra,
Tycho
Brahe modernizavatambém
o
ar-gumento de Ptolomeu, substituindo setas por canhões(KoyRÉ
1g66,lg5):
A experiência nos mostra que balas de mesmo peso e tamanho,lançadas em um e em out,o sentido fleste e oeste] pot uma mesma quan
atingem aproximadamente
o
mesmo espãço j¿3'rnoui-.nto extremamente rápido da Terra (se sobre a superfrcie da rerra, q.ue pof
,.u
-o,Txo"#ou;t"ä¿""î",1iå"å:iÏï,åffiri:,f;,::
da mesma manei¡a fosse lançada para o Ocidente. . .
Não
sãosó
os autores que negamo
movimento
daTerra, como Tycho,
que pa-recemignorar
o
peso da argumentaçãode Bruno,
mas mesmoKepler,
defensor domovimento
da Terra,utilizou
argumentos deoutro tipo
para defendero
copernica-nismo.
Para Kepler,
o
movimento terrestre
nâ'oé
observadopor
seus habitantes, porque ela possui certotipo
de força magnética, que se estende pelo espaço emtorno
de sua superfí_cie e que arrasta ou procuraarrastaijunto.orn
uf.rru
os córpos de suaproximidade. Se um corpo pudesse afastar-se da Teria, raciocina Kepler, essalnfluência seria menor e seria possível notar-se os efeitos da rotação da Terrã. Mas, para corpos
próximos
à
superfície da Te¡ra,o
arrastamento étotai,
eo
movimento dã Terra ñeo altera os fenômenos (apudKOyRÉ
1966,1g9):Assim, aquilo qu-e é atirado perpendicularmente no
a¡
rccauá, em seu lugar, nâo sendo impedido de fazêlo pelo_movimento da Terra, a qual nâo pode afastar-se"dó baixo1do
corpol, mas ar¡asta com ela tod.as as coisas que voam no ar, que estão talo ligadas Iã
Te;;l
pela força magnética quanto se lhe estivessem contíguas.Embora em
um ou
em
outro ponto
de suas obras Kepler pareça compreender as idéias de inércia e de composiçã'o do movimento, aleituri
de zuas óbras ¿ã uma fo¡te impressão de que, para ele, é oefeito
de arrastamento magnético (raptus) que é essen-cial.Galileo e o
hincípio
daRelatividade '/'l
ó
GALILEO:
OBRAS DEJWENTI.]DE
Vejamos agora como essas questões aparecem
no
desenvolvimento da obra de Galileo,principiando pelos
seus trabalhosmais
antigos.É
natural,
interessantee
instrutivo seguir essa evolução de idéias sobre a relatividade dos movimentos, embora nenhum dos auto¡es que consultei o faça.As
obras completasde
Galileo contêm
um
pequenolivro
denominad,o Tistadoda
esferaou
cosmogrøfia, publicado postumamentee
que pareceter
sido umtexto
elaboradopor
ele
para seus alunos, noinlcio
de sua carreira em Pádua (após 1592). Nessa obra, descreve e defende as teorias de Aristóteles e Ptolomeu sobre o universo.Um
dos
artigos dessetratado
(GALILEI,
Sfera,223)
é denominado:"Que
a Terra éimóvel",
e começa assim:A
presente questãoé
digna de consideração, sendo que não faltaram grandes filósofos e matemdticos que, considerando se¡ a Terra uma estrela, fìzeram-na móvel. No entanto, nós seguiremos as opiniões de Aristóteles e de Ptolomeu, e forneceremos asrazões pelas quais se pode acreditar que ela [a Terral é completamente cstacioníria.Galileo resume então, de modo simples e claro, os argumentos clássicos, incluindo também as novidades de Tycho. Cito apenas uma parte importante
(Sfera,224):
(.
.
