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Parque de conexão do corredor ecológico do Barigui

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

ARQUITETURA E URBANISMO

LAÍS DE OLIVEIRA

PARQUE DE CONEXÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO DO BARIGUI

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2015

(2)

LAÍS DE OLIVEIRA

PARQUE DE CONEXÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO DO BARIGUI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel, em Arquitetura e Urbanismo, do

Departamento Acadêmico de Construução Civil, da Universidade

Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Claudionor Beatrice Co-orientadora: Simone Aparecida Polli

CURITIBA 2015

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TERMO DE APROVAÇÃO

PARQUE DE CONEXÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO DO BARIGUI

Por

LAÍS DE OLIVEIRA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 07 de dezembro de 2015 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Marco Cezar Dudeque, Dr. UFPR

Profª Rafaela Fortunato, Drª. UTFPR

Profª. Simone Aparecida Polli, Drª. UTFPR

Prof. Claudionor Beatrice, MSc. (Orientador) UTFPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Campus Curitiba - Sede Ecoville

Departamento Acadêmico de Construção Civil

(4)

Dedico este trabalho à minha família, a Deus, ao meu amor e aos meus amigos, pela compreensão e colaboração.

(5)

AGRADECIMENTOS

Seguramente esse trabalho foi fruto da colaboração de diversas pessoas que fizeram parte de minha trajetória no curso de Arquitetura e Urbanismo, sobretudo daqueles que, recentemente, me auxiliaram para a redação dessa monografia.

Agradeço ao meu orientador Prof. Claudionor Beatrice, pela colaboração. À minha co-orientadora Professora Simone Aparecida Polli, por dedicar seu tempo e conhecimento à orientação desse trabalho.

Aos mestres do curso de Arquitetura e Urbanimo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Aos mestres do curso de Arquitetura Paisagista da Universidade do Algarve. Aos mestres do curso de Arquitetura Paisagista da Universidade do Porto. À minha família e ao meu namorado que me apoiaram a persistir nesse processo.

Aos meus colegas do escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados pela compreensão e apoio nesse período.

Aos meus colegas Aloísio, Isadora e Mayara por me acompanharem ao longo do curso.

Enfim, a todos os que por algum motivo contribuíram para a realização desta pesquisa.

(6)

RESUMO

OLIVEIRA, Laís. Parque de Conexão do Corredor Ecológico do Barigui. 2015.119.Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2015.

O presente Trabalho refere-se à base teórica para elaboração de um projeto de requalificação urbana ao longo do Rio Barigui, onde através de levantamento de dados e pesquisa de campo se verificou o potencial do corredor ecológico desse rio e a carência em termos de planejamento e preservação desse habitat. Para o desenvolvimento desse projeto foram realizadas pesquisas bibliográficas referentes ao planejamento urbano e sua relação com o espaço público e áreas verdes das cidades, conceitos de Estrutura Ecológica, Contínuo Natural e Corredores Verdes. Para além desses foi necessário entender em termos históricos e de planejamento como Curitiba se relaciona com seus Rios. Assim foi possível identificar um espaço apropriado para aplicação dos conceitos estudados e propor uma ocupação, onde Rio e Cidade possam coexistir de maneira harmoniosa.

Palavras-chave: Requalificação, Planejamento Urbano. Estrutura ecológica.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, Laís. Connection Park of Ecological Corridor Barigui. 2015. 119. Final work of Architecture and Urbanism Graduation. (Bachelor of Architecture and Urbanism) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2015.

This paper refers to the theoretical basis to developing an urban requalification project along the River Barigui, located in Curitiba, state of Paraná – Brazil. Through the data survey, field research was verified the potential of the ecological corridor of the river and the lack in terms of long term planning and preservation of this habitat. For this project were conducted analysis related to urban planning and relationship with the public space and the green areas of the cities, concepts of ecological structure, Continuous Natural and the Greenways. Beyond these, it was necessary to understand historically how Curitiba relates to their rivers. Therefore, it was possible to identify an appropriate space to apply all the concepts studied and propose a way where Rivers and City can coexist in a harmonious environment.

Keywords: Requalification. Urban Planning. Ecological Structure. Ecological Corridor. Landscape.

(8)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Critérios fundamentais para o desenvolvimento sustentável ... 16

Figura 2 - Planta de Kahun ... 17

Figura 3 - Planta da cidade de Babilônia. ... 18

Figura 4 - Plano geral de Mileto ... 19

Figura 5 - Plano geral de Timgad ... 20

Figura 6 - Planta Foro Romano ... 21

Figura 7 - Planta da cidade de Fustat, Cairo ... 22

Figura 8 - Rua típica islâmica ... 22

Figura 9 - Lucignano, Itália. Típica cidade Medieval radiocêntrica ... 23

Figura 10 - Plantas de Bastidas francesas. ... 24

Figura 11 - Cidade Ideal de Vitrúvio ... 25

Figura 12 - Planta da cidade de Palmanova ... 26

Figura 13 - Praça Maior, Madrid ... 26

Figura 14 - Cidade de Lima, Peru ... 27

Figura 15 - Planta de Versalhes ... 29

Figura 16 - Planta conjunto monumental Nanci, França ... 30

Figura 17 - Perspectiva da Avenida da Ópera, Paris. Haussmann ... 33

Figura 18 - Plano de Barcelona e esquema de composição de quarteirões propostos ... 34

Figura 19 - Esquema gráfico Cidade Jardim ... 38

Figura 20 - Diagrama de crescimento das cidades jardim ... 39

Figura 21 - Olmsted. Sistema de Parques de Boston, (1984) ... 46

Figura 22 - Vista do Parque Urbano Quinta da Granja ... 51

Figura 23 - Localização do Parque Urbano Quinta da Granja no contexto de Portugal ... 52

Figura 24 - Localização do Parque Urbano Quinta da Granja no contexto da Estrutura Verde de Lisboa ... 53

Figura 25 - Implantação do Parque Quinta da Granja ... 54

Figura 26 - Corte transversal Parque Quinta da Granja ... 55

Figura 27 - Hortas do Parque Quinta da Granja ... 55

Figura 28 - Masterplan Cidade Esportiva, México ... 56

Figura 29 - Projetos de infraestrutura verde para a Cidade do México... 57

Figura 30 - Tratamento das aguas Cidade do Esporte, México. ... 58

Figura 31 - Programa de necessidades Cidade do Esporte ... 58

Figura 32 - Rio La Piedad ... 59

Figura 33 - Parque linear ao longo do Rio La Piedad ... 60

Figura 34 - Eixo de mobilidade Urbana. Rio La Piedad. ... 61

Figura 35 - Sistema de gestão da água. Rio La Piedad ... 61

(9)

Figura 37 - Expansão da cidade de Curitiba segundo o Plano Preliminar de

Urbanismo ... 66

Figura 38 - Tripé de suporte do Plano Preliminar ... 66

Figura 39 - Sistema Trinário ... 67

Figura 40 - Esquema de adensamento no Eixo Estrutural ... 68

Figura 41 - Passeio Público de Curitiba, 1930 ... 69

Figura 42 - Parque Ecológico da Barreirinha ... 70

Figura 43 - Parque Barigui ... 71

Figura 44 - Parque São Lourenço... 71

Figura 45 - Parque Iguaçu ... 72

Figura 46 - Áreas verdes de Curitiba ... 73

Figura 47 - Localização Cidade de Curitiba ... 74

Figura 48 - O rio Barigui e sub-bacia do rio Barigui ... 74

Figura 49 - Áreas verdes e bairros de maior crescimento populacional ... 75

Figura 50 - Localização parques do rio Barigui ... 76

Figura 51 - Parque Tanguá ... 77

Figura 52 - Parque Tingui ... 77

Figura 53 - Parque Natural Municipal Vista Alegre ... 78

Figura 54 - Parque Barigui ... 78

Figura 55 - Parque Guairacá ... 79

Figura 56 - Parque Cambuí ... 79

Figura 57 - Parque da rua Paulo Roberto Biscaia ... 80

Figura 58 - Parque Mané Garrincha ... 80

Figura 59 - Reserva do Bugio ... 81

Figura 60 - Local de intervenção ... 83

Figura 61 - Bairros atingidos ... 84

Figura 62 - Pontos de referência ... 85

Figura 63 - Acessos ... 86

Figura 64 - Ocupações irregulares ... 87

Figura 65 - Instituições de ensino e equipamentos públicos ... 89

Figura 66 – Zoneamento da área de intervenção ... 91

Figura 67 - Mapa Síntese ... 92

Figura 68 - Unidades de paisagem ... 93

Figura 69 - Diretrizes projetuais ... 98

Figura 70 - programa de necessidades ... 99

Figura 71 - Partido do projeto ... 100

Figura 72 - Lugares propostos ... 102

Figura 73 - ciclovia proposta ... 103

Figura 74 - Zoneamento proposto ... 103

Figura 75 - infraestrutura verde proposta ... 104

Figura 76 - Alterações viárias propostas ... 104

(10)
(11)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 13

2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA ... 15

2.1 OPLANEJAMENTOURBANOINTEGRADOAPAISAGEM ... 15

2.2 BREVEHISTÓRIADOPLANEJAMENTOURBANOEORDENAMENTODO TERRITÓRIO ... 16 2.2.1 A Cidade Antiga ... 16 2.2.2 A Cidade Islâmica ... 21 2.2.3 A Cidade Medieval ... 23 2.2.4 A Cidade do Renascimento ... 25 2.2.5 A Cidade Barroca ... 27

