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Apostila 03 -COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

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Academic year: 2021

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1 CURSO DIREITO

Disciplina: DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO - 4ª Série Professor: FLAVIO ERVINO SCHMIDT

APOSTILA 03 – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Sumário:

2.2. Competência da Justiça Laboral 2.2.1 Competência em razão da matéria 2.2.2 Competência pessoal

2.2.3 Competência funcional 2.2.4 Competência territorial 2.3 Conflito de jurisdição

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO 2.2. Competência da Justiça Laboral 2.2.1 Competência em razão da matéria

AÇÕES ORIUNDAS DA RELAÇÃO DE TRABALHO: análise do art. 114 da CF.

Inciso I – “as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público

externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”

Com o advento da EC 45/2004, a competência material da Justiça do Trabalho foi significativamente ampliada, alcançando não apenas as ações decorrentes da relação de emprego, como também aquelas oriundas da relação de trabalho.

RELAÇÃO DE EMPREGO x RELAÇÃO DE TRABALHO

Pode-se dizer que a relação de trabalho é gênero, da qual a relação de emprego é uma de suas espécies. Assim, podemos dizer que toda relação de emprego é uma relação de trabalho, mas nem toda relação de trabalho é uma relação de emprego.

Relação de trabalho: é toda e qualquer atividade humana em que haja uma prestação de trabalho. Ela diz respeito a qualquer trabalho prestado, com ou sem vínculo empregatício, por pessoa física a um tomador de serviços. Exemplos: autônomo, eventual, empreitada, avulso, cooperado, doméstico, representação comercial, temporário, estágio, etc.

Na relação de trabalho verifica-se a presença de três elementos: o prestador dos serviços, o tomador dos serviços e o trabalho (subordinado ou não).

Relação de emprego: é um tipo específico de relação de trabalho, caracterizada pela prestação do trabalho subordinado, prestado por um tipo especial de trabalhador: o empregado.

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Na relação de emprego verifica-se os três elementos básicos são: o empregado, o empregador e o emprego.

A relação de emprego é proveniente de um contrato de trabalho, estabelecido entre empregado e empregador, cujas características básicas são: subordinação jurídica do trabalhador ao empregador; não eventualidade; onerosidade (trabalho remunerado) e pessoalidade do trabalhador (sempre pessoa física) na prestação dos serviços (interpretação dos arts. 2º e 3º da CLT).

A ampliação foi apenas processual: importante destacar que a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as causas oriundas da relação de trabalho não significa que os direitos sociais trabalhistas previstos na CF (arts. 7º, 8º, 9º, 10 e 11) e na CLT tenham sido estendidos aos demais trabalhadores não-empregados.

A tutela conferida pela EC 45/2004 aos trabalhadores não-empregados foi apenas de caráter processual, e não de direito material.

a) Relação de trabalho avulso

Atualmente, pode-se extrair a competência para julgamento do trabalho avulso no art. 114, I, da CF. Mas antes mesmo da EC 45/2004, o art. 643 da CLT, com redação dada pela Lei 7.494/86, já previa a competência da Justiça do Trabalho para dirimir os conflitos entre trabalhadores avulsos e seus tomadores de serviços.

Mais adiante, através da Medida Provisória 2.164-41, de 24/08/2001, foi acrescentado o § 3º ao art. 643 da CLT, o qual prevê o seguinte: “A Justiça do Trabalho é competente, ainda, para processar e

julgar as ações entre trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão-de-Obra - OGMO decorrentes da relação de trabalho”.

A CF conferia tratamento isonômico entre o avulso e o empregado (art. 7, XXXIV, da CF), mas mesmo assim os conflitos entre o avulso e seu sindicato eram de competência da Justiça Estadual Comum.

Agora, porém, com o art. 114, III, da CF, a questão está superada. b) Relação de trabalho eventual

O trabalhador eventual não é tutelado pelo Direito Material do Trabalho. De acordo com o art. 3º da CLT, a não-eventualidade é um requisito do vínculo de emprego, logo, o eventual não é considerado empregado.

Antes da EC 45/2004, as ações de trabalhadores eventuais somente seriam de competência da Justiça do Trabalho caso houvesse pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, o que obrigaria o juiz do trabalho a adentrar no mérito da demanda para saber se efetivamente se tratava de trabalhador empregado ou avulso.

Hoje, com a nova redação dada ao inciso I do art. 114 da CF, não há mais dúvida de que a ação do trabalhador eventual deve ser processada e julgada pela Justiça do Trabalho.

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c) Relação de trabalho autônomo e relação de consumo

As espécies de trabalho autônomo previstas no Código Civil são: a locação de mão-de-obra (atual prestação de serviços), o mandato e a empreitada. Essas relações eram de competência da Justiça Estadual Comum até a EC 45/2004 (exceto a empreitada).

Atualmente, a prestação de serviços e a empreitada são de competência da Justiça Laboral. Mesmo antes da EC 45/2004, a empreitada já era prevista na CLT como sendo competência da JT (art. 652, “a”, III, da CLT).

Porém, no que tange à relação de consumo, embora haja alguma divergência, o entendimento majoritário é no sentido de que tais ações são de competência da Justiça Estadual Comum.

Isso porque a relação de consumo não é uma relação de trabalho. O trabalhador autônomo que se apresentar como fornecedor de serviços ou produtos e quiser cobrar honorários de seu cliente (um supermercado, por exemplo), estará tutelado pelo Código de Defesa do Consumidor, sendo sua relação, portanto, de consumo.

RELAÇÃO DE TRABALHO x RELAÇÃO DE CONSUMO

Vamos imaginar um exemplo: um médico que trabalha como autônomo em uma clínica especializada, recebe honorários dessa clínica e presta seus serviços ao paciente. Nessa situação, temos duas relações distintas. Observe:

1ª relação – entre o médico (pessoa física) e a clínica (empresa tomadora dos serviços) há uma relação de trabalho, cuja competência para processar e julgar a ação que vier a surgir será da Justiça do Trabalho.

2ª relação – entre o médico (pessoa física fornecedora dos serviços) e o paciente (consumidor dos serviços) há uma relação de consumo, pois o paciente aqui é uma pessoa física que utiliza os serviços prestados pelo médico como usuário final.1 Nesse caso, a competência para dirimir eventual ação daqui decorrente será da Justiça Estadual Comum.

Com relação à cobrança de honorários advocatícios, ainda há quem entenda se tratar de relação de trabalho.

O Enunciado 23 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, por exemplo, firmou entendimento no sentido de que a cobrança dos honorários advocatícios contratuais deve ser feita na Justiça do Trabalho, por não se tratar de relação de consumo. Entendeu-se, inclusive, que a relação de consumo, por si só, não afastaria o conceito de trabalho abarcado pelo art. 114 da CF.

No entanto, para dirimir os diversos conflitos de competência suscitados envolvendo essa questão, o STJ editou a Súmula 363, nos seguintes termos: “Compete à Justiça estadual processar e julgar a

ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente”.

Atualmente, então, os honorários devem ser cobrados na Justiça Estadual.