.) se deixássemos cair para baixo, de lugares altos, coisas como uma ped¡a do topo de uma torre, ela nâo cai¡ia mais nanE
da tone; pois no tempo duranteo
qual o corpo, descendo perpendicularmente [verticalmente], estivesseno
ar, a Tena, subtraindo-se emovendo-se para o oriente, recebê-lo-ia em um lugar muito distante da torre; assim como, se
o navio caminha muito rapidamente, a pedra que cai do topo do mastro nlío cai ao pé, mas
para o lado da popa. E isso se veria ainda mais claramente nas coisas lançadas popendicu-larmente para cima, as quais, ao descer, cai¡iam muito longe de quem as jogou: e assim a
flecha ati¡ada com ¿uco di¡etamente para o céu, nâo recairia perto do arqueiro,
o
qual, enquanto isso, levado pelo movimento da Terra, teria se deslocado um grande espaço pala o oriente.É
importante
observarque,
na
mesma época (aproximadamente 1593), Galileo compôsum outro
texto
didático,
Trøtado sobre os meca4istnos (Meccaniche). no qual descrevea
lei
de
inércia,
ou
algomuito
semelhante aela, ao dizer
queum
corpoliso,
sematrito,
pode mover-se num planohorizontal
quando submetido a uma forçamínima; e
que para
essecorpo
o
movimento
ou o
repouso são indiferentes(Mec-cuniche,lS)).
No entanto, no estudo do sistema de Ptolomeu, Galileo não consideraindiferente
o
movimento
daTerra.
Osdois tipos
de questões, tã'o intimamente rela-cionadas, ainda parecem ser, nessa época, para ele, completamente independentes.7
GALILEO
CONTRA LUDOVICODELLE
COLOMBEA
correspondénciaent¡e Galileo
e
Kepler
atestaque,
em
7597, Galileo
defendia, pelo menos de forma privada,o
sistema de Copérnico. Após 1609, os estudos por ele realizados com o uso do telescópio astronômico tornaram-se dos mais fortes e decisivoscontra
o
sìstemade
Aristóteles-Ptolomeu. Mas, certamente,em
1610, Galileo ainda não dispunha de argumentos teóricos contra a física aristotélica.F
78
Roberto de Andrade ilfartins-
Sabe-seque'
nessa época,Galileo
dedicava-sea
coleciona¡um
bom número
delivros
a
favo¡ e contra
o
sistemade
Copérnico.Entre
as ob¡as encontradas poste-rro¡mente em sua biblioteca, encontra-se uma cópia d,o Discurso contra o movimentoda
Terra,
de Ludovico
delle Colombe, datadoäe
1610, repleto
de anotações mar-ginais,.através das quais se pode captar o pensamento de Galileo nessa época..
Após um
amplo
preâmbuloliterário,
muito
ao
gosto da época,Ludovico
intro-duz
o
argumento deTycho
Brahe(in
GALILEI, Oþae,
1930:4, u:.'Z.t,2SS;
Opere,1843,342):
artilharia,
oriente, com o movimento da Te¡¡a, aoa bala a
p
uanto a bala estivesse suspensa no ar, aflaTtlrïi
direção a essa bata, que, antes de sua-
E
Galileo (Opere,
1843,379;
Opere,
lg3}-4, v.
3.1,
255)
anota na margem dolivro:
Se¡ia melhor dizer que nâo poderia atirar, pois a Te¡ra leva a a¡tilha¡ia diante da bala: e é
uma maravilha que nós possamos urinar, coirendo tão velozmente diante da urina; ou pelo menos deve¡fanlos urinar para baixo, pelojoelho.
Essa observaçâ'o é cu¡iosa, mas nâ'o é uma boa resposta a Ludovico.
Em out¡o
ponto,
(Opye, lg43;319-90; Opøe,
1930-4,v.3.1,256),
Galileo tenta explicar a igualdade de alcance dos
dois tiros
de canhãopó,
u-ãiãeø
vaga de adição de velocidade:(.
,. .) a força de pólvora
(.
