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Avaliação dos impactos socioeconômicos da intensificação e da integração da produção pecuária ao setor sucroenergético no Estado de São Paulo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

SOFIA MARQUES ARANTES

Avaliação dos impactos socioeconômicos da

intensificação e da integração da produção

pecuária ao setor sucroenergético no estado

de São Paulo

CAMPINAS

(2)

SOFIA MARQUES ARANTES

Avaliação dos impactos socioeconômicos da

intensificação e da integração da produção

pecuária ao setor sucroenergético no estado

de São Paulo

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha

CAMPINAS 2018

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Mestra em Planejamento de Sistemas Energéticos.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA SOFIA MARQUES ARANTES E ORIENTADA PELO PROF. DR MARCELO PEREIRA DA CUNHA.

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(4)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

MECÂNICA

PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO

Avaliação dos impactos socioeconômicos da

intensificação e da integração da produção

pecuária ao setor sucroenergético no estado

de São Paulo

Autor: Sofia Marques Arantes

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:

Prof. Dr. Marcelo Pereira da Cunha IE-Unicamp

Prof. Dr. Joaquim Eugênio Abel Seabra FEM-Unicamp

Dra. Leila Harfuch Agroicone

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

(5)

Agradecimentos

Aos meus familiares pelo apoio à minha formação acadêmica, todo suporte e incentivo.

À equipe Agroicone, por todo apoio, auxílio, cooperação, suporte e paciência.

Ao meu orientador, Professor Marcelo Pereira da Cunha, por sua competência e atenção nas revisões e sugestões, importantes para a finalização deste trabalho.

A todos os professores do mestrado que de alguma forma contribuíram para minha formação, em especial ao Professor Davi Lopes por todas as coordenadas, sugestões e revisões.

À Juliana Picoli, por todo suporte e paciência.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pelo suporte financeiro e bolsa concedida.

(6)

Resumo

Dentro do contexto do Acordo de Paris e a consequente Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), o Brasil firmou o compromisso de aumentar a participação de bioenergia na matriz energética nacional, com expectativa de aumento da produção de etanol para 54 bilhões de litros até 2030. Para atender este aumento de demanda, a cana-de-açúcar no estado de São Paulo deverá expandir principalmente sobre pastagens extensivas. A expansão da cana-de-açúcar sobre pastagens é um motivo de preocupação para o desempenho ambiental do etanol que pode ser afetado negativamente pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE) derivadas da mudança de uso da terra. Porém, estudos indicam que a partir da intensificação da atividade pecuária e consequente liberação de área, existem vantagens econômicas e ambientais da integração entre as atividades pecuária e sucroenergética. Com isso, o sistema de integração cana-pecuária surge como alternativa para as estratégias propostas na NDC de redução dos GEE, além de promover maior eficiência na produção pecuária e do setor de etanol. Este estudo teve como objetivo avaliar os impactos socioeconômicos de dois sistemas de intensificação da pecuária, com e sem integração do setor sucroenergético, sendo a economia agregada em 162 setores e 185 produtos. Com isso, foram avaliados: (i) Nível da produção setorial, (ii) Produto Interno Bruto – PIB, (iii) Empregos e (iv) Remuneração do Fator Trabalho e Capital. Para tanto, foi desenvolvido e implementado um modelo de insumo-produto tomando como base o ano de 2011, captando os efeitos diretos e indiretos envolvidos em toda a cadeia produtiva, desagregada para as regiões do estado de São Paulo, Centro-Oeste e Resto do Brasil. Entre os resultados obtidos, destaca-se que o sistema de intensificação das atividades de pecuária e sucroenergética no estado de São Paulo, em comparação com o retrato da economia brasileira de 2011, gera riqueza para a economia brasileira, com aumento do PIB setorial e redução de emprego, com maior nível de transbordamento para as outras regiões. Como resultado do sistema integração (S2), nota-se aumento no valor da produção, queda no PIB setorial, geração de empregos, com maiores impactos para o estado de São Paulo. Porém, destaca-se a necessidade de subsídios à produção para fomentar as atividades de pecuária intensificada e integrada.

Palavras-chave: Biorrefinaria, intensificação da pecuária, integração cana-pecuária, impactos socioeconômicos, Análise de Insumo-Produto.

(7)

Abstract

Within the context of the Paris Agreement and the Consequent Nationally Determined Contribution (NDC), Brazil signed a commitment to increase bioenergy participation in national energy matrix, with an expected increase in ethanol production to 54 billion liters by 2030. To achieve this demand increase, sugarcane in São Paulo should expand mainly on extensive pastures. The expansion of sugarcane over pasture causes concern for the environmental performance of ethanol, that may be adversely affected by greenhouse gas (GHG) emissions from land use change. However, studies indicate that with livestock intensification and the consequent area release, there are economic and environmental advantages of the integration between livestock and sugarcane activities. With this, the sugarcane integration system emerges as an alternative to proposed strategies at NDC, to reduce GHG and, in addition, promote greater efficiency in livestock production and ethanol sector. The objective of this study was to evaluate the socioeconomic impacts of two scenarios of cattle intensification, with and without integration of sugarcane-based ethanol sector. The economy was aggregated in 162 sectors and 185 products. Impacts were quantified regarding to (i) the level of total output (production), (ii) Gross Domestic Product - GDP (iii) employment, and (iv) Labor and Capital Factors payments. In order to achieve the objective of this study, it was developed an input-output model based on the year 2011, capturing the direct and indirect effects along the entire production chain, disaggregated for the regions of São Paulo, Midwest and the Rest of Brazil. Among the results, the scenario of livestock and ethanol sectors intensification in the State of São Paulo, compared to the 2011 Brazilian economy, generates wealth for the Brazilian economy, with an increase in sectorial GDP and jobs reduction, with a higher level of overflow for other regions. As a result of the second scenario, there was observed an increase of output level, decrease in sectorial GDP and employment generation, with greater impacts for São Paulo state. However, for both scenarios there is a need for production subsidies to promote intensified and integrated livestock activities.

Key Words: Biorefinery, livestock intensification, cane-livestock integration, socioeconomic impacts, Input-Output Analysis.

(8)

Lista de Ilustrações

Figura 1 - Produção e Consumo de Etanol no Brasil, entre 1997 e 2017 ... 26

Figura 2 - Projeção da produção de etanol total no Brasil para o período de 2014 a 2030 ... 28

Figura 3- Área de cultivo de cana-de-açúcar mapeada por imagens de satélite ... 29

Figura 4 - Produção total de etanol para o Brasil, Região Sudeste e estado de São Paulo (safra 2016/2017)... 29

Figura 5 - Interação entre a produção de cana-de-açúcar e pecuária ... 37

Figura 6 - Relações de Insumo-Produto Inter-regional ... 51

Figura 7 - Sistema Intensivo (S1) ... 59

Figura 8 - Sistema Integração (S2) ... 60

(9)

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Intenções dos principais países emissores de gases de efeito estufa (2015)... 21

Tabela 2 - Projeção da produção de carne bovina no Brasil (mil toneladas, 2017/2027) ... 31

Tabela 3 - Principais estados produtores de bovinos (2016) ... 32

Tabela 4 - Exemplo esquemático de uma tabela de insumo-produto com três setores... 41

Tabela 5 - Tabela de transações para a economia brasileira em 2011 ... 43

Tabela 6 - Modelo Didático - Matriz de Uso (U) ... 47

Tabela 7 - Modelo didático - Matriz de produção V ... 49

Tabela 8 - Estrutura de equações e variáveis do Modelo Didático... 50

Tabela 9 - Dieta para o Sistema Intensivo (S1) ... 54

Tabela 10 - Dieta subprodutos da cana-de-açúcar - Sistema Integração (S2) ... 54

Tabela 11 - Parâmetros técnicos durante a fase de confinamento ... 56

Tabela 12 - Descrição dos sistemas de produção pecuária ... 57

Tabela 13 - Características da Destilaria Autônoma Otimizada... 58

Tabela 14 - Nível de desagregação dos setores adotados no modelo de Insumo-Produto... 61