1 De acordo com o art. 2º, do CDC, consumidor “é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como

destinatário final”. Já o tomador é a pessoa física ou jurídica que utiliza os serviços prestados por um trabalhador autônomo não como destinatário final, mas sim como intermediário.

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d) RELAÇÃO DE TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA d.1 Servidor estatutário

Muito embora o texto do inciso I do art. 114 da CF preveja que Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE ajuizou ADI (n. 3.395) questionando esse trecho do dispositivo constitucional trazido pela EC 45/2004.

O STF concedeu a liminar SUSPENDENDO “toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do

art. 114 da CF, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a [...] apreciação [...] de causas que [...] sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo”.

Posteriormente, a liminar foi referendada pelo Plenário, para fixar que “O disposto no art. 114,

I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária” (DJU 10/11/2006).

A decisão do STF teve efeitos ex tunc e eficácia erga omnes. d.2 Servidor temporário

São os servidores contratados por tempo determinado, nos termos do art. 37, IX, da CF (para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público).

Atualmente, o critério adotado pelo STF para apreciar a questão é objetivo: existindo lei (municipal, estadual ou federal) dispondo que o regime do servidor temporário é administrativo/institucional, a competência para apreciar a ação é da Justiça Comum (estadual ou federal, conforme o caso). Vide RCL 4489 AGR/PA, julgada pelo STF em 21/08/2008.

O entendimento anterior era no sentido de que a causa de pedir e o pedido definiriam a competência, ou seja, se um servidor temporário pretende demonstrar a nulidade da contratação temporária; pretende demonstrar que tinha efetivo vínculo de emprego (causa de pedir); e faz pedidos trabalhistas, como FGTS, férias, 13º salário, etc (pedidos); a ação, nesse caso, seria de competência da Justiça do Trabalho, uma vez que, se a JT tem a competência para declarar a existência de vínculo de emprego, deveria ter também para declarar a inexistência do vínculo. Esse era o entendimento, proclamado inclusive pelo TST através da OJ 205 da SDI-1, cancelada pela Resolução 156/2009 do TST.

COMPETÊNCIA MATERIAL. JUSTIÇA DO TRABALHO. ENTE PÚBLICO. CONTRATAÇÃO IRREGULAR. REGIME ESPECIAL. DESVIRTUAMENTO (cancelada) - Res. 156/2009, DEJT divulgado em 27, 28 e 29.04.2009

I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho dirimir dissídio individual entre trabalhador e ente público se há controvérsia acerca do vínculo empregatício.

II - A simples presença de lei que disciplina a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, inciso IX, da CF/1988) não é o bastante para deslocar a competência da Justiça do Trabalho se se alega desvirtuamento em tal contratação, mediante a prestação de serviços à Administração para atendimento de necessidade permanente e não para acudir a situação transitória e emergencial.

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Apesar disso, a questão relativa ao servidor público temporário ainda está pendente de julgamento pelo STF (Rcl 4.351).

d.3 Servidor celetista

Neste caso (servidor contratado pela Administração Pública direta ou indireta, mas regido pela CLT), a competência é da Justiça do Trabalho.

Com relação aos “empregados públicos”, ou seja, os servidores de empresas públicas e sociedades de economia mista, não há dúvida: a competência é da JT.

Com relação aos servidores da administração direta, autárquica e fundacional, é preciso examinar a lei que institui o regime. Se celetistas, a competência é da JT. Se estatutários, a competência é da Justiça Comum, estadual ou federal, conforme o caso.

Sobre o assunto, vale conferir o teor das súmulas do STJ abaixo transcritas.

Súmula 97 do STJ: “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor

público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime jurídico único”.

Súmula 137 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor

público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário”.

Servidor público e regime jurídico único

Com relação ao regime jurídico único, o STF, através da ADI 2.135, suspendeu a vigência do art. 39, caput, da CF, com redação dada pela EC 19/1998, de modo que o texto do art. 39 voltou a ter a redação dada pela EC 18/1998, que prevê o seguinte:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.

Assim, a partir da publicação do acórdão do STF, cujos efeitos foram ex nunc, como os entes da administração só podem adotar regime jurídico único, a Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar as ações daí provenientes.

Inciso II – “as ações que envolvam exercício do direito de greve”

De acordo com o art. 2º da Lei 7.783/89, que regulamentou o art. 9º, da CF:

Art. 2º. Para fins desta lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviço a empregador.

A greve é um instituto inerente à relação de emprego. Por isso, a própria Lei 7.783/89 prevê, em seu art. 8º, que:

A Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência das reivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão.

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A respeito da abusividade da greve, o TST editou a Súmula 189: “[...] A Justiça do Trabalho é

competente para declarar a abusividade, ou não, da greve”.

Com a EC 45/2004, houve a recepção tácita do art. 8º da Lei de Greve.

Na competência da JT estão abrangidos os servidores celetistas e os temporários quando o regime for o celetista.

No caso de servidor estatutário, a competência permanece com a Justiça Comum, estadual ou federal, conforme o caso, por conta da decisão proferida pelo STF na ADI 3.395, já citada acima, que suspende TODA E QUALQUER interpretação dada ao inciso I no que tange aos servidores públicos da administração pública direta, autárquica e fundacional.

III – “as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores,

e entre sindicatos e empregadores”

- disputa sobre representação sindical (em razão da matéria); - ações entre sindicatos (em razão da pessoa);

- ações entre sindicato e trabalhadores (em razão da pessoa); - ações entre sindicato e empregadores (em razão da pessoa).

Até a EC 45/2004 essas ações eram de competência da Justiça Comum, por uma razão muito simples: não há relação de emprego. Agora, com a nova emenda, todas essas ações passaram à competência da JT, seja em razão da matéria, seja em razão da pessoa. Nesses casos, não importa mais que não há relação de emprego. O importante, no caso, é a “pessoa” (sindicato), ou seja, esta é um competência definida em razão da pessoa.

Além disso, com o advento da Lei 8.984/95, a JT passou a ser competente para “conciliar e

julgar os dissídios que tenham origem no cumprimento de convenções coletivas de trabalho ou acordos

coletivos de trabalho, mesmo quando ocorram entre sindicatos ou entre sindicatos de trabalhadores e

empregador”.

Com relação à contribuição sindical, a competência passou a ser da JT também somente com a EC 45/2004. Antes era de competência da JC, conforme Súmula 222 do STJ (“Compete à Justiça Comum

processar e julgar as ações relativas à contribuição sindical prevista no Art. 578 da CLT”).

Em suma, as ações relativas a contribuições sindicais, confederativas e assistenciais, à representação sindical, entre sindicatos e, inclusive a eleições sindicais, todas essas, são agora de competência da Justiça do Trabalho.

IV – “os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado

envolver matéria sujeita à sua jurisdição”

A JT passou a ser competente para processar e julgar os mandados de segurança, não só contra ato judicial prolatado em processo trabalhista originário (quando não couber outro recurso), mas também contra ato administrativo que se enquadre na hipótese do inciso VII do art. 114 da CF, bem como contra

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ato praticado por autoridade da Justiça do Trabalho (como, por exemplo, contra ato do Diretor de Secretaria e do Juiz do Trabalho).