. .) é senrpre a mesma, mas aplicada, uma vez,â bala que já corre velozmente para o Oriente e,naouÍavez, à bala que vai contra o ímpeto do fogo..Aqui
ele parece perceber a necessidade de considera¡ que a velocidade transmitidapelo
canhâ'o se adicionaou
subtrai
a
uma outra
velocidåde dabala,
que tende a seconserva¡. Isso exige
uma
concepção deinércia,
que Galileologo
utilizava em outra anotação(Opere,l843,
380; Opere,lg3}4,
v. S.t,iSe):
flcie plana em e<¡uilfbrio, como, por exem_ bola perfeitamente redonda; ve¡_se.rj sobre apesar de o barco rnovcr_se velozmcnte; argu-ola daquele que a coloca, que cstá no ba¡io
aniquila ou diminui; pois, se f'osse diminuin_
"'";i,iTï,1î_î:,",'.'.ï:"";:ü:11,ï".x?Jii,î
espelhot esrivesse fo¡a do b_a¡co e, quardo
oorrrrr"ofrå#:.ì:,":J,.j:",Xi"'."#,T:å,jrî:';:
pelho; sem dúvida alguma ela cor¡eria contra o movimento do bá¡co..,
A.idéia
da bola perfeitamente redonda sobreo
esperho émuito
semerhante aoes-tilo
da
argumentação deGalileo, no
já
referido
Traîadosobre os mecanismos,
a
Galileo e o Princípío da
Relativùtade
19 Galileoafirma aqui
que a velocidade da bola tende a se manter e relaciona essai-déia de inércia ao caso do movimento do navio
-
esse movimento não produz efeito sob¡eo
repouso cla bola enr relaçâ'o ao navio.A
experiência é impossível mas engenho-sa. Há grandes semelhanças entre esse argumento de Galileo e o de Giordano Bruno-em ambos se discute a diferença entre
um objeto solto por
uma pessoa de dentro.do navio e um objeto solto por uma pessoa colocada fora dele.Ludovico delle Colombe acabou por
citar
a experiência dotiro
para o céu, e Galileo(Opere,
1843, 381 ; Opere,19304,
v. 3-1,259)
respondeu que todos os corpos pesa-dos possuemum "movimento
natural, congênito e simultâneo", que é circular emtor-no
do
centro da Terra, com duração de 24 horas, e que por essemotivo
a bala atirada para cima acompanha a Terra. A idéia de Galileo, aqui, é semelhante à de Copérnico (e note-se que suas idéias ainda nâ-o estão claras, oscilando entre várias alternativas).Há
algunspontos
da obra deLudovico
delle Colombe que sãomuito
esclarecedo-res sobre aspectos da obra futura de Galileo. Multiplicando os exemplos cont¡a omovi-mento
da Terra, ele se refere à hipótese de que(in GALILEI,
Opere,1843,349-50;
Opere,
1930-4,v.
3-1, 265)
os pássaros seriam vistos passando a grande velocidade, parao
ocidente, sobre nossas cabeças, se a Terra girasse; e refere-se a uma resposta dos copernicanos, que diziam que peixes colocadosdentro
de umvidro
com água e trans-portados velozmente continuam nadandotanto
emum
sentido como emoutro
e queo
mesmo ocorreriacom
os pássaros.Ludovico
dZ nlo
ter
realizado a experiência eque, mesmo se ela fosse verdadeira, seria irrelevante, pois aâguaé
muito
densa, e o ar,muito rarefeito.
Emoutro ponto (in GALILEI
,Opere,1843,35l-2;Opere,19304,
v.3.1,267),
Ludovico afirma que, se a Terra girasse, as pessoas que saltassemparaleste ou para oeste atingiriam distâncias diferentes. Mais tarde, como veremos, Galileo lem-brou-se desses exemplos e osutilizou,
sem citar a fonte.Pode-se dizer que, ao
ler
e comenta¡ a obra de Ludovico delle Colombe, algum ano após 1610, Galileo ainda não possufauma
concepção clarado princípio
derelativi-dade;
confusamente, ele sabia que era precisoutilizar
a idéia
dainércia
(ot
doimpents)
e
lazer
composição de movimentos; masele
acabava ¡ecaindoem
raciocl-nios
aristotélicos sobre movimentos circulares naturaise
davaimportância
a efeitos produzidos pelo arrastamento do ar, que nã'o são centrais.8
A
CARTA DE FRANCESCOINGOLI
EA
RESPOSTA DEGALILEO
Enl
1616, época em que Galileo estava em Roma, o padre Francesco Ingoli enviouJhe sob aforma
de uma carl.a (De situ et quiete Terrae) um ataque ao sistema de Copérni-co. Cópias dessa cartaforam
distribuídaspor
lngoli
a outras pessoas e logo essetraba-lho
tornou-se bem conhecid'o.No
59capítulo,
ao descrever evidências a favor de Pto-lomeu e de Aristóteles,Ingoli
(in
GALILEI ,Opere,1930-4,408)
refere-se às cartas deTycho a Rothman e descreve os argumentos do globo de chumbo solto do
alto
da torree
dostiros
de canhão para leste e oeste. Esses ainda eram considerados argumentos de-cisivos cont¡a Copérnico.Na época, Galileo
foi
incapaz de responder àcartz delngoli.