2.2.6 A Cidade Industrial e Burguesa ... 31

2.2.7 A Cidade Moderna ... 35

2.2.7.1 A Cidade-Jardim ... 37

2.2.7.2 A Unidade de Vizinhança ... 40

2.2.7.3 A Carta de Atenas ... 40

2.2.7.4 A unidade de habitação e a Cidade Radiosa de Le Corbusier ... 41

2.2.8 A Emergência do Ordenamento do Território ... 42

2.3 OPLANEJAMENTOURBANONOBRASIL ... 44

2.4 EPAÇOSVERDESPÚBLICOS ... 46

2.4.1 Estrutura Ecológica ... 46

2.4.2 Corredores Verdes ... 49

3. ESTUDOS DE CASO ... 51

3.1 PARQUEURBANOQUINTADAGRANJA ... 51

3.1.1 Aspectos Contextuais ... 51

3.1.2 Aspectos Funcionais ... 53

3.1.3 Aspectos Estéticos e Compositivos ... 55

3.2 CIDADEESPORTIVA,MÉXICO ... 56

3.2.1 Aspectos Contextuais ... 56

3.2.2 Aspectos Funcionais ... 57

3.3 RIOLAPIEDADMÉXICO ... 59

(12)

3.3.2 Aspectos Funcionais ... 60

3.4 SÍNTESEDASANÁLISESDOSESTUDOSDECASO ... 62

4. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ... 63

4.1 OPLANEJAMENTOURBANODECURITIBA ... 63

4.3 LOCALDEINTERVENÇÃO ... 74 4.4 JUSTIFICATIVA ... 75 4.5 INSERÇÃOREGIONAL ... 84 4.5.1 Pontos de Interesse ... 85 4.5.2 Acessos ... 86 4.5.3 Ocupações Irregulares ... 87

4.5.4 Instituições de Ensino e Equipamentos Públicos ... 88

4.5.5 Uso e Ocupação do Solo ... 90

4.6 MAPASÍNTESE ... 92

5. IRETRIZES GERAIS DE PROJETO ... 93

5.1 DIAGNÓSTICODASITUAÇÃOEXISTENTE ... 93

5.2 DIRETRIZESPROJETUAIS ... 98 5.3 PROGRAMADENECESSIDADES ... 99 6. RESULTADOS ... 100 6.1 CONCEITO ... 100 6.2 PROPOSTA ... 101 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 106 REFERÊNCIAS ... 108

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1. INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de curso, Parque de conexão do corredor ecológico do Barigui, refere-se a uma requalificação urbana ao longo do Rio Barigui, que conecta diversas manchas de áreas verdes da cidade. Pretende-se demonstrar, em uma determinada área, soluções para consolidar as funções ecológicas e sociais do corredor, ampliando o contado entre o homem e a natureza, o planejamento e o Rio.

A pesquisa foi baseada no conceito de Estrutura Ecológica onde o planejamento urbano está em sinergia com a ecologia, a paisagem, a cultura, e os aspectos sociais do território a fim de, orientar as atividades antrópicas de maneira sustentável, preservando para as futuras gerações recursos e paisagens do presente.

Outro conceito introduzido foi o Continuo Natural definido como:

Um sistema, que permite preservar as estruturas fundamentais da paisagem que, em meio urbano, penetram no tecido edificado de modo tentacular e contínuo, assumindo diversas funções, cada vez mais urbana, que vão desde o espaço de lazer e recreio, ao enquadramento de infraestruturas e edifícios, à simples ruas arborizadas” (MAGALHÃES, 2007)

Contudo para possibilitar essa integração é necessário a consolidação de corredores verdes, esses são responsáveis por interligar manchas de vegetação remanescente, a priori desconectadas.

É possível afirmar que Curitiba detém um grande potencial para a aplicação prática dessa teoria, visto que, na década de 70 os parques da cidade foram criados a fim de funcionarem como um sistema natural de drenagem dos principais rios do município logo, a maioria dos parques são conectados pela hidrografia. O que faz com que as áreas verdes de Curitiba se estruturem e funcionem como um sistema integrado.

No entanto esses possíveis corredores estão comprometidos pela pressão da ocupação urbana. Gerando outputs negativos como: resíduos poluentes, enchentes, desconforto na paisagem urbana, além de impossibilitar o desenvolvimento de habitats dentro, e às suas margens.

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Os Objetivo geral do trabalho é a consolidação de um parque capaz de regenerar um trecho do Rio e suas margens. Para além de: analisar o entorno da área e avaliar as deficiências, potencialidades, forças e fraquezas; caracterizar as unidades de paisagem existentes; propor alternativas para aliviar a pressão urbana sobre às margens do rio e consequentemente proteger áreas verdes remanescentes; criar novos espaços de lazer e equipamentos públicos; aproximar o cidadão a questão ambiental; proteger e conscientizar as famílias em áreas de risco; promover um espaço de diversidade social e ecológica.

Para tal esse trabalho será dividido em 7 partes, sendo elas: (1) introdução: (2) contextualização e conceituação, onde através da revisão da bibliografia, levantamento de dados e estatística, será apresentado um breve histórico do planejamento urbano no mundo e no Brasil, os fundamentos e conceitos de Estrutura Ecológica; (3) estudos de caso, esses auxiliarão no desenvolvimento das diretrizes projetuais; (4) interpretação da realidade, trata-se do levantamento da legislação e diagnóstico das condicionantes, deficiências e potencialidades para justificar a área escolhida para o projeto; (5) diretrizes gerais de projeto, onde através da teoria levantada será proposto o programa de necessidades, partido e pré-dimensionamento; (6) o projeto como resultado da pesquisa realizada; (7) considerações finais.

(15)

2. REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

2.1 O PLANEJAMENTO URBANO INTEGRADO A PAISAGEM

As cidades e o planejamento urbano tal qual conhecemos hoje passou por um longo processo de evolução e transformação ao longo da história da humanidade, almejando a ordem e a racionalização do espaço. Contudo antes mesmo das primeiras aldeias, antes mesmo do homem surgir no mundo, a Natureza se manifestava em busca de equilíbrio e ordem. Segundo Partidário (1999) o conceito de Ambiente é o resultado do ordenamento das estruturas ecológicas segundo forças e regras termodinâmicas. Portanto a necessidade de organizar e planejar é inerente ao homem, uma vez que esse é parte da Natureza.

O homem como indivíduo natural planeja intuitivamente suas ações, atividades, sua a vida a curto ou longo prazo, assim também o homem social planeja sua comunidade, estabelece regras de funcionamento que permitam a convivência e o desenvolvimento da sociedade.

Partidário (1999) afirma ainda que a necessidade de planejar e racionalizar o sistema onde vive o homem é proporcional ao grau complexidade do ambiente em que está inserido, e que ao longo da história o desenvolvimento econômico e o consumo foram distanciando o equilíbrio entre o Sistema Antrópico e o Sistema Natural.

Em busca desse equilíbrio e da convergência do meio urbano e a paisagem que o envolve é que o ordenamento do território surge. Trata-se de um instrumento de gestão do ambiente que visa compatibilizar eficiência econômica, equidade social e a manutenção da biodiversidade natural (Figura 1).