V – “os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o

disposto no art. 102, I, o”

Na CLT, os conflitos de competência são chamados de conflitos de jurisdição (artigos 803 a 812).

De acordo com o art. 803 da CLT, os conflitos podem ocorrer entre: - Varas do Trabalho e Juízes de Direito investidos na jurisdição trabalhista; - Tribunais Regionais do Trabalho;

- Juízos e Tribunais do Trabalho e Órgãos da Justiça Ordinária; - Câmaras do Tribunal Superior do Trabalho.

São legitimados para suscitar o conflito (art. 805) os próprios Juízos ou Tribunais do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e/ou as partes interessadas, pessoalmente ou por meio de seus advogados.

É importante observar que, se a parte interessada em suscitar o conflito já tiver oposto na causa exceção de incompetência (relativa) ou mesmo alegado a exceção de incompetência em preliminar da contestação (absoluta), não poderá mais suscitar conflito de competência, pois, neste caso, teria havido preclusão lógica (vide o teor do art. 806 da CLT).

Os conflitos serão resolvidos (art. 808 da CLT):

- Pelos Tribunais Regionais, quando suscitados entre Varas do Trabalho, ou entre Juízos de Direito investidos na jurisdição trabalhista, ou ainda entre umas e outras, nas respectivas regiões;

- Pelo Tribunal Superior do Trabalho, quando suscitados entre Tribunais Regionais, ou entre Varas do Trabalho e Juízes de Direito sujeitos à jurisdição de Tribunais Regionais diferentes.

O art. 114, V, da CF, com redação dada pela EC 45/2004, dispõe que é da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar os conflitos de competência entre os órgãos da justiça trabalhista, ressalvado o art. 102, I, o, da CF.

O art. 102, I, o, da CF, prevê que é competente o STF para processar e julgar os conflitos entre: - O STJ e quaisquer tribunais;

- Tribunais Superiores;

- Tribunais Superiores e qualquer outro tribunal.

Já ao STJ cabe julgar os conflitos de competência entre:

- Quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, da CF; - Tribunal e juízes a ele não vinculados;

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Quanto ao procedimento, os artigos 809 e 810 da CLT regulam o processamento do conflito de competência na esfera trabalhista.2 Mas os regimentos internos de cada Tribunal também podem conter regras específicas sobre o procedimento a ser adotado.

VI – “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de

trabalho”

Desde que a controvérsia seja decorrente de uma relação de trabalho, a Justiça do Trabalho passou a ser competente para apreciar a demanda.

Mas mesmo antes da EC 45/2004, já havia entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que, se o dano moral fosse oriundo de uma relação de emprego, a ação deveria ser julgada pela JT, ainda que o juiz tivesse que aplicar normas de Direito Civil (direito material), isso com base na antiga redação do art. 114, I, da CF, primeira parte: “Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios

individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores [...]”.

Agora, com a EC 45/2004, passaram à competência da JT não apenas as ações entre empregados e empregadores, de danos morais, como também as de danos materiais. Também podem pleitear na JT outros trabalhadores não empregados (eventuais, autônomos, etc.), em face de seus tomadores de serviço, desde que não haja lei dispondo expressamente ser a competência da Justiça Comum.

VII – “as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos

órgãos de fiscalização das relações de trabalho”

Era da Justiça Federal, por força do art. 109, I, da CF, a competência para apreciar causas envolvendo penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização do trabalho, tendo em vista o interesse da União na causa.

No entanto, com a EC 45/2004, que acrescentou o inciso VII ao art. 114, prevendo norma especial, tais ações passaram a ser de competência da JT.

Com relação ao procedimento aplicável à cobrança judicial das multas, de acordo com o art. 642 da CLT, tal cobrança deve obedecer à legislação aplicável à cobrança da dívida ativa da União, ou seja, à Lei 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).

Além disso, tramita no Congresso Nacional um projeto de Emenda Constitucional (PEC 29/2000) que acrescentaria um inciso XI ao art. 114 da CF, prevendo a possibilidade de execução, de ofício, das multas por infração à legislação trabalhista reconhecida nas sentenças que a JT profere. Certamente, essa alteração foi impulsionada pela melhoria da eficácia da arrecadação estatal tida com a EC 20/1998,

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Art. 809 da CLT – Nos conflitos de jurisdição entre as Juntas e os Juízos de Direito observar-se-á o seguinte:

I - o juiz ou presidente mandará extrair dos autos as provas do conflito e, com a sua informação, remeterá o processo assim formado, no mais breve prazo possível, ao Presidente do Tribunal Regional competente;

II - no Tribunal Regional, logo que der entrada o processo, o presidente determinará a distribuição do feito, podendo o relator ordenar imediatamente às Juntas e aos Juízos, nos casos de conflito positivo, que sobrestejam o andamento dos respectivos processos, e solicitar, ao mesmo tempo, quaisquer informações que julgue convenientes. Seguidamente, será ouvida a Procuradoria, após o que o relator submeterá o feito a julgamento na primeira sessão;

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que passou para a JT a competência para executar, de ofício, as contribuições previdenciárias decorrentes das sentenças que profere.

VIII – “a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus

acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”

Aqui, estamos falando da competência material executória da JT, que pode ser dividida em duas espécies: para executar suas próprias sentenças e para executar as contribuições previdenciárias decorrentes.

Com relação à execução das próprias sentenças, tal competência resulta de uma relação lógica, isto é, quem é competente para processar e julgar, é competência também para executar o seu julgado.

Já no que tange à execução das contribuições previdenciárias, a competência para tanto foi trazida para a JT com a EC 20/1998, que na época acrescentou o § 3º ao art. 114 da CF, prevendo que a JT é competente para “executar, de ofício, as contribuições previdenciárias previstas no art. 195, I, a, e II, e seus

acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. Porém, mesmo antes da emenda, já havia

decisões do TST sinalizando nesse sentido (RR 114.522/94.4, Min. Afonso Celso, julgado em 20/10/1994). A EC 45/2004 não alterou o conteúdo da norma, apenas a reposicionou, passando do § 3º para o inciso VIII do art. 114.

Por “sentença”, entende-se tanto a decisão que põe fim à lide (com procedência total o parcial), quanto o termo de conciliação, que é considerado pela CLT uma decisão irrecorrível para as partes (art. 831, parágrafo único, da CLT).

Por “executar, de ofício”, entende-se que o juiz do trabalho pode praticar todos os atos necessários à execução: quantificação da execução, intimação e citação para pagamento, penhora ou arresto de bens, expropriação de bens e satisfação do crédito do exequente.

Mesmo com o teor do parágrafo único do art. 876 da CLT, cuja redação foi dada pela Lei 11.457/2007,3 o entendimento atual relativo às contribuições previdenciárias decorrentes das ações trabalhistas encontra-se exposto na Súmula 368 do TST, in verbis:

Súmula nº 368 do TST - DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO (redação do item II alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.04.2012) - Res. 181/2012, DEJT divulgado em 19, 20 e 23.04.2012

I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às limita-sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998)

II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010.

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Art. 876, parágrafo único, da CLT: Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido.

