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02-TEORIA-DO-COMERCIO-INTERNACIONAL

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Academic year: 2021

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CRISTINA MAIA

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO 1-3

2 A TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 2-5

2.1.1 AUTARCIA 2-5

2.1.2 COMÉRCIO LIVRE 2-5

2.2 VANTAGENS ABSOLUTAS 2-6

2.3 VANTAGENS COMPARATIVAS 2-6

2.4 A IMPORTÂNCIA DO RÁCIO DE PREÇOS 2-9

2.4.1 - DIFERENTES PREFERENCIAS DOS CONSUMIDORES 2-10

2.4.2 - DIFERENÇAS TECNOLÓGICAS 2-10

2.4.3 - DIFERENÇAS NAS DOTAÇÕES DE FACTORES 2-10

2.4.4 - AS ECONOMIAS DE ESCALA 2-11

2.4.5 - A DIFERENCIAÇÃO DO PRODUTO 2-11

2.5 VISÃO HISTÓRICA 2-13

2.5.1 COMÉRCIO E ESPECIALIZAÇÃO DESDE 1945 2-21

2.5.2 EVOLUÇÃO DOS TERMOS DE TROCA 2-23

3 DISTORÇÕES AO COMÉRCIO INTERNACIONAL 3-27

3.1 A PROTECÇÃO DO EMPREGO 3-27

3.2 INDÚSTRIA NASCENTE 3-28

3.3 INDUSTRIALIZAÇÃO 3-29

3.4 OUTROS MOTIVOS 3-30

3.4.1 CONTRACÇÃO DE DEFICITS NAS BALANÇAS DE PAGAMENTOS (NESTE CASO A NÍVEL

DA BALANÇA COMERCIAL). 3-30 3.4.2 CONTROLO DE PREÇOS 3-31 3.5 O DIREITO ADUANEIRO 3-32 3.5.1 QUANTO AO OBJECTO: 3-32 3.5.2 QUANTO AO OBJECTIVO: 3-32 3.5.3 QUANTO A FORMA: 3-32 3.5.4 DIREITO EFECTIVO 3-33

3.6 BARREIRAS NÃO PAUTAIS 3-33

3.6.1 RESTRIÇÕES AO PAGAMENTOS E CONTROLO CAMBIAL 3-34

3.6.2 QUOTA 3-34

3.7 RVE 3-35

3.7.1 SITUAÇÃO DE DISTORÇÃO 3-39

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4 A REDUÇÃO DAS RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO 4-45

4.1 INTEGRAÇÃO REGIONAL 4-45

4.1.1 ZONA DE COMÉRCIO LIVRE 4-45

4.1.2 UNIÃO ADUANEIRA 4-46

4.1.3 MERCADO COMUM 4-46

4.1.4 UNIÃO ECONÓMICA 4-46

4.1.5 UNIÃO ECONÓMICA E MONETÁRIA 4-47

4.2 GANHOS E CUSTOS DE INTEGRAÇÃO 4-47

4.2.1 DO PONTO DE VISTA DA EFICÁCIA GLOBAL DA ECONOMIA 4-47

4.2.2 DO PONTO DE VISTA DA EQUIDADE OU DISTRIBUIÇÃO DE GANHOS E PERDAS 4-48

4.2.2.1 Criação e Desvio de Comércio 4-49

4.2.3 DO PONTO DE VISTA DO IMPACTE SOBRE O CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO 4-50

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1 INTRODUÇÃO

A Teoria da Integração Económica baseia-se nos instrumentos de Comércio Internacional. Por isso, iremos seguir juntos um percurso que nos sistematizará as vantagens de ter comércio e as “vantagens” de introduzir barreiras ao comércio.

Para tal exploraremos as teorias clássicas de Adam Smith (1776) - Vantagens absolutas e de David Ricardo (1817) - Vantagens Comparativas.

Veremos como os Neo-clássicos

- Hecksher (1919) / Ohlin (1933) - Modelo 2x2x2 - Abundância relativa dos factores; - Stolper (1941) / Samuelson (1933) - Teorema de igualização dos preços dos factores e - Linder (1961) - Teoria da Procura Representativa

complexificaram estes modelos de modo a responder aos desafios do comércio internacional deste século, e como outros tentaram demonstrar na prática os seus raciocínios - “Paradoxo de Leontief” (1947).

Nesta busca em identificar as determinantes do comércio, abordaremos ainda algumas teorias recentes como:

- Vernon (1966) - “Ciclo de Vida do Produto”;

- Johnson (1968) pós Keynesiano - hipóteses do modelo neo-clássico e - Krugman (1985) - integracionismo/regionalismo.

Veremos, após a análise das barreiras ao comércio e uma breve visão histórica, em que nos preocuparemos essencialmente com o mercantilismo enquanto doutrina económica modeladora do “raciocínio” dos Estados tradicionais, que, perante o enquadramento internacional, tanto económico como político, existe uma grande força para o aparecimento de fenómenos de integração regional. Estes fenómenos apresentam diversos níveis com consequências muito diferentes.

Como não poderá deixar de ser, os fenómenos de integração regional trazem custos e benefícios. Iremos analisar como é que se devem medir esses custos do ponto de vista económico e global das economias.

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Ao longo das aulas a União Europeia será utilizada como “exemplo prático de integração regional”, dado ser o mais completo. Para além da política comercial europeia, outras políticas comuns serão estudadas, com a participação prática dos discentes e, como factor essencial (do ponto de vista deste docente) para o sucesso deste curso, transpondo para a realidade do Mercosul, por um lado, e do Brasil, por outro.

Iremos então começar pelo ponto mais atrasado e menos favorável da evolução do Homem: a situação de autarcia. Para a explicação teórica recorrer-se-á a alguns instrumentos básicos conhecidos dos economistas. Porém, o seu conhecimento não é essencial para a compreensão dos pontos fulcrais da matéria. Para os interessados poderemos acordar uma forma de recordar alguns destes instrumentos.

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2 A Teoria do Comércio Internacional

2.1.1 Autarcia

Em autarcia, como em comércio livre, uma economia pode produzir apenas o que lhe é permitido dada a dotação de recursos disponível. Ou seja, em caso de eficiência máxima e em situação de pleno emprego, o ponto Q de produção estará situado sobre a Fronteira de Possibilidades de Produção.

Do ponto de vista da produção, a situação mais eficiente será aquela que relacionar os preços (custos) dos factores com a sua produtividade.

Da mesma forma, a situação mais eficiente em termos de escolha do consumidor será aquela que iguala o rácio dos preços dos produtos ao das suas próprias preferencias (Utilidades Marginais). Assim, dado um determinado rácio de preços existente no mercado, o consumidor vai situar-se na curva de indiferença mais afastada da origem, num ponto dessa curva tangente ao rácio de preços. Obviamente o ponto C de consumo e Q de produção terão de coincidir, já que não existem trocas.

2.1.2 Comércio Livre

Com a introdução do comércio (livre), o rácio de preços relevante passa a ser o internacional (questão essencial caso tenhamos em mente uma pequena economia), passando o ponto de consumo Ccl a divergir do de produção Qcl. Desta forma obtém-se um bem-estar superior. Os produtores exportadores podem vender o seu produto no mercado internacional a um preço mais elevado, enquanto os consumidores podem adquirir os bens importados a um preço inferior. Este é o principal resultado de uma afectação de recursos mais eficiente a nível internacional, e de uma concorrência efectiva nos mercados nacionais.

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Que acontece à indústria que produz o bem importado?

Obviamente ela vai perder a "vantagem" de não ter concorrência interna. Como se irá ajustar?

O debate sobre os custos e os benefícios do comércio internacional é interminável. Cada vez que um novo produtor, vindo do exterior, entra num mercado, há um conflito de interesses (favorecendo os consumidores e prejudicando directa e imediatamente os produtores locais e os factores de produção afectos a essa indústria).

As vantagens do comércio internacional derivam de uma melhor afectação dos recursos disponíveis. Rybszynski demonstrou que, dada uma dotação de factores K e L, o país irá exportar o bem que utiliza intensivamente o factor mais abundante. Porém, a teoria inicial do comércio internacional baseava-se em princípios bem mais simples, como os das vantagens absolutas e comparativas.

