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O novo trabalho globalizado: a flexibilização das normas trabalhistas no atual contexto mundial.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

LEYDE TATIANY MENDES DE ALENCAR

O NOVO TRABALHO GLOBALIZADO: A FLEXIBILIZAÇÃO DAS

NORMAS TRABALHISTAS NO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL

SOUSA - PB

2008

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O NOVO TRABALHO GLOBALIZADO: A FLEXIBILIZAÇÃO DAS

NORMAS TRABALHISTAS NO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Professor Dr. Robson Antão de Medeiros.

SOUSA - PB

2008

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Leyde Tatiany Mendes de Alencar

O NOVO TRABALHO GLOBALIZADO: A FLEXIBILIZACAO DAS NORMAS TRABALHISTAS NO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL

Trabalho de Conclusao de Curso apresentado ao Centra de Ciencias Juridicas e Sociais, da Universidade Federal de Campina Grande, em cumprimento dos requisitos necessarios para a obtencao do titulo de Bacharel em Ciencias Juridicas e Sociais.

Aprovada em: de de 2008.

COMISSAO EXAM IN ADO RA

Prof. PhD Robson Antao de Medeiros - UFCG Professor Orientador

Prof3. Doutoranda Carla Rocha Pordeus - UMSA

Examinadora

Prof3. Mestranda Marcia Glebyane Maciel Quirino - UFBP

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necessario para o meu desenvolvimento pessoal. Especialmente a minha mae, carinhosamente chamada por mim de "mamita", mulher lutadora, admiravel por sua determinacao e forca de vontade, de quem certamente herdei a coragem de enfrentar todos os obstaculos que confrontei durante os cinco anos de academia.

A Enderson Danilo, meu "Dan", pelo amor, carinho, incentivo, apoio, compreensao, e, mesmo sabendo que qualquer tentativa de agradecimento estaria incompleta diante das inumeras ajudas e principalmente pela paciencia e presenca durante todo este periodo. Responsavel pela minha perseveranca no mundo academico do Direito, visto ter sido o primeiro a enxergar em mim essa inclinacao e a me convencer de que carrego uma chama da qual nem eu mesma havia me dado conta.

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AGRADECIMENTOS

O meu muito obrigada,

Aos meus queridos familiares e amigos, que acompanharam mesmo de longe essa trajetoria.

A Enderson Danilo, meu maior companheiro, incansavel, paciente e sempre cheio

de amor.

As minhas eternas amigas, Carol, "Sami" e "Jami" com as quais aprendi o verdadeiro

significado da palavra amizade.

Aos colegas de curso e aos amigos que descobri nesse tempo longe de casa. Especialmente, "Paulinho", "Licinha", "La", "Jas", "Julinha", "Carlin", e "Dai".

A Uiara, mais que uma amiga, uma irma que Deus me deu e que sempre tera um

lugar especial reservado em meu coragao.

Ao professor Robson Antao de Medeiros, orientador e incentivador, que acompanhou com profissionalismo e dedicagao a construgao desse momento.

A todos os professores do Centra de Ciencias Juridicas e Sociais da UFCG, que de alguma forma, estiveram presentes para corresponder as minhas demandas, em especial a professora Marilia Marques que infelizmente hoje nao faz mais parte do corpo docente da instituigao.

Ao Nucleo de Pratica Juridica do CCJS da UFCG, instituigao, onde pude ratificar minha paixao pelo Direito.

A Nubia, pela amizade e carinho, a quai prestou-me grande ajuda na minha estada

junto ao NPJ.

Ao escritorio de advocacia Abrantes & Fernandes, por ter depositado em mim a confianga de laborar em tal estabelecimento como estagiaria juridica e com isso ajudado no meu amadurecimento profissional.

Por fim, agradego, a todos aqueles que nao tive como mencionar aqui e me acompanharam nesta encantadora caminhada e dizer a todos, que aqui mencionei e tambem aqueles que nao mencionei que com a companhia de todos voces esse caminho se tornou muito menos dificil do que parecia ser.

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la para impedir o homem de tocar no equipamento".

Warren Bennis

"Se uma fabrica do futuro tiver somente dois empregados, um homem e um cao, o homem estara la para humanizar o equipamento, o cao para divertir o homem".

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RESUMO

O mundo sofreu consideraveis mudangas a partir do fenomeno da globalizagao, incluindo aquelas que alteraram as bases das relagoes de trabalho. O presente estudo foi realizado atraves dos metodos exegetico-juridico e historico-evolutivo, em face de sua relevancia a contextualizagao dos acontecimentos hodiernos, principalmente, por se tratar as ciencias juridicas de sociais e, portanto, infiuenciadas peios antecedentes historicos, que de acordo com a dialetica de Hegel (1979), sao processos inacabados. Objetiva-se analisar as mudangas ocasionadas pelo processo de globalizagao nas relagoes trabalhistas, em especial pela escassez da oferta de trabalho, e examinar esta nova realidade atraves de ideias contemporaneas como o processo flexibilista que vem surgindo para tornar as relagoes laborais mais viaveis para empregador e empregado. O tema flexibilizagao das condigoes de trabalho e um dos que mais entusiasmam o Direito do Trabalho na atualidade. Ha a necessidade de se constatar a realidade laboral para verificar como pode ser feita a flexibilizagao das condigoes de trabalho. Verifica-se que o grande questionamento sobre o tema e se a flexibilizagao do Direito do Trabalho e eficaz no combate ao desemprego e no aumento da competividade entre as empresas. Levando-se, portanto, a seguinte problematizagao: Qual o "novo trabalho" exigido no mundo globalizado? Segundo este estudo, a hipotese central baseia-se que em virtude do processo de globalizagao, norteador de toda a estrutura capitalista mundial, o "novo trabalho" exige mais maleabilidade, flexibilizagao, observados certos limites, com o fim de permitir a realizagao de contratos laborais mediante o equilibrio entre as partes. Destarte, o trabalho, identificado como a propria evolugao humana, nao chegara ao seu fim.

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The world has suffered considerable changes from the globalization phenomenon, including those who altered the bases from work relationships. The study was made through the expedients exegetic-legal and historic-evolutionary, in light of its relevance at the contextualization of the events modern, especially, because its the sciences judicial as of social and, therefore, affected by the historic antecedents, which in accordance with Hegel's dialectic (1979), they are processes unaccomplished. Objective is analyze the changes caused by the globalization process at the work relationships, especially because of the dearth from jobs offers, and analyze this new reality right through contemporary ideas just like the flexibility process that come appearing about to make the labor relations more viable to employer and employed. The theme flexibilization of the working conditions is the most exciting to Labour Law currently. Its necessary face the work reality to check how the working conditions can be flexibilizated. It's possible verify that the point of the theme is if the flexibilization of the Labour Law is effective at the battle to the unemployment and in the increase from the competitiveness among the businesses, taking to the following question: what the "new work" necessary in the world globalization? According to this review, the assumption central entry level, is based in reason of the globalization process as a base to the whole in the world bodywork capitalist, the "new work" needs more malleability, flexibilization, observed certain boundaries, in order to allow the achievement of works contracts median the balance among the parties. Thus, the work, identified as the evolution of human specie, won't have an end.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AIG - American International Group ART. - Artigo

CLT - Consolidacao da Leis do Trabalho

CTPS - Carteira de Trabalho e Previdencia Social EUA - Estados Unidos da America

FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador IDH - Indice de Desenvolvimento Humano

INSEE - Institut National de la Statistique et des Etudes Economiques N°. - Numero

OIT - Organizacao internacional do trabalho P. - Pagina

SOBRATT - Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade TST - Tribunal Superior do Trabalho

UFF - Universidade Federal Fluminense § - Paragrafo

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INTRODUCAO 10 CAPITULO 1 EVOLUQAO DO DIREITO DO TRABALHO 14

1 , 1 0 Direito do Trabalho na historia 15 1.2 Origem e evolugao do Direito do Trabalho no Brasil 21

CAPITULO 2 O DIREITO DO TRABALHO NO PROCESSO DE GLOBALIZACAO 29

2.1 Globalizagao - Contornos 30 2.2 Reflexos do processo de globalizagao no Direito do Trabalho 32

2.3 A crise laboral 35 2.3.1 A crise economica atual e as consequencias nas relagoes laborais.... 37

2.4 Emprego e desemprego 40 CAPITULO 3 O NOVO TRABALHO GLOBALIZADO: A FLEXIBILIZAQAO DAS

NORMAS TRABALHISTAS NO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL 45 3.1 Concepgoes acerca de Flexibilizagao e Desregulamentagao 46

3.2 A relevancia da Flexibilizagao 49 3.3 Limites minimos a serem observados na adogao da Flexibilizagao das

relagoes laborais ante a globalizagao 51

3.4 O trabalho e o homem 54 3.5 O novo trabalho globalizado 55

CONSIDERACOES FINAIS 66

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INTRODUCAO

As fronteiras estao cada vez mais apagadas do mapa, e a realidade da globalizagao, mais presente. Viver em um mundo globalizado e ter que conviver com novidades tecnologicas a cada momento, e ter que coexistir e interagir com o mundo. As industrias querem produzir para vender em todo o planeta. Os horizontes se ampliaram, as distancias se minimizam, a velocidade das comunicagoes torna tudo facil e ha farta informagao.