Tendo deixado Roma, Íalyez até tivesse se esquecido disso; mæ acarta nãofoi
esquecida em Roma, onde era consideradaa
respostafìnal
aos copernicanos.Em
1624, aoretornar a
essa cidade,80
Roberto de AndradeMartira
Galileo
percebeu que estava em posição incômoda e respondeu(LAtera
a FlancescoIngoli),
com8
anos de atraso, aos argumentos deIngoli.
Ele estava, entâ'o, preparado para oconflito.
Galileo discutiu a experiência da pedra solta
do alto
da tor¡e ou do alto do mastrodo
navio e
respondeu(n
Opere,19304, v.
6,
546; Opere, 1843, 100),tal
como o fez Giordano Bruno, etal
como elepróprio
o
fez
depoisnoDíólogo,
daseguintema-neira;Digo-vos, portanto, senhor Ingoli, que, quando o navio está em movimento, aquela pedra se
move também com igual fmpeto e que esse ímpeto não se perde quando aquele que a
segu-¡ava abre a mâo e a deixa em liberdade, mas [o lmpeto] se conserva indelevelmente nela e, assim, por causa dele, ela é capaz de seguir o navio e pela própria gravidade, não impedida por ele
Io
ímpeto horizontall, ela vai para baixo, compondo com ambos um belomovimen-to (e também proyavelmente circular) t¡ansversal e inclinado pa¡a onde caminha o navio; e assim vem a cair no mesmo ponto do navio em que cafa quando tudo estava parado.
Dessa
forma,
Galileo, como Bruno anteriormente, conseguiu dar uma boa descrição da experiência do navio,introduzindo
a idéia do ímpeto e de sua conservação e a inde-pendéncia dos dois moyimentos.É
a inércia que permite que a pedra continue a cair sempre no mesmo ponto, independentemente da velocidade do navio.Para responder ao argumento dos tiros de artilha¡ia para leste e para oeste, seria pre-ciso dispor de uma teoria mais elaborada
do
que a que Galileo desenvolveu até essaé-poca.
Ele
fugiu,
assim, a uma análise detalhada e escapou ao mesmo tempo aoargu-mento
dostiros,
propondo
o princípio
da relatividade (Opere, 1843, 100-3; Opere,l93O-4, v.
6,
546-9).Quanto ao movimento dos projéteis de artilharia, embo¡a eu não tenha feito a experiência, não duvido de que ocorra exatamente o que diz Tycho
(.
. .) mas adiciono (. . .) que isso acontecerá, porque é necessário que aconteça, esteja a Terra em movimento ou parada (. . .)E, para remover essa e todas as outras dificuldades desse gênero, como o voar dos
pdssa-rcs (. . .), para eliminar,
dþ,
todas essas aparentes dihculdades, digo que enquanto a .{gua,aTer¡ae o Ar, seu ambiente, fizerem em concordância as mesmas coisas, isto é,movam-se unidos ou fiquem parados juntos, necessüiamente todas as mesmas aparências ter¿fo de apre-sentar-se tanto em um quanto em
outo
estado, todas, dþo, as que se refe¡em aos movimen-tos indicados dos [corpos] pesados que caem,dos projéteis pa¡a o alto ou para este ouaque-le lado, do vôo dos pássaros para o nascente ou para o poente, do movimento de nuvens etc.
(.