2.2 Vantagens Absolutas

De acordo com Adam Smith, o país exportava o produto que produzia mais barato, sendo este aquele em que tinha vantagem absoluta.

T V Inglaterra 80 100 Portugal 90 80

Sem sobressaltos, a Inglaterra produziria Tecidos e Portugal Vinhos.

2.3 Vantagens Comparativas

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Ricardo interessou-se pelo comércio entre dois países, a Inglaterra e Portugal. Supôs que estas Nações produziam ambas os mesmos bens, tecidos (T) e vinho (V). Supôs ainda que o único custo a ter em conta era constituído pelo número de pessoas a trabalhar durante um ano. Ficou assim com os seguintes custos de produção:

T V Inglaterra 100 120 Portugal 90 80

Segundo Adam Smith, a Inglaterra, em desvantagem absoluta relativamente a Portugal nos dois bens, não deveria produzir nenhum dos bens e deveria importar ambos.

É claro que tal solução não pode ser encarada pois, não produzindo nada, a Inglaterra não possui meios de procurar os bens em questão. Apesar destas desvantagens absolutas, aquele país deve procurar organizar-se melhor, produzindo pelo menos um dos dois bens.

Como Ricardo se apercebeu perfeitamente, a troca internacional pode trazer a Inglaterra um acréscimo de bem-estar relativamente ao isolamento.

A Inglaterra, com efeito, é levada, por motivos tecnológicos, a renunciar a produção de 120/100 unidades de T se quiser obter uma unidade suplementar de V. Isto é, para a Inglaterra é favorável à troca com Portugal se este país lhe levar por uma unidade de V um preço em T inferior a 120/100.

Simetricamente, Portugal não obtém interiormente mais do que 80/90 unidades de T quando renuncia a uma unidade de V. Este país será assim favorável a trocar com a Inglaterra se, oferecendo uma unidade de V, obtiver mais do que 80/90 unidades de T.

Isto é, todo o preço de uma unidade de V em termos de T compreendido entre 80/90 e 120/100 será aceitável para os dois países dado ser favorável para ambos.

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Ricardo mostrou, assim, que cada país tem interesse em se especializar na produção do bem no qual se verifica o custo relativo mais baixo e exportá-lo para outro país.

Não especificou, porém, qual o grau de especialização óptimo, ficando subentendido, das hipóteses base, que a FPP, para Ricardo, era linear, logo, o país teria toda a vantagem em se especializar completamente, dependendo do rácio de preços, ou seja:

1º Se o preço relativo da troca estiver compreendido entre os custos relativos dos dois países, e se cada país maximizar o valor da sua produção com aquele preço, então:

a) A sua especialização é total na produção do bem no qual tem o custo relativo mais baixo;

b) Ele ganha na troca relativa ao isolamento.

2º Se o preço relativo de equilíbrio coincidir com o custo relativo num dos dois países, e se cada país maximizar a sua produção com aquele preço, então:

a) O país onde o custo relativo do isolamento coincidir com o preço relativo de equilíbrio tem produções indeterminadas e não ganha nada com a troca;

b) O país onde o custo relativo do isolamento é diferente do preço relativo do equilíbrio especializa-se na produção do bem onde o custo relativo é mais baixo, e obtém um ganho máximo na troca.

É, portanto, certo que a troca internacional entre dois países produzindo dois bens, com um único factor primário, a custos fixos, conduz a um ganho líquido em relação ao isolamento, pelo menos para um dos países, desde que o preço relativo da troca seja intermédio ou coincidente com o custo relativo do isolamento de um dos dois países.

De notar, ainda, que o preço relativo da troca não poderá ser sempre inferior ou sempre superior ao custo relativo do isolamento de cada país, num mundo onde apenas existem dois países prontos a trocar. Se, com efeito, o preço de V for inferior a 80/90 unidades de T, cada um dos países vai procurar adquirir V junto do seu parceiro uma vez que o preço de V se torna vantajoso para os dois países. Agindo desta forma, cada um não vai produzir senão T para adquirir V. Tornando-se a oferta de V nula e a sua procura importante, o preço relativo de V vai necessariamente subir, pelo menos até ao ponto em que um dos dois países se decidir a produzir

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Existe assim um mecanismo automático agindo sobre o preço e provocando o seu retorno a um nível pelo menos igual ao custo relativo do isolamento mais baixo. Um raciocínio semelhante baseado na existência de uma oferta nula de T, a um certo nível de preço, permite mostrar que p (preço relativo da troca) não pode situar-se sempre acima de 120/100.

Assim, numa situação de equilíbrio, tem-se necessariamente:

80 <= P <= 120

90 100

Toda esta análise nos permitiu ver que, em certas condições, definidas nas hipóteses, a troca internacional, se estiver conforme a regra da vantagem comparativa, é preferível à autarcia.

Esta análise, no entanto, não indica qual o nível exacto das trocas entre os países. A determinação dos fluxos de exportação e importação fica por fazer, para se poder completar a descrição deste mundo de duas nações. Ora essa determinação necessita que se defina o que se entende por equilíbrio internacional e que se precise também quais as funções da procura dos países.

2.4 A importância do rácio de preços

O raciocínio base a esta teoria da vantagem comparativa e a todas as teorias do comércio internacional, é a existência de preços diferentes entre países diferentes. Este mecanismo, "o rácio de preços", vai afectar todo o comportamento das economias, quer no mercado de outputs quer no mercado de inputs, quer na afectação dos recursos a cada indústria, etc.

Como o preço é o resultado de um jogo entre a oferta e a procura, a diferença dos preços entre países deve ter origens quer do lado das preferencias dos consumidores quer do dos custos diferentes na oferta.

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2.4.1 - Diferentes preferencias dos consumidores

É o caso óbvio do gosto, impartilhado, dos Portugueses por bacalhau. A procura portuguesa deste produto influencia significativamente os preços internacionais deste produto que, a nível interno (Noruega, Canadá) não tem grande valor económico.

2.4.2 - Diferenças tecnológicas

A utilização de tecnologias diferentes repercute-se na estrutura de custos de ambos os países de forma diferente.

Note-se que a utilização de uma tecnologia inovadora e mais eficiente terá como consequências um aumento da produtividade marginal do trabalho e uma expansão da FPP, como um todo.

2.4.3 - Diferenças nas dotações de factores

No fundo é a constatação do teorema de Rybszynski acima referido. Este explica convenientemente o comércio intersectorial, como aquele que se verifica entre o Norte e o Sul. Se alterarmos ligeiramente a demonstração, introduzindo a diferenciação entre mão-de-obra qualificada e não qualificada poderemos explicar, também parte do comércio intra-industrial.

Além destas diferenças "primárias" existem alguns factores que explicam o comércio intra-industrial, como:

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2.4.4 - As economias de escala

Existem economias de escala quando o crescimento da produção permite uma redução dos custos unitários de produção ("rendimentos crescentes à escala" ou "custos de escala decrescentes"). Há 3 tipos principais de economias de escala:

a) as que derivam da capacidade técnica instalada/a instalar (ex.: refinaria de petróleo; altos fornos)

b) as que estão ligadas à dimensão da própria empresa permitindo vantagens no aprovisionamento, no acesso ao crédito, na investigação, na distribuição, etc.

c) as que derivam do conhecimento técnico ("curva de aprendizagem" da empresa); Quanto mais se produz mais barato se produz. Esta ideia está intimamente ligada à de ciclo de vida do produto ou da empresa, sendo frequentemente eliminada enquanto "economia de escala", soi-même. Frequentemente as economias de escala levam a empresa a reduzir a sua gama de produtos, especializando-se.

A dimensão do mercado influencia determinantemente a estrutura de produção nestes casos, podendo o comércio internacional fornecer a necessária dimensão, passando, assim, a falar-se de procura relevante para a empresa. Porém, se a abertura ao comércio se traduzir, não num aumento do mercado mas, sim, da concorrência, podemos ficar numa situação proibitiva da actividade da empresa ou numa situação globalmente inferior, caso se trate de um monopólio natural.