O mundo vive em rapida transformagao e essas mudangas ja vinham sendo verificadas mesmo antes da virtual destruigao das experiencias socialistas da Europa Ocidental, alavancadas por discussoes, inclusive politicas, em tomo de sua estrutura economica. Alem da formagao de blocos economicos, seja na Europa, America do Sul, America do Norte ou Asia, a nova estrutura exige dos paises mais competividade, sobretudo porque se instaurou uma interdependencia cada vez maior em relagao aos pafses ou blocos estrangeiros.

Todas essas mudangas, com sua velocidade, vindas com avangos tecnologicos marcantes, sao cenario criado pela globalizagao e no qual ela se desenvolve. Identificada num primeiro momento como fenomeno atual, resultado de acontecimentos historicos setoriais amplos, a globalizagao veio acompanhada tambem de uma renovagao das ideias liberals do seculo XIX, alem de uma intensa sofisticagao do sistema produtivo e de um incentivado aumento da concorrencia.

Como efeito dessas mudangas que ainda continuam a ocorrer, o modo de produgao capitalista passou a ser o sistema ao qual todo o mundo, necessariamente, devera adequar-se. Contudo, trata-se de um capitalismo renovado pelas proprias alteragoes que ele ajudou a implementar e que redundaram em um mundo globalizado.

Afetando a economia mundial, a globalizagao tambem trouxe reflexos a vida social e economica das pessoas que, conjuntamente com o mundo, estavam integradas num contexto de concorrencia em escala universal.

As populagoes do mundo, cuja imensa maioria dos membros conta somente com a venda da forga de trabalho como meio de sobrevivencia, restaram diretamente afetadas e, assim, o mundo do trabalho tambem teve que se adaptar.

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A adequagao das relagoes empregaticias ao mundo globalizado vem trazendo novos pensamentos em relacao a normatizacao do Direito do Trabalho, tentando char um novo trabalhador. De modo que este se ajuste a esse contexto e ao novo cenario de forma apropriada, capaz de negociar limites do seu contrato, de se adaptar a contratos flexiveis, de ter acesso efetivo ao oscilante e competitivo mercado. Diante disso, cria-se uma situacao quase paradoxal entre o que preve o ordenamento juslaborista consolidado e as modernas alteracoes impostas por um "novo mundo globalizado",

Regido pelo neoliberalismo que surge a partir dos anos 70/80, esse novo mundo globalizado impoe tendencia de estabelecer o afastamento do estado regulador, inclusive no que diz respeito ao trabalho. Desta forma, trabalhador e empregador, diferentemente do que se verifica em face dos estreitos limites estabelecidos pelo Direito do Trabalho, estariam ou deveriam estar livres para elaborar as regras do contrato que estabelecerem. Em verdade, essa tendencia firma o seu principal argumento no desemprego estrutural que assola o globo e, portanto, distanciados das amarras do Estado, os empregadores poderiam ampliar seu poder de contratacao.

O mundo globaliza-se, as fronteiras entre as Nacoes sucumbem e, com apoio da polftica Neoliberal, esboca-se um retorno ao passado com uma pseudo-roupagem da novidade. Nessa perspectiva, o Direito do Trabalho deve se adaptar as exigencias ditadas pela economia e pela politica, sob pena de se tornar obsoleto, ineficaz, devendo-se, portanto, reestruturar-se.

Nesse quadra conjuntural de transigao do Direito do Trabalho e que se justifica o presente Trabalho de Conclusao de Curso, visto que ira analisar desde o

historico do Direito do Trabalho, especialmente as mudangas que sofreu a partir da globalizagao, inclusive aquelas que alteraram as bases das relagoes de trabalho, ate a exigencia de um "novo trabalho globalizado", demonstrando alguns tipos de contratos flexibilizatorios atualmente utilizados no Direito do Trabalho Comparado, com o fim de diminuir a influencia normativa demasiadamente protecionista nas relagoes contratuais trabalhistas.

Assim, diante de uma nova realidade, na qual se inserem as mudangas da globalizagao, acirramento da concorrencia, escassez da oferta de trabalho e diminuigao da necessidade de trabalho humano na linha de produgao pelo uso de novas tecnologias, novas ideias vem surgindo para tornar o contrato de trabalho, em

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tese, mais viavel ou, numa visao mais otimista, simplesmente mais rentavel para o dono e obreiro da producao.

A questao que se apresenta em lado oposto e a inequivoca disparidade entre a forea negociadora do trabalhador dentro do contrato de trabalho, sobretudo em situagao de crise economica, desemprego estrutural e concorrencia a nivel global. A relacao de trabalho apresenta inegavel desequilibrio, fato que justificou a protegao normativa ao trabalhador.

Pretende-se aduzir com este estudo, dentro de um quadro de mudangas do Direito do Trabalho, a demonstragao da viabilidade e a necessidade de se manter o estabelecimento legal minimo de regras para o contrato de trabalho em face a globalizagao, discutindo ainda, a extensao desse minimo legal normative

O que se esta a propor tambem neste trabalho, e analisar o instituto da Flexibilizagao como consectario de um desenvolvimento nas relagoes laborais. Objetiva-se, o delineamento do fenomeno da Flexibilizagao do Direito do Trabalho, nao apenas como corpo legislativo, mas, principalmente, como uma reestruturagao das bases principiologicas, e, destarte, na propria essencia de um direito protetivo, como um meio para sanar as dificuldades enfrentadas pelo trabalhador na busca de um labor que venha a satisfazer suas necessidades e anseios.

No sentido de viabilizar um suporte teorico que proporcione bases consistentes de analise, serao adotados como metodos de estudo, o exergetico-juridico, pelo fato da necessidade de se realizar consultas a doutrina, artigos cientificos, teses e sites juridicos, com o proposito de enriquecer e dirimir a discussao sobre o tema em questao; e o metodo historico-evolutivo, o qual permitira, com base na remissao historica do surgimento e evolugao do Direito do Trabalho, uma melhor compreensao acerca do tema proposto.

O presente trabalho desenvolveu-se a partir da seguinte problematical "Qual o novo trabalho exigido no mundo globalizado?" Assim, teve como hipotese levantada, a afirmativa que em virtude do processo de globalizagao, norteador de toda estrutura capitalista mundial, o "novo trabalho", exige mais maleabilidade, flexibilizagao, observados certos limites com o fim de permitir a realizagao de contratos laborais mediante o equilibrio entre as partes.

Para que se alcancem os objetivos consignados, este Trabalho de Conclusao de Curso, estruturar-se-a em tres capitulos, que serao dispostos da seguinte maneira: dissecar-se-a brevemente no primeiro capitulo o estabelecimento historico

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do ramo juridico do trabalho, a criacao e a evolugao de um ordenamento justrabalhista. Dentro deste mesmo capitulo, apos o estabelecimento historico do

surgimento e evolucao do Direito Laboral, sera tracado um perfil especificamente deste ramo no Brasil.

O segundo capitulo identificara o fenomeno da globalizagao e o que ela representa no mundo atual, especialmente a partir de seus aspectos economicos, e a relevancia de sua imposicao no mundo moderno. Far-se-a um levantamento, em aspectos economicos e sociais, do alcance dessas transformagoes no mundo do trabalho, desde a crise que enfrenta o Direito Laboral na atualidade ate o desemprego e esboca a atual crise economica que vem assolando o mundo, apontando as consequencias para as relagoes laborais.

No terceiro e ultimo capitulo, o novo e preconizado Direito do Trabalho que sera tratado a partir do que, coerentemente com as mudangas globalizadoras, deve ser conservado nesta moderna reestruturagao global, verificando a crise que atravessa o Direito do Trabalho e as imposigoes de um novo capitalismo vigente no mundo globalizado para a flexibilizagao deste ramo juridico, fazendo a distingao entre os conceitos de flexibilizagao e desregulamentagao.

Dentro deste mesmo capitulo, assentar-se-a a relevancia, tendencia e limites minimos a serem observados para a adogao da flexibilizagao nas relagoes laborais em face a globalizagao e a importancia do trabalho na evolugao do homem. Estabelecera qual e o "novo trabalho globalizado" e ainda demonstrara atraves de exemplos de novos contratos de trabalho adotados em legislagoes estrangeiras o que vem sendo adotado para diminuir o crescimento do desemprego que assola todo o mundo.

Parte-se, da afirmagao basica e elementar de que existe um mundo em transformagao que continua a obrigar pessoas que sobrevivem do trabalho, e nesse cenario se forma um novo Direito do Trabalho, mais especificamente, um "novo trabalho globalizado". Situa-lo e definir seus limites constitui o elemento de conclusao deste trabalho.