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III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. (ex-OJs nºs 32 e 228 da SBDI-1 – inseridas, respectivamente, em 14.03.1994 e 20.06.2001)

IX – “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”

Trata-se da chamada competência material derivada, a qual decorre do texto previsto no inciso IX do art. 114 da CF, ou seja, “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”.

Há quem entenda que o inciso IX já está implicitamente contido no inciso I, já prevê a competência para “as ações oriundas da relação de trabalho”,4 de modo que o inciso IX ficaria então completamente sem sentido.

Por outro lado, há o entendimento de que os incisos I e IX não se confundem, mas se complementam. Para essa corrente, o inciso IX permitiria que a competência trabalhista fosse ampliada por lei ordinária, autorizando uma adaptação da regra geral prevista no inciso I a novos fatos sociais que venham a aparecer ao longo do tempo.5

OUTRAS QUESTÕES IMPORTANTES SOBRE A COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Ações oriundas da relação de emprego

Danos morais individuais e coletivos: antes mesmo da EC 45/2004, o STF já havia se manifestado no sentido de que a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais individuais e coletivos, quando decorrente de um relação de emprego (conflito de competência CJ 6959.6, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 23/05/1990, DJU 22/02/1991).

No mesmo sentido, o TST editou a Súmula 392: “DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO

TRABALHO. Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando recorrente da relação de emprego”.

Com relação aos danos morais coletivos, já há previsão constitucional e legal indicando a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar a ação civil pública (art. 129, III, CF/88, c/c arts. 6º, VII 83, III, e 84, da LC 75/93, c/c art. 1º, da Lei 7.347/85).

Acidente do trabalho e dano moral em ricochete: atualmente, entende-se que as ações propostas por empregado ou seus sucessores contra empregador, fundadas em acidente de trabalho, são da competência da Justiça do Trabalho.

Mas o entendimento não era exatamente esse. Logo após a EC 45/2004, o STF decidiu, por maioria de votos, que a competência para processar e julgar as ações de acidente do trabalho era da Justiça Estadual Comum, mesmo que o autor pleiteasse danos morais decorrentes do acidente (RE 438.639 – entenderam assim os Ministros Cezar Peluso – que era o relator na ocasião –, Eros Grau, Joaquim

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LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 7ª ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 206.

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Barbosa, Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Celso de Mello, Sepúlveda Pertence e Nelson Jobim; ficaram vencidos os Ministros Carlos Ayres Britto e Marco Aurélio).

De um modo geral, os magistrados (e também outros vários operadores do Direito) não concordaram com essa decisão. Aqui vale ressaltar o minucioso trabalho feito pelo Desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira, que percorreu os corredores e gabinetes do STF, defendendo e demonstrando, de forma científica e bem fundamentada, o equívoco daquele entendimento do STF.

Depois disso, apreciando um conflito de competência suscitado pelo TST em face do extinto Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, o STF decidiu pela competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações decorrentes de acidente do trabalho, posição aplicada até hoje.

A competência que permanece com a Justiça Comum Estadual é aquela que envolve a discussão acerca do próprio benefício previdenciário, em que o segurado propõe a ação contra o INSS (não contra o empregador), ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista (Súmula 501 do STF).

Além disso, o direito à indenização em caso de acidente de trabalho, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa, está expresso no art. 7º, XXII e XXVIII, da CF, como autêntico direito trabalhista, cuja tutela deve ser feita pela Justiça do Trabalho.

Resumidamente, a competência da Justiça Estadual Comum é para processar e julgar apenas as ações em que figure como réu o INSS, diante da responsabilidade objetiva que tem aquela autarquia de assegurar ao trabalhador acidentado ou incapacitado em decorrência de acidente de trabalho ou doença ocupacional uma indenização, isso por conta dos recursos provenientes do SAT (seguro de acidente do trabalho), pago pelas empresas e que são administrados pelo INSS.

Para todas as demais ações decorrentes da relação de trabalho, passou a ser competente a Justiça do Trabalho.

Como marco temporal para se definir quando as ações iriam para a Justiça do Trabalho, e por uma questão de política judiciária, o STF decidiu que: as ações propostas antes de 31/12/2004 que já tivessem sentença prolatada permaneceriam na Justiça Estadual Comum. Por outro lado, as ações que não tivessem sentença até 31/12/2004, mesmo que ajuizadas antes, deveriam ser remetidas para serem processadas e julgadas pela Justiça do Trabalho.

O atual entendimento do STF impõe o imediato cancelamento da Súmula 15 do STJ, que prevê a competência da Justiça Comum Estadual para processar e julgar as ações acidentárias oriundas da relação de emprego.

No caso de dano moral em ricochete, em que se pleiteia uma indenização por dano decorrente apenas da morte do trabalhador, há divergência de entendimentos.

O STJ, através da Súmula 366, entende que “Compete à Justiça estadual processar e julgar ação

indenizatória proposta por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho”.

Em sentido contrário se posicionou o Enunciado 36, proveniente da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho: “[...] Compete à Justiça do Trabalho apreciar e julgar ação de

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12 indenização por acidente de trabalho, mesmo quando ajuizada pelo herdeiro, dependente ou sucessor, inclusive em relação aos danos em ricochete”.

Cadastramento de PIS/PASEP: conforme Súmula 300 do STS, “[...] Compete à Justiça do

Trabalho processar e julgar ações ajuizadas por empregados em face de empregadores relativas ao cadastramento no Programa de Integração Social (PIS)”.

Embora a Súmula tenha omitido o PASEP, entende-se que, por analogia, as ações ajuizadas por servidores celetistas relativas ao cadastramento no PASEP também são de competência da Justiça do Trabalho.

 PIS: Programa de Integração Social (Lei Complementar 7/1970).

 PASEP: Programa de Assistência ao Servidor Público (Lei Complementar 8/1970).

Tais programas têm natureza de contribuições sociais e consistem em um fundo formado por depósitos mensais calculados sobre o faturamento, sobre a folha de salários (no caso de entidade sem fins lucrativos) ou sobre as receitas (Lei 9.715/98), e são destinados ao financiamento do programa de seguro-desemprego e ao pagamento do abono pecuniário previsto no § 3º do art. 239 da CF.

Assim, é obrigação do empregador fazer o cadastro de seu empregado em um dos programas. Caso não o faça, o empregado pode ingressar com ação contra o empregador para obriga-lo a fazer o cadastro, sob pena de ter que pagar uma indenização equivalente ao que o empregado teria direito a receber do programa.

Meio ambiente do trabalho: o meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições internas do local de trabalho e sua relação com a saúde dos trabalhadores.6

A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações que tenham como causa de pedir matéria referente ao meio ambiente do trabalho.

Fundamentos legais: art. 200, VII, da CF, c/c art. 7º, XXII e XXVIII, da CF.

Além desses fundamentos, o STF editou a Súmula 736, segundo a qual “Compete à Justiça do

Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”.

Mesmo antes da Súmula em questão, o STF já havia decidido que: “[...] Tendo a ação civil

pública, como causas de pedir, disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho” (RE 206.220, Rel. Min. Marco Aurélio).