2.4.5 - A diferenciação do produto

A diferenciação do produto está directamente relacionada com a questão das preferências dos consumidores. Cada produtor tenta diferenciar o seu produto do dos seus concorrentes de modo a obter um preço superior junto do consumidor.

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São estes basicamente os fundamentos do comércio internacional, que desenvolveremos ao longo das aulas.

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2.5 Visão Histórica

Embora possamos facilmente conceptualizar uma economia verdadeiramente fechada, na prática temos alguma dificuldade em encontrá-la, sendo necessário recuar, mesmo, uns milhares de anos. A base da economia pré-histórica parece ser eminentemente fechada. Mesmo assim, a partir do momento em que o homem se especializou (caça, agricultura) passou a existir a necessidade de troca, se não a um nível mais alargado, pelo menos dentro do mesmo clã ou família. Dessa forma, vivendo em autarcia, o nível de bem-estar, tal como o vimos agora, era bastante reduzido. Note-se que a existência de trocas entre clãs, embora tenha em si as mesmas necessidades, não constitui um exemplo de início do comércio internacional. Porém, quando as trocas aumentaram de volume e, sobretudo, de abrangência, terminou a economia fechada pré-histórica.

A partir desse momento o Homem não parou de buscar novas satisfações para as suas necessidades, tendo muitas civilizações florescido com base no comércio. Este servia perfeitamente os interesses de manutenção dos vários Impérios, podendo-se afirmar que, com a queda do Império Romano, o comércio internacional se reduziu substancialmente.

Mesmo assim, durante o período feudal mantiveram-se algumas rotas seculares de comércio e foram progredindo as feiras e mercados (embora devessem ser considerados de índole regional e não internacional - noção pouco aplicável à época feudal). Assim, mais do que um exemplo de comércio internacional, a época feudal é um óptimo exemplo da existência de barreiras ao comércio.

O surto renascentista, associado ao avanço turco na Europa e à consolidação do Império Otomano (bloqueando as rotas comerciais estabelecidas, sem deixar alternativa a Leste), contribuíram para a expansão ultramarina. Esta tem como efeito, entre muitos outros, trazer parte substancial do mundo, até aí isolada, para um sistema mundial organizado. Este é um factor essencial do desenvolvimento de uma política comercial que marcou a economia internacional do Sec. XV ao Sec. XVIII: O mercantilismo.

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Assenta resumidamente, em 6 princípios:

O Bem estar nacional é uma função do entesouramento monetário:

Um intenso comércio externo é prioritário em relação ao consumo interno e às importações, e a indústria transformadora deve ser prioritária em relação à agricultura; A política económica orienta-se tanto quanto possível pelo ideal da autarcia;

São desejáveis populações numerosas, como condição decisiva para a riqueza e o poder nacionais;

A intervenção estatal na economia é não só justificada como necessária;

Os interesses económicos dos Estados são no essencial contraditórios e concorrentes.

As doutrinas mercantilistas transparecem nas atitudes dos governantes de vários países.

Em Portugal e Espanha, o mercantilismo assumiu a forma de acumulação de metais preciosos - o bulionismo - trazidos pelos navegadores.

Em França, país que não explorava directamente os metais, surgiu o industrialismo ou Colbertismo, como meio de atrair esses metais.

Na Inglaterra gerou-se o verdadeiro mercantilismo, através do qual não há oposição as importações desde que os quantitativos de exportação sejam superiores e crescentes, incluindo, como valor activo na Balança Comercial, os fretes marítimos. Foi Cromwell quem, entre outros teóricos do mercantilismo, concretizou este sistema em Inglaterra. A existência de um mercado de exportação, inicialmente quase ilimitado, foi a base da industrialização da Inglaterra.

O crescimento económico, isto é, a organização em cada momento, da maneira mais eficaz, dos factores produtivos em ordem à produção de bens para o mercado interno e, posteriormente, cada vez mais, para o mercado externo, tornara-se desde o Sec. XVI no maior interesse das classes política e socialmente dirigentes da Europa.

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Gerara-se uma concorrência e rivalidade reforçadas entre os Estados que saíam de um processo de consolidação económica e politico-territorial.

Com o racionalismo, a eficiência e o utilitarismo como princípios orientadores, parecia ser apenas uma questão de tempo para que as descobertas cientificas fossem aplicadas em aparelhos mecânicos, e a produção deixasse de consistir somente na utilização organizada e eficiente do trabalho humano, para se alargar à utilização organizada e eficiente de outros meios de produção.

Um conjunto de circunstâncias proporcionou que a revolução industrial, com toda a sua dimensão, partisse de Inglaterra e não de outro país. Circunstâncias que passam pela sua situação geográfica, afastada de influências políticas paralizantes, por um crescimento populacional rápido nos séculos XVII e XVIII associado a uma Revolução Agrícola libertadora de mão-de-obra, pela concentração das manufacturas na fiação e tecelagem, o que se relevou favorável porque facilitou a aplicação das novas máquinas, e ainda pelo facto de a integração territorial do Reino Unido ter ocorrido cedo (1707), proporcionando um mercado interno mais unificado que o da maior parte dos países concorrentes. Não se pode deixar de mencionar também a existência de jazigos de carvão facilmente exploráveis. Todas estas condições não teriam funcionado se o contexto internacional não fosse favorável, como se disse, através de um mercado externo enorme.

Muito embora pareça, à primeira vista, uma forma simplista de encarar uma situação tão complexa como foi a revolução industrial, quase todos os especialistas de história económica consideram que foi o sector exportador - o comércio externo de produtos acabados ou semi-acabados - que deu o impulso decisivo. O Estado Inglês, proibindo a exportação de máquinas através de penalizações para evitar a divulgação de conhecimentos tecnológicos, teve um papel importante.

Adam Smith (século XVIII) condenou estas práticas monopolistas por as considerar perniciosas a longo prazo; mas em 1842, quando foi levantado esse tipo de proibições, já a Inglaterra tinha conquistado uma posição muito favorável.

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O desenvolvimento tecnológico em meados do século XVIII teve como consequência a transição do capitalismo essencialmente comercial para o capitalismo essencialmente industrial. Os países continuavam a organizar-se para a concorrência, mobilizando para isso todos os seus recursos.

Estas considerações têm aqui cabimento, apenas na medida em que mostram o funcionamento das sociedades na fase de expansão comercial e industrial. Finalmente interessara salientar que, enquanto a revolução industrial em Inglaterra se desenvolveu sobre protecção do Estado, não sendo produto seu, o contrário se passou com a Alemanha unificada, processando-se a partir de cima. O mesmo se passou no Japão, que foi "aberto" na segunda metade do século XIX por interesses americanos, tendo os japoneses visto claramente que o país estava colocado perante a alternativa da industrialização vinda de fora, pelo que protegeram o desenvolvimento de um capitalismo industrial próprio.

O crescimento considerável das trocas internacionais nos últimos dois séculos está incontestavelmente ligado ao crescimento da produção, este por sua vez relacionado com acontecimentos múltiplos:

crescimento da população, as descobertas técnicas, a acumulação de capital,

as modificações nas necessidades,

a divisão nacional e internacional do trabalho.

O aumento regular e elevado dos fluxos de comércio entre Nações é ao mesmo tempo causa e consequência do crescimento e resulta da lógica da evolução do sistema económico no seu conjunto.

Um conjunto de fenómenos, levaram à desigualdade nas trocas. Constatou-se que a parte relativa ao comércio dos produtos primários diminuiu no valor total das trocas, ao mesmo tempo que os países menos desenvolvidos participam cada vez menos nas trocas, em termos relativos.

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Associada à evolução do comércio internacional está a progressiva especialização das economias. Esta evolução não se deu em todos os países ao mesmo tempo. Nos séculos XVIII e XIX há a salientar o papel desempenhado pela Inglaterra que, desde o século XVIII, inicia o seu processo de industrialização, desenvolvendo a produção de produtos manufacturados (têxteis sobretudo) e abandonando progressivamente a produção agrícola que substitui por importações. A sua produção industrial cresce regularmente durante o século XVIII enquanto o seu comércio progride a um ritmo superior: crescimento das importações e das exportações, estas a uma taxa um pouco superior à das importações.