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CAPITULO 1 EVOLUQAO DO DIREITO DO TRABALHO

Na atualidade o Direito do Trabalho vem sofrendo alteragoes substanciais capazes de acarretarem sua reestruturagao. As modificacoes que se realizam, atingem em especial, as suas bases principiologicas e, por conseguinte, a sua propria essencia.

A fim de que se tenha uma visao ampla das alteracoes que se sucedem, assim como compreende-las, faz-se mister tracar o contexto historico da evolugao desse ramo juridico.

Por sua vez, pode-se afirmar que as ciencias sociais sao, por excelencia, historicas, razao pela qual se queda imprescindivel, ao melhor entendimento de qualquer fenomeno social, o estudo de seus alicerces, de toda uma construgao historica desenvolvida no decorrer do tempo, capaz de traduzir a sua real conjuntura hodierna.

Mauricio Godinho Delgado (2005, p.83), ao delinear os paradigmas do nascimento de uma ciencia social, descreve:

A dissensao entre os paradigmas cientificos nao impede, assim, o encontro de alguns pontos relevantes no que tange a pesquisa cientffica acerca dos fenomenos examinados. Esses pontos se elegem, desse modo, como elementos imprescindiveis no contexto de qualquer pesquisa cientffica sobre fenomenos produzidos socialmente.

Alcancam este patamar de destaque tres proposicoes de metodos correntes nas Ciencias Sociais. A primeira proposicao informa que tal fenomeno social tern uma categoria fundamental, categoria que Ihe e nuclear e sem a qual o proprio fenomeno nao existiria. A segunda proposicao informa que, a despeito de dotada de uma categoria fundamental, todo fenomeno nao resulta de um unico elemento (ou, se preferir, de uma unica determinacao) decorrendo de um complexo combinado de determinacoes. Finalmente, a terceira proposicao de metodo informa que a pesquisa e reflexao sobre um fenomeno social nao se esgota no exame de sua criagao de sua origem, tendo que incorporar as vicissitudes de sua reproducao social. Enquanto processo, o fenomeno determina-se nao somente por sua origem, mas tambem em funcao de sua reprodugao ao longo da historia.

Partindo dessa premissa, observa-se que todo fenomeno social, alem de ter carater historico, possui, como elemento identificador, uma categoria fundamental, em tomo da qual giram todos os demais elementos constitutivos de uma ciencia, quais sejam: conceitos, principios, regras peculiares, entre outros.

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Nesse prisma, pode-se aduzir que a categoria central do Direito Laboral encontra-se na relagao empregaticia. Antes desta, predominavam a servidao e a escravidao, cuja primordial caracteristica e a sujeicao pessoal do trabalhador.

Essa relacao de trabalho sempre teve como significado maior, a subordinacao, consistente na liberdade juridica do trabalho, a qual e diametralmente oposta, no entanto, nao incompativel, ao poder de direcao do empregador.

Em outras palavras, o possuidor da mao-de-obra, poderia dispo-la livremente, de forma objetiva, estando ausente qualquer tipo de sujeicao de ordem subjetiva, o que faz com que a escravidao e a servidao fossem inconciliaveis com o Direito do Trabalho.

Por outro lado, alem desse elemento fundamental, o Direito Laboral, como uma ciencia social, e, portanto, historica, tern seu surgimento ligado a uma serie de fatores que refletiram a luta de uma novel classe social, a dos trabalhadores, que por

muitos anos clamava por justiga.

Na realidade, tem-se que o Direito do Trabalho, no seu berco, foi influenciado, indiscutivelmente, por uma nova forma de atuacao estatal alicercada em neofitos aspectos economicos, sociais e politicos instaurados, primordialmente, na Europa, exportadora de suas experiencias para o resto do mundo. Afirma-se que o Direito do Trabalho assim como a Legislagao Trabalhista sao frutos e consequencias das forgas produtivas em conjunto, ou melhor, da revolugao pre-industrial.

1.1 O Direito do Trabalho na historia

O Direito do Trabalho, como exposto, fora consequencia de diversos fatores sucedidos em momento anterior, capazes de legitimar o nascimento do novo ramo juridico. Aspectos de cunho politico, social e economico foram preponderantes,

alguns influenciaram mais, outros menos, o que nao faz dissipar, porem, a sua importancia na elaboragao das normas protecionistas do trabalho, surgidas com a honrosa missao de atenuar as desigualdades entre os homens. Destarte,

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imprescindivel se faz o estudo do contexto historico antecedente ao nascimento do Direito Laboral.

A primeira forma de trabalho foi a escravidao, a mais perversa tambem, aonde nao havia leis, nem direitos e nem garantias, so podia mesmo trabalhar, nada mais.

Logo depois, a servidao tomou conta e os senhores feudais faziam os servos prestarem servigos em suas terras, entregando-lhe parte da produgao e dando-lhes protegao em troca. Ja nessa epoca o trabalho nao era mais considerado um castigo, embora os nobres nao trabalhassem.

Depois, em outro momento, surgiram as corporagoes de oficio. Nas corporagoes de oficio sobrevieram e permaneceram tres personagens: os mestres, os companheiros e os aprendizes. O trabalho era uma Jornada de 18 horas, e foi extinta em 1789, com a Revolugao Francesa.

Outra forma de trabalho, praticada na sociedade pre-industrial foi a locagao, dividida em locagao de servigos (locatio operarum) e locagao de obra ou empreitada

(locatio opens faciendi), ambos frutos do objeto do trabalho.

A Revolugao Industrial acelerou a organizagao nas relagoes laborais, especialmente no que dizia respeito ao trabalhador e patrao, a remuneragao, e aos direitos e garantias, dentre outros, o que futuramente seria chamado de Direito do Trabalho.

Com a invengao da maquina e a sua aplicagao a industria houve um aquecimento, por se necessitar de mao-de-obra, e manuseio do maquinario, tentando se alcangar um trabalhador com habilidade, vontade de trabalhar, baixo salario, e tudo mais que coubesse beneficios ao patrao naquela epoca remota.

Logo apos, houve duas novas revolugoes, a juridica e a economica. E tem-se noticia das entrancias e da configuragao do Direito do Trabalho em meados do Seculo XVIII, em plena revolugao politica e industrial, ou tecnico-economica.

Os principios maiores dos trabalhadores eram a liberdade e a igualdade, embora, pelo lado do contratante, nao havia o minimo zelo de horas trabalhadas, salarios dignos, e condigoes minimas de alimentagao, ambiente de trabalho, higiene, limpeza, organizagao e ate mesmo a ventilagao era produto de luxo.

A populagao operaria era pobre e vivia cansada pelos maus tratos. Sem condigoes ou conhecimentos, totalmente subordinados, sem recursos, subalimentados, com empregos instaveis, com salarios deficientes, sem o minimo de

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higiene, garantias, infra-estrutura, inseguranga, em um eminente acidente de trabalho, e torturados a trabalhar em media 18 horas diarias ou ainda mais.

Com as mudangas, as inovagoes, o tempo foi passando e os operarios comegaram a lutar pelos seus direitos, queriam melhores salarios, horario fixo e menor que 18 horas, estabilidade de trabalho, alimentagao e tudo que aos poucos foi fazendo acelerar a vontade da mudanga e o nascimento do Direito do Trabalho. A sua oficializagao ja era necessaria. E, com a ideia, cresce um interesse de atender aos fenomenos economicos e sociais da epoca.

As primeiras leis trabalhistas surgiram com o intuito de proibir o trabalho em determinadas condigoes, como exemplo tem-se o trabalho dos menores de idade ou menores aprendizes, dos idosos, e o das mulheres, onde todos laboravam em ambientes ou sob condigoes incompativeis com sua condigao fisica.

Logo aconteceu a decadencia do sistema liberal, ou melhor, findou-se o principio da igualdade juridica e da desigualdade economica, onde o que prevalecia era o subjetivismo dos direitos individuals. E germinava outra realidade, formava-se um novo modelo politico e econdmico onde a sua formagao ja era possivel, e a vontade de mudanga era imensa.

A antiga doutrina vai aos poucos ficando para tras e a realidade se afastava do antigo modelo, quando aos poucos, os homens vao se tornando iguais em direitos e liberdade, e desta maneira os mais fortes iam deixando de abusar dos mais fracos. Crescia imensamente a vontade do trabalhador e da sociedade de agir com suas finalidades proprias, e o social acabaria deixando de lado, junto com o Estado, o individualismo para entrar numa nova era. A era da coletividade.

Houve enfim, a construgao social do eu individual (me, myself and I) para o nos coletivo, ou mesmo o equilibrio das classes, preconizado por muitos e por ultimo uma visao nova da sociedade, sendo uma implantagao ideologica do socialismo. Com estas diferentes mudangas houve quem se pronunciasse, escrevendo livros, publicando notas a este respeito, na Belgica, na Franga e na Alemanha, dentre outros, e a sistematizagao do coletivismo atraves da obra "O Capital" de Karl Marx (1996).

O homem deixa de viver economicamente solitario e desde entao passa literalmente a viver e pensar como o homem historico e social, que vive da agao mais do que do pensamento desenvolvendo a sua personalidade e organizando-se em suas aptidoes e capacidades.