Tabela 15 - Nível de desagregação dos produtos adotados no modelo de Insumo-Produto .... 62

Tabela 16 - Valor da Produção para o Sistema Intensivo (S1)... 66

Tabela 17 - Insumos para o Sistema Intensivo – Sistema Intensivo (S1) ... 67

Tabela 18- Insumos para a Biorrefinaria ... 68

Tabela 19- Estrutura de equações e variáveis do Modelo ... 68

Tabela 20 - Valor da Produção para o Sistema Integração (S2) ... 69

Tabela 21 - Insumos para o Sistema Integrado – Sistema Integração (S2) ... 70

Tabela 22- Nível da Produção em nível nacional e regional – Sistema Intensivo (S1) ... 73

Tabela 23 - Nível da produção, impactos positivos – Sistema Intensivo (S1) ... 74

Tabela 24 - Nível da produção, impactos negativos – Sistema Intensivo (S1) ... 75

Tabela 25 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Intensivo (S1) ... 75

Tabela 26 - Principais Setores, com impactos negativos, para variável de emprego – Sistema Intensivo (S1) ... 76

Tabela 27 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego – Sistema Intensivo (S1) ... 78

Tabela 28- Impactos para Remuneração do Fator Trabalho, Remuneração do Fator Capital e PIB Setorial (em milhões de reais) – Sistema Intensivo (S1) ... 79

(10)

Tabela 29 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos negativos) – Sistema

Intensivo (S1) ... 80

Tabela 30 - Remuneração do fator trabalho - principais setores (impactos positivos) – Sistema Intensivo (S1) ... 81

Tabela 31 - Remuneração do fator capital - principais setores (impactos positivos e negativos) – Sistema Intensivo (S1) ... 82

Tabela 32 - Principais setores para a variável PIB Setorial – Sistema Intensivo (S1) ... 83

Tabela 33 - Nível da Produção Setorial em nível nacional e regional – Sistema Integração (S2) ... 84

Tabela 34 - Nível de produção setorial - impactos positivos no Sistema Integração (S2) ... 85

Tabela 35 - Impactos nos Empregos (nacional e regional) – Sistema Integração (S2) ... 86

Tabela 36 - Principais setores com impactos positivos para a variável de emprego – Sistema Integração (S2) ... 87

Tabela 37 - Impactos para Remuneração do Fator Trabalho e Fator Capital (em milhões de reais) – Sistema Integração (S2) ... 88

Tabela 38 – Principais Setores para Remuneração do fator trabalho – Sistema Integração (S2) ... 88

Tabela 39 - Principais setores para Remuneração do fator capital, para o Sistema Integração (S2) - (impactos positivos) ... 90

Tabela 40 - Principais Setores para PIB Setorial – Sistema Integração (S2) ... 91

Tabela 41 - Resumo dos principais impactos do Sistema Intensivo ... 93

(11)

Lista de Abreviaturas e Siglas

Abreviaturas

2G - Etanol de segunda geração

ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes BVC - Biorrefinaria Virtual de Cana-de-Açúcar

CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CNUMAD - Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CO2 - Dióxido de carbono

CO2eq – Dióxido de carbono equivalente

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento COP – Conferência das Partes

CTBE – Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPE – Empresa de Pesquisa Energética FDA – fibra detergente ácido

FDN – fibra em detergente neutro

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations GDP - Ganho de peso diário

GEE – Gases de Efeito Estufa

IBGE – Instituto Brasileira de Geografia e Estatística IEA - Instituto de Economia Agrícola

IIL - Impostos Indiretos Líquidos ILP – Integração Lavoura-Pecuária

ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Florestal ILUC - Mudança de uso da terra indireta

IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática LULUCF - Land use, land-use change and forestry

MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MS – Matéria Seca

NaCl Cloreto de sódio

NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada NRC - National Research Council

(12)

ONU – Organização das Nações Unidas PIB – Produto Interno Bruto

SIE – Serviços de inspeção estadual SIF – Serviços de inspeção federal SIM - Serviços de inspeção municipal

UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar

USDA - Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

Unidade de Medida

@ arroba

GWh Giga watt-hora

ha Hectare

kg Quilograma

kg pv Quilograma de peso vivo

m3 Metro cúbico MWh Mega watt-hora R$ Reais t Tonelada métrica TC Tonelada de cana TWh Tera watt-hora UA Unidade animal

(13)

Sumário

1 INTRODUÇÃO ... 14 1.1. Objetivo Geral ... 17 1.2. Objetivos Específicos ... 17 1.2. Estrutura da dissertação ... 18 2 REVISÃO DE LITERATURA ... 19

2.1 A evolução do tema mudanças climáticas ... 19

2.1.1 Conferência ECO-92 e RIO + 20 ... 19

2.1.2 Protocolo de Quioto ... 20

2.1.3 Acordo de Paris (COP-21) e NDC brasileira ... 21

2.2 Produção de alimentos x produção de combustíveis ... 23

2.3 O etanol brasileiro ... 25

2.3.1 Cana-de-açúcar no estado de São Paulo ... 28

2.4 A pecuária no Brasil ... 30

2.4.1 Pecuária no estado de São Paulo ... 32

2.4.2. Confinamento e alimentação animal ... 33

2.5 A integração cana-pecuária ... 35

3 METODOLOGIA ... 40

3.1 Modelo básico de insumo-produto ... 40

3.2. Modelo didático ... 46

3.3 Rotas tecnológicas e Sistemas ... 51

3.4 Construção do Modelo ... 60

3.4.1 Sistema Intensivo (S1) ... 61

3.4.2 Sistema Integração (S2) ... 69

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 72

4.1 Resultados para o Sistema Intensivo (S1) ... 72

4.2 Resultados para o Sistema Integração (S2) ... 83

5 CONCLUSÕES ... 93

Referências ... 97

ANEXO A – Sistemas Produtivos da Pecuária ... 107

(14)

1 INTRODUÇÃO

Os problemas relacionados às mudanças climáticas têm se tornado um dos maiores desafios socioeconômicos e científicos a serem enfrentados pela sociedade mundial. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima IPCC (2014) destaca que a maior parte do aumento da temperatura média global, observada desde meados do século XX, está sendo causada pelo acréscimo das emissões antropogênicas de Gases de Efeito Estufa (GEE).

A crescente preocupação com esse tema tem impulsionado o interesse por biocombustíveis que, além de ser uma alternativa para mitigação de GEE, têm feito parte das ações direcionadas para segurança energética (PICOLI, 2017). Dentro desse contexto, existe uma crescente discussão sobre como otimizar o uso dos recursos provenientes da natureza bem como formas de impactá-la minimamente (LOPES, 2009).

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), até 2050, deverá haver um incremento de 60% na produção mundial de alimentos para garantir o seu fornecimento. Neste cenário, o grande desafio do setor agropecuário é incrementar a produção alimentar, com condições climáticas mais adversas, tornando-se mais eficiente para atender o aumento dessa demanda. Além disso, otimizar a produção tanto de produtos que servem de insumos para a produção de biocombustíveis como também para alimentação humana e animal.

Segundo Thompson (2012), o grande dilema alimentos versus combustíveis ganhou espaço especialmente em 2008, após o período de profunda crise econômica mundial. A discussão está diretamente relacionada às áreas destinadas para produção de biocombustíveis (competição por terra), segurança alimentar, aumento de preços dos alimentos e impactos no consumo de pessoas marginalizadas, particularmente na região sul do planeta (TOMEI et al., 2015).

Em 2015, durante a 21º Conferência das Partes (COP21), foi aprovado o Acordo de Paris, com o objetivo de manter o aquecimento global abaixo de 2ºC até 2030, em relação aos níveis pré-indutriais (ONU, 2015). Para alcançar os objetivos do Acordo, os países participantes apresentaram os seus compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), em formato de Contribuição Nacionalmente Pretendida (NDC)1.