A influência dos mercados externos sobre o dinamismo da indústria inglesa é demonstrada pelos índices seguintes: escolhendo o ano de 1700 como base (índice 100), constata-se que a produção das indústrias viradas para os mercados externos atinge o índice 544 em 1800, enquanto que a produção das indústrias orientadas para os mercados internos tem o índice 152 nesse mesmo ano.

As exportações inglesas, essencialmente constituídas por produtos manufacturados, são, cada vez mais, destinadas às colónias britânicas: em 1790 o Canadá, os Estados Unidos e a Índia apenas absorviam 12,8% das exportações da Inglaterra, mas no fim do século aquela percentagem tinha subido para 66,6%.

Simetricamente as colónias contribuíam cada vez mais para o aprovisionamento do Reino Unido em matérias primas e produtos agrícolas: forneciam 33,1% da totalidade das importações inglesas em 1790 e 56,3% em 1797-1798.

Assim, a par do dinamismo exportador da Inglaterra, desenha-se durante o século XVIII a divisão internacional do trabalho entre colónias e metrópole.

Durante o século XIX o comércio mundial é dominado pela total supremacia da Inglaterra: as descobertas técnicas que vinham da primeira revolução industrial permitem um crescimento económico regular e intenso no Reino Unido. Esta expansão é ajudada pela existência de mercados externos coloniais que fornecem o necessário à alimentação dos operários ingleses, e que compram uma boa parte dos produtos manufacturados (têxteis, químicos e siderurgia) elaborados pela metrópole. Tendo em conta que a metrópole detém um monopólio de compra e

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venda para aqueles bens, ela pode, graças a essa operação, obter um importante lucro proporcionado pelas colónias, o qual lhe permite fazer aumentar ainda mais a taxa de crescimento.

Num século, o volume das importações inglesas multiplicou-se por vinte e o volume das exportações por vinte e cinco.

Sob o impulso do Reino Unido, o comércio mundial conheceu um forte crescimento: foi multiplicado por dez entre 1850 e 1913.

No período da segunda metade do século XIX, a Alemanha, a França, e depois o Japão e os Estados Unidos realizam a sua industrialização com cinquenta anos de atraso relativamente à Inglaterra. No entanto desempenharam um importante papel neste processo. O seu nível de crescimento e o seu tipo de organização tornam-se semelhantes aos da Inglaterra no fim do século XIX e princípio do século XX. Em 1913, as quatro nações industriais dominantes (excluindo o Japão) detêm 45% do comércio mundial.

Em 1913, o essencial do comércio mundial é organizado pelo polo ocidental constituído pela Inglaterra, a Alemanha e a França.

Estas compram ao resto do mundo, particularmente às suas colónias e aos Estados Unidos, produtos energéticos mas, sobretudo, matérias primas, e por vezes também produtos agrícolas. Transformam-nos, graças aos seus complexos industriais, em produtos manufacturados que revendem em parte aos seus fornecedores iniciais.

No interior deste polo ocidental, a Inglaterra detém uma posição notável na medida em que vem à cabeça no crescimento e nas trocas, e pelo facto de possuir a maior especialização, isto é, importa uma grande parte da sua alimentação e vende uma grande parte dos seus produtos industriais.

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especialização internacional apresentado pela Inglaterra. Quanto aos Estados Unidos, apesar de se encaminharem para um tipo de especialização semelhante ao do Reino Unido, têm uma industrialização demasiado recente para permitir a exportação de muitos produtos manufacturados: as suas exportações são, ainda, essencialmente constituídas por bens agrícolas e matérias primas.

No fim do século XIX a posição comercial predominante da Inglaterra enfraquece, assim como a da França. Já no século XX a parte da Inglaterra no comércio mundial de produtos industriais passa de 38,1% em 1885 para 27,2% em 1913, e a França de 14,5% para 11,8%.

Pelo contrário, a Alemanha e os Estados Unidos conhecem um crescimento nítido das suas contribuições no mesmo período: a parte da Alemanha no comércio mundial dos produtos industriais passa de 17,1% para 21,6%, enquanto nos Estados Unidos as percentagens correspondentes são de 4,1% e 9,6%.

Depois da expansão notável e regular das trocas durante o século XIX, o comércio do período entre as duas guerras é caracterizado por uma estagnação a longo prazo e flutuações de grande amplitude de curto e médio prazos.

No entanto, a divisão internacional do trabalho instaurada não é, por contrapartida, modificada.

O volume global do comércio mundial praticamente não cresceu entre 1913 e 1938: se tomarmos o volume das exportações mundiais em 1929 como base (índice 100) constata-se que em 1913 o índice era de 75 pontos e em 1938 era de 80. Em 25 anos as trocas internacionais não aumentaram senão 7%, o que não é nada, comparado com os ritmos de crescimento anteriores à primeira guerra mundial.

O comércio mundial conheceu no período entre as duas guerras altas e baixas espectaculares, enquanto as flutuações cíclicas de produção no século XIX nem sequer afectaram as trocas em termos globais.

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As razões desta estagnação a longo prazo e das flutuações a médio prazo são ao mesmo tempo estruturais e conjunturais.

Razões estruturais são as limitações impostas pelo facto de as grandes potências terem conduzido à partilha do mundo, estando os países do Leste, com a sua industrialização no início, votados à autarcia; estruturais, ainda, uma vez que a inovação técnica, fonte do progresso económico, marcou passo depois das descobertas científicas e das realizações revolucionárias do século XIX (construção do caminho de ferro, electrificação).

Razões conjunturais vêm reforçar aquela estagnação a longo prazo e as flutuações a médio prazo, sendo constituídas pela conjuntura desfavorável da época, que proporcionou um retardamento das trocas e, por vezes, à sua descontinuação. A grande crise de 1929, que atingiu particularmente os Estados Unidos e a Alemanha, provocou uma baixa importante do volume das exportações mundiais e uma deterioração dos preços nos mercados internacionais.

Além destes, outros factores conjunturais vieram provocar uma diminuição das trocas, como seja o conjunto de medidas proteccionistas tomadas durante a crise e ainda as realizadas depois da primeira guerra pelas grandes potências, desejosas de se protegerem contra as flutuações da conjuntura internacional. Depois de um século de livre troca, a Inglaterra aceita, em 1921, colocar barreiras aduaneiras para proteger as indústrias criadas durante a guerra. Depois da crise de 1929 quase todos os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos que seguiam a prática da livre troca, puseram limites às importações nos ramos ameaçados pela concorrência internacional; instauraram não somente tarifas aduaneiras mas também contingentes à importação.

A divisão internacional do trabalho, organizada pelas nações industrializadas a seu proveito, mantém-se mas agora dois novos países vêm juntar-se à Inglaterra, Alemanha, França e Estados Unidos: trata-se do Japão e do Canadá.

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2.5.1 Comércio e especialização desde 1945

Depois do fim da segunda guerra mundial as exportações conheceram um ritmo excepcional de crescimento, quer na regularidade quer na intensidade.

Esta tendência foi ainda mais forte para as exportações de bens manufacturados do que para o conjunto das exportações.

As causas preponderantes deste fenómeno são, por um lado, a existência dum intenso crescimento da produção, por outro lado, a organização internacional a favor da intensificação das trocas (criação de uniões aduaneiras tais como a CE, a Associação Europeia de Comércio Livre, as negociações a favor de uma redução dos direitos aduaneiros).

O dinamismo excepcional das trocas internacionais é devido, tal como anteriormente, ao papel preponderante desempenhado pelas nações industrializadas. O papel de polo desempenhado por estes países não é certamente novo; mas enquanto que entre as duas grandes guerras o afastamento entre os dois grupos de países (industrializados e não industrializados) tinha tendência a reduzir-se, depois de 1945 a tendência alterou-se: a taxa de crescimento das trocas dos países desenvolvidos é nitidamente superior à taxa de crescimento das trocas dos países subdesenvolvidos.