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Deveria haver consenso e equilibrio, altemadamente, e impedimentos que os mais favorecidos economicamente nao se opusessem aos menos desprovidos e que estes, por sua vez, deixassem de desenvolver suas faculdades e qualidades inatas.

0 Estado entao intervem em equilibrio, de onde limita, defronta e destroi as diferencas entre classes e grupos. E nao mais deixava que o interesse individual dominasse o coletivo, ou interesse da sociedade, e como um todo, buscava o nivelamento social e limitando o direito individual, e deste modo o interesse publico serviria a obra da reforma.

A democracia eomega a imperar e o Estado tern uma verdadeira missao, que ja era de seu proprio interesse, equilibrar, orientar, e beneficiar o interesse coletivo. O novo pensamento ia mudando e se moldando, surgindo uma indagacao a problemas marcantes como a saude e a higiene, que foram sendo verificadas, e atualmente ha de se considerar os limites iniciais do direito do trabalho.

Na Franca tentavam substituir a prisao por dividas, e os salarios se tornavam impenhoraveis; a indenizacao ja surgia e se garantia a suas vitimas de acidentes; o trabalhador ja nao era mais explorado como antes; os direitos de propriedade limitavam-se, ao contrario dos impostos de heranca. Na Inglaterra, com a Lei de 1819 as criancas podiam trabalhar aos nove anos de idade nas fabricas; em 1833 ja se inspecionava as oficinas; em 1844 as primeiras medidas de seguranga no trabalho eram aprovadas, tendo as criangas meia Jornada de trabalho, e reduzia a sua idade para oito anos.

Na Alemanha surgiram as ordenagoes industrials com metodos que funcionavam como pequenos codigos. Bismarck criou a rede de seguro social.

Com o Estado intervencionista, a sua doutrina se enraiza. A igualdade pura vai se tornando juridica, e a sociedade tern novas concepgoes, a exemplo do Estado policia ou o Estado providencia, pressupostos criados com a liberdade economica e com a livre concorrencia, que aliados ao Estado, tentam juntos corrigir as desigualdades e reproduzir as suas atribuigoes.

Paralelamente, outro aspecto preponderante ao surgimento do Direito do Trabalho foi a atuagao da Igreja Catolica atraves de sua doutrina social manifestada pelas enciclicas papais a partir do seculo XIX, com a "Rerum Novarum" (Doutrina pregada por Cristo), do Papa Leao XIII, que anuncia a precisao de uniao das classes de capital e de trabalho, onde ha necessidade reciproca. As suas palavras impressionaram e incentivaram os governantes pelas classes trabalhadoras e nos

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dissidios individual's e coletivos, bem como com as demais que Ihe sucederam, a exemplo da Mater et Magistra, do Papa Joao XXill e Populorum Progressio, do Papa Paulo VI.

Comega, assim, a delinear-se o direito dos trabalhadores, afastado das coneepgoes liberais oriundas da Revolugao Francesa, e caracterizado pela adogao dos postulados de um novo Estado, o Bem-Estar Social, predominante a partir do seculo XX. Com este pleno desenvolvimento acerca dos interesses coletivos, a liberdade individual foi se restringindo e limitando cada vez mais as suas atividades.

Com mesmo desenvolvimento inovador o operario tambem vem com esta vontade de pleitear os beneficios, fortalecendo o seu papel, e dinamizando a sua agao. Deste ponto nasce o Direito Social brasileiro e conjuntamente vao se sobressaindo termos como consumo, produgao, movimentos reivindicatorios, amparo, capacitagao produtora, entre outros. Apareciam as primeiras leis de um direito em formagao, em um ou em outro pais, com principios na propria historia da humanidade.

A Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) trouxe as inovagoes finais que se precisava para formar o ideal de que, se um homem pode lutar ou morrer, sendo todos iguais, poderiam ser iguais tambem para o direito, e com este pensamento e perante todos os acontecimentos, nascia o Direito do Trabalho.

Com o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, notou-se ainda uma tendencia de internacionalizagao do Direito do Trabalho que culminou com a criagao da Organizagao Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, alicergada nos principios fundamentals desse novo ramo juridico, assegurados pelo Tratado de Versalhes.

De acordo com Jose Soares Filho (2002, p. 13):

A OIT foi criada no Tratado de Versalhes (Parte XIII), mediante o qual tambem se estabeleceram (art. 427), em nivel mundial, em solene proclamacao feita pelas Atlas Partes contratantes, os dispositivos basicos de protecao ao trabalhador, que consubstanciam os principios fundamentais do direito do trabalho. Reconheceu-se, entao, ser de importancia essencial do ponto de vista internacional o bem-estar fisico, moral e inteiectual dos trabalhadores.

A criagao da OIT teve papel fundamental no periodo de transigao do Estado Liberal para o Social, bem como, com a internacionalizagao do trabalho, de influir na construgao do perfil do Direito do Trabalho, de carater tutelar, no inicio do seculo XX.

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Sobre a criagao da OIT, Godinho Delgado (2005, p.96) leciona:

A terceira fase do Direito do Trabalho inicia-se logo apos a Primeira Guerra Mundial. Identifica-se como a fase da institucionalizacao ou oficializagao do Direito do Trabalho. Seus marcos (situados no ano de 1919) sao as Constituicao de Weimar e a criagao da OIT (a Constituigao Mexicana de 1917 ianca o brilho do processo nos paises perifericos ao capitalismo central).

Tal fase define como o instante historico em que o Direito do Trabalho ganha absoluta cidadania dos paises de economia central. Esse Direito passa a ser um ramo juridico absolutamente assimilado a estrutura e a dinamica institucionalizadas da sociedade civil e do Estado. Forma-se a Organizagao Internacional do Trabalho; produz-se a constitucionalizagao do Direito do Trabalho; finalmente, a legislagao autonoma ou heterdnoma trabalhista ganha larga consistencia e autonomia no universo juridico do seculo XX.

Ainda sobre a OIT, Arnaldo Sussekind (1997, p. 19) escreve:

A OIT, que antes fora parte da Sociedade das Nagoes, mas que, pouco a pouco, conquistou sua autonomia e obteve o reconhecimento da sua notavel obra, teve entao afirmada, expressamente, sua independencia jurfdico-institucional. Por conseguinte, ela e uma pessoa juridica de direito publico internacional, de carater permanente, constituida de Estados, mas nao uma entidade supra-estatal; e, como acentuou Pla Rodriguez, "possui uma composigao tripartide que impede sua inclusao em qualquer categoria juridica conhecida antes de sua criagao.

Pode-se inferir que a OIT teve como principal funcao, a pacificacao nas relagoes de trabalho e, por sua vez, queda-se perceptivel a partir do seu proprio preambulo, Arnaldo Sussekind (1997, p.52-53), aduz:

Considerando que a paz para ser universal e duradoura deve assentar sobre a justiga social.

Considerando que existem condigoes de trabalho que implicam, para grande numero de individuos, miseria e privagoes, e que o descontentamento que dai decorre poe em perigo a paz e a harmonia universais e considerando que e urgente melhorar essas condigoes no que se refere, por exemplo, a regulamentagao das horas de trabalho, a fixagao de uma duragao maxima do dia da semana de trabalho, a fixagao de uma duragao maxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento de mao-de-obra, a luta contra o desemprego, a garantia de um salario que assegure condigoes de existencia convenientes, a protegao dos trabalhadores contra as moiestias graves ou profissionais e os acidentes de trabalho, a protegao das criangas, dos adolescentes e das muiheres, as pensoes de velhice e de invalidez, a defesa de interesses dos trabalhadores empregados no estrangeiro, a afirmagao do principio 'para igual trabalho, mesmo salario', a afirmagao do principio de liberdade sindical, a organizagao do ensino profissional e tecnico, e outras medidas analogas;

Considerando que a nao adogao por qualquer nagao de um regime de trabalho realmente humano cria obstaculos aos esforgos de outras nagoes

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desejosas de melhorar a sorte dos trabalhadores nos seus proprios territorios.

Apos a Segunda Grande Guerra Mundial surge o Constitucionalismo Social que aparece para incluir os trabalhadores nos patamares dos empregados e char as leis trabalhistas dando uma visao futurista e adequada ao trabalho, tanto em ambito comum, como no coletivo.

Nesse contexto delineado, nasce entao o Direito do Trabalho, ramo juridico pautado em principios proprios e no ideal de uma justiga igualitaria atraves da protegao dos mais vulneraveis, vertice de toda sua construcao teorica e juridica, tendo como elemento central a presenga de uma relagao empregaticia.

Vislumbra-se o quao significante a protegao para o direito tutelar dos trabalhadores, assim como o papel da regulamentagao, sob essa egide, da relagao empregaticia. A regulamentagao tern como objetivo primordial a minimizagao das desigualdades existentes, almejando alcangar a justiga distributiva, apregoada desde a Antiguidade, por Socrates.

A regulamentagao dos direitos dos trabalhadores mostrou-se de suma importancia ate para uma convivencia social harmoniosa. Aos exploradores deveriam ser impostos limites, os quais so poderiam ser possiveis mediante a atuagao do poder regulamentar estatal.

