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A DEFESA JURÍDICA DA MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NAS AUDIÊNCIAS DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO NUMAPE NA SEMANA DA JUSTIÇA PELA PAZ EM CASA

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Academic year: 2021

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A DEFESA JURÍDICA DA MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NAS AUDIÊNCIAS DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO NUMAPE NA SEMANA DA JUSTIÇA PELA PAZ EM CASA

Direitos Humanos e Justiça

Coordenador da atividade: Kátia Alexsandra dos SANTOS1

Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)

Autores: Jonathan SASSI2; Fernanda de Araújo BUGAI3; João Pedro LUY4;

Resumo

Trata-se de atividade proposta pelo Núcleo Maria da Penha de Irati-PR (NUMAPE) durante a Semana da Justiça pela Paz em Casa, promovida pelo CNJ e executada em diversas comarcas, entre os dias 20 e 24 de agosto de 2018 em Irati/Pr. Foram realizados atendimentos jurídicos em audiências de instrução e julgamento que atenderam vinte e seis mulheres em situação de violência doméstica, através da nomeação do advogado do NUMAPE na qualidade de assistente de acusação, que atuou na elaboração das peças processuais pertinentes e representou o interesse dessas mulheres durante as audiências. A finalidade da ação consistiu em prestar serviço jurídico especializado às mulheres em situação de violência que, na Comarca de Irati-Pr, não contam com assistências básicas da rede de enfrentamento à violência contra a mulher, tampouco há Defensoria Pública instituída. Como resultados, além do atendimento jurídico gratuito, foi possível identificar, através da atuação durante as audiências, elementos que colaboram com o crescente índice de agressões contra mulheres existente no Brasil, tais como: ausência de relevância da questão de gênero na fase de dosimetria da pena das sentenças; excessiva morosidade do poder judiciário, que provoca o instituto da prescrição; código penal com penas que não cumprem sua função e a estigmatização de mulheres a partir da conceituação e tratamento como vítima.

Palavra-chave: violência contra a mulher; violência doméstica; advocacia em prol da mulher.

1 Kátia Alexsandra dos Santos, servidor docente, psicologia. 2 Jonathan Sassi, bolsista (profissional recém-formado [direito]). 3 Fernanda de Araújo Bugai, bolsista (orientadora [direito]).

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Introdução

A ação jurídica apresentada, a qual foi desenvolvida durante a semana da Justiça pela Paz em Casa na Comarca de Irati-Pr, evento este proposto pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e realizado em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), situa-se dentro da proposta curativa do projeto de extensão NUMAPE – Núcleo Maria da Penha, o qual se propõe a prestar auxílio jurídico e psicológico no enfrentamento contra a violência doméstica, contribuindo para a divulgação e efetivação da Lei 11.340/2006.

A finalidade da proposta foi representar legalmente, através do defensor que atua no Núcleo Maria da Penha, as mulheres vítimas de violência nas audiências de instrução e julgamento que ocorreram durante o evento da semana da justiça pela paz em casa, o qual ocorreu entre os dias 20 e 24 de agosto de 2018 na Comarca de Irati-Pr. A necessidade desta ação justifica-se pelos fatos expostos a seguir.

Apesar do bojo da Lei 11.340/2006 apresentar diversos mecanismos de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar (BRASIL, 2006), a Comarca de Irati-Pr não dispõe de tais recursos. De fato, não conta com instituições básicas como: delegacia especializada da mulher, juizado de violência doméstica, defensoria pública, centro de referência de atendimento à mulher, dentre outros. Portanto, esta ação de extensão foi uma resposta imediata apresentada pelo NUMAPE às mulheres em situação de violência desta Comarca, as quais sofrem com a ausência de serviços especializados para suas necessidades.

Além da ausência de mecanismos especializados, outro argumento que deu origem a esta proposta de extensão foi a previsão legal contida na Lei (BRASIL, 2006), a qual estabelece:

Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado.

Justifica-se assim a importância da ação desenvolvida, uma vez que as atividades desempenhadas, em cotejo ao panorama local de ausência de mecanismos especializados no enfrentamento e combate à violência contra a mulher e diante da previsão legal previamente exposta, permitiram o efetivo atendimento especializado à população prevista. O público objeto desta ação foi constituído por mulheres que constavam no polo passivo de ações judiciais que versavam sobre violência doméstica. Ao total foram

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representadas 26 mulheres que haviam sofrido as mais variadas formas de violência, dentre as quais: ameaça, lesão corporal e perturbação de tranquilidade.

Metodologia

A metodologia utilizada foi a empírica, através da efetiva participação do pesquisador frente aos processos judiciais em trâmite em que foram partes as mulheres assistidas, de modo que se utilizou da pesquisa-ação, como forma de cooperação e participação para ao alcance dos resultados pretendidos que, no caso em tela, tratava-se da resolução ou intermediação para tal, dos conflitos correlacionados às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Nesse deslinde, o pesquisador, a partir do projeto de extensão a que representa, realizou a defesa técnica de 26 mulheres em situação de violência doméstica e familiar na Comarca de Irati-Pr. A atuação jurídica se deu na qualidade de assistente de acusação do Ministério Público, como advogado nomeado pela Vara Criminal da Comarca e tendo como papel primordial a representação dos interesses das referidas mulheres durante o processo.