(15)

O Brasil assumiu o compromisso de reduzir suas emissões totais de GEE em 37%, até 2025, tendo o ano de 2005 como referência (BRASIL, 2015). Além disso, a partir da NDC brasileira, espera-se um aumento de 16,4% para aproximadamente 18% da bioenergia sustentável na matriz energética nacional (dados referentes a 2015) até 2030. Para isso, a Empresa de Pesquisa Energégita (EPE) prevê uma expansão do consumo de biocombustíveis, principalmente o aumento da oferta de etanol combustível (EPE, 2016).

Devido às projeções de expansão do setor sucroenergético, com expectativa de atingir 54 bilhões de litros de etanol propostos na NDC, espera-se um aumento de praticamente 90% da quantidade produzida na safra de 2016/20172. Portanto, para que essa expansão da produção de etanol não provoque conversão de área de vegetação nativa ou agrícola, deve-se priorizar o desenvolvimento de estratégias alternativas para expansão da produção de cana-de-açúcar.

Desta forma, alguns questionamentos são relevantes: como conciliar a produção de combustíveis à de alimentos, sem que haja competição e disputa entre essas atividades, principalmente quanto ao uso da terra? Como atender ao aumento de demanda simultânea de biocombustíveis e alimentos?

Dentro deste contexto, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), em 1996, a atividade pecuária utilizava 183 milhões de hectares, com uma produtividade de 1,6 arroba3 por hectare/ano. Contudo, em 2016, a

quantidade de área utilizada caiu para aproximadamente 163 milhões de hectares, com aumento da produtividade para 3,8 arrobas por hectare/ano (ABIEC, 2016).

Com isso, nota-se que a atividade pecuária está passando por um processo de intensificação de sua produção. A tendência é que haja liberação de área, antes utilizada pela atividade pecuária, para expansão de outras culturas. Dessa forma, a área liberada poderá ser aproveitada, também, para a expansão da produção de cana-de-açúcar sem causar desmatamento, já que isso aconteceu no estabelecimento da bovinocultura.

No Brasil, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a região Sudeste, na safra 2016/2017, foi responsável por concentrar, aproximadamente, 63% do total da área plantada de cana-de-açúcar e aproximadamente 60% da produção do etanol nacional. Neste sentido, destaca-se o estado de São Paulo como o maior produtor de cana-de-açúcar e etanol da região sudeste, com participação de aproximadamente 85% e 83% do total produzido naquela região, respectivamente (CONAB, 2017).

2 Produção de etanol total na safra 2016/2017: aproximadamente 28 bilhões de litros (CONAB, 2017). 3 Uma arroba equivale a 15 kg.

(16)

Sendo assim, para a presente dissertação, o estado de São Paulo foi escolhido como objeto de análise devido à presença marcante da produção agropecuária, com concentração de grande parte da produção de cana-de-açúcar e etanol; o estado figura entre os principais exportadores de carne bovina do país, ao concentrar aproximadamente 26,3% (93.732 toneladas) do total brasileiro, sendo líder no setor em 2016; deve-se mencionar, ainda, as leis4

mais rigorosas que limitam a expansão de área para não provocar desmatamento (IBGE, 2016).

Ou seja, ao verificar a tendência de expansão da atividade sucroenergética, juntamente com a projeção de intensificação da atividade pecuária e, principalmente, devido à preocupação de não provocar o desmatamento, identificou-se a oportunidade de simular os impactos socioeconômicos da intensificação e integração da produção de etanol e pecuária de corte no estado de São Paulo. Existem algumas vantagens de se utilizar a técnica de integração dessas atividades: (i) expansão de cana se dará sobre pastagens extensivas (SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2012); (ii) oferta de resíduos derivados do processamento da cana-de-açúcar reduz o preço da ração animal (SPAROVEK, 2009); e (iii) redução de GEE (PICOLI, 2017; SPAROVEK, 2009).

Portanto, a intensificação ou integração da produção de etanol e gado de corte pode ser uma alternativa para ajudar a atingir as metas e compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, além de promover maior eficiência do uso da terra na produção pecuária (EGESKOG et al., 2014; SPAROVEK, 2009; TAUBE et al., 2012).

Neste contexto, a presente dissertação buscou responder as seguintes questões: Quais são os impactos socioeconômicos na economia brasileira a partir da introdução, no estado de São Paulo, da intensificação (em relação ao fator terra) de sistemas produtivos para a pecuária de corte? Quais são os impactos socioeconômicos na economia brasileira, considerando-se um cenário da integração da produção de etanol (destilarias autônomas otimizadas)5 e pecuária no estado de São Paulo?

4 Em 2015, foi sancionada em São Paulo a Lei Estadual 15.684. A regra coloca em prática o Programa de Regularização Ambiental (PRA), dispositivo usado para regulamentação paulista do Código Florestal Brasileiro, aprovado em 2012.

5 Para maiores informações sobre a Biorrefinaria Autônoma Otimizada 1G, buscar BONOMI A. et al. Virtual Biorefinery: na optimization Strategy for Renewable Carbon Valorization. Springer. 2016.

(17)

1.1. Objetivo Geral

A presente dissertação teve como objetivo avaliar os impactos socioeconômicos na economia brasileira decorrentes da intensificação e da integração da produção pecuária ao setor sucroenergético no estado de São Paulo, dentro do contexto de expansão da bioenergia (metas propostas na NDC brasileira), juntamente com a projeção de intensificação da atividade pecuária.

1.2. Objetivos Específicos

Para atender os objetivos deste trabalho, os objetivos específicos são:

• Caracterizar os sistemas de intensificação e integração para os setores de pecuária e etanol no estado de São Paulo.

• Definir dois sistemas, nomeados Intensivo e Integração, considerando o fornecimento de rações em conjunto com os coprodutos derivados da cana-de-açúcar (bagaço e levedura).

• Após caracterizar os sistemas de pecuária e etanol, construir um modelo de insumo-produto e analisar os impactos no estado de São Paulo, Centro-Oeste e Resto do Brasil;

• Avaliar as seguintes variáveis: (i) nível da produção setorial, (ii) Produto Interno Bruto – PIB, (iii) empregos e (iv) Remuneração do Fator Trabalho e Capital, a partir da análise de insumo-produto;

• Oferecer análises dos dois sistemas delimitados, por meio dos impactos socioeconômicos.

(18)

1.2. Estrutura da dissertação

Para atingir o objetivo proposto, esta dissertação foi organizada em seis capítulos, como descrito a seguir. Além desta introdução, no Capítulo 2 foi realizada uma revisão de literatura que trata da apresentação e da discussão sobre (i) os principais acordos de mudanças climáticas até a Reunião de Paris (COP 21), apresentando em síntese a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, com destaque para bioenergia da cana-de-açúcar. Nesta parte inicial também foi feita (ii) uma apresentação do dilema alimentos versus combustíveis (iii) uma breve descrição dos setores sucroenergético e pecuário no Brasil e no estado de São Paulo. Por último, (iv) foram levantados os aspectos relacionados à integração cana-pecuária, direcionados para o objetivo do trabalho.

Em seguida, no Capítulo 3, foi apresentada a metodologia de pesquisa adotada neste trabalho, com a delimitação das rotas e sistemas adotados, acompanhada de uma breve descrição do modelo aberto de insumo-produto e do modelo didático.

No Capítulo 4 apresentam-se os resultados obtidos e a discussão dos principais impactos socioeconômicos envolvidos nos sistemas estudados. Neste capítulo é fornecida uma análise detalhada dos resultados no que tange às variáveis estabelecidas anteriormente.

O Capítulo 5 apresenta as principais conclusões desta pesquisa e indica possíveis direcionamentos para futuros trabalhos.