(16)

Figura 1 - Critérios fundamentais para o desenvolvimento sustentável Fonte: Introdução ao ordenamento do território

2.2 BREVE HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO URBANO E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Para compreender como a cidade evoluiu ao longo da história será adotado, a categorização proposta por Goitia e Lamas (1982;1993) onde, didaticamente, a história das cidades é dividida em sete partes: a cidade antiga; a cidade islâmica; a cidade medieval; a cidade do renascimento; a cidade barroca; a cidade industrial e burguesa e a cidade moderna. Por fim será esclarecido o momento em que o ordenamento do território se fez necessário para auxiliar o planejamento urbano.

2.2.1 A Cidade Antiga

A história das cidades segundo Goitia se deu nas primeiras civilizações, no Egito, na Mesopotâmia e às margens do Rio Indo.

No Egito apesar de ainda existirem os grandes monumentos religiosos e fúnebres dos templos e pirâmides, feitos de pedra, pouco restaram das cidades. Construídas em sua maioria de taipa, adobe, madeira e outros materiais, frágeis,

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elas quase não resistiram ao tempo. No entanto existem vestígios de grupos de habitações para abrigar trabalhadores das construções dos monumentos, tal qual Kahun (Figura 2), que indicam ocupações de habitações dispostas geometricamente, compostas por ruas e pátios que se fechavam e protegiam o conjunto. Mas essas pequenas cidades regulares não eram uma regra à época. Ao contrário dos grandes monumentos que apresentavam complexidade e regularidade, dos quais foi deixado um grande legado para as futuras cidades, a preocupação com a paisagem e a adaptação ao terreno.

Figura 2 - Planta de Kahun Fonte: GOITIA, 1982

Às margens dos rios Tigre e Eufrates erguiam-se as cidades da mesopotâmia essas se adaptavam as cheias dos rios elevando as cidades, e devido a sua localização e vulnerabilidade a invasões inimigas mantinham os complexos murados e cercados por fossos. A planície lhes permitia a construção de ruas ortogonais como as da Babilônia (Figura 3), o oposto das primeiras cidades gregas como as de Creta e Micenas que devido ao relevo acidentado apresentavam uma ocupação mais irregular.

(18)

Figura 3 - Planta da cidade de Babilônia. Fonte: GOITIA, 1982

A vida doméstica na civilização grega apresentava-se muito mais desenvolvida, as casas eram mais confortáveis, haviam entradas para luz solar e cisternas. As ruínas apontam também uma grande diferença entre essas civilizações e as orientais, as instalações monarcas não eram palácios imponentes sobre as cidadelas.

Foi nas cidades gregas que os espaços públicos passaram a ter maior significado, com o desenvolvimento da democracia surgiram os edifícios dedicados ao bem público tais quais: a ágora, as praças, mercados, pórticos, teatros e estádios reunidos em uma configuração de um “centro cívico”.

Outro legado deixado por essa civilização foram as ocupações em quadriculas, o desenho ortogonal colocado em prática principalmente por Hipódomo nas cidades por ele planejadas, previamente concebidas e desenhadas, a figura a seguir mostra o plano geral de Mileto (Figura 4) onde o traçado ortogonal é interrompido pela Ágora.

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Figura 4 - Plano geral de Mileto Fonte: LAMAS, 1993

Já os Romanos mantiveram a herança dos gregos e adotaram as linhas retas e a praticidade dessa organização, principalmente nas cidades que tiveram origem nos acampamentos militares bem como Timgad (Figura 5).

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Figura 5 - Plano geral de Timgad Fonte: GOITIA, 1982

Goitia (1982) afirma que para além do desenho os romanos atribuíram qualidade as cidades com esgotos, aquedutos, água corrente, balneários, pavimentos, serviços de incêndio, mercado. Ainda que não houvesse muita preocupação estética nas cidades os romanos construíram grandes conjuntos arquitetônicos para mostrar grandeza e poder, os chamados Foros romanos (Figura 6).

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Figura 6 - Planta Foro Romano Fonte: GOITIA, 1982

2.2.2 A Cidade Islâmica

No século VII o Islão dominou parte das cidades romanas, mas o traçado das cidades-estado se perderam e deram lugar a cidades irregulares, intimistas, e como refere Goitia, cidades privadas. Isso porque os árabes tinham por costume destruir as cidades por eles conquistadas. Assim as “novas” urbes tinham sempre a mesma estrutura e eram muito homogêneas.

A cidade mulçumana ao invés de prezar pelo espaço público, as praças e ruas, era voltada para o interior das casas, as ruas serviam de acesso e muitas vezes se interrompiam na porta das habitações, por sua vez, eram sem saída chamadas adarves. A planta da cidade de Fustat no Cairo demonstra bem a disposição dessas ruas sem saída (Figura 7).

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Figura 7 - Planta da cidade de Fustat, Cairo Fonte: GOITIA, 1982

Isso conferia a cidade um carácter secreto por trás dos grandes muros, de ruas sem perspectiva e sem destino. A cidade se tornava cada vez mais intimista a medida que as casas avançavam sobre as ruas (Figura 8). Podemos observar o traçado e a irregularidade dessas cidades ainda presentes em Espanha, como Malaga, Sevilha, Granada e outras cidades que apesar do tempo conservaram as tortuosas e intimistas ruas mouriscas.

Figura 8 - Rua típica islâmica Fonte: GOITIA, 1982

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2.2.3 A Cidade Medieval

A cidade medieval segundo Goitia só aparece em começos do século XI, visto que, com a gradual queda do império Romano a população voltou a ser rural e se espalhou por quase toda Europa. Estabeleceu-se sobre o território o regime do feudalismo, com uma sociedade e economia de caráter agrícola. As cidades, em pequeno número e poucos cidadãos, só voltaram a ter força quando o comércio e a sociedade burguesa derrubaram algumas imposições dos senhores feudais que facilitaram o desenvolvimento do comércio e a produção dos artesãos.

O historiador ainda define 3 morfologias de cidade fundamentais, presentes na Idade Média são elas: a cidade irregular, a radiocêntrica (Figura 9) e a regular. Sendo a segunda a mais frequente, se tratava de um desenho que funcionava com um núcleo onde, geralmente, havia uma praça envolta por um palácio ou igreja de grande porte e marco para a cidade, da qual partiam as ruas trafegáveis, as principais vias da cidade, que se dirigiam radialmente até as muralhas que a circundavam.

Figura 9 - Lucignano, Itália. Típica cidade Medieval radiocêntrica Fonte: http://www.informprojects.com.au

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Essa era uma característica comum às urbes da época, eram muradas, funcionavam como uma fortificação para as proteger de invasões, um risco eminente à época. No fim da Idade Média começaram a aparecer cidades regulares, as chamadas “bastidas francesa” (Figura 10) um sistema de quadriculadas em torno de uma praça principal.

Figura 10 - Plantas de Bastidas francesas. Fonte: GOITIA, 1982

Mas é importante salientar que nenhuma dessas comunas eram planejadas, seu crescimento era orgânico e espontâneo, porém, eram regidas por leis que facilitavam a ordem e a captação de recursos para a manutenção dos bens públicos.

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2.2.4 A Cidade do Renascimento

Com o movimento do Renascimento as cidades medievais sofreram pequenas modificações que são consequência do requinte artístico. No campo teórico os urbanistas da época se apoiaram na doutrina básica de Vitrúvio: firmitas, utilitas, venustas. A partir desses ensinamentos pensaram a cidade ideal do Renascimento (Figura 11).

Levando em consideração a proteção dos ventos predominantes e na segurança da cidade, propuseram uma cidade poligonal de oito ou mais lados, quase circular, sendo que nos ângulos haveriam torres circulares. Quanto à disposição das ruas deveriam ser situadas de modo a dissipar os ventos e partindo do centro da urbe. Além da questão funcional a rua passa a ser um eixo de perspectiva, um percurso retilíneo, um marco visual.

Figura 11 - Cidade Ideal de Vitrúvio Fonte: GOITIA, 1982

No campo prático o melhor exemplo conseguido de uma cidade com os ideais renascentistas foi Palmanova (Figura 12). A cidade é uma fortaleza de nove lados composta por uma praça central de onde emergem as vias da cidade.

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Figura 12 - Planta da cidade de Palmanova Fonte: GOITIA, 1982

O movimento renascentista foi responsável também pela valorização da praça central, um lugar público de encontro, de manifestação política e de prestiígio. Sobretudo em Espanha onde as praças eram grandes espaços reclusos rodeados por imponentes e rebuscados edifícios (Figura 13).