. .) E quanto a esses [efeitosl indicados, tomai apenas esta experiéncia, que é muito capaz de encaminhar pela estrada correta, pois mostra, como disse, ser imposslvel tirar deles algo que sirva para resolver essa dtlvida lsobre o movimento ou repouso da Terral. No maior aposento existente sob a cobertu¡a de um grande navio, fechai-vos com algum amþo e aí fazei haver moscas, mariposase
animaizinhos voadores semelhantes; tomai também um grande vaso com água com peixinhos dentro, adaptai também algum recipiente alto que vdgotejando em um outro, embaixo, de boca estreita e, estando parado o navio, observai cui-dadosamente que aqueles animaizinhos voadores vâo com igual velocidade para todos os lados do cômodo; vereis os peixes vagando indife¡entemente para qualquer lado das bordas do vaso; os pingos cadentes entrarão todos no vaso colocado em baixo; e vós, ao jogar uma
coisa a vosso amigo, não deveis jogríJa mais fo¡temente para aquele lado do que para este,
quando as distâncias forem iguais; e, como se diz, com os pésjuntos, [os saltosl atingirâo espaços þuais para todos os lados. Tendo obse¡vado bem todas essas coisas, fazei mover o navio com a velocidade que se queira; e (desde que o movimento seja uniforme e não
flu-Galileo e o
hittclpio
daReløtívitlade
Bl tuante daqui e dali) vós não teconltece¡eis a menor mudança em todas as coisas inclicirdas; rìeûì por qualtlucr delas, nem por coisa alguml que esteja em vós, potlcreis assegurar-vos seo nayio cantinha ou cstd ¡rarirdo; srltando, vós passareis o mesmo espaço (lrle antes e não fa-reis saltos muio¡es p¿rr¿r a popâ do que para a proa pof mover{e o navio lnt¡ito velozmente, enrbo¡a dt¡¡ante o tenrpo em que estais no a¡ o assoalho corra em sentido contrd¡io ao vosso
salto; e, atirando unr
fiuto
ao amþo, nâo se¡á preciso atirá{o com nrais força para atingi-lo, se elc estiver nû popa, do que na situaçâo oposta; as gotas cairão no vaso inferior, senr cai¡ urua só para e popa, cmbora, enquanto a gota cstivcr no ar, o nayio co¡ra vários palmos; ospeixes nã'o ficarão mais fatigados ao nada¡ pâra a parte frontal do que pa¡a a parte traseira do v¡Ìso, mas com igual agilidade correrão a
tomil
o alimento que colocardes para eles em qualquer lado rla borda do vaso; e, finalmente, as maÌiposas e moscas fica¡ão a voa¡ indife-rentemcnte para todos os lados e na--o se retirarâo para o lado da ¡npa, como se ficassem can-sadas ¡ror nìanter a veloz cor¡ida do navio, do qual ficaram muilo tempo separadas, isto é, desde c¡ue fica¡am suspcnsas no ar: e se, crestando uma pequena gota de incenso, fizerdes urn pouco de fumaç:a, vereis que ela vai para o alto e al se detém c como ufna pequena ntl-\,ern rnove-se indifcrcntemenle tanto para este quanto pafa aquele lado. E se vós me pergun-ta¡des a r.não de todos esses elèitos, responderei por enquanto: pofque, sendo o moûtnento universal do navio coulunicado ao ar e a todas as coisas que nele estdo contidas, e não sendo lesse nrovimentol contrúrio à inclinaçalo natural delas, ele [o movimento] se consewa indele-vehncnte nclas Inas coisasl-
de outra vez vos da¡ei respostas particulares e explicadas de-talhadamente. Ora, quando tive¡des visto todas essas cxperiências e que esses movinrentos, embora acidentais, mostranr o mesmo resultado, tanto durante o moyi¡nento do navioquan-to quando cle está parado, nâo deixareis de duvida¡ que ele deve aco¡ìtecer em torno do glo-bo terrestre, se¡nprc que o ar canrinhe junto conl ele? þ,ainda mais, porque esse movimento universal, que no navio é acidental, nós o colocamos na Terra e nas coisas tefrestres como o seu [movimento] próprio e natural.
Essa longa citaçâ'o, da resposta
a Ingoli,
esçritaem
1624, contém, com pequenas diferenças,a
mesma descrição que Galileoincluiu
noDitilogo (GALIL"EI
1964,v.
2, 372;Diolo&te,
186), pela voz de Salviati,oito
anos mais tarde.É
curioso que os his-toriadores nâ-o tenham notado ainda esse precedente.9
NATUREZA
E ENUNCIADO DO PRINCIÞIO DERELATIVIDADE
É fácil
perceber a conexâ'o estreita entre a experiênciado
navio eo
tratado de Ludo-vico delle Colornbe. Delàto,
aqui encontramos inseridas duæ das experiências propos-taspor
Lurlovico contrao
movimento da Terra: os saltos para leste e para oeste e os peixcs nadando paraum lado
e
paraoutro.