(19)

2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo discute-se a evolução do tema mudanças climáticas, o debate entre a produção de alimentos e de combustíveis, além da importância dos setores sucroenergético e pecuária no Brasil e no estado de São Paulo. Por último é analisado o sistema de integração cana-pecuária.

2.1 A evolução do tema mudanças climáticas

2.1.1 Conferência ECO-92 e RIO + 20

Em 1992, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) ganhou destaque na comunidade internacional e se tornou um marco na direção de ações globais sobre o problema do aquecimento global e da mudança climática. Realizada no Rio de Janeiro e denominada de ECO-92 ou RIO-92, sua consolidação foi de extrema importância devido à divulgação de conceitos relacionados ao meio ambiente, como desenvolvimento sustentável e conscientização da questão (OLIVEIRA, 2011).

Além disso, a ECO-92 teve um caráter especial devido à participação de uma grande quantidade de chefes de Estado, demonstrando assim, a relevância da questão ambiental no início dos anos 1990. Durante a RIO-92, foi elaborada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC - do inglês United Nations Framework

Convention on Climate Change) (LOPES, 2009).

A Convenção entrou em vigor em meados da década de 1990, juntamente com a Conferência das Partes (COP), visto como um órgão supremo que reúne regularmente os países que assinaram e ratificaram a Convenção6. Desde então, os países membros já se

reuniram diversas vezes em conferências realizadas, entre 1998 e 2016 (BRASIL, 2012; ONU, 2015).

Em 2012, foi realizada a RIO + 20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que marcou os 20 anos de realização da RIO-92. O objetivo da conferência era renovar os compromissos políticos com o desenvolvimento sustentável por

6 Um tratado internacional com compromissos para a redução da emissão de gases que agravam o efeito estufa, com objetivo de aliviar os impactos causados pelo aquecimento global.

(20)

meio da avaliação dos progressos e lacunas das decisões adotadas, além de temas novos e emergentes (BRASIL, 2012; ONU, 2015).

2.1.2 Protocolo de Quioto

Criado em 1997 como um tratado complementar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o Protocolo de Quioto define metas na tentativa de frear as emissões dos gases responsáveis pelo aumento da temperatura global e a consequentes mudanças do clima (perigosas para a sobrevivência da vida na Terra) (GODOY, 2009).

O Protocolo entrou em vigor somente em 2005, logo após o cumprimento das condições de ratificação, com 55% do total de países-membros da Convenção, responsáveis por 55% do total das emissões de 1990. Neste momento, os países estabeleceram compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) (ANDRADE, 2008).

Para conter o avanço do aquecimento global, autoridades e instituições organizaram relatórios com propostas globais. As metas de diminuição da emissão de gases foram distribuídas de maneira heterogênea entre os países participantes do anexo I7, mas de maneira geral, previa a redução em torno de 5,2%, em relação aos níveis de 1990, para o período de 2008 e 2012 (CENAMO, 2004).

De forma auxiliar, estipularam-se três mecanismos de flexibilização: Comércio de Emissões, Implementação Conjunta e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), ponto particularmente importante do Protocolo, está relacionado a um instrumento que permite às nações industrializadas alcançarem parte de suas obrigações por meio da implementação de projetos em países em desenvolvimento, que reduzam ou removam as emissões de GEE (ANDRADE, 2008).

O Protocolo de Quioto firmava acordos internacionais com o objetivo de atingir, principalmente, aqueles países industrializados do anexo I que emitem uma grande quantidade de gases de efeito estufa. Metas foram estabelecidas, muitos países assinaram o acordo, com aproximadamente 180 assinaturas. Mas os Estados Unidos, em 2001, se desligaram do protocolo, alegando que a redução iria comprometer o seu desenvolvimento econômico. Por outro lado, a ratificação da Rússia e sua consequente entrada foi um marco político significativo (GODOY, 2009).

7 Anexo I são os países industrializados, aqueles que historicamente mais contribuíram para as mudanças no clima e contam com maior capacidade financeira e institucional para tratar da problemática ambiental.

(21)

Em 2012, durante a COP 18, em Doha, quando estava prevista a finalização do Protocolo de Quioto, foi observado que as metas propostas por diversos países não tinham sido cumpridas e, por isso, o protocolo foi prorrogado até 2020.

2.1.3 Acordo de Paris (COP-21) e NDC brasileira

No contexto da mudança climática causada pela ação antrópica, intensificada a partir da revolução industrial, muitos representantes de diversos países se reuniram em 2015, na Conferência das Partes (COP 21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança de clima (UNFCCC) e na 11ᵃ Reunião das Partes do Protocolo de Quioto (MOP-11) para discutir medidas e intenções que tinham como objetivo mitigar as emissões de gases de efeito estufa em nível mundial, em 2030 (ONU, 2015).

Após a reunião de Paris, ficou definida a meta de limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2° C em relação aos níveis pré-industriais, buscando ainda esforços para que o aumento da temperatura fique limitado a 1,5° C acima dos níveis pré-industriais (BRASIL, 2015).

Na Tabela 1 encontram-se as intenções de redução de GEE dos principais países emissores. Nota-se que ao longo dos últimos anos, houve uma evolução das discussões relacionadas às mudanças climáticas e assuntos relacionados ao aquecimento global. Existem ações que estão sendo direcionadas para mitigar os gases de efeito estufa (CAIT, 2015).

Os principais países emissores de GEE possuem relatórios com suas intenções de mitigação destes gases, com metas para 2025 e 2030. Como evidenciado, grandes líderes mundiais como China, Rússia e União Europeia estão dispostos a reduzir seus níveis de

Tabela 1 - Intenções dos principais países emissores de gases de efeito estufa (2015)

PAÍS Metas 2025 Metas 2030

CHINA 60-65% abaixo do nível em 2005

UN. EUROPEIA (28) 40% abaixo do nível em 1990

ÍNDIA 33-35% abaixo do nível em 2005

RÚSSIA 25-30% abaixo do nível de 1990

BRASIL 37% abaixo do nível em 2005 43% abaixo do nível em 2005

(22)

emissões, que variam entre 25-65%, abaixo do nível em 1990/2005. No relatório de cada país estão descritas as estratégias que serão utilizadas e outras informações consideradas importantes (CAIT, 2015).

No dia 04 de novembro de 2016, entrou em vigor o Acordo de Paris. A partir desta data, todos os países signatários que ratificaram o acordo devem por lei, estar comprometidos com a tarefa de estabilizar, limitar e reduzir os impactos relacionados ao aquecimento global. Porém, não existe sanção para punir aqueles que não cumprirem com as metas propostas (MMA, 2017).

Após o processo de consulta pública, o Brasil que antes havia apresentado sua intenção pretendida, ao longo de 2016 passou por ratificação e aprovação do acordo de Paris. Em setembro de 2016, com o depósito do instrumento de ratificação do Acordo pelo Brasil, a contribuição deixou de ser “pretendida” nos termos do parágrafo 22 da Decisão 1/CP21 (MMA, 2017) e agora passa a ser NDC (Nationally Determined Contributions).

Durante a COP 21, o Brasil assumiu o compromisso de até 2030, mitigar suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 43% abaixo dos níveis de 2005 (BRASIL, 2015). Para alcançar as metas propostas de redução das emissões, o Brasil tem como objetivo realizar o uso sustentável da bioenergia e medidas em grande escala no setor de mudança do uso da terra e floresta (LULUCF8 – land-use, land-use change and forestry), além do aumento da

participação de fontes de energia sem emissão ou com baixo nível de emissões de carbono. No uso da terra, a previsão é restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação em território nacional, além de acabar com o desmatamento (BRASIL, 2015).

No setor industrial, objetiva-se aumentar a eficiência energética e infraestrutura de baixo carbono, com novos padrões de tecnologias limpas. No setor de transportes, também serão utilizadas medidas de eficiência, com melhorias na infraestrutura e no transporte público em áreas urbanas (BRASIL, 2015).