Se se consultar as estatísticas da C.N.U.C.E.D. (Conferencia das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento) publicadas em 1969, verifica-se que se destinguem três classes de países: os da Classe I (países desenvolvidos não socialistas); os da classe II (países não desenvolvidos) e os da Classe III (países socialistas). O crescimento do comércio mundial, na parte relativa aos países da classe I, foi naquele período muito superior ao dos de Classes III, onde o comércio internacional praticamente se manteve, enquanto que decresceu nos países de classe II. Também se verificou que a dependência dos países subdesenvolvidos, relativamente aos desenvolvidos e aos socialistas, aumentou bastante.

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Assim, limitando-nos de momento ao ponto de vista quantitativo, deve notar-se neste período uma baixa da participação do Terceiro Mundo no conjunto do comércio mundial e a intensificação das trocas destes países com os restantes, intensificação que significa uma maior dependência económica.

Além destes fenómenos gerais, deve notar-se que no interior de cada classe de países existem grandes desigualdades de participação. É a Europa Ocidental que tem o papel preponderante entre os países desenvolvidos, pois realiza 50% do comércio mundial, enquanto os Estados Unidos realizam cerca de 20%. No entanto, em termos de crescimento durante o período considerado, é o Japão que lidera pois multiplicou por dez as suas exportações entre 1953 e 1968, enquanto a Europa Ocidental multiplicou por quatro e a América do Norte por 2,7.

Também nos países de Classe II se verificou a existência de uma grande desigualdade, apresentando os países do Médio Oriente taxas de crescimento das trocas bastante elevadas, quase semelhantes às da Europa Ocidental, enquanto nos países da África e da América Latina as taxas de crescimento das trocas são muito menos elevadas.

A estrutura das exportações e importações dos países desenvolvidos manteve-se sem alterações substanciais relativamente ao século XIX: os produtos manufacturados, os químicos e as máquinas representando uma parte importante das exportações; os combustíveis e os minerais metálicos constituindo uma grande parte das importações. Note-se no entanto que a parte das importações relativa aos produtos agrícolas diminuiu substancialmente o que significa que os países industrializados se tornaram mais auto-suficientes na sua alimentação.

Quanto aos países subdesenvolvidos eles importam essencialmente produtos manufacturados e exportam produtos de base. Estas características não se modificaram muito, mas evoluíram um pouco: a parte constituída pelos produtos de base nas exportações diminuiu nitidamente entre 1960 e 1969 e a parte constituída pelos manufacturados cresceu, não pelos bens de equipamento mas pelos bens de consumo. Na estrutura da exportação de produtos de base dos países subdesenvolvidos verificou-se uma modificação: as matérias primas agrícolas diminuíram, bem

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tendo até crescido regularmente em relação ao total durante este período. Em suma, a divisão internacional do trabalho, instaurada pela Inglaterra no século XIX, continua da seguinte forma: os países desenvolvidos exportam produtos manufacturados para o Terceiro Mundo, e estes enviam para os países desenvolvidos matérias primas agrícolas, energéticas e minerais.

Mas as importações dos países industrializados são mais significativas em produtos energéticos e minerais do que agrícolas; por outro lado, os países desenvolvidos comercializam cada vez mais entre si.

Muito embora a parte proveniente do Terceiro Mundo nas importações dos países industrializados seja fraca, o carácter muitas vezes vital dessas importações para o desenvolvimento dá ao Terceiro Mundo um poder real, como se testemunha nas dificuldades das Nações Ocidentais, desde meados dos anos setenta, no aprovisionamento do petróleo. Deve lembrar-se que três quartos das reservas do petróleo são detidas pelo Terceiro Mundo e que os países industrializados adquirem a totalidade ou grande parte dos minerais que consomem aos países subdesenvolvidos.

2.5.2 Evolução dos Termos de Troca

Em matéria de preços das trocas internacionais não é o índice geral que interessa mas sim a evolução comparada dos preços dos diversos bens e dos diversos países. A deformação, através do tempo, do sistema de preços relativos existente num dado momento, indica, com efeito, as condições nas quais a troca internacional evolui. Mais precisamente, um problema essencial para cada país é o de saber se, com determinadas exportações, ele obtém um inferior, igual ou superior volume de importações, em relação ao período anterior.

O estudo da evolução da estrutura dos preços internacionais pode fazer-se de dois pontos de vista: do ponto de vista dos bens e dos países. No primeiro caso, estudam-se as modificações através do tempo do preço relativo dum tipo de bens em relação ao outro. No segundo caso, procura-se caracterizar por índices de preços sintéticos o nível geral dos preços das exportações e

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das importações dum país ou grupo de países. A razão dos índices de preços é geralmente chamada "termos de troca".

Se os termos de troca do bem i relativamente ao bem j diminuem, significa que o preço de i relativamente ao de j baixa, portanto que os exportadores de i adquirem cada vez menor quantidade de j por cada unidade de i.

Se os termos de troca de i aumentam relativamente a j, os exportadores de i adquirem cada vez maior quantidade de j por cada unidade de i.

Os termos de troca de um país são a razão entre o índice de preços das suas exportações e o índice de preços das suas importações; o aumento destes termos corresponde de certo modo a um melhoramento para o país uma vez que este, para um dado preço de cada unidade importada, obtém um preço mais elevado para cada unidade exportada; a deterioração dos termos de troca corresponde, na mesma óptica, a um empobrecimento do país.

Há portanto tendência, apoiando-se neste tipo de raciocínio, para considerar que uma boa medida da vantagem na troca é constituída pelos termos da troca. Na realidade, a evolução da vantagem na troca não tem a ver apenas com os preços relativos do comércio; tem também a ver com as quantidades trocadas que podem ou não corresponder a um ganho suplementar. Se, por exemplo, a melhoria dos termos de troca de um país é suficientemente elevada para provocar uma restrição importante das suas exportações, e também das suas importações, pode dizer-se que o bem estar do conjunto do país se encontra reduzido. Neste caso, apesar da melhoria dos termos de troca, o país empobrece. Assim, o conhecimento da evolução dos termos de troca pode, por si só, dar por vezes uma falsa ideia de vantagem, até porque os métodos de definição dos índices de preços, e portanto dos termos de troca, são numerosos e todos sujeitos a erros. Resta, no entanto que o conhecimento dos movimentos dos termos de troca a longo prazo para as grandes categorias de bens ou de países, dá uma ideia interessante das condições nas quais a troca internacional intervém no processo de crescimento económico.

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dos preços dos produtos exportados pelos países subdesenvolvidos relativamente aos preços dos produtos exportados pelos países desenvolvidos.

- Movimentos dos preços dos produtos de base relativamente aos preços dos produtos transformados:

São chamados produtos de base os produtos agrícolas pouco transformados (cereais, chá, café, cacau, frutos exóticos, couros, algodão, linho, borracha), as matérias primas energéticas (petróleo, carvão, gás natural) e os minerais metalíferos. Os preços dos produtos de base são caracterizados por uma grande instabilidade a curto e médio prazo e por uma forte variabilidade de produtos para produto. Um estudo das Nações Unidas, mostra através de um índice de preços construído sobre vinte e cinco produtos no período de 1927 a 1950, que a importância das flutuações varia consoante os produtos: o café, o cacau, o algodão, a borracha, a juta, o linho têm flutuações cíclicas muito elevadas, enquanto a carne possui um preço mais estável.

A evolução recente dos preços de certas matérias primas é muito significativa da amplitude das flutuações. Constata-se, por exemplo, que desde 1971 um certo número de matérias primas conheceram uma alta considerável dos seus preços. Já se verificaram nos mercados mundiais variações nos preços dos produtos de base na ordem dos 200% a 300% durante alguns meses, o que dá uma ideia do clima de incerteza sobre os mercados no qual se podem encontrar os operadores.

Quanto à evolução a longo prazo dos preços dos produtos de base relativamente aos preços dos produtos manufacturados, o estudo das Nações Unidas publicado em 1941 mostra claramente a existência de uma degradação dos seus termos de troca. De facto, a razão entre o índice de preços dos produtos de base e o índice de preços dos produtos manufacturados era de 100 em 1938, 137 em 1913, 147 em 1867-1880. Estudos posteriores vão no sentido de que a tendência à degradação iria continuar. Os resultados do decénio de 1950-1960 dão nitidamente razão aqueles pessimistas.