O contato entre o pesquisador e o público-alvo deste projeto ocorreu nas dependências do Fórum instantes antes do início de cada audiência, uma vez que, em virtude da nomeação ter ocorrido um dia antes do início das atividades da Semana da Justiça pela Paz em Casa, não houve tempo hábil para realizar um atendimento mais detalhado. Os diálogos prévios tratavam sobre pontos cruciais do processo, porém, através deles e, apesar da escassez de tempo, foi possível observar um ponto comum na maioria dos casos atendidos: a preocupação das mulheres em situação de violência com a sentença dos agressores e sua incredulidade acerca da efetividade da função das eventuais penas.

Desenvolvimento e processos avaliativos

Os resultados acadêmicos alcançados provêm da análise e reflexão acerca dos resultados dos processos judiciais em questão, os quais serão divididos em dois grupos, a saber: 11 processos encerrados, dentre os quais 10 com sentença condenatória e 1 prescrito, mais 15 processos que permaneceram em tramitação.

A) Processos encerrados.

Dos 11 processos em análise 10 tiveram sentenças condenatórias. Das 10 sentenças nenhum agressor foi condenado ao regime fechado, portanto, todos estão cumprindo a pena

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em liberdade. Tal fato ocorre em virtude de que os crimes que mais possuem incidência de violência doméstica, tais como a ameaça e a lesão corporal, possuem penas de detenção, as quais excluem a hipótese do cumprimento em regime fechado (BRASIL, 1940):

Ameaça

Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Lesão corporal

Art. 129 § 9o - Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

De fato, em nosso sistema penal, quando a pena é fixada abaixo dos quatro anos, o apenado inicia o seu cumprimento no regime aberto, sempre quando não for caracterizada a reincidência, hipótese esta que, quando confirmada, implicará no início do cumprimento da pena no próximo regime mais gravoso, ou seja, no semi-aberto (BRASIL, 1940).

Art. 33§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

A primeira constatação a ser apresentada acerca das audiências é a surpresa e frustração das mulheres atendidas pelo projeto. É possível afirmar que a maioria esperava que os agressores cumprissem suas penas em regime fechado. Relataram descrença acerca da efetividade do cumprimento da pena em regime aberto e algumas até manifestaram medo de eventuais represálias por parte dos condenados.

Outro fator observado durante as audiências foi a falta de consideração do contexto de violência de gênero na fase de dosimetria da pena. Com efeito, apesar dos

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argumentos apresentados pela representação jurídica do NUMAPE, o fato de a violência ter sido praticada em um contexto de gênero não apresentava qualquer influência sobre o magistrado na primeira fase da dosimetria da pena, quando se levam em conta as circunstâncias judiciais desfavoráveis ao réu. Portanto, a exceção da privação de alguns benefícios perdidos pelo réu, impostos pelo rito da lei Maria da Penha, o fato de o crime ter sido cometido no contexto de violência de gênero parece não diferenciar em nada ao tratamento recebido por réus dos mesmos tipos penais que cometeram o crime em outros contextos.

Por fim, cabe destacar o fenômeno da revitimização. No calor dos debates, travados entre acusação e defesa durante as audiências, foi observada a exposição da vítima, quem, por muitas vezes, era obrigada a repetir diversas vezes os fatos ocorridos, os quais já haviam sido relatados em sede policial, sem qualquer preocupação acerca do dano que aquelas recordações poderiam lhe produzir.

B) Processos ainda em tramitação.

Dos 26 processos nos quais o NUMAPE foi nomeado 15 ainda estão em tramitação. O principal motivo foi a falta de intimação de pessoas cruciais para o andamento do processo. O transcurso do tempo e a lentidão da justiça são favoráveis ao réu e geram um dano irreversível para a vítima, o qual consiste em um fenômeno jurídico conhecido como prescrição. A consequência da prescrição é a extinção da punibilidade do réu (BRASIL, 1940).

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

Considerações Finais

Portanto, além do resultado prático da prestação de serviços jurídicos, a atuação do NUMAPE nas audiências realizadas durante a Semana da Justiça pela Paz em Casa permitiram identificar alguns problemas que ajudam a explicar o crescente índice de agressões contra mulheres existente no Brasil. Neste sentido é de primordial importância que, em sua atuação, o NUMAPE siga insistindo em pontos como: a relevância da questão da violência de gênero na fase de dosimetria da pena e a atenção que deve ser dispensada às mulheres em situação de violência buscando prover suas necessidades e evitar sua exposição indevida.

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A principal contribuição formativa para o profissional envolvido nesta ação foi a constatação da importância da prestação de um serviço especializado, o qual se faz necessário por expressa determinação legal e pelos fatores apresentados ao longo deste trabalho.

Referências

BRASIL. Lei 11.340, de 07 de Agosto de 2006. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 14 set.2018.

BRASIL. Decreto lei nº 2.848, de 07 de Dezembro de 1940. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 14 set.2018.

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