Outra iniciativa está relacionada ao aumento do uso dos biocombustíveis, que inclui o etanol de segunda geração, embora ainda com pequena participação, e aumento da mistura do biodiesel no diesel. Além disso, espera-se um aumento na participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira para 18%, até 2030 (BRASIL, 2015).

De acordo com o Ministério da Agricultura (MAPA, 2017), a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar conta com expectativas positivas para os próximos anos. Segundo a

8 Sigla do inglês, LULUCF - Land Use, Land-Use Change and Forestry, pode ser definida como um inventário de gases de efeito estufa (GEE) que abrange as emissões e remoções de GEE resultantes do uso direto da terra, mudanças de uso do solo e atividades florestais induzidos pela ação do homem (UNFCCC, 2017).

(23)

Empresa de Pesquisa Energética (EPE) a oferta de etanol para o ano de 2030 pode atingir 43 a 54 bilhões de litros (EPE, 2016).

O Brasil pretende atingir uma quota de 45% de energias renováveis na oferta primária de energia em 2030, a partir do aumento da participação da fonte eólica, solar e bioenergia na matriz energética brasileira. Neste sentido, as emissões de GEE pelo etanol poderiam até ser negativas, se houvesse excedente para gerar bioeletricidade (WATANABE et al., 2015). Os esforços serão direcionados para uma transição de sistemas de energia baseados em fontes renováveis e descarbonização da economia mundial, em busca do desenvolvimento sustentável.

2.2 Produção de alimentos x produção de combustíveis9

Para promover fontes de energia não petrolíferas, com foco na segurança energética, e reduzir a dependência das importações de petróleo, além da preocupação com o aquecimento global, países como Estados Unidos, Brasil e União Europeia tornaram-se referência na produção de biocombustíveis, feitos de culturas alimentares (TENENBAUM, 2008).

O grande dilema alimentos versus combustíveis está diretamente relacionado ao questionamento quanto à ética de utilizar a terra da produção de alimentos para energia, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Dois pontos principais são evidenciados: primeiramente, a demanda por biocombustíveis afeta o aumento de preços dos alimentos, prejudicando pessoas pobres. O segundo ponto, leva à concorrência com a produção de áreas agrícolas já existentes ou exige a expansão da fronteira agrícola (TOMEI et

al., 2016).

Porém, o fato de sobrar milho nos EUA, depois de atender toda a demanda, é um sinal de que a disponibilidade de milho para alimentos não foi afetada negativamente. Além disso, evidencia-se que a produção de milho por hectare cresce praticamente todos os anos nos Estados Unidos (TENENBAUM, 2008; USDA, 2017).

Devido aos maiores rendimentos, melhores práticas de manejo e tecnologia, a produção de milho americano é suficiente para satisfazer todo o mercado. De acordo com dados extraídos do United States Department of Agriculture - USDA (2017) observa-se que a oferta de milho americano ultrapassou a demanda em aproximadamente 2,3 milhões de

9 Food x Fuel

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bushels em 2016/2017. Além disso, apenas 30% do milho produzido foram utilizados para a produção de etanol.

O debate food versus fuel já esteve no centro das atenções políticas, mas está perdendo força em todo o mundo. As usinas de biocombustíveis norte-americanas têm produzido volumes recordes de etanol de milho e o índice de preços de alimentos da ONU está abaixo daquele praticado em 2007, quando a produção deu um salto de crescimento (RFA, 2016).

O aumento do preço dos grãos entre 2000 e meados de 2008 coincidiu com o crescimento da produção global de biocombustíveis. Porém, no período de 2008 e 2011, enquanto a produção de biocombustíveis continuou a aumentar, os preços das culturas caíram, contrariando assim, o argumento de que o aumento da produção de biocombustíveis gera um aumento no preço das commodities (HAMELINCK, 2013).

De acordo com dados do Banco Mundial (2013), existe um conjunto de fatores que influenciam a dinâmica de alta de preços de alimentos, tais como o baixo nível dos estoques, problemas climáticos, aumento de demanda, aumento dos custos de produção, entre outros fatores macroeconômicos (câmbio, preço de petróleo, inflação) (BAFFES et al., 2013).

No Brasil, a produção de etanol de cana-de-açúcar não contribuiu com o aumento de preços das commodities alimentícias em 2008, principalmente devido ao rápido aumento da produção de cana-de-açúcar no mercado interno e das exportações de açúcar (SCHLESINGER, 2014).

O aumento na produção de cana-de-açúcar foi substancial o bastante para permitir que a produção de açúcar passasse de 17,1 milhões de toneladas em 2000 para 31 milhões de toneladas na safra 2007/2008 e, posteriormente, para 38,7 milhões de toneladas na safra 2016/2017 (CONAB, 2017). Para o caso brasileiro, deve-se ressaltar que há terra disponível suficiente para a produção de alimento e para biocombustíveis (CGEE, 2012; NASSAR et al., 2013).

De acordo com o diretor-geral da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) é preciso deixar para trás o debate de “comida versus combustível” para alimentar o debate “comida e combustível”. Para ele, graças à experiência dos últimos anos com a tecnologia de produção, ganhos de eficiência e produtividade, os países possuem hoje mais conhecimento para avaliar as oportunidades e medidas que implicam no melhor uso de terras e recursos nos sistemas de produção (ONU, 2015).

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2.3 O etanol brasileiro

O Brasil, além de ser o primeiro do mundo a produzir biocombustível através da cana-de-açúcar como alternativa energética, domina a produção e exportação de etanol a partir daquele insumo. O país é referência no mercado e domina todo o ciclo produtivo do etanol (MAPA, 2017).

A liderança brasileira no segmento está diretamente relacionada às significativas reduções nos custos de produção, principalmente após o Proálcool – Programa Nacional do Álcool, em 1975, que resultou ganhos de produtividade e eficiências agrícolas e industriais, com destaque para a região centro-sul (IPEA, 2016). A motivação do governo para lançar o Proálcool estava diretamente relacionada ao peso do petróleo na balança de pagamentos do país, que importava na época 80% do petróleo que consumia, além da questão de segurança energética (IPEA, 2010).

Ao longo dos anos 1970, evidencia-se a crise do petróleo, ocorrida em dois momentos, juntamente com a queda do preço internacional do açúcar. Entre 1975 e 1979, ocorreu a primeira fase de mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina. A segunda fase do Proálcool vem logo em seguida, com incentivos fiscais e isenção de impostos para a produção de etanol e carros movidos 100% a etanol hidratado (E-100) (CRUZ et al., 2012).

No final dos anos 1980, com o baixo preço do petróleo, o governo brasileiro corta o apoio ao etanol combustível. Com isso, a produção de etanol entra em crise, principalmente devido ao aumento de preços do açúcar, que afetou diretamente a produção do biocombustível (CRUZ et al., 2012). A partir de 2003, os veículos flexfuel começam a ser vendidos no Brasil, afetando positivamente o aumento da produção de etanol. A partir dos anos 2000, observou-se um aumento significativo da produção e consumo (UNICA, 2017; CONAB, 2017), como pode ser observado na Figura 1.

Apesar do período de euforia no começo dos anos 2000, vale ressaltar que entre 2010-2011 a produção de etanol caiu 15%, fase denominada por incerteza e estagnação. Após a fase de expansão caracterizada pelas vendas de etanol superiores às de gasolina, atingindo o auge de produção em 2008, a crise financeira mundial daquele ano, iniciada nos Estados Unidos, atinge o setor e a produção de etanol hidratado começa a declinar, caindo de 18,6 bilhões de litros na safra de 2009-2010 para 13,96 bilhões de litros na safra de 2012-2013 (MORAES, 2014; CONAB, 2017; UNICA, 2017).

(26)

Figura 1 - Produção e Consumo de Etanol no Brasil, entre 1997 e 2017 Fonte: Elaboração Própria a partir de UNICA (2017).