Taluez uma pesquisâbibliográfica
mais cuidadosa nìostrasse (lue tarnbém os outros elementos da descriçâ'o de Galileo teriam sido, na época, sugeridos por outros autores.Note-se que,
ao
tentarjustificar
a experiênciado
navio, Galileo oscila ainda entre duas explicitações. Primeiramente,ele afi¡ma que todos
os corposdentro
do
navio possuemo
nresfno movirnentoinicial
e que esse movimento se consefva,ou
seja, usa a noçâ-o de inércia, que deveria ser completada aquipor
argumentos sobre a composi-ção de rnovimentos. Mas, depois, ao relacionar a experiência do navio com o que ocor-re com a Terra, elevolta
adizer que o movimento de rotação terrestreérutural,e
quepor
isso é ainda mais plausível que esse movimento natural comum nalo seja gbservado. E importante observar c¡ue no Diálogo essas justificativasnlo
existem.82
Roberto deArdrade
lvÍ,zrtinsNa
argumentaçâ'o,Galileo
poderia simplesmenteexpor a
experiênciado
navio e, semexplicar
o
que ocorre no navio,tomal
o princípio
de ¡elatividade como umalei
tirada
ãa experiência eutilizá-lo
para destruir os argumentos contrao
movimento da Terra. Mas ele não ofeze
tentou compreender os efeitos queocollem
no navio, o que, contudo, não era capazde
fazer com toda clareza. Além disso, não é de forma algumaclaro se
ele reøIizou essas experiências.É
mais provável que nâ'o'Em primeiro
lugar,é o seu enunciado?
Näo parece que algum
histo¡iador
se tenha preocupado com esse ponto, até agora.O próprio
Galiieo
não
usavaa
expresslio"princípio da
¡elatividade"
e é
possível colõcai-seem
dúvida seele
concebeu algumaexplicitação
clara detudo
o
que estácontido
na experiênCia do navio. Parece'me, no entanto, que é possível encontrar uma frase sua, que pata ele representaum princípio
básico, e que podemosidentificar
com o"princípiã
de relatividade deGalileo".
É a seguinte:'O movimento
conum
é comoinexistente'(Il moto
comune è come senon
fusse). Vamos tentarjustificar
a escolha dessa frase como expressão doprincípio
de rela-tividade de Galileo.Em primeiro
lugar, no Diólogo(1964,v.2,373;Dialogue,187),
logo
após descre-ver aeiperiência
do navio econcluir
que os efeitos são iguais com o navio parado ou em movimento, ele adiciona:Í\a¡3zão de toda essa correspondência de efeitos é que o movimento do navio écomum a
todas as coisas nele contidas e também ao ar.
Galileo nâ-o fala aqui nem em inércia, nem no movimento natural da Terra.
A
cita-ção acima éaúnica
explicação gueele fornece, noDitilogo,
paraa igualdade dosefei-tos.Em
outros pontos da mesma obra, aparecem de forma destacada frases que repetem a mesma idéia geral. Em vários locais, elas aparecem comotítulos
marginais de certas passagens, que resumem suæ idéias principais' Vatnos citar algumas delas:O movimento, para as coisas que se movem igualmente com ele, é como se na'-o existisse, e
produz efeitos em relaçâo às Coisasàsquaisfalla [essentovimento] (Dialogo,v'2,271,mar gem).
Galileo e o Prirrcipio da
Relttivi¿øde
83 Notai:o mo
nto, atna co¡no nlovitltclrto ern rehçâo às coisasquenâ'oopqrteparticipartrdclc,nadaacontece,eécomose
cle nÍo existi
Caso
notívcl
ue o nlovimento comum nâo procluz efeitos(Dil-gcm).
ö
nlãuí,rlc,rto, ontlc é contum, é como inexistente (Dialogo,v'3,149, margem)'(...)tattransporteécomumavóseatodasascoisaster¡est¡es,eomovimento,ondeé
comum, é como se na-o existisse (Dialogo, v. 3' 149 ).
lresitaçõcs.