FGTS: é pacífico que a Justiça do Trabalho tem competência para autorizar o levantamento do FGTS em caso de lide entre emprego e empregador (note-se que aqui as partes são empregado e empregador).

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13

Isso era o que previa a Súmula 176 do TST: “[...] A Justiça do Trabalho só tem competência para

autorizar o levantamento do depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na ocorrência de dissídio entre empregado e empregador”.

Mas essa Súmula foi cancelada em 13/05/2005, pela Resolução 130 do TST.

Então, com o cancelamento da Súmula, surgiu a dúvida: quer dizer que agora a Justiça do Trabalho tem competência para autorizar o levantamento também quando não existir dissídio? Ou significa que agora ela não tem mais competência para autorizar o levantamento, mesmo com o dissídio entre empregado e empregador?

Vamos pensar no seguinte caso: o empregado foi demitido e teve todas as suas verbas devidamente pagas pelo empregador, não tendo nada para reclamar na Justiça do Trabalho. Mas, por algum motivo, a CEF (Caixa Econômica Federal) se nega a liberar seu FGTS. Ou mesmo esse empregado nem tentou a liberação administrativa na CEF, apenas quer ingressar com a ação judicial, neste caso, em

jurisdição voluntária, para receber seu FGTS. Essa ação seria de competência da Justiça do Trabalho?

Nesse caso, como a ação seria contra a CEF, que não foi a empregadora, há quem defenda a ação não seria de competência da Justiça do Trabalho.

No entanto, o entendimento que vem sendo seguido pela maioria dos juízes do trabalho é o previsto no Enunciado 63 da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, ocorrida em 23/11/2007: “COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA.

LIBERAÇÃO DO FGTS E PAGAMENTO DO SEGURO-DESEMPREGO. Compete à Justiça do Trabalho, em procedimento de jurisdição voluntária, apreciar pedido de expedição de alvará para liberação do FGTS e de ordem judicial para pagamento do seguro-desemprego, ainda que figuram como interessados os dependentes de ex-empregado falecido”.

Agora, situação diversa é aquela em que o empregado pretende discutir diferenças de atualização monetária da conta de FGTS. Por exemplo: caso o empregado, quando for sacar seu FGTS, verificar que a CEF não atualizou corretamente os valores (não aplicou os índices próprios previstos em lei), o empregado deve ingressar com ação para compelir a CEF pagar as diferenças. Mas essa ação deve ser proposta perante qual Juízo? Nesse caso, como a parte ré será a CEF, e não se trata de relação de trabalho, a ação é de competência da Justiça Federal nos termos do art. 109, I, da CF.

Quadro de carreira: como o art. 652 da CLT não prevê a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações fundadas em quadro de carreira instituído pelo empregador, o TST editou a Súmula 19: “A Justiça do Trabalho é competente para apreciar reclamação do empregado que tenha por

objeto direito fundado em quadro de carreira”. Essa Súmula, embora bastante antiga, continua em pleno

vigor.

Descontos previdenciários e fiscais: com a EC 45/2004, o art. 114, VIII, da CF passou a competência da Justiça do Trabalho para “a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art.

195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”.

Recentemente, o TST atualizou a Súmula 368, que trata da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as execuções previdenciárias e fiscais, ficando assim a nova redação:

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DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO (redação do item II alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 16.04.2012) - Res. 181/2012, DEJT divulgado em 19, 20 e 23.04.2012

I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às limita-sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998 )

II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010.

III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. (ex-OJs nºs 32 e 228 da SBDI-1 – inseridas, respectivamente, em 14.03.1994 e 20.06.2001)

Apenas para conhecimento, segue abaixo também a redação anterior:

I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais provenientes das sentenças que proferir. A competência da Justiça do Trabalho para execução das contribuições previdenciárias alcança as parcelas integrantes do salário de contribuição, pagas em virtude de contrato de emprego reconhecido em juízo, ou decorrentes de anotação da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, objeto de acordo homologado em juízo. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998) - Redação Original (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 32, 141 e 228 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos da Lei nº 8.541, de 23.12.1992, art. 46 e Provimento da CGJT nº 01/1996. (ex-OJs nºs 32 e 228 da SBDI-1 - inseridas, respectivamente, em 14.03.1994 e 20.06.2001)

III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição. (ex-OJ nº 32 da SBDI-1 - inserida em 14.03.1994 e (ex-OJ 228 - inserida em 20.06.2001)

No que tange às contribuições previdenciárias decorrentes do vínculo de emprego reconhecido pelo juízo trabalhista, insta salientar que ainda há divergência jurisprudencial importante.

Veja, por exemplo, recente decisão exarada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (Paraná):

TRT-PR-30-08-2013 COMPETÊNCIA MATERIAL - CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS - ACORDO JUDICIAL COM RECONHECIMENTO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO A competência da Justiça do Trabalho para a execução das contribuições previdenciárias decorrentes das sentenças que proferir (art. 114, VIII, da CF) abrange as sentenças declaratórias, quando presentes reflexos patrimoniais de natureza previdenciária. Inteligência do parágrafo único do art. 876 da CLT, com a redação determinada pela Lei nº 11.457/2007, segundo o qual cabe a execução ex-officio das contribuições sociais resultantes de condenação ou homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido. Agravo de petição da executada a que se nega provimento (TRT-PR-04307-2008-594-09-00-8-ACO-33978-2013 - SEÇÃO ESPECIALIZADA, Relator: BENEDITO XAVIER DA SILVA, Publicado no DEJT em 30-08-(TRT-PR-04307-2008-594-09-00-8-ACO-33978-2013).

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Por outro lado, o Tribunal Superior do Trabalho entende de forma diversa. Confira na decisão que segue:

CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS - VÍNCULO DE EMPREGO RECONHECIDO EM JUÍZO - SÚMULA Nº 368, I, DO TST. O Tribunal Pleno desta Corte, na sessão realizada no dia 17 de novembro de 2008, apreciando incidente de uniformização de jurisprudência (E-RR-346/2003-021-23-00.4), manteve o entendimento consubstanciado no item I da Súmula nº 368 do TST, que limita a competência da Justiça do Trabalho para executar contribuições previdenciárias apenas a sentenças condenatórias em pecúnia e aos valores objeto do acordo; no mesmo sentido, recente decisão do Supremo Tribunal Federal (RE nº 569.056, julgado em 11/9/2008). Conclui-se, portanto, com ressalva do entendimento deste Relator, que esta Justiça Especial não tem competência para executar as contribuições previdenciárias decorrentes de decisões declaratórias de vínculo de emprego (Recurso de revista conhecido e provido, Processo: RR - 19100-52.2005.5.20.0011 Data de Julgamento: 05/05/2010, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/05/2010).

Note, no entanto, que o Ministro Relator ressalvou seu entendimento pessoal, ou seja, para ele a JT é competente para determinar o recolhimento das contribuições previdenciárias sobre o vínculo de emprego reconhecido.