O setor sucroenergético, por ser uma atividade agroindustrial, acaba sendo afetado pela sazonalidade da produção da matéria-prima. Uma questão crucial para a atividade da produção é o ciclo econômico que está subordinado ao ciclo agronômico da lavoura. Por esse motivo, uma safra que apresenta resultados econômicos ruins, por problemas climáticos ou de nível de preços, tem chance de se recuperar na colheita do ano seguinte caso esses fatores não ocorram (IEA, 2016).

Por outro lado, a cana-de-açúcar é uma gramínea que pode ter vários ciclos de desenvolvimento, caracterizada como cultura semiperene, permitindo uma média de cinco cortes para posteriormente, ser feita a reforma canavial. De acordo com a época e região do plantio, a primeira colheita da cana-planta pode ter um ciclo de desenvolvimento com duração de 18 meses (cana de ano e meio) ou 12 meses (cana de ano). Após a primeira colheita, a cana-soca passa a ter um ciclo de 12 meses, com rebrota anual da soqueira e o início de um novo ciclo (ANTUNES et al., 2015).

Em 2010, alguns pontos foram determinantes para aprofundar a crise na agroindústria canavieira. Primeiramente, deve-se destacar a forte elevação dos custos para produção da cultura. Em valores aproximados, o cultivo da cana responde por 68% dos custos de produção em toda a cadeia (XAVIER et al., 2012). De acordo com dados levantados pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), o custo nominal de produção do etanol aumentou em 70% entre 2007 e 2012. 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 mi lh õ es d e lit ro s

(27)

Além desses, destaca-se a elevação do custo do crédito e a redução de margens, ou seja, parte da crise que afeta a produção de etanol se deve à crise financeira mundial. A medida externa à cadeia produtiva que mais afeta o desempenho da agroindústria canavieira é a do controle de preços de gasolina. Apesar das dificuldades setoriais, cabem as medidas de dinamização, com vistas à redução de custos e à adoção de novas tecnologias para o alcance de maior produtividade (IPEA, 2016; IEA, 2016).

Em 2014, a Granbio inaugura a primeira fábrica de etanol de segunda geração (2G) no Brasil. Após momentos de euforia e de grandes promessas inovadoras, ainda não se sabe o real caminho do etanol celulósico. A expertise surgiu como grande aposta do setor sucroenergético, porém ainda caminha com dificuldade (IPEA, 2016).

Devido à evolução e desenvolvimento do setor de etanol ao longo dos anos, evidencia-se um alto grau de maturidade da tecnologia de produção da cana-de-açúcar na área agrícola. Porém, não se podem desprezar as melhorias que foram realizadas na área industrial, como o aumento potencial de ganhos na extração, tratamento do caldo, fermentação e destilação, impactos ambientais, entre outros (DOMINGUES, 2015; PEREIRA et al., 2016).

Na safra 2015/2016, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a produção brasileira de etanol atingiu 30 bilhões de litros, com um acréscimo de 6% se comparado à safra 2014/2015. Somado a isso, vale ressaltar um crescimento expressivo de 34% na demanda do etanol hidratado, que atingiu 19 bilhões de litros naquele mesmo ano (ANP, 2016; CONAB, 2017).

Segundo a EPE, estima-se que a produção de etanol de primeira geração crescerá de 29 bilhões de litros em 2014 para 54 bilhões de litros em 2030, como observado a partir da Figura 2. Além disso, o etanol de segunda geração começará a aparecer em volumes consideráveis a partir de 2023, atingindo 2,5 bilhões de litros no final do período (EPE, 2016).

De acordo com estimativas apresentadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o país deve ampliar a produção de cana-de-açúcar em todos os estados brasileiros, principalmente no estado de São Paulo (MAPA, 2017).

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Figura 2 - Projeção da produção de etanol total no Brasil para o período de 2014 a 2030 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da EPE (2016).

A produção do setor sucroenergético no Brasil apresenta dois períodos distintos de safra: de setembro a março, no Norte-Nordeste, e de abril a novembro, no Centro-Sul. Dessa forma, o país produz etanol praticamente o ano todo, apesar da menor concentração produtiva na região Norte-Nordeste.

Como apresentado ao longo desta seção, apesar da crise de 2008, o país conseguiu se recuperar e apresenta expectativas e projeções de aumento da produção e demanda de etanol, principalmente devido à NDC brasileira. Com a NDC e os programas de incentivo para o setor de biocombustíveis, o objetivo é aumentar a produção de etanol em 90% em relação à safra 2016/2017.

2.3.1 Cana-de-açúcar no estado de São Paulo

Grande parte da cana-de-açúcar nacional é produzida na região Sudeste (5.700,2 mil hectares), que representa 63% do total da área plantada de cana-de-açúcar brasileira (9.049,2 mil hectares). Somente em São Paulo, a cana ocupou cerca de 4,7 milhões de hectares, de área plantada na safra 2016/2017, com participação significativa de 53% da área total destinada para cana-de-açúcar no Brasil, como pode ser observado a partir da concentração demonstrada na Figura (CONAB, 2017). 0 10 20 30 40 50 60 em bi lhões de lit ros Ano

(29)

Figura 3- Área de cultivo de cana-de-açúcar mapeada por imagens de satélite Fonte: CONAB, 2017.

Somente em São Paulo, foram produzidas aproximadamente 360 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, na safra 2016/2017, que representa 56% de toda cana-de-açúcar produzida no Brasil e 85% da produção na região sudeste (CONAB, 2017). Além disso, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o valor da produção de cana-de-açúcar em 2016, para o estado de São Paulo foi de 27 bilhões de reais, com participação de 53% no valor da produção nacional (IBGE, 2017).

De acordo com o Instituto de Economia Agrícola – IEA, a cana-de-açúcar é o principal produto da agropecuária paulista. O estado de São Paulo tem grande representatividade na produção total de etanol da região sudeste e brasileiro, com representatividade de 83% e 49%, respectivamente, na safra 2016/2017, com produção de 13,7 bilhões de litros (CONAB, 2017), como pode ser observado na Figura 4.

Figura 4 - Produção total de etanol para o Brasil, Região Sudeste e estado de São Paulo (safra 2016/2017)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da CONAB (2017). 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000

BRASIL Sudeste São Paulo

e m m il lit ro s Produção de etanol

(30)

Por isso, devido à concentração produtiva da cana-de-açúcar e etanol no estado de São Paulo e também devido à sua representatividade para a economia brasileira, este estudo teve como foco avaliar os impactos socioeconômicos para esta região, a partir da introdução de duas atividades mais intensivas, de pecuária e sucroenergética.

2.4 A pecuária no Brasil

Em relação à pecuária brasileira, as pastagens ocupam uma área que representa 167 milhões de hectares (LAPIG, 2016), abrigando o segundo maior rebanho de gado de corte do mundo. Nos anos 2000, o país se consolidou como potência na produção e exportação de carne bovina, assumindo a primeira colocação dentre os exportadores em 2004, atendendo a demanda de 201 países (HARFUCH et al., 2016; ABIEC, 2016).

As exportações de carne bovina atingiram os US$ 5,5 bilhões, com 1,4 milhão de toneladas. Apesar de sua heterogeneidade, a pecuária brasileira está aliada ao desenvolvimento de novas técnicas e boas práticas nos sistemas produtivos. Os principais destinos das exportações de carne bovina brasileira são: Hong Kong, com US$ 1,145 bilhão e 331 mil toneladas; China, com US$ 706 milhões e 166 mil toneladas; e, União Europeia, com US$ 739,3 milhões e 117 mil toneladas (ABIEC, 2016).

O Brasil hoje é o segundo maior consumidor de carne bovina do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. O país produz aproximadamente 15% da carne bovina do mundo. Além disso, projeções indicam que até 2020, o Brasil pode ser o maior produtor de carne bovina do mundo, superando os Estados Unidos (OCDE-FAO, 2016).