- Movimento secular dos termos de troca dos países subdesenvolvidos relativamente aos desenvolvidos: os termos de troca dos países subdesenvolvidos relativamente aos desenvolvidos

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correspondem à razão entre o índice de preços característico das exportações dos países subdesenvolvidos e o índice de preços característico das exportações dos países desenvolvidos.

Diz-se muitas vezes que os termos de troca se deterioraram desde o início do século e que esta degradação secular é em parte a origem do empobrecimento dos países subdesenvolvidos e constitui uma manifestação do processo de exploração das Nações industrializadas relativamente as Nações pobres. No entanto, os economistas consideram que o fenómeno está longe de um perfeito esclarecimento e que o facto dos países subdesenvolvidos comercializarem, mesmo em condições desfavoráveis, lhes dá uma possibilidade de desenvolvimento superior à que teriam na hipótese de se manterem em autarcia.

Indicam-se seguidamente, à laia de resumo, os factos mais marcantes relativamente a evolução das trocas internacionais desde há dois séculos:

- Pondo de parte o período "entre guerras" o volume do comércio mundial cresceu forte e constantemente;

- Este crescimento sentiu-se mais nos produtos manufacturados do que nos produtos primários e favoreceu mais os países industrializados do que os subdesenvolvidos;

- O modelo da divisão internacional do trabalho, instaurado pela Inglaterra desde o século XVIII, foi retomado, com algumas nuances, pelas grandes potências no período "entre guerras", e pelos países industrializados depois de 1945;

- Esta divisão internacional do trabalho foi mais útil aos países desenvolvidos que conseguiram realizar a sua industrialização adquirindo matérias primas necessárias a preços relativos em declínio e escoando no mercado das suas colónias e no Terceiro Mundo uma parte, de facto cada vez mais fraca, dos seus produtos manufacturados a preços relativos em crescimento.

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3 DISTORÇÕES

AO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Se a situação de comércio livre é a que mais bem-estar confere aos agentes económicos dos vários países, porque é que os vários Estados introduzem restrições ao comércio?

Os argumentos para a protecção comercial são vários. Na prática, nenhum país do mundo permite fluxos comerciais desregulados nas suas fronteiras. As restrições são introduzidas, na maior parte dos casos, nas importações e, mais raramente, nas exportações. Outra prática frequente é a concessão de subsídios (directos ou indirectos), as indústrias nacionais, de modo a poderem competir com as indústrias estrangeiras (supostamente mais eficientes), quer no mercado internacional quer no mercado interno.

A introdução de restrições ao comércio serve normalmente a satisfação de objectivos variados: económicos, sociais, políticos. Frequentemente estes objectivos são conflituosos entre si, dando origem a jogos de interesse variados, consoante os objectivos directos dos agentes.

3.1 A protecção do emprego

O desemprego é um dos principais argumentos a favor do proteccionismo. De modo a criar ou a manter o emprego uma indústria A (indústria que produz bens importados, ou seja, sujeita a uma concorrência externa efectiva), o Governo pode lançar um imposto sobre o bem importado, aumentando assim o seu preço relativo no mercado interno.

O principal problema, em termos de eficiência parcial, deste instrumento, prende-se com a possibilidade de retaliação. Esta pode tomar tal forma que o objectivo inicial não é, nem parcialmente, alcançado, podendo introduzir distorções complexas em termos de eficiência global.

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Há, porém, duas questões interessantes a colocar, quando se fala de retaliação:

- A primeira é que, quanto menor for o país que coloca o direito, menor é a possibilidade de vir a sofrer retaliação.

- A segunda prende-se com o resultado da própria retaliação. Se o objectivo for aumentar o emprego, e a redistribuição originada pela retaliação for favorecer a indústria trabalho intensivo em detrimento da capital intensivo, se se reunirem estas duas condições, o objectivo final é atingido mais facilmente com retaliação do que sem retaliação.

Quanto ao resultado do lançamento do direito, em si, há vários factores a considerar:

- Há necessariamente uma redução do bem-estar do consumidor, introduzido via alteração dos preços ao consumidor.

- Há uma geração de receitas fiscais para o Estado, anteriormente (em situação de comércio livre) inexistentes, que podem ser usadas para objectivos de equidade.

- Há uma redistribuição da indústria que utiliza bens importados como input, para a indústria A.

É necessário ter em conta, quanto ao objectivo de aumentar o emprego, que o emprego criado não é o numero total de postos de trabalho criados na indústria A, devendo, a este número ser deduzido o de postos de trabalho que teriam sido criados nos sector importador e não foram.

O somatório dos ganhos derivados do lançamento do direito é inferior ao dos custos introduzidos pelo direito, dada a ineficiente afectação de recursos em termos internacionais.

3.2 Indústria Nascente

Desde que Alexandre Hamilton o utilizou em 1792, o argumento da indústria nascente tem sido um dos principais para o lançamento de direitos aduaneiros. O argumento base é que os custos de produção iniciais para uma indústria, num dado país, podem ser demasiado elevados, impedindo a sua sobrevivência no mercado mundial.

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Porém, com o desenvolvimento da indústria, os custos irão reduzir-se, vindo a permitir a sua sobrevivência em situações de eficiência, concorrendo no mercado aberto. A lógica deste argumento baseia-se em 2 conceitos base:

1) Existem economias de escala em muitos sectores de actividade, sujeitos a elevados custos fixos;

2) O conceito de curva de aprendizagem. Este último é frequentemente confundido com a própria eficiência dos trabalhadores, embora tal noção seja limitativa. A aprendizagem faz-se quer a nível do factor trabalho, quer a nível do factor capital, quer ainda de todos os factores que normalmente não tipificamos.

Os proponentes do argumento da indústria nascente sustentam que a indústria nascente nacional deve ser garantida uma elevada quota do mercado nacional, até que (e de modo a possibilitar) a mesma atinja “o estado adulto”.

Embora seja razoável esperar-se que os custos venham a reduzir-se, não é forçoso que eles venham a atingir níveis suficientemente baixos, de modo a poder ser introduzida a concorrência externa. É preciso ter em conta vários aspectos, antes de se introduzir uma tarifa com estes argumentos:

♦ Qual a indústria que deverá ser protegida usando os argumentos acima, ou seja, que virá a atingir a idade adulta?

♦ Deverão ou não existir subsídios (directos ou indirectos) à produção, de modo a não sobrecarregar os consumidores. Como os subsídios têm origem fiscal, é preciso ter em conta estes custos na contabilização dos ganhos líquidos totais (análise custo/beneficio).

3.3 Industrialização

Um terceiro argumento para a protecção alfandegária é o da industrialização. A principal diferença face ao anterior prende-se com a noção de que o objectivo será satisfeito mesmo que, em tempo, os preços internos não venham a ser competitivos com os do mercado internacional

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As razões de introdução de um processo de industrialização protegida (que são no fundo os objectivos) são:

A produção industrial irá aumentar mais a produção nacional do que se se concentrar o esforço produtivo na agricultura.

Os fluxos de investimento estrangeiro na área industrial virão promover o desenvolvimento económico do país.

A diversificação a partir da agricultura tradicional ou das matérias-primas, é necessária para estabilizar os fluxos de comércio.

Os preços dos produtos transformados tendem a aumentar mais rapidamente que o dos produtos primários.

Este argumento baseia-se nos princípios básicos de Desenvolvimento Económico: se um país se afasta da via agrícola para a industrial, terá um aumento significativo do produto (produtividade marginal do trabalho agrícola é normalmente muito baixa) aumentará a procura de serviços nos centros urbanos, poderá, mesmo, permitir um desenvolvimento agrícola significativo por aumento da eficiência e da produtividade marginal do trabalho.

3.4 Outros motivos

Outros dos principais motivos para a protecção alfandegária são, a título de exemplo:

3.4.1 Contracção de deficits nas Balanças de Pagamentos (neste caso a nível da Balança Comercial).

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3.4.2 Controlo de preços

Neste caso, as restrições colocam-se nas exportações, de modo a manter os preços mundiais mais elevados, numa situação monopolística. Estas medidas requerem acompanhamento por outras, criadas para evitar o contrabando, para além de que, se o preço mundial estipulado for demasiado elevado, poderá ser eficiente a criação/desenvolvimento de um bem substituto.