Seguro-desemprego: caso o empregado não receba do empregador as guias para encaminhar seu seguro-desemprego (nas hipóteses em que o empregado tenha direito ao benefício, como, por exemplo, em caso de demissão sem justa causa), o empregado pode ajuizar ação trabalhista pleiteando a condenação do empregador na obrigação de entregar coisa certa. Caso o empregador não cumpra a obrigação, o juiz pode condená-lo a pagar indenização substitutiva, equivalente ao valor que o empregado teria direito a receber do seguro-desemprego.

Para que não haja dúvidas sobre a competência da Justiça do Trabalho no que tange ao fornecimento das guias do seguro-desemprego, o TST editou a Súmula 389:

SEGURO-DESEMPREGO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR NÃO LIBERAÇÃO DE GUIAS (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 210 e 211 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho a lide entre empregado e empregador tendo por objeto indenização pelo não-fornecimento das guias do seguro-desemprego. (ex-OJ nº 210 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000)

II - O não-fornecimento pelo empregador da guia necessária para o recebimento do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização. (ex-OJ nº 211 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000)

Ações possessórias e interdito proibitório: a Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações possessórias quando elas forem decorrentes da relação de trabalho.

Como exemplos, podemos pensar nas seguintes hipóteses: no caso de o empregador ceder um imóvel para moradia do empregado, como salário utilidade (art. 458, § 3º e § 4º, da CLT) e, mesmo com o fim do contrato de trabalho, o empregado se negar a restituir o imóvel. Ou na hipótese de o empregador reter instrumentos de trabalho do empregado, sem o seu consentimento.

Nesses casos, a parte que se sentir lesada, pode ingressar com ação possessória para restituir o seu direito e essa ação será processada e julgada pela Justiça do Trabalho.

Com relação ao interdito proibitório (art. 932 do CPC), o STF já entendeu que é da competência da Justiça do Trabalho a ação que pretenda garantir o livre acesso dos funcionários e clientes às agências

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bancárias em face de movimento grevista (RE 579.648). O fundamento é simples: ação decorre do exercício do direito de greve, o que constitucionalmente é da competência da Justiça do Trabalho (art. 114, II, da CF).

Matéria criminal: com relação à matéria criminal, tanto a doutrina quanto a jurisprudência ainda possuem entendimentos dissonantes.

E a dúvida aumentou com o advento da EC 45/2004, surgindo daí 3 correntes:

1ª corrente – entende que a Justiça do Trabalho tem competência também criminal, quando o delito decorrer da relação de trabalho. Tal competência seria, basicamente, para julgar os crimes contra a organização do trabalho e os crimes contra a administração da Justiça do Trabalho. Os argumentos utilizados para defender a competência criminal da JT são:

a) com a EC 45/2004, o critério para aferição da competência da JT deixou de ser pessoal (empregado/empregador) e passou a ser material, objetivo. Assim, a infração de natureza penal que decorra da relação de trabalho teria um critério objetivo que se comunica com o critério de fixação de competência previsto no art. 69, III, do Código de Processo Penal;

b) o Habeas Corpus, que é uma ação de índole penal, já foi atribuído à competência da JT, quando a matéria envolver a jurisdição trabalhista;

c) a Justiça do Trabalho apuraria de forma mais eficiente os crimes que envolvem a seara trabalhista do que qualquer outra justiça;

d) quando um mesmo fato tiver que ser analisado mais de uma vez, é melhor que o seja pela mesmo justiça (princípio da unidade da convicção). Por exemplo: o juízo trabalhista reconhece uma fraude no curso do processo trabalhista, mas o juízo criminal a descaracteriza no processo criminal;

e) O art. 78, IV, do CPP diz que no concurso entre a jurisdição comum e a especializada, prevalecerá esta. Então, esse artigo, combinado com o art. 114, I, primeira parte, da CF, levariam à conclusão de que a competência penal trabalhista já se encontra reconhecida;

f) as questões criminais não são tão complexas a ponto de não poderem ser analisadas pela justiça trabalhista, até porque a matéria trabalhista já é bastante complexa, por isso mesmo é que para apreciá-la existe uma justiça especializada.

2ª corrente – rejeita a competência criminal da Justiça do Trabalho, com os seguintes fundamentos:

a) a JT não está preparada para recepcionar esta atribuição;

b) as competências da JT ficariam muito amplas, podendo descaracterizar a própria jurisdição especializada trabalhista;

c) os juízes do trabalho não possuem conhecimento em matéria penal;

d) quando da PEC que gerou a EC 45, o legislador retirou do texto o inciso que previa a competência para os crimes contra a organização do trabalho;

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e) o art. 114 da CF não fala expressamente de competência criminal; o rol de competências do art. 114 deve ser interpretado de forma restritiva;

f) nos crimes de redução à condição análoga à escravidão (art. 149 do CP), o STF tem reconhecido a competência da Justiça Federal (RE 398.041, em 30/11/2006, por maioria de votos: 6 x 3. No caso, o TRF da 1ª Região se considerou incompetente para apreciar crime de redução à condição análoga à de escravo, cometido por um fazendeiro paraense. Aí então o Ministério Público Federal recorreu da decisão, levando o caso ao STF, que reformou o acórdão, entendendo competente a Justiça Federal);

g) o processo penal é capaz de resolver, de forma satisfatória, os conflitos penais, sendo desnecessário trazê-los para a competência trabalhista.

3ª corrente – admite a competência criminal da Justiça do Trabalho, nos termos do inciso IX do art. 114 da CF, se houver lei dispondo expressamente nesse sentido. Entretanto, haveria sérios problemas a serem resolvidos nos casos de crimes dolosos contra a vida, decorrentes da relação de trabalho, uma vez que tais crimes seriam de competência do Tribunal do Júri.

O STF já apreciou a questão, na ADI 3.684, proposta pelo Procurador-Geral da República, onde por unanimidade de votos deferiu a liminar pretendida, com efeitos ex tunc, atribuindo interpretação conforme a Constituição, aos incisos I, IV e IX, do art. 114 da CF, declarando que, no âmbito da jurisdição da Justiça do Trabalho, não está incluída a competência para processar e julgar ações penais.

Complementação de aposentadoria e previdência privada: até pouco tempo atrás, o STF entendia que a Justiça do Trabalho detinha competência para processar e julgar os litígios instaurados contra entidades de previdência privada relativos à complementação de aposentadoria, contanto que fossem decorrentes do contrato de trabalho (AI-AgR 713.741, julgado em 18/11/2008).

Inclusive, pela redação das Súmulas 326 e 327 do TST, podia se deduzir que, mesmo implicitamente, era reconhecida a competência da Justiça do Trabalho para esses casos.

Súmula nº 326 do TST:

COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. PRESCRIÇÃO TOTAL (nova redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011. A pretensão à complementação de aposentadoria jamais recebida prescreve em 2 (dois) anos contados da cessação do contrato de trabalho.

Súmula nº 327 do TST:

COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. DIFERENÇAS. PRESCRIÇÃO PARCIAL (nova redação) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011. A pretensão a diferenças de complementação de aposentadoria sujeita-se à prescrição parcial e quinquenal, salvo se o pretenso direito decorrer de verbas não recebidas no curso da relação de emprego e já alcançadas pela prescrição, à época da propositura da ação.