Em 2016, o PIB do agronegócio alcançou R$ 1,25 trilhão, representando 20% do PIB total brasileiro. O PIB da agropecuária representa 25% do agronegócio brasileiro. O ramo pecuário do Brasil movimentou aproximadamente R$ 400 bilhões em 2016 (CEPEA, 2017). Dos 29,6 milhões de animais abatidos em 2016, considerando apenas os principais estados produtores, 60% concentram-se na região centro-sul, ou seja, aproximadamente 17,8 milhões de cabeças foram abatidas nesta região (IBGE, 2017).

As projeções para 2027 indicam que haverá uma queda da área de pastagem para aproximadamente 158 milhões hectares, juntamente com um aumento e intensificação da

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produção de 9,5 milhões de toneladas para 11 milhões de toneladas, como pode ser observado na Tabela 2, e aumento da taxa de lotação10 (MAPA, 2017).

Tabela 2 - Projeção da produção de carne bovina no Brasil (mil toneladas, 2017/2027)

Ano Projeção 2017 9.500 2018 9.374 2019 9.865 2020 10.018 2021 10.365 2022 10.542 2023 10.882 2024 10.927 2025 11.134 2026 11.248 2027 11.444

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do MAPA (2017).

Em um cenário de desenvolvimento sustentável, a pecuária tem que enfrentar grandes desafios relacionados à recuperação de pastagens, redução da pressão por novos desmatamentos, emissões de GEE e obstáculos à intensificação. Para 2030, existem previsões de redução das áreas de pastagem no Brasil, liberando aproximadamente 15 milhões de hectares para outras culturas, florestas plantadas e restauração sob a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (HARFUCH, 2016).

Em relação à produtividade, através da intensificação da pecuária, recuperação de pastagens e adoção de boas práticas, projeções apontam que em 2030, o rebanho bovino irá atingir em média, 6 arrobas11/hectare/ano (GTPS, 2014). De acordo com a Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aproximadamente 95% da produção de carne no Brasil é sob pastagem de forma extensiva, e apenas 5% é produzida sob confinamento. Estes dados revelam o potencial de crescimento da atividade pecuária bovina brasileira (MEDEIROS et

al., 2015).

A produção de carne nos próximos anos será uma combinação entre intensiva (quando além da pastagem e da suplementação, o regime alimentar inclui também terminação dos

10 A taxa de lotação pode ser definida como o número de animais no pasto por unidade de área em um determinado tempo. Ou seja, a taxa de lotação é o número de animais ou unidade animal (UA, que é igual a 450 kg de peso vivo) pastejando uma unidade de área (hectare, ha).

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animais em confinamento) e, ainda grande parte extensiva (quando o regime alimentar é exclusivamente pastagem).

2.4.1 Pecuária no estado de São Paulo

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em 2015, o rebanho do estado de São Paulo estava estimado em 10 milhões de cabeças, ocupando a 9º posição entre os maiores estados pecuários do Brasil. Com baixa representação, de 4,80% do rebanho do estado no total nacional, 5 milhões de hectares de pastagem são ocupados pelo rebanho no estado paulista. Nos últimos nove anos, o crescimento do rebanho paulista obteve queda de aproximadamente 21% (IBGE, 2016).

Em relação ao rebanho bovino brasileiro, foram abatidas aproximadamente 29,6 milhões de cabeças em todo o país em 2016, concentradas 76,6% nos estados do Mato Grosso (15,4%), Mato Grosso do Sul (11,1%), São Paulo (9,41%), Goiás (9,5%), Pará (9,2%), Minas Gerais (8,32%) Rondônia (7,26%) e Rio Grande do Sul (6,4%) (IBGE, 2016). Na Tabela 3, pode-se observar a quantidade de animais abatidos e sua divisão entre os principais estados produtores (IBGE, 2016).

Tabela 3 - Principais estados produtores de bovinos (2016)

Bovinos Animais abatidos (cabeças) % Produção Nacional 29.668.976 100%

Principais estados produtores

Mato Grosso 4.577.459 15,43%

Mato Grosso do Sul 3.292.279 11,10%

São Paulo 2.792.350 9,41%

Goiás 2.821.463 9,51%

Pará 2.731.398 9,21%

Minas Gerais 2.469.873 8,32%

Rondônia 2.155.315 7,26%

Rio Grande do Sul 1.897.834 6,40%

Total 22.737.971 76,64%

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A entrada da cana-de-açúcar no estado paulista levou a uma fuga dos criadores de gado, principalmente para a região Centro-Oeste, devido ao baixo preço da terra e clima propício para a criação de gado (OLIVEIRA, 2014).

Apesar de pouca representatividade entre os principais estados produtores de bovinos, o estado de São Paulo é a sede das principais indústrias frigoríficas nacionais. O estado tem alta capacidade de abate, considerando os serviços de inspeção federal (SIF), estadual (SIE) e municipal (SIM), ocupando a segunda posição entre os estados brasileiros, atrás somente de Mato Grosso (IBGE, 2016).

De acordo com dados do IBGE, São Paulo tem capacidade de abater 24.308 cabeças por dia, com participação, principalmente para os abates relacionados ao SIF, com 85%, e 14% para os abates SIE (IBGE, 2016). Além disso, o estado de São Paulo tem grande participação nas exportações de carne bovina brasileira. Em 2016, foram exportados, a partir do porto de Santos, aproximadamente 740 mil toneladas, correspondente a 55% das exportações nacionais (SECEX, 2017).

2.4.2. Confinamento e alimentação animal

No Brasil, a produção do gado de corte ocorre, em sua maioria, de forma extensiva, devido ao baixo custo de produção das forragens tropicais. Porém, os baixos índices de desempenho dos animais (ganho de peso e conversão alimentar) e pouca energia ingerida na fase da terminação aumenta a idade média de abate, adicionados a um acabamento de carcaça (espessura de gordura subcutânea) ausente ou escasso, não atendendo as exigências da indústria frigorifica (RESENDE et al., 2014).

Estratégias têm sido adotadas por criadores de todo país, buscando-se aumentar a eficiência e a produtividade da bovinocultura de corte brasileira. O confinamento, o semi-confinamento e a suplementação no período seco são algumas alternativas que favorecem a redução do ciclo de produção, obtenção de um melhor acabamento de carcaça e consequentemente uso mais sustentável da terra e dos recursos naturais (RESENDE et al., 2014).

O número de bovinos confinados em território nacional ainda é baixo, com uma participação de 2,41% (5,05 milhões de cabeças) (ABIEC, 2016). Porém, em longo prazo, existe uma tendência no crescimento do número de animais confinados aumentando a produtividade/intensificação, com redução no tempo de abate. Ou seja, a tendência para os

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próximos anos é um crescimento do número de bovinos terminados em sistema de confinamento ou semi-confinamento (CARVALHO et al., 2017).

O confinamento é uma alternativa que vem crescendo no Brasil e esta medida permite a desocupação de áreas de pastagens no período da terminação. No entanto, alguns questionamentos são levantados quanto ao uso do confinamento devido ao alto gasto com infraestrutura, instalações, custo operacional, custo das dietas e adaptação alimentar (CARVALHO et al., 2017).

Em um relatório divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne - ABIEC (2016) nota-se que a nutrição é o fator que representa maior participação nos custos de uma fazenda de ciclo completo (para aquelas de maior produtividade). Por isso, o confinamento acaba sendo um limitante na bovinocultura de corte intensiva.

Em condições de melhores preços de grãos, o uso da dieta de alto concentrado torna o confinamento mais rentável, pois proporciona maior ganho de peso diário. Por outro lado, o aumento no custo total da alimentação, mesmo proporcionando um melhor nível nutricional e maior desempenho animal, pode afetar a rentabilidade da atividade (MEDEIROS et al., 2015).