Figura 13 - Praça Maior, Madrid Fonte: GOITIA, 1982

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Já na América os espanhóis puderam aplicar nas “novas” terras cidades planejadas, ao modo das bastidas da cidade medieval, mas com a humanidade do movimento renascentista (Figura 14). As “novas cidades” eram concebidas de acordo com uma legislação urbanística, criada por Filipe II, chamada “Leis das Índias” que determinava, entre outras, o planejamento das cidades, o desenho tal qual um tabuleiro de xadrez, a praça central, ruas radiocentricas, e espaços livres para o crescimento da população.

Figura 14 - Cidade de Lima, Peru Fonte: GOITIA, 1982

2.2.5 A Cidade Barroca

A cidade barroca, ou cidade clássica, segundo Goitia teve início com a o surgimento da Capital, um centro permanente de administração da nação. Visto que o monarca já não conseguia administrar as cidades, uma a uma, percorrendo o vasto território Europeu. A instalação dessa burocracia acaba por enfraquecer a vida autônoma das cidades livres medievais e da municipalidade. Esse novo centro administrativo baseava-se no capitalismo mercantilista, na burocracia organizada e era protegido por um exército. A cidade barroca também passou a ser sede da corte e da nobreza, a maioria das cidades não produziam, isso ficava a cargo das províncias.

A partir do século XVI as cidades tiveram um aumento considerável da população e passaram o número de 100 000 habitantes.

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No que diz respeito a morfologia das cidades barrocas o arquiteto e historiador afirma que a grande contribuição dos tratadistas foi a perspectiva, uma ferramenta de desenho desenvolvida no renascimento, mas que só mais tarde fora usada no planejamento. As cidades passaram a ser “uma obra de arte de percepção visual imediata”.

O urbanismo clássico pode ser definido por três princípios fundamentais: a linha reta, a perspectiva monumental e a uniformidade. Princípios esses que favorecem a perspectiva. Os primeiros ensaios práticos desses fundamentos foram aplicados nos desenhos dos jardins.

A unidade era alcançada na arquitetura das igrejas, dos palácios, nos hospitais, hospícios, nos conjuntos habitacionais, na construção de bairros inteiros, escolas, pontes.

O urbanista Lamas (1993) salienta que no período barroco a rua para além das suas funções de circulação, passam a ser um cenário no desenho da cidade, unindo o traçado e as fachadas dos edifícios que o margeiam, acrescentando a elas o uso de vegetação.

Foi em França que o urbanismo clássico viveu seu ápice, representado por Versalhes (Figura 15) e Nanci (Figura 16) a primeira com um eixo de três avenidas que levam a praça em frente ao palácio. E a segunda por um eixo monumental ligando duas praças. Goitia lembra em seu livro a preocupação do urbanismo barroco em exaltar a monarquia, por isso as praças monumentais enquadrando a estátua do rei e os grandes eixos frente aos palácios.

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Figura 15 - Planta de Versalhes Fonte: GOITIA, 1982

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Figura 16 - Planta conjunto monumental Nanci, França Fonte: GOITIA, 1982

Outro importante elemento do urbanismo barroco citado por Lamas é o quarteirão. Esse não é apenas um resultado do traçado da cidade, mas também um meio gerador de espaço urbano. Um espaço loteado de modo que os edifícios que o envolviam geravam um espaço livre interior, que poderia ser usado como hortas ou jardins, um espaço semipúblico característico dessas cidades.

Foi nesse período que os espaços verdes passaram a fazer parte da composição da cidade. Primeiramente com a arborização de vias, que permitiu o desenvolvimento de alamedas, canteiros. Depois a arte da jardinaria se estrutura como uma área do conhecimento da arquitetura, e passa a ordenar a paisagem através da associação de elementos vegetais e elementos construídos, surgindo parques e jardins de considerável valor estético.

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2.2.6 A Cidade Industrial e Burguesa

Os princípios barrocos influenciaram as cidades burguesas do século XIX. Utilizando os sistemas de traçados, quadrículas, quarteirões, ruas, avenidas e praças a cidade burguesa atribui ao conjunto jardins e parques, alamedas e passeios públicos, avenidas e boulevards. Essa continuidade se dará até a metade do século. O uso do quarteirão passou a ser utilizado sistematicamente para organizar o loteamento de crescimento rápido.

Em razão da revolução industrial e o surgimento da máquina a vapor as cidades foram bruscamente modificadas pela concentração industrial. Seguindo a lei do mínimo esforço as chamadas cidades industriais se apropriaram do espaço e utilizaram ao máximo os recursos disponíveis, sem planejamento gerando poluição e destruição. Paralelamente ao crescimento das cidades industriais cresciam os bairros operários que eram necessários para abrigar a mão-de-obra barata fundamental que movia a indústria.

Segundo Lamas esse processo intenso de crescimento, de industrialização e de evolução militar, tornam as muralhas pouco uteis. A cidade precisava crescer e invadiu o espaço do campo para além das fortificações. Foi nesse processo que as muralhas, em sua maioria, foram destruídas, dando lugar a avenidas que facilitaram a circulação em anel, a construção de novos bairros e o crescimento dos subúrbios.

Esse período marca uma ruptura considerável no entendimento e desenho da cidade. Essa não é mais um elemento único delimitado, tal qual uma pintura em sua moldura.

Os novos meios de transporte facilitaram o deslocamento entre os centros urbanos e geradores de emprego à periferia, onde o solo barato foi responsável pela expansão e proliferação do território construído. Como consequência, a rua passou a ser apenas um percurso, a praça perdeu seu valor e tornou-se um espaço vazio e sem uso na cidade, o quarteirão já não era um recurso útil uma vez que a baixa densidade das habitações unifamiliares não necessitava dessa “moldura”. O espaço privado se impôs sobre o espaço coletivo, as ruas não eram mais delimitadas pelas construções, dado que, as ocupações se davam no meio do lote e passaram a ser delimitadas por muros e gradis.

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A especulação imobiliária gerou grandes loteamentos em quadriculas que se repetiam sem nenhuma preocupação urbanística.

Esses bairros tiraram o maior partido e aproveitamento do solo, por vezes, as habitações como as “Railroad houses” em Nova Iorque não tinham luz natural e ventilação suficientes. Tratavam-se de lugares insalubres que segundo Goitia contribuíram para o aumento da mortalidade.

Frente a esse descaso e as consequências negativas desses aglomerados urbanos alguns industriais mais esclarecidos como Robert Owen, proprietário de uma fábrica têxtil, planejou uma cidade economicamente sustentável com atividades agrícolas e industriais. Essa foi a precursora das cidades jardins do século XX propostas por Ebenezer Howard e Welwyn. As situações insalubres e sociais do subúrbio motivaram o pensamento urbanístico e higienista do século seguinte.

Não é possível abordar as cidades do século XIX sem referir a Paris de Haussmann (Figura 17).

O barão promoveu transformações com novos traçados, reestruturação fundiária, construção de infraestruturas, equipamentos e espaços livres. Essas intervenções seguiram três critérios fundamentais: fácil circulação; eliminação da insalubridade e requalificação dos bairros, trazendo luz, ventilação e arborização; revalorização e enquadramento de monumentos, por meio dos eixos viários e perspectiva.

O desenho tem fortes influências barrocas, tal qual o boulevard ligando pontos importantes da cidade, a praça como lugar de confluência das vias, as rotundas organizando os cruzamentos, a utilização do quarteirão como um resultado do traçado, com usos diversos em seu pátio e outras vezes rasgado por galerias comerciais. Obedecendo uma lógica de loteamento simples: limites perpendiculares a rua; a divisória entre lotes era a bissectriz do ângulo formado pelas ruas; evitar lotes com testadas opostas.

Haussmann ainda interveio nas fachadas dos edifícios, preservando ou valorizando as existentes e criando outras para compor de maneira uniforme o cenário das avenidas.

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Figura 17 - Perspectiva da Avenida da Ópera, Paris. Haussmann Fonte: GOITIA, 1982

No mesmo século em Espanha o rei encarrega o arquiteto Ildefonso Cerdá a elaboração de um plano de expansão para Barcelona. O arquiteto faz suas propostas sob dois aspectos: a organização da expansão e a reorganização da quadrícula e do quarteirão (Figura 18).

O desenho do plano era composto por uma grelha regular de quarteirões e vias que juntos formavam um quadrado ainda maior de 400m de lado. A malha era rasgada por avenidas que chegavam a uma grande praça, essas eram diagonais que se sobrepunham a malha e geravam quarteirões irregulares, largos e praças.