No entanto, recentemente (20/02/2013), o STF resolveu definitivamente a questão, julgando os REs 586453 e 583050. Conforme a decisão final, a Justiça Comum é competente para apreciar as ações propostas por empregado em face de entidade de previdência privada discutindo complementação de aposentadoria.

Ficaram vencidos os Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa, Carmem Lúcia, que entenderam ser competente a JT caso o contrato com a entidade de previdência fosse decorrente de um contrato de trabalho.

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Votaram pela competência da Justiça Comum os Ministros Ellen Gracie, Dias Toffoli, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Marco Aurélio.

O Plenário também decidiu modular os efeitos dessa decisão e definiu que permanecerão na Justiça do Trabalho todos os processos que já tiverem sentença de mérito até 20/02/2013. Dessa forma, todos os demais processos que tramitam na Justiça do Trabalho, mas ainda não tenham sentença de mérito, devem ser remetidos à Justiça Comum.

2.2.2 Competência pessoal

Aqui a pergunta que se faz é: quem são as pessoas que podem demandar na Justiça do Trabalho?

Além do empregado e do empregador (típica relação de emprego), atualmente, podem demandar na Justiça do Trabalho os trabalhadores (pessoa física) e os tomadores de serviços (pessoas físicas ou jurídicas). Além deles, demandam também o Ministério Público do Trabalho (art. 114, § 3º, da CF); a União (art. 114, VII e VIII, da CF); e os Sindicatos (art. 114, III, da CF).

Trabalhadores podem ser, dentre outros:

Empregados urbanos ou rurais (conceito: Lei 5.889/73); Domésticos (Lei 5.859/72);

Autônomos (EC 45/2004; a Lei 8.212/91 conceitua o autônomo); Eventuais (EC 45/2004);

Avulsos (Lei 7.494/86; + art. 643 da CLT; + art. 7º, XXXIV, da CF); Estagiários (Lei 11.788/08);

Temporários (Lei 6.019/74); Voluntários (Lei 9.608/98);

Servidores públicos celetistas (empregados públicos – art. 173, § 1o, II, da CF).

Trabalhador autônomo (profissionais liberais), representante comercial, trabalhador cooperado nas cooperativas de trabalho, corretores, etc., poderão demandar na JT, desde que não haja lei específica prevendo o contrário.

Funcionários de cartórios extrajudiciais – por muito tempo esses trabalhadores foram considerados servidores públicos lato sensu, submetidos, por isso, à jurisdição comum.

Todavia, tendo em vista que o art. 236 da CF dispõe que “os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”, passou-se a entender que tais serviços não podem ser exercidos pelo Estado, tendo caráter privado.

Nessa esteira, o STF firmou entendimento de que a relação entre os trabalhadores desses cartórios e os titulares do cartório é tipicamente de emprego, de modo que a competência para apreciar tal demanda é da Justiça do Trabalho (Ac 69642/110, Rel. Min. Néri da Silveira, publicado em 10/04/1992).

O art. 236 da CF foi regulamentado pela Lei 8.935/94, deixando evidente o caráter privado dos serviços notariais e de registro praticados em tais cartórios. Mas antes mesmo da vigência dessa lei, o TST

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já havia firmado entendimento no sentido de que o titular do cartório equipara-se a pessoa física e é empregador comum (RR 528.287/1999.8, Rel. Juiz Convocado Paulo Roberto Sifuentes Costa, publicado em 09/05/2003).

2.2.3 Competência funcional

Diz respeito à distribuição das atribuições dos diferentes órgãos da JT. Assim, considerando os órgãos que compõem a JT, temos que a competência pode ser dividida entre as Varas do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho.

Varas do Trabalho – arts. 652 e 653 da CLT.

Considerando também o art. 114 da CF, pode-se dizer que, funcionalmente, compete às Varas do Trabalho conciliar, processar e julgar as ações:

 Oriundas da relação de emprego e de trabalho (art. 114, I, da CF), o que abrange a norma contida no art. 652, a e b, da CLT.

 Que envolvam o exercício do direito de greve (art. 114, II, da CLF), ressalvada a competência funcional originária dos TRTs ou do TST nos dissídios coletivos de greve (§ 3º).

 Entre sindicatos e trabalhadores ou entre sindicatos e empregadores (art. 114, III, da CF), ressalvados os dissídios coletivos, de competência funcional originária dos TRTs ou do TST (§ 2º).

 De mandado de segurança, habeas corpus ou habeas data (art. 114, IV, da CF), quando o ato impugnado for de autoridade administrativa, como na hipótese do inciso VII.

 Oriundas de outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho (art. 114, IX, da CF).  Relativas ao cumprimento de suas próprias decisões.

Tribunais Regionais do Trabalho – art. 678 da CLT.

Além das competências previstas no art. 678 da CLT, há também as competências funcionais específicas dos Presidentes de TRTs (vide o art. 682 da CLT).

Tribunal Superior do Trabalho – competências detalhadas na Lei 7.701/1988 e principalmente no Regimento Interno do TST.

Para racionalizar sua atuação, o TST está dividido da seguinte forma:  Tribunal Pleno;

 Órgão Especial;

 Seção Especializada em Dissídios Coletivos;

 Seção Especializada em Dissídios Individuais (subdividida em duas subseções); e  8 Turmas.

2.2.4 Competência territorial

É determinada pela base territorial do órgão jurisdicional. No caso das Varas do Trabalho, a competência territorial é fixada por lei federal.

As Varas do Trabalho têm a competência territorial prevista no art. 651 da CLT, não cabendo, em princípio, aplicação subsidiária do CPC.

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4.1 Quanto ao local de prestação dos serviços;

4.2 Quando se tratar de empregado agente ou viajante comercial; 4.3 Quando se tratar de empregado brasileiro que trabalhe no exterior;

4.4 Quando se tratar de empresa que promova atividade fora do lugar em que foi celebrado o contrato de trabalho.

Os TRTs têm competência para processar e julgar causas trabalhistas em grau de recurso (recurso de decisões das Varas) ou originariamente (por exemplo, no caso de dissídio coletivo), dentro do espaço geográfico que, em regra, corresponde a um estado.

O TST tem competência para processar e julgar causas trabalhistas em grau de recurso (recurso de decisões dos TRTs) ou originariamente (por exemplo, no caso de dissídio coletivo que ultrapasse a dimensão geográfica de um TRT), dentro do espaço geográfico de todo o território brasileiro.

a) Regra Geral: Local da prestação dos serviços (art. 651, caput, da CLT):

A regra geral de competência na área trabalhista é a prevista no art. 651, caput, da CLT, segundo a qual a competência das Varas do Trabalho é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.

Caso o trabalhador tenha laborado em diversas localidades, é competente a Vara do local onde ele prestou serviços por último.

A finalidade da norma é ampliar ao máximo o acesso do trabalhador à justiça, facilitando a produção de provas por parte de ambas as partes, principalmente testemunhal.

b) Primeira Exceção: empregado agente ou viajante comercial (art. 651, § 1º, da CLT):

A regra geral acima estudada comporta algumas exceções. Uma delas é o caso de empregado agente ou viajante comercial.