A alimentação animal é muito dependente da variação de preços dos insumos. No ano de 2016, de acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a ração animal sofreu aumento de 11,80% nos preços, principalmente devido ao aumento de preços do milho, com variação de 49,08% em comparação com 2015, e farelo de soja. Por isso, os produtores buscam alternativas para reduzir os custos com alimentação animal (CEPEA, 2017).

Em relação ao "manejo alimentar" para bovinos, a dieta de um animal varia conforme a fase de desenvolvimento e a oferta dos ingredientes disponíveis (período das águas e escassez). Em relação ao confinamento, o Brasil confina principalmente animais na fase de terminação, sendo necessário formular uma dieta com base na exigência do animal (MEDEIROS et al., 2015).

A cana, neste caso, é utilizada como fonte de carboidrato, principalmente fonte de fibra (teor de FDN – fibra em detergente neutro e FDA – fibra em detergente ácido), podendo ser in natura, silagem ou bagaço hidrolisado. Na fase de semi-confinamento, o bagaço e derivados da cana-de-açúcar costumam ser utilizados na época de seca/estiagem da chuva (período de maturação e colheita da cana coincide com o de escassez de pasto), para substituir a forragem do pasto, sendo fornecida junto com alimento concentrado (MISSIO, 2016).

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Existem vários benefícios de se alimentar o gado com bagaço da cana e seus subprodutos. Dentre elas, devido à alta produção de matéria seca (MS) por hectare, o que dilui custos por unidade de MS produzida e proporciona elevada taxa de lotação animal por área. Além disso, exige poucos tratos culturais, ou seja, relativa simplicidade no estabelecimento e manejo da cultura e manutenção do valor nutritivo durante o período de até seis meses após a maturação (MISSIO, 2016; ABDEL-AZIZ et al., 2015).

O bagaço de cana-de-açúcar possui baixo custo por quilo de MS produzida e pode ser uma alternativa de menor custo para rebanhos de baixa a alta produtividade. Somado a isso, tem grande disponibilidade na época seca, boa aceitação pelos animais quando devidamente suplementada e, com alta capacidade suporte12. Apesar de todos estes benefícios, deve-se ressaltar que os produtos da cana-de-açúcar possuem baixos teores de proteína, não podendo ser utilizada como única fonte de alimento (SIQUEIRA et al., 2012).

A indústria sucroenergética nacional gera grande quantidade de resíduos, principalmente devido à progressiva diminuição da queima da palha de cana e ao aumento da colheita mecanizada. O uso dos resíduos na alimentação animal é uma alternativa para reduzir custos de produção do gado de corte e, além disso, contribuir para a redução do impacto ambiental negativo gerado pelo acúmulo desses resíduos no campo (DUARTE, 2009).

O criador de gado em condições de criação extensiva passa por um grande desafio no período seco, devido à queda na oferta de proteína para a alimentação dos animais. Embora exista possibilidade de recuperação do peso do animal, a partir de uma melhor alimentação no período da chuva, esta situação retarda e dificulta o desenvolvimento do rebanho. É o conhecido efeito “boi sanfona”, em que o gado engorda quando há chuva e emagrece na seca. Este problema, geralmente, é enfrentado com uma suplementação alimentar (MEDEIROS et al., 2015).

2.5 A integração cana-pecuária

A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é uma estratégia que busca uma produção sustentável que integra tais atividades na mesma área, em um cultivo rotacionado, consorciado ou em sucessão, contemplando as viabilidades econômicas e adequações

12 Capacidade de suporte refere-se à taxa de lotação em pastagem, durante um período de tempo determinado, no qual se observa a máxima produção animal por área, sem causar a degradação da pastagem. A capacidade de suporte das pastagens pode sofrer variações em função do solo, clima, estação do ano e espécie ou cultivar forrageira.

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ambientais e sociais. Dentro da estratégia de ILPF, existem quatro modalidades: integração lavoura-pecuária (agropastoril), integração lavoura-pecuária-floresta (agrossilvipastoril), integração pecuária-floresta (silvipastoril) e lavoura-floresta (silviagrícola) (VILELA et al., 2011).

Os agroecossistemas do século XXI têm o grande desafio de maximizar a quantidade e qualidade dos produtos agrícolas e, ao mesmo tempo, conservar os recursos do sistema, reduzir a erosão e a perda de fertilidade dos solos, assim como utilizar alternativas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa (VILELA et al., 2011):

“O desenvolvimento agrícola sustentável depende da formulação de uma agenda que contemple os seguintes aspectos: a) conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais; b) redução da poluição/contaminação do ambiente e do homem; c) conservação e melhoria da qualidade do solo e da água; d) manejo integrado de insetos-praga, doenças e plantas daninhas; e) valorização dos sistemas tradicionais de manejo dos recursos; f) redução da pressão antrópica na ocupação e uso de ecossistemas e ambientes frágeis; e g) adequação às novas exigências do mercado”.

Para Macedo (2009), os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) são alternativas para recuperação de áreas degradadas e que melhoram as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Nas últimas décadas, a atividade pecuária vem mudando o modelo de produção, priorizando tecnologias intensivas em capital, que vem gerando resultados significativos quanto ao ganho de produtividade e, consequentemente, um expressivo efeito poupa-terra (MACEDO, 2009).

Este último efeito advindo de ganhos de produtividade na ILP, principalmente devido à pecuária, é visto como fator-chave para potencializar a expansão de alimentos e biocombustíveis no país com mínima pressão sobre a vegetação nativa (MACEDO, 2009).

Dentro do contexto de expansão da produção em larga escala de cana-de-açúcar e preocupação com áreas de vegetação nativa, o sistema de integração vem para contribuir com um modelo de desenvolvimento, com menor impacto ambiental, sem afetar a produção e rentabilidade das duas atividades (SPAROVEK, 2009).

A partir do sistema integrado entre os setores sucroenergético e pecuária, espera-se uma redução de área para produção animal, liberação de área para expansão da produção de cana-de-açúcar, aumento da produtividade do rebanho, além da redução de emissões de GEE (TAUBE et al., 2010; SPAROVEK, 2009; EGESKOG et al., 2011; NASSAR & MOREIRA, 2013).

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A partir do estudo de TAUBE et al. (2012), alguns cenários de integração cana-pecuária foram avaliados. Com a instalação de uma destilaria, a área de pasto seria reduzida em 30%, considerando a mesma produção de carne. Neste cenário, para que tenha ganho de produtividade, a ração deveria ser composta por, no mínimo, 5% de bagaço. A Figura 5 apresenta o esquema de integração considerado por TAUBE et al. (2012), excluindo o esterco direcionado para o biodigestor, utilizado para adubo e produção de biogás.

Figura 5 - Interação entre a produção de cana-de-açúcar e pecuária Fonte: Elaboração própria a partir de Taube et al. (2012).

Destaca-se que, do total de terra disponível, parte é utilizada para produção de cana-de-açúcar, parte para pastagem. Do total destinado para a destilaria, uma pequena parte é utilizada para produção de soja/ milho, que são utilizados na suplementação da alimentação bovina. O bagaço hidrolisado, juntamente com os ingredientes (soja/milho) produzidos, será destinado para o gado em confinamento (TAUBE et al., 2012).

Devido à intensifcação da produção de carne, o tempo médio de abate pode diminuir. De forma conclusiva, TAUBE et al. (2012), evidencia que mesmo sem considerar outras técnicas de melhoria da pecuária (como adubação do pasto , outros suplementos, entre outros) é possível manter a produção de carne mesmo com a expansão da área ocupada pela cana-de-açúcar.

Além disso, destacam que a integração traz benefícios para ambas as atividades como melhoria dos indicadores zootécnicos pecuários, adubação com biofertilizantes e ganhos financeiros. De acordo com TAUBE et al. (2010), existe a oportunidade do fornecimento de

Terra

Produção de cana -de-açúcar Destilaria Confinamento Gado (venda de lotes) Pastagem Rotação de culturas (soja/milho)

Referências

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