Além dos efeitos já referidos, a introdução de restrições ao comércio pode (resumidamente):

No caso de restrições à exportação:

. Manter os preços internos mais baixos, visto permitirem um aumento da oferta interna. . Reduzir aos produtores o incentivo para produzirem.

. Alterar o comércio e a produção dos outros países.

No caso de restrições as importações:

Impedir o dumpinq.

Ser usadas para impedir a produção de determinadas indústrias nacionais . Levar os terceiros países a negociar as restrições que eles próprios impuseram.

Levar os fornecedores externos a baixar o seu preço. Este ponto é a base da Teoria da

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3.5 O Direito Aduaneiro

Embora comummente estejamos habituados a relacionar direito com uma tarifa à importação, na prática existem várias classificações de tarifas:

3.5.1 Quanto ao objecto:

. Tarifas sobre as exportações - Imposto que recai sobre a saída de mercadorias de um determinado país.

. Tarifas sobre as importações - Imposto que recai sobre a entrada de mercadorias num determinado país.

. Tarifas sobre o trânsito - Imposto que recai sobre as mercadorias em trânsito num determinado país.

3.5.2 Quanto ao objectivo:

. Tarifa para protecção - Tarifa lançada para protecção de uma indústria nacional ou para reduzir o consumo de certos bens, com o objectivo de melhorar a Balança de Pagamentos.

. Tarifa para receitas fiscais - imposto lançado com o objectivo de aumentar as receitas governamentais.

3.5.3 Quanto a forma:

. Tarifa específica - Imposto unitário, independentemente do valor da mercadoria em causa. . Tarifa ad-valorem - Imposto que é composto por uma taxa que é aplicada ao valor da

mercadoria.

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3.5.4 Direito Efectivo

Um conceito pratico essencial é a determinação do direito efectivo. As matérias-primas entram frequentemente nos países industrializados livres de imposto ou com impostos muito baixos. Mas, após transformação, são importados, também nos países industrializados, com uma taxa mais elevada. A taxa referente à parte manufacturada é, assim, bastante mais elevada do que a taxa nominal indicada.

Exemplo: Suponhamos que 50$ de café instantâneo inclui 25$ de grão de café e 25$ de custos de transformação. Se a taxa nominal for de 10%, sobre o café instantâneo, irá ser solicitado um imposto de 5$. Na prática, o imposto sobre a parte manufacturada, uma vez que o grão de café estava isento, é de 20%. Esta última é a taxa efectiva. Esta questão tem tornado difícil a busca de mercados de exportação dos produtos manufacturados provenientes dos países menos desenvolvidos, funcionando, na prática, como um desincentivo à industrialização dos mesmos.

Assim, estimativas recentes indicam que as tarifas que, nos países industrializados, incidem sobre produtos de interesse para os países menos desenvolvidos, são cerca do dobro das que incidem sobre os produtos manufacturados como um todo.

3.6 Barreiras não pautais

Se as pautas aduaneiras constituem a restrição tipo à liberdade das trocas internacionais, sendo por isso as mais frequentemente contempladas nos acordos internacionais de liberalização, outras restrições existem, com um efeito muitas vezes decisivo embora menos visível, na criação de distorções no comércio internacional.

Recentemente começou-se a tomar consciência deste fenómeno e a tentar quantificar o efeito restritivo desse conjunto heterogéneo de medidas que se designa por "barreiras não pautais". (BNP).

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3.6.1 Restrições ao pagamentos e controlo cambial

Um primeiro grupo de BNP são as "restrições aos pagamentos" que consistem nas dificuldades em efectuar pagamentos de mercadorias transaccionáveis internacionalmente. Estes controlos são administrados por uma autoridade pública, que pode, por exemplo, ser o banco central, e revestem diferentes formas. Por exemplo, o deposito prévio à importação que acresce frequentemente ao direito existente.

O controle cambial, que pode implicar racionamento das divisas disponíveis para efectuar as importações e/ou manutenção de taxas de câmbio diferenciadas, favorecendo mais certos sectores ou criando uma discriminação no tratamento aplicado aos diferentes países estrangeiros.

Mas existe ainda toda uma variedade de medidas restritivas ao alcance das autoridades, como por exemplo: preferencias nas compras governamentais, aplicação abusiva de medidas de protecção da saúde ou moral pública, complicação excessiva nos regulamentos aduaneiros, subsídios à produção e exportação, etc.

Todas estas medidas são de difícil controle por parte das entidades estrangeiras ou supranacionais, pondo, por isso, frequentes problemas mesmo no quadro de um bloco integrado.

3.6.2 Quota

A categoria típica das BNP é a restrição quantitativa ou quota, que ataca directamente o princípio base de um sistema económico liberal: a liberdade de escolha do consumidor. A quota consiste no estabelecimento de um limite à quantidade total importável autorizada durante um certo período de tempo (geralmente um ano).

Cabe ao Estado distribuir, de diferentes modos (com resultados também diferentes) um número limitado de licenças de importação, proibindo as importações sem estas.

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A questão que se põe na Teoria do Comércio Internacional, é saber se existe ou não equivalência entre a quota e o direito. Pode-se afirmar que os instrumentos são basicamente equivalentes, embora existam diferenças substanciais quanto à distribuição dos rendimentos.

Uma segunda diferença entre quota e direito é o facto de a primeira poder converter um monopólio potencial num monopólio real, enquanto o direito não. Com efeito, no caso do Estado intervir no comércio através de um direito, o produtor nacional não pode praticar os preços acima de Pi(l+t), na medida em que perderia toda a procura a este preço. Com a quota a pressão da concorrência estrangeira encontra-se limitada a um determinado volume e o produtor poderá explorar o mercado residual.

Uma terceira diferença entre a quota e o direito surge no caso da oferta estrangeira se encontrar monopolizada, podendo assim apropriar-se da renda de escassez.

3.7 RVE

Outro tipo de barreira a ter em conta é a "restrição voluntária a exportação" (RVE), alternativa proteccionista largamente utilizada pelas autoridades americanas e comunitárias, face às pressões internas e às dificuldades crescentes em utilizar os instrumentos tradicionais. Este tipo de acordo, apesar das diferenças que apontaremos, pode ter o mesmo efeito para o país importador do que o caso em que o exportador estrangeiro consegue explorar o seu poder de monopólio.

A RVE é um acordo bilateral segundo o qual o país exportador restringe as suas exportações, sob ameaça de ver impôr quotas à importação no país de destino. Esta restrição "voluntária" constitui uma medida ineficiente, não só a nível nacional, mas, também, a nível internacional, com a agravante que tende a proliferar na medida em que afecta países que não entram directamente no acordo.

À partida, a RVE apresenta três diferenças fundamentais em relação aos instrumentos tradicionais de política comercial.

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Segundo, é uma medida discriminatória pretendendo apenas ser dirigida ao exportador particularmente "incómodo".

Por último, é uma restrição negociada numa base bilateral em que intervêm o país importador e o país exportador.

Estas diferenças sugerem que quer os resultados económicos quer os interesses das partes afectadas irão ser diferentes dos implicados pelos referidos instrumentos tradicionais.

A RVE origina um efeito discriminatório que se traduz na divergência de custo marginal (no produtor) das importações das duas fontes. Esta divergência provoca dois efeitos. Primeiro, um desvio de comércio na importação que reflecte uma diminuição na eficiência a nível mundial, com a substituição parcial do fornecedor mais eficiente pelo fornecedor menos eficiente. Segundo, origina uma renda de escassez para o país mais eficiente.

O país importador abdica do seu poder de monopólio que resultaria da administração interna da quota, sofrendo uma perda adicional de "mark-up", para além do custo de protecção tradicional, na produção e no consumo.