A maior inovação de Cerdá foi a transformação da quadricula onde sistema de ocupação periférica continua gerava pátios internos, para a ocupação em apenas duas faces do quarteirão ou disposta em L. Assim a associação de dois ou mais quarteirões é que geram espaços públicos, centros cívicos próprios contendo

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equipamentos, escolas e igrejas, uma antecipação do que viria a ser as “unidades de vizinhança”.

Com o fim da ocupação perimetral os edifícios do quarteirão deixam de ser o limite do espaço público. Este ponto traz a principal diferença da Paris de Haussman para o plano de Barcelona. Na primeira o quarteirão é um espaço privado ou semiprivado, já o plano de Cerdá traz a possibilidade de torna-lo espaço público.

Figura 18 - Plano de Barcelona e esquema de composição de quarteirões propostos Fonte: LAMAS 1993

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2.2.7 A Cidade Moderna

De acordo com Lamas, passado a revolução industrial e as mudanças que esta trouxe, para a estrutura e o modo de viver nas cidades, a construção do urbanismo moderno ocorreu através de diversas experimentações urbanísticas na primeira metade século XX em busca de soluções aos novos problemas da sociedade, uma vez que a cidade clássica não era capaz de supera-los. Essas ideias e conceitos passam a ser aceitas e substituindo o urbanismo formal após a Segunda Grande Guerra.

Durante o período de experimentações, situado entre as duas guerras, os arquitetos modernos se opõem ao urbanismo formal, abandonando o uso do quarteirão, da rua e da praça, para dar lugar ao uso de torres, da disposição em banda e em blocos. A cidade passou a ser dividida em zonas rígidas e a cidade deixou de interagir com seus diversos elementos urbanísticos.

As experimentações realizadas foram diversas: as cidades-jardim, a unidade de vizinhança, o racionalismo e funcionalismo da Carta de Atenas, as propostas de Le Corbusier entre outras.

Com o fim das guerras dá-se início a reconstrução das cidades destruídas e o crescimento da demanda habitacional. É no urbanismo moderno que os reconstrutores encontraram uma resposta rápida e eficiente para as novas cidades. Contudo o emprego demasiado e sem muitos critérios das novas propostas urbanísticas dos grandes mestres acabaram por vulgarizar a morfologia moderna. Com o tempo a engenharia de trafego passa ser o motor do planejamento, com o traçado de vias sobrepondo o desenho da cidade.

Outra consequência dessa rápida e crescente demanda foi o abando da forma física das cidades pelos planejadores que passaram a realizar planos de controle de usos.

Lamas descreve as características fundamentais da cidade moderna são elas:

• A questão do alojamento: em resposta a insalubridade e a demanda habitacional, tornou-se fundamental, e o desenho urbano por vezes passou a ser resultado da associação de blocos, bandas e torres. Esta, por sua vez, dispõe-se no

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terreno em função de necessidades higiênicas, de insolação, de arejamento e acessos.

• O funcionalismo e zoneamento: ao contrário da cidade antiga, onde as diferentes funções misturavam-se no mesmo bairro, e por vezes no mesmo quarteirão, o urbanismo moderno preocupava-se excessivamente pela organização e distribuição do uso do solo, seguindo as orientações da Carta de Atenas, separando as principais funções da cidade: moradia, habitação e lazer. O zoneamento da cidade por funções tornou os sistemas autônomos ao ponto de a representação dos planos gerarem desenhos independentes: a planta do sistema viário, a dos equipamentos, a das estruturas verdes, a dos usos entre outras. A cidade moderna tornou-se monótona ao ocupar vastas áreas com usos estritamente habitacionais. Lamas afirma que ao simplificar os problemas a cidade deixa de ser complexa e formalmente interessante.

• A questão fundiária: nas cidades modernas o Estado era o detentor do solo, sem necessidade de lotear, assim os arquitetos e urbanistas tinham a liberdade de organizar os edifícios dando forma ao bairro e a cidade. O espaço privado era a unidade habitacional e não o terreno. Um exemplo clássico foram os edifícios em pilotis de Le Corbusier, onde o solo sob o edifício era um espaço público.

• Edifícios isolados: a alta qualidade da arquitetura dos edifícios modernos acabou por separar a arquitetura e a urbanística. Uma vez que esses elementos para alcançar sua máxima estética necessitavam de isolamento e boa orientação solar. Assim a morfologia da cidade moderna passou a ser um aglomerado de objetos isolados que não formavam um conjunto, e por sua vez não dariam forma ao meio urbano.

• Ruptura coma história: o movimento moderno seja nas artes, na arquitetura ou no urbanismo romperam com as formas tradicionais. No urbanismo as morfologias tradicionais são recusadas ao ponto de os centros históricos serem entendidos pelos urbanistas como um problema da cidade.

• Novos materiais e tecnologias: em consequência da necessidade da industrialização e rapidez na construção civil surgiram no século XX novos materiais e tecnologias: o ferro, o aço, o concreto armado, elevadores, o vidro, a construção pré-fabricada. Estes materiais tornaram a verticalização das construções chegando as majestosas torres de edifícios.

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A consolidação da morfologia da cidade moderna se deu através da sucessão de pesquisas práticas que convém serem discorridas a seguir.

2.2.7.1 A Cidade-Jardim

O conceito das cidades-jardins se desenvolveu no fim do século XIX na Inglaterra. Em busca por soluções para o crescimento das grandes cidades Howard idealizou a cidade-jardim em seu livro, Tomorrow, a Peaceful Path to Real Reform, como sendo um diferente modelo de organização social, econômica e social. Basicamente implicaria em um ambiente residencial de baixa densidade envolta por áreas verdes.

De acordo com CHOAY em 1899 Howard criou a Associação das Garden-Cities, onde pôde através de parcerias colocar suas ideias em prática. Designou aos arquitetos Parker e Unwin o projeto de Letchworth (1903), primeira cidade-jardim, e a Louis de Soissons a concepção de Wewyn (1919). Essas se tornaram modelo na Inglaterra e Estados unidos.

Howard define a Cidade Jardim Inglesa (Figura 19) como sendo uma terceira solução contendo todas as vantagens do campo e da cidade em um só lugar. Pois ele trata da cidade e do campo como imãs que atraem os indivíduos. A cidade dispõe de altos salários, oportunidades de emprego, progresso, diversão, vida social ativa, infraestrutura, palácios e monumentos, em contrapartida aos elevados preços e aluguéis, horas intensas de trabalho, poluição entre outros. Já o campo proporciona belas paisagens, parques senhoriais, bosques, sons naturais, ar fresco, aluguéis baixos e em compensação apresenta baixos salários e monotonia.

Essa união traria solução para um problema crescente na época a migração da população para a cidade.

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Figura 19 - Esquema gráfico Cidade Jardim Fonte: www.urbanidades.arq.br/bancodeimagens

A cidade jardim teria que ser construída ocupando 400 ha e preferencialmente apresentar forma circular, essa deveria estar inserida em meio a uma extensão ainda maior do território sem ocupação. A cidade seria cortada, por seis bulevares que sairiam do centro até o extremo da circunferência e dividiriam a cidade em seis partes, o centro seria um jardim rodeado por edifícios. Em volta desse centro, partindo em direção aos limites da cidade, estaria o parque central fechado pelo Palácio Cristal. O Palácio Cristal seria uma grande estrutura de vidro que abrigaria os comércios e jardins de inverno, assim mesmo em dias chuvosos as pessoas poderiam sair de suas casas.

As casas estariam em torno do Palácio Cristal, essas deviriam ser bem construídas, em terrenos próprios dotadas de área verde, a concepção do desenho da casa deveria respeitar as leis, mas também o gosto pessoal de cada morador, o alinhamento seria circular com as fachadas para as avenidas (ruas concêntricas).

Dividindo a área residencial haveria a grande avenida ou avenida central de, que por sua vez, seria dividida em seis áreas ocupadas por escolas públicas, quadras de jogos, jardins e igrejas.

As instalações industriais -manufaturas, lojas, mercados, depósitos- estariam no anel exterior da cidade com uma linha férrea ao redor com ramificações que cortam e ligam as propriedades rurais.

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No entorno da cidade estaria a área agrícola, onde os resíduos da cidade seriam aproveitados. O mais interessante na proposta de Ebenezer Howard é que além de definir o uso e ocupação do solo, na planta modelo ele aborda outros aspectos que determinam o funcionamento da cidade-jardim.