Se
o
princípìo tla
relativiilade
de
G¿lileo
fosse apenas lnecânico, seria possível tentarjuitificá-lo
atravésde
leis rnecânicas. Na carta aIngoli,
Galileo parece preocu-par-se apenascom
movinìelìtose
tentajustificar
o princípio
de
relatividade atravésot;nLlL¡t,
Dialogo,v.2,p.35l.liimport.anteobscrva¡r¡uecstrcastrêscitaçõcsprececlentesantecetlcttt a
"xp..iôn.ia do navio, no
texìo
t7o Ditilogo, o (luc t)itrcce intlicar r¡uc a experiência ilustra o ¡rri¡cí¡ri<.r d¡ rclatividatie, mas que o princlpio d evitlurtte por si prtlprio, rraìo exigintlo cle-nt()lìritrilçíì-o .84
Roberto de Andrude Martinsda inércia, como vimos. No
Diálogo,
ele alterao final
da descrição ejustifica
aexpe-¡iência
do
navio
apenaspelo princlpio da
relatividade, semjustificar
esseúltimo
e
tomando,
talvez,como
evidente a impossibilidade de senotar
efeitos de um movi-mento comum.Por tuclo isso, parece-me que, na sua versâ-o
final, ou
seja, no Diólogo,o princípio
de relatividadede
Galileo adquirea
natureza deum princípio
evidente apriori,
quienão
pode
ser deduzido de out¡as leis teóricas ou experimentais, embora seja testável experimen talmen te .lOREPERCUSS,Ã,O DO
PRINCÞIO
DERELATIVIDADE
Sem querer ser
completo,
mas apenaspua
ftnalizaro
presente estudo, desejoacres-centar algumas observações rápidas sobre as reações
ao
princípio
de relatividade deGalileo, na época posterior ao
Diábgo.
Em
1633, apenasum
ano apósa
publicaçãodoDirilop,
Antonio
Rocco(.E'serci-tazioni
filosofiche)
publicavaem
Venezaum
ataque aGalileo.
A
argumentaçã'o deRocco é interessantíssima e permite observar o grande poder argumentativo da física
aristotélica.
Sobreo
ponto
que nos interessa, Rocco descreve a experiência do nayioe
interpreta
-
deboa
fé,
parece-me-
a idéia de Galileo como se a impossibilidade de se observar efeitos do movimento do navio fosse devida ao transporte de ar dentrodo
cômodo.
Defato,
Galileo enfatizava esse aspecto,no
seuliv¡o,
e não era absurdo entender dessa forma sua argumentação. Rocco(in GALILEI
,Opere,l843,
153) entâ'oafi¡mava que, se dentro do aposento do navio, alguém soltasse
"um
grandeprojétil,
elenão seria sustentado
por
ele[pelo ar],
mas cairiano
fundo no
navio e não seguiria ornovimento
do ar
interno, como
é
manifesto".
Negava, assim,o
princípio
de relati-vicladede
Galileo. Rocco
admitia
que
asgotículas
de
água podem acompanhar o movimento do ar, mas negava que isso ocorra no caso de uma grande bola de chumbo eafirmava que, nesse caso, seu movimento aparente não se¡ia vertical.
Em outro ponto
(in
GALILEI 1843,256)
Rocco
utilizou
umaoutra
evidênciaexperimental
contra
o
princípio
de
relatividadede Galileo
-
suponhamos que um pássaro esteja voando, queum
atirador aponte sua arma parao
pássaro e a mova detal
forma
que
acompanheo
vôo.
Pode-sedizer
que
o
movimento relativo
é
nulo (principalmente seo
pássaro voar emcírculo
emtorno
do atirador); nìas, se ele atirar, sua bala passarápor
trás do pássaro não o atingindo, como garantiram a Rocco muitos caçadores experientes; para acertá-lo, seria preciso atirar à sua frente, o que prova que, mesmo quando o movimento é comum, ele pode ser sensível.Esse
último
argumentode
Roccoé
irrespondível,dentro
da visão de Galileo. Defato,
Rocco usavaum
caso demovimento
de rotação e, nesse caso, como sabemos,o princípio
de
relatividade deGalileo nâo
é
válido. Ora,
a Terra gira;portanto,
em rigor, Galileo não conseguiv fazer o que pretendia: tornar inobse¡vável o movimento da Terra.É
interessantenotar
que Galileo estudouo livro
de Rocco e anotou nas margensmuitas
observações; mas ele nadadiz
nos pontos citados acima.Daí
concluo que ele não possuía uma boa resposta para a crítica de Rocco.Galíleo e o Princípío da
Relattvidade
85 Tambémé
interessante estudara
reaçãode
Descartes âs idéiasde
Galileo. Em 1634, Mersenne escreveu-lhe, descrevendo as idéias doDidlop
de Galileo, que Des-cartes ainda não havialido.