Caso o empregado seja agente ou viajante comercial a competência será da Vara do Trabalho da localidade em que a empresa tenha agência ou filial e a esta o empregado esteja subordinado, e, na falta, será competente a Vara da localidade onde o empregado tenha domicílio, ou a localidade mais próxima (art. 651, § 1º, da CLT).

c) Segunda Exceção: empregado brasileiro que trabalha no estrangeiro (art. 651, § 2º, da CLT):

A competência territorial das Varas do Trabalho estende-se às lides ocorridas em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário (lex loci executionis).

Nesse sentido, prevê a Súmula 207 do TST:

CONFLITO DE LEIS TRABALHISTAS NO ESPAÇO – PRINCÍPIO DA LEX LOCI EXECUTIONIS. A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviços e não por aquelas do local da contratação.

Em outras palavras, a lei brasileira e a súmula em comento preveem dois critérios: um processual e um material. Processualmente, dizem que a competência territorial para apreciar a ação será

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da Vara do Trabalho. Materialmente, dizem que a lei aplicável (direito material) será a lei do país em que o serviço foi prestado.7

Acerca de qual seria a Vara competente, há divergência doutrinária. Alguns entendem que seria competente a Vara da localidade onde a empresa tiver agência ou filial. Caso não tenha agência ou filial no Brasil, não seria possível a ajuizar aqui a ação, pois não seria possível sujeitar a empresa estrangeira à decisão dos nossos juízes e tribunais (Sérgio Pinto Martins).

Entretanto, um outro entendimento, que nos parece tecnicamente mais adequado, diz que o empregado poderá ajuizar a ação na localidade onde tenha sido contratado antes de ir para o exterior ou onde a empresa tenha agência ou filial no Brasil. Caso não haja agência ou filial no Brasil, a empresa seria notificada via carta rogatória (Carlos Henrique Bezerra Leite).

Observe que a lei brasileira estabelece dois critérios: um de direito processual e outro de direito material.

PROCESSUAL = atribui à Vara do Trabalho a competência territorial para processar e julgar a ação trabalhista, na forma do art. 651 da CLT.

MATERIAL = a legislação material aplicável é a do país onde se deu a prestação dos serviços. Vejamos, como exemplo, a seguinte decisão do TRT Paraná:

TRABALHO NO EXTERIOR – PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE. Empregado contratado no Brasil para prestar serviço na Itália. O contrato de trabalho rege-se pela lei do local da prestação do serviço (lex loci executionis). Inteligência da Súmula 207-TST (TRT-PR-01191-2004-069-09-00-0-ACO-29578-2006 – 1ª Turma, Rel. Des. TOBIAS DE MACEDO FILHO, Publicado no DJPR em 17-10-2006).

Além disso, a Lei 7.064/82 regula a situação dos trabalhadores contratados ou transferidos para prestarem serviços no exterior.

De acordo com o TST, se o empregado já prestava serviços à empresa no Brasil antes de ter sido transferido para o exterior, não se aplica a lei do local da prestação de serviços, mas a legislação brasileira, principalmente quando mais favorável ao trabalhador (RR-14740-58.1996.5.01.0063, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, publicado em 06/09/2013).

No entanto, com o tempo, a aplicação da Súmula 207 foi sendo flexibilizada, até que foi definitivamente cancelada pelo TST, em abril de 2012. Com isso, a jurisprudência daquela Corte assim se pronunciou:

A jurisprudência trabalhista, sensível ao processo de globalização da economia e de avanço das empresas brasileiras para novos mercados no exterior, passou a perceber a insuficiência e inadequação do critério normativo inserido na antiga Súmula 207 do TST (lex loci executionis) para regulação dos fatos congêneres multiplicados nas duas últimas décadas Nesse contexto, já vinha ajustando sua dinâmica interpretativa, de modo a atenuar o rigor da velha Súmula 207/TST, restringido sua incidência, ao mesmo tempo em que passou a alargar as hipóteses de aplicação das regras da Lei n. 7.064/1982. Assim, vinha considerando que o critério da lex loci executionis (Súmula 207) - até o advento da Lei n. 11.962/2009 - somente prevalecia nos casos em que foi o trabalhador contratado no Brasil para laborar especificamente no exterior, fora do segmento empresarial referido no texto primitivo da Lei n. 7064/82. Ou seja, contratado para laborar imediatamente no exterior, sem ter trabalhado no Brasil. Tratando-se, porém, de trabalhador contratado no País, que aqui tenha laborado para seu empregador, sofrendo subsequente remoção para país estrangeiro, já não estaria mais submetido ao critério normativo da Convenção de

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Havana (Súmula 207), por já ter incorporado em seu patrimônio jurídico a proteção normativa da ordem jurídica trabalhista brasileira. Em consequência, seu contrato no exterior seria regido pelo critério da norma jurídica mais favorável brasileira ou do país estrangeiro, respeitado o conjunto de normas em relação a cada matéria. Mais firme ainda ficou essa interpretação após o recente cancelamento da velha Súmula 207/TST. No caso concreto, ficou evidenciado que o Reclamante foi contratado no Brasil e que parte do tempo de duração do contrato de trabalho desenvolveu-se em águas territoriais brasileiras. Não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento interposto não desconstitui a decisão denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido (AIRR-110800-64.2008.5.02.0445, Rel. Min. Maurício Godinho Delgado, 3ª Turma, julgamento 13/08/2013, DEJT 16/08/2013).

d) Terceira Exceção: empresa que promove atividade fora do lugar da contratação (art. 651, § 3º, da CLT):

Neste caso, fica assegurado ao empregado, ao ajuizar sua ação, optar pela Vara da localidade da celebração do contrato de trabalho ou pela da localidade da prestação dos serviços.

Aqui também a finalidade da norma é melhorar o acesso à justiça e facilitar a produção das provas, especialmente as provas orais.

Prova disso, é o que se concluiu na 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, através do Enunciado 7: “Em se tratando de empregador que arregimente empregado domiciliado em outro Município ou outro Estado da Federação, poderá o trabalhador optar por ingressar com ação na Vara do Trabalho de seu domicílio, na do local da contratação ou na do local da prestação de serviços.

Note que o entendimento dos magistrados é no sentido de ampliar ainda mais as possibilidades, facultando ao trabalhador ajuizar a ação também na Vara de seu domicílio.

2.3 Conflito de jurisdição Foro de eleição

No Processo Civil – art. 111 do CPC:

A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.

No Processo do Trabalho – em decorrência do que dispõe o art. 769 da CLT, entende-se que há incompatibilidade da cláusula de eleição de foro com o Processo Laboral, isso basicamente por conta de(a):

 Situação de hipossuficiência do trabalhador;  Situação de subordinação do trabalhador;  Contrato de adesão – art. 112 do CPC. Competência absoluta e competência relativa

As competências em razão da matéria, da pessoa e da função são absolutas. Significa dizer que a não observância da competência contamina todos os atos praticados no processo. Além disso, as competências absolutas não podem ser prorrogadas e devem ser declaradas ex officio pelo juiz em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não formada a coisa julgada (depois disso, somente por meio da ação rescisória pode a decisão ser desconstituída – art. 485, II, do CPC).

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