Ebenezer Howard estabeleceu a capacidade máxima de habitantes da cidade-jardim. Mas após ultrapassar esse limite a cidade se expandiria “pulando” os campos. Como uma “divisão celular”, outras cidades-jardins se estabeleceriam em torno da cidade central. Um sistema férreo eficaz ligaria essas diversas cidades a ponto de serem uma só ().

Figura 20 - Diagrama de crescimento das cidades jardim Fonte: GOITIA, 1982

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2.2.7.2 A Unidade de Vizinhança

A unidade de vizinhança é baseada na ideia de recriar as relações sociais entre vizinhos, que existiam nos antigos bairros, que foi se perdendo com o crescimento das grandes cidades do século XX.

Essa relação seria reestabelecida pelo controle populacional e territorial, e através da distribuição de equipamentos e serviços que contribuíssem para a vida comunitária. O plano de Barcelona, já citado, antecipou esse conceito tornando o quarteirão em espaço coletivo de convívio onde se distribuíam edifícios de uso público.

Este conceito, unidade de vizinhança, priorizava as questões sociais e a organização funcional da cidade em detrimento do traçado e forma urbana. A simplicidade dessa teoria a fez ser amplamente empregada na organização das áreas habitacionais, seguindo duas correntes principais: a corrente da comunidade habitacional e a corrente da unidade habitacional.

A primeira corresponde as cidades-jardim, bairros de baixa densidade intercalado por zonas verdes. A segunda procura um modelo edificado que seja tanto habitação quanto abrigue equipamentos, inspirados nos falanstérios, abrigam em seu interior o maior número de serviços que lhe cabe.

2.2.7.3 A Carta de Atenas

A Carta de Atenas, regida por Le Corbusier, constitui uma síntese das propostas dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM) estabelecendo critérios para a organização e gestão das cidades.

Um dos princípios fundamentais presente neste documento é o funcionalismo que separa as principais funções da cidade habitação, trabalho, circulação e lazer. Para cada uma era atribuída uma zona da cidade e uma vez que estavam separadas era preciso que o sistema viário permitisse a otimização da circulação.

Outro ponto era a crítica ao quarteirão, que para além de trazerem desconforto em termos de ruídos e insolação insuficiente, não permitiam o livre desenvolvimento das unidades habitacionais e das experimentações arquitetônicas.

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A cidade histórica é tratada na Carta de Atenas como um conjunto de edifícios insalubres e degradados que poderiam ser substituídos por grandes projetos da arquitetura moderna. Os edifícios mais icônicos e monumentais deveriam ser salvaguardados, mas os bairros em sua volta deveriam ser requalificados.

A Carta de Atenas também abordava a questão fundiária onde o interesse público deveria prevalecer sobre o interesse privado.

2.2.7.4 A unidade de habitação e a Cidade Radiosa de Le Corbusier

A cidade Radiosa, proposta por Le Corbusier em 1930, continha os princípios para as cidades propostos pelo mesmo arquiteto: uma cidade verde, amplas áreas livres, grandes edifícios isolados sobre pilotis, orientados pela exposição solar e unidades de habitação com equipamentos elementares. Sobre a cidade radiosa Lamas afirma:

“A Cidade radiosa, no essencial se constituía como um mar de verdura percorrido por vias de circulação e do qual emergiam grandes construções de habitação, equipamentos, serviços. O conjunto receberia o Sol e proporcionaria uma vida feliz aos seus habitantes. É a aplicação personalizada dos princípios e ideias consagradas na Carta de Atenas, com o impacto e a força que os desenhos de Le Corbusier lhes emprestam...” (LAMAS, 1993, p.354).

As unidades de habitação para Le Corbusier era o elemento fundamental na organização da cidade. O uso de pilotis permitia a transformação do solo sob o espaço privado em espaço público, os serviços e equipamentos principais foram trazidos para dentro do edifício e a orientação dos edifícios não era dada a partir do quarteirão, mas sim, pela melhor orientação solar e valor estético.

A cidade moderna trouxe à tona muitas questões que até hoje fazem parte do pensamento do planejamento urbano: o espaço público; a integração com as áreas verdes; a preocupação com a carência por habitação. Contudo deixou, também, consequências negativas, que são alvo de muitos críticos, tais quais: conjuntos habitacionais isolados, sem vida e sem identidade; gerou as cidades

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dormitórios e o abandono das áreas centrais; congestionamentos devido a intensa segregação das funções no território, que por sua vez demandam grandes deslocamentos; a destruição de elementos e traçados da cidade histórica entre outros que as novos movimentos e teorias do urbanismo tentam remediar. De qualquer modo o período moderno trouxe inúmeras experimentações que para a época eram a melhor solução e que, hoje, nos possibilitam ver os resultados, positivos ou negativos, e avaliar como devemos planejar e desenhar as cidades.

2.2.8 A Emergência do Ordenamento do Território

O século XX presenciou mudanças profundas quer na economia ou na transformação do território. Em decorrência principalmente do intenso processo de industrialização e da migração campo-cidade, esse período é imerso em uma acelerada degradação dos recursos naturais. As indústrias exploraram ao máximo os recursos disponíveis e geravam efluentes danosos contaminando o ar, a água e o solo. A concentração urbana estava envolvida em um caos em termos de habitação, higiene e mobilidade.

Foi nesse contexto, como vimos anteriormente, que surgiram as experimentações das cidades-jardim, a valorização do ambiente rural e a crescente preocupação com a reintrodução da natureza no ambiente urbano.

O crescimento acelerado das cidades demonstrou que o espaço de vivência do homem não era apenas a cidade em sentido estrito, mas sim o território.

Segundo Partidário (1999), o conceito de ordenamento do território surge então como resposta a uma necessidade de integração territorial onde a cidade estaria em sinergia com seus espaços envolventes.

A escola de planejamento clássico, inspirada por Patrick Geddes e Frederick Olmstead, defendia uma abordagem holística do território, entendo que a atividade de planejar o território deveria transcender os limites das cidades e considerar a aptidão dos recursos físicos para o desenvolvimento das atividades humanas, surgindo um novo conceito de ecologia da paisagem. Contudo esta escola, pela ausência de métodos científicos, não traduzia os conceitos em ações.

Ao contrário da escola de Chicago, que através do planejamento racional desenvolveu um método de ações lineares orientadas por quatro passos

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fundamentais: a análise da situação, a definição do percurso a seguir, a avaliação comparativa de alternativas e a seleção da melhor alternativa. Todavia era uma escola que não considerava a inter-relação das atividades e seu carácter dinâmico.

Essa carência foi suprida pela escola do planejamento estratégico que além da visão holística do território aborda uma sequência de ações cíclicas, de contínua interação e incerteza, adaptativo a situações de conflito e incluindo a componente social na tomada de decisões.

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2.3 O PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL

Erminia Maricato em seu livro, "As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias - planejamento urbano no Brasil" critica a importação de métodos e ideias urbanísticas sem a contextualização da realidade social brasileira, e que os estudos e práticas do urbanismo deveriam abranger todos os membros de uma sociedade, no entanto, no Brasil, o planejamento urbano é para apenas uma parcela da sociedade, portanto “as ideias estão fora do lugar”. Essa parte da sociedade excluída não é reconhecida como parte da cidade, muitas vezes as ocupações ilegais se quer são mapeadas, como se não existissem, trata-se da “cidade ilegal”.

Esta é excluída do planejamento urbano porque não se enquadra nos moldes do planejamento modernista/funcionalista e do mercado imobiliário, e por vezes, é renegada pelos órgãos públicos responsáveis pelo planejamento e controle urbano, portanto “na representação da cidade oficial”. Contudo a “cidade ilegal”, segundo Maricato, é mencionada como funcional do ponto de vista da exploração de mão de obra barata, das relações políticas arcaicas, relações de favores, por outro lado é disfuncional para a sustentabilidade, a qualidade de vida, a democracia e cidadania.

O planejamento urbano no Brasil foi regido pela matriz modernista, com suas leis de zoneamento de uso e ocupação do solo e a centralização do aparelho do Estado, que teve seu auge entre os anos de 1945 a 1975, período de crescimento econômico, distribuição de renda e investimento em políticas públicas.