A
reaçâ'o que poderíamos esperar de Desca¡tes se¡ia decompreensão
e
aprovação;mas ele
respondeua
Mersenne (DESCARTES,C.orres-p o nd anc e, 287 -8, ab
il
I I 63 4) :Quanto às experiências de Galileo que me enviais, eu as nego todas, embora nâo juìgue por isso que o movimento da Terra seja menos proviível. Não
é
que eu näo aceite que aagitaçâo de uma carroça, de um navio ou de um cavalo permaneça ainda de alguma forma na pedra, depois que ela é lançada de cima [delesl; mas h¿í ouüas razôes que impedem que ela continue tâo grande lquar]to antesl.
lì,
quanto à bala de canhão atirada do alto de uma torre, ela deve tomar muito mais tempo para descer do que se a deixássemos cair; pois ela encontra mais a¡ em seu caminho, que a impede nalo só deir
paralelamente aohorizonte, mas também de descer,
Descartes negava
a
inérciae a
independência dos movimentos vertical ehorizon-tal.
Em
outra
carta posterior
(DESCARTES, Corresporulance,303,
agosto/1634), Descartes, após ler olivro
de Galileo, reafìrmava sua opiniã'o.Posteriormente, Descartes
alterou
sua posiçãoe incluiu
nos
seusPrincípios
dafrbsofa
(Principesdelaphilosophie,Il, $ l0-5,524-32,
S3Z-9)aleidainé¡ciaeo
princípio
da relatividade dos movimentoscomo
leis básicas. Oprincípio
da relativi-dade de Descartes também não estabelece diferençaentre movimento retilíneo
uni-forme
e
movimento
de
rotação.
Foi
somentena obra de
Newton
(Møthanatìcal principles,p.
19-
Axioms,
or
lawsof
motion, Corollary
V)
queo princípio
da rela-tividade adquiriu sua forma moderna.LISTÄ BIBLIOGRÁ,FICA
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Cranducadi
Toscana. Firenze, SocictàI'jitrice
lìiorcntina, 1843. V. 2.12
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86
Roberto de Andrade Martins 13-
Dialogo
di
Galileo Galilei Linceo-
Matematico sopraordinario dello studiodi
Pisa-e filosofo, e matematico primario del serenissimo Gran Duca di Toscana
-
dove ne i congressi di quattro giornate si disco¡re sopra i due massimi sístemi del mondo-
tolemaico e copernicano-
proponendo indeterminatamente le ragione filosofiche, e naturali tanto per I'una, quanto per l'altra parte. Fiorenza, Landini, 1632.14
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. Dialogo
di
Galileo Galilei Linceo dove ne i congressi di quattro giornate si discorre soprai due massini sistemi del mondo
-
tolemaíco e copernicano.In:GALILEI, Galileo. Opere. Ant. Pietro Pagnini. Firerrze, Salani, 1964,Y.2e3,
15
-
. Dialogue concerning the two chief world systems
-
Ptobmaíc and Copernican. T¡ad. S.Drake. 2. ed. Berkeley, Unirærsity of Califo¡nia, 1967.
16-
.
Lettera a Flancesco Ingoli Ravenøte (1624). In: GALILEI (1843),p.64;
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-
. Ttattato della sfera owerocosmografia
(-
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l8
-.
Trattato delle meccaniche (-1593). In:GALILEI (19304),
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l9
GROSS, W. E. Relativity of motion: from Occamlo
Galileo. Ann. Sci. 3l : 529-45, l9'14 .20 INGOLI, Francesco, De sítu
et
quiete terrae contra Copernici systema-
disputatio-
addoctissimum mathematicum D. Galilaeum Calilaem (1616). In;GALILEI(1843),p.51;GALI-LDI (19304), v. 5, p.403.
2l
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24 NEWTON, lsaac. Mathematical principles
ol
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27 ROCCO, Antonio. Esercitazioni Íilosoliche (1633), con postille
di
Galileo.In:
GALILEI (1843), p. 117; GALILEI (19304), v. 7, p. 663.28 SHEA, William R. Galileo's intelectual revolution.Middle period,