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Dialetica de TIC

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Academic year: 2021

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“Ou o tempo é invenção ou ele não é nada” Bergson

Esse pensamento bergsoniano parece descrever as vicissitudes vividas pelo homem na transição para o terceiro milênio, como decorrência da avassaladora transformação em todos do campos do saber, provocada pelo rápido avanço da ciência e da tecnologia. Tal avanço não foi, entretanto, acompanhado por alterações substantivas no âmbito educacional que, agora, está a exigir profunda reformulação.

Como decorrência da velocidade imprimida às mudanças, o futuro, imprevisível, se torna ameaçador em virtude de não ter sido buscado o equilíbrio entre a criação da tecnologia e seu domínio pelo homem. Esse equilíbrio só poderá acontecer com transformações no campo pedagógico. Apenas assim os educandos terão condições de se tornarem sujeitos de uma sociedade em constante estado de incerteza quanto ao que terá que enfrentar. Os vínculos construídos num mundo em que tudo é fugaz são transitórios, quer em termos culturais, quer afetivos, quer sociais. O compromisso não vem sendo, portanto, uma prática cultivada. As utopias, tão presentes no século passado, vieram perdendo progressivamente a sua força. Acreditamos ser essencial à juventude vislumbrar a possibilidade de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, em que haja condição de vida digna. Isso, entretanto, não vem caracterizando o momento atual!

A globalização favorece a unificação econômica e cultural do mundo. Porém, a tecnologia acentua a barreira entre os que têm e os que não têm acesso a ela. Esse fato se torna ainda mais significativo quanto à potencialidade de produzi-la e questioná-la.

São indiscutíveis as contribuições trazidas pela tecnologia, mas suas conseqüências negativas também se fazem presentes. Devendo estar colocada a serviço do humano, a tecnologia tem sido usada contra ele trazendo-lhe prejuízos e muitas vezes destruição. Cabe enfatizar, entre os resultados nefastos da tecnologia, a perda da identidade cultural e a adesão acrítica a idéias, projetos e valores impostos pelos países hegemônicos.

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com nitidez esse fato ao afirmar que “vivemos num mundo em que tudo circula: os veículos, os enunciados, as imagens, as informações, os homens” (p.17). Estamos cada vez mais dependentes das máquinas informacionais, fazendo com que o conhecimento, em vez de valor de uso, passe a valor de troca, podendo ser vendido e comprado.

Desse fato origina-se uma nova forma de dominação tecnocrata onde o saber se torna o fator que determina o poderio entre as nações e, pior ainda, o ponto de estrangulamento para países em desenvolvimento. (Lyotard, 1998).

É portanto natural que haja preocupação quanto à possível ameaça que a ciência e a tecnologia ainda possam trazer para a sociedade. Ameaça tantas vezes já tornada realidade em trágicos episódicos ocorridos na história recente da humanidade.

Alguns autores vêem a tecnologia como uma forma contemporânea do mal, não se dando conta de que é uma criação do próprio homem. Tendemos a condenar o que nos é estranho e que não corresponda ao que tenhamos herdado por tradição. Isso vem acontecendo com a tecnologia no momento presente (Lévy, 1999). Guattari (1999) defende posição distinta uma vez que postula que a tecnociência e a informática são formas desenvolvidas da própria subjetividade.

Seja qual for a postura assumida, a tecnologia está aí e não podemos negar sua interferência, quer em nível individual quer em nível social. Qualquer tentativa de ignorar a influência da digitalização do sinal eletrônico no mundo atual significa assumir uma posição retrógrada quanto à compreensão do avanço da ciência e da tecnologia.

Na opinião de Guattari (1999) “nenhum campo de opinião, de pensamento, de imagem, de afetos, de narratividade pode, daqui para frente, ter a pretensão de escapar da influência invasiva da assistência do computador” (p. 177).

Estamos, de certa forma, condicionados pelas novas tecnologias em tempo integral, seja através de correio eletrônico, telefone celular e demais acessórios que, cada vez mais, vêem sendo percebidos como indispensáveis à vida em sociedade.

De acordo com Lypovestky (1993), está ocorrendo uma mutação sociológica muito ampla que provoca um processo de personalização que rompe com a ordenação, disciplina e austeridade, originando uma sociedade em que o valor primordial é a liberdade de viver no aqui e agora, sem coação, a liberdade sexual, a anulação da

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hierarquia e a igualdade em tudo como conseqüência da ascensão do hedonismo e do narcisismo.

E agora perguntamos: será a educação capaz de lidar com essa mutação de valores que incessantemente vem sendo divulgada pela mídia? Sabemos que a tarefa é hercúlea, mas não pode ser relegada nem pela família, nem pelos educadores dos quais vêm sendo exigido cada vez mais, que dêem conta das tarefas antes exercidas pelos pais.

Para Morin (1995) vivemos uma crise de futuro e um presente angustiado e infeliz, na medida em que o desenvolvimento científico e tecnológico, além de não garantir a melhoria desse futuro, cria a possibilidade de manipulação da humanidade. Manipulação sutil do homem pelo homem e/ou do homem pelas entidades sociais. Criam-se máquinas para servir ao homem e colocam-se homens a serviço de máquinas (Morin, 1996). Essa problemática vem provocando a demissão do sujeito em termos morais e éticos havendo, consequentemente, o empobrecimento do humano.

É inegável a valorização delegada a especialistas que no momento presente tornam-se indispensáveis ao controle da realidade política, em detrimento dos demais cidadãos que se percebem impotentes por estarem alijados do direito de pensar e expressar suas idéias.