Maricato (2010) apresenta o distanciamento existente entre o discurso e a prática do urbanismo brasileiro, onde historicamente o planejamento urbano Brasileiro é para parte da sociedade, apenas para a Elite, para os interesses das grandes corporações, para o mercado imobiliário, para esses, os planos saem do papel, já para as classes excluídas da cidade eles são, quando mencionados, no máximo, promessas. O urbanismo brasileiro foi regido sobre a égide do embelezamento que nasceu o planejamento urbano brasileiro.

No plano diretor realizado em São Paulo, por exemplo, a “cidade ilegal” foi ignorada na prática, mas que estava presente na apresentação do plano diretor. No entanto os investimentos foram conduzidos a um plano, denominado por Maricato, explícito, voltado para o interesse das classes de alta renda. A autora aponta que o

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caos das cidades brasileiras não é devido à falta de leis e de planejamento e sim da falta da aplicação democrática da lei e da não execução dos planos, visto que, principalmente, em 1970 houve intensa produção de Planos Municipais. Apesar da legislação urbanística ser exigente e aparentemente rígida, o fato dela ser aplicada para poucos, aliado a corrupção, a torna flexível.

Maricato (2010) abre parênteses em seu livro para diferenciar urbanismo de planejamento urbano, sendo o primeiro relacionado a intensos estudos e debates, enquanto o segundo vem dos “planos de melhoramentos” pontuais e sucederam o urbanismo.

Voltando ao “lugar fora das ideias”, a invasão de terras, ao mercado imobiliário excludente, a ausência de políticas sociais e ao processo de urbanização no Brasil caracterizado por: industrialização com baixos salários e mercado residencial restrito; gestões urbanas municipais e estaduais com tradição de investimento regressivo; legislação ambígua ou aplicação arbitrária da lei. Como consequência dessa exclusão social, ocorre a predação ambiental, principalmente em áreas de mananciais, e o aumento da violência.

Por fim Maricato (2010) apresenta propostas para um planejamento urbano pleno, primeiramente propõe a substituição do Plano Diretor por um Plano de Ação, com participação dos “excluídos” e reconhecimento dos conflitos. Sob as diretrizes: controle e orientação dos investimentos; fiscalização eficaz do uso e ocupação do solo; integração entre ações sociais, ambientais e econômicas; priorização da habitação, transporte público e meio ambiente. E para que se cumpra esse plano participativo é preciso viabilizar meios, infraestrutura, para a gestão urbana.

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2.4 EPAÇOS VERDES PÚBLICOS

Ao analisar a história do planejamento urbano sob a ótica dos espaços verdes públicos, é possível verificar, que esses emergiam como soluções às problemáticas urbanas existentes: desde preocupações sociais, ecológicas, de saúde pública, qualidade de vida e mesmo puramente estéticas. Assim o homem passou a usar a natureza como ferramenta para moldar e transformar o espaço da cidade, mas também criou uma natureza urbana que oferece elementos essenciais para a promoção da sustentabilidade e qualidade de vida.

Contudo esses espaços não podem ser encarados como lugares independentes e não relacionados. É preciso um olhar holístico sobre estas áreas verdes e entendê-las como um sistema aberto e complexo que se articula com outros sistemas presentes nas cidades tal qual o sistema edificado.

2.4.1 Estrutura Ecológica

Magalhães (1992) afirma que escola de planejamento clássico foi a precursora do conceito de estrutura ecológica quando Olmstead propõe um sistema contínuo de parques para Boston, como forma de melhorar e estruturar o tecido urbano (Figura 21).

Figura 21 - Olmsted. Sistema de Parques de Boston, (1984) Fonte: MAGALHÃES, 1992

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Em decorrência da evolução dos princípios ecológicos surge o sistema de Contínuo Natural que visa integração dos elementos bióticos e abióticos da cidade, contribuindo assim para o conceito atual de Estrutura Ecológica.

O continuo Natural segundo Magalhães (2008) deve obedecer a quatro características:

• A Continuidade: assegurada pela circulação da água e do ar, do solo e da vegetação que, por sua vez, constituem habitats que permitem a circulação da fauna.

• A Elasticidade: significa a capacidade de o sistema se adaptar à variabilidade dos seus elementos, dos quais o mais evidente é a água.

• A Meandrização: aumentando as interfaces entre os diferentes elementos da paisagem.

• A Intensificação: de modo a garantir uma otimização daqueles parâmetros, compensando o empobrecimento ecológico das áreas mais artificializadas.

De acordo com Magalhães (2007), a Estrutura Ecológica é uma estrutura espacial da paisagem, que tem por objetivo reunir e integrar todos os espaços necessários à conservação dos recursos naturais, entendidos, não como elementos isolados, mas sim como fatores dinâmicos que interagem entre si.

A estrutura ecológica de uma cidade é um dos seus elementos mais importantes para o equilíbrio urbano, proporcionando benefícios ecológicos, ambientais, serviços sociais e económicos, reiterando os princípios de sustentabilidade (Figura 1).

Possui como base os sistemas naturais e áreas verdes existentes em meio urbano. Estas áreas devem ser tratadas conjuntamente, numa estrutura coerente, em vez de serem geridas e organizadas de forma isolada. De modo a potencializar seus benefícios, uma vez que, que todos os seus elementos constituintes funcionam de forma una e coordenada, tendo em vista o objetivo comum de desempenhar, de forma mais eficaz, as funções urbanas que visam a promoção do equilíbrio, sustentabilidade e qualidade de vida.

Estas áreas devem ser planejadas e geridas de forma articulada com o restante dos elementos urbanos, de modo a que as funções desempenhadas se possam complementar e ser complementadas pelas restantes estruturas urbanas.

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No âmbito da função ecológica e ambiental a presença de vegetação, de água, pisos permeáveis e a existência de áreas promotoras da biodiversidade influenciam na quantidade e qualidade do ar e da água. Uma vez que atuam como regulados ciclos hidrológicos e equilibrado o balanço hídrico. Permitem ainda a permeabilidade do solo evitando inundações, assim como os custos económicos e sociais associados.

A presença de vegetação acarreta em benefícios para o microclima. Através da amenização das temperaturas pelas sombras das árvores e proteção dos ventos. Os maciços vegetais se mostram capazes também de diminuir os ruídos.

São espaços promotores de biodiversidade, ao providenciar habitats para várias espécies. Não apenas os jardins e parques, mas as restantes tipologias de espaços contribuem fortemente para a presença de vida silvestre: matas, florestas urbanas, lagoas, rios e margens ribeirinhas, jardins de loteamentos e cemitérios, e mesmo terrenos abandonados, podendo ser públicos ou particulares. O tamanho e componentes da parcela, a qualidade da paisagem urbana envolvente e as relações de conectividade existentes entre estes e outros elementos são fatores essenciais que permitem esta função.

No que diz respeito as funções sociais atribuídas à Estrutura Verde, esta é considerada como um elemento promotor da qualidade de vida. Por contribuir na coexistência do homem e da Natureza de maneira harmônica Para além de possuir funções relacionadas com as necessidades humanas de lazer, informação, saúde, educação, cultura e sociabilização (QUINTAS; CURADO,2010).

No âmbito econômico verifica-se que o cumprimento eficaz das funções acima citadas, trazem economia quanto aos custos de energia, de fornecimento e tratamento da agua, dos danos causados por desastres naturais, epidemias e remediações.

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2.4.2 Corredores Verdes

Os corredores verdes são elementos da Estrutura da Paisagem responsáveis por assegurar o princípio da continuidade e meandrização.

Em síntese corredores verdes são espaços livres lineares que ligam grandes manchas de espaços naturais: bosques, matas, mares, florestas. Estes corredores são compostos de sistemas de espaços, planejados, projetados e geridos para diversos fins: ecológicos, recreativos, culturais, estéticos, e produtivos, compatíveis com o conceito de sustentabilidade. (MACHADO, et al, 1998).

Os corredores verdes segundo Ferreira (2010) podem ser classificados como:

• Rios urbanos (fluviais): estes corredores contribuem para a humanização da cidade promovendo um processo de redescoberta de um rio (geralmente ignorado ou negligenciado) e sua restituição à cidade;

• Ecológicos: comumente ao longo de linhas de água e de linhas de festo, unindo áreas de paisagens naturais existentes, evitando assim o seu isolamento e mantendo a diversidade biológica e o equilíbrio ecológico;

• Panorâmicos e históricos: ao longo de estradas ou cursos de água, festos e áreas de concentração de património construído.