A ausencia de quaisquer normas que busquem uma justiga distributiva eficaz proporcionaria um avango no Darwinismo social, segundo o qual prevalece, dentro de um conceito evolucionista, a lei dos mais fortes.

Estes sao os antecedentes historicos do Direito do Trabalho. Assim, nasceu o Direito do Trabalho e foi dessa forma que ate hoje tern deixado legados e aprimorando-se a cada dia mais.

1.2 Origem e evolugao do Direito do Trabalho no Brasil

O foco de maior complexidade e o que se construiu no ramo jus trabalhista. A relagao empregaticia teve como ponto crucial, a fundamentagao na relagao juridica e ao seu alcance, no Direito do Trabalho e na realidade brasileira.

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Conforme ja fora mencionado, o instituto primordial do Direito do Trabalho pode ser identificado com a relagao do trabalho subordinado, livre, assalariado, cujo fim e o lucro. Tomando como base esse ensinamento, busca-se determinar o momento em que surgiu o Direito do Trabalho no Brasil.

Entretanto, deve-se, necessariamente, partir dos anos posteriores a 1888, dada a persistencia da escravidao ate entao, como ja consignado, impropria em face da subordinagao subjetiva do escravo, visto como objeto e nao como pessoa.

Baseando-se em um pais de formagao colonial, economicamente agricola, e tendo a sua economia estruturada na relagao escravista de trabalho, tem-se ate o seculo XIX o marco maior de introdugao na relagao de emprego, ficando por parte da aboligao da escravatura.

Embora a Lei Aurea nao tenha qualquer carater jus trabalhista ou qualquer vinculo de iniciagao ao trabalho, e ela que nos da uma referenda da historia do Direito do Trabalho brasileiro. Com os negros libertos, nasce entao a relagao de emprego, ja que tudo continuava do mesmo jeito, e as plantagoes teriam que ser colhidas, e as casas deveriam ser arrumadas, e as vacas ordenhadas, e tudo continuava igual, apenas o trabalhador e que tinha dado o seu grito de liberdade e aprendia agora a dar valor ao seu trabalho e poderia cobrar por ele, mesmo que fosse pouco.

Considera-se ainda, que no periodo pos-colonial brasileiro, especificamente, no seculo XIX, momento em que a Europa fervia com a luta dos explorados contra exploradores, no Brasil surgiram esparsamente algumas leis de cunho trabalhista, consideradas por diversos doutrinadores como sendo o embriao brasileiro do direito do trabalho, o que se mostra incoerente, contudo, dada a incompatibilidade dos postulados desse novo ramo do Direito em face da mao de obra escravocrata, predominante a epoca.

Conforme com Mozart Victor Russomano (2003, p.30), "a Lei Aurea aboliu a escravidao no Brasil e essa foi, sem duvida, muito embora quase ninguem o tenha dito, a lei trabalhista mais importante ate hoje promulgada no Brasil". Entretanto, nao se pode abstrair que existia sim, antes da aboligao da escravatura, relagao de emprego, muito embora em pequenas proporgoes.

Coadune com o posicionamento adotado, Mauricio Godinho Delgado (2005, p.46) prenuncia;

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Se a existencia do trabalho livre (juridicamente livre) e pressuposto historico-material do surgimento do trabalho subordinado (e, via de consequencia, da relagao empregaticia), nao ha que se falar em ramo juridico normatizador da relagao de emprego sem que seu proprio pressuposto dessa relagao seja estruturalmente permitido na sociedade enfocada. Desse modo, apenas a contar da extingao da escravatura (1888) e que se pode iniciar uma pesquisa consequente sobre a formagao e consolidagao historica do Direito do Trabalho no Brasil.

Dessa feita, a Lei Aurea e dotada de suma importancia, nao so pelo fato de proclamar o fim da escravatura, mas, tambem, por dar inicio ao termino da Monarquia, na medida em que esta se alicercava na escravidao.

A proposito, a Proclamacao da Republica, no ano de 1889, tambem exigia um ordenamento mais moderno e de conformidade com a nova estrutura social, economica e politica da epoca, incluindo-se, nesse diapasao, a relagao de emprego subordinado e livre predominante.

O Decreto n°. 1.313 de 17 de Janeiro de 1891, do Marechal Deodoro da Fonseca, pode ser considerado a primeira manifestagao autenticamente protecionista ao trabalhador, ao dispor acerca da vedagao do trabalho dos menores de 12 anos no Distrito Federal, resguardando-se o dos maiores de 08 anos a titulo de aprendizagem.

Posteriormente, diversas outras normas foram editadas, a exemplo da Lei n°. 1.869/22, que criou os Tribunals Rurais, a Lei Eloi Chaves de 1923, que tratava de pensoes e aposentadorias dos ferroviarios, a Lei de Ferias de 1925, dentre outras.

Victor Russomano (2003, p.31) no que tange aos Tribunais Rurais descreve, que "em 1922, em Sao Paulo, foram criados os Tribunais Rurais, sob a presidencia do Juiz de Direito e que, repetindo a experiencia anterior, ainda de Sao Paulo, em

1911, marcaram os primeiros esforgos de criagao da Justiga do Trabalho no Brasil". Remontam-se, a esse periodo, as primeiras manifestagoes legislativas tratando sobre a associagao, que, no Brasil, desenvolveu-se de forma assaz peculiar, como bem retrata Segadas Viana (1981, p. 102-103):

Em 1893, pela Lei n°. 173 de 10 de setembro, regulamentou-se o dispositivo constitucional sobre associagoes religiosas, morais, cientfficas, artisticas, politicas ou de simples recreio (art.72, § 3°). Mas o primeiro diploma sobre sindicalizagao veio a surgir a 6 de Janeiro de 1903, pela Lei n°. 979, regulando a sindicalizagao rural. Esta chamada inversao sindical brasileira deveu-se a dois fatos: ser o Brasil um "pais essencialmente agrfcola" e necessitar, a epoca de reorganizar o campo como consequencia da Lei Aurea de 1888. Facultou-se, assim, aos profissionais da agricultura e industria rurais de qualquer genero organizarem-se em sindicatos para

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estudo, custeio e defesa de suas terras. Tinha-se mais em vista um objetivo economico, servindo as associagoes de intermediaries de credito, do que propriamente cuidar de interesses profissionais.

Urge mencionar que as primeiras ieis vieram do Imperio, onde ja se denotava dispositivos e conteudo de carater trabalhista, embora nenhuma faga parte do bojo de nossa Constituigao Federal, ou de fonte de alguma legislacao brasileira.

A decada de trinta, conhecida pela Era Vargas, e um periodo marcado por uma intensa produgao legislativa no que se refere ao Direito Laboral, assim como na dotacao de autonomia ao novel ramo do Direito, passando a possuir institutos, metodos e principios inerentes.

Nessa perspectiva Nelson Werneck Sodre (1990, p. 147) aduz que:

Consequencia da crise capitalista de 1929, de um lado, e de conjuntura particular, resultante de condigoes internas, de outro, o movimento de 1930, no Brasil - convencionalmente tratado como revolugao-, correspondeu a mudanga significativa na politica do pais. Foi desse movimento, em cuja preparagao se empenhara, que surgiu a figura de Getulio Vargas, personagem central da vida brasileira por um quarto de seculo. Vargas e o movimento de 1930 conjugaram-se perfeitamente: o movimento foi etapa importante da ascensao burguesa no pais, revelando o desenvolvimento aqui das relagoes capitalistas, e Vargas se afirmaria como o maior dirigente que a burguesia brasileira conheceu, um interprete sagaz de suas necessidades e seus anseios.

A promogao das normas trabalhistas ao ambito constitucional foi feita com a Constituigao de 1934, absorvendo o preceituado pelas constituigoes sociais que Ihe foram anteriores, a exemplo da Constituigao do Mexico (1917) e a Alema de Weimar, (1919). A sociedade transfigura-se, de eminentemente agricola para industrializada, desenvolvendo-se, por conseguinte, relagoes trabalhistas que, cada vez mais, tornavam-se complexas, exigindo, destarte, uma regulagao que Ihes fosse adequada.

Interessante anotar que a Constituigao de 1934, apesar de possuir cunho social, apoiava-se, predominantemente, em conceitos liberals, em especial, nos seus dispositivos que tratavam sobre a ordem economica. Celso Ribeiro de Bastos (2000, p.93), nesse particular, descreve:

Adotou um padrao social, e dizer, atribuiu a materia economica uma finalidade de justiga social, ao dispor que a ordem economica devia ser organizada conforme os principios da justiga e as necessidades da vida nacional, de modo a possibilitar a todos a existencia digna.

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As Constituicoes que sucederam a de 1934 ratificaram o disciplinamento do trabalho subordinado, inclusive a atual de 1988.

Apreende-se que o surgimento do Direito do Trabalho possui diversas variaveis que se manifestaram de diversas formas. O Brasil, por exemplo, em muitos aspectos se aproximou das experiencias internacionais, ao mesmo tempo em que desenvolveu suas caracteristicas proprias, que, certamente, tiveram o condao de determinar a estruturacao do Direito do Trabalho brasileiro.