No país importador as autoridades conseguem, com esta forma menos "explicita" de protecção, ultrapassar os limites da cláusula da nação mais favorecida do GATT, para além de isolar o risco de retaliação devido ao carácter selectivo desta medida. Este caracter discriminatório, associado à transferência para o produtor estrangeiro directamente afectado, assegura a sua principal vantagem política: a facilidade e rapidez de implementação.

Em relação aos produtores nacionais estes preferem quotas a direitos, sobretudo em indústrias em que a distância em relação ao preço mundial tende a aumentar.

No país que restringiu "voluntariamente", as autoridades conseguem minimizar os custos impostos pelo caracter inevitável da aplicação de uma restrição por parte do país importador. O Estado terá um papel importante de controlo de modo a ser respeitada a quota à exportação

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Em relação às partes não intervenientes, temos a considerar três principais: os consumidores do país importador, os exportadores de terceiros países e os outros países importadores afectados pelo desvio das exportações.

Tal como qualquer outra barreira ao comércio, a RVE vai ser suportada pelos consumidores do país importador, que neste caso irá ter uma perda suplementar na falta de utilização por parte do Estado das receitas aduaneiras ou da renda das quotas nos sistemas alternativos.

Os exportadores dos países terceiros encontram-se beneficiados pelo aumento do preço à exportação provocado pela RVE, expandindo ainda a sua quota de mercado.

Um último grupo afectado é constituído pelos países para onde se processa um desvio das exportações do país que acordou na RVE, que se dirigem para novos mercados, provocando novas pressões proteccionistas nestes países.

Vemos assim que a RVE, apresenta vantagens políticas na medida em que os interesses das partes intervenientes se encontram salvaguardados, enquanto que os opositores naturais a este tipo de acordo se encontram excluídos das negociações.

Este sistema apresenta contudo um conjunto importante de "fugas" potenciais.

Primeiro, a diferenciação dos produtos permite ultrapassar estas barreiras muitas vezes pouco claras, ou ainda o deslocamento para subgrupos de produtos mais caros. Assim, para ser efectiva, a RVE tem de incluir uma lista detalhada de quotas produto a produto.

Segundo, na medida em que o acordo só afecta as exportações vindas de um determinado país, tende a haver um desvio das exportações desse mesmo país para países terceiros de onde se pode, posteriormente, exportar sem restrições e que servem apenas como entreposto.

Terceiro, na medida em que a restrição implica a existência de um cartel, teremos no país exportador uma tendência para cada produtor individualmente tentar ultrapassar a sua quota. Este comportamento será tanto mais provável quanto se tornar mais difícil penetrar noutros mercados que vão ser afectados indirectamente e reagir, por sua vez, com medidas proteccionistas.

Estes problemas traduzem-se no último aspecto altamente negativo deste tipo de acordo. Com efeito, vai haver uma tendência à sua generalização, não só por parte do país que impôs a

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primeira RVE, de modo a evitar a sua erosão pela passagem das importações restringidas por países terceiros, como, também, por parte dos países que vêem aumentar as suas importações, devido a um acordo onde não participaram, e que irão impor novas medidas proteccionistas.

Como conclusão, estamos na presença de uma medida que para além de violar os princípios do GATT/OMC, eliminando alguns dos ganhos da liberalização comercial pós-Segunda Guerra Mundial, tende a proliferar permitindo canalizar as pressões proteccionistas nos diferentes países que pretendem assim manter o poder de implantar restrições ao comércio internacional.

Podemos ainda observar algumas diferenças entre a aplicação de uma quota e o direito.

Um aspecto fundamental, é o facto da quota não ser sensível a modificações no preço mundial. Esta é uma das razões pelas quais o produtor nacional a prefere ao direito, sobretudo nos casos em que a pressão da concorrência externa é crescente, com contínuas diminuições no preço externo.

A quota isola mais o mercado nacional dos efeitos do progresso tecnológico verificados no resto do mundo, podendo acentuar ineficiências produtivas nacionais, revelando-se assim menos "eficiente" que o direito, em termos de custos de produção.

Do ponto de vista das autoridades a aplicação de uma quota é mais fácil em dois aspectos. Primeiro, o cálculo do "direito equivalente" supõe, ao contrário da quota, um conhecimento prévio das curvas de procura e oferta do mercado, que são na realidade muitas vezes difíceis de obter. Segundo, o custo para o consumidor nacional é bem visível no caso do direito, não o sendo para o caso da quota. Torna-se assim diferente, do ponto de vista político, a adopção alternativa destas duas políticas.

Um outro aspecto, diz respeito à tomada em consideração de inputs transaccionáveis internacionalmente. Com uma quota nos inputs, o produtor do bem final vê os seus custos

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pode não ter aqui lugar, porque o mais provável é não ter sido o Estado a apropriar-se da renda de escassez resultante da quota do input.

Para terminar, é de referir a ideia de que existe uma diferença na dificuldade de administrar estas duas medidas alternativas por parte do Estado. A quota, e tendo em conta apenas o aspecto final, exige à partida um maior controlo por parte das autoridades, de modo a evitar a corrupção e uma afectação de recursos ineficiente, tornada possível por comportamentos "rent-seeking".

Depois da comparação da quota, representativa das barreiras não pautais, e do direito, podemos tirar duas conclusões.

Primeiro, a definição de equivalência conduz a considerar três aspectos: o volume de importações, a produção interna e a diferença entre preço interno e externo. Podemos fixar uma quota que obtenha o mesmo efeito que um direito em qualquer destes aspectos, mas em que os resultados difeririam nos restantes.

Segundo, de um modo geral a quota representa um meio menos eficiente de protecção, se definirmos eficiência do ponto de vista tradicional de afectação de recursos.

3.7.1 Situação de distorção

Podemos dividir a evolução do pensamento económico pós-mercantilista, sobre o problema da protecção, em três fases. Numa primeira fase, com base na teoria da vantagem comparativa, assiste-se ao desenvolvimento do argumento a favor do comércio livre generalizado. O aspecto central é que o livre câmbio é visto como um caso particular do argumento geral a favor da não intervenção ("laissez-faire") na economia.

Surge progressivamente um grande número de razões pelas quais se parece justificar a intervenção estatal, não só em termos de afectação de recursos como, também, de distribuição dos rendimentos. Esta segunda fase corresponde ao desenvolvimento de argumentos a favor da protecção.

A relação, entre comércio internacional e desenvolvimento (nos seus moldes clássicos) é posta em causa.

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Finalmente, numa terceira fase, quebra-se o elo entre a defesa do comércio livre e a defesa do "laissez-faire". Aceitar uma lista mais ou menos longa de argumentos a favor da intervenção governamental, não impede que se defenda simultaneamente o comércio livre.

Os resultados apresentados até agora deixam marcada uma forte preferencia pelo comércio livre, existindo apenas um argumento a favor da protecção (a pauta óptima, no caso do país grande) e, mesmo nesse caso, com restrições. Esses resultados dependem de uma hipótese base: a existência de condições de concorrência quer a nível do mercado dos factores quer a nível do mercado dos bens. As curvas de procura e oferta nestes mercados, representam simultaneamente as avaliações e custos privados e sociais. Na realidade existem distorções ou divergências que podem fazer com que a acção privada não conduza ao óptimo social, na medida em que o mercado as anula (as chamadas "ineficiências de mercado").

A teoria das distorções tem à partida algumas implicações na abordagem teórica do problema da protecção:

Primeiro, permite uma qualificação de preferência pelo comércio livre através da especificação das excepções.

Segundo, conduz ao estabelecimento de uma hierarquia das diferentes políticas alternativas, ultrapassando o simples debate sobre a intervenção no comércio.

Terceiro, permite (obriga) a tomada em consideração das características individuais de cada país (ou grupo dentro desse país) desenvolvendo os aspectos normativos relevantes.

Por último, chama-se a atenção para o caracter "dinâmico" da situação, interna ou internacional, de cada país, nomeadamente para a importância de se encarar a vantagem comparada como uma noção evolutiva.

Ao abordar os aspectos normativos convém relembrar como se define "bem estar". A abordagem tradicional da teoria normativa na análise de bem estar é utilizar o critério de eficiência de Pareto, supondo que a redistribuição é realizada através de uma política redistributiva independente com base numa "função de bem estar social" aceite.

Referências

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