• Recreativos: corredores naturais, vias férreas abandonadas e caminhos existentes que proporcionam à cidade novas formas de entretenimento e melhores acessos a áreas naturais, com ligações a grandes distâncias;

• Sistema ou redes de corredores verdes (polivalentes): apesar de serem classificados pelos elementos predominantes, são multifuncionais e podem possuir componentes comuns a outros

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corredores, interligando-se numa verdadeira rede de corredores verdes, integrando assim vários tipos, funções e objetivos.

Entende-se assim que os corredores verdes são elementos de extrema importância para a recuperação dos recursos naturais, sendo a conectividade a principal característica da Estrutura Verde.

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3. ESTUDOS DE CASO

Para os estudos de caso foram escolhidas intervenções que tenham afinidade com o tema, compreendendo a inserção na paisagem, o programa, o relacionamento com os usuários, os fluxos e demais características de um parque urbano. As análises desses projetos servirão de base e referência para a elaboração da proposta.

3.1 PARQUE URBANO QUINTA DA GRANJA

Figura 22 - Vista do Parque Urbano Quinta da Granja Fonte: acervo câmara municipal de Lisboa

3.1.1 Aspectos Contextuais

O referido projeto recebeu o Prêmio Nacional de Arquitetura Paisagista, na categoria Obras e Parques e Jardins de uso público. Elaborado pela arquiteta paisagista Maria José Fundevila no ano de 2009, em Portugal (Figura 23).

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Figura 23 - Localização do Parque Urbano Quinta da Granja no contexto de Portugal Fonte: adaptado de Google Earth

O parque urbano Quinta da Granja se estende por 7 hectares e faz parte de um conjunto de áreas verdes que compõe a estrutura ecológica principal de Lisboa, o parque faz a ligação entre o parque florestal de Monsanto e o parque de Carnide, através de vias de pedestre, ciclovias e a vegetação (Figura 24).

Está localizado entre a Avenida do Colégio Militar e a Avenida Lusíada, em Lisboa, está integrado numa área pertencente à originária Quinta da Granja, datada no século XVII, sendo uma propriedade privada, destacando-se a produção de vinha, atividade agrícola dominante do século XIX até aos dias de hoje. Parte da Quinta da Granja foi adquirida pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), dando lugar ao Parque Urbano atual.

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Figura 24 - Localização do Parque Urbano Quinta da Granja no contexto da Estrutura Verde de Lisboa

Fonte: adaptado de Google Earth

3.1.2 Aspectos Funcionais

Em decorrência das características físicas do terreno e de suas aptidões o local foi classificado em 3 zonas distintas.

• Área aberta na cota mais baixa do terreno, foi utilizada para implantação da bacia de retenção, é também um espaço suficientemente amplo para uma utilização mais livre;

• Área de hortas urbanas proposta a fim de preservar ao máximo as características do local, terraplanando apenas a área das hortas e estabilizando os taludes existentes, de forma a permitir o acesso de todos os usuários ao Parque;

• Área plana, foram implantados equipamentos recreativos de playground e quiosques de comércio.

O programa conta ainda com pistas de caminhada e ciclovia que percorrem toda extensão do parque.

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Por se tratar de uma área com forte carácter ambiental, as hortas, de 375 m², tem uso exclusivo para utilização com produtos biológicos na cultura. E os percursos do parque utilizam materiais porosos para evitar ao máximo a impermeabilização do subsolo. A distribuição espacial dessas áreas está representada na imagem que segue (Figura 25).

Figura 25 - Implantação do Parque Quinta da Granja Fonte: adaptado de acervo câmara municipal de Lisboa

1 2 3 4 5 6 1- Hortas 2- Playground/ Quiosques 3- Bacia de retenção 4- Ciclovia 5- Pista de caminhada 6- Taludes

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3.1.3 Aspectos Estéticos e Compositivos

O terreno do parque era envolvido por taludes, estes por sua vez foram alvo de uma proposta de modelação de terreno que aliado aos diferentes estratos de vegetação propostos e existentes, criaram uma dinâmica espacial baseada em justaposições de planos e volumetrias, ao longo da área, provocando um jogo visual de pontos de fuga e perspectivas (Figura 26).

Figura 26 - Corte transversal Parque Quinta da Granja Fonte: acervo câmara municipal de Lisboa

Outra estratégia estética utilizada foi a uniformização da área de hortas através da proposta de um espaço de armazenamento comum, uma cabana de madeira e um conjunto para reaproveitamento da agua da chuva e compostagem (Figura 27).

Figura 27 - Hortas do Parque Quinta da Granja Fonte: acervo câmara municipal de Lisboa

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3.2 CIDADE ESPORTIVA, MÉXICO

Figura 28 - Masterplan Cidade Esportiva, México Fonte: www.taller13.com

3.2.1 Aspectos Contextuais

Projetado pelo escritório Taller13 Arquitetura, em 2013. O Projeto está localizado na intersecção de dois importantes rios, o Churubusco e o La Piedad. A leste da cidade. Trata-se de um plano de regeneração para revitalizar uma das áreas mais emblemáticas da Cidade do México, a Ciudad Deportiva.

Esta tem origem na década de 50 e sofreu suas últimas ampliações em- em 1967 tendo em vista as Olímpiadas de 1968. A área abrange um total 167 hectares. (Figura 28).

A revitalização desse espaço integra um projeto maior O projeto integra um plano maior de recuperação da bacia de Anahuac, em que se pretende basear a cidade por suas conexões fluviais.

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Figura 29 - Projetos de infraestrutura verde para a Cidade do México Fonte: www.taller13.com

3.2.2 Aspectos Funcionais

O projeto é composto por um plano de regeneração de 13 hectares de instalações esportivas e recreativas e mais 154 hectares de infraestrutura verde.

Para além de transformar o espaço em uma área verde pública, de encontro, recreação e desporto, o local será fornecedor de água limpa para a região, uma vez que contará com a criação de um programa de coleta e reuso da água. O tratamento será através de ”zonas de raízes” construídas ao longo das áreas húmidas do complexo (Figura 30).

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Figura 30 - Tratamento das aguas Cidade do Esporte, México. Fonte: www.taller13.com

O programa do complexo conta ainda com: centro de convenções; centro Desportivo de Alto Rendimento; Centro de Estudos, tecnologia e Medicina do Esporte; Hospital do Esporte; Museu do Esporte; quadras esportivas; hotéis; área comercial; áreas verdes; áreas húmidas; pomares; ciclovias e passeios conectados ao sistema de transporte público da cidade (Figura 31).

Figura 31 - Programa de necessidades Cidade do Esporte Fonte: www.taller13.com

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3.3 RIO LA PIEDAD MÉXICO

Figura 32 - Rio La Piedad Fonte: www.taller13.com

3.3.1 Aspectos Contextuais

O Taller13 Arquitetura Regenerativa também propôs um projeto de regeneração do rio La Piedad, na Cidade do México, hoje totalmente coberto por um viaduto que isola as avenidas marginais com altos muros.

O foco do projeto consiste na reabilitação do rio La Piedad desde a sua origem na parte urbana de Cuajimalpa até sua foz próxima ao aeroporto (Figura 32), por outro lado, a proposta também inclui um parque linear com diferentes áreas ao longo do rio com diversas atividades e programas.

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3.3.2 Aspectos Funcionais

O projeto contempla um parque linear, com espaços, atividades e programas diferentes ao longo do rio: pomares, jardins contemplação, lazer, educação, produção, espaços ao ar livre, pista de skate (Figura 33).

Figura 33 - Parque linear ao longo do Rio La Piedad Fonte: www.taller13.com

Está previsto também um novo eixo de mobilidade urbana leste/oeste, onde cada margem do rio comportará duas faixas para automóveis, uma faixa para transporte público, uma faixa de ciclovia para ambos sentidos, e um corredor de pedestres. Nas intersecções do que hoje é o viaduto com as principais avenidas, estão previstas estações multimodais de transporte.

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Figura 34 - Eixo de mobilidade Urbana. Rio La Piedad. Fonte: www.taller13.com

A proposta, no âmbito de qualidade ambiental, implica um sistema de gestão integrada da água que consistem em várias fases de utilização e reutilização de água.

Para o corredor biológico serão reintroduzidas espécies endêmicas do ecossistema para recuperar essa biodiversidade do ecossistema.

Figura 35 - Sistema de gestão da água. Rio La Piedad Fonte: www.taller13.com

Referências

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