Os pontos de convergencias sao facilmente auferiveis, na medida em que dizem respeito aos alicerces do novo ramo juridico, quais sejam, a valorizacao do trabalho humano e a busca pela garantia da dignidade da pessoa humana. Divergem, entretanto, a forma em que esses valores foram conquistados.

Com apoio na estruturacao historica, pode-se aduzir que os fatores distintivos da formacao do Direito do Trabalho no Brasil em contraponto ao resto do mundo, sobretudo, na Europa, resumem-se a forma como se esbocaram as primeiras regras trabalhistas.

No Brasil, as conquistas partiram da esfera individual, predominantemente, sendo as primeiras normas outorgadas, enquanto no mundo parte-se de um movimento ascendente e as regras se pautavam em Direitos Coletivos ou resultavam de movimentos dessa natureza.

Outro aspecto diferenciador, considerado um dos mais importantes para se entender o Direito do Trabalho brasileiro, diz respeito a forma como foram alcangados os direitos laborais.

As conquistas na seara trabalhista no mundo foram frutos de uma perceptivel luta prolongada, que, no decorrer do tempo, amadureceu e construiu-se alicergada em ideais sustentaveis, em detrimento de qualquer manifestagao casuistica. Esse processo, inevitavelmente, influenciou-se por diversos fatores, afluentes diretos da constituigao dos direitos da classe explorada.

Pode-se citar como exemplo dos contribuintes ao desenvolvimento da nova especialidade do Direito, a doutrina social da Igreja Catolica, a derrocada dos ideais liberais e das pressoes dos trabalhadores atraves de uma consciencia de classe.

Em oposigao, a realidade no Brasil se mostrou consubstanciada em imperatives exogenos, desafetos a realidade brasileira. Enquanto no mundo se construia toda uma arquitetura fincada em bases principiologicas, o Brasil ainda passava, exatamente na decada de 20, por um momento transitorio de abandono do

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sistema escravista e incipiente atividade industrial. Percebe-se nitidamente a ausencia de uma ideologia tipicamente brasileira, na qual se vislumbrasse um referencial a ser seguido.

No mundo, essas se desenvolveram e se fortaleceram, sendo participantes ativos na construcao do direito tutor das relagoes trabalhistas. Traz-se a colagao os postulados de Otavio Augusto Reis de Sousa (2002, p.32-33) ao dispor sobre o assunto, afirmando que:

A CLT de 1943 foi inspirada na Carta de 1937, que negava a oposicao capital-trabalho, enfeixava-se a doutrina corporativa e via na greve nao um direito, mas uma "manifestacao anti-social". Ainda que fracionada pela Constituigao de 1988, e essa mesma base de principios que ate hoje nos rege e impede uma completa e profunda reestruturagao, O prejuizo as formas autocompositivas e fortes, o que se verificou nem se verifica entre nos. As diferengas hao de ser ressaltadas, na medida em que, a solugao para a crise do Direito do Trabalho tera de ser mundial, nao podemos relegar a necessidade de adaptagao a realidade patria com suas particularidades.

Em adendo, esclarega-se que nao negamos a existencia de movimentos operarios no Brasil, mas, tao-somente, que tenham estes tido entre nos importancia determinante no desencadear do processo legislative geral; nao foram estes, ao contrario do que sucedeu no resto do mundo, a fonte material determinante do surgimento do Direito do Trabalho.

De infcio, as Constituigoes brasileiras versavam apenas sobre a forma do Estado e o sistema de governo. Depois, passaram a tratar de todos os ramos do Direito, sendo em especial, do Direito do Trabalho, como ocorre agora, com a nossa Constituigao Federal de 1988.

Ha que se destacar a institucionalizagao do Direito do Trabalho, e esta evolugao historica e relativa a sua oficializagao. Esse inicio tern seu marco historico em 1930, onde Getulio Vargas firmava a estrutura juridica e institucional de um novo modelo trabalhista. Esses preceitos perduraram por quase seis decadas, em pleno efeito, ate a Carta Constitucional de 1988.

Em 1943 comega a fase da institucionalizagao do Direito do Trabalho no Brasil, atraves da CLT (Consolidagao das Leis do Trabalho).

O Estado intervencionista tern sua atuagao principalmente no que tange a questao social. Por um lado vem o movimento operario, com suas implantagoes e querendo mudangas, e de outro vem a legislagao que instaura um modelo novo e mais abrangente na organizagao do sistema justrabalhista, inteiramente dominado pelo Estado.

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Visualiza-se o quae- diferente e peculiar se desenvolveu o Direito do Trabalho no Brasil comparando-o ao resto do mundo, dissociado de seu contexto social, ratificando, dessa sorte, a praxis brasileira de importar normas juridicas que quase sempre nao se coadunam com a realidade vivenciada pela sociedade, fazendo-as ineficazes e inoperantes, pois, de certa forma, nao se legitimam por nao refletirem os anseios do povo, o real legitimado.

Destarte, os regulamentos foram surgindo, e as horas a trabalhar foram se adequando, bem como a carteira profissional, ferias, e tudo aos poucos foi implementado, comecando entao a diversificacao das leis, ao entrarem num patamar de encontro com as prioridades de cada setor e organizagoes entre categorias.

A evolugao do Direito do Trabalho assume contornos diferenciados, dependendo do grau de participagao do Estado na sua regulamentagao. Dentro da evolugao do Direito do Trabalho, como ja delineado no presente trabalho, verifica-se que, inicialmente, de forma timida, comegaram a ser inseridas normas esparsas reguladoras das relagoes de trabalho e, aos poucos essas normas comegam a assumir caracteristicas proprias indissociaveis, ate que delimitam um ramo autonomo do Direito.

No periodo que perdura ate a Constituigao de 1988, o Direito do Trabalho brasileiro assumiu contornos relativamente autocraticos, com forte presenga legislativa estatal na limitagao da liberdade dos sujeitos da relagao de trabalho.

Tal regime autocratico cedeu, sem retirar a presenga maciga do Estado. Resultado de um processo de redemocratizagao nacional, a Carta Magna de 1988 e um exemplo de constituigao democratica, dando enfase aos direitos individuals e sociais.

Quanta ao trabalho, a importancia trazida pela Constituigao em vigor e singular. O artigo 1° elenca, em seu inciso IV, "os valores sociais do trabalho" como um dos fundamentos da Republica Federativa do Brasil.

De qualquer forma, nao se trata de uma norma solta ao longo do texto constitucional, visto que, em alguns pontos, a importancia do trabalho dentro do cenario brasileiro foi ressaltada de maneira ampla. Veja-se por exemplo o artigo 170, no qual ha a determinagao de ser a "ordem economica, fundada na valorizagao do trabalho", acrescentando, ainda, como principio, a "busca do pleno emprego".

A norma contida no artigo 193, inserido no Titulo VIII "Da Ordem Social" -determina: "A ordem social tern como base o primado do trabalho", o que somente

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vem corroborar a importancia sistematica que da nossa Constituigao ao trabalho. Alem disso, enumera, ao longo do Capitulo II - "Dos Direitos Sociais" -, no Titulo que trata dos Direitos e Garantias Fundamentals, normas de natureza trabalhista, disciplinando, especificamente, em seu artigo 7°, uma serie de direitos do empregado, divididos em trinta e quatro incisos.

Diante deste prestigio gozado pelo trabalho dentro do ordenamento juridico atual, e de se concluir que a Constituigao da Republica de 1988, ante a previsao expressa e maciga de preceitos e institutos de Direito do Trabalho em seu texto, representa o reverso do que significava o liberalismo do seculo XIX. Tal conceito elevado e o reconhecimento da importancia do trabalho na construgao e engrandecimento do estado e da propria pessoa humana.

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A Globalizagao e um processo antigo. Afirmam alguns doutrinadores e estudiosos que o marco inicial se deu atraves das grandes navegagoes, em especial as lideradas pelo navegante genoves Cristovao Colombo, financiadas pelo Reino de

Castilla e Aragon no final do seculo XV, onde fora rompido o isolamento que existia

entre o "velho" e o "novo mundo". Sergio Pinto Martins apud Carli (2005, p. 13) afirma que:

A tendencia historica da globalizagao e a evolugao da humanidade desde as primeiras narrativas, nos ultimos anos, atraves de processos globalizantes, em cada descobrimento, mudangas, guerras, dominagao, fenomeno politico, descompasso, estabilidade e instabilidade de relagoes entre povos, ideias e ideais, tudo isso e um fenomeno globalizante.

Entretanto, a Revolugao Industrial, em meados do seculo XIX, e o marco historico do processo de globalizagao em todo o mundo, visto que foi atraves das inovagoes tecnicas e do avango da tecnologia, tanto nas industrias como nos transportes, que facilitou e proporcionou maior integragao em todo o mundo por meio do aumento das trocas mercantis e de maiores investimentos estrangeiros. Relaciona-se tambem nesta mesma epoca, a exploragao desenfreada e degradante do trabalho do operario que na epoca nao tinha minimas condigoes de trabalho.