Torna-se imprescindível, portanto, a reconquista pela humanidade do domínio sobre o desenvolvimento científico e tecnológico. Esse domínio, porém, só será alcançado através da educação. Para que isso aconteça a capacidade de produzir ciência e tecnologia tem que ser o foco central do processo educativo. A educação, portanto, tem que se constituir em sujeito histórico dos tempos atuais (Demo, 1999). É pela educação que os alunos ascendem à condição de dialogar com a realidade e de nela se inserirem criativamente por meio da invenção do conhecimento.

Herrmann (1994) salienta que na contemporaneidade há a “perda da substância histórica do contato interpessoal, equalização cultural em torno de uma civilização dos meios em acelerada produção e incredulidade do cotidiano, que convergem para promover uma grande crise de representação da realidade” (p.329). Consequentemente, ocorrem mudanças culturais em que a introspecção e o respeito ao tempo cedem lugar a um raciocínio próprio do computador.

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Em vista disso, é preciso que o educando não apenas seja alfabetizado quanto à máquina informacional mas que, também, seja instigado a desenvolver raciocínio e posturas independentes. É através da educação que serão formados sujeitos críticos e criativos capazes de comandar a ciência e tecnologia existente no momento e de dominar o manejo do que ainda está por ser inventado. Para que isso se concretize é necessário que o educador consiga se apropriar criticamente da realidade e que detenha informações que o permitam transformá-la.

Sabemos que o processo de construção e/ou produção de conhecimento depende da capacidade de questionamento da realidade tanto por parte do professor quanto do aluno. Esse questionamento, tão desejado e necessário, é natural na criança que, desde muito cedo, quer saber o porquê dos fatos. Na maioria das vezes, porém, não é respondido ou sequer aceito pela escola. Isso faz com que os porquês sejam calados precocemente.

Outro aspecto também espontâneo na infância é a capacidade argumentativa que, se for estimulada adequadamente, evolui através da interação com seus pares. O diálogo, a troca, a percepção de pontos de vista diversos favorecem o desenvolvimento da autonomia, do senso crítico e da criatividade na criança. É indispensável, entretanto, que, para auxiliar o aluno no estabelecimento dessas condutas, o professor tenha, ele mesmo, vivenciado situações similares. Experiências passadas, por outro lado, não bastam. O professor precisa estar continuamente vivenciando essas situações na vida e, especificamente, em seu local de trabalho: a escola.

A escola necessita tornar-se uma rede de parceria, reflexão e debate tendo como meta a tessitura coletiva do conhecimento.

O educador tem ainda que estar preparado para lidar com a diversidade de inteligências, com as diferentes formas de aprender, considerar os conhecimentos prévios dos alunos e dominar as várias modalidades de comunicação. Tais exigências, freqüentemente, geram ansiedade, temor e, como decorrência, provocam resistência. O novo sempre ameaça!

Cabe à escola criar um clima que venha a eliminar ou minimizar a resistência surgida. O professor precisa sentir -se seguro para iniciar e dar continuidade a qualquer projeto. Precisa, além disso, estar preparado para lidar, não apenas, com o que já está

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posto mas, também, para propor o que deverá ocorrer. Essa parece ser a melhor forma de garantir atitude idêntica em seus alunos.

Educadores e educandos têm que ser os protagonistas da sociedade em constante transformação, pois cabe ao homem apropriar-se do processo, desenvolvendo habilidades que lhe permitam o acesso e o controle da ciência e da tecnologia, bem como de seus efeitos.

Não devemos ter a ilusão de que as novas tecnologias se constituam apenas como dispositivos complementares mas sim que caracterizem uma nova forma de pensar e de se relacionar com o real. É nessa interação que se tece o novo!

A sociedade da informação e da mediação simbólica necessita, cada vez mais, de pessoas que dominem as linguagens existentes, sejam autônomas, criativas, críticas, capazes de continuar aprendendo ao longo da vida e de se posicionar diante dos acontecimentos em seu entorno e no mundo.

É essencial ao homem, como já foi mencionado anteriormente, estar atento para perceber se as inovações tecnológicas estão sendo realmente benéficas para a humanidade ou se acentuam desigualdades sociais.

Neste milênio que se inicia vivemos um momento de crise que traz em seu âmago a convivência de ameaças e possibilidades. Essa crise, porém, pode ser entendida como um momento de evolução na história da humanidade. Para que essa evolução seja positiva para a sociedade, é urgente que a educação proporcione as condições necessária s para lidar com a interação da tecnologia com o humano.

Referências Bibliográficas DEMO, P. Desafios Modernos da Educação. Petrópolis: Vozes, 1999.

GUATTARI, F. Da Produção da Subjetividade. In, A. Parente (Org.) Imagem Máquina. A Era das Tecnologias do Virtual. Rio de Janeiro. Ed. 34 pp. 177-191, 1999.

HERRMANN, F. Mal-estar na Cultura e a Psicanálise no fim do Século. In. FICU. Junqueira (Org.) Pertubados Mundo Novo. São Paulo: Escuta 1994.

LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática: Rio de Janeiro. Ed. 34, 1999.

LYOTARD, F. A Condição Pós-Moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. LYPOVESTKY, G. A Era da Razão. Lisboa: Relógio D’água, 1993.

MORIN, E. A Construção de Sociedade Democrática e o Papel da Educação e do Conhecimento para a Formação do Imaginário do Futuro. In. E. P. Grossi e J. Bordin (Orgs.) Construtivismo Pós-Piagetiano: Um novo Paradigma sobre Aprendizagem.

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PARENTE, A. Os Paradoxos da Imagem Máquina. In. A. Parente (Org.) Imagem Máquina: A Era das Tecnologias do Virtual. Rio de Janeiro. Ed. 34, pp. 7-33, 1999.

Referências

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