O periodo que sucedeu a Segunda Guerra, tambem conhecido como Segunda Revolugao Industrial, onde de forma surpreendente multinacionais e conglomerados financeiros propagaram-se em todo o mundo e a reconstrugao da Alemanha e do Japao, por meio da modernizagao das industrias e das relagoes de trabalho, sendo que essa modernizagao manifestou-se atraves das doutrinas neoliberais devido a nova realidade vivenciada, foram fatos importantes para o processo de globalizagao.

Afirmando-se que a globalizagao nao e um fenomeno recente, uma vez que ja existia desejo de conquistas desde o seculo XV, e apropriado salientar que fora a partir dos anos 90, que o processo tornou-se muito mais arrebatador e abrangente, como consequencia do intenso desenvolvimento tecnologico observado no seculo XX.

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A vasta propagagao de tecnologias, a chamada revolugao tecnologica, apresentada nas ultimas decadas fez surgir um novo processo de globalizagao, visto que como o aumento da competividade das relagoes internacionais, a ciencia e tecnologia sofrem rapidas e constantes transformagoes que sao cada vez mais determinantes na avaliagao do nivel de progresso de um pais. Assim sendo, uma das grandes preocupagoes do mundo e a qualificagao da mao-de-obra para lidar com as novas tecnologias que sempre estao surgindo sob pena de perda da competividade.

O mundo vem sofrendo transformagoes contundentes, provocadoras de uma reestruturagao do Estado, o que Ihe exige uma nova postura diante das inovagoes. Nesse diapasao e que se apoiam as reformas, que permeiam diversos setores estruturais do Estado e, por conseguinte, da sociedade.

Nesse prisma e que se torna necessario o estudo, mesmo que breve, dos fatores provocadores da metamorfose social experimentada pelo mundo, tratando-se, a seguir, especialmente do conceito do fenomeno da Globalizagao e seus reflexos no Direito do Trabalho.

2.1 Globalizagao - Contornos

Jose Ricardo Tauke (1998, p.161), em sua obra, "As transformagoes do capitalismo contemporaneo e sua natureza na analise de Marx", cita um pensamento de Karl Marx, qual seja: "A tendencia a criagao do mercado mundial esta diretamente inscrita no proprio conceito de capital. Cada limite aparece como uma barreira a ser superada".

Em 1867, Karl Marx ja previa uma tendencia do processo capitalista e que acabou por se perceber inevitavel em fins do seculo XX. Para entender um processo ja vislumbrado nos primordios do capitalismo como hoje se conhece, e necessario que se apresentem conceitos para identificar os termos entao utilizados, nem sempre dentro de sua especifica definigao.

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A globalizagao, historicamente, e um fenomeno atual, consolidado no ultimo quarto do seculo XX, resultado de inumeras transformagoes por que passou a humanidade ao longo do seculo.

Globalizagao nao e expressao nova, mas e com a qual se procura dar nova roupagem a velhos processos estruturais da expansao do capitalismo em escala mundial, e o repensar, e o grande desafio, nao necessariamente a padronizagao normativa se apresenta como um avango na perspectiva de promogao fundamental dos seres humanos, criar melhores condigoes para a preservagao e dignificagao da vida humana no planeta globalizado.

A expressao globalizagao tern sido utilizada mais recentemente em um sentido marcadamente ideologico, no qual se assiste no mundo inteiro a um processo de integragao economico sob a egide do neoliberalismo, caracterizado pelo predominio dos interesses financeiros, pela desregulamentagao dos mercados, pelas privatizagoes das empresas estatais e pelo abandono do estado do bem social. Esta e uma das razoes dos criticos acusarem a globalizagao, de ser responsavel pela intensificagao da exclusao social e de provocar crises economicas sucessivas, arruinando milhares de poupadores e de pequenos empreendimentos.

A globalizagao por ser um processo de economia em escala mundial, com quebra ou diminuigao de barreiras alfandegarias, estimuladora de maior circulagao global de bens de servigos vem readaptando o conceito de soberania. Nao existe mais a soberania ilimitada e absoluta.

Hoje os paises seguem regras globais para se manterem no quadro economico mundial. A soberania, portanto, ganha limitagoes frente a ordem economica vigente, no comercio estruturado em bases de instrumentos de moeda e credito, e em novos meios de transporte e de comunicagoes, estimulado pela afluencia economica, na criagao de classes sociais, dos direitos do homem e no fortalecimento dos poderes nacionais e das instituigoes socio-politicas.

Frente a soberania do Estado, o processo de globalizagao parece indicar que as relagoes de trabalho de um modo geral devem ser modernizadas, pois ela traz impactos nas relagoes individuals de trabalho. E, ate a da diminuigao dos postos de trabalho, o que pede novas formas de contratagoes e mudangas nas garantias trabalhistas, existindo atualmente uma realidade dificil de contestar: os investidores internacionais sao mais atraidos, entre outros aspectos, por legislagoes mais flexiveis e com menos encargos trabalhistas.

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Assim, pode-se auferir da definigao do fenomeno da globalizagao, como sendo uma forma com a qual se procura dar nova vestimenta a velhos processos estruturais da expressao do capitalismo em escala mundial, mas antes de ter inicio a primeira fase da globalizagao, todos os continentes encontravam-se separados por intransponiveis extensoes acidentadas de terra e de aguas, de oceanos e mares, que faziam com que as maiorias dos povos e das culturas soubessem da existencia umas das outras apenas por meio de lendas, ou imprecisos e imaginarios relatos de viajantes, estudiosos, e cada povo vivia isolado dos demais, cada cultura era auto-suficiente, todos os povos nasciam, viviam e morriam no mesmo lugar, sem tornar conhecimento da existencia de outros.

2.2 Reflexos do processo de globalizagao no Direito do Trabalho

Atualmente, vive-se uma nova etapa do capitalismo, na qual ha a internacionalizagao dos mercados, mediante a integragao das economias em um piano global. Esta pode ser denominada como a segunda era do capitalismo, iniciada apos a Guerra Fria, com a derrocada do socialismo, marcada pelo colapso da Uniao Sovietica e a queda do muro de Berlim. Surge, assim, uma nova ordem social.

Afirma-se que a partir do inicio da decada de 80, a economia passa a ser vislumbrada de maneira mundial, globalizada, o mundo deixa de ser dominado pelo Estado e passa a ser comandado pelo mercado, situagao esta influenciada pelos avangos decorrentes na comunicagao e transportes, possibilitadores, por sua vez, da facilitagao de afluxos de capitals, bens e servigos. Depreende-se, ainda, para consolidar essa conjuntura, nos dizeres de Robert Gilpin (2004, p.34): "o colapso de economias de gestao e a crescente influencia de uma ideologia conservadora baseada na adogao de orientagoes gerais da polftica economica".

O resultado das mudangas advindas pela globalizagao causa um impacto nas relagoes trabalhistas, consequentemente no Direito do Trabalho, cada vez mais forte e difusa, e a sua recepgao inicial foi marcada pelo otimismo, mas com o decorrer do

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tempo este foi substituido pelo temor e apreensao, eis que o mundo globalizado se tomou mais aberto e receptivo.

Muito alem das novidades consumiveis, o mundo esta atravessando uma situacao de perigo, com a quebra das empresas, corte nos postos de trabalho com mudangas estruturais agravando a exclusao social atraves da elevacao do desemprego e do subemprego.

A globalizagao e um processo de reorganizagao da divisao internacional do trabalho, acionado em parte pelas diferengas de produtividade e de custos de produgao entre paises, deixando clara que a globalizagao nao reduz o nivel geral de emprego nas economias que dela participam. Com a abertura das importagoes e exportagoes, sao criados novos empregos, novas ocupagoes.

Diante de uma inequivoca alteragao estrutural universal a partir da globalizagao, os reflexos sobre o trabalho sao profundos. Inicialmente, hao de ser considerados aspectos que estao alinhados com o proprio sistema capitalista, agora hegemonicamente dominante em praticamente todo o globo, bem como aspectos que se originaram a partir da evolugao dos meios produtivos.

Dentro do modo de produgao capitalista, o trabalhador continua, como antes, a sobreviver do seu salario, sobretudo porque ainda vigora, juntamente com o capitalismo, uma economia de mercado.

O fato e que a economia segue uma tendencia, a globalizagao, esta, por sua vez, exige, para a sua consolidagao, uma reformulagao da estrutura economica, que reflete ainda, em aspectos de ordem social, politica e, por conseguinte, de indole legislativa, neste sentido tem-se a reformulagao das bases do Direito do Trabalho.

Infere-se, ainda, para a construgao do mosaico em que se estrutura a realidade economica, social e politica do mundo, tem-se a aplicagao da tecnologia para a supressao de postos de trabalho. E o que se denomina de automagao, como um das causas a necessidade de flexibilizagao do Direito do Trabalho.

De acordo com Anita Kon (2003, p.129), alguns analistas consideram que a automagao:

[...] as consequencias sao desfavoraveis, pois o trabalhador medio sera deslocado pelo equipamento de maior produtividade, porque Ihe faltam instrucao e capacidade para exercer estas funcoes automatizadas. Isto porque essas transformagoes ocorrem em pouco tempo, e a mao-de-obra existente nao pode atender a demanda por maior qualificacao sem treinamento intenso; dessa forma, algumas empresas, no curto prazo,

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substituem mao-de-obra nao habilitada por operarios ja qualificados ou aptos a se adaptarem rapidamente as novas ocupagoes.

Comunga desse posicionamento Sergio Pinto Martins (2004, p.48) que dispoe:

As mudangas tecnologicas ocorreram a partir da automagao, com a substituigao dos trabalhadores por maquinas. Tecnologia e a sistematica aplicagao da ciencia a tarefas de ordem publica. Uma maquina faz o servigo de varios trabalhadores ao mesmo tempo. Nao reclama, nao fica doente nem falta, trabalha no frio ou no calor, no escuro ou no claro etc. Com a automagao, sao necessarios menos trabalhadores para fazer as mesmas tarefas anteriormente desenvolvidas.

Tais alteracoes economicas, por sua vez, imprimem uma mudanga do Estado em diversos aspectos, a fim de que seja possivel seu enquadramento na nova conjuntura mundial. O Direito do Trabalho, destarte, deve-se adequar aos anseios de um mundo globalizado e, por conseguinte, alcangar o desenvolvimento economico.

Acresce-se, a influencia da flexibilizagao da legislagao trabalhista para a alteragao dos proprios aspectos ontologicos do Direito do Trabalho. Estes fazem com que seja delineado um novo Direito do Trabalho, assaz diferente do Direito tutelar atual.

De acordo com Dorothee Susanne Rudger (2004, p.47):

A teoria da flexibilizagao do direito do trabalho age em nome do pragmatismo, quando langa, como finalidade ultima, o crescimento economico e a competitividade da empresa. Com isso, efetua uma inversao de valores. O direito do trabalho torna-se direito protetor do capital, e nao do trabalho, pois serve, em ultima analise para negociagao das dificuldades enfrentadas pelas empresas na(s) crise(s) economicas.

Embora a fungao do direito do trabalho nunca tenha sido apenas a de protegao do trabalhador, mas tambem, num sentido dialetico, a de garantir a sobrevivencia do capital enquanto relagao social, a essencia do direito do trabalho - proteger os trabalhadores contra os avangos do capital e promover melhores condigoes de trabalho - e descaracterizada. Melhor: ha uma verdadeira transmutagao do direito do trabalho, uma perversao (no sentido literal) de seus fins. Como diz Marcio Tulio Viana, "...o novo modelo nao quer exatamente o fim, mas o avesso doo direito do trabalho".

Implicagoes, inevitaveis no mundo do trabalho, observam-se com a utilizagao de avangos tecnologicos, primordialmente, em um contexto em que impera a logica

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individualista em detrimento do social, inerente em um mundo globalizado, com um Estado neoliberal.

A sociedade globalizada e obrigada a conviver com uma concorrencia em nivel mundial, o que afeta os processos produtivos, permitindo enorme circulacao de mercadorias, ampliaeao dos sistemas de comunicagao entre os paises, aumentadas, ainda, por um crescente avango tecnologico nas mais diversas areas. A adequagao dos meios de produgao a um mercado mundial torna-se muito mais dificil, e a realidade do trabalhador passa a ser marcada por uma crise mundial de desemprego.

2.3 A crise laboral

A crise laboral presente ha algumas decadas em nosso pais, tendo a globalizagao e o avango tecnologico servido como catalisadores deste fenomeno, acirrou a competigao entre diversos setores do mercado. A disputa, especialmente entre as grandes empresas, tern resultado numa incessante busca por metodos mais eficientes para diminuigao de despesas e aumento de produtividade.

Todavia, tal politica de aumento de receita tern contribuido para o acrescimo da massa de desempregados no pais, bem como significado num adicional, consideravel, da relagao "informal" de trabalho.

Atualmente, ocorre a transformagao do modelo industrial sob o qual foi montada a estrutura justrabalhista. A redagao do artigo 3° da Consolidagao das Leis do Trabalho (Deereto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943) contrasta com a realidade laboral. Por isso, cada vez menos trabalhadores - genero - se encaixam na definigao "toda pessoa fisica que prestar servigos de natureza nao eventual a empregador, sob a dependencia deste e mediante salario".

Tres dos requisitos acima tern sido cada vez mais "diluidos" e distorcidos do seu conceito original. A eventualidade e caracterizada pela jurisprudencia apenas quanto a sua incidencia semanal. Desta forma, no caso das domesticas, nao e reconhecido o vinculo empregaticio se aquela laborar apenas duas vezes por

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semana na mesma residencia. Assim, e possivel que a prestagao laboral se de por decadas, com todas as formalidades caracteristicas da relagao empregaticia, sem que isto implique num vinculo empregaticio.

O Recurso de Revista n°. 1152-1999-011-15-00, prolatado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), terceira turma, em 01/10/2003 confirma o que fora exposto:

EMENTA: RECURSO DE REVISTA. NAO RECONHECIMENTO DE VINCULO EMPREGATICIO - DA FAXINEIRA QUE PRESTA SERVICOS EM CASA DE FAMILIA EM DOIS DIAS DA SEMANA - AUSENCIA DO REQUISITO DA CONTINUIDADE. A chamada "diarista" que trabalha em casa de familia em dois dias da semana, como faxineira nao e empregada domestica, em face da falta de continuidade, requisito para reconhecimento de vinculo empregaticio. Revista conhecida e provida.

A exigencia da "dependencia", tambem, e cada vez mais mitigada. A tendencia e a expansao do trabalho terceirizado e da autonomia. O trabalho no mercado e cada vez mais encomendado, empreitado, e com isto, a amplitude das leis empregaticias tambem e diminuida.

Quanta ao requisito salarial, Sergio Pinto Martins (2004) destaca a vinculacao deste pilar com a habitualidade, seja em relagao as horas extras, repouso semanal remunerado, adicionais, entre outros. A remuneragao, apesar de permanecer (eis que o ordenamento juridico veda o trabalho escravo), e objeto de permanente modificagao, sofrendo alteragoes especialmente na periodicidade e na forma de pagamento.

Com esta rapida analise, percebe-se que muito dos conceitos instituidos pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, sao incompativeis com a modernidade, com a realidade atual, e com as tendencias liberals e pos-liberais.

Indubitavelmente, portanto, nao e possivel ignorar a homerica erosao sofrida pela decadencia do paradigma industrial classico que serviu de inspiragao a norma legal supra.

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2,3.1 A crise economica atual e as consequencias nas relagoes laborais

A globalizagao trouxe uma interligagao entre os paises que dificilmente sera desfeita. A consequencia disto, o acesso a informagoes em tempo real, em qualquer ponto do globo e o grande mercado consumidor que surge. Contudo, existem fortes consequencias de cunho economico, um efeito domino, quando algo de errado acontece em uma grande economia, todas as outras sofrem os estragos.

A crise do subprime1 e o exemplo mais recente. Conhecida como crise do

credito hipotecario de risco acentuado, foi desencadeada nos Estados Unidos da America em 2007 com a quebra de empresas de creditos de alto risco. 0 que levou outros bancos para uma situagao de insolvencia, por conseguinte, teve reflexos diretos nas bolsas de valores do mundo. As dimensoes globais so foram notadas a partir de fevereiro de 2007.

Em meados de agosto e setembro do corrente ano, apos acumular-se a crise desde o interregno de 2007, a bolha financeira estourou. Bancos seculares como o

Lehman Brothers, fundado em 1850, que havia superado a quebra da bolsa em

1929, nao resistiu e faliu. Desencadeou-se assim uma onda de falencias.

Uma das maiores agendas de seguros, American International Group (AIG), teve que ser socorrida pelo governo americano. O remedio, US$ 85.000.000 (oitenta e cinco bilhoes de dolares) de dinheiro publico.

Em seguida, o governo americano sentiu a necessidade de nao permitir que outro grande banco viesse a ruir. Entao, empresas como a Fannie Mae2 e Freddie

1 Os subprimes sao creditos bancarios de alto risco. Incluem desde emprestimos hipotecarios ate cart5es de creditos e alugueis de carros, e eram concedidos, nos Estados Unidos, a clientes sem comprovacao de renda e com historico ruim de credito. As taxas de concessao sao pos-fixadas, isto e, sao determinadas no momento do pagamento das dividas. Por esta razao, com a disparada dos juros nos Estados Unidos, muitos mutuarios ficaram inadimplentes, isto e, sem condigoes de pagar as suas dividas aos bancos.

2 A Federal National Mortgage Association (FNMA) (NYSE: FNM), conhecida como Fannie Mae, era uma empresa de capital aberto, garantida pelo governo dos Estados Unidos (government sponsored enterprise ou GSE), autorizada a conceder e garantir emprestimos

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